19.04.2013 Views

O Príncipe de Nassau - Unama

O Príncipe de Nassau - Unama

O Príncipe de Nassau - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

— Não! Não me lembro.<br />

www.nead.unama.br<br />

Borralho sorriu um sorriso sangrento. Bateu-lhe rijamente no ombro:<br />

— Eu sou o companheiro daquele soldadozinho que Vosmecê fez enforcar<br />

na Fortaleza Ernesto. Daquele a quem <strong>de</strong>ceparam os dois braços... Vosmecê se<br />

recorda?<br />

João Blaar estremece. Não pronuncia palavra. Finca soturnamente os olhos<br />

no chão. Simão Borralho grita-lhe, ríspido:<br />

— Assente-se, João Blaar! Assente-se e espere.<br />

Dentro da barraca chameja forte lume. Sobre ele, num tripé, um cal<strong>de</strong>irão<br />

negro. Dentro do cal<strong>de</strong>irão, pipocando, ferve borbulhante cozinhada <strong>de</strong> azeite e<br />

breu.<br />

Simão Borralho, em silêncio impressionadoramente, prepara larga mecha <strong>de</strong><br />

estopa. Depois, com sinistra calma, espeta-a cuidadosamente num espeto <strong>de</strong> ferro.<br />

De quando em quando, aproximando-se do cal<strong>de</strong>irão, remexe a cozinhada estranha.<br />

João Blaar não compreen<strong>de</strong>. Olha aquilo, esgueira para Borralho olhos tontos, bate<br />

os <strong>de</strong>ntes nervosamente. De súbito, esbraseando, o cal<strong>de</strong>irão referve. Simão<br />

Borralho sorri. Levanta-se. Toma do seu mosquete biscainho e fere fogo no morrão.<br />

Imperturbável, com irritante serenida<strong>de</strong>, Borralho <strong>de</strong>sata imprevistamente os nós que<br />

algemam o holandês. Or<strong>de</strong>na-lhe seco:<br />

— Erga-se!<br />

O prisioneiro ergue-se.<br />

— Tire as calças!<br />

O batavo esfria. Olha em roda, lívido, estuporado. Que fazer? Borralho fixa-o<br />

duramente, o mosquete aperreado, o morrão aceso. Diante disso, diante da arma<br />

apontada, não há remédio: tira as calças.<br />

— Dispa agora a jaqueta<br />

O preso obe<strong>de</strong>ce. Fica nu. Simão Borralho, com a mesma tranqüilida<strong>de</strong>,<br />

agarra no espeto <strong>de</strong> ferro. Mergulha-o na cal<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> breu. Encharca a mecha no<br />

cozimento que borbulha. E grita para o flamengo:<br />

— Vire as costas!<br />

João Blaar olha espavorido. Os queixos batem-lhe angustiadamente. Que<br />

fazer? Vira as costas... Simão Borralho, com a cataplasma fumegante, bate em<br />

cheio na ná<strong>de</strong>ga do belga. João Blaar solta um uivo! A carne chia. Mas Simão<br />

Borralho é impassível. Torna a mergulhar a mecha na cal<strong>de</strong>irada. E com novo berro:<br />

— Vire as costas!<br />

103

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!