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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 ingenuidade. É diante disso que ele dirá que ―Frazer é muito mais selvagem que a maioria dos selvagens, posto que estes não estariam tão afastados da compreensão de algo espiritual como está um inglês do século XX. Suas explicações dos costumes primitivos são muito mais superficiais que o sentido de tais costumes.‖ 1 Frazer se mantém preso a uma única forma de explicar os fenômenos e não consegue ir além dessa percepção. O que Wittgenstein propõe é que ultrapassemos nossos dogmatismos e vejamos a variedade de formas de vida e de jogos de linguagem e de saberes. O que precisa ficar claro e Wittgenstein tem bem presente é que para além dos fenômenos naturais, existem, na vida humana ‗fenômenos‘ que ultrapassam a esfera natural e que são de suma importância para os seres humanos. Estes fenômenos estão ligados às nossas paixões, desejos e formas de compreender o mundo e a vida. Eles não são desligados da totalidade de nossa vida e, muitas vezes, até são parte integrante nas nossas compreensões dos fenômenos naturais. Como destaca Clack a vida humana é mais do que simples fenômeno natural ou racionalidade lógica: ―ela é regrada pela paixão, pelo instinto, por motivações que nós podemos descobrir e agarrar. Como resultado, nossa vida aqui é estranha e desconcertante. Daqui que as reflexões de Wittgenstein sobre prática mágica atingem fundamentalmente a base dos pensamentos sobre ‗homem e seu passado ... o estrangeiro que eu vejo em mim e em outros, que eu tenho visto e tenho ouvido‘‖ 2 Ora, se temos mais do que simplesmente pensamentos racionais, se nossa linguagem é capaz de falar sobre religião, arte, ética, conceitos absolutos e abstratos, seria absurdo recusar tudo isso ao ostracismo e dizer que não possui sentido algum. Somos muito mais do que meramente seres naturais ou animais, que podem ser compreendidos meramente pelas ciências naturais. ―Nossa natureza animal é transformada pela nossa aquisição de, e participação na instituição cultural 1 ODRF, p. 58. 2 CLACK, B. Wittgenstein and Magic. In.: Arrington, R. L & ADDIS, M. (org). Wittgenstein an Philosophy of Religion. London New York: Routledge, p. 26. I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página5

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 de uma linguagem. Os fenômenos que são objetos de estudos das humanidades estão entornados com linguagem, inteligíveis somente como propriedades e relações, ações e paixões, práticas e produtos, instituições e histórias de criaturas que usam linguagem.‖ E é disso que Wittgenstein se dá conta em sua filosofia tardia. O que Wittgenstein enfatiza é que se somos seres que possuem uma linguagem muito mais complexa do que somente uma linguagem empírica ou científica, devemos nos ater também nesses outros campos da vida humana em que conceitos e sentenças surgem de práticas que não se enquadram nas explicações das ciências naturais. É nesse sentido que Hacker diz que: Há formas de investigação racional que não são científicas, formas de entendimentos que não são modeladas sobre o conhecimento científico dos fenômenos naturais. Entender o homem como um ser cultural e social envolve categorias e formas de entendimento e explanações para além das ciências naturais. Há outros domínios de investigação que também são verdadeiros – por exemplo, compreensão estética, compreensão do mito e do ritual, bem como compreensão filosófica. 1 Esses outros campos de compreensão precisam ser pensados dentro de seus limites, pensados a partir de suas gramáticas e não sob a égide de um único saber. É daí que ―A compreensão de tais fenômenos, contudo, demanda formas de entendimentos e explanações apropriadas a e dependentes da compreensão da linguagem e seus usos no curso da vida humana‖ 2 . Mas a pergunta que se coloca é justamente qual seria essa tal forma de explanação e entendimento. Em nossa perspectiva, talvez o primeiro e mais importante passo a ser dado é elucidar o fato de que Wittgenstein tinha uma visão ampla de conhecimento, ou melhor, de saber. Ele não concordava com uma única idéia de saber e mostra em 1 HACKER, P. Wittgenstein and the autonomy of humanistic understanding. In.: HACKER, P. M. S. Wittgenstein: Conections and Controversies. Oxford: Clarendon Press, 2001, p. 40. 2 HACKER, P. Wittgenstein and the autonomy of humanistic understanding. In.: HACKER, P. M. S. Wittgenstein: Conections and Controversies. Oxford: Clarendon Press, 2001, p. 57. I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página6

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO<br />

I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059<br />

ingenuidade. É diante disso que ele dirá que ―Frazer é muito mais selvagem que a<br />

maioria <strong>do</strong>s selvagens, posto que estes não estariam tão afasta<strong>do</strong>s da compreensão<br />

de algo espiritual como está um inglês <strong>do</strong> século XX. Suas explicações <strong>do</strong>s<br />

costumes primitivos são muito mais superficiais que o senti<strong>do</strong> de tais costumes.‖ 1<br />

Frazer se mantém preso a uma única forma de explicar os fenômenos e não<br />

consegue ir além dessa percepção. O que Wittgenstein propõe é que ultrapassemos<br />

nossos <strong>do</strong>gmatismos e vejamos a variedade de formas de vida e de jogos de<br />

linguagem e de saberes.<br />

O que precisa ficar claro e Wittgenstein tem bem presente é que para além <strong>do</strong>s<br />

fenômenos naturais, existem, na vida humana ‗fenômenos‘ que ultrapassam a esfera<br />

natural e que são de suma importância para os seres humanos. Estes fenômenos<br />

estão liga<strong>do</strong>s às nossas paixões, desejos e formas de compreender o mun<strong>do</strong> e a<br />

vida. Eles não são desliga<strong>do</strong>s da totalidade de nossa vida e, muitas vezes, até são<br />

parte integrante nas nossas compreensões <strong>do</strong>s fenômenos naturais. Como destaca<br />

Clack a vida humana é mais <strong>do</strong> que simples fenômeno natural ou racionalidade<br />

lógica: ―ela é regrada pela paixão, pelo instinto, por motivações que nós podemos<br />

descobrir e agarrar. Como resulta<strong>do</strong>, nossa vida aqui é estranha e desconcertante.<br />

Daqui que as reflexões de Wittgenstein sobre prática mágica atingem<br />

fundamentalmente a base <strong>do</strong>s pensamentos sobre ‗homem e seu passa<strong>do</strong> ... o<br />

estrangeiro que eu vejo em mim e em outros, que eu tenho visto e tenho ouvi<strong>do</strong>‘‖ 2<br />

Ora, se temos mais <strong>do</strong> que simplesmente pensamentos racionais, se nossa<br />

linguagem é capaz de falar sobre religião, arte, ética, conceitos absolutos e<br />

abstratos, seria absur<strong>do</strong> recusar tu<strong>do</strong> isso ao ostracismo e dizer que não possui<br />

senti<strong>do</strong> algum. Somos muito mais <strong>do</strong> que meramente seres naturais ou animais, que<br />

podem ser compreendi<strong>do</strong>s meramente pelas ciências naturais. ―Nossa natureza<br />

animal é transformada pela nossa aquisição de, e participação na instituição cultural<br />

1 ODRF, p. 58.<br />

2 CLACK, B. Wittgenstein and Magic. In.: Arrington, R. L & ADDIS, M. (org). Wittgenstein an<br />

Philosophy of Religion. Lon<strong>do</strong>n New York: Routledge, p. 26.<br />

I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR<br />

II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção <strong>Paraná</strong> – SKB/PR<br />

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