Anais - Fundação Araucária - Estado do Paraná

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ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 quantidade e à variedade de jogos de linguagem que podem existir. Alguns novos jogos aparecem, outros se modificam, ainda outros são esquecidos. Eles vão surgindo segundo as necessidades humanas. A linguagem não tem sua arquitetura definida para sempre: ela é como uma velha cidade na que novas ruas surgem enquanto casas novas e antigas convivem assistindo à criação de novos subúrbios (IF 18). Tais ações linguísticas pertencem a nossa história natural, como andar, comer, beber e jogar (IF 25), sendo isso o que lhes confere sua pluralidade e consistência. Esta última – a consistência do uso de certos jogos de linguagem – se deve, em parte, à regularidade biológica, tanto da natureza como das ações humanas. Existem fatos naturais extraordinariamente gerais que garantem tal ―normalidade‖: ―Tais fatos não são nunca mencionados devido à sua grande generalidade‖ (IF 143). Como nos adverte Wittgenstein na segunda parte das Investigações filosóficas, a formação de conceitos não é explicável pelos fatos (IF II, XII). Embora os conceitos devam corresponder a esses fatos naturais extremamente gerais, sua importância se deve – quase paradoxalmente – a serem eles tão gerais que não chamam nossa atenção. O autor das Investigações não tem intenção de fazer história natural estabelecendo cadeias causais entre fatos e conceitos. Wittgenstein afirma que o aprendizado da linguagem constitui também seu uso. Esse aprendizado da linguagem é feito através do ensino ostensivo e também na repetição de palavras e de proposições que constituem tal ensino. Quando uma criança aprende uma palavra, não está aprendendo apenas uma palavra, mas, também deve saber o que está em volta dessa referência. Isto é, para que alguém possa saber que uma palavra qualquer se refere a um objeto determinado ou a uma ação determinada, muita coisa deve já estar preparada na linguagem. Adentramos aqui frontalmente na questão da confiança (Vertrauen) (DC 170) ou da segurança tranquila (beruhigte Sicherheit) (DC 357), tal como é exposta em Da certeza. Nossas expressões lingüísticas descansam sobre uma rede de proposições que nunca poderíamos pôr em dúvida, porque elas constituem a base a partir da I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página5

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059 qual podemos fazer novas afirmações e descobertas, criar novas proposições em geral. Existem relações internas entre a gramática e o mundo, mas já não se trata de uma forma lógica compartilhada. A segurança está na base da linguagem (DC 457), e essa segurança não significa nada mais que o comportamento regular da natureza incorporado ao fundamento da linguagem (DC 558): ―Todo jogo de linguagem descansa no fato de que possam reconhecer-se de novo palavras e objetos.‖ (DC 455). ―O saber se fundamenta no reconhecimento.‖ (DC 378). O reconhecimento não é um processo, mas um ―descansar no que vejo‖. É a familiaridade com os objetos e com meus modos de considerá-los (GF IX, 116). Tais formas de consideração não são criadas individualmente, mas, por assim dizê-lo, ―herdadas‖. Isto sublinha o caráter de aprendizado social da linguagem: uma criança aprende porque acredita nos adultos que a educam e convivem com ela (DC 160). De outro lado, se é em virtude da autoridade de certos seres humanos que essa criança aprende e aceita coisas, tem, posteriormente, a possibilidade de comprová-las ou refutá-las (DC 161). A conhecida afirmação de que o significado de uma palavra é seu uso num jogo de linguagem (IF 43) é somada àquela que diz: ―Nosso falar obtém seu sentido do resto de nosso agir.‖ (DC 229). Wittgenstein coloca ―fatos naturais extremamente gerais‖ e o ―comportamento comum da humanidade‖ na origem daquele substrato necessário a partir do qual afirmo, nego ou duvido de alguma coisa, a Weltbild. Falar de tais elementos sugeriria interpretações homogeneizantes da vida social, cultural e lingüística. Afortunadamente não é isto o que ocorre nem o que Wittgenstein quer propor. A regularidade e a normatividade que a noção de ―seguir uma regra‖ sugere não impede mudanças críticas de nossas convicções e do modo de enunciá-las. Isso é o que veremos a seguir. Isto é, vamos nos perguntar se a pluralidade das ―formas de vida‖ e os ―jogos de linguagem‖ a partir delas constituídos, asseguram o pluralismo, entendido como convivência com o outro, com o diferente, com diferentes ―formas de vida‖. I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção Paraná – SKB/PR Página6

ANAIS DO I CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA DA UNICENTRO<br />

I CONAFIL – 22 A 26/06/2009 – ISSN: 2175-3059<br />

quantidade e à variedade de jogos de linguagem que podem existir. Alguns novos<br />

jogos aparecem, outros se modificam, ainda outros são esqueci<strong>do</strong>s. Eles vão<br />

surgin<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> as necessidades humanas. A linguagem não tem sua arquitetura<br />

definida para sempre: ela é como uma velha cidade na que novas ruas surgem<br />

enquanto casas novas e antigas convivem assistin<strong>do</strong> à criação de novos subúrbios<br />

(IF 18). Tais ações linguísticas pertencem a nossa história natural, como andar,<br />

comer, beber e jogar (IF 25), sen<strong>do</strong> isso o que lhes confere sua pluralidade e<br />

consistência. Esta última – a consistência <strong>do</strong> uso de certos jogos de linguagem – se<br />

deve, em parte, à regularidade biológica, tanto da natureza como das ações<br />

humanas.<br />

Existem fatos naturais extraordinariamente gerais que garantem tal ―normalidade‖:<br />

―Tais fatos não são nunca menciona<strong>do</strong>s devi<strong>do</strong> à sua grande generalidade‖ (IF 143).<br />

Como nos adverte Wittgenstein na segunda parte das Investigações filosóficas, a<br />

formação de conceitos não é explicável pelos fatos (IF II, XII). Embora os conceitos<br />

devam corresponder a esses fatos naturais extremamente gerais, sua importância<br />

se deve – quase para<strong>do</strong>xalmente – a serem eles tão gerais que não chamam nossa<br />

atenção. O autor das Investigações não tem intenção de fazer história natural<br />

estabelecen<strong>do</strong> cadeias causais entre fatos e conceitos.<br />

Wittgenstein afirma que o aprendiza<strong>do</strong> da linguagem constitui também seu uso.<br />

Esse aprendiza<strong>do</strong> da linguagem é feito através <strong>do</strong> ensino ostensivo e também na<br />

repetição de palavras e de proposições que constituem tal ensino. Quan<strong>do</strong> uma<br />

criança aprende uma palavra, não está aprenden<strong>do</strong> apenas uma palavra, mas,<br />

também deve saber o que está em volta dessa referência. Isto é, para que alguém<br />

possa saber que uma palavra qualquer se refere a um objeto determina<strong>do</strong> ou a uma<br />

ação determinada, muita coisa deve já estar preparada na linguagem.<br />

Adentramos aqui frontalmente na questão da confiança (Vertrauen) (DC 170) ou da<br />

segurança tranquila (beruhigte Sicherheit) (DC 357), tal como é exposta em Da<br />

certeza. Nossas expressões lingüísticas descansam sobre uma rede de proposições<br />

que nunca poderíamos pôr em dúvida, porque elas constituem a base a partir da<br />

I Congresso Nacional de Filosofia da UNICENTRO/PR – Guarapuava/PR<br />

II Colóquio Kant da Sociedade Kant Brasileira – Seção <strong>Paraná</strong> – SKB/PR<br />

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