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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 O TEMPO COMO CONDIÇÃO DE POSSIBILIDADE NA CONSTITUIÇÃO DO OBJETO EM MERLEAU-PONTY Jeovane Camargo Universidade Federal do Paraná Orientador: Luiz Damon Santos Moutinho acasadeasterion@gmail.com Palavras-chave: método, objeto, percepção, temporalidade, condição de possibilidade Ao iniciar o estudo da percepção, Merleau-Ponty comenta que nós ―encontramos na linguagem a noção de sensação, que parece imediata e clara‖. Em seguida, ele anuncia que é preciso ver como essa noção é ―a mais confusa que existe‖ 1 . O procedimento merleau-pontiano que se inicia aqui, por um lado, é o de descrever o pensamento objetivo e de lhe colocar questões que ele próprio se coloca 2 , de modo que estas revelem as contradições e os pressupostos não esclarecidos pelos quais o pensamento objetivo se constrói; de outro lado, é um procedimento que se serve das ciências humanas como de uma forma de investigação que trás à tona certo modo de ser não tematizado pelas filosofias clássicas. É assim, por exemplo, que a noção de sensação como puro quale, em voga no empirismo, dissolve-se ante a pesquisa psicológica que mostra que não temos a experiência sensorial de dados puros, mas de qualidades ambíguas, sinestésicas. No entanto, embora elas lhe sirvam de instrumento, Merleau-Ponty não pára nas ciências humanas, as quais mostrariam por si sós um ultrapassamento do pensamento objetivo. O que ele 1 MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. Trad.: Carlos Alberto Ribeiro de Moura. São Paulo: Martins Fontes, 3ª ed., 2006, p. 23. 2 O intuito de não endereçar ao pensamento objetivo questões que ele mesmo não se coloca é revelador do método merleau-pontiano. O recuo à experiência perceptiva deve surgir como uma necessidade ao se fazer o inventário do pensamento clássico. Pressuposta por eles a todo momento, ela acaba esquecida em razão de um ―golpe‖ natural: a passagem da experiência efetiva, vivida por todos, ao pensamento objetivo, construtor de um objeto único, verdadeiro. Id., ibid., p. 110. I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página1

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 procura é uma nova concepção do ser que leve ao mesmo tempo para além da filosofia clássica e aponte para certa ―compreensão‖ do ―real‖ que permita às ciências humanas um novo tipo de investigação — embora elas se alcem para adiante das teorias clássicas (naquilo que elas desvelam), elas ainda são devedoras do pensamento objetivo (pelo modo como compreendem). O procedimento merleau- pontiano aqui é aquele mesmo apresentado na descrição da fala falante, o de reorganizar as significações já constituídas, habitualmente repetidas na linguagem ordinária, em vista de um sentido novo. Não se trata de desvelar a Verdade, mas de instituir certa verdade, histórica. E o saldo, logo anunciado, desse procedimento, é o reencontro com o fenômeno da percepção. Ora, se já encontramos na linguagem certa noção de sensação, assim como certa noção de objeto, é preciso perguntar então como essas noções se constituíram? Qual é o solo que fundamentou seu nascimento? Pois é certo que a definição de objeto como partes extra partes, definição que está por trás daquela de sensação, não pode ser apenas um delírio ou sonho dos filósofos, mas de alguma forma se encontrar, ou ao menos se anunciar, no mundo. Assim como a fala falante ou o movimento temporal, é sempre por uma retomada que pode aparecer algo novo, não há projeção se não houver retenção. A experiência perceptiva, assim, se se quer primordial, precisa se apresentar como o solo de toda criação. Portanto, como a condição mesma tanto do pensamento objetivo quanto do movimento paradoxal do ser no mundo. Ao descrever e analisar as teorias clássicas, Merleau-Ponty partia de certas noções caras tanto ao empirismo quanto ao intelectualismo, fazendo ver que na estrutura mesma daqueles sistemas filosóficos apresentavam-se contradições e pressupostos que evidenciavam um fundo não esclarecido; análise corroborada, em grande parte, pelas investigações das ciências humanas. Ali a crítica principal era a de ―construir a percepção com o percebido‖ 1 , isto é, delimitar ―o sensível pelas condições objetivas das quais depende‖ 2 , aquilo que Merleau-Ponty chama de ―prejuízo do mundo‖. No 1 Id., ibid., p. 26. 2 Id., ibid., p. 28. I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página2

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO<br />

I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059<br />

O TEMPO COMO CONDIÇÃO DE POSSIBILIDADE NA CONSTITUIÇÃO DO<br />

OBJETO EM MERLEAU-PONTY<br />

Jeovane Camargo<br />

Universidade Federal <strong>do</strong> <strong>Paraná</strong><br />

Orienta<strong>do</strong>r: Luiz Damon Santos Moutinho<br />

acasadeasterion@gmail.com<br />

Palavras-chave: méto<strong>do</strong>, objeto, percepção, temporalidade, condição de<br />

possibilidade<br />

Ao iniciar o estu<strong>do</strong> da percepção, Merleau-Ponty comenta que nós ―encontramos na<br />

linguagem a noção de sensação, que parece imediata e clara‖. Em seguida, ele<br />

anuncia que é preciso ver como essa noção é ―a mais confusa que existe‖ 1 . O<br />

procedimento merleau-pontiano que se inicia aqui, por um la<strong>do</strong>, é o de descrever o<br />

pensamento objetivo e de lhe colocar questões que ele próprio se coloca 2 , de mo<strong>do</strong><br />

que estas revelem as contradições e os pressupostos não esclareci<strong>do</strong>s pelos quais<br />

o pensamento objetivo se constrói; de outro la<strong>do</strong>, é um procedimento que se serve<br />

das ciências humanas como de uma forma de investigação que trás à tona certo<br />

mo<strong>do</strong> de ser não tematiza<strong>do</strong> pelas filosofias clássicas. É assim, por exemplo, que a<br />

noção de sensação como puro quale, em voga no empirismo, dissolve-se ante a<br />

pesquisa psicológica que mostra que não temos a experiência sensorial de da<strong>do</strong>s<br />

puros, mas de qualidades ambíguas, sinestésicas. No entanto, embora elas lhe<br />

sirvam de instrumento, Merleau-Ponty não pára nas ciências humanas, as quais<br />

mostrariam por si sós um ultrapassamento <strong>do</strong> pensamento objetivo. O que ele<br />

1<br />

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. Trad.: Carlos Alberto Ribeiro de Moura.<br />

São Paulo: Martins Fontes, 3ª ed., 2006, p. 23.<br />

2<br />

O intuito de não endereçar ao pensamento objetivo questões que ele mesmo não se coloca é<br />

revela<strong>do</strong>r <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> merleau-pontiano. O recuo à experiência perceptiva deve surgir como uma<br />

necessidade ao se fazer o inventário <strong>do</strong> pensamento clássico. Pressuposta por eles a to<strong>do</strong> momento,<br />

ela acaba esquecida em razão de um ―golpe‖ natural: a passagem da experiência efetiva, vivida por<br />

to<strong>do</strong>s, ao pensamento objetivo, construtor de um objeto único, verdadeiro. Id., ibid., p. 110.<br />

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