19.04.2013 Views

O Príncipe de Nassau - Unama

O Príncipe de Nassau - Unama

O Príncipe de Nassau - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

www.nead.unama.br<br />

— El-Rei? Pois El-Rei me enviou uma carta? É isso, Frei Inácio? Uma carta?<br />

Frei Inácio <strong>de</strong>sabotoou a sotaina, esquadrinhou por <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la. Lá dum<br />

escuso bolso, cosido pelas pregas do hábito, arrancou um pergaminho vistosamente<br />

timbrado com as armas <strong>de</strong> El-Rei. E entregando-o a Fernan<strong>de</strong>s Vieira:<br />

— Vosmecê compreen<strong>de</strong>, por certo, que há motivos superiores, certas<br />

razões <strong>de</strong> Estado, que obrigam D. João a se mostrar tão amigo <strong>de</strong> Holanda; que o<br />

obrigam a andar com tantos mimos e galantezas com <strong>Nassau</strong>. É uma tática <strong>de</strong> El-<br />

Rei. Tática bifronte não há negar. Mas é uma tática necessária. Coisas <strong>de</strong> política.<br />

— Vosmecê não se <strong>de</strong>ixe impressionar por elas. Pois o D. João IV, o D. João<br />

verda<strong>de</strong>iro, esse está inteiro nessa carta. Leia!<br />

Emocionado, o respirar ansioso, João Fernan<strong>de</strong>s, a luz avermelhada do<br />

can<strong>de</strong>eiro, leu a envai<strong>de</strong>cedora missiva. Era <strong>de</strong>ste teor:<br />

Eu El-rei, vos envio muito saudar.Sabendo bem o quanto sois vassalo fiel a<br />

Mim <strong>de</strong>dicado, assim como à glória e segurança <strong>de</strong>ste Reino, o que já haveis<br />

mostrado pelas letras secretas que mandastes <strong>de</strong> Pernambuco ao Viso-rei Marquez<br />

<strong>de</strong> Montalvão, digo-vos que será <strong>de</strong> muito Meu agrado todo aquelle auxilio que<br />

fornecer<strong>de</strong>s, já com a vossa espada, já com a vossa fazenda, já com o vosso<br />

prestigio <strong>de</strong> homem também principal nesse Arrecife, à causa <strong>de</strong> Portugal contra<br />

Olanda. tudo quanto fizer<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sse lado, nem só terá a Minha Real aprovação,<br />

como também não será esquecido pela Minha Real munificência... Frei Ignácio, <strong>de</strong><br />

viva vós, explicar-vos-ha a razão <strong>de</strong> certas amiza<strong>de</strong>s e dir-vos-ha das disposições<br />

do meu animo... Lisboa, dada no Terreiro do Paço, aos quatro <strong>de</strong> Fevereiro da 1643.<br />

EL-REI.<br />

João Fernan<strong>de</strong>s leu. Leu e não se conteve. Aquela carta, aquele bispoemissário,<br />

aquelas honras, aquela prova provada <strong>de</strong> EI-Rei seria com ele, tudo<br />

aquilo, assim <strong>de</strong> chofre, sacolejou-o, incendiou-o, fez explodir nele a <strong>de</strong>cisão<br />

suprema. Olhou para André Vidal, em cujos olhos lampejava uma alegria cálida,<br />

agarrou-lhe ambas as mãos, sacudiu-as, bradando num ímpeto:<br />

— Aperte estas mãos, André Vidal! E aqui unidos para a vida e para a morte,<br />

juremos os dois, em nome <strong>de</strong> Cristo, que havemos <strong>de</strong> expulsar os belgas <strong>de</strong>sta<br />

terra, custe o que custar!<br />

Momento sério, patético. Houve um relâmpago <strong>de</strong> silêncio. Frei Manuel, a<br />

tremer <strong>de</strong> emoção, caiu <strong>de</strong> joelhos:<br />

— Meu Deus e meu Senhor! Eu vos agra<strong>de</strong>ço tamanha graça...<br />

João Fernan<strong>de</strong>s e André Vidal apertaram-se as mãos. E ambos, <strong>de</strong>cididos e<br />

firmes, bradaram ao mesmo tempo:<br />

— Juro!<br />

Frei Inácio ergueu então o braço: e ali, no rancho, a luz soturna do<br />

can<strong>de</strong>eiro, o Bispo <strong>de</strong> Angola exclamou, com um gesto solene:<br />

28

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!