Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná
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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 subjetiva. Distinguindo nas grandes mudanças de regime político a intervenção material de um poder imanente que perpassa o corpo social por inteiro, Foucault descobria as grandes transformações que o Ocidente atravessava desde a formação dos Estados Nacionais com no encerramento da Idade Média. 1 Tomando corpo em técnicas de dominação refinadas e criando novas instituições sociais, nossa cultura passa a formular saberes que estudam o indivíduo fazendo dele um sujeito passível de atribuições científicas. Temos antes que admitir que o poder produz saber, que poder e saber estão diretamente implicados; que não há relação de poder sem constituição correlata de um campo de saber, nem saber que não suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de poder. Essas relações de ‗poder-saber‘ não devem então ser analisadas a partir de um sujeito de conhecimento que seria ou não livre em relação ao sistema do poder; mas é preciso considerar ao contrário que o sujeito que conhece, os objetos a conhecer e as modalidades de conhecimentos são outros tantos efeitos dessas implicações fundamentais do poder-saber e de suas transformações históricas. 2 Seja por erro, ignorância ou pura estupidez, temos sempre a tendência em acreditar que o saber seja resultado de operações lógicas isentas de qualquer relação de força. Para Foucault, no entanto, nunca houve modelo de verdade que pairasse sobre os ares do convívio político humano nem ciência positiva que já não implicasse uma prática de poder se exercendo concomitantemente. Pois é precisamente no contato físico do eu com o outro, no intermédio de uma relação afetiva e resistente a abstrações, que ele localizou o funcionamento concreto de técnicas disciplinares, domesticadoras do comportamento humano. Na contramão da concepção moderna de Estado jurídico, o caráter prospectivo de uma rede difusa de poderes em nossa sociedade torna possível assegurar a coesão e a legitimidade dos governos mediante o consentimento tácito dos governados. As ciências do 1 Formação dos Estados Nacionais; entenda-se, sob a forma das monarquias absolutistas. 2 FOUCAULT, M. Vigiar e Punir. p.30. I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página5
ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 homem, dessa feita, encontrarão nesse mesmo mal-entendido o solo fértil para sua multiplicação. Assim, em sua apreensão no interior de uma vasta teia discursiva, costumamos falar de um sujeito de sexualidade, de um sujeito de nacionalidade, um sujeito que fala, deseja, vive e trabalha; enfim, de um sujeito alienado na doença mental, no crime... Domínios específicos que remetem cada qual a experiências fundamentais que possibilitam uma assunção subjetiva, uma tomada de consciência qualquer do indivíduo sobre si mesmo e o proveniente ganho de uma identidade cultural. Seu estudo do poder, sua incursão nas zonas cinzentas mais do que nas zonas iluminadas da teoria e da ciência, veio a calhar na tarefa de conhecer seus procedimentos e estratégias, a fim de esclarecer o lado sombrio do tratamento conferido ao ser humano pelas hodiernas democracias ocidentais. * * * Com o fito de passarmos à descrição de seus estudos, cabe destacarmos em linhas gerais alguns traços específicos de sua concepção de poder. Sobremaneira o desvio estabelecido com a análise tradicional em ciência política. No trabalho de muitos teóricos modernos da política, o domínio e a conservação de uma ordem social sempre foi questão jurídica, passível de ser resolvida por intermédio de uma elaboração contratual entre indivíduos ou classes sociais. Assim, boa parte da teoria contratualista moderna consistiu na tentativa de racionalização desses conflitos e na formulação de esquemas que terminavam por atribuir ao Estado importância fundamental. Para eles, o aparelho do Estado sempre se apresentou como o órgão central e único do poder. Tendo como instrumento clássico de legitimação de regimes políticos uma ideologia, isto é, a justificação racional da organização do poder, a figura do Estado serviu como ponto de partida necessário para a explicação da relação entre os poderes e os saberes nas sociedades capitalistas. I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página6
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homem, dessa feita, encontrarão nesse mesmo mal-entendi<strong>do</strong> o solo fértil para sua<br />
multiplicação. Assim, em sua apreensão no interior de uma vasta teia discursiva,<br />
costumamos falar de um sujeito de sexualidade, de um sujeito de nacionalidade, um<br />
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mental, no crime... Domínios específicos que remetem cada qual a experiências<br />
fundamentais que possibilitam uma assunção subjetiva, uma tomada de consciência<br />
qualquer <strong>do</strong> indivíduo sobre si mesmo e o proveniente ganho de uma identidade<br />
cultural. Seu estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> poder, sua incursão nas zonas cinzentas mais <strong>do</strong> que nas<br />
zonas iluminadas da teoria e da ciência, veio a calhar na tarefa de conhecer seus<br />
procedimentos e estratégias, a fim de esclarecer o la<strong>do</strong> sombrio <strong>do</strong> tratamento<br />
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gerais alguns traços específicos de sua concepção de poder. Sobremaneira o desvio<br />
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sempre foi questão jurídica, passível de ser resolvida por intermédio de uma<br />
elaboração contratual entre indivíduos ou classes sociais. Assim, boa parte da teoria<br />
contratualista moderna consistiu na tentativa de racionalização desses conflitos e na<br />
formulação de esquemas que terminavam por atribuir ao <strong>Esta<strong>do</strong></strong> importância<br />
fundamental. Para eles, o aparelho <strong>do</strong> <strong>Esta<strong>do</strong></strong> sempre se apresentou como o órgão<br />
central e único <strong>do</strong> poder. Ten<strong>do</strong> como instrumento clássico de legitimação de<br />
regimes políticos uma ideologia, isto é, a justificação racional da organização <strong>do</strong><br />
poder, a figura <strong>do</strong> <strong>Esta<strong>do</strong></strong> serviu como ponto de partida necessário para a explicação<br />
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