Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná

Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná

fappr.pr.gov.br
from fappr.pr.gov.br More from this publisher
19.04.2013 Views

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 A PÓS-HUMANIDADE NO CINEMA DE CRONENBERG Wyllian Eduardo de Souza Correa Universidade Estadual do Centro-Oeste Palavras-chave: Cinema; Filosofia Contemporânea; Pós-humanidade weduardo@gmail.com O cinema do canadense David Cronenberg é visceral. Isso tomando o termo em todos os seus sentidos. Nele encontramos a projeção da simbiose entre o humano e o maquínico em suas diferentes estratificações, seja na percepção da realidade e de si ou mesmo impresso no próprio corpo de seus personagens, principal elemento em cena, em obras marcadas pelo estranhamento, sexualidade e horror. O pós-humano resultante de suas tramas se torna interessante fonte de análise diante das inúmeras questões, em especial, da subjetivação homem-máquina. Por isso neste presente trabalho estabelece-se um diálogo entre a filosofia contemporânea e a subjetividade na produção de Cronenberg. ―No texto cronenberguiano a ênfase está na figuração do corpo como local de conflito psicossexual, social e político. Estamos diante de filmes em que não mais se dramatiza a dualidade corpo-mente, e sim uma realidade tricotômica de corpo, mente e maquina‖ (VIEIRA, 2003, p. 336). Como exemplo, em Videodrome (1983) uma frequência de televisão desenvolve uma nova região do cérebro, e o próprio corpo passa a se alimentar de máquinas, dando origem a uma ―nova carne‖. Um cientista passa por uma lenta e dolorosa transformação em A mosca (1986), após experiências com um aparelho de tele transporte. Em Crash (1996) a relação entre pessoas e carros ganha uma sexualidade perturbadora e destrutiva; eXistenZ (1998) mostra o corpo novamente alvo de implantes, que permitem aos seus usuários o acesso à realidade alternativa de um jogo, com o uso joysticks criados como animais e armas feitas de ossos. I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página1

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 Em suas fábulas contemporâneas, a problemática do desenvolvimento científico e tecnológico não ocorre em disputas externas, com robôs, armas laser e toda arquitetura e parafernália comum a ficção científica dos blockbusters hollywoodianos. O confronto se faz de maneira interna aos sujeitos, presos a situações bizarras e escatológicas, geralmente provocadas por suas mentes ou iniciadas em seus próprios corpos, que, para Cronenberg, não existem de maneiras distintas. ―Só existe um único elemento carnal. Estou consertando uma falha cartesiana.‖ (KAUFMAN, 2003) Uma ―nova carne‖ é então profetizada em meio a subjetivações dilaceradas pela mídia, biotecnologia e das configurações socioeconômicas. Scott Bukatman (1994), em seu estudo sobre o pensamento teórico e a ficção científica do final do século passado, destaca a existência de uma ―identidade terminal‖, que manifesta não só as ansiedades, mas também os anseios humanos diante das possibilidades maquínicas. O homem estaria escapando de si para um abismo indefinido ou um mundo de novas perspectivas. Como aponta Deleuze (1985 e 1990), o cinema propiciaria uma lógica diferenciada, sendo essencial para entender a forma e o sentido do imaginário pós-humano. Nietzsche já discutia sobre as possibilidades do Übermensch, um homem além da existência mediana da Modernidade, resgatado equivocadamente pelo ideal ariano do nazismo. Deleuze e Guattari com a sua filosofia do desejo apontam para a construção e o desenvolvimento de um corpo sem órgãos (CsO), conceito formado através da literatura de Artaud, como sendo uma prática que levaria além das estratificações impostas ao corpo. ―O CsO é o que resta quando tudo foi retirado. E o que se retira é justamente o fantasma, o conjunto de significâncias e subjetivações‖ (DELEUZE; GUATTARI, 1997, p.12). Com as novas tecnologias, os entusiastas observam que não só uma pós- humanidade seria possível, mas até mesmo destino certo. A nanotecnologia, por exemplo, é apontada como a chave para um futuro pós-humano. ―Poderíamos I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página2

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO<br />

I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059<br />

A PÓS-HUMANIDADE NO CINEMA DE CRONENBERG<br />

Wyllian Eduar<strong>do</strong> de Souza Correa<br />

Universidade Estadual <strong>do</strong> Centro-Oeste<br />

Palavras-chave: Cinema; Filosofia Contemporânea; Pós-humanidade<br />

weduar<strong>do</strong>@gmail.com<br />

O cinema <strong>do</strong> canadense David Cronenberg é visceral. Isso toman<strong>do</strong> o termo em<br />

to<strong>do</strong>s os seus senti<strong>do</strong>s. Nele encontramos a projeção da simbiose entre o humano e<br />

o maquínico em suas diferentes estratificações, seja na percepção da realidade e de<br />

si ou mesmo impresso no próprio corpo de seus personagens, principal elemento em<br />

cena, em obras marcadas pelo estranhamento, sexualidade e horror.<br />

O pós-humano resultante de suas tramas se torna interessante fonte de análise<br />

diante das inúmeras questões, em especial, da subjetivação homem-máquina. Por<br />

isso neste presente trabalho estabelece-se um diálogo entre a filosofia<br />

contemporânea e a subjetividade na produção de Cronenberg. ―No texto<br />

cronenberguiano a ênfase está na figuração <strong>do</strong> corpo como local de conflito<br />

psicossexual, social e político. Estamos diante de filmes em que não mais se<br />

dramatiza a dualidade corpo-mente, e sim uma realidade tricotômica de corpo,<br />

mente e maquina‖ (VIEIRA, 2003, p. 336).<br />

Como exemplo, em Videodrome (1983) uma frequência de televisão desenvolve<br />

uma nova região <strong>do</strong> cérebro, e o próprio corpo passa a se alimentar de máquinas,<br />

dan<strong>do</strong> origem a uma ―nova carne‖. Um cientista passa por uma lenta e <strong>do</strong>lorosa<br />

transformação em A mosca (1986), após experiências com um aparelho de tele<br />

transporte. Em Crash (1996) a relação entre pessoas e carros ganha uma<br />

sexualidade perturba<strong>do</strong>ra e destrutiva; eXistenZ (1998) mostra o corpo novamente<br />

alvo de implantes, que permitem aos seus usuários o acesso à realidade alternativa<br />

de um jogo, com o uso joysticks cria<strong>do</strong>s como animais e armas feitas de ossos.<br />

I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR<br />

II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção <strong>Paraná</strong> – SKB/PR<br />

Página1

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!