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O Príncipe de Nassau - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Eu vos abençôo em nome do Padre, e do Filho, e do Espírito Santo 15 .<br />

Gaspar Dias Ferreira<br />

Tombaram pesadamente, uma por uma, as palavras sagradas daquela<br />

benção. Áspero calefrio arrepiara a todos. Aquele pacto, jurado no rancho pelos dois<br />

homens, tinha uma gravida<strong>de</strong> incomensurável. E o impressionante do quadro,<br />

aqueles fra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> hábito, aqueles vultos soturnos à luz do can<strong>de</strong>eiro, tudo aquilo,<br />

em hora tão morta, como que tornava o juramento ainda mais grave.<br />

Nisto, quebrando a cena, <strong>de</strong>ntro do silêncio da mata, na noite preta, estridulou<br />

<strong>de</strong> novo súbito pio <strong>de</strong> nambu. Os homens entreolharam-se. Quem será? E logo, outro<br />

pio. E mais outro... André Vidal, o ouvido à escuta, murmurou abafadamente:<br />

— Não se inquietem. Deve ser Rodrigo Mendanha...<br />

João Fernan<strong>de</strong>s e Frei Manuel estremeceram. Ambos romperam no mesmo<br />

assomo:<br />

— Rodrigo Mendanha?<br />

— Rodrigo Mendanha?<br />

André Vidal, diante <strong>de</strong> tão atropeladas exclamações, tornou intrigado:<br />

— Sim, Rodrigo Mendanha. Por que é que Vosmecês se mostram assim tão<br />

assustados? O rapaz saltou conosco no costão da Barreta. Depois seguiu direito ao<br />

engenho <strong>de</strong> João Fernan<strong>de</strong>s...<br />

Três pancadas fortes ecoaram à entrada do rancho. João Fernan<strong>de</strong>s abriu a<br />

porta. Espiou. Era <strong>de</strong> fato Rodrigo Mendanha. O moço entrou. Dentro, à luz frouxa<br />

do can<strong>de</strong>eiro, os homens contemplaram-no com pasmo. Rodrigo vinha lívido, o<br />

aspecto estuporado. Mal podia falar <strong>de</strong> tão anelante.<br />

André Vidal fitou-o, surpreso:<br />

— Que há Rodrigo? Que é o que suce<strong>de</strong>?<br />

O moço não <strong>de</strong>u tento as perguntas. Correu os olhos pelos vultos, avançou<br />

em direitura a João Fernan<strong>de</strong>s, agarrou-lhe as mãos, apertou-as com violência:<br />

— É certo, João Fernan<strong>de</strong>s? É certo o que me contaram? Vosmecê diga,<br />

João Fernan<strong>de</strong>s! Diga-me por esmola! É mesmo certo o que me contaram?<br />

João Fernan<strong>de</strong>s enterneceu-se. Abaixou os olhos.. Não teve ânimo <strong>de</strong><br />

respon<strong>de</strong>r. Aquele cascatear <strong>de</strong> palavras, aquele fremir, toda aquela angústia, assim<br />

<strong>de</strong> chofre, confundiu-o, travou-lhe a língua. Mas, o rapaz, num <strong>de</strong>sespero <strong>de</strong> cortar,<br />

virou-se atarantado para Frei Manuel:<br />

15 E' o próprio Fernan<strong>de</strong>s Vieira quem diz no seu "Memorial": "A Majesta<strong>de</strong>, que está em glória, por secretos<br />

avisos que me mandou, me or<strong>de</strong>nou que fizesse a guerra aos Olan<strong>de</strong>ses<br />

"Quem me trouxe os avisos foi um padre bento por nome Frei Inácio, eleito Bispo <strong>de</strong> Angola por esse<br />

serviço. Veio o Governador André Vidal <strong>de</strong> Negreiros trazer-me o mesmo aviso em companhia do fra<strong>de</strong> bento.<br />

Todos traziam POR ESCRITO e mo mostraram, mas com or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> tornarem o recolher para não serem<br />

achados". Vi<strong>de</strong> Varnhagem, Luta contra os Hollan<strong>de</strong>zes", a fís. 168 e no 'apêndice" a fls. 351 e 352.<br />

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