Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
www.nead.unama.br<br />
Com André Vida seguindo-o como sombra, andava por toda a parte um<br />
afilhado seu, rapagão sólido e guapo, vinte anos, animoso e leal como outro não<br />
havia nas redon<strong>de</strong>zas. Era Rodrigo Mendanha.<br />
Certa vez, <strong>de</strong>pois duma visita à casa <strong>de</strong> D. Joana, Rodrigo chamou do parte<br />
a André Vidal. O rapaz tremia. Estava perturbado como um menino.<br />
— Padrinho! Eu queria dizer uma coisa...<br />
André Vidal sorriu. Compreen<strong>de</strong>u logo o que significava aquilo. Mas, virou-se<br />
para o moço com fingida indiferença:<br />
— Uma coisa? Que há, Rodrigo?<br />
Rodrigo abaixou os olhos. Estranho embaraço perreava-o. Havia um terrível<br />
embaraço que aferroava-lhe a sua língua:<br />
— É que...<br />
E parava. Baixava ainda mais os olhos. Não havia meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>sentalar-se<br />
daquilo.<br />
-— É que...<br />
— Já sei, atalhou afinal André Vidal, apiedado, rindo um riso folgazão. Já<br />
sei, Rodrigo! Sei muito bem! O que você quer, maroto, é casar-se com Carlota<br />
Haringue... Não é?<br />
— É! É isso, padrinho, bradou o rapaz exultante, com quente ruidosida<strong>de</strong>. É<br />
isso mesmo! É isso, só isso, tudo o que eu ambiciono na vida!. Vosmecê consente?<br />
André Vidal reparou com carinho aquela boda. Trouxe o rapaz para o Recife.<br />
João Fernan<strong>de</strong>s Vieira chamou-o logo para as suas mercâncias Aí, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> pouco<br />
tempo, Rodrigo Mendanha se tornou a pessoa <strong>de</strong> maior confiança do gran<strong>de</strong> senhor<br />
d'engenho. Nada mais natural, portanto, que se realizasse em breve o casório<br />
apalavrado. Tudo estava fácil. Tudo arrumado. Assentou-se então que a coisa<br />
arrebentaria pelo São João...<br />
Mas eis que certo dia, no engenho <strong>de</strong> Dona Joana, toda a gente alarmou-se.<br />
Houve <strong>de</strong>susado alvoroço, corre-corre <strong>de</strong> mucamas, vozerio <strong>de</strong> medo. O feitor,<br />
chapéu na mão, surgiu apavorado:<br />
— Lá no pátio, siá Dona, está <strong>de</strong>smontando um homem que chegou aí <strong>de</strong><br />
cavalo, com um mundão <strong>de</strong> solda<strong>de</strong>sca! Tudo fremengo...<br />
Era João Blaar. Entrou. Vinha amendrontador, calções vermelhos, mosquete<br />
ao ombro. Saudou secamente a atarantada senhora. Depois, arrancando do bolso<br />
largo papel, vistosamente selado com o selo dos Estados, apresentou-se com<br />
ru<strong>de</strong>za:<br />
— Leia!<br />
D. Joana <strong>de</strong> Albuquerque leu. O coração bateu-lhe no peito com fúria. Ficou<br />
branca e trêmula. Não compreendia aquilo: era uma or<strong>de</strong>m dos escabinos <strong>de</strong><br />
13