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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 questão de saber se Kant pensou sobre eles de tal maneira que comprometeu a universalidade de sua teoria moral universal‖. 1 Bernasconi não para por aí. Refere-se ao livro de Horkheimer e Adorno, Dialética do esclarecimento, no sentido de indicar a vinculação do seu humanismo, igualitarismo e cosmopolitismo com o racismo. Cito: ―Se alguém aceita a sugestão de Horkheimer e Adorno na Dialética do Esclarecimento, segundo a qual o humanismo, o igualitarismo e o cosmopolitismo não contradizem tanto o racismo, mas prestam-se a ele, afirmando-o enquanto tentam negá-lo, mais questões do que respostas são criadas e, então, [tal sugestão] pode ser tomada apenas como ponto de partida. Por que tantos pensadores esclarecidos foram aparentemente incapazes de articular o novo sentido de humanidade sem ao mesmo tempo desenhar-lhe os limites mais rígida e explicitamente que antes? O registro histórico não mostra que o cosmopolitismo não apenas não foi introduzido para combater o racismo, mas também que prontamente o acomodou?‖. 2 Convém dizer, de saída, que concordo com Thomas McCarthy (―Die politische Philosophie und das Problem der Rasse‖ 3 ) quando ele diz que Bernasconi exagera ao pretender que as afirmações de Kant sobre as raças comprometam suas pretensões universalistas. Nesse sentido, é necessário distinguir uma perspectiva, digamos, antropológica, baseada em relatos de viagens, da perspectiva de uma 1 Idem p. 161. Thomas McCarthy depois de reconhecer a relevância dos artigos de Bernasconi e Eze para sua própria análise da relação da filosofia política com o problema da raça no que diz respeito ao pensamento kantiano, escreve: ―não obstante, penso que Bernasconi e Eze exageram a medida em que o pensamento de Kant relativo às raças aniquila seu projeto filosófico como um todo‖, ―Die politische Philosophie und das Problem der Rasse‖, in: WINGERT, L. e GÜNTHER, K. eds., Die Öffentlichkeit der Vernunft und die Vernunft der Öffentlichkeit. Frankfurt, Suhrkamp, 2001, p. 631 2 BERNASCONI, Robert. ―Kant as an Unfamiliar Source of Racism‖, in: WARD, J. e LOTT, T. ed. Philosophers on Race. Critical Essays. Blackwell, 2002, p 146. Ver também a passagem: ―Kant caracteriza negros e americanos nativos e em certa medida outras raças de maneira que sugere que lhes falta a autonomia para contar como plenos agentes morais. Em outras palavras, não é somente uma questão de como negros e americanos nativos são vistos dentro da teoria moral de Kant, mas também uma questão de saber se ele pensou sobre aqueles de tal modo que comprometeu a universalidade da sua teoria moral universal‖, idem pag. 161 3 MCCARTHY, Thomas. ―Die politische Philosophie und das Problem der Rasse‖, in: WINGERT, L. e GÜNTHER, K. eds. Die Öffentlichkeit der Vernunft und die Vernunft der Öffentlichkeit. Frankfurt, Suhrkamp, 2001, p. 631. I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página7

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 filosofia da história e, por fim, da perspectiva político-jurídica. Ao contrário de Ritter, 1 acredito que haja uma distinção entre uma doutrina do direito pré-crítica e outra crítica, mas no plano da antropologia, pelo menos na maneira de tratar os dados empíricos, há certa continuidade no pensamento kantiano sobre os diversos povos. Mas tratemos agora dessa questão na década de 1760 e 1770, Nas Observações e Notas e, depois, no texto sobre as raças. IV Para a defesa de sua tese, Bernasconi se utiliza de algumas passagens desses textos que são ―racistas‖ em relação aos índios americanos e aos negros. Como já disse, pretendo chamar a atenção para o estatuto específico do discurso antropológico relativamente à filosofia da história e à perspectiva político-jurídica, que estão em formação nesse período, de modo a desfazer as suspeitas contra o universalismo nascente. 2 Podemos ler, nas Observações, que ―entre todos os selvagens, nenhum outro povo demonstra um caráter espiritual tão sublime como o da América do Norte. Possuem um forte sentimento de honra e, para alcançá-la, buscam selvagens aventuras por centenas de milhas e são extremamente atentos em preservá-las do menor prejuízo, mesmo quando um inimigo feroz, depois de tê-los feito prisioneiros, procura forçá-lo a um gemido covarde por meio de terríveis torturas. O selvagem canadense é, aliás, sincero e honesto‖. 3 Um pouco adiante, lemos o seguinte: ―Licurgo provavelmente 1 RITTER, C. Der Rechtsgedanke Kants nach den frühen Quellen. Frankfurt, V. Klostermann, 1961. 2 Para uma ampla análise da concepção de raça no pensamento kantiano, que leva em conta os diferentes estatutos epistemológicos e práticos dos textos de Kant, ver de LAGIER, Raphaël, Les races humaines selon Kant. Paris, PUF, 2004. 3 KANT, I. Observações sobre o sentimento do belo e do sublime, Ak. II, 253 ; Trad. Vinicius de Figueiredo. Campinas, Papirus, 1993, p. 76. I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página8

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO<br />

I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059<br />

questão de saber se Kant pensou sobre eles de tal maneira que comprometeu a<br />

universalidade de sua teoria moral universal‖. 1<br />

Bernasconi não para por aí. Refere-se ao livro de Horkheimer e A<strong>do</strong>rno, Dialética <strong>do</strong><br />

esclarecimento, no senti<strong>do</strong> de indicar a vinculação <strong>do</strong> seu humanismo, igualitarismo<br />

e cosmopolitismo com o racismo. Cito: ―Se alguém aceita a sugestão de Horkheimer<br />

e A<strong>do</strong>rno na Dialética <strong>do</strong> Esclarecimento, segun<strong>do</strong> a qual o humanismo, o<br />

igualitarismo e o cosmopolitismo não contradizem tanto o racismo, mas prestam-se<br />

a ele, afirman<strong>do</strong>-o enquanto tentam negá-lo, mais questões <strong>do</strong> que respostas são<br />

criadas e, então, [tal sugestão] pode ser tomada apenas como ponto de partida. Por<br />

que tantos pensa<strong>do</strong>res esclareci<strong>do</strong>s foram aparentemente incapazes de articular o<br />

novo senti<strong>do</strong> de humanidade sem ao mesmo tempo desenhar-lhe os limites mais<br />

rígida e explicitamente que antes? O registro histórico não mostra que o<br />

cosmopolitismo não apenas não foi introduzi<strong>do</strong> para combater o racismo, mas<br />

também que prontamente o acomo<strong>do</strong>u?‖. 2<br />

Convém dizer, de saída, que concor<strong>do</strong> com Thomas McCarthy (―Die politische<br />

Philosophie und das Problem der Rasse‖ 3 ) quan<strong>do</strong> ele diz que Bernasconi exagera<br />

ao pretender que as afirmações de Kant sobre as raças comprometam suas<br />

pretensões universalistas. Nesse senti<strong>do</strong>, é necessário distinguir uma perspectiva,<br />

digamos, antropológica, baseada em relatos de viagens, da perspectiva de uma<br />

1 Idem p. 161. Thomas McCarthy depois de reconhecer a relevância <strong>do</strong>s artigos de Bernasconi e Eze<br />

para sua própria análise da relação da filosofia política com o problema da raça no que diz respeito<br />

ao pensamento kantiano, escreve: ―não obstante, penso que Bernasconi e Eze exageram a medida<br />

em que o pensamento de Kant relativo às raças aniquila seu projeto filosófico como um to<strong>do</strong>‖, ―Die<br />

politische Philosophie und das Problem der Rasse‖, in: WINGERT, L. e GÜNTHER, K. eds., Die<br />

Öffentlichkeit der Vernunft und die Vernunft der Öffentlichkeit. Frankfurt, Suhrkamp, 2001, p. 631<br />

2 BERNASCONI, Robert. ―Kant as an Unfamiliar Source of Racism‖, in: WARD, J. e LOTT, T. ed.<br />

Philosophers on Race. Critical Essays. Blackwell, 2002, p 146. Ver também a passagem: ―Kant<br />

caracteriza negros e americanos nativos e em certa medida outras raças de maneira que sugere que<br />

lhes falta a autonomia para contar como plenos agentes morais. Em outras palavras, não é somente<br />

uma questão de como negros e americanos nativos são vistos dentro da teoria moral de Kant, mas<br />

também uma questão de saber se ele pensou sobre aqueles de tal mo<strong>do</strong> que comprometeu a<br />

universalidade da sua teoria moral universal‖, idem pag. 161<br />

3 MCCARTHY, Thomas. ―Die politische Philosophie und das Problem der Rasse‖, in: WINGERT, L. e<br />

GÜNTHER, K. eds. Die Öffentlichkeit der Vernunft und die Vernunft der Öffentlichkeit. Frankfurt,<br />

Suhrkamp, 2001, p. 631.<br />

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