19.04.2013 Views

O Príncipe de Nassau - Unama

O Príncipe de Nassau - Unama

O Príncipe de Nassau - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

Mas, que fatalida<strong>de</strong>! A <strong>de</strong>sditosa mãe, por uma <strong>de</strong>ssas ásperas cruezas do<br />

<strong>de</strong>stino, sucumbiu no trabalho martirizante do parto. Só, neste fim do mundo, sem<br />

um parente e sem um amigo, os olhos nevoentos voltados para a Pátria, a pobre<br />

holan<strong>de</strong>sa, ao expirar, <strong>de</strong>ixava na terra nova o primeiro brasileirinho filho <strong>de</strong><br />

flamengos!<br />

Os patrícios, comiserados, recolheram a pequerrucha. E Carlota, a<br />

órfãzinha, começou a medrar. Ia ficando, dia a dia, um mimo <strong>de</strong> entontecer. Que<br />

<strong>de</strong>liciosa boneca! Tão bonita que era com o seu cabelo cacheado, claro como a flor<br />

do milho, as suas bochechas gordanchudas, vermelhas como duas papoulas.<br />

Enquanto assim, viçosa e fresca, floria a pequenita, os negócios da guerra<br />

andavam <strong>de</strong>sastrosos para os holan<strong>de</strong>ses.<br />

S. Salvador estava cercada. Os brasileiros, entocaiados por todo o canto,<br />

armando emboscadas sobre emboscadas, apertavam rijamente os flamengos.<br />

Começou a fome. Começaram as murmurações. Nenhum recurso da Holanda! A<br />

fome aumentou. Engrossaram ainda mais as murmurações. E nada <strong>de</strong> socorro!<br />

Arrebentou afinal, <strong>de</strong>ntro dos muros, o motim <strong>de</strong> Kjiff. Foi necessário capitular. E os<br />

holan<strong>de</strong>ses capitularam...<br />

A pequerrucha, ao partirem os flamengos, ficou na terra nova. Uma alma<br />

generosa tomou-a para si. Agasalhou-a. Enlouqueceu por ela. Foi André Vidal <strong>de</strong><br />

Negreiros. O moço, que tinha o coração nobre e galhardo, ao ver aquela<br />

feiticeirazinha <strong>de</strong> olhos azuis, tão corada, tão buliçosa, agarrou-a carinhosamente,<br />

enrolou-a na sua capa, arrebanhou-a.<br />

Mas André Vidal era só. Era só e nôma<strong>de</strong>. A sua vida <strong>de</strong> guerrilheiro<br />

obrigava-o a andar errático pela campanha, sem pouso certo, ao <strong>de</strong>us-dará. Que<br />

fazer? André conhecia D. Joana <strong>de</strong> Albuquerque, moradora <strong>de</strong> Pernambuco,<br />

senhora fidalga e rica, dona virtuosíssima da Capitania 6 .<br />

Tocou para lá, <strong>de</strong>sabalado. Contou o caso. Suplicou agasalho para a<br />

<strong>de</strong>svalidazinha. D. Joana não titubeou: recebeu a órfã na sua casa e no seu<br />

coração, bendizendo a Deus por lhe proporcionar ocasião <strong>de</strong> praticar tão bela<br />

esmola.<br />

Foi ai, nesse lar pacífico e cristão, que Carlota ficou moça. Moça e formosa.<br />

Dezoito anos! Ah, era um encanto vê-la... Que linhas! Tudo nela era ajustado,<br />

harmônico, perfeito. Um opulento mármore grego. Que feitiços havia na peraltice<br />

ingênua dos seus olhos, na orvalhada infantilida<strong>de</strong> do seu sorriso, no encrespado do<br />

seu cabelo, no claro flamengo do seu rosto, amorenado pelo sol dos trópicos. Mal<br />

sabia ela, recolhida entre os muros santos daquela casa, na sua tímida existência <strong>de</strong><br />

pobrezinha, que a fama da sua formosura já se havia <strong>de</strong>rramado por todos os<br />

sertões da Capitania. Aquilo, por toda a parte, era um boca só:<br />

— Boniteza? Carlota Haringue... Não há outra em Pernambuco!<br />

André Vidal, freqüentes vezes, vinha vê-la em casa <strong>de</strong> D. Joana. A rapariga,<br />

mal o avistava, saltava-lhe festivamente ao pescoço, numa efusão <strong>de</strong> abraços e<br />

beijos. O soldado, aquele homem do mato, endurecido nas brutezas da guerra,<br />

amolecia-se todo, sentia o coração <strong>de</strong>rreter-se-lhe no peto, fundido pela quente<br />

macieza daqueles agrados.<br />

6 D. Domingos Loreto, Desagravos do Brasil e Glórias <strong>de</strong> Pernambuco. Liv. VII (An. da Bib. Nac., vol. VII, pág.<br />

157).<br />

12

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!