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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 por Platão consiste na anámnesis ou lembrança, a tarefa do individuo é partir das coisas, para reconhecer nelas um ser que não se possui, mas que lhe provoque uma lembrança ou reminiscência das ideias antes contempladas pela alma. Conhecimento, portanto é lembrança. Estamos diante de um diálogo que apresenta dois aspectos importantes. Se por um lado o diálogo Mênon liga-se aos chamados diálogos socráticos, por outro lado, faz parte dos diálogos que encabeçam a transição para a fase posterior denominada fase de maturidade. A obra em questão inicia-se com a pergunta de Mênon ―a virtude é coisa que se ensina?‖ 1 a partir daí Sócrates reformula a questão específica, para uma tentativa de definir a virtude. Usando sua ironia como método maiêutico, Sócrates alega nada saber a respeito da virtude, detendo-se apenas nesse princípio. Um dos métodos que Sócrates utiliza para investigar um conceito, consiste primeiramente em instigar o interlocutor à apresentar a definição conceitual ora apresentada. Dessa forma, cabe a Mênon a tarefa da primeira tentativa de definir o que é virtude. O primeiro argumento utilizado por Mênon consiste na enumeração das virtudes ―ser capaz de gerir as coisas da cidade, e no exercício dessa gestão fazer bem aos amigos e mal aos inimigos (...) a virtude da mulher não é difícil explicar que é preciso a ela cuidar da casa‖ 2 . Partindo da posição de Mênon, a crítica socrática entra em cena com intuito de contrapor tal definição, apresentando, por sua vez, seu primeiro argumento, ou seja, há uma unidade de virtudes para todos, unidade essa que deve dar conta da multiplicidade ―embora sejam muitas e assumam toda variedade de formas, tem todas um caráter único‖ 3 .Note-se, porém, que no decorrer do diálogo ocorrem várias tentativas de definição tanto por parte de Mênon bem como de Sócrates, levando a partir daí a discussão à aporia. Tendo reconhecido a aporia sobre a qual se encontra a discussão, Sócrates detém-se no ponto que abrirá caminho à outra discussão, ou seja, a possibilidade do conhecimento mediante a reminiscência. Este movimento da argumentação nos 1 Ver, PLATÃO, Mênon. Rio de Janeiro: Ed. PUC - Rio, 2001 p.19. 2 Ver, PLATÃO, Mênon. Rio de Janeiro: Ed. PUC - Rio, 2001 p.23; 3 Ver, PLATÃO, Mênon. Rio de Janeiro: Ed. PUC - Rio, 2001 p.23; I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página2

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 impõe em um plano estritamente metafísico na medida em que pressupõe a alma como sendo imortal e tendo como condição necessária o ciclo de nascimentos sucessivos, enfim, a alma contempla as coisas do mundo inteligível, não existindo, portanto conhecimento que ela não tenha contemplado. Ao apresentar tal argumento, Sócrates, a pedido de Mênon, pretende demonstrar a validade da tese em questão, propondo interrogar o escravo de Mênon. Tal interrogatório gira em torno de um problema matemático, ou seja, ao instigar o escravo a uma tentativa de resolução do problema, Sócrates o induz a aporia, essa é o ponto de partida para aquisição do conhecimento enquanto tal. Na medida, entretanto, em que discorre o interrogatório, Sócrates leva o escravo a solução do problema mediante a reminiscência. Isso nos permite caracterizar a validade da tese socrática, pelo fato, do escravo apresentar a solução de um problema matemático complexo mesmo apresentando um estado de completa ignorância intelectual. Por fim, retomando a discussão acerca da virtude, e depois de várias tentativas de defini-la, Sócrates a apresenta como sendo uma ―concessão divina‖ 1 , contudo deixa um espaço aberto para uma nova definição no que concerne a virtude em si mesma o que comprova o completo estado de aporia pelo qual se encontra o presente diálogo. O conceito de reminiscência de Platão revela, já de antemão, a função que a obra Mênon adquire na transição para os diálogos de maturidade, e como motivação de discussão, assim se poderia apontar para uma pressuposição da teoria das idéias que estará estabelecida numa fase filosófica posterior. O conceito de reminiscência se faz necessário em Platão, pela necessidade de solidificar por um lado à argumentação de sua metafísica, e por outro lado, fazendo com que se coloque todo o peso da questão na imortalidade da alma. Por ser justamente a reminiscência a condição necessária para o conhecimento, dessa forma, se concebe a alma como ponto de partida para todo o conhecimento. 1 Ver, PLATÃO, Mênon. Rio de Janeiro: Ed. PUC - Rio, 2001 p.109; I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página3

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO<br />

I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059<br />

por Platão consiste na anámnesis ou lembrança, a tarefa <strong>do</strong> individuo é partir das<br />

coisas, para reconhecer nelas um ser que não se possui, mas que lhe provoque uma<br />

lembrança ou reminiscência das ideias antes contempladas pela alma.<br />

Conhecimento, portanto é lembrança.<br />

Estamos diante de um diálogo que apresenta <strong>do</strong>is aspectos importantes. Se por um<br />

la<strong>do</strong> o diálogo Mênon liga-se aos chama<strong>do</strong>s diálogos socráticos, por outro la<strong>do</strong>, faz<br />

parte <strong>do</strong>s diálogos que encabeçam a transição para a fase posterior denominada<br />

fase de maturidade. A obra em questão inicia-se com a pergunta de Mênon ―a<br />

virtude é coisa que se ensina?‖ 1 a partir daí Sócrates reformula a questão específica,<br />

para uma tentativa de definir a virtude. Usan<strong>do</strong> sua ironia como méto<strong>do</strong> maiêutico,<br />

Sócrates alega nada saber a respeito da virtude, deten<strong>do</strong>-se apenas nesse princípio.<br />

Um <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s que Sócrates utiliza para investigar um conceito, consiste<br />

primeiramente em instigar o interlocutor à apresentar a definição conceitual ora<br />

apresentada. Dessa forma, cabe a Mênon a tarefa da primeira tentativa de definir o<br />

que é virtude. O primeiro argumento utiliza<strong>do</strong> por Mênon consiste na enumeração<br />

das virtudes ―ser capaz de gerir as coisas da cidade, e no exercício dessa gestão<br />

fazer bem aos amigos e mal aos inimigos (...) a virtude da mulher não é difícil<br />

explicar que é preciso a ela cuidar da casa‖ 2 . Partin<strong>do</strong> da posição de Mênon, a<br />

crítica socrática entra em cena com intuito de contrapor tal definição, apresentan<strong>do</strong>,<br />

por sua vez, seu primeiro argumento, ou seja, há uma unidade de virtudes para<br />

to<strong>do</strong>s, unidade essa que deve dar conta da multiplicidade ―embora sejam muitas e<br />

assumam toda variedade de formas, tem todas um caráter único‖ 3 .Note-se, porém,<br />

que no decorrer <strong>do</strong> diálogo ocorrem várias tentativas de definição tanto por parte de<br />

Mênon bem como de Sócrates, levan<strong>do</strong> a partir daí a discussão à aporia. Ten<strong>do</strong><br />

reconheci<strong>do</strong> a aporia sobre a qual se encontra a discussão, Sócrates detém-se no<br />

ponto que abrirá caminho à outra discussão, ou seja, a possibilidade <strong>do</strong><br />

conhecimento mediante a reminiscência. Este movimento da argumentação nos<br />

1 Ver, PLATÃO, Mênon. Rio de Janeiro: Ed. PUC - Rio, 2001 p.19.<br />

2 Ver, PLATÃO, Mênon. Rio de Janeiro: Ed. PUC - Rio, 2001 p.23;<br />

3 Ver, PLATÃO, Mênon. Rio de Janeiro: Ed. PUC - Rio, 2001 p.23;<br />

I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR<br />

II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção <strong>Paraná</strong> – SKB/PR<br />

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