Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná
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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 preciso – para salvar minha moralidade – da ideia de um Deus moral, e assim admito um Deus apenas para salvá-la, esse Deus tem de ser (caracterizado como) um Deus ―moral‖. Preservando o de melhor da filosofia crítica o dogmatismo perfeito schellinguiano concebe os fundamentos de um novo sistema, já que numa instância meramente ―teórica‖ a ideia de um Deus moral estaria sujeita a sofrer as intempéries da história, pois com ela se visou conceber um Deus que alinhava ―o desalento moral e a autonomia moral‖, ―a fraqueza e a força‖. Portanto, essa ideia permanece não apenas arbitrária, senão que leva a desconsiderar que a própria natureza está encarregada de promover o desenvolvimento do gênero humano pela ideia de uma astúcia oculta (no sentido em que Kant a desenvolveu em Ideia de uma História Universal do ponto de vista cosmopolita) e que, em se admitindo atribuir essa ideia a um Deus considerado ―moral‖, a função de Deus aqui seria apenas a de corroborar, por sua vez, as intempéries da natureza (Deus ex machina). Daí porque, diz Schelling, o ―forte atrativo peculiar ao dogmatismo‖ perfeito, reside no fato de que ―ele não parte de abstrações ou de princípios mortos, mas (pelo menos em sua forma perfeita) de uma existência, que zomba de todas as nossas palavras e princípios mortos‖(Segunda Carta, Ak 290; 1972 Abril Cult., p. 182). Sem admitir subterfúgios como os que fizeram o criticismo buscar num mundo absolutamente objetivo e num Deus moral a justificação para causas naturais, em face da fraqueza e cegueira da razão teórica, o dogmatismo perfeito exigirá do próprio ser originário que admita uma objetividade absoluta: este deve explicar a necessidade de uma existência que é independente da lei (ab-solutos), não cabendo conceder tal tarefa à mera índole da faculdade de conhecer. Assim, da própria Crítica da razão pura, na medida em que ela tem apenas o status de um ―cânon‖ da razão, e não de um sistema desenvolvido, obteve-se a condição para os sistemas – dois deles: o criticismo e o dogmatismo (Quinta Carta, Ak 301; 1972 Abril Cult., p. 188). E uma decorrência necessária do conceito de filosofia é que ―não poderia haver, em geral, sistemas diferentes, se ao mesmo tempo não houvesse um domínio comum a todos eles‖(Terceira Carta, Ak 293; 1972 Abril Cult., p. 184). Se por um lado a Crítica I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR
ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 estabeleceu o método dos postulados práticos para dois sistemas inteiramente opostos, por outro lado era impossível a ela justamente por isso ―ir além do mero método, e como ela devia atender a todos os sistemas, era-lhe impossível determinar o espírito próprio de cada sistema em sua singularidade‖(Quinta Carta, Ak 304; 1972 Abril Cult., p. 189). Por isso, a fim de que o método fosse mantido em sua universalidade, a Crítica teve ―de mantê-lo, ao mesmo tempo, naquela indeterminação que não excluía nenhum dos dois sistemas‖(Quinta Carta, Ak 304; 1972 Abril Cult., p. 189). Por isso torna-se claro que toda a tentativa de ir além da mera crítica só pode pertencer a um dos dois sistemas, visto que todos os demais sistemas são somente cópias mais ou menos fiéis dos dois sistemas expostos. E, neste sentido, Schelling salienta que enquanto ―cânon‖ de todos os sistemas possíveis a Crítica da razão pura devia então deduzir ―a necessidade de postulados práticos‖ da idéia de um sistema em geral, e não da idéia de um sistema determinado. Só com vistas a esse sistema deverá ser encontrado um princípio incondicionado, visto que aqui não está mais em atividade a razão teórica (Verstand), mas antes a razão em geral (Vernunft). Bibliografia GIL, F. Recepção da Crítica da razão pura. Antologia de escritos sobre Kant (1786- 1844). Lisboa: Calouste-Gulbenkian, 1992. HEGEL, G. W. F. Escritos de Juventud. México: Fundo de Cultura Económica, 1978. HENRICH, D. Hegel en su contexto. Venezuela: Monte Ávila Editores, 1987. HÖLDERLIN, F. Urteil und Sein. Trad. Joãosinho Beckenkamp. In: Dissertatio, (13- 14), UFPel, 2001, p. 27-53. KANT, I. Crítica da razão pura. Trad. Valério Rohden e Udo Baldur Moosburger. Coleção Os Pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1980. ____. Crítica da razão prática. Lisboa: Edições Setenta, 1997. I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR
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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO<br />
I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059<br />
preciso – para salvar minha moralidade – da ideia de um Deus moral, e assim<br />
admito um Deus apenas para salvá-la, esse Deus tem de ser (caracteriza<strong>do</strong> como)<br />
um Deus ―moral‖. Preservan<strong>do</strong> o de melhor da filosofia crítica o <strong>do</strong>gmatismo perfeito<br />
schellinguiano concebe os fundamentos de um novo sistema, já que numa instância<br />
meramente ―teórica‖ a ideia de um Deus moral estaria sujeita a sofrer as intempéries<br />
da história, pois com ela se visou conceber um Deus que alinhava ―o desalento<br />
moral e a autonomia moral‖, ―a fraqueza e a força‖. Portanto, essa ideia permanece<br />
não apenas arbitrária, senão que leva a desconsiderar que a própria natureza está<br />
encarregada de promover o desenvolvimento <strong>do</strong> gênero humano pela ideia de uma<br />
astúcia oculta (no senti<strong>do</strong> em que Kant a desenvolveu em Ideia de uma História<br />
Universal <strong>do</strong> ponto de vista cosmopolita) e que, em se admitin<strong>do</strong> atribuir essa ideia a<br />
um Deus considera<strong>do</strong> ―moral‖, a função de Deus aqui seria apenas a de corroborar,<br />
por sua vez, as intempéries da natureza (Deus ex machina). Daí porque, diz<br />
Schelling, o ―forte atrativo peculiar ao <strong>do</strong>gmatismo‖ perfeito, reside no fato de que<br />
―ele não parte de abstrações ou de princípios mortos, mas (pelo menos em sua<br />
forma perfeita) de uma existência, que zomba de todas as nossas palavras e<br />
princípios mortos‖(Segunda Carta, Ak 290; 1972 Abril Cult., p. 182). Sem admitir<br />
subterfúgios como os que fizeram o criticismo buscar num mun<strong>do</strong> absolutamente<br />
objetivo e num Deus moral a justificação para causas naturais, em face da fraqueza<br />
e cegueira da razão teórica, o <strong>do</strong>gmatismo perfeito exigirá <strong>do</strong> próprio ser originário<br />
que admita uma objetividade absoluta: este deve explicar a necessidade de uma<br />
existência que é independente da lei (ab-solutos), não caben<strong>do</strong> conceder tal tarefa à<br />
mera ín<strong>do</strong>le da faculdade de conhecer. Assim, da própria Crítica da razão pura, na<br />
medida em que ela tem apenas o status de um ―cânon‖ da razão, e não de um<br />
sistema desenvolvi<strong>do</strong>, obteve-se a condição para os sistemas – <strong>do</strong>is deles: o<br />
criticismo e o <strong>do</strong>gmatismo (Quinta Carta, Ak 301; 1972 Abril Cult., p. 188). E uma<br />
decorrência necessária <strong>do</strong> conceito de filosofia é que ―não poderia haver, em geral,<br />
sistemas diferentes, se ao mesmo tempo não houvesse um <strong>do</strong>mínio comum a to<strong>do</strong>s<br />
eles‖(Terceira Carta, Ak 293; 1972 Abril Cult., p. 184). Se por um la<strong>do</strong> a Crítica<br />
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II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção <strong>Paraná</strong> – SKB/PR