Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná

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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 vez, se adapta a essa noção. Em outras palavras, isso significa dizer que o pupilo ―submete‖ seu poder ao do mestre. Com base nessa premissa, é viável atribuir uma consideração importante sobre o poder e suas relações. Podemos dizer que ele não visa excluir o indivíduo, muito pelo contrário, sua postura objetiva capturá-lo e, assim, cria-se um saber que vigora como um papel de verdade: trata-se do saber científico que se torna uma prática a dominar o indivíduo e normatizá-lo, ou seja, esse saber o controla e o disciplina e é aí que Foucault denomina a sociedade moderna como sociedade disciplinar. Através desta breve consideração sobre poder, cabe-nos cumprir a primeira parte da introdução desse trabalho: analisar a educação moderna enquanto ―domadora da alma e do corpo‖ e apontar os motivos que a levaram a determinada postura. O poder disciplinar nasce devido a mudanças na sociedade europeia. O poder que era atribuído diretamente à figura do soberano, passa a ser ―contido‖ numa instituição burocrática. No século XVII até o final do XVIII, a educação dava-se pelo suplício do corpo – evento esse que era apresentado publicamente, ou seja, o castigo era fornecido como espetáculo. O condenado era mutilado em público e assim, o perdão era extraído através da dor de modo que a morte não se dava de momento imediato. Na abertura de Vigiar e Punir: história da violência nas prisões, pode se ver um relato da Gazette d‟Admsterdam, que apresentado por Foucault, mostra em detalhes o suplício de Damiens, condenado em 1757. Essa forma de castigo era um modo de educar a população, mostrando-lhes o que poderia acontecer caso viessem a ir contra a vontade do soberano. No final do século XVIII, com a estruturação do capitalismo, aos poucos, o castigo através do corpo supliciado passa a perder a importância. Com o surgimento das indústrias, torna-se necessário o corpo saudável e em plenas condições para a produção em série. Dessa forma, há a necessidade de uma outra maneira de punição que deva considerar o novo modo econômico que vigora nesse período para quem rompe o pacto social: eis o surgimento da prisão. Essa instituição tem por I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página2

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 finalidade, capturar todos aqueles que são considerados inúteis a tal estrutura econômica e adaptá-los à mesma. Nesse âmbito, a disciplina dar-se-ia em lugares fechados, calculados a ponto de vigiar o corpo do infrator. Para o progresso desse método disciplinar, é necessário individualizar a pessoa e agir sobre seu interior, objetivando-o a uma ética capitalista e consequentemente sujeitando-o. Foucault observa em seus estudos que as atividades das prisões influenciaram diretamente as escolares. Os espaços fechados, calculados, com separação por fileiras, idade, por horários, têm por finalidade exercer um saber (verdade) sobre o aluno, a ponto de sujeitá-lo, moldando seu interior para torná-lo viável ao meio de produção. O indivíduo torna-se ao mesmo tempo, sujeito e objeto do poder. Por meio do desenvolvimento dessa pesquisa, pode-se observar que a educação/disciplina na modernidade são objetos do poder. Eis o sucesso de Foucault em não restringir o poder no âmbito dos aparelhos jurídicos, e sim considerá-lo como micro-poderes que funcionam de modo difuso. Também se notou que o jogo do poder – transferido do soberano ao estado – atuou de modo positivo ao transformar a perspectiva educacional que, a partir do final século XVIII, versa sobre uma tendência capitalista. Por tanto, o surgimento da prisão que ao invés de punir o corpo do condenado, disciplinava-o tornando-o apto às atividades desse novo sistema. Isso justifica o surgimento da escola – denominada pelo filósofo de governo do sequestro da infância – atua como uma maquinaria social que, por meio de atividades e de sua estrutura calculada, controla o corpo e o tempo dos indivíduos tornando-os úteis e dóceis, sujeitando-os a um saber científico. Além disso, essa análise permite provar o pretexto da educação moderna em separar o ―normal‖ e o ―anormal‖ afirmando o primeiro ser o normatizado pela disciplina e o segundo como o que foge desse enquadramento tornando-se causador da desordem social posteriormente. Essa estrutura social é comparada pelo pensador a exemplo do panopticon de Benthan, ―instituição‖ que vigia o corpo do indivíduo, regulando através de práticas corretivas. I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página3

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO<br />

I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059<br />

vez, se adapta a essa noção. Em outras palavras, isso significa dizer que o pupilo<br />

―submete‖ seu poder ao <strong>do</strong> mestre.<br />

Com base nessa premissa, é viável atribuir uma consideração importante sobre o<br />

poder e suas relações. Podemos dizer que ele não visa excluir o indivíduo, muito<br />

pelo contrário, sua postura objetiva capturá-lo e, assim, cria-se um saber que vigora<br />

como um papel de verdade: trata-se <strong>do</strong> saber científico que se torna uma prática a<br />

<strong>do</strong>minar o indivíduo e normatizá-lo, ou seja, esse saber o controla e o disciplina e é<br />

aí que Foucault denomina a sociedade moderna como sociedade disciplinar.<br />

Através desta breve consideração sobre poder, cabe-nos cumprir a primeira parte da<br />

introdução desse trabalho: analisar a educação moderna enquanto ―<strong>do</strong>ma<strong>do</strong>ra da<br />

alma e <strong>do</strong> corpo‖ e apontar os motivos que a levaram a determinada postura.<br />

O poder disciplinar nasce devi<strong>do</strong> a mudanças na sociedade europeia. O poder que<br />

era atribuí<strong>do</strong> diretamente à figura <strong>do</strong> soberano, passa a ser ―conti<strong>do</strong>‖ numa<br />

instituição burocrática.<br />

No século XVII até o final <strong>do</strong> XVIII, a educação dava-se pelo suplício <strong>do</strong> corpo –<br />

evento esse que era apresenta<strong>do</strong> publicamente, ou seja, o castigo era forneci<strong>do</strong><br />

como espetáculo. O condena<strong>do</strong> era mutila<strong>do</strong> em público e assim, o perdão era<br />

extraí<strong>do</strong> através da <strong>do</strong>r de mo<strong>do</strong> que a morte não se dava de momento imediato. Na<br />

abertura de Vigiar e Punir: história da violência nas prisões, pode se ver um relato da<br />

Gazette d‟Admsterdam, que apresenta<strong>do</strong> por Foucault, mostra em detalhes o<br />

suplício de Damiens, condena<strong>do</strong> em 1757.<br />

Essa forma de castigo era um mo<strong>do</strong> de educar a população, mostran<strong>do</strong>-lhes o que<br />

poderia acontecer caso viessem a ir contra a vontade <strong>do</strong> soberano.<br />

No final <strong>do</strong> século XVIII, com a estruturação <strong>do</strong> capitalismo, aos poucos, o castigo<br />

através <strong>do</strong> corpo suplicia<strong>do</strong> passa a perder a importância. Com o surgimento das<br />

indústrias, torna-se necessário o corpo saudável e em plenas condições para a<br />

produção em série. Dessa forma, há a necessidade de uma outra maneira de<br />

punição que deva considerar o novo mo<strong>do</strong> econômico que vigora nesse perío<strong>do</strong><br />

para quem rompe o pacto social: eis o surgimento da prisão. Essa instituição tem por<br />

I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR<br />

II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção <strong>Paraná</strong> – SKB/PR<br />

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