19.04.2013 Views

O Príncipe de Nassau - Unama

O Príncipe de Nassau - Unama

O Príncipe de Nassau - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

— Deus o salve e guar<strong>de</strong>, André Vidal!<br />

— Deus o salve e guar<strong>de</strong>, <strong>Príncipe</strong>!<br />

Apertaram-se as mãos com a mais quente cordialida<strong>de</strong>.<br />

E Maurício <strong>de</strong> <strong>Nassau</strong>, na sua simplicida<strong>de</strong> fidalga <strong>de</strong> encantar:<br />

www.nead.unama.br<br />

— Vosmecê não conhece o Palácio <strong>de</strong> Friburgo, André Vidal?<br />

— Ainda não tenho essa honra, <strong>Príncipe</strong>.<br />

— Pois eu, nesse caso, quero ter o gosto <strong>de</strong> mostrá-lo a Vosmecê. Este<br />

Palácio é o meu capricho! Que quer Vosmecê? Cada um tem o seu fraco... Venha<br />

daí comigo 21 .<br />

O Palácio <strong>de</strong> Friburgo era a surpreen<strong>de</strong>nte maravilha época. Legítimo<br />

orgulho dos conquistadores, sonhara <strong>Nassau</strong> fixar naquele monumento a<br />

imponência da obra que realizara na América. Tudo ali era gran<strong>de</strong>, harmonioso,<br />

artístico. Pelo parque imenso, alinhado com severos rigores estéticos, enfileiravamse<br />

aquelas setecentas palmeiras tão formosas, aquelas palmeiras que o <strong>Príncipe</strong>,<br />

fantasioso como um rei bárbaro, fizera arrancar às praias on<strong>de</strong> vicejavam, altas e<br />

fron<strong>de</strong>jantes, mandando transportá-las em grossas barcaças, à força <strong>de</strong> muito negro,<br />

para a <strong>de</strong>lícia e enfeite dos seus domínios.<br />

Pelos sítios mais rústicos, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> tocas selvagens, urravam onças e<br />

sussuaranas. Saracoteavam pelas árvores bugios e saguis. Espichavam-se<br />

modorrentamente, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> vastos cercados, o tamanduá e fagoim, a paca e a<br />

cutia, a anta e o coati. Baitacas palradoras, gran<strong>de</strong>s araras vermelhejantes, mutuns<br />

bravios, canindés e jaburus, tucanos e urutaus, tudo aí rumorejava, gritava, piava,<br />

grulhava, guinchava, matracava.<br />

Nos recantos pitorescos, sonoramente serpeados <strong>de</strong> águas cantantes,<br />

erguiam-se pavilhões ligeiros, dum ru<strong>de</strong> gracioso e poético, enroscados <strong>de</strong><br />

trepa<strong>de</strong>iras, on<strong>de</strong> o <strong>Príncipe</strong>, nas tar<strong>de</strong>s cálidas, gostava <strong>de</strong> oferecer comezainas e<br />

beberetes às donas, como em Holanda.<br />

No meio disso, vistoso e solene, o magnífico Palácio <strong>de</strong> Friburgo. Era <strong>de</strong> vêlo!<br />

Com o seu pórtico rasgado, com a sua escadaria <strong>de</strong> pedra lavrada, com as suas<br />

torres quadrangulares, altíssimas, don<strong>de</strong> se <strong>de</strong>scortinava o oceano para além <strong>de</strong><br />

sete milhas, o Palácio <strong>de</strong> Friburgo falava majestosamente da opulência e da<br />

fidalguia do seu senhor.<br />

Dentro, nas suntuosas salas apaineladas, estendiam-se, com gran<strong>de</strong>zas <strong>de</strong><br />

espantar, as nobres curiosida<strong>de</strong>s daquela morada senhoril. Aqui, ru<strong>de</strong> e feudal, a Sala<br />

d'Armas, on<strong>de</strong> fulgiam em cores fortes, ao lado do brasão dos Oranges, o retrato a<br />

óleo <strong>de</strong> Guilherme, o Taciturno: além, o Museu, aquela vaida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maurício, com os<br />

seus trezentos macacos empalhados e a sua maravilhosa, estupendíssima coleção <strong>de</strong><br />

borboletas; acolá, no ângulo da torre, o Observatório Astronômico, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> os sábios<br />

da Europa, através <strong>de</strong> compridos óculos <strong>de</strong> cana, pela primeira vez fincaram olhos<br />

científicos no céu opulento da América. Enfim a Biblioteca. Era ai rue repousavam,<br />

adormecidas em elzevires <strong>de</strong> luxo, todas as letras contemporâneas <strong>de</strong> Holanda: a<br />

copiosa sabedoria <strong>de</strong> Grotius, o Elogio da Loucura do esplendíssimo Erasmo, os<br />

21<br />

Barlacus, Rerum per octenniam in Brasilia, pag. 245: "Fulget nitetque FOBURGUM, civium <strong>de</strong>licium atque<br />

voluptas, Nassoviae magnitudinis in alio orbe percune momentum".<br />

Frei Calado, pag 53: "... tambem alli fez o Principe uma casa <strong>de</strong> prazer (Friburgo) que lhe custou muitos<br />

cruzados & no meio daquelle areal esteril, & infructuoso, plantou hum jardim, & toda a casta <strong>de</strong> arvore <strong>de</strong> fruito<br />

que se dão no Brasil. Tambem alli trouxe toda a casta <strong>de</strong> ave & <strong>de</strong> animaes que po<strong>de</strong> achar etc., etc.".<br />

50

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!