Elites Políticas Limoeirenses: Ações e Discursos rumo a ... - anpuh
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<strong>Elites</strong> <strong>Políticas</strong> <strong>Limoeirenses</strong>: <strong>Ações</strong> e <strong>Discursos</strong> <strong>rumo</strong> a uma<br />
consolidação. (1930- 1945)<br />
Cintya Chaves *<br />
Resumo: Este trabalho tem como proposta discutir as ações e os discursos que legitimaram e<br />
deram ordem e significado a um processo político desempenhado por uma família Limoeirense,<br />
no caso, a família Chaves, em prol de consolidar os espaços que já tinham conquistado e que<br />
possibilitavam oportunidades singulares em relação aos outros sujeitos. O mesmo ainda<br />
vislumbra estratégias que esta família articulou em prol de ampliar estes espaços, com o<br />
objetivo de cada vez mais serem detentores do poder político não só municipal, mas também<br />
estadual. Para isto, foram utilizados como fontes cartas pastorais, bem como outros documentos<br />
de caráter eclesiásticos, livros memorialísticos, entrevistas e acervos orais.<br />
Palavras- Chave: Elite, Cultura Política, meios de poder.<br />
Prelúdio<br />
As presentes linhas, e as que hão de vir, ensaiam estudar o protagonismo das<br />
elites políticas de Limoeiro do Norte, traduzido através da atuação de uma família, que<br />
tem por sobrenome, Chaves, no período de 1930 a 1945. 1 Este caráter ensaístico<br />
“revela-se” pelo fato de esta pesquisa estar em sua fase inicial. Não obstante a maior<br />
parte das fontes já estarem catalogadas e, minimamente, inventariadas, nem todas foram<br />
contempladas pelo o processo de análise. Além disto, as problematizações bem como as<br />
reflexões acerca do objeto, se encontram em etapa de maturação.<br />
Mesmo sabendo de todas as ressalvas que a historiografia possui ao termo elite,<br />
e das implicações do fazer historiográfico, as lacunas, as seleções dos fatos, o dito e o<br />
não dito, a escrita acerca do objeto, este trabalho, almeja contribuir para a historiografia<br />
cearense a respeito do estudo das elites locais e da proficiência deste conceito, como<br />
chave de leitura para o historiador.<br />
Nesse sentido, é importante esclarecer a compreensão deste estudo no que diz<br />
respeito ao termo elite:<br />
* Mestranda em História e Culturas pela Universidade Estadual do Ceará, integrando a linha de pesquisa,<br />
Memória, Oralidade e Cultura Escrita. Bolsista CAPES. Este artigo é fruto de pesquisas prévias no<br />
processo de elaboração da dissertação intitulada, <strong>Elites</strong> <strong>Políticas</strong> <strong>Limoeirenses</strong>: estratégias e discursos<br />
para novos espaços de atuação e poder (1934 – 1972), sob a orientação do Prof. Dr. William James<br />
Mello.<br />
1 No tocante a seleção espacial para este trabalho, o município de Limoeiro se situa na região do Baixo<br />
Jaguaribe, estado do Ceará. Quanto ao recorte temporal, de 1930 a 1945 se justifica essencialmente<br />
devido ao caráter inicial da pesquisa.
[...] O termo elite corresponde a “minoria que dispõe, em uma sociedade<br />
determinada, em um dado momento, de privilégios decorrentes de qualidades<br />
naturais valorizadas socialmente (por exemplo, a raça, o sangue etc.) ou de<br />
qualidades adquiridas (cultura, méritos, aptidões, etc.)”. O termo pode<br />
designar tanto o conjunto, o meio onde se origina a elite (por exemplo, a<br />
elite operária, a elite da nação), quanto aos indivíduos que a compõem, ou<br />
ainda a área na qual se manifesta sua preeminência plural, a palavra<br />
“elites” qualifica todos aqueles que compõem o grupo minoritário que ocupa<br />
a parte superior da hierarquia social e que se arrogam, em virtude de sua<br />
origem, de seus méritos, de sua cultura ou de sua riqueza, o direito de dirigir<br />
e negociar as hierarquia social e que se arrogam, em virtude de sua origem,<br />
de seus méritos, de sua cultura ou de sua riqueza, o direito de dirigir e<br />
negociar as questões de interesse da coletividade [...] (BUSINO, APUD<br />
HEINZ, 2006)<br />
Sobre o estudo das elites 2 , compreende-se ainda que os indivíduos não são elites, mas<br />
estão como elites, portanto, a condição básica das análises da elite apresenta-se na<br />
dimensão de que esta possui um caráter eminentemente posicional, tanto de poder<br />
quanto de status.<br />
Para tanto, a ampliação de poderes, dentre as muitas possibilidades, proporciona<br />
ao indivíduo ou aos indivíduos, novos contatos na esfera, no caso política, tendo como<br />
estratégia a constituição de um grupo cada vez mais coeso, pelo menos é o que se é<br />
demonstrado socialmente, diante da ação política e ideológica. Vale ressaltar que esta<br />
ideia de transmitir, de se apresentar socialmente como um grupo coeso, tem como<br />
propósito fundamental, o de demonstrar para a sociedade, em especial no caso das elites<br />
políticas, para a população votante, como o grupo mais equilibrado, como a melhor<br />
opção de governo para a comunidade.<br />
No caso, dos Chaves, eles usaram e ainda usam através da produção de livros de<br />
memória, a ideia de família unida, da hereditariedade, ou seja, que vem do sangue, “o<br />
dom” que os membros desta família possuem para administrar politicamente os cargos<br />
públicos. Assim, a elite é um grupo; apesar de estar composta de indivíduos, ela se<br />
comporta como grupo. (BORGES, 2011).<br />
2 Sobre a teoria das elites atribui-se aos italianos Vilfredo Pareto (1848-1923); Gaetano Mosca (1858-<br />
1941), principalmente, mas também ao alemão Robert Michels (1876- 1936), o “mérito” de sua<br />
formulação.<br />
2
“Rastros Impressos”: Conhecendo os Personagens<br />
Um irmão de Sindulfo e do Pe. Climério, Leonel Chaves, que morreu em<br />
1919, tornou-se deputado, dando cobertura estadual, em Fortaleza, ao<br />
domínio dos Chaves, em Limoeiro. [...] Além da dominação cartorial, os<br />
Chaves controlavam, muitas vezes, através dos vigários da paróquia, o<br />
poder eclesiástico. [...] (LIMA, 1997: 322- 323)<br />
Judite Chaves, José Gondim Chaves e Franklin Chaves são irmãos e filhos de<br />
Sindulfo Freire Chaves e de Dulcinéia Gondim Chaves. O pai destes foi agropecuarista,<br />
gerente dos bondes de burros, em Fortaleza e prefeito de Limoeiro nos anos de<br />
1933/1934. A mãe foi professora. Judite Gondim Chaves casou-se em 1924 com<br />
Custódio Saraiva Menezes, que de 1935 a 1936 exerceu o seu primeiro mandato como<br />
prefeito eleito de Limoeiro, e o seu segundo mandato durante oito anos de governo,<br />
1937 a 1945, como interventor. Assim, Judite passaria a se chamar Judite Chaves<br />
Saraiva. Esta foi indicada pelo padre Manoel Caminha Freire de Andrade, conseguindo<br />
a liderança da Liga Eleitoral Católica: “Durante várias décadas, dona Judite comandou<br />
com sabedoria e equilíbrio, o seu grupo político, elegendo vários prefeitos e dezenas de<br />
vereadores”. (NUNES, 2006: 32 - 40).<br />
Ao observarmos o jogo político, nota-se que a prefeitura de Limoeiro, durante a<br />
maior parte do período varguista, esteve sob o mando da família Chaves, do sogro para<br />
o genro, e com outros membros da família e aliados muito próximos compondo a<br />
bancada de vereadores. Destarte, percebemos uma elite atuando na arena política de<br />
Limoeiro. Mas será que se tratava de um grupo qualquer? Qual o lugar social que a<br />
família Chaves já ocupava? Quais estratégias esse grupo traçou? Conforme Lauro de<br />
Oliveira Lima:<br />
[...] Com a instalação da vila (1873), intensifica-se a liderança dos Chaves,<br />
(São João), com a nomeação de Serafim Tolentino Freire Chaves, tabelião e,<br />
posteriormente, comandante da Guarda Nacional. [...] Permaneceu como<br />
líder até 1914, quando faleceu. [...] O controle do poder, na comunidade,<br />
oscilava sempre entre os detentores da burocracia (sobretudo os cartórios) e<br />
os mercadores enriquecidos. [...] (LIMA, 1997: 318.)<br />
Para Oliveira Lima, Serafim Tolentino Chaves foi o patriarca dos Chaves, referindo-se<br />
ao fato deste ter sido o primeiro tabelião de Limoeiro. O tabelionato se constituiu<br />
relevante para que sua família se estabelecesse politicamente, por ser um importante<br />
3
componente de integração da matriz de poder 3 da época para se instituir como uma<br />
elite, como o próprio Oliveira evidencia. É necessário entender que o cartório<br />
possibilitava ações políticas que fortaleciam o controle centralizador da família Chaves:<br />
[...] O cartório jamais perdeu seu valor instrumental na manipulação dos<br />
alistamentos (aquisição do título de eleitor), de modo que, através dele, os<br />
Chaves, mesmo fora do poder, no Estado, continuavam a fraudar as eleições<br />
em Limoeiro, de fato que estourou, finalmente, na gestão de dona Judith,<br />
quando um juiz mandou proceder a uma devassa. [...] (LIMA, 1997: 338)<br />
Apesar da oscilação por alguns períodos do domínio exercido pelos Chaves à frente da<br />
administração municipal, constata-se que os mesmos, por décadas, por meio de Sindulfo<br />
Freire Chaves, filho de Tolentino Chaves, e os netos, José e, em especial, Judite e<br />
Franklin Chaves, filhos de Sindulfo, ocuparam no panorama limoeirense um controle,<br />
como já mencionado, não somente se estabelecendo, mas se consolidando, haja vista<br />
deterem o poder desde a emancipação do município.<br />
Segundo o historiador João Rameres Régis, nesses primeiros anos da década de<br />
1930, os Chaves estavam retomando a posição de mando, abalado com o evento da<br />
Revolução. Nesse sentido, juntamente com esta restabilização, a família ajustou e ao<br />
mesmo tempo ratificou uma cultura política:<br />
[...] Na década de trinta, mudou-se para a casa onde morou cinquenta e<br />
cinco anos, [...] Nela Judite e Custódio comemoraram as Bodas de Prata, as<br />
Bodas de Ouro; [...] Muitos outros eventos pôde-se registrar, tais como:<br />
festas religiosas, natais, [...], recepções e comemorações políticas. (FEIJÓ,<br />
2006: 28)<br />
Escrito por Lirete Saraiva, filha de Dona Judite, em homenagem ao centenário de sua<br />
mãe, esse trecho se torna revelador no que diz respeito ao dia-a-dia do ambiente mais<br />
“íntimo” constituído por esses agentes. Ou seja, nota-se que a casa de Judite se<br />
configurava como um espaço aglutinador da elite, em que os eventos da margem<br />
política como festejos, recepções realizavam-se em sua casa. Assim, nesta passagem<br />
3 É necessário compreendermos que o conceito de Elite é variável, o que entendemos ser elite na<br />
contemporaneidade não se relaciona da mesma forma com o que foi entendido no passado. O termo<br />
matriz de poder está relacionado ao termo, meios de poder, que possuem uma proporção dinâmica, ou<br />
seja, os meios de poder utilizados por uma elite no Império, na maioria das vezes não são os mesmos<br />
utilizado pela Elite, da ou na República. No caso, da família Chaves o comando do cartório se tornou<br />
meio que “transcendental” aos anos, sendo, portanto um meio de poder para se estabelecer e se consolidar<br />
nas diversas esferas sociais, em especial na área da política, em meio as supostas “rupturas”, na<br />
perspectiva do macro, como por exemplo, a Revolução de 1930.<br />
4
pode-se conjecturar que a casa foi instrumentalizada e instituída como um lugar da<br />
prática política dos Chaves, onde o público e o privado, em uma relação de<br />
entrelaçamento, mutuamente serviam para nutrição da força de ambas as dimensões.<br />
Outra filha de Judite, Lenira Saraiva, declara:<br />
[...] Em nossa casa, os mais humildes se sentiam amados e respeitados por<br />
ela e, os mais abastados, inclusive as lideranças políticas sentiam-se à<br />
vontade no meio de tamanha disponibilidade de dona Judite. Confesso que,<br />
quando era adolescente, me cansava e até reclamava de ter que ser<br />
simpática para toda aquela gente. Nossa casa assemelhava-se a um lugar<br />
público, onde tudo era de todos. [...] ( CASTRO, 2006: 31-32)<br />
Em sua narrativa permeada por afetividade devido aos laços de parentesco, Lenira<br />
Saraiva, “representa” a casa como um recinto em que a população se sentia à vontade<br />
para se achegar com os seus anseios. Ainda faz conhecer como tão bem Judite<br />
articulava esse espaço concebendo-o como ponto de intersecção para os diferentes<br />
grupos sociais. É de suma importância se perceber a força simbólica desse gesto, tanto<br />
de congregar os mais humildes, como os da mais alta renda em seu lar, convivendo com<br />
os diferentes grupos necessários para a manutenção e fortalecimento do poder da sua<br />
família política.<br />
Usando a imaginação histórica tem-se a impressão de que nessa época todas as<br />
ações, assim como as idealizações políticas, perpassavam a atmosfera da casa do<br />
prefeito. 4 Deve-se refletir ainda que tal ação era uma estratégia política que visava<br />
estabelecer laços de confiança tanto com os “dominantes” como com os “dominados”,<br />
pois a elite instituiu certos códigos para que assim pudesse estabelecer o seu domínio,<br />
em especial sobre a população. (HALEVY, 1982:11).<br />
Este proceder de Judite Chaves tornava consistentes os atos sociais e políticos,<br />
atribuindo, portanto, sentidos e significados aos processos políticos, isto é, essa relação<br />
próxima em especial com o povo tornava bem mais fácil a concretização de seus<br />
interesses e do seu cônjuge Custódio Saraiva, como do seu grupo em si. Assim, a<br />
conduta desta “família política”, tinha como consequência o êxito dos seus candidatos<br />
preferidos:<br />
[...] Os votos que ela conquistava eram mais dela do que do próprio<br />
candidato. Tratavam-se de votos de amizade, conquistados carinhosamente<br />
ao longo do tempo, entre ela e o eleitor. Um pedido de dona Judite aos seus<br />
4<br />
Pode-se hipoteticamente até pensar que talvez essa casa fosse usada mesmo quando a prefeitura não<br />
estava nas mãos dos Chaves.<br />
5
amigos e compadres era mais do que uma ordem. Mamãe, no meu modo de<br />
ver, foi a pessoas mais querida e conhecida na região jaguaribana, na época<br />
em que viveu. Também pudera, em nossa residência, costumava receber<br />
todos com muito carinho e atenção, oferecendo um cafezinho, uma merenda,<br />
um sorriso, um assento, um almoço, uma palavra amiga, um conselho, uma<br />
dica, enfim, tudo aquilo que a pessoa desejasse. É preciso notar que, estas<br />
boas ações, ela as realizava em todas as épocas, independentemente do<br />
período de eleição. [...] (CASTRO, 2006: 31)<br />
É interessante compreender que um dos aspectos “sutis” das estratégias utilizadas pela<br />
elite consistia na troca de vantagens por votos. Esses benefícios não correspondiam<br />
somente aos bens materiais como dar empregos ou até mesmo moradias, mas também<br />
em aspectos imateriais como tratamento privilegiado pelas autoridades seja bem “antes”<br />
da eleição, como no próprio período, intuindo que os eleitores se sentiriam “na<br />
obrigação moral (ou achariam que era de seu interesse) votar nos doadores – ou até de<br />
trabalhar em favor do partido doador.” (HALEVY, 1982: 20- 21)<br />
A este respeito, vale enfatizar os vínculos que se estabeleciam. Eles integram<br />
uma cultura política e ou uma moldura cultural no qual os diferentes atores sociais se<br />
movimentavam e estavam inseridos. Esses vínculos, provavelmente, eram mais<br />
permanentes, duradouros, e extrapolavam o período eleitoral que é mais fugaz, embora<br />
essas estratégias visassem sempre à vitória nos pleitos.<br />
A fidelidade dos indivíduos também se compunha importante para as disputas<br />
sociais, seja com os adversários nos mais diversos temas, desde a possibilidade de<br />
adquirir um lugar num órgão público para um correligionário, ou até mesmo o controle<br />
das organizações sociais que se criavam no município. O fato é que, nessa relação de<br />
um pedido de Judite aos seus amigos e compadres ser mais que uma ordem,<br />
perpassaram noções e sentidos que foram inteligíveis aos que atuavam nesse processo.<br />
A esse respeito Karina Kuschnir e Leandro Piquet Carneiro afirmam:<br />
[...] No nosso entender, a noção de cultura política refere-se ao conjunto de<br />
atitudes, crenças e sentimentos que dão ordem e significado a um processo<br />
político, pondo em evidência as regras e pressupostos nos quais se baseia o<br />
comportamento de seus atores [...] (KUSCHNIR &CARNEIRO, 1999: 1-<br />
33).<br />
Existiu uma relação bem demarcada entre os agentes envolvidos na tessitura<br />
política deste período, em Limoeiro. Essa obediência dos amigos à Dona Judite é bem<br />
típica da política mandonista, que para José Murilo de Carvalho:<br />
6
[...] Refere-se à existência local de estruturas oligárquicas e personalizadas<br />
de poder. O mandão, o potentado, o chefe, ou mesmo o coronel como<br />
indivíduo, é aquele que, em função do controle de algum recurso estratégico,<br />
em geral a posse da terra, exerce sobre a população um domínio pessoal e<br />
arbitrário que a impede de ter livre acesso ao mercado e à sociedade<br />
política. O mandonismo não é um sistema, é uma característica da política<br />
tradicional. [...] (CARVALHO, 1997)<br />
Esses amigos eram “privilegiados”, como afilhados, obtendo a proteção de Dona Judite.<br />
Nessa peça, cada um possuía o seu papel bem definido, pois a lógica da gratidão com<br />
relação aos favores recebidos e a proteção, elementos de uma relação duradoura e de<br />
vínculos instituídos na tradição política, que os mesmos se beneficiavam, era o fato de<br />
ceder o seu voto para os candidatos apoiados por dona Judite, intitulada por Lauro de<br />
Oliveira Lima como “mulher de cabelo na venta”:<br />
[...] É preciso destacar um personagem que atuou na vida política de<br />
Limoeiro, de forma contundente: dona Judith Chaves, mulher de “cabelo na<br />
venta”, esposa de Custódio Saraiva. Era chamada de “Coronel de Saia”.<br />
[...] Dona Judith era o cacique que se misturava com seus cabras como<br />
Maria Moura do romance de Rachel de Queiroz. Querida por seus<br />
correligionários, odiada pelos adversários, pairava acima da maledicência<br />
municipal. (LIMA, 1997: 333 – 334)<br />
Dona Judite foi descrita, como quem exercia o poder político, usando dessas<br />
relações de dependências, desses mecanismos de aquisição e de reprodução do poder<br />
político, características de uma política tradicional, que burlou os anos.<br />
É importante destacar que a centralidade do poder da família Chaves recaia<br />
principalmente na ação de Judite e de Franklin Chaves, tanto ao assumirem postos<br />
importantes, como na elaboração de estratégias políticas para a permanência do seu<br />
grupo no poder. Vale salientar, que quando se fala de grupo pode-se pensar também a<br />
família na dimensão política, do parentesco que se estabelece para além da<br />
consanguinidade. Há códigos que são partilhados pelo grupo, daí deve ser considerada<br />
também a dimensão simbólica do poder.<br />
Assim, a partir da década de 1930, os Chaves terão duas figuras que se<br />
destacarão em detrimento dos outros membros da família. São estes, Judite Chaves,<br />
abordada nesta pesquisa e Franklin Chaves, seu irmão, que nesta oportunidade não foi<br />
praticamente citado, mas outros “capítulos” serão editados e reeditados a respeito dos<br />
rastros impressos pela família Chaves.<br />
7
Década de 1930: articulações quanto aos “novos” espaços de atuação<br />
e poder<br />
A LEC [...] liderada por Dona Judite [...], no caso de Limoeiro do Norte,<br />
tornou-se tão forte no Ceará que chegou a eleger um governador, no caso, o<br />
Dr. Menezes Pimentel. A partir daquela fase política cearense, dona<br />
Judite revelou-se a liderança política mais forte da cidade de Limoeiro<br />
do Norte, conseguindo eleger vários prefeitos municipais, dentre eles, o<br />
seu irmão José Gondim Chaves. [...] as eleições de dois de Dezembro de<br />
1945, [...] nesta ocasião que Franklin Chaves, irmão de Dona Judite,<br />
começou a sua brilhante participação na política do Ceará, elegendo-se<br />
deputado estadual por sete legislaturas seguidas. (NUNES, 2006: 32 - 40)<br />
Antonio Pergentino Nunes, autor deste trecho, é escritor memorialista de<br />
Limoeiro do Norte e foi, “pode-se dizer que ainda é,” integrante político do grupo<br />
Chaves. Este fragmento de sua autoria fornece indícios quanto aos meios de poder<br />
utilizados pela família Chaves pós década de 1930. A fonte “sugere” que a partir da<br />
Liga Eleitoral Católica - LEC 5 as práticas políticas da família Chaves foram<br />
intensificadas em Limoeiro, e que a liderança exercida por um de seus membros, neste<br />
citado partido, possibilitou oportunidades de acessos a outros cargos tidos social e<br />
politicamente como mais importantes.<br />
A ascensão da família Chaves a cargos que conferem ao indivíduo a ideia de<br />
prestígio, (MILLS, 1968), caracterizada por assumir postos de liderança, bem como<br />
cargos de caráter institucional, sócio culturalmente considerados como valorosos e<br />
respeitáveis, como por exemplo, em instituições educacionais e de saúde, no caso dos<br />
Chaves 6 , foi uma das estratégias e ou táticas, dependendo do lugar de referência no qual<br />
visualizamos esta família. Segundo Michel de Certeau a “estratégia” seria articulada<br />
pelos produtores, um sujeito de querer e poder, e se apoia no lugar, “[...] as estratégias<br />
escondem sob cálculos objetivos a sua relação com o poder que os sustenta, guardado<br />
pelo lugar próprio ou pela instituição [...]” (CERTEAU, 1994: 46 - 47).<br />
5 A Liga Eleitoral Católica, LEC, se estabeleceu como um movimento de grande relevância para o Ceará.<br />
Criada em 16/12/1932, era mais uma das estratégias encontrada pela Igreja de se restabelecer na<br />
sociedade a confessional e garantir a não extinção dos princípios cristãos como também abalizar sua<br />
presença como instituição.<br />
6 Judite, juntamente com Franklin, com comerciantes e coronéis da cera de carnaúba, criaram a Sociedade<br />
Pró Rural atualmente conhecida como Escola Normal Rural de Limoeiro, na época do integralismo, 1934.<br />
Assume a posteriori a presidência da Maternidade São Raimundo, criada em 1942, devido a chegada da<br />
Diocese na cidade, e na década de 1960 torna-se Diretora Administrativa da Escola Normal Rural (<br />
1962/1970).<br />
8
Nesse sentido, no âmbito de Limoeiro, os Chaves são estes sujeitos do querer e<br />
do poder, respaldados pelos cargos institucionais, o lugar; que possibilitou acessos<br />
outros e, experiências, tidas como socialmente importantes, que os demais <strong>Limoeirenses</strong><br />
não tiveram oportunidades de desfrutar. No que diz respeito às táticas, Certeau explica<br />
que elas se caracterizam pelo “o não lugar”. Do ponto de vista deste estudo, este<br />
conceito não pode ser aplicado na íntegra, pois apesar de, os Chaves, quando<br />
relacionados com os atores que administraram a política nacional, serem agentes<br />
comuns, produzindo táticas, inventando o cotidiano, o lugar municipal que eles<br />
detinham, ainda foi suporte de apoio. Assim, o termo, tática, não é pensado em sua<br />
probidade, conforme a perspectiva do autor referido.<br />
A grande questão é que agregado aos cartórios o grupo foi articulando novos<br />
espaços de atuação e poder e isto possibilitou a personificação deste, e de seu<br />
sobrenome em variadas instâncias, no processo de disputa pela memória.<br />
Alguns indicativos, levam a crer que o controle da Liga Eleitoral Católica<br />
permitiu aos Chaves um maior contato com Menezes Pimentel:<br />
A Comissão conseguiu, de pronto, do Interventor Francisco Menezes<br />
Pimentel, os outros cem contos de réis em apólices do Estado, mercê do<br />
prestígio político de seus integrantes. ( BRANCO, 1997: 178)<br />
A epígrafe citada refere-se à disputa pela instalação da Diocese no vale do Jaguaribe,<br />
por volta de 1936. As cidades que integravam esta disputa eram Russas, Aracati e<br />
Limoeiro do Norte, destacada pelos memorialistas e pelo discurso da própria elite que<br />
liderava o comitê, como a cidade menos cotada para tal empreitada. Esta comissão que<br />
o trecho aborda foi integrada por Hercílio da Costa Silva, Gaudêncio Ferreira de Freitas,<br />
Custódio Saraiva Menezes e Odilon Odílio Silva. Nesta corrida em busca da instalação<br />
da Diocese, em 1938, Limoeiro do Norte conseguiu ganhar, e um dos grandes<br />
ressentimentos em especial dos indivíduos russanos envolvidos neste processo é o fato<br />
da Comissão ter conseguido uma parte do dinheiro necessário para instalação devido “a<br />
seu prestígio político”.<br />
Por esta epígrafe percebe-se que a relação com o interventor era de proximidade.<br />
O fato de Menezes Pimentel, também eleito pela LEC, ter cedido a Limoeiro, não<br />
obstante a disputa pela Diocese incluir outros dois municípios do vale do Jaguaribe,<br />
pode possibilitar estabelecer a hipótese de que a Liga Eleitoral Católica em Limoeiro se<br />
destacou em detrimento a essas outras localidades.<br />
9
A conquista da Diocese foi mediada fundamentalmente pelas relações políticas<br />
já empreendidas pelo grupo, sendo, portanto, utilizada por estes como uma maneira de<br />
mostrar para a sociedade limoeirense a eficácia dos seus líderes, em especial de<br />
Custódio, que integrava a comissão. Assim, no âmbito do discurso foi muito bom para<br />
esta elite; foi uma vitória política, pois em cima disto, dentre outras ações, como já o<br />
controle da prefeitura, eles efetivaram sua estabilização no pós 1930.<br />
Para além do âmbito do discurso a conquista da Diocese foi um grande<br />
empreendimento das elites políticas locais, foi um “ganho”. Pode-se conjecturar que era<br />
um sonho da elite transformar a localidade em uma cidade grande, “[...] Limoeiro<br />
daquele tempo era quase nada comparada com Aracati e Russas. [...]” ( BRANCO,<br />
1997: 178). Os componentes que integravam a Comissão sabiam que com a presença da<br />
Diocese despontariam uma série de empreendimentos 7 urbanos e de vantagens para<br />
Limoeiro tendo como consequência também, ganhos políticos no que diz respeito tanto<br />
a novos espaços de atuação, como a uma esfera de contatos mais ampla, bem como a<br />
personificação dos indivíduos que estavam no poder, no caso, eles próprios.<br />
A indicação de Judite Chaves para ser líder da LEC deve-se ao fato da relação<br />
que a família já cultivara com a Igreja Católica, desde o advento Imperial. Segundo o<br />
memorialista Lauro de Oliveira Lima, a família Chaves detinha o poder eclesiástico, e<br />
os padres que em algum momento se “rebelavam” contra o grupo eram normalmente<br />
transferidos de Limoeiro.<br />
Observa-se que a liderança da Liga Eleitoral Católica na década de 1930 foi<br />
fundamental para a família se estabelecer e eleger seus candidatos, como por exemplo,<br />
José Gondim Chaves, prefeito de Limoeiro, Franklin Chaves, vereador, e Custódio<br />
Saraiva. Os dois primeiros irmãos de Judite Chaves, e o último esposo, que inclusive foi<br />
nomeado interventor do município por Menezes Pimentel.<br />
Assim, a Liga Eleitoral Católica foi um dos principais meios de poder utilizado<br />
pelo grupo Chaves, na década de 1930, podendo ser percebido como um grande passo<br />
<strong>rumo</strong> a uma consolidação e ratificação no universo político devido à ampliação de<br />
poderes, que dentre as muitas possibilidades, proporciona aos indivíduos, novos<br />
contatos nesta esfera.<br />
7 A este respeito à Comissão estava certa, pois umas séries de edificações foram sendo efetuadas, como a<br />
Maternidade em 1942, o Ginásio Diocesano também em 1942, a Comarca em 1946, o Patronato Santo<br />
Antônio dos Pobres, o Tiro de Guerra e o Seminário em 1947, Liceu de Artes e Ofícios e a Rádio Vale em<br />
1953, entre tantos outros empreitadas arquitetônicas.<br />
10
Efetivamente os acessos e oportunidades da família na esfera política foram<br />
expandidos e mesmo com o fechamento da LEC, o poder político se mantém na família.<br />
Não obstante o término da ditadura, eles retornam como partido, sob as vestes do PSD.<br />
Assim, esta família vai se metamorfoseando até certo ponto, pois conserva em sua<br />
política um tradicionalismo exacerbado, e consegue atuar por vários anos na política<br />
Limoeirense, chegando a içar cargos políticos até de âmbito estatal.<br />
Considerações Finais<br />
O estudo das <strong>Elites</strong> é mais uma forma de leitura da dinâmica social. Entretanto,<br />
não dá para ignorar que estes sujeitos da sociedade, que são minoria, usufruem, de<br />
modo geral, de acessos, de prestígio, de dinheiro e poder, (MILLS, 1968:17), que uma<br />
maioria não se beneficia.<br />
A História que inerentemente possui em seu bojo a denúncia, a problematização,<br />
a desconstrução de retóricas, busca traduzir e entender os sentidos e os significados que<br />
fomentaram um passado a luz de questões do presente. Nesta relação passado e presente<br />
sabe-se que não há uma linha que determine o fim de um, para que se inicie o outro.<br />
Assim, as diversas questões sociais, por vezes inquietantes neste “presente”, que é<br />
permeado por implicações decorrentes de um “passado”, foram construídas<br />
historicamente e são remontadas a partir do lugar e da época em que os indivíduos<br />
atuam.<br />
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