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Quero que todos os principais <strong>de</strong> Pernambuco tomem parte nela. Eu serei dos<br />
primeiros. Vosmecês, portanto, estão convidados. Espero que o nosso hóspe<strong>de</strong>, se<br />
cá estiver, também nos honre com o seu comparecimento.<br />
André Vidal agra<strong>de</strong>ceu. E, com o agra<strong>de</strong>cimento, levantou o copo em honra<br />
do <strong>Príncipe</strong>:<br />
Todos, a uma só voz:<br />
— À saú<strong>de</strong>, <strong>Príncipe</strong>! A saú<strong>de</strong>!<br />
Terminara o banquete. Os com ensaia ergueram-se. E rumorosos, com<br />
aquela urbanida<strong>de</strong> folgazona, foram acabar a noitada no salão <strong>de</strong> honra do Palácio.<br />
A Or<strong>de</strong>m do "Escolteto"<br />
Frei Manuel acabara <strong>de</strong> dizer a sua missa. Missa secreta, é verda<strong>de</strong>, rezada<br />
em casa a portas trancadas: fora essa a gran<strong>de</strong> mercê que o <strong>Príncipe</strong> conce<strong>de</strong>ra ao<br />
amigo.<br />
Nesse dia, como <strong>de</strong> costume, o religioso abancou-se à mesa para quebrar o<br />
jejum com a sua fritada <strong>de</strong> chouriços. André Vidal sentou-se ao lado. Frei Manuel,<br />
encarando no hóspe<strong>de</strong>, perguntou-lhe abruptamente:<br />
— E Antônio Cavalcanti?<br />
— Antônio Cavalcanti?<br />
— Sim, tornou o fra<strong>de</strong>; Antônio Cavalcanti! Será que o orgulhoso fidalgo irá<br />
hoje à ceia <strong>de</strong> João Fernan<strong>de</strong>s?<br />
— Conto muito com ele, redargüiu André. Espero que esta noite, mal<br />
escureça, seja Cavalcanti um dos primeiros a aparecer no engenho.<br />
— Antônio Cavalcanti é dos nossos; não resta dúvida Mas... Já sei, Frei<br />
Manuel, atalhou André; já sei muito bem o que Vosmecê pensa. Vosmecê teme a<br />
velha rivalida<strong>de</strong> que existe entre Antônio Cavalcanti e João Fernan<strong>de</strong>s Vieira, não é?<br />
— É, afirmou o religioso; é isso mesmo, André!<br />
— Vosmecê tem razão, concordou o paraibano. Ódio velho não cansa...<br />
E <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> pensar um momento:<br />
— Mas agora, segundo me parece, as coisas entre eles estão mais<br />
consertadas. Ninguém ignora o arranjo que <strong>de</strong>u João Fernan<strong>de</strong>s aos filhos <strong>de</strong><br />
Cavalcanti...<br />
— O casamento?<br />
— Exatamente.<br />
— De pouco vale, filosofou o padre. Isso serve para ligar as casas, mas não<br />
para ligar os corações. No fundo <strong>de</strong> cada um — creia, André, — ainda continua a<br />
fermentar o mesmo <strong>de</strong>speito. A inveja que os rói não há <strong>de</strong> mudar tão cedo..<br />
— Nesse caso, meu padre, que é que se po<strong>de</strong> fazer? As coisas são como<br />
elas são. Não há que lhes mudar o rumo. O que for soará...<br />
— Isso é que é, tornou Frei Manuel, erguendo-se, pronto para sair. O quer<br />
for soará!<br />
Mas André Vidal <strong>de</strong>teve-o por um momento:<br />
— Eu, por mim, tenho gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sconfianças dum outro homem...<br />
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