Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná

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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 reafirmação das relações sociais, considerando que somente gestos e palavras não abarcam a multiplicidade destas transmissões. A pluralidade destes valores, expressos pelos espaços funerários, está profundamente relacionada às diferentes maneiras encontradas para se lidar com a questão da morte. 1 Os rituais funerários, os cultos religiosos e as manifestações artísticas, em diferentes culturas, são múltiplos, aos quais são inerentes diversos sentidos assumidos pela expressão simbólica da morte, ou seja, respostas dadas, historicamente, à pergunta acerca do sentido da vida. Assim, a consciência da finitude que os seres humanos possuem torna a morte problemática para os vivos, para os quais o sentido do jogo existencial é elaborado e apresentado. Notamos que, segundo Bellomo, os rituais de morte são indicativos e/ou respostas da crise perante a morte, tendo em vista a consciência da finitude. 2 DaMatta refere-se aos cemitérios como o espaço que estabelece com a casa e com a rua elos complementares e terminais. O espaço da casa, privado, moral, conservador e cíclico, só faz sentido em oposição ao espaço exterior, ou seja, em contraposição ao universo da rua, público, marcado pela ideia do progresso, pela individualidade e pela linearidade. E o espaço dos mortos, mesclando a casa e a rua, é ―englobador de situações sociais‖ e, desta forma, mescla a lógica do espaço público e, também, do privado. 3 Nesse sentido, ―os túmulos têm também a função intencional de fazer lembrar do morto, da sua importância social e de suas crenças, além de permitir observar a pluralidade de representações simbólicas, muitas das quais dotadas de conteúdo estético.‖ 4 1 BELLOMO, H. R. (Org.). Cemitérios do Rio Grande do Sul: arte, sociedade, ideologia. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000, p. 122. 2 PIACESKI, T. R.; BELLOMO, H. R. Pesquisa cemiterial no Estado de Goiás. Porto Alegre: s.n., 2006, p. 16. 3 DAMATTA, R. A Casa & A Rua. Espaço, Cidadania, Mulher e Morte no Brasil. Rio de Janeiro: Rocco, 1997, p. 18. 4 BORGES, M. E. ; BIANCO, S. D. & SANTANA, M. M. Arte funerária no Brasil: possibilidades de interagir nos programas de ensino, de pesquisa e de extensão na universidade. Disponível em: http://www.corpos.org/anpap/2004/textos/chtca/MariaElizia.pdf ; acessado em 31/07/2006 ; p. 5. I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página2

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 Portanto, os cemitérios, pensados como ―lugares de memória‖ associados à vida, passam por um processo de simbolização, pois são nutridos de lembranças particulares e, ao mesmo tempo, coletivas e plurais. Com isso objetivamos a percepção de que as construções tumulares servem à expressão e/ou à transmissão dos valores culturais, bem como ao estabelecimento das relações sociais e, como espaço englobador de situações sociais, congrega as preocupações individuais às coletivas, o privado ao público. A memória dos mortos é mediada pela memória dos vivos, sendo que a individualização de cada túmulo é indicativa do desejo de continuidade existencial, fato expressado através das placas de casal e dos nomes de família, por exemplo. Através das representações sociais, são reunidos fragmentos de memória, aos quais atribui-se unidade e sentido e, assim, são estabelecidos os filtros de percepção. As tentativas de explicação da morte estão presentes nos espaços cemiteriais e influenciam diretamente o culto aos mortos, interagindo com os mecanismos de memória dos vivos, de modo a estabelecer sentido à finitude e resolver a problemática da morte, tão cara aos sobreviventes. De forma significativa, as expressões e as transmissões culturais, através dos valores e do conteúdo simbólico contido nos túmulos, servem ao estabelecimento e à reafirmação das relações sociais. ―O poder de entender símbolos, isto é, de considerar, acerca de um dado sensorial, tudo irrelevante exceto uma certa forma que ele incorpora, é o traço mental mais característico da humanidade.‖ 1 Portanto, concluímos como válida a possibilidade de leitura deste espaço enquanto uma teia de significações e abstrações, construída a partir de processos mentais seletivos, onde são correlacionados símbolos, coisas, conceitos, tessitura real da vida humana. 1 LANGER, Susanne K. Filosofia em nova chave. São Paulo: Perspectiva, 2004, p. 81. I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página3

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO<br />

I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059<br />

reafirmação das relações sociais, consideran<strong>do</strong> que somente gestos e palavras não<br />

abarcam a multiplicidade destas transmissões. A pluralidade destes valores,<br />

expressos pelos espaços funerários, está profundamente relacionada às diferentes<br />

maneiras encontradas para se lidar com a questão da morte. 1<br />

Os rituais funerários, os cultos religiosos e as manifestações artísticas, em diferentes<br />

culturas, são múltiplos, aos quais são inerentes diversos senti<strong>do</strong>s assumi<strong>do</strong>s pela<br />

expressão simbólica da morte, ou seja, respostas dadas, historicamente, à pergunta<br />

acerca <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> da vida. Assim, a consciência da finitude que os seres humanos<br />

possuem torna a morte problemática para os vivos, para os quais o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> jogo<br />

existencial é elabora<strong>do</strong> e apresenta<strong>do</strong>. Notamos que, segun<strong>do</strong> Bellomo, os rituais de<br />

morte são indicativos e/ou respostas da crise perante a morte, ten<strong>do</strong> em vista a<br />

consciência da finitude. 2<br />

DaMatta refere-se aos cemitérios como o espaço que estabelece com a casa e com<br />

a rua elos complementares e terminais. O espaço da casa, priva<strong>do</strong>, moral,<br />

conserva<strong>do</strong>r e cíclico, só faz senti<strong>do</strong> em oposição ao espaço exterior, ou seja, em<br />

contraposição ao universo da rua, público, marca<strong>do</strong> pela ideia <strong>do</strong> progresso, pela<br />

individualidade e pela linearidade. E o espaço <strong>do</strong>s mortos, mesclan<strong>do</strong> a casa e a<br />

rua, é ―engloba<strong>do</strong>r de situações sociais‖ e, desta forma, mescla a lógica <strong>do</strong> espaço<br />

público e, também, <strong>do</strong> priva<strong>do</strong>. 3 Nesse senti<strong>do</strong>, ―os túmulos têm também a função<br />

intencional de fazer lembrar <strong>do</strong> morto, da sua importância social e de suas crenças,<br />

além de permitir observar a pluralidade de representações simbólicas, muitas das<br />

quais <strong>do</strong>tadas de conteú<strong>do</strong> estético.‖ 4<br />

1 BELLOMO, H. R. (Org.). Cemitérios <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul: arte, sociedade, ideologia. Porto Alegre:<br />

EDIPUCRS, 2000, p. 122.<br />

2 PIACESKI, T. R.; BELLOMO, H. R. Pesquisa cemiterial no <strong>Esta<strong>do</strong></strong> de Goiás. Porto Alegre: s.n.,<br />

2006, p. 16.<br />

3 DAMATTA, R. A Casa & A Rua. Espaço, Cidadania, Mulher e Morte no Brasil. Rio de Janeiro:<br />

Rocco, 1997, p. 18.<br />

4 BORGES, M. E. ; BIANCO, S. D. & SANTANA, M. M. Arte funerária no Brasil: possibilidades de<br />

interagir nos programas de ensino, de pesquisa e de extensão na universidade. Disponível em:<br />

http://www.corpos.org/anpap/2004/textos/chtca/MariaElizia.pdf ; acessa<strong>do</strong> em 31/07/2006 ; p. 5.<br />

I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR<br />

II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção <strong>Paraná</strong> – SKB/PR<br />

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