Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná
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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 mergulhado na sociedade de tal modo, logo se é arrastado novamente ao conjunto. Cria-se uma resistência a essa resistência, e é nela que o homem busca dar razões a si mesmo para se manter no curso da sociedade. Todavia, esses hábitos são diretos, mesmo quando se trata do amor aos pais e a pátria. O que Bergson crítica em tais hábitos é que eles dizem estar sobre a rubrica do amor à humanidade, e o fim do dever é para com ela. Todavia tais deveres encontram-se em suspenso, já que tais hábitos representam escolhas, e portanto exclusões. Há, entretanto, uma moral que é indireta e acolhe esse amor à humanidade. O humano não é o social, ultrapassa-o de tal modo que ele só se manifesta por personalidades as quais incorporam essa moral: foram os santos, os sábios. Basta apenas a sua existência e nela se arrastam multidões. Como se consegue tal força? É suficiente que haja mais na alegria do entusiasmo que no prazer do bem-estar. E o que configura essa outra forma de moral, a moral aberta, é que ela não se fecha em si mesma, mas é abertura. Isso não quer dizer que há uma ruptura com a moral antiga, pois esta envolve a moral fechada e a coloca no curso de um progresso que abrange de forma mais geral a humanidade, ou seja, rompe-se com certa natureza, mas não com a natureza, como, usando uma expressão de Espinosa, Bergson diz que é para voltar- se à natureza naturante que se sai da natureza naturada. Neste sentido, há para o homem uma primeira moral, a moral fechada, que o caracteriza em um conjunto de hábitos, que para Bergson, correspondem simetricamente aos instintos nos animais, e por isso, é menos que a inteligência, própria do homem. E há uma segunda, a moral aberta, que ultrapassa sempre uma multiplicidade que é incapaz de lhe equivaler, esta é, portanto, mais que a inteligência. Entre as duas há a própria inteligência. E, segundo Bergson, é por tentarem fundamentar a moral na inteligência, que para ele equivale à razão, e, portanto, algo típico das teorias do dever, é que a filosofia quase nada conquistou no sentido de explicar como uma moral pode ter tanta influência sobre os homens. Tais dificuldades se acentuam sobre a representação por conceitos, os quais são mistos que reúnem em si o que é causa de pressão e o objeto de aspiração, portanto, neles não se apreendem nem a I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página2
ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 pura obrigação, nem a pura aspiração. O problema do misto se torna fundamental porque é justamente por não o perceberem que os filósofos só viram diferenças de grau ali onde há diferença de natureza, sendo que é nesta natureza que se encontra a origem da moral. Entretanto, Bergson não nega que são esses conceitos que exercem ação sobre os homens. As duas forças estão presentes, mas jamais o homem se refere diretamente a elas toda vez que busca tomar uma decisão, pois na verdade nunca se apreende cada força no seu estado puro: a aspiração pura é um limite ideal, como a obrigação nua, mas na prática as duas permanecem confundidas. O racional não é incoerente, pelo contrário, é nele que o homem encontra coerência quando necessita saber o que fazer em cada caso particular. Isso significa dizer que todas as atividades morais na sociedade são racionais, pois no plano intelectual as exigências morais interpretam-se sob conceitos, onde cada um é representativo de todos. Destarte, há duas forças, instinto e inteligência que são formas da vida se manifestar, e a obrigação como hábito não tem diferença de natureza com o instinto; são nessas duas fontes que se formulam os conceitos morais, que são justamente, mistos. Duas coisas se podem concluir: primeiramente que não uma há necessidade primordial de fundamentar uma moral na razão. A ação moral é racional, mas não resulta daí que a razão seja sua origem. O que há de propriamente obrigatório na obrigação não vem da inteligência. Ela só explica da obrigação o que se encontra dela na hesitação. A obrigação real é anterior às formas de obrigação do dever, pois a obrigação é uma necessidade da vida, e o que a razão vier a estabelecer sobre ela já assumirá o caráter obrigatório, eis o porquê Bergson considera as morais intelectualistas inúteis e inoperantes quando buscam um fundamento para a obrigação moral. Em segundo lugar, por trás da razão, há homens que tornam a humanidade divina. Onde, como diz Bergson, a humanidade é convidada a colocar-se num nível determinado, mais elevado que uma sociedade animal, em que a obrigação não seria mais que a força do instinto, porém menos elevada que uma assembleia de deuses, onde tudo é impulso criador. Por haver I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página3
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pura obrigação, nem a pura aspiração. O problema <strong>do</strong> misto se torna fundamental<br />
porque é justamente por não o perceberem que os filósofos só viram diferenças de<br />
grau ali onde há diferença de natureza, sen<strong>do</strong> que é nesta natureza que se encontra<br />
a origem da moral. Entretanto, Bergson não nega que são esses conceitos que<br />
exercem ação sobre os homens. As duas forças estão presentes, mas jamais o<br />
homem se refere diretamente a elas toda vez que busca tomar uma decisão, pois na<br />
verdade nunca se apreende cada força no seu esta<strong>do</strong> puro: a aspiração pura é um<br />
limite ideal, como a obrigação nua, mas na prática as duas permanecem<br />
confundidas. O racional não é incoerente, pelo contrário, é nele que o homem<br />
encontra coerência quan<strong>do</strong> necessita saber o que fazer em cada caso particular.<br />
Isso significa dizer que todas as atividades morais na sociedade são racionais, pois<br />
no plano intelectual as exigências morais interpretam-se sob conceitos, onde cada<br />
um é representativo de to<strong>do</strong>s. Destarte, há duas forças, instinto e inteligência que<br />
são formas da vida se manifestar, e a obrigação como hábito não tem diferença de<br />
natureza com o instinto; são nessas duas fontes que se formulam os conceitos<br />
morais, que são justamente, mistos. Duas coisas se podem concluir: primeiramente<br />
que não uma há necessidade primordial de fundamentar uma moral na razão. A<br />
ação moral é racional, mas não resulta daí que a razão seja sua origem. O que há<br />
de propriamente obrigatório na obrigação não vem da inteligência. Ela só explica da<br />
obrigação o que se encontra dela na hesitação. A obrigação real é anterior às<br />
formas de obrigação <strong>do</strong> dever, pois a obrigação é uma necessidade da vida, e o que<br />
a razão vier a estabelecer sobre ela já assumirá o caráter obrigatório, eis o porquê<br />
Bergson considera as morais intelectualistas inúteis e inoperantes quan<strong>do</strong> buscam<br />
um fundamento para a obrigação moral. Em segun<strong>do</strong> lugar, por trás da razão, há<br />
homens que tornam a humanidade divina. Onde, como diz Bergson, a humanidade é<br />
convidada a colocar-se num nível determina<strong>do</strong>, mais eleva<strong>do</strong> que uma sociedade<br />
animal, em que a obrigação não seria mais que a força <strong>do</strong> instinto, porém menos<br />
elevada que uma assembleia de deuses, onde tu<strong>do</strong> é impulso cria<strong>do</strong>r. Por haver<br />
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