Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná
Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná
Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO<br />
I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059<br />
primeiro lugar e ostensivamente, àquilo que ele faz, mas no fundamento, àquilo que<br />
ele é‖ 1 . Ora, aquilo que o homem faz, sen<strong>do</strong> para nós acessível pela experiência, é<br />
expressão <strong>do</strong> seu caráter empírico. Assim, o operari humano, sujeito à lei da<br />
natureza, é o alvo inicialmente visa<strong>do</strong> por nossos juízos de imputabilidade - poder-<br />
se-ia dizer que é nesse senti<strong>do</strong> que ―as nossas responsabilidades só podem ser<br />
referidas ao caráter empírico‖. Porém, de acor<strong>do</strong> com a leitura de Schopenhauer, a<br />
incidência precisa de um juízo de imputabilidade deve recair sobre o que o homem<br />
é, ou seja, sobre o que o homem pode ser de acor<strong>do</strong> com a sua essência. Ora, se o<br />
caráter inteligível, ―presente (...) em to<strong>do</strong>s os atos <strong>do</strong> indivíduo e impresso em to<strong>do</strong>s<br />
eles, como o carimbo em mil selos (...) determina o caráter empírico deste fenômeno<br />
[as ações exteriorizadas pela lei da causalidade - AP] que se manifesta no tempo e<br />
na sucessão <strong>do</strong>s atos‖ 2 , então deve ser a ele propriamente imputada a ação<br />
humana. Assim, Schopenhauer poderia compatibilizar facilmente as duas frases de<br />
Kant acima consideradas, afirman<strong>do</strong>: ―as nossas responsabilidades só podem ser<br />
referidas ao operari mas têm de ser atribuídas ao esse‖.<br />
A questão está em que, para Schopenhauer, a conclusão que se segue a partir<br />
disso é que a liberdade não pode mais ser entendida como um poder que o agente<br />
possui de agir de outro mo<strong>do</strong>. O meu agir é determina<strong>do</strong> necessariamente, seja <strong>do</strong><br />
ponto de vista exterior por motivos (isto é, uma espécie de causalidade empírica),<br />
seja <strong>do</strong> ponto de vista interno pelo caráter inteligível. Como a liberdade só pertence<br />
ao caráter inteligível, e o caráter inteligível apenas diz respeito ao “esse” e não ao<br />
“operari”, ela só pode ser entendida como um poder de ser de outro mo<strong>do</strong>, ou<br />
melhor, um poder que homem possui de ter si<strong>do</strong> outro. 3<br />
1 A. SCHOPENHAUER. Sobre o fundamento da moral, p. 92.<br />
2 Cf. Sobre o fundamento da moral, p. 91. Sobre a ―interpretação‖ de Schopenhauer acerca da<br />
distinção kantiana entre caráter inteligível e caráter empírico, veja também O Mun<strong>do</strong> como Vontade e<br />
Representação II, § 20, p. 142, § 28, p. 203-207, IV, § 55, p. 379-385 e Essai sur le libre arbitre, p.<br />
117ss., e p. 191-195.<br />
3 Sobre o fundamento da moral, p. 91: ―... tu<strong>do</strong> o que [o homem] faz acontece necessariamente. Mas<br />
no seu ‗esse‘, aí está a liberdade. Ele poderia ter si<strong>do</strong> outro: e naquilo que ele é estão culpa e mérito‖.<br />
I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR<br />
II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção <strong>Paraná</strong> – SKB/PR<br />
Página6