Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná

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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 Augusto Comte torna-se um grande expoente do pensamento francês, com a publicação de sua principal obra, Cours de Philosophie Positive (Curso da Filosofia Positiva). Nesta obra nos é perceptível que "a filosofia é reduzida a metodologia e sistematização das ciências" (PADOVANI, CASTAGNOLA; 1978, p. 430). Dentro deste esquema, ou melhor, deste curso de evolução da humanidade, Comte nos apresenta três estados evolutivos necessários para alcançar o progresso. O primeiro estágio, chamado estado teológico, apresenta-se como aquele em que o método para explicação dos fenômenos consiste na busca das causas primeiras e finais, ou seja, na busca de um conhecimento absoluto, cuja explicação fundava-se, em última análise, na ação direta, contínua e arbitrária de "agentes sobrenaturais" (COMTE, 1978, p. 4). O segundo estágio configura-se pelo estado metafísico, no qual os homens passam a explicar o mundo e os fenômenos naturais, por meio do recurso de conceitos abstratos e não verificáveis, transcendentais em sua essência. Esses conceitos abstratos do estado metafísico, conforme Comte, acabam substituindo os "agentes sobrenaturais" do estado teológico e, todos os fenômenos observados passam a ser explicados pela relação que possuem com cada entidade abstrata correspondente. Este processo de transformação é possível graças ao contínuo avanço das ciências, em especial das ciências naturais; que gradativamente eliminariam os mitos e deuses, trazendo o homem para o domínio de sua existência. O terceiro estágio é denominado estado positivo. Afirma Comte ser esse o último estágio da razão humana, aquele em que ela alcança a sua "virilidade". A principal característica do terceiro estado é que nele "o espírito humano reconhecendo a impossibilidade de obter noções absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino do universo, a conhecer as causas íntimas dos fenômenos, para preocupar-se unicamente em descobrir, graças ao uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas leis efetivas, a saber, suas relações invariáveis de sucessão e de similitude." (COMTE, 1978, p.132.) I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página2

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 Para o conhecimento positivo, que representa o conhecimento científico, o estabelecimento de relações de causa e efeito constitui o seu núcleo, independentemente da área do conhecimento em questão. Aliás, Auguste Comte propôs também uma hierarquização das ciências, de forma que as ciências consideradas exatas seriam as mais simples e as ciências sociais as mais elevadas. A sociologia seria a ciência mais elevada de todas, mas assumiria a forma de uma "física social" (physique sociale) (COMTE, 1978, p. 9). Além disso, foi Auguste Comte quem fundamentou como imprescindível a determinação rigorosa de objeto e método para a configuração de um determinado campo do saber como "conhecimento científico" e portanto, integrante das ciências positivas. Assim, além de alcançar o estado maxímo do saber humano a sociedade também iria encontrar a perfeita realização social de seus integrantes. Com um discurso evolucionista e dispondo de um final préviamente definido - o estado positivo, onde além de encontrar o pleno avanço das ciências, encontraria-se a plena realização da sociedade - percebe-se o quão útil fora para a elite política nacional, utilizar-se destes conceitos para induzir o sentido de progresso no imaginário coletivo brasileiro. Cabe salientar, que segundo os intelectuais brasileiros dos anos 30, grande parcela considerava de extrema necessidade o avanço tecnológico do país. É utilizando-se desta necessidade de avanço e deste imaginário de progresso já existente na sociedade brasileira, desde a sua formação como república, que Getúlio Vargas reapropia-se do conceito positivista, tornando-se ele mesmo o porta-voz deste avanço. Tal utilização é evidente em seus discursos, sempre apresentando os seguintes termos e conceitos: "Anima-me a certeza de que tôda esta multidão [...] é capaz de erguer comigo os alicerces da construção do Brasil Novo, que jurámos empreender.[...] Educar não é, somente, instruir, mas desenvolver a moralidade e o caráter [...] ensinado-lhe as artes necessárias para a mais alta das virtudes: o conhecimento de suas forças". I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página3

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO<br />

I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059<br />

Augusto Comte torna-se um grande expoente <strong>do</strong> pensamento francês, com a<br />

publicação de sua principal obra, Cours de Philosophie Positive (Curso da Filosofia<br />

Positiva). Nesta obra nos é perceptível que "a filosofia é reduzida a meto<strong>do</strong>logia e<br />

sistematização das ciências" (PADOVANI, CASTAGNOLA; 1978, p. 430). Dentro<br />

deste esquema, ou melhor, deste curso de evolução da humanidade, Comte nos<br />

apresenta três esta<strong>do</strong>s evolutivos necessários para alcançar o progresso.<br />

O primeiro estágio, chama<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> teológico, apresenta-se como aquele em que o<br />

méto<strong>do</strong> para explicação <strong>do</strong>s fenômenos consiste na busca das causas primeiras e<br />

finais, ou seja, na busca de um conhecimento absoluto, cuja explicação fundava-se,<br />

em última análise, na ação direta, contínua e arbitrária de "agentes sobrenaturais"<br />

(COMTE, 1978, p. 4).<br />

O segun<strong>do</strong> estágio configura-se pelo esta<strong>do</strong> metafísico, no qual os homens passam<br />

a explicar o mun<strong>do</strong> e os fenômenos naturais, por meio <strong>do</strong> recurso de conceitos<br />

abstratos e não verificáveis, transcendentais em sua essência. Esses conceitos<br />

abstratos <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> metafísico, conforme Comte, acabam substituin<strong>do</strong> os "agentes<br />

sobrenaturais" <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> teológico e, to<strong>do</strong>s os fenômenos observa<strong>do</strong>s passam a ser<br />

explica<strong>do</strong>s pela relação que possuem com cada entidade abstrata correspondente.<br />

Este processo de transformação é possível graças ao contínuo avanço das<br />

ciências, em especial das ciências naturais; que gradativamente eliminariam os<br />

mitos e deuses, trazen<strong>do</strong> o homem para o <strong>do</strong>mínio de sua existência.<br />

O terceiro estágio é denomina<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> positivo. Afirma Comte ser esse o último<br />

estágio da razão humana, aquele em que ela alcança a sua "virilidade". A principal<br />

característica <strong>do</strong> terceiro esta<strong>do</strong> é que nele "o espírito humano reconhecen<strong>do</strong> a<br />

impossibilidade de obter noções absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino<br />

<strong>do</strong> universo, a conhecer as causas íntimas <strong>do</strong>s fenômenos, para preocupar-se<br />

unicamente em descobrir, graças ao uso bem combina<strong>do</strong> <strong>do</strong> raciocínio e da<br />

observação, suas leis efetivas, a saber, suas relações invariáveis de sucessão e de<br />

similitude." (COMTE, 1978, p.132.)<br />

I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR<br />

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