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O Príncipe de Nassau - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Sim, General! Paulo <strong>de</strong> Linge já marcha para lá. Jacob Rabbi, com os<br />

seus bugres, entrou pela capitania a<strong>de</strong>ntro arrasando tudo. Estão ambos nas<br />

vizinhanças <strong>de</strong> Uruassu. Vai por aquelas terras um mar <strong>de</strong> sangue!<br />

André Vidal e Rodrigo Mendanha gelaram. O coração estacou-se-lhes no<br />

peito. Aquilo era um pelouro que estourava neles. João Fernan<strong>de</strong>s não vacilou:<br />

— Corra, André Vidal! Parta já com a sua tropa, voe por aí afora, faça tudo o<br />

que pu<strong>de</strong>r para impedir a matança!<br />

E Rodrigo Mendanha, como um louco:<br />

— Eu parto também! Vou na frente! Vou matando cavalos...<br />

— Vá, gritou Vidal; vá e salve Carlota!<br />

O mensageiro tinha razão. Jorrava pelo Rio Gran<strong>de</strong> um mar <strong>de</strong> sangue.<br />

Jacob Rabbi recebera a or<strong>de</strong>m do Supremo Conselho. Aquele branco selvagem, o<br />

bárbaro entre os bárbaros, embrenhara-se pela Capitania à frente das suas tribos<br />

antropófagas. Trouxera consigo os dois bugres <strong>de</strong> mais <strong>de</strong>rramada fama no sertão.<br />

Um era Paraopeba, cacique velho, ferocíssimo, tremendo matador <strong>de</strong> onças e<br />

sussuaranas; outro era Poti, índio da tribo mais carnívora das serras, célebre em<br />

todo sertão pelo seu soberbo cachorro <strong>de</strong> caça.<br />

Vinham assolando tudo. Roubavam os gados, incendiavam os canaviais,<br />

envenenavam as águas, <strong>de</strong>sonestavam as mulheres, enforcavam os homens. Aquilo<br />

era tufão <strong>de</strong> bandidos.<br />

Os habitantes da terra, ao eco do estrupido sangrento, arregimentaram-se<br />

com <strong>de</strong>sespero. Entrincheiraram-se nas margens do Potengi. Era grossa a multidão.<br />

Mulheres e crianças. Moços e velhos. Válidos e inválidos. Tudo veio ar<strong>de</strong>ndo por<br />

pegar em armas. Tudo fremia por barrar aquela investida <strong>de</strong> monstros. Mas no<br />

arranchamento miserável — oh ironia! — havia apenas <strong>de</strong>zessete mosquetes...<br />

Jacob Rabbi botou-se ao encontro dos entrincheirados. Antes <strong>de</strong> alcançálos,<br />

porém, chamou Poti e Paraopeba, os dois guerreiros <strong>de</strong> fama:<br />

— Escondam os teus homens na mata <strong>de</strong> Uruassu. O sinal é um tiro <strong>de</strong><br />

mosquete. Quando ouvirem o sinal caiam sobre os brancos. Arrasem todos. Que<br />

não fique um só vivo... 43<br />

Os dois bugres seguiram para a mata. E Jacob Rabbi partiu ao encalço do<br />

bando roto. Mas o astucioso chefe bárbaro não quis arremessar os seus homens<br />

contra aquela trincheira <strong>de</strong> <strong>de</strong>sesperados. Achou melhor parlamentar. Despachou<br />

para os sitiados um mensageiro com ban<strong>de</strong>ira branca. Prometeu-lhes tudo: que<br />

sairiam com vida, que receberiam todas as honras militares, que ganhariam salvocondutos<br />

do Conselho Supremo e que teriam naus para embarcarem para a Bahia.<br />

Os homens ouviram a proposta sedutora. Que fazer? Não tinham armas, não tinham<br />

munição, não tinham que comer. Era a morte na certa! Aceitaram a capitulação<br />

honrosa..<br />

43 Frei Rafael <strong>de</strong> Jesus, Castrioto Lusitano, livro 6: "Nas mattas circumvesinhas mandarão os Olan<strong>de</strong>zes<br />

duzentos índios do séqüito do maioral Paraoupaba, estimado do Flamengo no grão que estimava o Pero Poty. A<br />

hum e outro Indio igualava a se<strong>de</strong> do sangue portuguez...".<br />

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