Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná
Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná
ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 descritivo em relação à natureza humana, não estando vinculado com sua teoria da obrigação (TAYLOR, 1938, p. 407). Assim, haveria por um lado, uma teoria psicológica que descreve o comportamento egoísta do homem e por outro, uma teoria ética que é em essencialmente uma deontologia. A ética hobbesiana então, segundo estes autores, está fundada não no auto- interesse, mas na obrigatoriedade das leis de natureza. Este caráter obrigatório pode ser encontrado em inúmeras passagens dos textos hobbesianos, especialmente no De Cive, nas quais Hobbes apresenta a lei de natureza com um comando divino incondicional. Sendo assim, diferente do que grande parte da tradição interpretativa concebera, elas são válidas também no estado de natureza. Consequentemente, o contrato social e o poder soberano do Estado, nada mais fazem do que garantir o cumprimento destas leis, as quais já possuem obrigatoriedade no estado de natureza, por derivarem da vontade divina. Deste modo, a teoria política de Hobbes estaria muito mais próxima a uma tradição cristã, do que ao mecanicismo científico moderno. Para os autores, a tradição teria negligenciado os aspectos evidentemente religiosos na filosofia de Hobbes, enfocando sua atenção apenas nos aspectos científicos e mecanicistas da obra. Além disso, grande parte da tradição debruçou-se apenas sobre um estudo profundo do Leviathan, (e mais especificamente nas duas primeiras partes) o qual, segundo Taylor (1938, p. 407) não é a obra mais clara do pensamento hobbsiano. Assim, preferem focar sua atenção no De Cive e nas últimas duas partes do Leviathan. Um outro aspecto da tese de uma ética deontológica em Hobbes é a aproximação, feita por Taylor, com a deontologia kantiana. Segundo Taylor, a distinção entre a obrigatoriedade in foro interno e in foro externo da lei natural feita por Hobbes, o aproxima da distinção kantiana entre ação pelo dever e conforme ao dever (TAYLOR, 1938, p. 409). Segundo Hobbes, no estado de natureza, as leis de natureza obrigam apenas in foro interno, mas in foro externo nem sempre obrigam (HOBBES, 1996, p.110). Esta distinção conduziu grande parte da tradição interpretativa a conceber que a lei de natureza não possui uma obrigatoriedade I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página2
ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 efetiva, sendo a verdadeira obrigação apenas aquela in foro externo, ou seja, a obrigação jurídica implantada pelo poder soberano. Taylor interpreta a questão de modo diametralmente oposto. Segundo ele, a verdadeira obrigação é aquela in foro interno, porque opera no nível da consciência, ou seja, trata-se da intenção de agir e não meramente da ação de acordo com a lei. ―O ponto que importa é que Hobbes concorda com Kant sobre o caráter imperativo da lei moral, exatamente como ele também concorda com ele na asserção na proposição de que ela é a lei da reta razão‖ (TAYLOR, 1938 , p. 409). Ao analisar as afirmações de Hobbes sobre a não obrigatoriedade in foro externo das leis de natureza, Taylor argumenta que tal obrigatoriedade somente existe nas condições em que há garantia de reciprocidade, garantias de que os outros indivíduos também a cumpram. Como no estado de natureza esta garantia quase sempre é inexistente, a lei de natureza não obriga a praticar as ações prescritas pela lei, mas continua obrigando internamente o indivíduo a ter intenção de praticá-la. Este tipo de obrigação então, na visão de Taylor, é o mesmo tipo de obrigação incondicional exposto na teoria ética de Kant. Esta tese conduz a uma interpretação bastante particular da obrigação política. Ela não parte do soberano, como aquele que comanda a lei, mas parte da obrigatoriedade incondicional da lei natural. A obrigação moral de obedecer à lei de natureza é anterior à existência do legislador e da sociedade civil. A obrigação de obedecer ao soberano civil então, de acordo com esta interpretação, está fundamentada em uma teoria ética deontológica que, em última instancia, nos apresenta a lei natural de Hobbes como incondicionalmente obrigatória devido ao fato de ser um mandamento divino. Bibliografia HAMPTON, J. Hobbes and the Social Contract Tratidion. Cambridge: Cambridge University Press, 1995. I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página3
- Page 141 and 142: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 143 and 144: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 145 and 146: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 147 and 148: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 149 and 150: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 151 and 152: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 153 and 154: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 155 and 156: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 157 and 158: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 159 and 160: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 161 and 162: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 163 and 164: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 165 and 166: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 167 and 168: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 169 and 170: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 171 and 172: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 173 and 174: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 175 and 176: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 177 and 178: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 179 and 180: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 181 and 182: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 183 and 184: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 185 and 186: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 187 and 188: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 189 and 190: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 191: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 195 and 196: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 197 and 198: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 199 and 200: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 201 and 202: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 203 and 204: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 205 and 206: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 207 and 208: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 209 and 210: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 211 and 212: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 213 and 214: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 215 and 216: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 217 and 218: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 219 and 220: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 221 and 222: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 223 and 224: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 225 and 226: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 227 and 228: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 229 and 230: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 231 and 232: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 233 and 234: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 235 and 236: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 237 and 238: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 239 and 240: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
- Page 241 and 242: ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FI
ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO<br />
I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059<br />
descritivo em relação à natureza humana, não estan<strong>do</strong> vincula<strong>do</strong> com sua teoria da<br />
obrigação (TAYLOR, 1938, p. 407). Assim, haveria por um la<strong>do</strong>, uma teoria<br />
psicológica que descreve o comportamento egoísta <strong>do</strong> homem e por outro, uma<br />
teoria ética que é em essencialmente uma deontologia.<br />
A ética hobbesiana então, segun<strong>do</strong> estes autores, está fundada não no auto-<br />
interesse, mas na obrigatoriedade das leis de natureza. Este caráter obrigatório<br />
pode ser encontra<strong>do</strong> em inúmeras passagens <strong>do</strong>s textos hobbesianos,<br />
especialmente no De Cive, nas quais Hobbes apresenta a lei de natureza com um<br />
coman<strong>do</strong> divino incondicional. Sen<strong>do</strong> assim, diferente <strong>do</strong> que grande parte da<br />
tradição interpretativa concebera, elas são válidas também no esta<strong>do</strong> de natureza.<br />
Consequentemente, o contrato social e o poder soberano <strong>do</strong> <strong>Esta<strong>do</strong></strong>, nada mais<br />
fazem <strong>do</strong> que garantir o cumprimento destas leis, as quais já possuem<br />
obrigatoriedade no esta<strong>do</strong> de natureza, por derivarem da vontade divina. Deste<br />
mo<strong>do</strong>, a teoria política de Hobbes estaria muito mais próxima a uma tradição cristã,<br />
<strong>do</strong> que ao mecanicismo científico moderno. Para os autores, a tradição teria<br />
negligencia<strong>do</strong> os aspectos evidentemente religiosos na filosofia de Hobbes,<br />
enfocan<strong>do</strong> sua atenção apenas nos aspectos científicos e mecanicistas da obra.<br />
Além disso, grande parte da tradição debruçou-se apenas sobre um estu<strong>do</strong> profun<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> Leviathan, (e mais especificamente nas duas primeiras partes) o qual, segun<strong>do</strong><br />
Taylor (1938, p. 407) não é a obra mais clara <strong>do</strong> pensamento hobbsiano. Assim,<br />
preferem focar sua atenção no De Cive e nas últimas duas partes <strong>do</strong> Leviathan.<br />
Um outro aspecto da tese de uma ética deontológica em Hobbes é a aproximação,<br />
feita por Taylor, com a deontologia kantiana. Segun<strong>do</strong> Taylor, a distinção entre a<br />
obrigatoriedade in foro interno e in foro externo da lei natural feita por Hobbes, o<br />
aproxima da distinção kantiana entre ação pelo dever e conforme ao dever<br />
(TAYLOR, 1938, p. 409). Segun<strong>do</strong> Hobbes, no esta<strong>do</strong> de natureza, as leis de<br />
natureza obrigam apenas in foro interno, mas in foro externo nem sempre obrigam<br />
(HOBBES, 1996, p.110). Esta distinção conduziu grande parte da tradição<br />
interpretativa a conceber que a lei de natureza não possui uma obrigatoriedade<br />
I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR<br />
II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção <strong>Paraná</strong> – SKB/PR<br />
Página2