Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná
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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 não pela moral, como queira Kant, que necessidade e liberdade voltam a travar diálogo. Segundo Schiller, o chamamento da beleza não é um capricho do poeta, insatisfeito com a frieza discursiva dos filósofos, mas sim um imperativo da natureza, uma exigência pontual. De intuição elevada, ele obedece à necessidade erigindo uma ponte que religa os impulsos constituintes da realidade, isto é, os estados pelos quais, na experiência, a pessoa humana passa. Semelhante a Rousseau, ele os chamou de estados da necessitação, dividindo-os em dois grupos: estado natural e estado moral. No primeiro, de natureza física, estão compreendidos todos os animais sensíveis regidos sob a ordem necessária dos afetos e das pulsões vitais. Já no segundo, metafísico, o que temos diz respeito ao grupo seleto dos homens, desses animais movidos por uma força que atravessa os limites da natureza conduzindo-os para o âmbito do possível, onde reina a liberdade. Logo, podemos ver que enquanto um abrange genericamente a realidade, outro já exclui a pura materialidade para dar vazão ao campo privilegiado do espírito, delineando um animal capaz de problematizar diante das afecções da sensibilidade e da vontade. O homem que Schiller e Kant buscam é idealizado, que visa a perfeição purificando as paixões, com a diferença que, no primeiro, essa purificação ocorre de forma objetiva e atuante, enquanto que no último se passa subjetivamente, em uma ação interiorizada segundo princípios racionais. Outra diferença é que Schiller não opõe o rigor formal às pulsões vitais, considerando aquele superior a este; ele os equipara chamando-os ambos de ―força‖, pois ―impulsos são as únicas forças motoras no mundo sensível‖. Não obstante, ele chega a um terceiro estado que alinharia esses dois: o estado lúdico, o único responsável pelo desenvolvimento da animalidade na cultura, pois resulta na junção da forma com a vida; na realização da forma viva. O estado lúdico oferecido pela beleza neutraliza-se das antinomias, oscilando em igual medida e a um só tempo entre os dois, modelando a natureza com o espírito e preenchendo o espírito de conteúdo sensível, multiplicando a forma por conta da pluralidade da matéria e objetivando a matéria por conta da forma. I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página3
ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 Schiller não elege a beleza como categoria, mas sim reconhece-a como sendo um impulso inevitável na ordem cósmica, através da qual o mundo físico toma sentido e se arranja nas suas disparidades. Logo, independe dos homens assumirem-na enquanto coroamento da existência; ela já se encontra encerrada na natureza, bastando um exercício apurado da intuição que consegue, poética e não psicologicamente alcançar a verdade por dentro do fenômeno e não acima dele. Esta comunicação tem por objetivo apresentar um Schiller ousado e criativo, autônomo em relação ao criticismo kantiano. Para não cair no erro de fundamentar uma filosofia onde a dureza da lei natural propele o homem ao determinismo físico ou a abertura da possibilidade lança-o numa zona abismal, Schiller notou que as relações sócio-políticas carecem de embelezamento, de ações regidas pela equipolência e pelo jogo dos contrários onde atividade livre e passividade necessária tentam encontrar um termo correlato. Entendendo beleza não só como produção artística, Schiller, tal como Nietzsche, rejeita o esteticismo excessivo dos artistas românticos, extraindo da vida aquilo que se oculta de nossa percepção contaminada pelo entendimento, isto é, as forças plasmadoras da realidade. O que faz é desvelar a secreta arte da natureza, exprimindo na forma dos jogos propostos pela imaginação criadora, dessa singular atividade humana, o contato contínuo e amistoso entre a legislação do mundo vivido e do mundo pensado que somente este animal de virtudes extraordinárias pode executar. BIBLIOGRAFIA: ABRÃO, Bernardete. História da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 2004, Os pensadores. BAYER, Raymond. História da estética. Trad. José Saramago. 4ª edição. Lisboa: Estampa, 1995. I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página4
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não pela moral, como queira Kant, que necessidade e liberdade voltam a travar<br />
diálogo.<br />
Segun<strong>do</strong> Schiller, o chamamento da beleza não é um capricho <strong>do</strong> poeta, insatisfeito<br />
com a frieza discursiva <strong>do</strong>s filósofos, mas sim um imperativo da natureza, uma<br />
exigência pontual. De intuição elevada, ele obedece à necessidade erigin<strong>do</strong> uma<br />
ponte que religa os impulsos constituintes da realidade, isto é, os esta<strong>do</strong>s pelos<br />
quais, na experiência, a pessoa humana passa. Semelhante a Rousseau, ele os<br />
chamou de esta<strong>do</strong>s da necessitação, dividin<strong>do</strong>-os em <strong>do</strong>is grupos: esta<strong>do</strong> natural e<br />
esta<strong>do</strong> moral. No primeiro, de natureza física, estão compreendi<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os<br />
animais sensíveis regi<strong>do</strong>s sob a ordem necessária <strong>do</strong>s afetos e das pulsões vitais.<br />
Já no segun<strong>do</strong>, metafísico, o que temos diz respeito ao grupo seleto <strong>do</strong>s homens,<br />
desses animais movi<strong>do</strong>s por uma força que atravessa os limites da natureza<br />
conduzin<strong>do</strong>-os para o âmbito <strong>do</strong> possível, onde reina a liberdade. Logo, podemos<br />
ver que enquanto um abrange genericamente a realidade, outro já exclui a pura<br />
materialidade para dar vazão ao campo privilegia<strong>do</strong> <strong>do</strong> espírito, delinean<strong>do</strong> um<br />
animal capaz de problematizar diante das afecções da sensibilidade e da vontade.<br />
O homem que Schiller e Kant buscam é idealiza<strong>do</strong>, que visa a perfeição purifican<strong>do</strong><br />
as paixões, com a diferença que, no primeiro, essa purificação ocorre de forma<br />
objetiva e atuante, enquanto que no último se passa subjetivamente, em uma ação<br />
interiorizada segun<strong>do</strong> princípios racionais. Outra diferença é que Schiller não opõe o<br />
rigor formal às pulsões vitais, consideran<strong>do</strong> aquele superior a este; ele os equipara<br />
chaman<strong>do</strong>-os ambos de ―força‖, pois ―impulsos são as únicas forças motoras no<br />
mun<strong>do</strong> sensível‖. Não obstante, ele chega a um terceiro esta<strong>do</strong> que alinharia esses<br />
<strong>do</strong>is: o esta<strong>do</strong> lúdico, o único responsável pelo desenvolvimento da animalidade na<br />
cultura, pois resulta na junção da forma com a vida; na realização da forma viva. O<br />
esta<strong>do</strong> lúdico ofereci<strong>do</strong> pela beleza neutraliza-se das antinomias, oscilan<strong>do</strong> em igual<br />
medida e a um só tempo entre os <strong>do</strong>is, modelan<strong>do</strong> a natureza com o espírito e<br />
preenchen<strong>do</strong> o espírito de conteú<strong>do</strong> sensível, multiplican<strong>do</strong> a forma por conta da<br />
pluralidade da matéria e objetivan<strong>do</strong> a matéria por conta da forma.<br />
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