19.04.2013 Views

O Príncipe de Nassau - Unama

O Príncipe de Nassau - Unama

O Príncipe de Nassau - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

Fora, no pátio, os cavalos estavam prontos. Estrembon, pagem e camareiro,<br />

precipitou-se a segurar as ré<strong>de</strong>as do alazão. Era o cavalo mais belo <strong>de</strong> Pernambuco,<br />

o mais ár<strong>de</strong>go <strong>de</strong>ntre os trinta que o <strong>Príncipe</strong> tinha habitualmente nas cavalariças.<br />

Maurício, <strong>de</strong>sempenado e ágil, galgou a sela. Carlos Tourlon, Capitão da<br />

Guarda, também montou. Seguiram-se duas or<strong>de</strong>nanças. O Governador <strong>de</strong><br />

Pernambuco trotou galhardamente para a Cida<strong>de</strong> Maurícia.<br />

<strong>Nassau</strong>, naquela tar<strong>de</strong>, estava radioso. Alegria radiosa, <strong>de</strong>ssas que saco<strong>de</strong>m<br />

a gente, embriagava a sua alma <strong>de</strong> soldado. É que nessa manhã, ribombando, por<br />

entre fragorosas surriadas <strong>de</strong> mosqueteiros, entrou barra a <strong>de</strong>ntro uma nau louçã,<br />

muito garrida, com gran<strong>de</strong>s emban<strong>de</strong>irados no velame. Vinha da Bahia. Vinha<br />

comissionada especialmente pelo Viso-Rei do Brasil, o mui alto e po<strong>de</strong>roso Senhor<br />

Marquês <strong>de</strong> Montalvão, para trazer a Maurício, numa embaixada <strong>de</strong> gala, esta nova<br />

alvoroçante: Portugal, vencendo a Espanha, proclamara enfim a sua in<strong>de</strong>pendência. E<br />

D. João, Duque <strong>de</strong> Bragança, fora aclamado rei sob o nome <strong>de</strong> D. João IV.<br />

Tão alta era a notícia, tão faustosa, que o <strong>Príncipe</strong> ouvindo-a, arrancou do<br />

<strong>de</strong>do um anel opulento, on<strong>de</strong> faiscava baga imensa, dando-o <strong>de</strong> alvíssaras ao piloto<br />

João Lopes, o mensageiro afortunado.<br />

Essa brusca reviravolta política significava, <strong>de</strong> fato, imediato para<strong>de</strong>iro às<br />

lutas do Brasil. Era a paz entre Holanda e Portugal. Mais do que a paz: era a aliança<br />

forçada entre os dois países para combaterem a Espanha, agora inimigo comum.<br />

Nesse dia, além da nova assim emocionante, havia ainda, para afestoar o<br />

coração do <strong>Príncipe</strong>, certo recado <strong>de</strong> Montalvão, vindo pela segunda vez, recado<br />

secreto, muito confi<strong>de</strong>ncial, que significava o triunfo mais envai<strong>de</strong>cedor do guerreiro<br />

político.<br />

Montalvão, ao assumir o governo na Bahia, isso há meses já, houvera feito<br />

velejar dois emissários para a Cida<strong>de</strong> Maurícia. Um fora João Martins Ferreira; outro,<br />

Pedro <strong>de</strong> Arenas. Trouxeram ambos a <strong>Nassau</strong>, com insufladoras cortesanices, um<br />

alto bastão <strong>de</strong> ouro maciço, cravejado <strong>de</strong> muita pedraria <strong>de</strong> preço. Com esse regalo,<br />

primor <strong>de</strong> fidalguia, chegara também, entre fechados sigilos, aquele misterioso<br />

recado, recado secreto, muito confi<strong>de</strong>ncial, que lisonjeara fundo o orgulho do<br />

<strong>Príncipe</strong>...<br />

Naquele dia, com a embaixada que <strong>de</strong>scera no porto, Montalvão repetira o<br />

recado. Que recado era aquele? Ninguém sabia. Mas, o certo é que, naquela tar<strong>de</strong>,<br />

com o coração pálpite, Maurício partiu, entre toques e rufes, para o passeio <strong>de</strong><br />

costume.<br />

Atravessou o vasto parque <strong>de</strong> Friburgo, on<strong>de</strong> fron<strong>de</strong>javam setecentas<br />

palmeiras. Meteu-se pela Cida<strong>de</strong> Maurícia. Cortou a Praça dos Coqueiros.<br />

Desembocou na Ponte do Recife.<br />

Os moradores <strong>de</strong> Maurícia eram holan<strong>de</strong>ses e ju<strong>de</strong>us. Ao ouvirem o pateado<br />

dos cavalos, aqueles homens <strong>de</strong> língua estranha, muito ruivos, vestidos com gibões<br />

<strong>de</strong> saragoça, corriam atarantados às portas das casas, <strong>de</strong>sbarreteando-se à<br />

passagem do séquito.<br />

Ao pé da ponte, junto à correnteza do Capiberibe, ficava a taberna do velho<br />

Sni<strong>de</strong>r. Um magote <strong>de</strong> flamengos, com o taberneiro à frente, vermelhos e<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nados, copos na mão, saiu à rua tumultuosamente, a bradar com efusão:<br />

— Viva o nosso <strong>Príncipe</strong>!<br />

Maurício sorriu. Do alto da sela, com um gesto con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte, agra<strong>de</strong>ceu<br />

aos berradores. Novos vivas, gran<strong>de</strong> alarido.<br />

3

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!