Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná

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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 referenciais que servem para esclarecer o problema da identidade da pessoa que por um lado é sempre a mesma do nascimento até a morte e por outro, mostra-se diferente com o passar do tempo, seja no aspecto físico seja nos modos de ser. Transposta a questão para a identidade pessoal, entende que no sujeito convergem a mesmidade idem em que há o entendimento de ser alguém sempre o mesmo, idêntico e a ipseidade, que emprega a dialética do si mesmo que se descobre outro no movimento do tempo e nas agregações configurantes. A mesmidade é a identidade objetivamente considerada e a ipseidade a compreensão subjetiva de permanência, da existência de disposições estáveis que servem de apoio às mudanças tal como é o caráter. Assim é possível afirmar que alguém pode ser reconhecido a mesma pessoa ao longo de toda sua vida. A narração é uma das formas primeiras de comunicação entre os homens transmitindo saberes, tradições e normas e tem implícitos a existência de um narrador, um destinatário e uma ação. Aristóteles, na Poética, quando trata da tragédia diz que o enredo introduz concordância entre fatos, eventos díspares, dando-lhes forma, configuração única e delimitando-os entre começo e fim. Toda a narração tem como função mimetizar a ação relatada. Entende-se por ação fatos, acontecimentos passíveis de serem narrados. Personagem é quem faz a ação. Para Ricoeur, na narração os fatos acontecidos, os personagens da história adquirem distinção própria e são sempre, outra vez, reconhecidos porque no enredo, ou seja, nos fatos que compõem as ações, são entretecidos em unidade temporal a história do personagem e os elementos aleatórios, imprevisíveis, fortuitos que a ela aderem. Tem-se, então, conjugados no personagem a concordância da unicidade de uma vida singular que dá unidade à história narrada e a discordância dos eventos. A vida da pessoa, reunida e guardada na memória pode ser contada pelo personagem que constrói então sua identidade narrativa. Importante ressaltar que o personagem tem a iniciativa e o poder de determinar o começo e o fim dos acontecimentos relatados refigurando-os, diferentemente da pessoa, cuja vida é I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página2

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 objeto do relato, que não conhece os fatos sobre sua concepção e nascimento que dizem respeito a outras vidas que não a própria e aos referentes à sua morte que só os que sobreviverem a ela poderão descrever. A narração de vida pode misturar experiências vividas e fabulização da história constituindo-se assim em história fictícia ou ficção histórica de acordo com o que é escolhido para ser traduzido no enredo. Na narração são ressaltados os conteúdos éticos das ações por meio de julgamentos e avaliações. Em Ricoeur a narrativa assume, então, o papel mediador entre o momento descritivo e o prescritivo em que a identificação da pessoa se torna fator fundamental. A narratividade é, pois, uma introdução, uma propedêutica à ética. Portanto, pode-se afirmar que mesmo se uma narrativa de vida não guarda fidelidade histórica aos fatos narrados, é fiel à identidade pessoal na identidade narrativa do personagem. Na unidade de uma vida, totalidade temporal e singular mostrada na identidade do personagem emerge a identidade pessoal dialeticamente estruturada entre a permanência no tempo e a mudança, entre a mesmidade e a ipseidade, entre o si mesmo como outro. Bibliografia HAHN, E. L. A filosofia de Paul Ricoeur. Lisboa: Piaget, [1997]. RICOEUR, Paul. O si mesmo com um outro. Campinas: Papirus, 1991. _____ . A metáfora viva. São Paulo: Loyola, 2000. _____ . Da metafísica à moral. Lisboa: Piaget [1997]. _____ . Temps et récit vol. I L‘ intrigue et Ie récit historique. Paris: Du Seuil, [2006]. _____. Tempo e narrativa II. Campinas: Papirus, 1995. I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página3

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO<br />

I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059<br />

referenciais que servem para esclarecer o problema da identidade da pessoa que<br />

por um la<strong>do</strong> é sempre a mesma <strong>do</strong> nascimento até a morte e por outro, mostra-se<br />

diferente com o passar <strong>do</strong> tempo, seja no aspecto físico seja nos mo<strong>do</strong>s de ser.<br />

Transposta a questão para a identidade pessoal, entende que no sujeito convergem<br />

a mesmidade idem em que há o entendimento de ser alguém sempre o mesmo,<br />

idêntico e a ipseidade, que emprega a dialética <strong>do</strong> si mesmo que se descobre outro<br />

no movimento <strong>do</strong> tempo e nas agregações configurantes. A mesmidade é a<br />

identidade objetivamente considerada e a ipseidade a compreensão subjetiva de<br />

permanência, da existência de disposições estáveis que servem de apoio às<br />

mudanças tal como é o caráter. Assim é possível afirmar que alguém pode ser<br />

reconheci<strong>do</strong> a mesma pessoa ao longo de toda sua vida.<br />

A narração é uma das formas primeiras de comunicação entre os homens<br />

transmitin<strong>do</strong> saberes, tradições e normas e tem implícitos a existência de um<br />

narra<strong>do</strong>r, um destinatário e uma ação. Aristóteles, na Poética, quan<strong>do</strong> trata da<br />

tragédia diz que o enre<strong>do</strong> introduz concordância entre fatos, eventos díspares,<br />

dan<strong>do</strong>-lhes forma, configuração única e delimitan<strong>do</strong>-os entre começo e fim. Toda a<br />

narração tem como função mimetizar a ação relatada. Entende-se por ação fatos,<br />

acontecimentos passíveis de serem narra<strong>do</strong>s. Personagem é quem faz a ação. Para<br />

Ricoeur, na narração os fatos aconteci<strong>do</strong>s, os personagens da história adquirem<br />

distinção própria e são sempre, outra vez, reconheci<strong>do</strong>s porque no enre<strong>do</strong>, ou seja,<br />

nos fatos que compõem as ações, são entreteci<strong>do</strong>s em unidade temporal a história<br />

<strong>do</strong> personagem e os elementos aleatórios, imprevisíveis, fortuitos que a ela aderem.<br />

Tem-se, então, conjuga<strong>do</strong>s no personagem a concordância da unicidade de uma<br />

vida singular que dá unidade à história narrada e a discordância <strong>do</strong>s eventos.<br />

A vida da pessoa, reunida e guardada na memória pode ser contada pelo<br />

personagem que constrói então sua identidade narrativa. Importante ressaltar que o<br />

personagem tem a iniciativa e o poder de determinar o começo e o fim <strong>do</strong>s<br />

acontecimentos relata<strong>do</strong>s refiguran<strong>do</strong>-os, diferentemente da pessoa, cuja vida é<br />

I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR<br />

II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção <strong>Paraná</strong> – SKB/PR<br />

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