19.04.2013 Views

O Príncipe de Nassau - Unama

O Príncipe de Nassau - Unama

O Príncipe de Nassau - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

— Que há? bradou o ma<strong>de</strong>irense surpreso; o negro foi enforcado?<br />

— Não foi, general!<br />

— Não foi?<br />

— Acaba <strong>de</strong> acontecer este caso inesperado: os soldados enfiaram na corda<br />

o pescoço do escravo; e eis que, ao tombar o corpo, a corda arrebenta-se com o<br />

peso!<br />

— Arrebenta-se! E o negro cai <strong>de</strong> pé, ileso, sem uma arranhadura! Toda a<br />

gente pasmou-se! Não há soldado que não veja nisso o <strong>de</strong>do <strong>de</strong> Deus. É uma boca<br />

só que foi milagre. Ninguém mais quer enforcar o Bastião...<br />

Pela barraca, num atropelo, afluíam os cabos <strong>de</strong> guerra. Gran<strong>de</strong> reboliço.<br />

Foi aí, nesse tumultuoso instante, que André Vidal apareceu. Em torno <strong>de</strong> João<br />

Fernan<strong>de</strong>s, fervilhando, iam pedidos <strong>de</strong> misericórdia:<br />

— Perdoe, João Fernan<strong>de</strong>s!<br />

O Governador da Liberda<strong>de</strong>, no fundo, era supersticioso. Aquele caso<br />

impressionou-o também. Havia no arrebentar da corda, forçosamente, qualquer<br />

coisa <strong>de</strong> sobrenatural. João Fernan<strong>de</strong>s consi<strong>de</strong>rou um pouco. Sentiu aquela boavonta<strong>de</strong><br />

dos cabos, aquele revoar <strong>de</strong> pedidos. E não resistiu: Fraquejou:<br />

— Pois bem, senhores, soltem-no! Mas avisem-lhe que não caia noutra! Na<br />

próxima vez, se o negro repetir a façanha, havemos <strong>de</strong> escolher uma corda mais<br />

rija...<br />

Saíram todos. No pátio, à espera da <strong>de</strong>cisão, o Bastião tremia. Os homens<br />

precipitaram-se numa gritaria:<br />

— Po<strong>de</strong> soltar! Po<strong>de</strong> soltar!<br />

O negro, ouvindo os gritos, arreganhou-se num riso enorme. Todos<br />

chegavam-se a ele, admiravam-no, examinavam-no, tocavam-no como se fosse<br />

bicho raro. O Bastião varou aquela onda. esvencilhou-se dos curiosos. Partiu a<br />

esmo, aturdidamente. Lá foi, a passos bambos, pelo campo afora, Enfiou-se no<br />

mato. Aí parou. Olhou cautelosamente para o Arraial. Espiou <strong>de</strong> lado a lado.<br />

Certificou-se bem <strong>de</strong> que não era seguido. Então, cerrando os punhos, com um<br />

gesto feroz, o negro abalou numa brusca disparada, a caminho <strong>de</strong> Recife... 42 .<br />

Nessa hora, um soldado arremetia-se açodadamente pela barraca <strong>de</strong> João<br />

Fernan<strong>de</strong>s. André Vidal e Rodrigo Mendanha, ao vê-lo, sentiram logo que vinham<br />

com ele noticias graves. João Fernan<strong>de</strong>s perguntou:<br />

— Que há?<br />

— General! Os belgas invadiram o Rio Gran<strong>de</strong>...<br />

— O Rio Gran<strong>de</strong>?<br />

42 Frei Calado, pág. 26: "nos fugiu hú negro <strong>de</strong> D. Anna Paes, o qual nos avia sido trahidor, e sendo tomado, por<br />

o que fora con<strong>de</strong>mnado a forca, e estan<strong>de</strong> <strong>de</strong>lla <strong>de</strong>pendurado lhe quebrou a corda. E o nosso Governo lhe<br />

perdoou a morte. Este pois, mesmo assim, fugiu <strong>de</strong> nós para o inimigo".<br />

115

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!