19.04.2013 Views

O Príncipe de Nassau - Unama

O Príncipe de Nassau - Unama

O Príncipe de Nassau - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

Nessa manhã, com o rosto lanhado, D. Ana correu chamejante à casa <strong>de</strong><br />

Gaspar Dias. O velho raposa, mal a viu surgir, rompeu em gran<strong>de</strong>s exclamações <strong>de</strong><br />

espanto:<br />

— Que é isso, D. Ana? Vosmecê, assim! Que significa esse vergão na cara?<br />

D. Ana, abrindo a alma, soltou a torrente <strong>de</strong> ódio que borbulhava nela.<br />

Contou a história inteira. Contou-a com espumejante ira. Gaspar Dias ouviu<br />

assombrado, Coçou a barbicha, sacudiu a cabeça:<br />

— Foi o diabo!<br />

— Veja que infâmia, bradava D. Ana. Uma chicotada! E agora, o pior é que o<br />

bruto vai sair por aí a <strong>de</strong>smoralizar-me. Imagine, Gaspar Dias, se se espalha pela<br />

Província a notícia do que se passou esta noite! Que escândalo!<br />

— Foi o diabo, repetia Gaspar Dias, murcho. Foi mesmo o diabo! E que alma<br />

do inferno teria sido o leva-e-traz?<br />

— Ah, bradou D. Ana, convicta: foi o Bastião!<br />

— O negro?<br />

— O nego! Aquilo é caco. Aquilo é negro na cor e negro na alma. Um<br />

intrigante da pior laia. Não há ninguém tão vil. É o escravo mais peçonhento <strong>de</strong><br />

Pernambuco. Lá o <strong>de</strong>ixei no engenho, amarrado, com o feitor a esbordoá-lo. Há <strong>de</strong><br />

ficar em carne viva!<br />

— É uma barbarida<strong>de</strong> inútil. Não adianta coisa alguma, tornou Gaspar Dias.<br />

O grave, o melindroso, e resolver a situação do Vosmecê. Que é que pensa fazer, D.<br />

Ana?<br />

A pernambucana fitou o fuinha. E com <strong>de</strong>cisão<br />

— Arranjar outro noivo e casar-me!<br />

— Casar?<br />

— Casar-me, sim, senhor! Casar-me já, casar-me hoje se fosse possível. É<br />

o único jeito <strong>de</strong> remediar um pouco a minha reputação.<br />

Os olhos <strong>de</strong> Gaspar Dias fuzilaram. Lampejou-lhe no cérebro uma idéia<br />

salvadora. Ergueu-se, fitou D. Ana, exclamou firme:<br />

— Vosmecê quer casar? É isso, realmente, o que Vosmecê quer?<br />

— É! Mas quero uma coisa rápida, bem às pressas, antes que arrebente o<br />

escândalo por aí.<br />

— Pois <strong>de</strong>ixe o caso por minha conta, exclamou Gaspar Dias. A minha fé, D.<br />

Ana, que hoje sem mais tardança, Vosmecê vai ficar noiva!<br />

E o trapaceiro, como quem tem na cabeça um plano luminoso, bradou exultante:<br />

— Ah, vai ser um choque! Uma bomba!<br />

D. Ana olhava-o com pasmo. Quase não acreditava:<br />

— Vosmecê fala sério, Gaspar Dias?<br />

41

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!