19.04.2013 Views

O Príncipe de Nassau - Unama

O Príncipe de Nassau - Unama

O Príncipe de Nassau - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

www.nead.unama.br<br />

E partiu.<br />

Rodrigo Mendanha havia já <strong>de</strong>sabalado pelo sertão afora. Ia num<br />

<strong>de</strong>sespero. A notícia do avanço contra Uruassu endoi<strong>de</strong>ceu o moço. A só visão <strong>de</strong><br />

que a noiva po<strong>de</strong>ria cair nas mãos <strong>de</strong> Jacob Rabbi <strong>de</strong>spedaçava-o. Aquele branco<br />

selvagem era um monstro. Que faria o bárbaro se a aprisionasse?<br />

Camarão emparelhara-se também com o rapaz. O chefe índio, à frente dum<br />

troço po<strong>de</strong>rosíssimo <strong>de</strong> bugres, precipitou-se numa fúria à cata <strong>de</strong> Jacob Rabbi. Os<br />

homens largaram-se pela estrada como loucos, <strong>de</strong>vorando léguas...<br />

Consumara-se a matança trágica <strong>de</strong> Uruassu. É quase noite. Lusco-fusco.<br />

Os selvagens exaustos da carnagem, <strong>de</strong>scansam. Em torno das fogueiras,<br />

acocorados, bebendo o cauim que as mulheres lhes servem, os índios assam os<br />

cadáveres. Sobre o brasido, enfiados em longos espetos, chiam mantas <strong>de</strong> carne<br />

humana. É um festim macabro.<br />

No mato, entre dois troncos, balouça tosca re<strong>de</strong>. Junto crepita o fogo.<br />

Estirado nela, olhos semi-cerrados, madorra um índio. Ao pé do togo, as mãos<br />

atadas, uma prisioneira. O índio é Pero Poti; a prisioneira é Carlota Haringue.<br />

O tapuia, na sua lassidão, contempla cubiçosamente a moça. Aquele corpo,<br />

aquela brancura quente, aqueles cabelos claros, atiçam-lhe fogaréus no sangue<br />

selvagem. No crepúsculo morno, tropical, tão repassado <strong>de</strong> cheiros ácidos, o índio,<br />

aos balanços da re<strong>de</strong>, sente um como torpor, <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> mulher, ânsia felina <strong>de</strong><br />

cravar os <strong>de</strong>ntes nas maciezas daquela carne. De repente, num ímpeto, o bugre<br />

levanta-se. As narinas arfam-lhe. Os olhos lançam faíscas. Chega-se à moça.<br />

Agarra-a forte. Carlota recua, transida! Mas Poti é brutal, segura-a pelos cabelos,<br />

arrasta-a para si. A moça <strong>de</strong>bate-se, estorce-se, grita. Embal<strong>de</strong>! O selvagem, com<br />

um sacolejão, atira-a por terra... Eis que brusco estampido estruge no ar! Logo, num<br />

jorro <strong>de</strong> sangue, o bugre rola no chão. Estrondam novos estampidos. E outros mais.<br />

E outros ainda. Que é aquele? Surge <strong>de</strong> golpe um cavaleiro no mato. É o Bastião! O<br />

negro, ágil como um macaco, ergue impetuosamente a rapariga, enlaça-a, dispara<br />

pela estrada como um fantasma.<br />

No mesmo instante, <strong>de</strong> toda a parte, rompe o alarido aterrorizante:<br />

— Camarão!<br />

— Camarão!<br />

Tropel <strong>de</strong> bugres, toques guerreiros, zunir <strong>de</strong> flechas, uivos e berros atroam<br />

o céu. É Camarão! O gran<strong>de</strong> índio cai como um tufão sobre o acampamento <strong>de</strong><br />

Rabbi. Os selvagens cerram-se, arregimentam-se, ensaiam uma <strong>de</strong>fesa. Inútil!<br />

Camarão a frente <strong>de</strong> seus bárbaros estralhaça os tapuias com ferocida<strong>de</strong> sem peias.<br />

Vai tudo raso! É uma carnagem só. Não se poupa ninguém. Rolam ondadas <strong>de</strong><br />

sangue. Em meio da voragem, quando tombam os últimos às tacapadas dos<br />

assaltantes, aparece na luta o terço <strong>de</strong> André Vidal. Camarão corre a recebê-los:<br />

nós...<br />

— Vosmecê veio para os ossos, André Vidal! O banquete já o comemos<br />

Apontou os cadáveres.<br />

— Vitória completa! Arrasamos tudo...<br />

André Vidal, fremindo:<br />

120

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!