Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná
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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 que eu acrescento uma representação a outra e sou autoconsciente de sua síntese. Ser consciente de uma síntese é diferente do ato de acompanhar com consciência as representações; é, antes que uma consciência psicológica, uma consciência lógica voltada para objetos, uma consciência objetiva. O componente reflexivo concerne à consciência de uma síntese, ou seja, de como ligo representações, uma consciência de condições e regras fundada em um poder ligar. O pensamento de que as representações me pertencem enquanto as unifico em uma autoconsciência pressupõe a consciência da síntese das representações. Que as representações me pertencem significa que tenho a capacidade de realizar sua síntese ou de compreender o múltiplo numa consciência mediante aquelas regras chamadas categorias. Assim a apercepção transcendental torna-se a estrutura universal de uma peculiar consciência que possibilita ao mesmo tempo a unidade de si mesmo e da formação da experiência. Sobre a equiparação da consciência empírica a um estado de clareza, que leva a supor que a simples representação Eu ocorra obscuramente, La Rocca apresenta quatro posições, entre as quais destaco apenas a de Tuschling, segundo a qual a subjetividade transcendental constitui a unidade de consciente e inconsciente (cf. La Rocca 453), e explicito a do próprio La Rocca, ou seja, de que a apercepção transcendental é uma possibilidade indispensável: o campo do entendimento é o da possibilidade de algo tornar-se consciente. Se admitirmos a consciência transcendental como uma possibilidade estrutural, então a ideia de um entendimento obscuro não é nem contraditória nem prejudicial. Mas ela deve pelo menos permitir captar as regras e princípios do exercício de sua faculdade de conhecer: ―Autoconsciente em um sentido cognitivo é aquilo que pode prestar contas sobre as razões do seu próprio juízo‖ (cf. 467). É isto que significa um bewusstes Erleben – um vivenciar consciente, aquele que em princípio e quando necessitar pode dar razões. Com isso a autoconsciência transcendental pode ser ao mesmo tempo filosofia e ciência, a priori e empírica, porque consiste na estrutura universal de atos I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página11
ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 concretos. Esta interpretação torna o Eu uma presença leve ―que tem de acompanhar toda a nossa vida espiritual‖. Para concluir provisoriamente 1 : a teoria de La Rocca, que demonstra a compatibilidade entre representações inconscientes e autoconscientes, faz ressaltar a presença positiva das representações inconscientes contribuindo substancialmente para a produção do conhecimento e para a criação de soluções de problemas da razão em todos os seus níveis. Consequentemente, falta reelaborar com mais ousadia a teoria do conhecimento de Kant desde a perspectiva da complementação mútua de representações obscuras e conscientes. Em recente reunião de físicos declarou-se que apenas o percentual de 4% da matéria era conhecido até agora. Isto faz supor que os físicos, independentemente das proezas que propiciaram (viagens interplanetárias), têm uma idéia obscura da quase totalidade da matéria, sem plena certeza do que nessas viagens os espera. Se a ciência da natureza, depois de tantos investimentos e sucessos, encontra-se apenas no seu início, vendo seu objeto como um pálido ponto luminoso dentro da noite do conhecimento, que dizer então da filosofia, bem mais antiga e mais difícil que a própria investigação física? Significa dizer, muito mais justificadamente, que a consciência do predomínio de representações inconscientes no exercício da razão a faz despertar para a consciência de que ela se encontrará para sempre em um eterno início; de que o enigma do ser humano no universo não vai ser decifrado por ela; que teremos de conviver obscuramente com ele, mas certamente com a autoconsciência de uma admiração crescente pelo nosso destino. Curitiba, 30 de junho de 2009 1 Na apresentação deste texto na UFPR, foi-me perguntado em que a concepção das representações claras e distintas de Kant se relacionaria ou diferenciava da equivalente concepção de Descartes. Relendo então as Meditações metafísicas, verifiquei que pelo menos nessa obra as diferenças seriam maiores que as semelhanças: Descartes não parece aí preocupado em diferenciar clareza e distinção; funda ambos os conceitos teologicamente; não atribui clareza aos sentidos, que se enganam como se fossem sentimentos de pensamentos confusos. I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página12
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que eu acrescento uma representação a outra e sou autoconsciente de sua síntese.<br />
Ser consciente de uma síntese é diferente <strong>do</strong> ato de acompanhar com consciência<br />
as representações; é, antes que uma consciência psicológica, uma consciência<br />
lógica voltada para objetos, uma consciência objetiva. O componente reflexivo<br />
concerne à consciência de uma síntese, ou seja, de como ligo representações, uma<br />
consciência de condições e regras fundada em um poder ligar. O pensamento de<br />
que as representações me pertencem enquanto as unifico em uma autoconsciência<br />
pressupõe a consciência da síntese das representações. Que as representações me<br />
pertencem significa que tenho a capacidade de realizar sua síntese ou de<br />
compreender o múltiplo numa consciência mediante aquelas regras chamadas<br />
categorias. Assim a apercepção transcendental torna-se a estrutura universal de<br />
uma peculiar consciência que possibilita ao mesmo tempo a unidade de si mesmo e<br />
da formação da experiência.<br />
Sobre a equiparação da consciência empírica a um esta<strong>do</strong> de clareza, que leva a<br />
supor que a simples representação Eu ocorra obscuramente, La Rocca apresenta<br />
quatro posições, entre as quais destaco apenas a de Tuschling, segun<strong>do</strong> a qual a<br />
subjetividade transcendental constitui a unidade de consciente e inconsciente (cf. La<br />
Rocca 453), e explicito a <strong>do</strong> próprio La Rocca, ou seja, de que a apercepção<br />
transcendental é uma possibilidade indispensável: o campo <strong>do</strong> entendimento é o<br />
da possibilidade de algo tornar-se consciente. Se admitirmos a consciência<br />
transcendental como uma possibilidade estrutural, então a ideia de um entendimento<br />
obscuro não é nem contraditória nem prejudicial. Mas ela deve pelo menos permitir<br />
captar as regras e princípios <strong>do</strong> exercício de sua faculdade de conhecer:<br />
―Autoconsciente em um senti<strong>do</strong> cognitivo é aquilo que pode prestar contas sobre as<br />
razões <strong>do</strong> seu próprio juízo‖ (cf. 467). É isto que significa um bewusstes Erleben –<br />
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razões. Com isso a autoconsciência transcendental pode ser ao mesmo tempo<br />
filosofia e ciência, a priori e empírica, porque consiste na estrutura universal de atos<br />
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