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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 A RELAÇÃO DE FOUCAULT E KANT: AUFKLÄRUNG E ATITUDE CRÍTICA Palavras-Chave: Foucault, Kant, Aufklärung, Sujeito, Diagnóstico. Pós-Graduando: Marcelo da Rocha Instituição: PUC – PR Email: marrochap@yahoo.com.br Os estudos das aproximações entre os pensamentos de Foucault e Kant tem sido abordados por diversos pesquisadores de filosofia, a linha de pesquisa, embora, os diversos trabalhos, mantém ainda um campo amplo para desenvolver-se e para fomentar o debate filosófico. Este trabalho pauta-se sobre dois objetivos básicos: primeiro analisar os fundamentos da crítica foucaultiana a partir da Aufklärung e em segundo momento identificar a radicalização dos conceitos de Razão Pública e Privada no pensamento de Foucault. Para efetivar este estudo, partirei da análise e leitura do texto de 1984, O que são as Luzes? Foucault faz uma análise do texto kantiano de 1784 intitulado, Was ist Aufklärung? Foucault inicia o texto fazendo algumas considerações sobre o escrito kantiano, uma primeira observação feita pelo filosofo francês é o fato deste texto fazer uma análise do presente, aponta ainda que para Kant a saída do estado de minoridade (Auder Saper) está relacionada a um estado de vontade do sujeito e, portanto a busca da autonomia. Para Foucault a Aufklärung ainda é definida pela relação preexistente entre a vontade, autoridade e o uso da razão. Salienta o pensador francês que Kant apresenta essa saída de maneira bastante ambígua, em um dado momento esse processo está em desenvolvimento, em outro momento o mesmo processo se apresenta como uma tarefa, como uma obrigação, o que de certa forma caracteriza a Aufklärung como um processo coletivo e ao mesmo tempo um processo de ação pessoal do sujeito. Foucault já havia explorado a questão da Aufklärung em uma conferência de 1978 publicada no boletim da sociedade francesa de filosofia, chamada O que é a Crítica? I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página1

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 Foucault faz uma aproximação entre a Aufklärung e a crítica, está entendida neste texto como uma atitude muito semelhante à Aufklärung pensada por Kant no século XVIII. Porém a Aufklärung kantiana faz uma crítica que conduz aos limites conhecimento e como o homem utiliza esse conhecimento para administrar sua vida e pensamento de uma maneira autônoma, dispensando seus tutores assumindo sua própria tutela, isto é, ser capaz de autogovernar-se diante de uma sociedade heterônoma. É esse aspecto que Kant denomina como razão pública. Sob o prisma da razão privada, o sujeito tem o dever de cumprir com suas obrigações perante as instituições e a sociedade, culminando assim em um agir pautado pelo dever isentando-se do ato crítico para submeter-se a um conjunto de normas sociais. A crítica pensada por Foucault é uma análise da constituição de subjetividades, seja esta moderna, sob a forma sujeito, que é pensado a partir de determinados aspectos científicos, ou contemporâneos, sob alguma outra configuração de relação do saber e de poder. Retornando ao texto de 1984, Foucault afirma que a Aufklärung é um momento oportuno para o desenvolvimento da crítica, segundo ele a crítica é, de qualquer maneira, o livro de bordo da razão tornada maior na Aufklärung, e inversamente, a Aufklärung é a era da crítica. Para Foucault esta crítica acontecerá como anunciada no texto de 1978 a partir e sobre as relações de saber e de poder, como uma atitude de não ser governado. No texto de 1984 essa investigação configura-se como uma atitude crítica que se estenderá para a relação do sujeito consigo mesmo, ou seja, uma atitude crítica de si. Pode-se afirmar que Foucault fundamenta a crítica do sujeito moderno na concepção kantiana de Aufklärung transformando-a em uma crítica não somente da razão sobre aquilo que ela é capaz de conhecer ou no dever que ela pode fundamentar no uso público e privado da razão, mas sim na investigação da ação racional do sujeito sobre o outro, sobre o saber e principalmente sobre si mesmo. Portanto, Foucault radicaliza o pensamento kantiano fazendo uma análise do sujeito na sua relação não somente com o poder e o saber, mas também na relação consigo mesmo, analisando os mecanismos de subjetivação que o sujeito produz sobre o próprio corpo e de certa forma na maneira I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página2

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO<br />

I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059<br />

Foucault faz uma aproximação entre a Aufklärung e a crítica, está entendida neste<br />

texto como uma atitude muito semelhante à Aufklärung pensada por Kant no século<br />

XVIII. Porém a Aufklärung kantiana faz uma crítica que conduz aos limites<br />

conhecimento e como o homem utiliza esse conhecimento para administrar sua vida<br />

e pensamento de uma maneira autônoma, dispensan<strong>do</strong> seus tutores assumin<strong>do</strong> sua<br />

própria tutela, isto é, ser capaz de autogovernar-se diante de uma sociedade<br />

heterônoma. É esse aspecto que Kant denomina como razão pública. Sob o prisma<br />

da razão privada, o sujeito tem o dever de cumprir com suas obrigações perante as<br />

instituições e a sociedade, culminan<strong>do</strong> assim em um agir pauta<strong>do</strong> pelo dever<br />

isentan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> ato crítico para submeter-se a um conjunto de normas sociais. A<br />

crítica pensada por Foucault é uma análise da constituição de subjetividades, seja<br />

esta moderna, sob a forma sujeito, que é pensa<strong>do</strong> a partir de determina<strong>do</strong>s aspectos<br />

científicos, ou contemporâneos, sob alguma outra configuração de relação <strong>do</strong> saber<br />

e de poder. Retornan<strong>do</strong> ao texto de 1984, Foucault afirma que a Aufklärung é um<br />

momento oportuno para o desenvolvimento da crítica, segun<strong>do</strong> ele a crítica é, de<br />

qualquer maneira, o livro de bor<strong>do</strong> da razão tornada maior na Aufklärung, e<br />

inversamente, a Aufklärung é a era da crítica. Para Foucault esta crítica acontecerá<br />

como anunciada no texto de 1978 a partir e sobre as relações de saber e de poder,<br />

como uma atitude de não ser governa<strong>do</strong>. No texto de 1984 essa investigação<br />

configura-se como uma atitude crítica que se estenderá para a relação <strong>do</strong> sujeito<br />

consigo mesmo, ou seja, uma atitude crítica de si. Pode-se afirmar que Foucault<br />

fundamenta a crítica <strong>do</strong> sujeito moderno na concepção kantiana de Aufklärung<br />

transforman<strong>do</strong>-a em uma crítica não somente da razão sobre aquilo que ela é capaz<br />

de conhecer ou no dever que ela pode fundamentar no uso público e priva<strong>do</strong> da<br />

razão, mas sim na investigação da ação racional <strong>do</strong> sujeito sobre o outro, sobre o<br />

saber e principalmente sobre si mesmo. Portanto, Foucault radicaliza o pensamento<br />

kantiano fazen<strong>do</strong> uma análise <strong>do</strong> sujeito na sua relação não somente com o poder e<br />

o saber, mas também na relação consigo mesmo, analisan<strong>do</strong> os mecanismos de<br />

subjetivação que o sujeito produz sobre o próprio corpo e de certa forma na maneira<br />

I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR<br />

II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção <strong>Paraná</strong> – SKB/PR<br />

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