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— Já soube que Vosmecê chegou pelo patacho <strong>de</strong> Salatiel Bermu<strong>de</strong>s.<br />
Contou-me o <strong>Príncipe</strong> <strong>de</strong> <strong>Nassau</strong>, com gran<strong>de</strong>s alegrias, que Vosmecê havia pedido<br />
or<strong>de</strong>m para <strong>de</strong>sembarcar. Disse-me, ainda mais, que nem só mandara a or<strong>de</strong>m que<br />
Vosmecê pedira, como também mandara um convite para Vosmecê vir comer esta<br />
noite no Palácio <strong>de</strong> Friburgo; não é verda<strong>de</strong>?<br />
— É verda<strong>de</strong>. Fui honrado com essa galantaria do <strong>Príncipe</strong>. Hoje irei jantar<br />
em Friburgo.<br />
— Muito bem, muito bem, bradou Gaspar Dias exultante. Vosmecê não<br />
imagina o quanto eu folgo em vê-lo aqui na nossa terra. Terei a maior honra em<br />
mostrar a Vosmecê as curiosida<strong>de</strong>s da Cida<strong>de</strong> Maurícia. Hoje, pelo que presumo,<br />
Vosmecê vem visitar a nossa "Casa da Justiça, não é?<br />
— Não foi o visitar a "Casa da Justiça" que me trouxe cá, tornou André; mais<br />
foi o falar com Vosmecê.<br />
— Comigo?<br />
— Sim, com Vosmecê. Ando buscando a Vosmecê por toda a parte, Gaspar<br />
Dias!<br />
— Gran<strong>de</strong> honra, André Vidal! Estou aqui para servi-lo. Qual é o seu<br />
negócio?<br />
— Não posso explicar assim em público; é caso mais secreto. Quer<br />
Vosmecê marcar hora para eu procurá-lo?<br />
— Oh, André Vidal, sorriu Gaspar Dias; marcar hora? Para Vosmecê? É a<br />
hora que lhe aprouver.<br />
— Vejo que é impossível neste momento, tornou André; sei que Vosmecê<br />
tem muito negócio a <strong>de</strong>cidir em dia <strong>de</strong> câmara dos escabinos. A noite, como vou<br />
jantar Friburgo, sou eu que não posso procurá-lo. Será que amanhã, ao meio dia,<br />
Vosmecê po<strong>de</strong> ouvir-me?<br />
— Perfeitamente. Tenho gran<strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> nisso. Amanhã, ao meio dia,<br />
estarei à espera <strong>de</strong> Vosmecê.<br />
E amável, rindo-se apontou os réus:<br />
— Vejamos agora, André Vidal, o <strong>de</strong>sfecho <strong>de</strong>ste julgamento. São uns<br />
soldados da Bahia acusados <strong>de</strong> malfeitores. É um caso interessante. Ainda não<br />
ouviu Vosmecê falar nisso?<br />
— Já ouvi. Frei Manuel foi quem me contou a história.<br />
— Pois nesse caso venha escutá-lo. Lá está o nosso fra<strong>de</strong> a pedir por eles.<br />
Frei Manuel discursava com ênfase. Batia rijo, com muitos raciocínios:<br />
— Ninguém os apanhou roubando, senhores juizes! Ninguém os viu<br />
enforcando e nem <strong>de</strong>predando! Tudo palavras, meras palavras. E <strong>de</strong> que vale,<br />
senhores, alegar e não provar?<br />
Desandava por aí afora. Quando o bom do padre terminou todo contente<br />
com a sua loquela Gaspar Dias murmurou para André Vidal:<br />
— Diga Vosmecê uma palavra, André Vidal; uma palavra sua beneficia mais<br />
esses homens do que toda a arenga do fra<strong>de</strong>.<br />
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