You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
www.nead.unama.br<br />
Por isso, naquela noite, ao ver a pobrezinha ali, humil<strong>de</strong> e vencida, olhos<br />
fincados no chão, o soldado apiedou-se fundamente daquela <strong>de</strong>sgraça. Aquilo<br />
repugnava-o. Teve pena <strong>de</strong> tanto <strong>de</strong>svalimento.<br />
— Alegria, rapazes! Alegria! Eu vim aqui beber um trago à saú<strong>de</strong>! Vá buscarme,<br />
Segismundo, um caneco <strong>de</strong> vinho da Holanda!<br />
O rapaz saiu. Tourlon aproximou-se rápido da moça. E baixo, segurando-lhe<br />
a mão, soprou-lhe umas frases atropeladas:<br />
— Conte comigo, Carlota. Conte comigo, que serei por você. Eu sei <strong>de</strong> tudo!<br />
Eu sei quem foi a tece<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>ssa barbarida<strong>de</strong>...<br />
A moça escancarou os olhos. Escancarou-os com uma expressão idiota, tão<br />
gran<strong>de</strong> era o seu pasmo.<br />
— Sabe? Sabe quem foi? Pois vosmecê também sabe quem foi?<br />
— Também Carlota!<br />
Baixando ainda mais a voz, num apagado sussurro, Carlos Tourlon rugiu<br />
entre <strong>de</strong>ntes:<br />
— Foi D. Ana Pais! Foi a minha mulher...<br />
Segismundo entrou com o vinho. Carlos Tourlon recebeu o caneco das<br />
mãos do moço, sorria, e bradou alto, numa alacrida<strong>de</strong>:<br />
— Viva, rapazes! À felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ambos!<br />
O Capitão bebeu o caneco num trago.<br />
E saiu.<br />
Lá fora, na sala, entre vinhaça e riso, os comentários continuavam a ferver.<br />
Num canto, íntimos e confi<strong>de</strong>ntes, D. Ana Pais e Gaspar Dias conversavam. O velho<br />
raposão:<br />
— Este casamento, D. Ana, é uma vingança feroz! André Vidal vai<br />
enlouquecer.<br />
— Isso não é nada, Gaspar Dias!<br />
Balouçando a cabeça, com um suspiro fundo, a pernambucana <strong>de</strong>sabafouse,<br />
raivosa:<br />
— Ah, André Vidal! André Vidal! Eu precisava tirar uma <strong>de</strong>sforra ainda mais<br />
crua!<br />
— Mais crua?<br />
— Queria pilhar o homem vivo, Gaspar Dias; tê-lo aqui nas minhas mãos.<br />
Isso sim!<br />
— E que Vosmecê havia <strong>de</strong> fazer, D. Ana?<br />
— Montava a cavalo, tocava para as tabas <strong>de</strong> Jacob Rabbi, chamava o tigre,<br />
dizia-lhe isto: Jacob, man<strong>de</strong> reunir os bugres. Or<strong>de</strong>ne que arranquem a pele <strong>de</strong>ste<br />
15