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O Príncipe de Nassau - Unama

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www.nead.unama.br<br />

poetas líricos <strong>de</strong> Von<strong>de</strong>l e <strong>de</strong> Hooft, as traduções da famosa Tessela assim como toda<br />

a matemática <strong>de</strong> Snellius, o gran<strong>de</strong> professor <strong>de</strong> Ley<strong>de</strong>n.<br />

André Vidal pasmava-se diante <strong>de</strong> tudo. Mas quando, ao acen<strong>de</strong>r das luzes,<br />

o paraibano entrou no salão nobre do <strong>Príncipe</strong>. os seus olhos <strong>de</strong> provinciano<br />

extasiaram-se, enamorados! Espelhos que dar<strong>de</strong>javam, tapetes <strong>de</strong> coloridos<br />

gritantes, tapeçarias flamengas colgadas às pare<strong>de</strong>s, grossas silhas <strong>de</strong> veludo<br />

turqui, tudo isso rutilou <strong>de</strong> súbito diante <strong>de</strong>le, fulgiu como num sonho, faiscando sob<br />

o fogaréu crepitante dos can<strong>de</strong>labros <strong>de</strong> prata.<br />

Já lá <strong>de</strong>ntro, enterrados na fofeza dos coxins, os convidados da festa<br />

esperavam o hóspe<strong>de</strong> ilustre. Ao verem surgir, conduzido pelo <strong>Príncipe</strong>, guapo e<br />

moreno, o talhe <strong>de</strong>sempenado, flamejando no seu traje <strong>de</strong> gala, todos ergueram-se,<br />

reverentes. Maurício, com um gesto polido, apresentou-os um a um.<br />

Quanta gente luzida! Era Henrique Cralitz, matemático e astrônomo das<br />

Flandres, que viera para Pernambuco no séquito <strong>de</strong> <strong>Nassau</strong>; Guilherme Pisou,<br />

médico do Palácio, <strong>de</strong>stemeroso batedor <strong>de</strong> sertões, estranho sábio rústico que<br />

andava pelos matos a escrever a sua clássica Historia Naturalis Brisiliae; Jorge<br />

Maregraf, o botânico, cientista notabilíssimo, aquele que estudou e catalogou as<br />

espécies exóticas da brenha tropical; Francisco Plante, gran<strong>de</strong> professor <strong>de</strong> Breda,<br />

filósofo e latinista, pastor e poeta, honrado conselheiro <strong>de</strong> Maurício; Pieter Poost,<br />

engenheiro e arquiteto, aquele mesmo que planejou, sob o olhar do <strong>Príncipe</strong>, o<br />

traçado primoroso da Cida<strong>de</strong> Maurícia. Ao lado <strong>de</strong> tão subidas gentes, o célebre<br />

Francisco <strong>de</strong> Poost, pintor distintíssimo, natural <strong>de</strong> Harlem, discípulo <strong>de</strong> Van Dick o<br />

primeiro artista que fixou na tela os esplendores selvagens da paisagem brasílica 22 .<br />

Lã se viam, uniformizados <strong>de</strong> gala, Carlos Tourlon e João Blaar. Gaspar<br />

Dias, ar <strong>de</strong> fuinha, barbicha rala, compareceu mui faceiro com o seu vistoso gibão <strong>de</strong><br />

damasco florentino e os seus folgados calções <strong>de</strong> braguilhas <strong>de</strong> prata.<br />

D. Ana Pais também viera. Mas, viera vestida sem garridices, com simpleza<br />

estranha, toda <strong>de</strong> cetim negro, apenas com uma baga no <strong>de</strong>do e um aljofar <strong>de</strong><br />

diamantes no cabelo trevoso.<br />

Gilberto Van Dirth, membro do Conselho Político, muito adamado, muito<br />

maneiroso, lã estava a cortejá-la com os ditos, suspirosamente...<br />

André Vidal, ao avistar a mulher perigosa, corou. Mas, ela, um cândido<br />

sorriso no lábio, esten<strong>de</strong>u-lhe a mão com uma cordialida<strong>de</strong> vivaz:<br />

— Deus o sabe e guar<strong>de</strong>, André Vidal!<br />

André Vidal corou ainda mais. Homem ru<strong>de</strong>, <strong>de</strong>safeito a primores e<br />

gentilezas, apertou-lhe a mão rijamente, sem pronunciar palavra.<br />

Pelos salões, aos grupos, os convidados já palravam barulhantemente.<br />

Zumbia vezeiro alacre. O <strong>Príncipe</strong>, com particular <strong>de</strong>ferência, saudou a Gaspar Dias,<br />

o seu amigo íntimo. Ninguém pôs gran<strong>de</strong> reparo na efusão acolhedora <strong>de</strong> D. Ana<br />

pala com André Vidal.<br />

22 Os quadros <strong>de</strong> Francisco <strong>de</strong> Poost foram comprados por Luís XIV, fazem parte da coleção do Louvre.<br />

Eduardo Prado, naquela faina tão sua, tão patriótica, <strong>de</strong> exumar e Brasil antigo, conseguiu autenticar e adquirir<br />

duas preciosíssimas telas do gran<strong>de</strong> flamengo. No leilão, nunca suficientemente chorado, dos livros e objetos que<br />

pertenciam ao preclaríssimo paulista, foram esses quadros, por felicida<strong>de</strong>, vendidos ao Sr. Plínio da Silva Prado,<br />

em cujo po<strong>de</strong>r ainda se encontram. O erudito Sr. Souto Maior, historiador dos mais distintos, foi quem pesquisou<br />

e <strong>de</strong>scobriu no Louvre a coleção <strong>de</strong> Poost Vi<strong>de</strong> Rev,, vol. 75, Fastos Pernambucanos.<br />

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