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Os primeiros ensaios dramáticos de Manuel de Figueiredo datam, quando
menos, de 1756; isto é, dous annos mais cedo do que suppõe o sr. Ferdinand
Denis no seu Résumé de 1'Hist. Lilt. de Portugal, cap. xxvn; onde também se
equivocou, julgando que o Theatro d'aquelle constava só de onze volumes, quando
é certo que comprehende treze; sem falar no chamado tomo xiv, que sendo em
verdade uma miscellanea de cousas escriptas pelo irmão, contém ainda assim
uma comedia castelhana, obra de Manuel dé Figueiredo, alinhavada por elle em
1748, e por conseguinte aos 23 annoâ de idade. Porém do anno 1756 temos a
sua comedia João Fernandes feito homem; e de 1757 as tragédias Edipo, Viriato
e Artaxerxes, lidas por esse tempo na Arcadia; e as comédias Farçola e Pássaro
bisnau, etc.
No prólogo, ou discurso que precede o Edipo, e se acha no começo do
tomo xni do Theatro, o auctor dá conta das considerações que o determinaram
a tentar as veredas da poesia dramática. Transcreverei aqui alguns curtos períodos
das suas reflexões para que os leitores, a cujas mãos não tiver chegado
aquella volumosa collecção, possam ajuizar por si das idéas do nosso dramaturgo,
e do fim que elle se propunha. Diz pois :
« Achei portuguezes que competem com os Virgilios, com os Homeros, com
os Pindaros, é com os Horacios: porém nenhum que imite os Sophocles, os
Eschylos, e os Euripedes. Deverei capacitar-me de fazer, alguma figura na minha
pátria como poeta neroico; ou como poeta lyrico ? Não sou tão simples. Achei
o campo livre á poesia dramática, poesia a mais interessante, a mais útil, a mais
difficultosa; e acnei em que exercitar não só o meu gênio, mas a minha ambição
: seguro de que, sem que os meus dramas tenham grande merecimento, sempre
me deixarão a vaidade de que são os primeiros que viu Portugal.
«Não digaes que foram dramáticos o grande Camões, o celebre Ferreira,
o venerado Sá de Miranda, e algum outro que compoz para o theatro; a cada
passo vereis que o ignoravam, e que algumas bellezas que se acham n'estas composições
pertencem ás outras por que elles foram conhecidos, e apenas imitados.
Deixai esse zelo indiscreto, que não só lhes não augmenta a gloria, mas
vos fará muito pouca honra; não está n'isso o ser bom portuguez, antes sim no
contrario; porque se q amor de patrícios nos obstina a sustentar os erros contra
a opinião de todo o mundo sábio, trabalharemos para perpetuar a nossa ignorância.
»
Pôde dizer-se que a idéa fixa de Manuel de Figueiredo durante os vinte
annos decorridos de 1756 a 1777, em que abandonou de todo a poesia, foi a
reforma do theatro portuguez, do modo como elle a comprehendia, e do qual
nos instruem os seus prólogos, e mais que tudo os cinco discursos que(recitou
na Arcadia, e que andam impressos no tomo i das suas Obras Posthumas. N'elles
analysa á luz da critica tudo o que diz respeito á composição da comedia, e esforça-se
por mostrar as incongruências do que então passava por melhor no
gosto pervertido dos amadores da scena.
Acompanhando a doutrina com o exemplo, escreveu successivamente no
referido período não menos de quarenta e um dramas, em que entram vinte e
quatro comédias originaes e cinco imitadas ou traduzidas; e doze tragédias, das
quaes são originaes oito, e traduzidas quatro. Algumas d'estas peças foram representadas;
mas parece que a acceitação e applauso do publico paravam muito
áquerh da expectativa do auctor. Elle comtudo não desacoroçoava na empreza;
e a final resolveu-se em 1773 a dar á luz o seu theatro, de qpe chegou ainda a
imprimir três tomos. Foi então que viu dissipadas de todo as íllusões, portnie os
exemplares dormiam somno profundo e imperturbável nas lojas dos livreiros,.»
o fructo das suas economias achava-se inteiramente exhausto com os gastos (Ü
impressão!
Quando passados vinte e cinco annos, no de 1798, foi mister desobslruir
um dos armazéns da Impressão Regia da papelada inútil que alli se empilhara,
sahiram d'envolta com o mais os ires volumes do Theatro de Figueiredo, que