19.04.2013 Views

O Príncipe de Nassau - Unama

O Príncipe de Nassau - Unama

O Príncipe de Nassau - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

www.nead.unama.br<br />

— Pois <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, continuou o fra<strong>de</strong>, em Maurícia, para se conseguir<br />

qualquer coisa na justiça é tudo a po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> dobrões <strong>de</strong> ouro. É preciso encher bem<br />

cheia a goela do farsante. Sem isso, meus amigos, sem dinheiro e sonante, não há<br />

quem tenha razão cm Pernambuco! O caso <strong>de</strong> Frei Estevão <strong>de</strong> Jesus é exemplo cru.<br />

Quando Maurício <strong>de</strong>sagradou os palres, Frei Estevão, com seus noventa anos,<br />

embrenhou-se pelos matos, <strong>de</strong>ixou crescer a barba, por ai viveu longos meses uma<br />

vida <strong>de</strong> bicho. Ao cabo, sentindo-se muito doente, correu a Gaspar Dias para que<br />

lhe alcançasse permissão <strong>de</strong> sair cm público. Gaspar Dias dificultou tudo. Aquilo era<br />

negocio pesado, muito sério. Negócio até <strong>de</strong> forca! Não se podia arranjar uma coisa<br />

daquelas, tão graves, assim com simples petição... O fra<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>u logo.<br />

Vasculhou o hábito, esquadrinhou não sei quantos bolsos, e enfim, com muita dor <strong>de</strong><br />

coração, meteu nas mãos <strong>de</strong> Gaspar Dias trinta dobrões <strong>de</strong> ouro. Foi um milagre:<br />

em dois tempos veio a or<strong>de</strong>m assinada pelo escolteto!<br />

— Quanto custou?<br />

— Trinta dobrões <strong>de</strong> ouro. Ah, o homem é caro! Não julguem que ele se<br />

move por dá-cá-aquela-palha! Não vê! D. Jerônima Pimentel, como sabem<br />

Vosmecês, havia mandado surrar um escravo. O escravo, para se vingar, corre a<br />

Maurícia e conta aos escabinos que D. Jerônima havia dado pouso a uru bando <strong>de</strong><br />

malfeitores portugueses. Calúnia <strong>de</strong>slavada. Calúnia <strong>de</strong> negro. Mas para os<br />

escabinos, quando eles querem perseguir, tudo é prova. Bastou naquele caso a<br />

palavra do escravo. Mandaram pren<strong>de</strong>r D. Jerônima, mãe <strong>de</strong> catorze filhos, e<br />

con<strong>de</strong>naram-na a morrer na forca! Todas as mulheres do Arrecife, apiedadas, foram<br />

ao <strong>Príncipe</strong> suplicar por D. Jerônima. O <strong>Príncipe</strong> perdoou. Mas sabem quanto<br />

custou? Noventa caixas <strong>de</strong> açúcar para Gaspar Dias...<br />

— É incrível, Frei Manuel, murmuraram todos; é <strong>de</strong> pasmar a gente!<br />

— Ah, meus amigos, eu repito ainda: em Maurícia tudo se compra. É só<br />

pagar a Gaspar Dias. O homem é caro, como eu já disse; mas é o único que <strong>de</strong>sata<br />

os negócios embaraçados. Portanto, meu caro André, nesta apertura em que<br />

Vosmecês se encontram, não há que trepidar: e recorrer ao rábula, expor a queixa, e<br />

tratar o preço do negócio. Aquilo é um relâmpago. Com uma só palavra, Vosmecês<br />

verão, o homem lhes restitui Carlota.<br />

João Fernan<strong>de</strong>s concordou resolutamente:<br />

— É isso mesmo! Gaspar Dias é o caminho; não há outro 16 .<br />

Vão, portanto, tranqüilos, prosseguiu o fra<strong>de</strong>. Amanhã, ao saltarem em<br />

Maurícia, procurem o amigo dos belgas. Liqui<strong>de</strong>m esse negócio. É falar sem medo e<br />

sem rebuço. O raposão aceita tudo.<br />

André Vidal, na sua <strong>de</strong>solação, murmurou apenas:<br />

— Tem razão, Frei Manuel. A idéia é salvadora. Faremos o que Vosmecê<br />

nos aconselha. Amanhã cedo, mal <strong>de</strong>sembarcados, havemos <strong>de</strong> procurar a Gaspar<br />

Dias. Todos concordaram. Frei Manuel chegou-se rente <strong>de</strong> André Vidal. Fitou-o. E<br />

perguntou firme:<br />

16 Tanto o "Valeroso" como o "Castrioto" trazem com <strong>de</strong>talhes as proezas <strong>de</strong>sse figurão. A Rev. do lnst. Arq. <strong>de</strong><br />

Pern. reproduz várias cartas <strong>de</strong>le, o processo em que se naturalizou flamengo, a sentença que o con<strong>de</strong>nou na<br />

Holanda, etc.<br />

33

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!