Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná

Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná

fappr.pr.gov.br
from fappr.pr.gov.br More from this publisher
19.04.2013 Views

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 A DISTINÇÃO ENTRE CORPO E ALMA EM DESCARTES Geder Paulo Friedrich Cominetti Orientador: César Augusto Battisti UNIOESTE – Campus Toledo gdr_2005@hotmail.com Palavras-chave: idéia clara e distinta; substância; atributo; distinção real; corpo e alma. Em Descartes, a expressão ―alma‖ é sinônima de substância pensante e a expressão ―corpo‖ é sinônima de substância extensa. A distinção entre ambas é chamada distinção real, uma vez que é efetuada entre duas substâncias. Uma substância é conhecida através de seu atributo essencial, que constitui a sua natureza. Os atributos, por sua vez, são percebidos pelos seus desdobramentos chamados modos. O que caracteriza uma substância enquanto tal é a diversidade de modos conservados a uma razão comum de diferentes atos. Através do entendimento, o sujeito acaba por se conscientizar duma identidade comum a diferentes atos, e é essa identidade que justifica o uso da palavra substância. Em Descartes, o pensamento se trata duma noção primitiva, isto é, pode ser percebido isoladamente de tudo o mais e não pressupõe qualquer outra noção, embora muitas outras o pressuponham. O pensamento é percebido como noção primitiva porque, ao redigir os pensamentos numa ordem das razões que justifica a existência de todas as coisas, corpo e alma não têm sua existência reconhecida simultaneamente. Quando se duvida exageradamente de tudo o que se acredita, como faz o procedimento da dúvida metódica cartesiana, a percepção reconhece o pensamento antes de conhecer o corpo. O reconhecimento da existência do sujeito, que arriscamos dizer ser o pólo mais importante em se tratando duma investigação I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página1

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 filosófica, se dá ao pensamento independentemente da existência dos corpos. Nenhuma das propriedades corporais, bem como nenhuma faculdade ligada ao corpo, influencia no enunciado ―penso, logo existo‖. Ao conhecer a capacidade do eu em subsistir sem o corpo, o ser pensante não revela a si próprio apenas sua existência, mas também sua natureza. Esta emerge da constatação de que o eu é um ser completo quando lhe é imputado apenas o pensamento. O eu pode ser concebido como uma substância porque concebemos, em decorrência a algumas de suas características, que ele poderia subsistir independente do corpo e é sujeito comum de diferentes atos. Ao conceber clara e distintamente que o eu pode subsistir sem o corpo, como sendo uma coisa completa, concebe-se também que a corporeidade não pertence à natureza do eu. Não se faz necessário que o conhecimento do eu seja completo, sendo suficiente conhecer aquelas características que o revelam como portador da capacidade de subsistir independentemente de outrem. O pensamento é a única condição, necessária e suficiente, para que se conheça sua própria existência, e tudo o que surgir ulteriormente a esta verdade não lhe será de caráter essencial. Estas afirmações implicam a exclusão das hipóteses de que a mente seria a forma do corpo ou de que ela faria parte dele, ou mesmo a hipótese de que a natureza do eu seja fundada na corporeidade. A teoria cartesiana esbarra de fronte à teoria aristotélica, pregada pela escolástica, onde Aristóteles concebia a alma como sendo uma forma do corpo. Descartes concebe a alma e o corpo como coisas distintas, não a mesma coisa em diferentes dimensões, e isso foi o que tornou seu argumento original e inovador para a história da filosofia. Em Descartes, a corporeidade, por sua vez, tem sua natureza constituída das essências descritas pela matemática e pela geometria: ela é extensão ou ―espacialidade‖. Para Descartes, embora o ser pensante não possa ser concebido matematicamente ou geometricamente, resguarda em si a capacidade de conceber os entes matemáticos e geométricos e de imaginar, enquanto pura interioridade, coisas corporais. Quanto à corporeidade, o eu pensante a concebe como tendo um atributo exclusivo, o da extensão. Concebe ainda, que o atributo da I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página2

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO<br />

I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059<br />

filosófica, se dá ao pensamento independentemente da existência <strong>do</strong>s corpos.<br />

Nenhuma das propriedades corporais, bem como nenhuma faculdade ligada ao<br />

corpo, influencia no enuncia<strong>do</strong> ―penso, logo existo‖. Ao conhecer a capacidade <strong>do</strong> eu<br />

em subsistir sem o corpo, o ser pensante não revela a si próprio apenas sua<br />

existência, mas também sua natureza. Esta emerge da constatação de que o eu é<br />

um ser completo quan<strong>do</strong> lhe é imputa<strong>do</strong> apenas o pensamento. O eu pode ser<br />

concebi<strong>do</strong> como uma substância porque concebemos, em decorrência a algumas de<br />

suas características, que ele poderia subsistir independente <strong>do</strong> corpo e é sujeito<br />

comum de diferentes atos. Ao conceber clara e distintamente que o eu pode<br />

subsistir sem o corpo, como sen<strong>do</strong> uma coisa completa, concebe-se também que a<br />

corporeidade não pertence à natureza <strong>do</strong> eu. Não se faz necessário que o<br />

conhecimento <strong>do</strong> eu seja completo, sen<strong>do</strong> suficiente conhecer aquelas<br />

características que o revelam como porta<strong>do</strong>r da capacidade de subsistir<br />

independentemente de outrem. O pensamento é a única condição, necessária e<br />

suficiente, para que se conheça sua própria existência, e tu<strong>do</strong> o que surgir<br />

ulteriormente a esta verdade não lhe será de caráter essencial. Estas afirmações<br />

implicam a exclusão das hipóteses de que a mente seria a forma <strong>do</strong> corpo ou de que<br />

ela faria parte dele, ou mesmo a hipótese de que a natureza <strong>do</strong> eu seja fundada na<br />

corporeidade. A teoria cartesiana esbarra de fronte à teoria aristotélica, pregada pela<br />

escolástica, onde Aristóteles concebia a alma como sen<strong>do</strong> uma forma <strong>do</strong> corpo.<br />

Descartes concebe a alma e o corpo como coisas distintas, não a mesma coisa em<br />

diferentes dimensões, e isso foi o que tornou seu argumento original e inova<strong>do</strong>r para<br />

a história da filosofia. Em Descartes, a corporeidade, por sua vez, tem sua natureza<br />

constituída das essências descritas pela matemática e pela geometria: ela é<br />

extensão ou ―espacialidade‖. Para Descartes, embora o ser pensante não possa ser<br />

concebi<strong>do</strong> matematicamente ou geometricamente, resguarda em si a capacidade de<br />

conceber os entes matemáticos e geométricos e de imaginar, enquanto pura<br />

interioridade, coisas corporais. Quanto à corporeidade, o eu pensante a concebe<br />

como ten<strong>do</strong> um atributo exclusivo, o da extensão. Concebe ainda, que o atributo da<br />

I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR<br />

II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção <strong>Paraná</strong> – SKB/PR<br />

Página2

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!