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— É certo, Frei Manuel? É mesmo certo? Diga, Frei Manuel!<br />
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Frei Manuel não teve por on<strong>de</strong> sair. Era duro, mas era preciso. Tomou as<br />
mãos do moço, e, apiedado, murmurou doridamente:<br />
— É certo, Rodrigo. Desgraçadamente é certo. Roubaram-na, os ladrões!<br />
Rodrigo soltou um uivo anavalhado, as lágrimas a rebentarem-lhe dos olhos.<br />
André Vidal, que via e ouvia sem compreen<strong>de</strong>r, interveio então, já trêmulo:<br />
— Roubaram-na? Mas roubaram quem, Frei Manuel? Quem?<br />
O religioso encarou o guerreiro. Que fazer? Confuso, a voz apagada, Frei<br />
Manuel balbuciou:<br />
— Foram os flamengos que roubaram Carlota Haringue...<br />
André Vidal estremeceu. Estremeceu dos pés a cabeça, sacolejado, como<br />
se um raio houvesse estrondado nele.<br />
— Que é que Vosmecê diz aí, Frei Manuel? Carlota Haringue roubada?<br />
Roubada pelos flamengos? Vosmecê está louco, Frei Manuel! Isso é lã possível?<br />
E tornando-se para João Fernan<strong>de</strong>s, André Vidal interrogou-o com olhos<br />
chamejantes. João Fernan<strong>de</strong>s murmurou apenas:<br />
— Essa é a verda<strong>de</strong>, André. Essa é a dura <strong>de</strong>sgraça!<br />
Pobre André Vidal! Os olhos queriam saltar-lhe das órbitas. Gran<strong>de</strong> emoção<br />
sufocava-o. Num açodamento, a alma crucificada, o paraibano <strong>de</strong>sandou a crivar<br />
João Fernan<strong>de</strong>s <strong>de</strong> perguntas:<br />
— Mas como? Quando? De que jeito? Ah, João Fernan<strong>de</strong>s, explique-nos<br />
tudo! Conte-nos tudo!<br />
João Fernan<strong>de</strong>s pormenorizou a <strong>de</strong>sgraça. Contou a or<strong>de</strong>m dos escabinos,<br />
o pretexto para arrancarem a menina, a brutalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Blaar, a <strong>de</strong>solação <strong>de</strong><br />
D. Joana, tudo.<br />
— Mas não houve argumento que servisse. Não houve lágrima que valesse.<br />
Tudo inútil! João Blaar arrastou a moca. Lá está em casa do tigre. E o pior, André<br />
Vidal, é que já lhe <strong>de</strong>stinaram outro noivo...<br />
André Vidal, a cabeça em fogo, <strong>de</strong>vorava as palavras do amigo.<br />
— Outro noivo, continuou João Fernan<strong>de</strong>s; é o Alferes Segismundo Starke.<br />
Esse que vai partir amanhã para Cabe<strong>de</strong>lo com o patacho <strong>de</strong> pólvora. Na volta <strong>de</strong>le, o<br />
casamento se realizará. Hoje, em casa <strong>de</strong> João Blaar, foi apenas a festa do noivado.<br />
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