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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 entanto, partir de noções instituídas, ordinariamente usadas na linguagem cotidiana, e daí, com o auxílio das ciências humanas, apresentar uma experiência de mundo que fora esquecida, é tratar, por assim dizer, de apenas um dos lados da questão. É preciso ainda que se faça não somente a descrição do mundo objetivo e da ambiguidade da percepção, mas também que se mostre como ambos são possíveis. Em outras palavras, trata-se de já ter o campo transcendental (temporal) em vista no momento de fazer a crítica aos clássicos e o relato da percepção, lá mesmo onde se tem a ―descrição psicológica‖ como método filosófico. A constituição do objeto e a constituição do corpo como objeto são momentos decisivos na construção do mundo objetivo, como o mostra Merleau-Ponty. Mas essa questão precisa ser abordada pelo filósofo, e ele o faz, segundo suas duas faces, aquela de sua constituição e aquela de sua possibilidade. Não basta que se diga apenas que o pensamento objetivo se constitui quando ―supomos de um só golpe em nossa consciência das coisas aquilo que sabemos estar nas coisas‖ 1 , quando, ao analisar a percepção, transportamos seus objetos coloridos e sonoros para a consciência, é preciso dizer também como essa passagem, da percepção à ―consciência de‖, da ambiguidade ao objeto claro e acabado, é possível. Enfim, é preciso mostrar como a definição de objeto como partes exteriores umas às outras encontra seu solo de nascimento na própria experiência perceptiva. Como essa experiência possibilita dois discursos tão distintos, aquele do pensamento objetivo e aquele da fenomenologia? Seria preciso dizer aqui, é claro, como pode ser que a experiência perceptiva seja o fundamento de todo discurso, de toda expressão 2 . Esse problema será em parte resolvido ao analisarmos como, no interior da filosofia de Merleau-Ponty, desenvolvem-se os temas da constituição do objeto e de sua possibilidade. Detenhamo-nos então no 1 Id., ibid., p. 26. 2 ―A percepção não é uma ciência do mundo, não é nem mesmo um ato, uma tomada de posição deliberada; ela é o fundo sobre o qual todos os atos se destacam e ela é pressuposta por eles.‖ (Id., Ibid., p. 6) I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página3

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 problema da origem 1 do objeto, passo que nos levará, mais adiante, à consideração da temporalidade. Referências: MERLEAU-PONTY, Maurice. Phénoménologie de la perception. Paris: Gallimard, 1995 [Fenomenologia da percepção. Trad.: Carlos Alberto Ribeiro de Moura. São Paulo: Martins Fontes, 1999]. _____. Le primat de la perception. Paris: Verdier,1996 [O primado da percepção e suas conseqüências filosóficas. Trad.: Constança Marcondes César. Campinas: Papiros, 1990]. MOURA, Carlos Alberto Ribeiro de. Racionalidade e crise. São Paulo: Discurso Editorial e Editora UFPR, 2001. 1 Em uma passagem da PHP, Merleau-Ponty diz que ―é preciso que reencontremos a origem do objeto no próprio coração de nossa experiência (...)‖ (Id., Ibid., p. 109). Daqui nasceu a ideia diretriz destas páginas. I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página4

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO<br />

I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059<br />

entanto, partir de noções instituídas, ordinariamente usadas na linguagem cotidiana,<br />

e daí, com o auxílio das ciências humanas, apresentar uma experiência de mun<strong>do</strong><br />

que fora esquecida, é tratar, por assim dizer, de apenas um <strong>do</strong>s la<strong>do</strong>s da questão. É<br />

preciso ainda que se faça não somente a descrição <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> objetivo e da<br />

ambiguidade da percepção, mas também que se mostre como ambos são possíveis.<br />

Em outras palavras, trata-se de já ter o campo transcendental (temporal) em vista no<br />

momento de fazer a crítica aos clássicos e o relato da percepção, lá mesmo onde se<br />

tem a ―descrição psicológica‖ como méto<strong>do</strong> filosófico. A constituição <strong>do</strong> objeto e a<br />

constituição <strong>do</strong> corpo como objeto são momentos decisivos na construção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

objetivo, como o mostra Merleau-Ponty. Mas essa questão precisa ser abordada<br />

pelo filósofo, e ele o faz, segun<strong>do</strong> suas duas faces, aquela de sua constituição e<br />

aquela de sua possibilidade. Não basta que se diga apenas que o pensamento<br />

objetivo se constitui quan<strong>do</strong> ―supomos de um só golpe em nossa consciência das<br />

coisas aquilo que sabemos estar nas coisas‖ 1 , quan<strong>do</strong>, ao analisar a percepção,<br />

transportamos seus objetos colori<strong>do</strong>s e sonoros para a consciência, é preciso dizer<br />

também como essa passagem, da percepção à ―consciência de‖, da ambiguidade ao<br />

objeto claro e acaba<strong>do</strong>, é possível. Enfim, é preciso mostrar como a definição de<br />

objeto como partes exteriores umas às outras encontra seu solo de nascimento na<br />

própria experiência perceptiva. Como essa experiência possibilita <strong>do</strong>is discursos tão<br />

distintos, aquele <strong>do</strong> pensamento objetivo e aquele da fenomenologia? Seria preciso<br />

dizer aqui, é claro, como pode ser que a experiência perceptiva seja o fundamento<br />

de to<strong>do</strong> discurso, de toda expressão 2 . Esse problema será em parte resolvi<strong>do</strong> ao<br />

analisarmos como, no interior da filosofia de Merleau-Ponty, desenvolvem-se os<br />

temas da constituição <strong>do</strong> objeto e de sua possibilidade. Detenhamo-nos então no<br />

1 Id., ibid., p. 26.<br />

2 ―A percepção não é uma ciência <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, não é nem mesmo um ato, uma tomada de posição<br />

deliberada; ela é o fun<strong>do</strong> sobre o qual to<strong>do</strong>s os atos se destacam e ela é pressuposta por eles.‖ (Id.,<br />

Ibid., p. 6)<br />

I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR<br />

II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção <strong>Paraná</strong> – SKB/PR<br />

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