19.04.2013 Views

O Príncipe de Nassau - Unama

O Príncipe de Nassau - Unama

O Príncipe de Nassau - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

— Não! Vosmecê não conte comigo. Não hei <strong>de</strong> ser eu, Frei Manuel, quem<br />

vá pegar em armas contra os holan<strong>de</strong>ses... e contra o meu próprio Rei!<br />

E tornou a sorrir o seu sorriso astuto, venenoso <strong>de</strong> ironia...<br />

André Vidal <strong>de</strong> Negreiros<br />

Frei Manuel sucumbira. A sua esperança radiosa, a que mais embalava os<br />

seus planos <strong>de</strong> ódio contra os flamengos, era João Fernan<strong>de</strong>s. E aquela <strong>de</strong>serção<br />

do homem supremo, aquela <strong>de</strong>serção assim tão firme, tão categórica, fulminara-o<br />

como um raio. O bom religioso sentia a cabeça no ar, voando. E João Fernan<strong>de</strong>s,<br />

diante <strong>de</strong>le, o gesto brusco, continuava a afirmar inabalável:<br />

— Vosmecê, Frei Manuel não conte comigo! É loucura insurgir-se alguém<br />

contra os <strong>de</strong> Holanda. E loucura rematada! Quanto a mim, sabendo o que sei, digo-o<br />

claro, sem ro<strong>de</strong>ios: não pego em armas para por D. João no trono. Jamais!<br />

Frei Manuel pôs-se a andar dum lado para outro. Estava trêmulo, agitado.<br />

Afinal, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fundo silêncio, agarrou-se a esta ultima tábua <strong>de</strong> salvação:<br />

— Vosmecê olha a questão dum lado só, João Fernan<strong>de</strong>s. Não se trata<br />

apenas <strong>de</strong> pegar em armas a favor se D. J0Ã0 IV. Não! Trata-se, antes <strong>de</strong> tudo, mui<br />

principalmente, disto: expulsar os hereges da Capitania. varrer os huguenotes daqui.<br />

Fazer obra <strong>de</strong> cristão, João Fernan<strong>de</strong>s, obra <strong>de</strong> bom católico; isto sim!<br />

E estacando diante do ma<strong>de</strong>irense, a voz maldosa, como para ferrotoar-lhe<br />

o ânimo:<br />

— É isso, pelo menos, o que pensa o vosso amigo André Vidal <strong>de</strong> Negreiros.<br />

É essa a ambição daquele cristão às direitas. E é bom que Vosmecê se lembre que<br />

André Vidal não é português. É brasileiro. É um bravo lho da Paraíba... 14 .<br />

João Fernan<strong>de</strong>s fixou o religioso com ar <strong>de</strong> mofa:<br />

— André Vidal, Frei Manuel, é homem honrado. É, sem diminuição alguma,<br />

um soldado <strong>de</strong> brio que honra Brasil. Um bravo, como Vosmecê o disse, um<br />

bravíssimo paraibano. Não resta a menor dúvida. Mas, meu padre, o nosso André<br />

Vidal é ainda muito moço; é ainda muito sonhador. Não julgue que eu queira, com<br />

isso, apoucar os serviços <strong>de</strong>le. Longe <strong>de</strong> mim tal coisa. Sei muito bem tudo quanto<br />

tem feito o nosso belo amigo. É André Vidal a alma da rebelião. É quem agita, é<br />

quem saco<strong>de</strong>, é quem trabalha sem <strong>de</strong>scanso. É ele, só ele, quem anda por aí às<br />

escondidas, <strong>de</strong> vila em vila, <strong>de</strong> engenho em engenho, insuflando, encorajando,<br />

agremiando. É o amigo <strong>de</strong> todos. É o traço <strong>de</strong> união entre todos. André Vidal, em<br />

suma, é a mola <strong>de</strong> tudo o que se vem tramando na sombra. É o gran<strong>de</strong> conspirador!<br />

Mas nós, Frei Manuel, nós que temos juízo, não po<strong>de</strong>mos acompanhá-lo assim<br />

afoitamente. Precisamos ser práticos. Encarar a coisa como a coisa é. Nada <strong>de</strong><br />

14 Frei Calado, pág. 43: "o Capitão André Vidal <strong>de</strong> Negreiros, qual por seu valor, e esforço, e gran<strong>de</strong> nome que<br />

grangeou por seu braço, veio a ser <strong>de</strong>pois Tenente General; e Mestre <strong>de</strong> Campo; e S. Majesta<strong>de</strong> ornou seu peito<br />

com a insígnia do habito <strong>de</strong> Christo, e o <strong>de</strong>spachou com o cargo <strong>de</strong> governador do Maranhão e foi hua das<br />

Cabeças do movimento, não porque el Rey nosso senhor lho mandasse, as movido da carida<strong>de</strong> christã, zelo do<br />

amor da Patria, e <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ver o Brasil livre <strong>de</strong> Olã<strong>de</strong>ses e <strong>de</strong> tãtas falsas seitas e heresias...',.<br />

24

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!