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O Príncipe de Nassau - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Muito bem, Simão Borralho. Você irá. Mas não irá como um subalterno<br />

qualquer. Irá como chefe do esquadrão. Ouviu? Entrego a você os prisioneiros: leveos<br />

à Bahia. Você é, Simão Borralho, o responsável por essa marcha.<br />

— Fique sossegado, bradou Simão, gloriosamente; eu hei <strong>de</strong> me conduzir a<br />

contento <strong>de</strong> Vosmecê. Afianço, André Vidal, que Vosmecê não se arrepen<strong>de</strong>rá...<br />

Compôs-se o esquadrão. Aprestaram-se os prisioneiros. Um dia, enfim,<br />

<strong>de</strong>baixo do olhar vigilante <strong>de</strong> Simão Borralho, o tremendo João Blaar, à frente dos<br />

<strong>de</strong>rrotados, partiu rumo da Bahia.<br />

Rodrigo Mendanha, por seu turno, <strong>de</strong>libera escon<strong>de</strong>r cautelosamente a<br />

noiva. Era impossível a permanência <strong>de</strong>la nas barracas, por entre as asperezas<br />

daquela vida nôma<strong>de</strong>, correndo os riscos <strong>de</strong> uma campanha incerta. Carecia<br />

<strong>de</strong>positá-la on<strong>de</strong> a rapariga vivesse precatada, livre <strong>de</strong> perigos, até que findasse a<br />

guerra.<br />

Sítio nenhum afigurava-se-lhe tão propício como Uruassu, no Rio Gran<strong>de</strong>.<br />

Era aí a terra <strong>de</strong> Rodrigo. Era aí a casa <strong>de</strong> seus pais. Lugarejo perdido à beira-mar,<br />

vilota esquecida, grão <strong>de</strong> areia longínquo e morto, Uruassu, como toca selvagem,<br />

estava a calhar para escon<strong>de</strong>rijo <strong>de</strong> Carlota. Lá no ermo daquele retiro, tão apartado<br />

dos homens e das coisas, a guerra certamente não estalaria. Lá podia o moço<br />

confiar sossegadamente o seu coração.<br />

Os noivos partiram. Afundaram-se <strong>de</strong>sabalados pela bruteza do sertão. Ah,<br />

que dias! Que disparada romântica! A felicida<strong>de</strong> estrugia-lhes forte na alma.<br />

Nunca houve idílio tão belo, tão pitorescamente vivido, como esse idílio<br />

rústico dos dois noivos pela mataria selvagem. De dia, sob o sol áspero, era um troar<br />

vertiginoso pela terra a<strong>de</strong>ntro; <strong>de</strong> noite, com a alma constelada <strong>de</strong> júbilo, era um<br />

dormir na brenha encipoada, as re<strong>de</strong>s suspensas aos troncos, perdidos <strong>de</strong> amor,<br />

bêbedos <strong>de</strong> sonho e <strong>de</strong> paixão. Quanta vez, nessa corrida novelesca, a manhã não<br />

veio acordá-los nos mais hirsuto do mato virgem, a sombra dos nhacatirões bravios,<br />

sob um pavilhão chilreado <strong>de</strong> pássaros, gloriosamente enguirlandado <strong>de</strong> flores<br />

estonteantes...<br />

Foi nesses mesmos dias, enquanto os namorados voavam assim tão<br />

embriagadamente, à busca <strong>de</strong> Uruassu, que os prisioneiros da Casa-Forte seguiram<br />

rumo do seu exílio. No primeiro pouso, sem que ninguém o suspeitasse, <strong>de</strong>senrolouse<br />

no acampamento uma cena arrepiante, inauditamente feroz.<br />

É noite. Simão Barralho armara a barraca num capão <strong>de</strong> mato, Dentro <strong>de</strong>la,<br />

agitado, um vinco na testa, o oficial passeia nervosamente. De súbito, estacando,<br />

Borralho grita pelo soldado da guarda. A sentinela aparece.<br />

— Traga o prisioneiro!<br />

O soldado traz o prisioneiro. É João Blaar. O flamengo vem com as mãos<br />

amarradas, o ar sucumbido. A sentinela retira-se. João Blaar e Simão Borralho ficam<br />

sós. O oficial fita o prisioneiro com rancor:<br />

— Lembra-se <strong>de</strong> mim, João Blaar?<br />

O holandês ergue para o moço olhos surpresos. E <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fixá-lo por um<br />

momento:<br />

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