Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná
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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 representações, ao passo que a existência do eu é indubitável e demonstrada pelo cogito (Med., II, §§7-9). Para refutar essa teoria é necessário provar indiscutivelmente a existência real e objetiva (a realidade atual para usar um temo cartesiano) das coisas externas. Este será o intento de Kant: demonstrar que ―temos também experiência e não apenas imaginação das coisas exteriores‖, a partir da tese de que ―a nossa experiência interna, indubitável para Descartes, só é possível mediante o pressuposto da experiência externa‖ (KrV, B 275). O ponto de partida da prova é o argumento da consciência de minha existência temporal. Quer dizer, sou consciente de que existo no tempo. As minhas próprias representações me dizem isto ao passo que são instáveis, isto é, são sucessivas mudanças de estados da minha consciência. Logo as representações são mutáveis e temporais. Mas só posso determinar o que é temporal com base numa sucessão de mudanças com referência a algo permanente. Ou como Kant diz na Observação 2: ―só podemos perceber toda a determinação de tempo pela mudança nas relações externas (o movimento) com referência ao que é permanente no espaço‖ (KrV, B 277). Isto significa que só podemos determinar que algo muda (que é temporal) relacionando-o com uma sucessão de diferentes estados deste algo com referência a algo permanente. Qual é então este permanente necessário para a determinação da minha existência no tempo? Temos três possibilidades: (1) o permanente é representação; (2) o permanente é um objeto externo; (3) eu sou este permanente. Quanto à primeira opção é evidente que o permanente não pode ser mais uma representação, pois seria também mutável e a posteriori, mas é necessário que seja algo distinto da representação como algo anterior que a sustente. Porém, se o permanente é um objeto externo, posso eu representá-lo sob a condição de algo permanente, externo e independente de mim, o que faz com que o permanente nunca saia do nível da representação. Estas objeções nos permitem inferir que eu próprio sou este permanente. Afinal, enquanto sujeito das representações sou algo distinto delas, aquele que representa o que é representado. Além disso, permaneço o mesmo apesar das mudanças que ocorrem em mim. Não obstante, se percebo tal I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página2
ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 movimento é necessário que eu seja algo permanente, que resiste durante a sucessão das representações. Mas Kant não aceita que o permanente seja eu nem representação, até porque não refutaria Descartes, mas concordaria com ele e apenas reformularia seu idealismo. Para Kant, ―este permanente não pode ser algo em mim‖ e ―a percepção deste permanente só é possível através de uma coisa exterior a mim e não pela mera representação de uma coisa exterior a mim‖ (KrV, B 275). Isto porque uma vez que existo no tempo não posso ser a minha própria causa enquanto ser finito. Também não pode ser algo em mim (representação), ao passo que deve ser a priori. Até aqui Kant não dá conta de refutar o idealismo, pois o problema do permanente permanece irresolvido. Mas Kant apresenta um segundo argumento que é o da distinção entre experiência e imaginação. Na nota da Observação 1 Kant declara que a questão do idealismo é a de considerar que há apenas um sentido interno e nenhum externo; isto significa dizer que todas as coisas externas não passam de imaginação. Mas o ponto é que ―mesmo para imaginarmos algo como externo é necessário que já tenhamos um sentido externo‖, isto porque a imaginação é apenas ―reprodução de antigas percepções externas‖ (KrV, B 278). Ou seja, só podemos imaginar algo com base em objetos externos já percebidos anteriormente pelos sentidos externos. E de certa forma concorda Descartes quando diz que ―as coisas que nos são representadas no sono são como quadros e pinturas, que só podem ser formados à semelhança de algo real e verdadeiro‖ e que os pintores mesmo quando pintam seres fictícios, ―não lhes podem, todavia, atribuir formas e naturezas inteiramente novas‖ (Med., I, §6). Depois deste argumento Kant acredita ter provado que ―a experiência interna em geral só é possível mediante a experiência externa em geral‖ (KrV, B 278 - B 279). Isto é, todas as representações têm como causas primeiras necessariamente objetos externos permanentes, dos quais derivam direta ou indiretamente. Ao analisar a refutação kantiana do idealismo, pode-se dizer que a mesma não alcança seu objetivo e não oferece uma ruptura definitiva com Descartes, no máximo I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página3
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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO<br />
I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059<br />
representações, ao passo que a existência <strong>do</strong> eu é indubitável e demonstrada pelo<br />
cogito (Med., II, §§7-9). Para refutar essa teoria é necessário provar<br />
indiscutivelmente a existência real e objetiva (a realidade atual para usar um temo<br />
cartesiano) das coisas externas. Este será o intento de Kant: demonstrar que ―temos<br />
também experiência e não apenas imaginação das coisas exteriores‖, a partir da<br />
tese de que ―a nossa experiência interna, indubitável para Descartes, só é possível<br />
mediante o pressuposto da experiência externa‖ (KrV, B 275).<br />
O ponto de partida da prova é o argumento da consciência de minha existência<br />
temporal. Quer dizer, sou consciente de que existo no tempo. As minhas próprias<br />
representações me dizem isto ao passo que são instáveis, isto é, são sucessivas<br />
mudanças de esta<strong>do</strong>s da minha consciência. Logo as representações são mutáveis<br />
e temporais. Mas só posso determinar o que é temporal com base numa sucessão<br />
de mudanças com referência a algo permanente. Ou como Kant diz na Observação<br />
2: ―só podemos perceber toda a determinação de tempo pela mudança nas relações<br />
externas (o movimento) com referência ao que é permanente no espaço‖ (KrV, B<br />
277). Isto significa que só podemos determinar que algo muda (que é temporal)<br />
relacionan<strong>do</strong>-o com uma sucessão de diferentes esta<strong>do</strong>s deste algo com referência<br />
a algo permanente. Qual é então este permanente necessário para a determinação<br />
da minha existência no tempo? Temos três possibilidades: (1) o permanente é<br />
representação; (2) o permanente é um objeto externo; (3) eu sou este permanente.<br />
Quanto à primeira opção é evidente que o permanente não pode ser mais uma<br />
representação, pois seria também mutável e a posteriori, mas é necessário que seja<br />
algo distinto da representação como algo anterior que a sustente. Porém, se o<br />
permanente é um objeto externo, posso eu representá-lo sob a condição de algo<br />
permanente, externo e independente de mim, o que faz com que o permanente<br />
nunca saia <strong>do</strong> nível da representação. Estas objeções nos permitem inferir que eu<br />
próprio sou este permanente. Afinal, enquanto sujeito das representações sou algo<br />
distinto delas, aquele que representa o que é representa<strong>do</strong>. Além disso, permaneço<br />
o mesmo apesar das mudanças que ocorrem em mim. Não obstante, se percebo tal<br />
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