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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 SCHILLER E O IMPULSO ESTÉTICO Filipi Silva de Oliveira Universidade Estadual do Rio de Janeiro Orientadora: Prof.Dra. Maria Helena Lisboa da Cunha Palavras-chave: Natureza; Espírito; Beleza; Jogo; Imaginação Kant deixou rastros com sua passagem. O vulto de sua obra se estendeu largamente nos círculos acadêmicos. Fora ovacionado por uma geração de pensadores e de artistas impressionados com o gigantismo de suas ideias. Seu conterrâneo Schiller, poeta, filósofo e orador se acha entre um deles. O contágio da filosofia crítica kantiana se fazia inevitável, uma vez que o seu arcabouço conceitual implementa junto com a revolução francesa uma nova aurora no humanismo do mundo moderno encarnada pelo espírito do Aufklärung. È nítida a presença da sombra de Kant por detrás da estética schilleriana, mas esse filósofo, à maneira daqueles que formaram o disperso grupo dos pós-kantianos, soube interpretar o legado crítico deixado pelo gênio de Konnigsberg, sem, no entanto, reproduzir e cultuar o seu verbo. Em Schiller, é notável o zelo por não deixar o kantismo sucumbir a possibilidade de uma nova proposta crítica; e é o que ele faz. Em sua obra tardia Cartas sobre a educação estética do homem, quando já se encontrava debilitado pela tuberculose, Schiller procura traçar um ideal de homem impensado por seu mestre. Atento à dialética elementar da filosofia kantiana formada pela paridade natureza-espírito/sensibilidade-razão, Schiller dá largada em um concurso que descarta de maneira decisiva o duelo entre a coisa em si e o fenômeno. Ele tenta solucionar o problema de modo diverso do de Kant, pois enquanto este via na moral e na razão teórica um modo de libertar o homem da violência das inclinações, I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página1

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 Schiller prefere trazer à cena a necessidade de unir na práxis a realidade material com a verdade formal através de uma unidade aglutinadora: a beleza ideal ou Kalias. Encantado com a possibilidade de instaurar aquilo que Nietzsche depois chamaria de ―metafísica de artista‖, Schiller revela seu pendor: ―resisto a essa amável tentação deixando que a beleza preceda liberdade‖. Opondo-se ao racionalismo, ele concilia o que, desde a modernidade, passou a se manter apartado por conta dos arrivismos intelectuais das escolas. Schiller percebeu, ao comparar a cultura grega pré-platônica à moderna cartesiana, haver ocorrido uma fissura implacável em nossos costumes: desaprendemos a intuir, uma vez que a tendência separatista do entendimento tomara posse do conhecimento. Assim, o homem perdeu sua virtude lúdica, em troca da disputa vaidosa entre razão e sensibilidade. Logo, o esforço do poeta-filósofo é, insurgir-se contra o domínio da razão por parte dos filósofos e o da sensibilidade por parte do senso-comum, fornecendo uma salvação que extrapola a esfera psicológica e atravessa os componentes nocionais do kantismo (sujeito e objeto) para estender às relações de poder, isto é, à organização política das forças. Mas para isso seria necessário que algo fora da natureza e do espírito tomasse a frente e dirigisse essa nova eticidade humana, diferente daquela embasada numa moral subjetiva. É na beleza que Schiller vê a oportunidade de mergulhar novamente o homem na natureza, reeducando-o em sua convivialidade no meio de onde deriva; por meio não de imperativos categóricos, mas sim do jogo entre a vida e a forma, em que não pesa nenhum dos lados, havendo com isso um essencial acordo entre o infinitamente limitado (fenômeno) e o infinitamente ilimitado (coisa-em-si). Seja como for, ele propõe as núpcias entre aquilo que havia se perdido com o excesso científico e com a brutalidade e o prosaísmo dos tempos modernos; a beleza – o imperativo estético que Schiller substitui em lugar da racionalidade do ―tu deves‖ kantiano - há que desempenhar papel primacial, pois é ela quem apara as arestas que ficam à vista por ocasião do encontro entre esses domínios distintos. Ou seja, é pela estética e I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página2

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO<br />

I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059<br />

Schiller prefere trazer à cena a necessidade de unir na práxis a realidade material<br />

com a verdade formal através de uma unidade aglutina<strong>do</strong>ra: a beleza ideal ou<br />

Kalias.<br />

Encanta<strong>do</strong> com a possibilidade de instaurar aquilo que Nietzsche depois chamaria<br />

de ―metafísica de artista‖, Schiller revela seu pen<strong>do</strong>r: ―resisto a essa amável<br />

tentação deixan<strong>do</strong> que a beleza preceda liberdade‖. Opon<strong>do</strong>-se ao racionalismo, ele<br />

concilia o que, desde a modernidade, passou a se manter aparta<strong>do</strong> por conta <strong>do</strong>s<br />

arrivismos intelectuais das escolas. Schiller percebeu, ao comparar a cultura grega<br />

pré-platônica à moderna cartesiana, haver ocorri<strong>do</strong> uma fissura implacável em<br />

nossos costumes: desaprendemos a intuir, uma vez que a tendência separatista <strong>do</strong><br />

entendimento tomara posse <strong>do</strong> conhecimento.<br />

Assim, o homem perdeu sua virtude lúdica, em troca da disputa vai<strong>do</strong>sa entre razão<br />

e sensibilidade. Logo, o esforço <strong>do</strong> poeta-filósofo é, insurgir-se contra o <strong>do</strong>mínio da<br />

razão por parte <strong>do</strong>s filósofos e o da sensibilidade por parte <strong>do</strong> senso-comum,<br />

fornecen<strong>do</strong> uma salvação que extrapola a esfera psicológica e atravessa os<br />

componentes nocionais <strong>do</strong> kantismo (sujeito e objeto) para estender às relações de<br />

poder, isto é, à organização política das forças. Mas para isso seria necessário que<br />

algo fora da natureza e <strong>do</strong> espírito tomasse a frente e dirigisse essa nova eticidade<br />

humana, diferente daquela embasada numa moral subjetiva. É na beleza que<br />

Schiller vê a oportunidade de mergulhar novamente o homem na natureza,<br />

reeducan<strong>do</strong>-o em sua convivialidade no meio de onde deriva; por meio não de<br />

imperativos categóricos, mas sim <strong>do</strong> jogo entre a vida e a forma, em que não pesa<br />

nenhum <strong>do</strong>s la<strong>do</strong>s, haven<strong>do</strong> com isso um essencial acor<strong>do</strong> entre o infinitamente<br />

limita<strong>do</strong> (fenômeno) e o infinitamente ilimita<strong>do</strong> (coisa-em-si). Seja como for, ele<br />

propõe as núpcias entre aquilo que havia se perdi<strong>do</strong> com o excesso científico e com<br />

a brutalidade e o prosaísmo <strong>do</strong>s tempos modernos; a beleza – o imperativo estético<br />

que Schiller substitui em lugar da racionalidade <strong>do</strong> ―tu deves‖ kantiano - há que<br />

desempenhar papel primacial, pois é ela quem apara as arestas que ficam à vista<br />

por ocasião <strong>do</strong> encontro entre esses <strong>do</strong>mínios distintos. Ou seja, é pela estética e<br />

I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR<br />

II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção <strong>Paraná</strong> – SKB/PR<br />

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