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www.nead.unama.br<br />
Maurícia, assinada pelo próprio escolteto, <strong>de</strong>terminando a entrega imediata <strong>de</strong><br />
Carlota Haringue. Ah, foi um raio! Um pânico!<br />
D. Joana, sacudida, <strong>de</strong>sandou a chorar como louca. Carlota, sem pinga <strong>de</strong><br />
sangue, olhava aparvalhada. Que foi? Que significava tal <strong>de</strong>terminação? João Blaar<br />
com cinismo, explicou tranqüilo:<br />
— Esta moça é filha <strong>de</strong> holan<strong>de</strong>ses. Como tal, senhora Dona, <strong>de</strong>ve ela ser<br />
cuidada por holan<strong>de</strong>ses. Não é natural, nem justo, que viva no meio <strong>de</strong> brasileiros,<br />
consumindo a fazenda <strong>de</strong> gente estranha...<br />
Foram inúteis as lágrimas. João Blaar carregou a moça. Levou-a para a sua<br />
própria casa. Trancou-a num quarto 7 .<br />
A noite, enquanto a rapariga soluçava, alguém bateu à porta. Carlota<br />
estremeceu. Que será?<br />
— Abra!<br />
Carlota abriu. Era <strong>de</strong> novo João Blaar. Ele disse apenas:<br />
— Carlota! Limpe os olhos e venha daí comigo.<br />
Carlota obe<strong>de</strong>ceu. A pobre moça, mais espectro do que gente segui-o até a<br />
sala. João Blaar, com um gesto duro, apontou-lhe então o moço que lá estava:<br />
— Eis aqui, Carlota, o Alferes Segismundo Starke. É este o noivo que os<br />
escabinos <strong>de</strong>stinaram para você.<br />
— Que diz Vosmecê, João Blaar?<br />
— Digo que este moço é agora o seu noivo, redargüiu Blaar, impiedoso. É<br />
com esse que você vai se casar...<br />
E dirigiu-se galhofando para os dois:<br />
— Vocês estão noivos, rapazes! Sejam, portanto, bons noivos. Vamos lá:<br />
abracem-se!<br />
Segismundo Starke <strong>de</strong>u um passo. Carlota soltou um grito, horrorizada. Os<br />
olhos turvaram-se-lhe. Súbita tonteira enfumaçou-lhe o cérebro. As pernas<br />
bambearam-lhe. E a rapariga, sem saber como, <strong>de</strong>sabou pesadamente no chão.<br />
Foi este o gran<strong>de</strong> escândalo. O acontecimento rumoroso da Cida<strong>de</strong><br />
Maurícia. Toda gente, porém, conhecia bem quem fora a alma negra daquela trama.<br />
Toda gente, às portas fechadas, cochichava o nome <strong>de</strong> quem engendrara tão<br />
pérfida crueza. Carlos Tourlon, mais do que ninguém, sabia do caso. Carlos Tourlon,<br />
mais do que ninguém, revoltara-se contra a <strong>de</strong>salmada barbarida<strong>de</strong>.<br />
7 Domingos Loreto op. cit., "... a cara <strong>de</strong>scoberta roubava João Blaar, à força, as mulheres sem distinção <strong>de</strong><br />
calida<strong>de</strong>, facilitando as violências", Frei Calado: "os magistrados (escabinos) que, pela razão do seu cargo,<br />
haviam <strong>de</strong> talhar tantos <strong>de</strong>saforos, com o seu proce<strong>de</strong>r animavam o atrevimento. Tinham noticia <strong>de</strong> algúa molher<br />
fermosa mandavam buscar...".<br />
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