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1º Trimestre de 2013 – Elias e Eliseu – um ministério de poder para a Igreja<br />
PORTAL ESCOLA DOMINICAL<br />
1º Trimestre de 2013 - CPAD<br />
Elias e Eliseu – um ministério de poder para a Igreja<br />
Comentários da revista da CPAD: José Gonçalves<br />
Consultor Doutrinário e Teológico da CPAD: Pr. Antonio Gilberto<br />
LIÇÃO Nº 9 – ELIAS NO MONTE DA TRANSFIGURAÇÃO<br />
No monte da Transfiguração, vemos que o objetivo do ministério de Elias<br />
concretiza-se em Cristo Jesus.<br />
INTRODUÇÃO<br />
- Concluindo o estudo sobre o ministério do profeta Elias, estudaremos a sua aparição quando da<br />
transfiguração de Cristo Jesus.<br />
- No Monte da Transfiguração, vemos que o objetivo do ministério de Elias concretiza-se em Cristo Jesus,<br />
o único que pode restaurar espiritualmente o ser humano de forma definitiva.<br />
I – O LEGADO DE ELIAS NAS ESCRITURAS SAGRADAS E NA TRADIÇÃO JUDAICA<br />
- Na lição anterior, vimos a sucessão de Elias, o seu legado para as gerações posteriores. Substituído por<br />
Eliseu, vimos que o trabalho de Elias não cessou com a sua trasladação para o céu, mas teria de ter<br />
continuidade, já que a restauração espiritual do povo de Israel não se concretizara em seus dias.<br />
- É elucidativo que Elias, cujo nome significa “Jeová é o Senhor” ou “Jeová é Deus”, tenha sido substituído<br />
por Eliseu, cujo nome significa “Deus é salvação” ou “Deus salva”, como a anunciar que não haveria como se<br />
ter a restauração espiritual do homem se Deus não Se manifestasse também como o Salvador, após de ter Se<br />
manifestado como Deus, como Criador. Os nomes de ambos os profetas, portanto, prenunciam que a<br />
restauração somente viria com o Salvador, com o Filho de Deus.<br />
- De todas as três tarefas que o Senhor disse a Elias, no monte Horebe, que ele deveria fazer para que fosse<br />
erradicado o culto a Baal e a casa de Acabe (I Rs.19:15,16), apenas uma foi feita pessoalmente por Elias, que<br />
foi a unção de Eliseu e a sua preparação para a sucessão do profeta. A unção do novo rei de Israel (Jeú) e do<br />
novo rei da Síria (Hazael) não foram efetuadas por Elias, indicando, conforme já visto em lições anteriores,<br />
que o ministério de Elias teria prosseguimento através de outras pessoas, era um ministério maior que a<br />
própria pessoa do profeta Elias.<br />
- A sucessão de Elias por Eliseu foi devidamente testemunhada por cinquenta filhos dos profetas (II<br />
Rs.2:7), que tinham ido até o Jordão e visto tanto a abertura do rio por Elias, seu último milagre (II Rs.2:8),<br />
quanto a abertura do rio por Eliseu, quando do retorno deste após a trasladação de Elias (II Rs.2:14). Estava<br />
assim autenticada a sucessão e o prosseguimento deste ministério de zelo pelas coisas do Senhor, deste<br />
ministério de restauração espiritual de Israel.<br />
- Tanto assim é que muitos estudiosos identificam o próprio Elias como a continuidade de um ministério<br />
iniciado pelos filhos de Levi, que demonstraram zelo pelo Senhor no meio de Israel, quando do episódio do<br />
bezerro de ouro (Ex.32:26-29), o que resultou no fato de Levi ter sido escolhido para o sacerdócio, bem assim<br />
de Fineias, o neto de Arão, o terceiro sumo sacerdote, quando do episódio de Baal-Peor (Nm.25:5-13), o que<br />
confirmou o sacerdócio na casa de Arão.<br />
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- O fato de Elias não ter morrido, mas ter sido levado para os céus mediante trasladação foi mais um fator<br />
que indicou que o seu ministério não estava encerrado, mas deveria ter continuidade. Após o retorno do<br />
cativeiro, então, tal indicação se consolidou ainda mais, pois o profeta Malaquias, o último profeta literário<br />
do Antigo Testamento, foi usado por Deus para indicar a continuidade deste ministério.<br />
- Em Ml.3:1, o profeta vaticina que enviará o “Seu anjo, que preparará o caminho diante de Mim”, sendo que,<br />
em Ml.4:5,6, é dito que o Senhor enviará “o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor, e<br />
converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais, para que eu não venha e fira a terra<br />
com maldição”, palavras com que se encerra o Antigo Testamento.<br />
- Pois bem, ante esta declaração do profeta, os judeus passaram a esperar a vinda de Elias antes da vinda<br />
do Messias. O profeta foi enfático ao afirmar que, antes que viesse o Senhor, antes que viesse o Messias, viria<br />
“o anjo do concerto”, ou seja, “o mensageiro da aliança”. Ora, quem havia levado a Israel a mensagem da<br />
necessidade de se honrar a aliança firmada com Deus no Sinai, quem tinha ido ao Sinai para ser devidamente<br />
avisado de que deveria prosseguir seu ministério para a restauração espiritual de Israel, necessária para a vinda<br />
do Messias? O profeta Elias!<br />
- Por isso, em virtude de não ter morrido e das profecias dadas por Malaquias, cedo os judeus passaram a<br />
aguardar a vinda de Elias como um evento necessariamente anterior à vinda do Messias. Era algo considerado<br />
líquido e certo, tanto pelos escribas e sacerdotes, doutores da lei que eram, como pelo próprio povo, como<br />
podemos observar nas páginas do Novo Testamento, pois desta certeza compartilhavam tanto os doutores da<br />
lei quanto os próprios discípulos do Senhor Jesus (Mt.17:10; Mc.9:11).<br />
- É neste contexto, aliás, que se entende porque perguntaram a João Batista se ele era Elias (Jo.1:21), bem<br />
como terem alguns achado que o Senhor Jesus era Elias (Mt.16:14; Mc.8:28; Lc.9:19).<br />
- A tradição judaica, ainda, diante das profecias a respeito de Elias e do fato de o profeta não ter morrido,<br />
desenvolveu toda uma série de lendas e ideias a respeito do profeta. Assim, por exemplo, em toda<br />
circuncisão, é posta uma cadeira, que é “reservada a Elias”, pois, sendo ele o “anjo do concerto”, é crido que<br />
serve como testemunha de toda cerimônia de circuncisão, como testemunha de mais uma pessoa que passa a<br />
integrar o povo de Israel. Segundo tal tradição, isto seria como uma demonstração ao profeta de que, ao<br />
contrário do que dissera quando do episódio de sua depressão, Deus sempre reserva um remanescente fiel no<br />
meio de Seu povo.<br />
- Outra tradição judaica criada por causa deste papel do profeta Elias é a existente na refeição da cerimônia<br />
da Páscoa, o chamado “sêder”. Ali, sempre é posta na mesa uma taça de vinho que é “reservada para<br />
Elias”, pois, ante a discussão entre os rabinos se são necessárias quatro ou cinco taças de vinho na cerimônia,<br />
entendeu-se que se deve deixar a quinta taça “até a chegada de Elias”, prometida como algo que virá antes da<br />
vinda do Messias, para a elucidação da questão.<br />
- Entre os judeus, também, em algumas de suas orações, notadamente a “Havdalah”, que encerra o sábado e a<br />
“Birkat HaMazon”, que é a bênção proferida após as refeições, há menção à “vinda de Elias”, que é<br />
esperada antes da volta do Messias.<br />
- Como se pode perceber, portanto, a imagem de Elias está vinculada entre os judeus à “restauração de todas<br />
as coisas”, à vinda do Messias, sendo pois este o papel representado por Elias no imaginário de Israel, sua<br />
figura está vinculada à própria restauração espiritual, ao próprio final da lei, à própria instauração do “novo<br />
concerto” vaticinado pelo profeta Jeremias (Jr.32:37-40).<br />
OBS: Os muçulmanos consideram Elias (Yasin, em árabe) como profeta, um dos “justos” ou “íntegros” que, ao lado de Jesus, seriam os<br />
“pregadores da verdade” (Elias, Zacarias – o pai de João Batista, João Batista e o próprio Jesus) (6:85), que tiveram vidas solitárias e dedicadas a<br />
impedir a perdição de Israel, mas que foram rejeitados pelo povo. Segundo os místicos islâmicos, Elias e um outro profeta, chamado Kidr,<br />
anualmente se encontrariam em Jerusalém para <strong>continuar</strong> a peregrinação para Meca, imagem esta que reforça o papel de Elias como alguém zeloso<br />
pela observância da piedade. Elias é chamado no Alcorão como um dos “servos crentes” de Alá (37:130-132)<br />
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- Elias era, portanto (e ainda o é) ansiosamente aguardado pelo povo judeu, que o esperava como precursor do<br />
Messias. Era esta a esperança que acompanhava o povo de Israel nos dias de Nosso Senhor e Salvador Jesus<br />
Cristo.<br />
II – A TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS CRISTO<br />
- Visto o que representa a figura de Elias em Israel não só nos dias de Jesus Cristo mas até na atualidade,<br />
vamos, então, analisar o episódio da transfiguração do Senhor Jesus, para, então, analisarmos o significado da<br />
aparição de Elias neste sublime momento do ministério terreno do Senhor.<br />
- A transfiguração é mencionada nos três evangelhos sinóticos (Mt.17:1-8; Mc.9:2-8; Lc.9:28-26), a<br />
demonstrar, portanto, a sua importância no ministério terreno de Jesus e para o <strong>Ev</strong>angelho como um todo. É<br />
um momento em que o Senhor Jesus mostra toda a Sua divindade para os três discípulos mais íntimos, Pedro,<br />
Tiago e João, uma das passagens escriturísticas que demonstram, cabalmente, a divindade do Senhor Jesus.<br />
- Quando vemos as três narrativas da transfiguração que, como em todos os episódios a envolver o ministério<br />
terreno de Cristo Jesus, são complementares entre si, notamos que a transfiguração se deu num instante em<br />
que o Senhor Jesus tem Seu papel prontamente revelado aos discípulos por obra do Pai.<br />
- Com efeito, o episódio da transfiguração ocorreu seis dias depois que Pedro havia confessado que Jesus<br />
era o Cristo, o Filho de Deus vivo, a conhecida “confissão de Cesareia” (Mt.16:16), algo que obtivera por<br />
direta revelação do Pai (Mt.16:17), ocasião em que, pela vez primeira, o Senhor Jesus revelou aos discípulos a<br />
necessidade que havia de Ele morrer pelos pecadores (Mt.16:21), bem como dos próprios discípulos Seus<br />
terem de tomar a sua cruz para segui-l’O (Mt.16:24-28).<br />
- Esta correlação entre a confissão de Cesareia e a necessidade da morte de Jesus para o perdão dos<br />
pecados fica ainda mais evidenciada no evangelho segundo Marcos, que faz questão, também, de indicar o<br />
período de “seis dias depois” (Mc.9:2), algo que é raríssimo em seu escrito.<br />
- Lucas, por sua vez, também reafirma a conexão entre um episódio e outro, dando um prazo de “quase oito<br />
dias depois” entre um evento e outro (Lc.9:28).<br />
- A transfiguração de Jesus, portanto, está relacionada com a revelação do Senhor como o Cristo para<br />
os Seus discípulos, uma revelação completa e não apenas parcial. Assim, é absolutamente necessário, para se<br />
cumprir o ministério messiânico, que o Messias seja visto não apenas como o Rei, o Filho de Davi, mas<br />
também como o Servo Sofredor, Aquele que teria de padecer para expiar o pecado do mundo antes que venha<br />
reinar sobre Israel.<br />
- O Senhor Jesus precisava mostrar aos Seus discípulos que o Seu reino não era deste mundo (Jo.18:36),<br />
que não se poderia aguardar um Messias que tivesse por finalidade tão somente trazer independência política a<br />
Israel e reerguer o trono de Davi, mas, sim, que o papel do Cristo era muito mais sublime, tinha a ver com a<br />
própria restauração espiritual da humanidade, com o retorno à comunhão com Deus.<br />
- Por que chamou apenas estes três discípulos? Eram eles os discípulos mais íntimos do Senhor, que, não só<br />
desta vez, mas em outras oportunidades, tratou com eles de modo mais profundo do que em relação aos<br />
demais. Ademais, a estes três discípulos estavam reservadas tarefas especiais; Tiago seria o primeiro a ser<br />
martirizado; Pedro, aquele que deveria abrir a porta do <strong>Ev</strong>angelho tanto a judeus quanto a gentios; João,<br />
aquele a quem seria revelado o Apocalipse, o que morreria por último entre os apóstolos.<br />
- Como se não bastasse isso, Pedro havia sido o que o Pai escolhera para revelar que Jesus era o Cristo, o Filho<br />
do Deus vivo, mas que não admitira a ideia da morte e ressurreição do Senhor (Mt.16:22,23), enquanto que<br />
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Tiago e João eram os discípulos mais influenciados pela figura de Elias (Lc.9:54) e que compartilhavam de<br />
uma visão completamente terrena do reino de Deus (Mt.20:21; Mc.10:37).<br />
- Por isso, chamou à parte aqueles três discípulos e subiu com eles um monte. As Escrituras não dizem que<br />
monte era este, sendo que a tradição indica que teria sido o monte Tabor, “…uma colina de certa<br />
proeminência, localizada cerca de 16 km a sudoeste do mar da Galileia, no vale de Jezreel. Chega a 562 m de<br />
altitude acima do nível do mar…” (CHAMPLIN, R.N. Monte Tabor. In: Dicionário de Bíblia, Filosofia e<br />
Teologia, v.4, p.353). Sua proximidade com Cesareia, onde se deu a confissão de Pedro, indicaria que seria<br />
este o lugar para onde os discípulos teriam ido num espaço de apenas seis dias.<br />
- O fato de Jesus ter escolhido subir a um monte para se transfigurar não deve ser fator de surpresa nem muito<br />
menos uma demonstração de que “o monte é um lugar mais santo”, como, lamentavelmente, muitos estão a<br />
defender em nossos dias, onde há verdadeira “idolatria do monte”, algo que deve ser evitado pelos genuínos e<br />
autênticos servos de Deus, que O adoram em espírito e em verdade e não dependem de montes para adorar (cf.<br />
Jo.4:21-24).<br />
- Jesus queria um local retirado para Se manifestar em glória e, nos Seus dias, tais lugares eram,<br />
geralmente, os montes. Por isso, vemos o Senhor Jesus sempre Se retirando para um monte quando queria<br />
um local isolado e privado para poder Se comunicar com o Pai. Foi, aliás, este o ensino que nos deixou com<br />
relação à oração, mandando-nos sempre estar um local onde pudéssemos desfrutar de um momento de<br />
intimidade com Ele em oração (Mt.6:6).<br />
OBS: “…Se agora nos interrogarmos acerca da interpretação a dar então imediatamente aparece o simbolismo geral do monte como pano de<br />
fundo: o monte como lugar da subida — não apenas da subida exterior, mas também da interior. O monte como libertação do peso de cada dia,<br />
como respiração do ar puro da criação; o monte que oferece o panorama para a vastidão e para a beleza da criação; o monte que me dá elevação<br />
interior e me permite pressentir o Criador.…” (BENTO XVI. Jesus de Nazaré, primeira parte: do batismo à transfiguração, p.263).<br />
- Uma vez no monte, na companhia destes três discípulos, o Senhor se transfigurou diante deles, enquanto<br />
orava (Lc.9:28). A expressão traduzida por “transfigurou-se” é a palavra grega “metemorfote”<br />
(μετεμορφώθη), que nos lembra a palavra “metamorfose”, que é “uma mudança de forma”, uma<br />
“transformação”, não uma mudança de essência. Jesus, então, mostrou quem Ele era, não Se tornou em<br />
outrem. Apenas modificou a Sua forma, para mostrar toda a Sua glória aos discípulos mais íntimos.<br />
- É interessante notar que o apóstolo Paulo bem nos explica esta circunstância, ao dizer que Jesus era “em<br />
forma de Deus” (Fp.2:6), aniquilando-Se a Si mesmo e tomando “a forma de servo, fazendo-Se semelhante<br />
aos homens” (Fp.2:7). Assim, na transfiguração, o Senhor Se despiu desta “forma humana” e Se mostrou em<br />
Sua “forma de Deus” a Pedro, Tiago e João.<br />
- Na transfiguração, Jesus mostrou que Ele era a luz dos homens (Jo.1:4), a luz do mundo (Jo.8:12;<br />
12:46), o Sol da justiça (Ml.4:2), tanto que Seu rosto passou a resplandecer como o sol e os Seus vestidos se<br />
tornaram brancos como a luz, como a neve, numa brancura sem igual que nenhum lavandeiro da terra os<br />
poderia branquear (Mt.17:2; Mc.9:3; Lc.9:29).<br />
- “…A transfiguração é um acontecimento da oração; torna-se claro o que acontece o que acontece no<br />
diálogo de Jesus com o Pai; a mais íntima penetração do Seu ser com Deus, que se torna pura luz. Na Sua<br />
unidade de ser com o Pai, o próprio Jesus é luz de luz. O que Ele é no Seu mais íntimo, e o que Pedro tentou<br />
dizer na sua confissão, torna-se sensivelmente perceptível nesse momento: o ser de Jesus na luz de Deus, a<br />
luminosidade própria da Sua condição de ser Filho.…” (BENTO XVI. Jesus de Nazaré, primeira parte: do<br />
batismo à transfiguração, p.264).<br />
- A transfiguração de Jesus mostra que Ele é Deus, pois a glória adveio do Seu próprio interior. “… As<br />
informações que temos indicam que a luz não brilhou sobre Jesus, como se viesse de uma fonte luminosa<br />
exterior, mas veio principalmente de dentro d’Ele.…” (CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento<br />
interpretado versículo por versículo, com. Mt.17:2, v.1, p.452). O espetáculo é ainda mais sublime quando se<br />
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entende que o episódio se deu durante a noite, pois era costume do Senhor Jesus orar à noite (cfr. Lc.6:12;<br />
22:39; Mt.14:23,24).<br />
- “…Aqui se torna evidente a relação e a diferença a respeito da figura de Moisés: ‘Enquanto Moisés descia do<br />
monte, ele não sabia que a pele do seu rosto irradiava luz, porque ele tinha falado com o Senhor’ (Ex.34:29-<br />
35). Por meio do diálogo com Deus, a luz de Deus brilha sobre ele e o torna também brilhante. Mas é, por<br />
assim dizer, um brilho que vem de fora sobre Moisés, que faz que ele também brilhe. Porém Jesus brilha a<br />
partir do interior, Ele não só recebe a luz, Ele mesmo é luz da luz.…” (BENTO XVI, ibid.).<br />
- Jesus mostra aos discípulos, portanto, que Ele não é um simples homem, mas o Cristo, o Filho de Deus vivo<br />
que havia sido confessado por Pedro, mediante revelação do Pai. Ao mostrar a Sua divindade, a Sua glória, o<br />
Senhor Jesus mostra aos discípulos que vinha, sim, estabelecer um reino, um reino glorioso, não apenas um<br />
reino terrestre, como era a esperança da maior parte dos judeus, inclusive dos discípulos.<br />
- É neste instante que aparecem dois varões que começam a falar com o Senhor Jesus, varões estes que são<br />
identificados como Elias e como Moisés (Mt.17:3; Mc.9:4; Lc.9:30). “…Tem havido muita discussão sobre<br />
como os discípulos reconheceram os personagens como Moisés e Elias. Naturalmente que a visão incluiu o<br />
reconhecimento desses personagens(…). A experiência mística, especialmente do tipo acompanhado por<br />
alguma visão, traz consigo mesma a sua interpretação, o sentido e as razões da visão…” (CHAMPLIN,<br />
Russell Norman. op.cit., com. Mt.17:3, p.453).<br />
- “…o Senhor aparece em glória e Moisés e Elias com Ele. Um, o legislador dos judeus; e o outro, igualmente<br />
distinto, o profeta que procurou reconduzir as dez tribos apóstatas do culto de Jehovah, e que, desesperando do<br />
povo, voltou para Horeb, de onde a lei tinha saído, e foi em seguida levado para o Céu, sem passar pela morte.<br />
Estes dois personagens eminentes por excelência nas relações de Deus com Israel, um fundador, o outro<br />
restaurador do povo segundo a lei, estes dois homens aparecem com Jesus.…” (DARBY, John Nelson.<br />
Estudos sobre a Palavra de Deus: Mateus-Marcos, pp.124-5).<br />
- A aparição de Moisés e de Elias traz-nos muitas lições. A primeira é que, tendo Jesus Se transfigurado,<br />
aparecido em toda a Sua deidade, apresenta-se como Deus e, portanto, pode, nesta condição, entrar em contato<br />
com quem já passou para o mundo da eternidade, “in casu”, com Moisés, que morreu e foi sepultado, e com<br />
Elias, que nunca morreu mas foi trasladado para o além. Enquanto homem, Jesus jamais poderia entrar em<br />
contato com o além, mas, enquanto Deus, Ele é sempre Deus de vivos e não, de mortos (Mc.12:27).<br />
Observemos, aliás, que somente Jesus conversou com Moisés e Elias, não os discípulos. Assim, não é<br />
possível a comunicação entre vivos e mortos, como defendem os espíritas e até os católicos romanos.<br />
- A segunda lição que a aparição de Moisés e de Elias nos dá é a de que “a lei e os profetas”, representados<br />
por ambos, encerra-se com a missão de Cristo, ou seja, a lei é integralmente cumprida por Cristo, não<br />
tendo, pois, mais qualquer vigência depois da morte de Jesus, exatamente o tema da conversa entre Jesus,<br />
Moisés e Elias (Lc.9:31). Confirma-se aqui o que o próprio Jesus anuncia no sermão do monte (Mt.5:17) e que<br />
será alvo de pormenorizado ensino pelo apóstolo Paulo em diversas passagens, mas, particularmente, na<br />
epístola aos gálatas (Gl.3), como também pelo escritor aos hebreus.<br />
- Jesus é a confluência da lei e dos profetas, como o próprio Senhor mostrará aos discípulos no caminho de<br />
Emaús, após a Sua ressurreição (Lc.24:25-27). Por isso, a glória que d’Ele se manifesta faz com que surjam ao<br />
Seu lado os dois “campeões da lei”, Moisés, aquele que foi escolhido para ser o medianeiro da lei ao povo e<br />
Elias, aquele que zelou de forma singular para que o povo retornasse à observância da lei pelo povo. Jesus era<br />
revelado pela lei, a lei nos conduz a Ele (Gl.3:24).<br />
OBS: “…O que o Ressuscitado explicará aos discípulos no caminho para Emaús aparece aqui claramente. A lei e os profetas falam com Jesus,<br />
falam de Jesus.…” (BENTO XVI. op.cit., p.265).<br />
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- A terceira lição que a aparição de Moisés e de Elias nos dá é a de que aos homens fiéis a Deus nesta vida<br />
está reservada a glória de Deus. É dito que Moisés e Elias apareceram com glória (Lc.9:31). Assim, se a<br />
glória exsurge do próprio interior de Jesus, ela foi transferida a Moisés e a Elias.<br />
- Quem olhasse para a vida de Moisés, certamente notaria haver nela uma grande frustração: o grande líder<br />
não pôde entrar na Terra Prometida. Entretanto, quando ele aparece com glória no monte, verifica-se que o<br />
fato de não ter entrado em Canaã (o que agora ocorria) não era nada diante da glória de que gozava por ter<br />
sido fiel ao Senhor.<br />
- Quem olhasse para a vida de Elias, certamente notaria haver nela também uma grande frustração: o profeta<br />
não tinha visto a derrocada da casa de Acabe e a erradicação do culto a Baal de Israel. Entretanto, quando ele<br />
aparece com glória no monte, verifica-se que o fato de não ter visto a idolatria erradicada de Israel (o que<br />
agora podia vislumbrar nesta aparição) não era nada diante da glória de que gozava por ter sido fiel ao<br />
Senhor.~<br />
- De igual maneira, nós, que temos servido fielmente ao Senhor, podemos estar certos que as aflições do<br />
tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada se perseverarmos até o fim<br />
(Rm.8:18). Aleluia!<br />
- A quarta lição que a aparição de Moisés e de Elias nos dá é a de que a glória de Deus somente se efetiva na<br />
vida do homem por causa da morte e ressurreição de Jesus. O cumprimento da lei, a sua superação exige o<br />
sacrifício de Jesus na cruz do Calvário pelos pecadores. O assunto da conversa entre Moisés e Elias era a<br />
morte e ressurreição de Jesus, que devia se cumprir em Jerusalém (Lc.9:31).<br />
- Aqui é oportuno observar que a palavra que a Versão Almeida Revista e Corrigida traduz por “morte” é a<br />
palavra grega “exodon” (έξοδον), ou seja, “êxodo”, como traduz a Bíblia de Jerusalém, ou “partida”, como<br />
traduzem a Nova Versão Internacional ou a Versão Almeida Revista e Atualizada.<br />
- A “partida” de Jesus, Seu “êxodo” representavam, naturalmente, a Sua paixão e morte, bem como a Sua<br />
ressurreição, como o Senhor Jesus havia revelado aos discípulos após a confissão de Pedro (Mt.16:21;<br />
Mc.8:31; Lc.9:22).<br />
OBS: “…O tema de Seu diálogo é a cruz, mas entendida de um modo envolvente como o êxodo de Jesus, cujo lugar devia ser Jerusalém. A cruz<br />
de Jesus é êxodo: partida desta vida, passagem através do ‘mar vermelho’ da paixão e ida para a glória, na qual permanecem os sinais das chagas.<br />
Deste modo, mostra-se claramente que o tema fundamental da lei e dos profetas é ‘a esperança de Israel’, o definitivo êxodo libertador; que o<br />
conteúdo desta esperança é o Filho do homem sofredor e servo de Deus, o qual sofrendo abre as portas para a liberdade e para a novidade. Moisés e<br />
Elias são eles mesmos figuras e testemunhas da paixão. Eles falam com o Transfigurado sobre aquilo que eles disseram na terra, sobre a paixão de<br />
Jesus. Mas, à medida que falam com o Transfigurado, torna-se claro que esta paixão traz redenção; que Ele foi penetrado pela glória de Deus; que a<br />
paixão será mudada em luz, em liberdade e alegria…” (BENTO XVI. op.cit., p.265).<br />
- <strong>Para</strong> que houvesse o cumprimento da lei e dos profetas, para que se pudesse restaurar espiritualmente não<br />
só Israel mas toda a humanidade, era absolutamente indispensável que Jesus sofresse, morresse e<br />
ressuscitasse ao terceiro dia, sem o que não poderia ser tirado o pecado do mundo. O Messias era,<br />
necessariamente, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, como havia anunciado João Batista ao<br />
apresentá-l’O solenemente para o povo (Jo.1:29).<br />
- Jesus mostrava toda a Sua glória àqueles três discípulos para que eles pudessem compreender que a<br />
glorificação exigia o sacrifício de Cristo no Calvário e que toda a lei e os profetas anunciavam esta verdade<br />
que era de difícil entendimento por parte dos discípulos, muito envolvidos que estavam apenas com uma ideia<br />
de restauração do reino davídico, de uma dimensão puramente terrena do ministério messiânico.<br />
- É, assim, elucidativo que os dois “campeões da lei” que tenham surgido tenham sido pessoas que não davam<br />
valor algum ao poder político, que não se notabilizaram no serviço a Deus pela realeza. Não foi Davi quem<br />
surgiu no monte, mas, sim, Moisés, que, embora tenha liderado o povo, jamais se arrogou a condição de rei,<br />
antes, pelo contrário, havia renunciado a pretensões dinásticas por ser filho da filha de Faraó para ficar do lado<br />
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do povo de Israel, bem como Elias, um profeta que contestara veementemente a dinastia reinante e que nem<br />
sequer participou pessoalmente sequer da unção da dinastia sucessora.<br />
- “…Ele transfigurou-Se! Apareceu na Sua glória e os discípulos veem-n’O! Mas Moisés e Elias partilham<br />
com Ele dessa glória, porque os santos do Antigo Testamento têm em Cristo, e pela Sua morte, uma parte na<br />
glória do Reino. Moisés e Elias conversam com Ele acerca de Sua morte (verso 31) [Lc.9:31]. No tempo deles,<br />
tinham falado de outras coisas. Tinham estabelecido a lei ou atuado para a ela conduzirem o povo, a fim de<br />
introduzirem a bênção. Mas agora, tratando-se de uma nova glória, tudo depende da morte de Cristo — e só<br />
dela. Tudo o mais ficou eclipsado…” (DARBY, John Nelson. Estudos sobre a Palavra de Deus: Lucas-João,<br />
p.74).<br />
- Ao terem aquela visão gloriosa, evidentemente que os três discípulos, nem poderia ser diferente, ficaram<br />
como que paralisados, sem ação, visto que estavam a contemplar a glória de Deus. Lucas, que é mais<br />
minudente, diz que os discípulos ficaram como carregados de sono e, quando despertaram, viram a glória de<br />
Cristo e dois varões que com Ele conversaram (Lc.9:32), a sugerir, portanto, que, durante a oração de Jesus, os<br />
discípulos haviam dormido.<br />
- Pedro, entretanto, impulsivo como era, não tardou em cessar aquele silêncio dos discípulos e, se dirigindo a<br />
Jesus (como homem, só a Jesus poderia Pedro se dirigir, pois era o único vivo que não pertencia ao além que<br />
ali estava), afirmou que era bom estarem ali e que, se o Senhor quisesse, poderia fazer três tendas, uma para o<br />
Senhor, outra para Moisés e outra, para Elias (Mt.17:4; Mc.9:5; Lc.9:33). É importante vermos que, em a<br />
narrativa de Lucas, Pedro só se dirige ao Senhor depois que Moisés e Elias se apartam do Mestre<br />
(Lc.9:33).<br />
- Esta expressão de Pedro é vista, nos <strong>Ev</strong>angelhos, como prova tanto de sua ignorância espiritual quanto<br />
do assombro que os tomara diante de tão gloriosa visão: ele não sabia o que dizia (Mc.9:6; Lc.9:33). O<br />
assombro não necessita de qualquer explicação, pois evidente.<br />
- Mas por que se estava diante de uma demonstração de ignorância espiritual? Diz John Nelson Darby que<br />
Pedro, “…surpreendido com esta aparição, alegre por ser o seu Mestre associado com estes pilares do sistema<br />
judaico, com servos de Deus e tão eminentes, ignorando a glória do Filho do homem e esquecendo a revelação<br />
da glória da Sua Pessoa como Filho de Deus (…) deseja (…) colocar Jesus, Moisés e Elias ao mesmo nível,<br />
como oráculos…”(Estudos sobre a Palavra de Deus: Mateus-Marcos, p.125). “…Pedro não vê senão a<br />
introdução de Cristo numa glória igual à de Moisés e de Elias, ligando esta, no seu espírito, à que cada um<br />
deles era para os judeus — e a ela associando Jesus…” (DARBY, John Nelson. Estudos sobre a Palavra de<br />
Deus: Lucas-João, p.74). É o mesmo erro cometido pelos muçulmanos que, no seu Corão, põem Jesus ao<br />
mesmo nível de Elias.<br />
OBS: Eis o trecho mencionado do Corão: “ E a Zacarias e a Yahia, João Batista, e a Jesus e a Elias — todos eram dos íntegros” (6:85)<br />
(Tradução do sentido do Alcorão para a língua portuguesa) (destaque original).<br />
- Alguns estudiosos entendem que a confissão de Pedro teve lugar no dia da expiação e que, portanto, a<br />
transfiguração tenha se dado já durante a festa dos tabernáculos, mais precisamente no último dia da festa,<br />
chamado de “Hoshana Rabah” (i.e., a Grande Hosana), o denominado “grande dia da festa” (Jo.7:37), o que<br />
explica a expressão de Pedro no sentido de se construírem três tendas, como se fazia por ocasião daquela<br />
festividade.<br />
- A Festa dos Tabernáculos ou Festa das Cabanas (em hebraico, “Sucot”) tinha a finalidade de fazerem os<br />
israelitas recordarem que haviam habitado em cabanas quando o Senhor os tirou da terra do Egito (Lv.23:43).<br />
Como afirma Nathan Ausubel, o último dia da festa, o Grande Hosana, era chamado pelos sábios judaicos de<br />
“… ‘o Dia do Ramo de Salgueiro’, pois era nesse dia que, com ramos de salgueiros nas mãos, os sacerdotes do<br />
Templo faziam sete vezes a volta aos altar em solene cortejo. Durante a Segunda Comunidade, o rito passou a<br />
associar-se com a promessa messiânica da redenção(…). Na sinagoga, naquela manhã, depois que se fazem os<br />
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sete círculos (hakafot…), com os lulavim [palmeiras, observação nossa] nas mãos, cada fiel bate<br />
vigorosamente com seus ramos de salgueiro na bimah (a plataforma elevada na sinagoga) até despojá-los de<br />
todas as folhas, enquanto a congregação entoa o hino ‘Uma Voz Traz Boas Notícias’. Esse hino proclama<br />
triunfalmente a promessa da vinda do Messias e do estabelecimento do Reino justo de Deus na terra.…”<br />
(Sucot. In: A JUDAICA, v.6, pp.840-1) (destaque original).<br />
- Bem se percebe, portanto, que Pedro, na sua expressão, associara o Senhor Jesus com Moisés e Elias,<br />
entendendo que estava para vir o estabelecimento do Reino, daí porque teriam vindo aqueles que, em sua vida,<br />
tiveram frustradas as suas expectativas, para serem assistentes privilegiados deste “grande dia”. No entanto,<br />
Pedro ainda tinha uma dimensão terrena do reino, persistia em sua inadmissibilidade a respeito da morte e<br />
ressurreição de Cristo, o assunto tratado por Moisés e Elias no seu diálogo com o Senhor transfigurado.<br />
- A realidade do reino de Deus exige de nós esta transcendência, este vislumbrar além do terreno, além do<br />
puramente material. É necessário que vejamos o reino de Deus e, para isto, é absolutamente necessário que<br />
nasçamos de novo (Jo.3:3), que estejamos além da lei, que vislumbremos a graça, que sejamos iluminados em<br />
nossa cegueira espiritual pela luz do <strong>Ev</strong>angelho da glória de Cristo (II Co.4:4), uma glória que nasça do nosso<br />
interior e, portanto, seja permanente e não uma glória transitória, como a que tomou conta do rosto de Moisés<br />
(II Co.3:13).<br />
- <strong>Para</strong> que Pedro não ficasse em seu equívoco, a Bíblia diz que, estando ele ainda a falar, uma nuvem luminosa<br />
os cobriu. “…Mas a glória de Deus manifesta-se; isto é, o sinal conhecido em Israel como morada (Shechinah)<br />
dessa glória; e a voz do Pai é ouvida. A graça pode colocar os Moisés e os Elias na mesma glória que o Filho<br />
de Deus e associá-los com Ele; mas se a estultícia do homem, na sua ignorância, pretende pô-los juntos, como<br />
tendo neles mesmos uma autoridade igual sobre o coração do fiel, o Pai tem de reivindicar imediatamente os<br />
direitos de Seu Filho. Nem um só instante se passa antes de a voz do Pai proclamar a glória da Pessoa de Seu<br />
Filho, a Sua relação com Ele mesmo, proclamando que Ele é o objeto de toda a Sua afeição, que encontra<br />
n’Ele todo o Seu prazer. É a Ele que os discípulos devem escutar. Moisés e Elias têm desaparecido. Cristo está<br />
ali só, como Aquele que deve ser glorificado, Aquele que deve ensinar aqueles que escutavam a voz do Pai. O<br />
próprio Pai o distingue, O apresenta à atenção dos discípulos, não como sendo digno do amor deles, mas como<br />
objeto das Suas próprias delícias. Em Jesus Ele se comprazia. Assim os afetos do Pai são-nos apresentados<br />
como regra para os nossos, oferecendo-lhes um objeto comum. Que posição para pobres criaturas como nós!<br />
Que graça!…” (DARBY, John Nelson. Estudos sobre a Palavra de Deus: Mateus-Marcos, p.125).<br />
- “…A nuvem sagrada, a shekhina, é o sinal da presença do próprio Deus. A nuvem sobre a tenda da revelação<br />
mostrava a presença de Deus. Jesus é a tenda sagrada, sobre a qual está a nuvem da presença de Deus e a partir<br />
daí ‘cobre os outros com a Sua sombra’. Repete-se a cena do batismo de Jesus, no qual o próprio Pai, a partir<br />
do interior da nuvem, proclamou Jesus como Filho:’ Tu és o Meu Filho muito amado. Em Ti pus a Minha<br />
complacência (Mc.1:11). Mas a esta solene proclamação da filiação acrescenta-se agora o imperativo: ‘A Ele<br />
deveis escutar’. Aqui se torna evidente a relação com a subida de Moisés no Sinai(…). Moisés tinha recebido<br />
sobre o monte a Tora, a Palavra de Deus. Agora nos é dito acerca de Jesus: ‘Deveis escutá-l’O’ (…). Jesus é a<br />
Tora mesma(.…). A aparição está assim terminada, o seu sentido mais profundo está resumido nesta palavra.<br />
Os discípulos devem descer outra vez com Jesus e aprender sempre:é a Ele que deveis escutar.…” (BENTO<br />
XVI. op.cit., p.269) (destaques originais).<br />
- “…’E a voz, fazendo-se ouvir, Jesus ficou só’ (versos 30-36). A glória do Reino celeste e a morte de Jesus<br />
são imediatamente colocadas em estreita relação.(…). Os discípulos devem escutá-l’O, a Ele só. A relação<br />
de Moisés e de Elias com Jesus na glória dependia da rejeição do testemunho deles pelo povo ao qual eles se<br />
tinham dirigido no seu tempo.(…). A nuvem onde o Eterno habitava em Israel, Jesus introduzi ali os<br />
discípulos, como testemunhas. Moisés e Elias desaparecem. E tendo Jesus introduzido os Seus discípulos<br />
muito perto da glória, o Deus de Israel manifesta-Se como Pai, reconhecendo Jesus como sendo o Filho em<br />
quem Ele encontra as Suas delícias. Assim, tudo é mudado nas relações de Deus com o homem (…) os<br />
discípulos, embora ainda neste mundo, encontram-se já associados com a morada de glória de onde o próprio<br />
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Jehovah tinha, desde sempre, protegido Israel. Jesus, o Filho de Deus, ali estava com eles. Que posição, que<br />
extraordinária mudança para eles! É, com efeito, a transformação em glória celeste do que havia de mais<br />
excelente ho judaísmo — a transformação que se operava nesse momento para tornar novas todas as<br />
coisas.…” (DARBY, John Nelson. Estudos sobre a Palavra de Deus: Lucas-João, pp.74-5).<br />
- Podemos, pois, perceber, mediante estes textos selecionados que a aparição da nuvem e da voz do Pai<br />
mostrou aos discípulos, de forma claríssima, que Jesus era superior a Moisés e a Elias, que não deviam<br />
os discípulos se prenderem à lei e aos profetas, mas seguirem a Cristo, o cumprimento da lei e dos profetas,<br />
cumprimento este que exigia a Sua morte e ressurreição.<br />
- Tal glória, entretanto, não poderia ser revelada a não ser após a morte e ressurreição de Cristo, quando,<br />
então, aquela cena poderia ser divulgada pelos discípulos, como demonstração de que, efetivamente, Jesus era<br />
o Cristo, o Rei, o Salvador da humanidade, coisa que o apóstolo Pedro cumpriu literalmente, não só sendo a<br />
fonte para os escritos dos <strong>Ev</strong>angelhos, mas, em uma de suas cartas, quando recordou esta passagem, como<br />
comprovação de que ele havia contemplado a majestade do Senhor no monte santo (II Pe.1:16-18), quando<br />
teve o entendimento de que d’Ele falavam os profetas (II Pe.1:19-21).<br />
III – O PAPEL DE ELIAS NA TRANSFIGURAÇÃO<br />
- Pedro, Tiago e João haviam contemplado a glória de Cristo, haviam percebido a Sua deidade e a sua<br />
supremacia em relação à lei e aos profetas. Não obstante, quando desceram do monte, ainda refletindo sobre a<br />
grandiosa experiência vivida, veio-lhes uma indagação: mas, se Jesus é o Messias, por que Elias não veio<br />
primeiro? Haviam visto Elias no monte, falando com o Senhor, mas por que Elias não tinha vindo antes?<br />
- Temos aqui a comprovação de que estes três discípulos, assim como todo o povo judeu, aguardava<br />
ansiosamente a vinda de Elias como o precursor do Messias, esperança que acompanha até hoje os judeus, já<br />
que rejeitaram a Cristo Jesus como o Messias.<br />
- Como bons alunos, os discípulos haviam entendido que Jesus era o Messias, que a Ele deveriam ouvir com<br />
exclusivamente, que a lei e os profetas anunciavam-n’O, mas e as profecias de Malaquias a respeito de Elias?<br />
E as tradições surgidas a este respeito?<br />
- O Senhor Jesus legitimou esta indagação dos discípulos, pois imediatamente após esta afirmação, passa a<br />
explicar-lhes a respeito. Isto nos serve, amados, de importante lição: quando não entendermos algum trecho da<br />
Escritura, alguma doutrina, algo que não conseguirmos elucidar, não há melhor intérprete das Escrituras do<br />
que o Senhor Jesus. Busquemos a Sua face e, certamente, quando, em oração e meditação nas Escrituras,<br />
buscarmos entendê-las, o Espírito Santo, que o Senhor Jesus nos mandou para nos ensinar, tratará de nos<br />
revelar a Sua Palavra.<br />
- Por primeiro, o Senhor Jesus chancelou tudo quanto Malaquias falou a respeito de Elias. O Senhor disse<br />
que Elias tinha de vir primeiro, sim. Percebamos, amados, que a conduta do Senhor Jesus não foi<br />
“contextualizar”, nem “reinterpretar” o que havia sido escrito. Não, não e não! O Senhor sempre atestou a<br />
autenticidade e a veracidade das Escrituras, a ponto de chamá-las de Verdade (Jo.17:17). Se queremos ser<br />
imitadores de Cristo, devemos, portanto, sempre crer nas Escrituras, jamais querer distorcê-las ou desprezálas,<br />
como muitos têm feito em nossos dias.<br />
- O Senhor Jesus foi claro ao apontar que, antes do Messias, tinha de vir Elias, que tinha a incumbência de<br />
“restaurar todas as coisas” (Mt.17:11; Mc.9:12). Notamos aqui que o ministério de Elias prosseguia com<br />
outras pessoas, a partir de Eliseu, sempre no papel de restauração espiritual, restauração esta, entretanto, que<br />
só poderia ser definitiva com o Messias, com Sua morte e ressurreição.<br />
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- É então que o Senhor Jesus explica aos discípulos que Elias já tinha vindo e que haviam feito com ele o<br />
que quiseram, assim como fariam com o Filho do homem. E os discípulos, então, compreenderam que lhes<br />
havia falado de João Batista (Mt.17:13), pois, antes, o Senhor Jesus, ao falar de João Batista, já lhes havia<br />
ensinado que ele era o Elias que havia de vir (Mt.11:14).<br />
- Alguém, ao ouvir estas palavras do Senhor Jesus, procura ver aí uma contradição bíblica, pois João Batista,<br />
ao ser confrontado com os sacerdotes e levitas provenientes de Jerusalém, indagado se era Elias, respondeu<br />
que não o era (Jo.1:21).<br />
- No entanto, não há qualquer contradição. Os sacerdotes e levitas, ao indagarem João Batista se ele era Elias,<br />
estavam perguntando ao profeta se ele era a pessoa de Elias, pois, como se cuidava, Elias, que não havia<br />
morrido, voltaria à Terra para preparar o caminho do Messias. Ora, João Batista não era a pessoa de Elias,<br />
tratava-se de uma outra pessoa, de forma que não poderia, mesmo, responder afirmativamente a esta<br />
indagação dos sacerdotes e levitas.<br />
- Isto, inclusive, é importante porque os espíritas, notadamente os espíritas kardecistas, defendem a tese de que<br />
João Batista era a reencarnação de Elias, tese esta também defendida pelos baha’i, que afirmam, inclusive, que<br />
Elias teria reencarnado novamente no profeta Bab (Siyyid Ali Muhammad Shirazi – 1819-1850), cujo<br />
movimento religioso deu origem, posteriormente, à Fé Baha’i.<br />
- Entretanto, além de João Batista ter negado que fosse Elias, o que bastaria para afastar esta tese kardecista, é<br />
também importante verificar que existem, pelo menos, três outras razões para que não se possa conceber que<br />
João Batista seja Elias reencarnado, a saber: por primeiro, Elias simplesmente não morreu e, portanto, como a<br />
reencarnação exige a morte, não poderia haver reencarnação de Elias; por segundo, se a reencarnação leva a<br />
pessoa a um estágio melhor, por que João Batista, reencarnação de Elias, iria morrer se Elias não morreu?; por<br />
terceiro, se João Batista fosse Elias reencarnado, deveria aparecer João Batista e não Elias no monte da<br />
Transfiguração, pois, quando da transfiguração, João Batista já havia morrido.<br />
- Quando do anúncio do nascimento de João Batista, o anjo Gabriel já confirma que o Elias que havia de vir<br />
era o próprio João, pois, em sua mensagem ao sacerdote Zacarias, pai do menino, disse que o menino ”…não<br />
beberá vinho nem bebida forte, será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe, e converterá muitos<br />
dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus, e irá adiante d’Ele no espírito e virtude de Elias, para converter os<br />
corações dos pais aos filhos e os rebeldes à prudência dos justos com o fim de preparar ao Senhor um povo<br />
bem disposto” (Lc.1:15-17).<br />
- Quando do nascimento de João Batista, seu pai, Zacarias, tomado pelo Espírito Santo, profetizou a respeito<br />
da natureza do ministério do profeta, dizendo, claramente, que João seria chamado “…profeta do Altíssimo,<br />
porque hás de ir ante a face do Senhor, a preparar os Seus caminhos, para dar ao Seu povo conhecimento da<br />
salvação, na remissão dos seus pecados, pelas entranhas de misericórdia do nosso Deus, com que o Oriente do<br />
alto nos visitou, para alumiar aos que estão assentados em trevas e sombra da morte, a fim de dirigir os nossos<br />
pés pelo caminho da paz” (Lc.1:76-80)<br />
- Não há, pois, dúvida alguma de que João Batista era o Elias que havia de vir, o precursor do Messias,<br />
sendo, portanto, não só a continuidade mas a própria complementação do ministério de Elias que,<br />
iniciando-se com o próprio profeta, teve continuidade com Eliseu e encontra, posteriormente, em João o seu<br />
ápice.<br />
OBS: “…Jesus confirma, por um lado, a expectativa do regresso de Elias, mas completa e corrige ao mesmo tempo a imagem que dele se fazia.<br />
Ele identifica em surdina Elias, que havia de voltar com João Batista: na ação de João Batista acontece o regresso de Elias.…” (BENTO XVI.<br />
op.cit., p.266).<br />
- A presença de Elias no monte da Transfiguração serviu, portanto, como um elemento que elucidaria aos<br />
discípulos de Jesus a esperança existente na vinda de Elias como precursor do Messias.<br />
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- Elias aparece no monte da Transfiguração para demonstrar aos discípulos que o papel de todos os<br />
profetas, que se encerraram com João, que tinha vindo no espírito e virtude de Elias, era o de “preparar<br />
um povo bem disposto”, de anunciar a vinda do Messias, de preparar o povo para o arrependimento de<br />
pecados, para a conversão, para a observância da lei, a fim de que pudessem receber o Senhor.<br />
- Elias surge no monte da Transfiguração como figura e tipo de todos os profetas (sim, até nesta aparição,<br />
Elias vê reconhecida a sua condição de um profeta, não exclusivo como pensara equivocadamente quando do<br />
episódio de sua depressão), que foram homens levantados por Deus para dar a Israel uma revelação<br />
progressiva até a chegada do Messias, a partir do qual não haveria mais profetas, visto que seria Ele, Cristo<br />
Jesus, o próprio Deus, a revelação completa do Senhor, a própria autorrevelação do Senhor (Hb.1:1).<br />
- Elias, como diz o nosso comentarista, é, no monte da Transfiguração, um mero coadjuvante, uma<br />
personagem secundária, visto que toda a proeminência está em Cristo Jesus. É esta a sua exata dimensão,<br />
precisamente por causa de seu gigantismo espiritual.<br />
- A aparição de Elias no monte da Transfiguração serve-nos, portanto, de importante lição para que<br />
ouçamos única e exclusivamente ao Senhor Jesus, não admitindo que qualquer “profeta”, “visionário”<br />
ou qualquer outra revelação seja aceita a partir da vinda do Senhor Jesus e de Sua revelação nas<br />
Escrituras Sagradas.<br />
- Desta maneira, são completamente espúrias todas as demais “revelações” que advieram depois de Cristo<br />
Jesus, pois ninguém mais pode revelar algo de Deus além de Cristo, nem mesmo Elias que, no monte da<br />
Transfiguração, com seu diálogo com o Senhor, patenteeou que tudo quanto foi profetizado tinha como<br />
objetivo o Senhor Jesus, que, com Sua morte e ressurreição, pode nos fazer compartilhar da glória do Pai.<br />
- Assim, não se pode crer no que diz a fé baha’i, pois Elias não reencarnaria para trazer novas revelações. Não<br />
se pode crer, também, nas revelações supostas que Elias trouxe a Joseph Smith, fundador do mormonismo,<br />
pois nada mais Elias teria a revelar após o ministério terreno de Jesus Cristo.<br />
- Na sua última aparição, lá no monte da Transfiguração, Elias dialoga com o Senhor Jesus a respeito da<br />
morte e ressurreição do Senhor, pois é neste episódio, em Cristo, que tem lugar a verdadeira<br />
restauração, a definitiva restauração espiritual não só de Israel mas de todo o povo. O zelo de Elias é<br />
coroado com este diálogo, quando o profeta fica ciente de que a restauração que ele tanto queria finalmente se<br />
produziria com o sacrifício de Jesus na cruz do Calvário.<br />
- Com esta aparição de Elias no monte da Transfiguração, nós também ficamos cientes de que, se formos fiéis<br />
ao Senhor, perseverantes e obedientes, mesmo apesar de todas as decepções e agruras desta vida, também<br />
podemos ter a certeza de que não só desfrutaremos da glória de Deus para todo o sempre, mas que, também,<br />
nosso trabalho não será em vão, como, aliás, nos faz ver o apóstolo Paulo em I Co.15:57,58, precisamente “o<br />
capítulo da ressurreição”, pois é a ressurreição de Cristo que dá sentido à nossa fé e ao nosso serviço. Será que<br />
temos aprendido esta lição?<br />
Colaboração para o portal Escola Dominical - <strong>Ev</strong>. Dr. <strong>Caramuru</strong> <strong>Afonso</strong> Francisco<br />
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