19.04.2013 Views

Economia do Ceará em Debate 2009 - IPECE — Instituto de ...

Economia do Ceará em Debate 2009 - IPECE — Instituto de ...

Economia do Ceará em Debate 2009 - IPECE — Instituto de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

2<br />

Fortaleza<br />

<strong>IPECE</strong><br />

<strong>2009</strong>


GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ<br />

Cid Ferreira Gomes - Governa<strong>do</strong>r<br />

SECRETARIA DO PLANEJAMENTO E GESTÃO (SEPLAG)<br />

Desirée Custódio Mota Gondim - Secretária<br />

INSTITUTO DE PESQUISA E ESTRATéGIA ECONÔMICA DO CEARÁ<br />

(<strong>IPECE</strong>)<br />

Eveline Barbosa Silva Carvalho – Diretora Geral<br />

.................................................................<br />

Equipe Editorial<br />

Organização<br />

Fátima Juvenal <strong>de</strong> Sousa<br />

Normalização<br />

Helena Fátima Mota Dias<br />

Capa, Projeto Gráfi co e Diagramação<br />

Nertan Cruz Almeida<br />

C331E Carvalho, Eveline Barbosa Silva (org.)<br />

<strong>Economia</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> <strong>em</strong> <strong>Debate</strong> <strong>2009</strong><br />

Eveline Barbosa Silva Carvalho, Jimmy Lima<br />

<strong>de</strong> Oliveira, Nicolino Trompieri Neto, Cleyber<br />

Nascimento <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros, Fátima Juvenal <strong>de</strong><br />

Sousa (organiza<strong>do</strong>res).<br />

Fortaleza: <strong>IPECE</strong>, 2010. 281p.<br />

ISBN: 978-85-98664-14-9<br />

1. <strong>Economia</strong> 2. <strong>Ceará</strong>. I - Carvalho,<br />

Eveline, Barbosa Silva (Org), II - Título.<br />

CDU 330 (813.1)<br />

Copyright © 2010 - <strong>IPECE</strong><br />

Impresso no Brasil / Printed in Brasil<br />

INSTITUTO DE PESQUISA E ESTRATÉGIA ECONÔMICA DO CEARÁ (<strong>IPECE</strong>)<br />

Av. Gal. Afonso Albuquerque Lima, s/nº - Edifício SEPLAG, 2º Andar<br />

Centro Administrativo Governa<strong>do</strong>r Virgílio Távora – Cambeba<br />

Tel. (85) 3101-3521 / 3101-3496 / Fax: (85) 3101-3500<br />

CEP: 60830-120 – Fortaleza-CE.<br />

www.ipece.ce.gov.br - ouvi<strong>do</strong>ria@ipece.ce.gov.br<br />

3


APRESENTAÇÃO<br />

O livro <strong>Economia</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> <strong>em</strong> <strong>Debate</strong> <strong>2009</strong> é uma coletânea <strong>do</strong>s <strong>do</strong>ze<br />

melhores artigos <strong>de</strong>ntre os trinta seleciona<strong>do</strong>s e apresenta<strong>do</strong>s por ocasião<br />

<strong>do</strong> Vº Encontro <strong>Economia</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> <strong>em</strong> <strong>Debate</strong>, realiza<strong>do</strong> pelo <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Pesquisa<br />

e Estratégia Econômica <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (<strong>IPECE</strong>), dia 13 <strong>de</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>do</strong> ano<br />

passa<strong>do</strong>, no Centro <strong>de</strong> Treinamento <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Brasil.<br />

A seleção criteriosa <strong>do</strong>s artigos coube à banca formada pelos professores<br />

<strong>do</strong>utores e pesquisa<strong>do</strong>res Olímpio José <strong>de</strong> Arroxelas Galvão (PIMES-UFPE);<br />

Maria Eduarda Tannuri Pianto (UNB) e Paulo <strong>de</strong> Melo Jorge Neto (CAEN-<br />

UFC), aos quais, <strong>em</strong> nome <strong>do</strong> <strong>IPECE</strong>, registramos os mais sinceros agra<strong>de</strong>cimentos.<br />

Participaram ativamente <strong>do</strong> encontro e contribuíram assim para o saudável<br />

<strong>de</strong>bate os presi<strong>de</strong>ntes das mesas, professores Ronal<strong>do</strong> Arraes (CAEN-<br />

UFC); Henrique Marinho (BACEN/UNIFOR); Leôncio Macambira Júnior<br />

(IDT); Ahmad Saeed Khan (MAER-UFC); Jair <strong>do</strong> Amaral (DTE-UFC); José<br />

Raimun<strong>do</strong> Carvalho Junior (CAEN-UFC) e Jimmy Lima (<strong>IPECE</strong>). Coube a<br />

Naércio Aquino <strong>de</strong> Menezes Filho, professor Titular <strong>do</strong> <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Ensino e<br />

Pesquisa (Insper) e professor Associa<strong>do</strong> da FEA-USP, palestra magna sobre<br />

“Qualida<strong>de</strong> da Educação no Brasil”.<br />

O livro que orgulhosamente apresentamos é fruto <strong>do</strong> Encontro, b<strong>em</strong><br />

como <strong>de</strong> trabalho interativo entre Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e acad<strong>em</strong>ia, que contou<br />

com o envolvimento intenso <strong>do</strong>s colabora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>IPECE</strong>, <strong>em</strong> especial da estatística<br />

e técnica <strong>em</strong> Políticas Públicas Fátima Juvenal.<br />

Agra<strong>de</strong>c<strong>em</strong>os o inestimável apoio recebi<strong>do</strong> <strong>do</strong> Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ceará</strong>, por intermédio da Casa Civil e da Secretaria <strong>de</strong> Planejamento e Gestão;<br />

<strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Brasil e <strong>do</strong> IBGE. Dev<strong>em</strong>os igualmente gratidão ao<br />

Bra<strong>de</strong>sco, pelo apoio e pr<strong>em</strong>iação <strong>do</strong>s artigos que lograram os três primeiros<br />

lugares, aqui publica<strong>do</strong>s; a Associação <strong>do</strong>s Auditores <strong>de</strong> Controle Interno <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (AACI), ao CORECON, SEBRAE, UFC e UNIFOR.<br />

To<strong>do</strong>s colaboraram e contribuíram com sua participação para o sucesso<br />

<strong>do</strong> evento e permitiram a publicação <strong>de</strong>ste livro, que apresentamos à socieda<strong>de</strong><br />

e que contém contribuições inestimáveis para o entendimento <strong>de</strong> diversas dimensões<br />

da economia <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>.<br />

4<br />

Eveline Barbosa Silva Carvalho<br />

Diretora Geral<br />

<strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Pesquisa e Estratégia Econômica <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (<strong>IPECE</strong>)


6<br />

SUMÁRIO<br />

UM ESTUDO DO RETORNO DA EDUCAÇÃO NA REGIÃO NORDES-<br />

TE: ANÁLISE DOS ESTADOS DA BAHIA, CEARÁ E PERNAMBUCO<br />

A PARTIR DA RECENTE QUEDA DA DESIGUALDADE<br />

Daniel Cirilo Suliano, Marcelo Lettieri Siqueira<br />

...................................................................................................................................... 09<br />

DISCRIMINAÇÃO DE RENDIMENTOS POR GÊNERO E RAÇA<br />

A PARTIR DE REALIDADES SÓCIO-ECONÔMICAS DISTINTAS<br />

Vitor Hugo Miro , Daniel Cirilo Suliano<br />

...................................................................................................................................... 35<br />

A PROPORÇÃO DE POBRES DO CEARÁ ESTÁ SUBESTIMADA?<br />

UMA APLICAÇÃO DA TEORIA DO VALOR EXTREMO<br />

Carlos Wagner Rios Pinto, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

...................................................................................................................................... 56<br />

AJUSTE FISCAL E SUSTENTABILIDADE DA DÍVIDA DO ESTADO<br />

DO CEARÁ<br />

Fabrízio Gomes Santos, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

...................................................................................................................................... 83<br />

CRESCIMENTO ECONÔMICO E DESIGUALDADE DE RENDA<br />

NO CEARÁ<br />

Davi Oliveira Pontes, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes, Francisca Zilania Mariano,<br />

Christiano Penna<br />

...................................................................................................................................... 102<br />

DETERMINANTES DA MORTALIDADE INFANTIL NO CEARÁ NO<br />

PERÍODO 1991-2000: UMA ABORDAGEM EM DADOS EM PAINEL<br />

Carla Conceição <strong>de</strong> Lima Silva, Wellington Ribeiro Justo<br />

...................................................................................................................................... 131


DETERMINANTES DA PERMANÊNCIA NO DESEMPREGO NO<br />

MERCADO DE TRABALHO CEARENSE<br />

Elano Ferreira Arruda, Daniel B. Guimarães, Guilherme Irffi , Ivan<br />

Castelar<br />

...................................................................................................................................... 161<br />

EFEITOS DA POLÍTICA DE ATRAÇÃO DE INCENTIVOS INDUS-<br />

TRIAIS NO CEARÁ SOBRE O EMPREGO NO PERÍODO 2002-2005<br />

Guilherme Irffi , Fernan<strong>do</strong> A. N. Nogueira, Flavio Ataliba F. D. Barreto<br />

...................................................................................................................................... 178<br />

OS MUNICIPIOS CEARENSES APÓS 14 ANOS DE PLANOS DE DE-<br />

SENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL<br />

Maria Ivonei<strong>de</strong> Vital Rodrigues, Patricia Veronica Pinheiro Sales<br />

Lima, Maria Irles <strong>de</strong> Oliveira Mayorga, Francisco Casimiro Filho,<br />

Suely Salgueiro Chacon<br />

...................................................................................................................................... 194<br />

RELACIONAMENTO DE PREÇOS E INTEGRAÇÃO ENTRE O MER-<br />

CADO PRODUTOR DE TIANGUÁ NA SERRA DA IBIAPABA/CE E<br />

MERCADOS ATACADISTAS DE FORTALEZA/CE E TERESINA/PI<br />

Francisco José Silva Tabosa, Jair Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Araújo, Ahmad Saeed<br />

Khan, Ruben Dario Mayorga<br />

...................................................................................................................................... 222<br />

RENDA DO TRABALHO, RENDA DE TRANSFERÊNCIAS E DESI-<br />

GUALDADE: UMA NOVA PROPOSTA DE INVESTIGAÇÃO EMPÍRI-<br />

CA DA CURVA DE KUZNETS PARA O CEARÁ<br />

Christiano Penna, Nicolino Trompieri, Fabrício Linhares<br />

...................................................................................................................................... 243<br />

UMA ANÁLISE DA POBREZA NO CEARÁ COM BASE EM DIFEREN-<br />

TES LINHAS DE MENSURAÇÃO<br />

André Oliveira Ferreira Loureiro, Daniel Cirilo Suliano, Jimmy<br />

Lima <strong>de</strong> Oliveira<br />

...................................................................................................................................... 265<br />

7


INTRODUÇÃO<br />

No Vº Encontro <strong>de</strong> <strong>Economia</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> <strong>em</strong> <strong>Debate</strong>, que reuniu economistas,<br />

pesquisa<strong>do</strong>res, estudantes e d<strong>em</strong>ais interessa<strong>do</strong>s <strong>em</strong> conhecer e<br />

<strong>de</strong>bater a situação econômica e social <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, foram aborda<strong>do</strong>s t<strong>em</strong>as<br />

relativos as seguintes áreas: Inserção Internacional Soberana: Comércio<br />

Exterior; Macroeconomia <strong>do</strong> Pleno Emprego: Crescimento e Desenvolvimento<br />

Econômico; Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Trabalho; Fortalecimento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, das<br />

Instituições e da D<strong>em</strong>ocracia: Governança e Instituições Políticas; Estrutura<br />

Produtivo-Tecnológica avançada e regionalmente articulada: Teoria<br />

Microeconômica, Organização Industrial e <strong>Economia</strong> Regional; Infraestrutura<br />

e logística <strong>de</strong> base: Investimento Público, Eficiência Produtiva<br />

e Inovação; Proteção Social e Geração <strong>de</strong> Oportunida<strong>de</strong>s: Programas<br />

Sociais, Crime, Educação, Saú<strong>de</strong>, Pobreza; Sustentabilida<strong>de</strong> Ambiental:<br />

Meio Ambiente e Agricultura.<br />

Dos 12 artigos aqui publica<strong>do</strong>s - consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s os melhores <strong>do</strong> Encontro<br />

- três foram pr<strong>em</strong>ia<strong>do</strong>s, a ex<strong>em</strong>plo <strong>do</strong> que aconteceu na edição anterior.<br />

O primeiro coloca<strong>do</strong> foi o artigo “Um Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> retorno da Educação na<br />

Região Nor<strong>de</strong>ste: Análise <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s da Bahia, <strong>Ceará</strong> e Pernambuco a<br />

partir da recente queda da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>”, <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> Daniel Cirilo Suliano<br />

e Marcelo Lettieri Siqueir; a segunda colocação ficou com o trabalho<br />

“Discriminação <strong>de</strong> Rendimentos por Gênero e raça a partir <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>s<br />

Sócio-econômicas distinta”, que teve como autores Vitor Hugo Miro e Daniel<br />

Cirilo Suliano. Ambos foram na área t<strong>em</strong>ática: Macroeconomia <strong>do</strong><br />

Pleno Emprego: Crescimento e Desenvolvimento Econômico; Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Trabalho.<br />

O terceiro melhor artigo foi “A proporção <strong>de</strong> pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> está<br />

subestimada? Uma aplicação da Teoria <strong>do</strong> Valor Extr<strong>em</strong>o”, <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong><br />

Carlos Wagner Rios Pinto e Ronal<strong>do</strong> A. Arraes, pertencente à área t<strong>em</strong>ática<br />

Proteção Social e Geração <strong>de</strong> Oportunida<strong>de</strong>: Programas Sociais, Crime,<br />

Educação, Saú<strong>de</strong>, Pobreza.<br />

Outros trabalhos aqui publica<strong>do</strong>s, relativos a diferentes áreas t<strong>em</strong>áticas,<br />

versam sobre os <strong>de</strong>terminantes da mortalida<strong>de</strong> infantil no Esta<strong>do</strong>,<br />

8


a renda <strong>do</strong> trabalho e <strong>de</strong> transferências com foco na <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda,<br />

ajuste fi scal, <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s municípios cearenses, análise da pobreza<br />

no <strong>Ceará</strong>, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> diferentes linhas <strong>de</strong> mensuração, crescimento e<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho cearense e <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, preços e comparação<br />

<strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s e política <strong>de</strong> incentivos fi scais.<br />

Ao fi nal <strong>do</strong> Encontro foram divulga<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>ze artigos seleciona<strong>do</strong>s<br />

para compor o presente livro. Esta publicação marca o reconhecimento<br />

ao trabalho <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> <strong>do</strong>s autores, que ao abordar t<strong>em</strong>as relevantes objetivam<br />

contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>.<br />

9


Daniel Cirilo Suliano, Marcelo Lettieri Siqueira<br />

RESUMO<br />

10<br />

UM ESTUDO DO RETORNO DA EDUCAÇÃO<br />

NA REGIÃO NORDESTE: ANÁLISE<br />

DOS ESTADOS DA BAHIA, CEARÁ<br />

E PERNAMBUCO<br />

A PARTIR DA RECENTE QUEDA<br />

DA DESIGUALDADE<br />

Daniel Cirilo Suliano*<br />

Marcelo Lettieri Siqueira**<br />

Neste artigo, estimamos a taxa <strong>de</strong> retorno da educação da região<br />

Nor<strong>de</strong>ste a partir <strong>de</strong> suas principais forças econômicas: Bahia, <strong>Ceará</strong> e<br />

Pernambuco. O perío<strong>do</strong> compreen<strong>de</strong> os anos <strong>de</strong> 2001-2006, caracteriza<strong>do</strong><br />

por uma forte queda da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda <strong>do</strong> Brasil. Diferentes alternativas<br />

<strong>de</strong> estimação aos <strong>de</strong> Mínimos Quadra<strong>do</strong>s Ordinários são apresenta<strong>do</strong>s,<br />

inclusive uma por nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> como forma <strong>de</strong> captar<br />

o efeito diploma. Os resulta<strong>do</strong>s constatam que o retorno da escolarida<strong>de</strong><br />

ainda se mantém <strong>em</strong> patamares eleva<strong>do</strong>s <strong>em</strong> uma região caracterizada por<br />

elevada escassez educacional.<br />

Palavras-Chave: Educação; Retornos; Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Trabalho.<br />

AbstrAct<br />

In this article, we estimate the rate of return of education in the Northeast<br />

from its main economic forces: Bahia, Ceara and Pernambuco. The<br />

period covers the years 2001-2006, characterized by a sharp drop in income<br />

inequality in Brazil. Different alternatives for the estimation of OLS<br />

are presented, including one by level of education as a way to capture the<br />

<strong>de</strong>gree effect. The results find that the return to schooling is still at high<br />

levels in a region characterized by high educational shortages.<br />

Keywords: Education; Returns; Job Market.<br />

....................................................<br />

* Analista <strong>de</strong> Políticas Públicas <strong>do</strong> <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Pesquisa e Estratégia Econômica <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (<strong>IPECE</strong>).<br />

** Auditor da Receita Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Brasil e Professor <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> <strong>Economia</strong> da Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (CAEN/UFC).


Um Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Retorno da Educação na Região Nor<strong>de</strong>ste:<br />

Análise <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s da Bahia, <strong>Ceará</strong> e Pernambuco a Partir da Recente Queda da Desigualda<strong>de</strong><br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Diversos foram os estu<strong>do</strong>s que procuraram evi<strong>de</strong>nciar a importância<br />

da educação na explicação <strong>do</strong>s diferenciais <strong>de</strong> renda <strong>do</strong> Brasil [ver,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, Langoni (2005), Reis e Barros (1990, 1991), Leal e Werlang<br />

(1991, 2000), Lam e Levinson (1992), Lam e Schoeni (1993), Menezes-<br />

Filho et al. (2000, 2006), Menezes-Filho (2001b) e Sotomayor (2004)].<br />

Ressalte-se ainda que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a estabilida<strong>de</strong> alcançada após o plano<br />

real, têm-se observa<strong>do</strong> um <strong>de</strong>clínio quase contínuo da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> no<br />

Brasil [Ramos (2007)]. Dentro <strong>de</strong>sse contexto, po<strong>de</strong>-se dividir esse perío<strong>do</strong><br />

<strong>em</strong> <strong>do</strong>is: (i) <strong>de</strong> 1995 a 1999, apesar <strong>do</strong> controle inflacionário, perío<strong>do</strong><br />

caracteriza<strong>do</strong> por forte instabilida<strong>de</strong> macroeconômica <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sucessivas crises externas; e (ii) <strong>de</strong> 2001 a 2005, no qual a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

v<strong>em</strong> <strong>de</strong>clinan<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma acentuada e contínua, atingin<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2005 o nível<br />

mais baixo <strong>do</strong>s últimos 30 anos [Soares (2006a, 2006b), Ipea (2006),<br />

Barros et al. (2006, 2007) e Ferreira et al. (2006)]. Neste mesmo perío<strong>do</strong>,<br />

Barros, Franco e Men<strong>do</strong>nça (2007) mostram que, aliada a queda da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>,<br />

medida pelo coeficiente <strong>de</strong> Gini, ocorreu uma rápida expansão<br />

educacional no Brasil.<br />

Por tu<strong>do</strong> isso, o papel <strong>do</strong> prêmio à escolarida<strong>de</strong>, isto é, o adicional<br />

salarial que o indivíduo recebe resultante <strong>de</strong> um ano a mais <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>,<br />

ausculta-se como gran<strong>de</strong> objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>. No Brasil, inúmeros estu<strong>do</strong>s já<br />

estimaram a taxa <strong>de</strong> retorno da educação através da equação <strong>de</strong> salários<br />

a lá Mincer (1974) usan<strong>do</strong>-se diferentes bases <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s e méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> estimação,<br />

além <strong>de</strong> perío<strong>do</strong>s distintos. No que se consta, Behrman e Birdsaall<br />

(1983) é o primeiro estu<strong>do</strong> que usa uma equação <strong>de</strong> salários <strong>de</strong> Mincer para<br />

calcular a taxa <strong>de</strong> retorno educacional brasileira usan<strong>do</strong>-se, para isso, o<br />

Censo D<strong>em</strong>ográfico <strong>do</strong> IBGE <strong>de</strong> 1970. Leal e Werlang (1991) também estimam<br />

uma equação <strong>de</strong> Mincer <strong>em</strong>pregan<strong>do</strong> dummies para diversos grupos<br />

<strong>de</strong> estu<strong>do</strong> usan<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s da Pnad <strong>de</strong> 1976-1989 e o Censo D<strong>em</strong>ográfico <strong>de</strong><br />

1980. Kassouf (1994, 1998) e Silva e Kassouf (2000) além <strong>de</strong> trabalhar<strong>em</strong><br />

com a equação <strong>de</strong> salários <strong>em</strong>pregam o procedimento <strong>de</strong> Heckman <strong>em</strong><br />

<strong>do</strong>is estágios como forma <strong>de</strong> corrigir um possível viés <strong>de</strong> seleção amostral.<br />

Os <strong>do</strong>is primeiros trabalhos usam da<strong>do</strong>s da Pesquisa Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

e Nutrição <strong>do</strong> IBGE, IPEA e INAN <strong>de</strong> 1989, enquanto que o último usa<br />

11


Daniel Cirilo Suliano, Marcelo Lettieri Siqueira<br />

da<strong>do</strong>s da PNAD <strong>de</strong> 1995. Ueda e Hoffmann (2002) usan<strong>do</strong> informações<br />

adicionais da Pnad <strong>de</strong> 1996 no que concerne aos pais <strong>do</strong>s indivíduos <strong>em</strong>pregam<br />

o méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> estimação por variável instrumental, estima<strong>do</strong>res intrafamiliares,<br />

mínimos quadra<strong>do</strong>s e um mo<strong>de</strong>lo por nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>.<br />

Sachsida, Loureiro e Men<strong>do</strong>nça (2004) através <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s <strong>em</strong>pilha<strong>do</strong>s das<br />

Pnads <strong>de</strong> 1992 a 1999 utilizam a meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> viés <strong>de</strong> seleção amostral<br />

através <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> Heckman <strong>em</strong> <strong>do</strong>is estágios e Garen (1984), além<br />

da técnica <strong>de</strong> pseu<strong>do</strong>-painel como forma <strong>de</strong> contornar o probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> variável<br />

omitida. O mesmo trabalho apresenta também estimativas <strong>de</strong> mínimos<br />

quadra<strong>do</strong>s além <strong>de</strong> estimações para o ano <strong>de</strong> 1996 para cada uma das meto<strong>do</strong>logias<br />

consi<strong>de</strong>rada. Por fim, Resen<strong>de</strong> e Wyllie (2006) usan<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s<br />

da Pesquisa sobre o Padrão <strong>de</strong> Vida <strong>do</strong> IBGE <strong>de</strong> 1996 e 1997 estimam pelo<br />

procedimento <strong>de</strong> Heckman <strong>em</strong> <strong>do</strong>is estágios utilizan<strong>do</strong> como controle adicional<br />

à qualida<strong>de</strong> da educação.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, o presente trabalho buscará compl<strong>em</strong>entar a literatura<br />

recente, dan<strong>do</strong> enfoque ao aspecto regional <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho brasileiro,<br />

na medida <strong>em</strong> que estima a taxa <strong>de</strong> retorno da escolarida<strong>de</strong> da região<br />

Nor<strong>de</strong>ste a partir <strong>de</strong> suas principais forças econômicas: Bahia, <strong>Ceará</strong> e<br />

Pernambuco. A literatura brasileira apresentada, não obstante o uso <strong>de</strong> diferentes<br />

técnicas <strong>de</strong> estimação, diferentes variáveis explicativas e base <strong>de</strong><br />

da<strong>do</strong>s diversas distribuídas ao longo <strong>do</strong>s anos encontram evidências que<br />

a taxa <strong>de</strong> retorno educacional brasileira ainda é persistent<strong>em</strong>ente elevada.<br />

Tais resulta<strong>do</strong>s coadunam com as evidências internacionais. Por ex<strong>em</strong>plo,<br />

estimativas da taxa <strong>de</strong> retorno da escolarida<strong>de</strong> para um conjunto <strong>de</strong> países<br />

mostram que um ano adicional <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> no Brasil aumenta, <strong>em</strong> média, o<br />

salário <strong>em</strong> cerca <strong>de</strong> 15% colocan<strong>do</strong> o país <strong>em</strong> nono lugar <strong>de</strong> um total <strong>de</strong> 71<br />

[Psacharopoulos e Patrinos (2002)].<br />

Um trabalho <strong>de</strong>sta estirpe t<strong>em</strong> inúmeras justificativas. Como dito,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 90, houve um progressivo aumento da escolarida<strong>de</strong> no<br />

Brasil. Desta forma, seria importante analisar os retornos educacionais<br />

neste contexto. Além disto, quase meta<strong>de</strong> da queda na <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

renda familiar observada <strong>de</strong> 2001 a 2004 <strong>de</strong>ve-se aos rendimentos <strong>do</strong> trabalho<br />

[Ipea (2006)]. Outro fator a se ressaltar é que a redução da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> renda esteve associada tanto a fatores liga<strong>do</strong>s aos rendimentos <strong>do</strong><br />

trabalho, quanto às transferências governamentais, exercen<strong>do</strong> estes diferentes<br />

impactos nas regiões brasileiras [Hoffmann (2006) e Silveira Neto<br />

e Gonçalves (2007)].<br />

12


Um Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Retorno da Educação na Região Nor<strong>de</strong>ste:<br />

Análise <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s da Bahia, <strong>Ceará</strong> e Pernambuco a Partir da Recente Queda da Desigualda<strong>de</strong><br />

Conforme prescrito acima, observa-se que a equação <strong>de</strong> salários <strong>de</strong><br />

Mincer t<strong>em</strong> diversas alternativas <strong>de</strong> estimação, mediante seus inúmeros<br />

vieses que porventura possam surgir <strong>de</strong>correntes da estimação pura e simples<br />

<strong>do</strong> méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> mínimos quadra<strong>do</strong>s ordinários. Nesse caso, buscar-seá<br />

aqui diversas alternativas <strong>de</strong> estimação a este méto<strong>do</strong>, como forma <strong>de</strong><br />

tentar minimizar o probl<strong>em</strong>a. Além disto, e ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> conta a importância<br />

<strong>do</strong> compl<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> um ciclo <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>, procurar-se-á analisar a importância<br />

<strong>do</strong> “efeito diploma” através da estimação <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo por nível<br />

escolarida<strong>de</strong>.<br />

Além <strong>de</strong>sta sintética introdução, este trabalho contém mais quatro<br />

seções. Na seção 2 procura-se fazer um relato <strong>do</strong> papel da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

renda brasileira, concatenada às taxas <strong>de</strong> retorno da educação no mesmo<br />

perío<strong>do</strong>, b<strong>em</strong> como as implicações <strong>de</strong>stes fatores no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho.<br />

A seção 3 é dividida <strong>em</strong> mais duas sub-seções discutin<strong>do</strong>-se sobre os diferentes<br />

mo<strong>de</strong>los e as diversas variáveis explicativas. Na seção 4 são discuti<strong>do</strong>s<br />

os resulta<strong>do</strong>s das estimações. Por fim, a seção 5 contém as conclusões<br />

<strong>do</strong> trabalho.<br />

2. BREVE REVISÃO DA LITERATURA<br />

O <strong>de</strong>bate acerca da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda na economia brasileira<br />

r<strong>em</strong>onta a década <strong>de</strong> 1970, a partir <strong>do</strong>s trabalhos <strong>de</strong> Fishlow (1972) e Langoni<br />

(2005). Não obstante o crescimento da renda real, a publicação <strong>do</strong><br />

Censo D<strong>em</strong>ográfico <strong>de</strong> 1970 revelou um aumento consi<strong>de</strong>rável da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> renda na década <strong>de</strong> 60 no Brasil 1 [Langoni (2005) e Ramos<br />

e Reis (2000)].<br />

Segun<strong>do</strong> Langoni, a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda ocorrida entre 1960 e<br />

1970 teria como causa <strong>do</strong>is fatores. Primeiramente, o papel da interação<br />

entre oferta e d<strong>em</strong>anda no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho, na qual a acelerada expansão<br />

da ativida<strong>de</strong> econômica conduziu a um aumento da d<strong>em</strong>anda por<br />

mão-<strong>de</strong>-obra qualificada que, aliada a uma oferta relativamente inelástica<br />

no curto prazo, teve como conseqüência uma maior dispersão salarial<br />

entre os grupos <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res com diferentes níveis <strong>de</strong> qualificação.<br />

Além <strong>do</strong> mais, fatores relaciona<strong>do</strong>s à discriminação, segmentação e carac-<br />

1 A <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> aqui consi<strong>de</strong>rada refere-se ao Índice <strong>de</strong> Gini <strong>do</strong> rendimento das pessoas. A queda recente observada a<br />

partir <strong>de</strong> 2001 consi<strong>de</strong>rou rendimentos <strong>do</strong> trabalho e rendimentos <strong>do</strong>miciliares e serviram <strong>de</strong> referência para o presente<br />

estu<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> as pesquisas até aqui realizadas.<br />

13


Daniel Cirilo Suliano, Marcelo Lettieri Siqueira<br />

terísticas individuais teriam muda<strong>do</strong> a composição da força <strong>de</strong> trabalho.<br />

Dentro <strong>de</strong>sta última causa, a educação seria a variável chave na explicação<br />

<strong>do</strong> aumento da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda, enfatizan<strong>do</strong>-se o papel <strong>de</strong> seus retornos<br />

no perío<strong>do</strong> [Langoni (2005)].<br />

Ainda segun<strong>do</strong> Langoni, o crescimento resultante da época teria ti<strong>do</strong><br />

um viés tecnológico <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> industrialização, o que,<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto, teria provoca<strong>do</strong> aumentos na d<strong>em</strong>anda por mão<strong>de</strong>-obra<br />

mais qualificada (especializada). Como não houve um acompanhamento<br />

recíproco da oferta, acabou-se geran<strong>do</strong> um <strong>de</strong>sequilíbrio no<br />

merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho <strong>em</strong> favor <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res mais qualifica<strong>do</strong>s. Por<br />

outro la<strong>do</strong>, partin<strong>do</strong> da hipótese <strong>de</strong> Kuznets, segun<strong>do</strong> a qual mudanças na<br />

composição <strong>do</strong> <strong>em</strong>prego e aumentos na <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda resultam <strong>de</strong><br />

um processo natural <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das economias capitalistas, para<br />

Langoni, os <strong>de</strong>sequilíbrios estruturais à época vivenciadas pela economia<br />

brasileira eram plenamente justificáveis. Conseqüent<strong>em</strong>ente, seria errôneo<br />

atribuir o aumento da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> a perdas <strong>de</strong> b<strong>em</strong>-estar.<br />

De maneira alternativa, Fishlow argumentava que as políticas<br />

<strong>de</strong> estabilização efetuadas no perío<strong>do</strong> tiveram papel central no processo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, na medida <strong>em</strong> que a redução <strong>do</strong> salário mínimo real teria<br />

contribuí<strong>do</strong> para a queda <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r aquisitivo <strong>de</strong> parte <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.<br />

Além <strong>do</strong> mais, o programa <strong>de</strong> estabilização da inflação a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>em</strong> abril<br />

<strong>de</strong> 1964 teria provoca<strong>do</strong> uma alteração na distribuição funcional <strong>de</strong> renda,<br />

já que privilegiou lucros e rendas <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> geral <strong>em</strong> contrapartida<br />

aos salários, geran<strong>do</strong>, como conseqüência, aumentos na <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

pessoal <strong>de</strong> renda, já que os <strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> rendas <strong>de</strong> capital encontravam-se<br />

na cauda superior da distribuição. Vale também ressaltar que, assim como<br />

Langoni, Fishlow enfatizou o papel da educação como fator estruturante no<br />

aumento da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> uma vez que os grupos menos afortuna<strong>do</strong>s foram<br />

os menos privilegia<strong>do</strong>s na distribuição educacional no perío<strong>do</strong> 1960-1970<br />

[Fishlow (1972)].<br />

Posteriormente, nesta mesma perspectiva histórica, o papel da educação<br />

voltou a ser reforça<strong>do</strong> como fonte <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> salarial durante o<br />

<strong>de</strong>cênio 1976-1986. Nesse perío<strong>do</strong>, a relativa escassez <strong>de</strong> oferta educacional<br />

por parte <strong>do</strong> setor público, conjugada com a falta <strong>de</strong> investimentos da<br />

iniciativa privada, acabou refletin<strong>do</strong>-se <strong>em</strong> eleva<strong>do</strong>s retornos ao prêmio<br />

<strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> no Brasil [Leal e Werlang (1991, 2000)]. De fato, como<br />

14


Um Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Retorno da Educação na Região Nor<strong>de</strong>ste:<br />

Análise <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s da Bahia, <strong>Ceará</strong> e Pernambuco a Partir da Recente Queda da Desigualda<strong>de</strong><br />

ressalta<strong>do</strong> <strong>em</strong> Menezes-Filho (2001b), o comportamento da oferta relativa<br />

<strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra parece exercer aspectos fundamentais no comportamento<br />

<strong>do</strong>s retornos educacionais: entre 1970 e 1980 o prêmio pelo avanço no<br />

ensino el<strong>em</strong>entar caiu continuamente, perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> maior oferta relativa. O<br />

diferencial associa<strong>do</strong> ao nível superior, por sua vez, t<strong>em</strong> comportamento<br />

exatamente simétrico à oferta relativa, aumentan<strong>do</strong> entre 1960 e 1970, <strong>de</strong>clinan<strong>do</strong><br />

entre 1970 e 1981 e aumentan<strong>do</strong> continuamente a partir daí.<br />

É importante também ressaltar que tais diagnósticos da realida<strong>de</strong><br />

educacional brasileira vieram, muitas vezes, acompanhadas por propostas<br />

<strong>de</strong> políticas educacionais. Reis e Barros (2000), por ex<strong>em</strong>plo, argumentam<br />

que a política <strong>de</strong> investimentos educacionais está condicionada ao perfil<br />

salarial <strong>do</strong>s grupos educacionais e sua sensibilida<strong>de</strong> à oferta relativa <strong>de</strong><br />

trabalha<strong>do</strong>res qualifica<strong>do</strong>s e não qualifica<strong>do</strong>s. Por um la<strong>do</strong>, se a causa da<br />

dispersão <strong>de</strong> salários <strong>de</strong>corre <strong>do</strong>s altos vencimentos por parte <strong>do</strong>s indivíduos<br />

com maiores níveis educacionais, então a redução <strong>de</strong> tais <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s se<br />

dá via expansão da oferta relativa <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res com nível similar <strong>de</strong><br />

educação. Por outro, se a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> salarial entre grupos educacionais<br />

é pequena ou mesmo inelástica, a redução na dispersão salarial ocorre<br />

através <strong>de</strong> investimentos <strong>em</strong> níveis <strong>de</strong> educação básica. Na visão <strong>do</strong>s autores,<br />

esta última opção parece ser a mais a<strong>de</strong>quada para o caso brasileiro,<br />

mesmo que não seja a mais eficiente.<br />

Leal e Werlang (2000) propõ<strong>em</strong> também políticas educacionais parecidas<br />

objetivan<strong>do</strong> melhoras na distribuição <strong>de</strong> renda. No caso <strong>do</strong> ensino<br />

el<strong>em</strong>entar, <strong>de</strong>veria haver uma maior centralização <strong>de</strong> esforços <strong>em</strong> investimentos<br />

por parte <strong>do</strong> governo nessa categoria <strong>de</strong> ensino ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> vista<br />

seu baixo custo relativo e seus eleva<strong>do</strong>s retornos. De maneira oposta, o<br />

ensino superior público <strong>de</strong>veria passar por um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> cobranças <strong>de</strong><br />

mensalida<strong>de</strong>s com subvenção apenas parcial <strong>do</strong> governo, já que privilegia<br />

uma pequena parcela da população, ao oferecê-lo <strong>de</strong> forma gratuita, além<br />

<strong>de</strong> essa fração <strong>de</strong> privilegia<strong>do</strong>s ser formada por indivíduos <strong>de</strong> famílias que<br />

pod<strong>em</strong> ser educa<strong>do</strong>s nas melhores escolas e assim ter<strong>em</strong> boas classificações<br />

nos vestibulares.<br />

Do exposto acima, observa-se que o probl<strong>em</strong>a da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

renda familiar per capita brasileira parece concentrar-se <strong>em</strong> <strong>do</strong>is pontos<br />

principais: distribuição da educação e a estrutura <strong>de</strong> seus retornos [Ferreira<br />

(2000) e Menezes-Filho et al. (2000)]. De fato, Reis e Barros (1991)<br />

15


Daniel Cirilo Suliano, Marcelo Lettieri Siqueira<br />

mostram que a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> na distribuição <strong>de</strong> renda seria 50% menor se<br />

não houvesse distinção <strong>de</strong> renda <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o nível <strong>de</strong> instrução formal<br />

<strong>do</strong> indivíduo.<br />

Outra questão pertinente se dá <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> comércio exterior <strong>em</strong> razão<br />

da crescente integração econômica entre países e as profundas mudanças<br />

tecnológicas, abrin<strong>do</strong> um amplo leque <strong>de</strong> discussões sobre as transformações<br />

no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o fim <strong>do</strong>s anos 80.<br />

Países como o Brasil, que abriram tardiamente suas economias, experimentaram<br />

efeitos simultâneos <strong>do</strong> comércio internacional e incorporação<br />

<strong>de</strong> novas tecnologias [Arbache (2001)].<br />

Tais eventos estariam provocan<strong>do</strong> mudanças na estrutura <strong>de</strong> d<strong>em</strong>anda<br />

por trabalho e, particularmente, favorecen<strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>res qualifica<strong>do</strong>s,<br />

assim como aumentos <strong>do</strong>s retornos <strong>do</strong> capital humano nessas economias.<br />

O argumento por trás disso é que a importação <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> capital<br />

feita pelos países menos <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s seria enviesada <strong>em</strong> favor <strong>de</strong> trabalho<br />

qualifica<strong>do</strong>, já que se origina <strong>de</strong> países <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s, on<strong>de</strong> há certa<br />

compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong> entre capital e trabalho qualifica<strong>do</strong> [Arbache (2001)].<br />

Neste senti<strong>do</strong>, a liberalização comercial, ao provocar maiores importações<br />

<strong>de</strong> bens <strong>de</strong> capital e aumento no volume <strong>de</strong> investimento nos países menos<br />

<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s, estaria elevan<strong>do</strong> a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> salários nos mesmos<br />

[Robbins (1996)].<br />

Será que a literatura <strong>em</strong>pírica oferece algum suporte para comprovação<br />

<strong>de</strong>ssas hipóteses? Arbache (2001) mostra que ocorreu gran<strong>de</strong> elevação<br />

<strong>do</strong>s retornos relativos da educação superior completa e queda <strong>do</strong>s d<strong>em</strong>ais<br />

grupos a partir <strong>de</strong> 1992 no Brasil, perío<strong>do</strong> que coinci<strong>de</strong> com as reformas<br />

comerciais. O mesmo autor também <strong>de</strong>staca que o aumento das importações<br />

teria beneficia<strong>do</strong> os salários <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res mais qualifica<strong>do</strong>s, resultante<br />

da maior d<strong>em</strong>anda <strong>de</strong>corrente da mo<strong>de</strong>rnização e racionalização<br />

da produção nos setores que sofreram maior crescimento da concorrência.<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista da oferta relativa, Andra<strong>de</strong> e Menezes-Filho (2005)<br />

também encontram evidências que a proporção <strong>de</strong> indivíduos com nível <strong>de</strong><br />

qualificação intermediária na força <strong>de</strong> trabalho está crescen<strong>do</strong>, enquanto a<br />

proporção <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res com baixa qualificação e qualifica<strong>do</strong>s vêm-se<br />

reduzin<strong>do</strong>. Assim, apesar <strong>do</strong> viés <strong>de</strong> crescimento <strong>em</strong> relação à d<strong>em</strong>anda por<br />

mão-<strong>de</strong>-obra qualificada, uma maior oferta <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra intermediá-<br />

16


Um Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Retorno da Educação na Região Nor<strong>de</strong>ste:<br />

Análise <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s da Bahia, <strong>Ceará</strong> e Pernambuco a Partir da Recente Queda da Desigualda<strong>de</strong><br />

ria, associada com uma relativa escassez <strong>de</strong> pessoas com ensino superior,<br />

v<strong>em</strong> elevan<strong>do</strong> os diferenciais <strong>de</strong> salários na força <strong>de</strong> trabalho brasileira.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, outros artigos recent<strong>em</strong>ente publica<strong>do</strong>s na literatura<br />

econômica brasileira são enfáticos ao atribuír<strong>em</strong> papel importante <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho, e <strong>em</strong> particular a educação <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto,<br />

na redução da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda [ver, por ex<strong>em</strong>plo, Soares (2006a,<br />

2006b), Ipea (2006), Hoffmann (2006), Barros et al. (2006, 2007), Ferreira<br />

et al. (2006), Ramos (2007) e Barros, Franco e Men<strong>do</strong>nça (2007)].<br />

Essa redução <strong>do</strong> grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> no Brasil é relevante por pelo<br />

menos <strong>do</strong>is fatores: para uma amostra <strong>de</strong> 74 países com informações disponíveis<br />

referentes ao coeficiente <strong>de</strong> GINI <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1990, menos<br />

<strong>de</strong> ¼ <strong>de</strong>les reduziu na mesma magnitu<strong>de</strong> a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda como a<br />

brasileira no perío<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como referência (2001-2005); além <strong>do</strong><br />

mais, o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>clinou <strong>de</strong> forma contínua e acentuada,<br />

atingin<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2005, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente da medida <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> utilizada,<br />

o nível mais baixo nos últimos 30 anos [Barros et al. (2007)].<br />

Diversos são os fatores relevantes para a queda recente na <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> renda no Brasil [Ipea (2006)]. Por ex<strong>em</strong>plo, apesar <strong>do</strong> enorme papel<br />

das transferências ao longo <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>, sua contribuição para a magnitu<strong>de</strong><br />

da redução na <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> parece ter ti<strong>do</strong> um papel limita<strong>do</strong> [Hoffmann<br />

(2005), Soares (2006a, 2006b) e Ipea (2006)]. Por sua vez, o nível médio<br />

<strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> da população brasileira t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s fatores chaves.<br />

De fato, o papel da escolarida<strong>de</strong>, no que concerne à redução da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>,<br />

v<strong>em</strong> exercen<strong>do</strong> forte influência <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1993 <strong>em</strong> conseqüência da persistente<br />

redução <strong>do</strong>s retornos médios à educação [Ferreira et al. (2006)].<br />

3. MODELOS ECONOMéTRICOS<br />

3.1 Mo<strong>de</strong>los<br />

Os da<strong>do</strong>s aqui consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s são referentes à Pesquisa Nacional por<br />

Amostras <strong>de</strong> Domicílios (Pnad) <strong>do</strong> <strong>Instituto</strong> Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística<br />

(IBGE) <strong>do</strong>s anos <strong>de</strong> 2001 a 2006.<br />

No que tange à estimação, diversos mo<strong>de</strong>los alternativos ao <strong>de</strong> Mínimos<br />

Quadra<strong>do</strong>s Ordinários (MQO) são propostos, <strong>de</strong> forma a obter uma<br />

maior robustez <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>em</strong> relação àqueles obti<strong>do</strong>s a partir <strong>de</strong> MQO,<br />

17


Daniel Cirilo Suliano, Marcelo Lettieri Siqueira<br />

corrigin<strong>do</strong>-se, <strong>de</strong>ssa maneira, diferentes fontes <strong>de</strong> viés.<br />

De fato, um gran<strong>de</strong> probl<strong>em</strong>a que as equações <strong>de</strong> salários a lá Mincer<br />

enfrentam é o possível probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> en<strong>do</strong>geneida<strong>de</strong> entre educação e salários.<br />

Ou seja, a causalida<strong>de</strong> que geralmente vai da educação para salários<br />

também vai <strong>do</strong>s salários para a educação, na medida <strong>em</strong> que o nível salarial<br />

<strong>do</strong> indivíduo po<strong>de</strong> muito b<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminar seu nível ótimo <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong> forma que ambas as variáveis passam a ser <strong>de</strong>terminadas <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo. Se for esse o caso, a causalida<strong>de</strong> vai para trás (<strong>de</strong> salário para<br />

educação), e para frente (<strong>de</strong> educação para salário), isto é, há causalida<strong>de</strong><br />

simultânea. Se ela existe, uma regressão por MQO capta ambos os efeitos,<br />

<strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que o estima<strong>do</strong>r torna-se viesa<strong>do</strong> e inconsistente [Stock e Watson<br />

(2004)]. Uma forma <strong>de</strong> corrigir esse possível probl<strong>em</strong>a é através da estimação<br />

<strong>de</strong> mínimos quadra<strong>do</strong>s <strong>em</strong> <strong>do</strong>is estágios (MQ2E) com o uso <strong>de</strong> variáveis<br />

instrumentais [Wooldridge (2002) e Stock e Watson (2004)]. Para<br />

que a variável instrumental seja válida, ela <strong>de</strong>ve ser relevante (isto é, correlacionada<br />

com o regressor endógeno), além <strong>de</strong> ser exógena (inexistência<br />

<strong>de</strong> correlação entre o instrumento e o termo <strong>de</strong> erro). No presente caso,<br />

e consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> as limitações da base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s da Pnad, o instrumento a<br />

ser utiliza<strong>do</strong> é o número <strong>de</strong> pessoas na família <strong>do</strong> indivíduo [De La Croix<br />

e Doepke (2003]. No mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> De La Croix e Doepke (2003), educação<br />

e fertilida<strong>de</strong> são <strong>de</strong>cisões inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes; logo, pais pobres ao <strong>de</strong>cidir<strong>em</strong><br />

ter mais filhos, levan<strong>do</strong> <strong>em</strong> conta as limitações orçamentárias, passam a<br />

investir menos <strong>em</strong> educação.<br />

Outra possível fonte <strong>de</strong> viés resulta <strong>do</strong> probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> seletivida<strong>de</strong><br />

amostral. Nesse caso, além <strong>de</strong> o salário <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da oferta <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego,<br />

po<strong>de</strong> também ser uma função da estratégia <strong>de</strong> “job search” <strong>do</strong> indivíduo,<br />

o que r<strong>em</strong>ete ao fato <strong>de</strong> o mesmo ter implícito um salário <strong>de</strong> reserva abaixo<br />

<strong>do</strong> qual não aceitaria participar <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho, resultan<strong>do</strong>, assim,<br />

<strong>em</strong> um possível viés <strong>de</strong> seleção amostral. Dessa forma, o procedimento<br />

aqui a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> seria a estimação <strong>de</strong> uma equação <strong>de</strong> participação no merca<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> trabalho para uma amostra composta por trabalha<strong>do</strong>res <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s<br />

e <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s, da qual resultaria a geração <strong>de</strong> uma nova variável<br />

lambda, conhecida como razão inversa <strong>de</strong> Mills, passan<strong>do</strong>, então, a ser<br />

incluída no mo<strong>de</strong>lo original como regressor adicional. Tal meto<strong>do</strong>logia caracteriza<br />

o procedimento <strong>de</strong> <strong>do</strong>is estágios <strong>de</strong> Heckman [Heckman (1979)].<br />

De outra parte, usan<strong>do</strong> uma extensão da meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> viés <strong>de</strong> se-<br />

18


Um Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Retorno da Educação na Região Nor<strong>de</strong>ste:<br />

Análise <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s da Bahia, <strong>Ceará</strong> e Pernambuco a Partir da Recente Queda da Desigualda<strong>de</strong><br />

leção amostral, on<strong>de</strong> não se observa escolhas não-ótimas, po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar<br />

a escolha <strong>do</strong>s anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> uma variável contínua<br />

e or<strong>de</strong>nada [Garen (1984)]. Assim, nesse mo<strong>de</strong>lo, controlam-se fatores<br />

relaciona<strong>do</strong>s aos rendimentos <strong>do</strong> trabalho por meio da inclusão <strong>de</strong> uma<br />

equação específica para a escolarida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma a corrigir probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong><br />

en<strong>do</strong>geineida<strong>de</strong>, ten<strong>do</strong> como subproduto uma variável explicativa resíduo<br />

e outra interativa entre resíduo e escolarida<strong>de</strong>.<br />

Existe ainda um tipo <strong>de</strong> viés caracteriza<strong>do</strong> pela não observância <strong>de</strong><br />

atributos específicos <strong>do</strong>s indivíduos como, por ex<strong>em</strong>plo, habilida<strong>de</strong> inata,<br />

esforço e <strong>de</strong>terminação sen<strong>do</strong>, portanto, relaciona<strong>do</strong>s a componentes<br />

idiossincrásicos <strong>do</strong>s mesmos. Se for esse o caso, <strong>de</strong>ve-se esperar que tais<br />

características não se alter<strong>em</strong> com o t<strong>em</strong>po e, portanto, tal probl<strong>em</strong>a po<strong>de</strong>ria<br />

ser contorna<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> uso da meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> painel através<br />

<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> regressão com efeitos fixos. Como a amostra da Pnad é variável<br />

<strong>de</strong> um ano para outro, não acompanhan<strong>do</strong> os mesmos indivíduos ao<br />

longo <strong>do</strong>s anos, a alternativa aqui seria o uso <strong>de</strong> pseu<strong>do</strong>-painel, conforme<br />

<strong>de</strong>scrito por Deaton (1985).<br />

Finalmente, com o objetivo <strong>de</strong> investigar os resulta<strong>do</strong>s por nível <strong>de</strong><br />

escolarida<strong>de</strong>, foi estima<strong>do</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>em</strong> que a variável contínua anos <strong>de</strong><br />

estu<strong>do</strong> foi substituída por quatro dummies que mensura quatro diferentes<br />

graus <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>: ensino fundamental 1 (EF1), ensino fundamental 2<br />

(EF2), ensino médio (EM) e ensino superior (ES), na qual menos <strong>de</strong> quatro<br />

anos <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> foi tomada como categoria base. Além disto, a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong><br />

como hipótese o merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> sinalização <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> por Spence<br />

(1974), no qual os ganhos <strong>do</strong>s agentes que logram êxito <strong>em</strong> concluir to<strong>do</strong><br />

um ciclo <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> são maiores <strong>do</strong> que aqueles que apenas concluíram<br />

algumas séries <strong>de</strong>sse nível [Hungerford e Sólon (1987)], optou-se por construir<br />

as diferentes categorias <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o chama<strong>do</strong><br />

“efeito diploma”. Portanto, para a categoria ensino fundamental 1 agregou-se<br />

to<strong>do</strong>s os indivíduos que tinham pelo menos quatro anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong><br />

e menos <strong>de</strong> oito (apenas diploma <strong>de</strong> ensino fundamental 1); por sua vez, a<br />

categoria ensino fundamental 2 agregou indivíduos com pelo menos oito<br />

anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> e menos <strong>de</strong> onze anos; já na categoria ensino médio foram<br />

incluí<strong>do</strong>s os indivíduos que tinham onze anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> completo; e, por<br />

fim, na categoria ES foram incluí<strong>do</strong>s os indivíduos que freqüentaram pelo<br />

menos um ano <strong>de</strong> ensino superior. Neste último caso, apenas um ano <strong>de</strong><br />

19


Daniel Cirilo Suliano, Marcelo Lettieri Siqueira<br />

estu<strong>do</strong> po<strong>de</strong> já configurar o “efeito diploma”, como conseqüência <strong>do</strong> baixo<br />

estoque <strong>de</strong> pessoas na categoria [Menezes-Filho (2001a, 2001b)].<br />

3.2 Descrição das Variáveis<br />

Com base na amostra total da Pnad, como <strong>de</strong> praxe, foram feitas<br />

algumas filtragens <strong>de</strong> forma a obter uma maior consistência <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo.<br />

Em primeiro lugar, utilizou-se apenas homens com ida<strong>de</strong> entre 24 e 57<br />

anos, inclusive, excluin<strong>do</strong> da amostra os trabalha<strong>do</strong>res cuja informação na<br />

variável posição na ocupação eram <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s <strong>do</strong>mésticos, trabalha<strong>do</strong>res<br />

na produção para o próprio consumo e trabalha<strong>do</strong>res na construção para<br />

o próprio uso.<br />

A escolha <strong>do</strong>s homens e não das mulheres se <strong>de</strong>ve a participações<br />

distintas <strong>de</strong> ambas as categorias no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong>corrente, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, da fertilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> sexo f<strong>em</strong>inino <strong>em</strong> função <strong>de</strong> tarefas reprodutivas,<br />

assim como discriminação [ver L<strong>em</strong>e e Wajnman (2001)]. Por sua vez,<br />

a ida<strong>de</strong> mínima <strong>de</strong> 24 anos implica selecionar indivíduos que não estejam<br />

estudan<strong>do</strong>, da mesma forma que ao impor a ida<strong>de</strong> máxima <strong>de</strong> 57 anos<br />

possibilita a exclusão <strong>do</strong>s aposenta<strong>do</strong>s, selecionan<strong>do</strong>, ao máximo, apenas<br />

trabalha<strong>do</strong>res que estejam <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>.<br />

Os trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong>mésticos são auto-excluí<strong>do</strong>s no número <strong>de</strong> componentes<br />

da família (variável utilizada como instrumento no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

variável instrumental). 2 Para os trabalha<strong>do</strong>res na produção para o próprio<br />

consumo e trabalha<strong>do</strong>res na construção para o próprio uso, sen<strong>do</strong> a discriminação<br />

fator <strong>de</strong>terminante da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> salarial [Campante, Crespo e<br />

Leite (2004)], fez-se também a opção <strong>de</strong> excluir os indivíduos nessas duas<br />

ocupações <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s.<br />

Em função da forte segmentação e discriminação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

trabalho brasileiro [Barros, Franco e Men<strong>do</strong>nça (2007)], foram acrescentadas<br />

dummies diferencian<strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> segmento formal-informal<br />

e brancos e não brancos. 3 Similarmente, adicionou-se mais uma dummy<br />

para diferenciar o setor urbano metropolitano <strong>do</strong> setor urbano não metropolitano<br />

e <strong>do</strong> setor rural, ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> conta a falta <strong>de</strong> convergência <strong>de</strong><br />

2 Esse instrumento também exclui os parentes <strong>de</strong> <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s <strong>do</strong>mésticos e os pensionistas.<br />

3 Os não brancos são indivíduos que <strong>de</strong>clararam na Pnad ser<strong>em</strong> da raça preta ou parda. Por convenção, os amarelos e os<br />

índios foram excluí<strong>do</strong>s da amostra.<br />

20


Um Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Retorno da Educação na Região Nor<strong>de</strong>ste:<br />

Análise <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s da Bahia, <strong>Ceará</strong> e Pernambuco a Partir da Recente Queda da Desigualda<strong>de</strong><br />

renda <strong>do</strong>s mesmos <strong>de</strong>ntro da região nor<strong>de</strong>ste [ver, por ex<strong>em</strong>plo, Hoffmann<br />

(2006) e Barros, Franco e Men<strong>do</strong>nça (2007)]. Por sua vez, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o<br />

papel <strong>do</strong>s sindicatos no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho brasileiro, uma dummy ‘sind’<br />

é incluída como forma <strong>de</strong> captar uma diferença <strong>de</strong> médias entre trabalha<strong>do</strong>res<br />

sindicaliza<strong>do</strong>s e não-sindicaliza<strong>do</strong>s.<br />

Além <strong>do</strong> mais, a adição <strong>de</strong> controles extras po<strong>de</strong> vir a reduzir significativamente<br />

a variância <strong>do</strong> erro, conduzin<strong>do</strong>, assim, a uma estimativa mais<br />

precisa <strong>do</strong> prêmio à escolarida<strong>de</strong>. Nesta situação, não se trata da inexistência<br />

<strong>de</strong> viés ou inconsistência <strong>do</strong> estima<strong>do</strong>r, e sim da obtenção <strong>de</strong> um estima<strong>do</strong>r<br />

com menor variância amostral. Dentro <strong>de</strong>sse contexto, incluiu-se duas<br />

variáveis adicionais, <strong>de</strong> forma a captar efeitos <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> permanência <strong>do</strong><br />

indivíduo no mesmo trabalho [Wooldrige (2002)]. Interações envolven<strong>do</strong> as<br />

variáveis experiência e raça branca e as variáveis escolarida<strong>de</strong>, experiência<br />

e raça branca [ver Garen (1984)], b<strong>em</strong> como dummies referentes à posição<br />

<strong>de</strong> ocupação no trabalho principal 4 e setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> 5 foram também<br />

acrescidas [ver Ueda e Hoffmann (2002)]. Por fim, foi inclusa uma única<br />

dummy chef<strong>do</strong>m <strong>de</strong> forma a diferenciar o chefe <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílio das d<strong>em</strong>ais<br />

categorias na condição na família. 6<br />

A variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, salário real horário, refere-se ao rendimento<br />

<strong>do</strong> trabalho principal, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> <strong>de</strong>flaciona<strong>do</strong> pelo Índice Nacional <strong>de</strong><br />

Preços ao Consumi<strong>do</strong>r (INPC) <strong>do</strong> IBGE. Assim, <strong>de</strong> forma a isolar o impacto<br />

da variação das horas trabalhadas sobre os rendimentos salariais,<br />

dividiu-se o rendimento mensal por quatro, obten<strong>do</strong>-se o rendimento s<strong>em</strong>anal<br />

<strong>do</strong> trabalho. Por conseguinte, o rendimento s<strong>em</strong>anal <strong>do</strong> trabalho<br />

foi dividi<strong>do</strong> pelo número <strong>de</strong> horas trabalhadas por s<strong>em</strong>ana, resultan<strong>do</strong>,<br />

finalmente, no salário real horário. De uma maneira b<strong>em</strong> geral, o mo<strong>de</strong>lo<br />

econométrico teria o seguinte formato:<br />

(01)<br />

4<br />

Foram acrescidas as dummies conta-própria, funcionário público e <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>r como forma <strong>de</strong> captar uma diferença<br />

<strong>de</strong> média entre o grupo <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res <strong>em</strong>prega<strong>do</strong> (categoria base).<br />

5<br />

Uma dummy para o setor secundário (indústria) e outra para o setor terciário (comércio e serviços) diferencia-se <strong>do</strong><br />

setor agrícola (grupo <strong>de</strong> controle).<br />

6<br />

O grupo <strong>de</strong> controle forma<strong>do</strong> por pessoas não chefes <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílio é composto <strong>de</strong> cônjuge, filhos, outros parentes e<br />

agrega<strong>do</strong>s.<br />

21


Daniel Cirilo Suliano, Marcelo Lettieri Siqueira<br />

on<strong>de</strong> w é o salário real horário, x’ é um vetor que indica as diversas características<br />

observadas <strong>do</strong>s indivíduos, conforme <strong>de</strong>scrito, esc a escolarida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> indivíduo medida <strong>em</strong> anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> e ε um termo <strong>de</strong> erro. No<br />

mo<strong>de</strong>lo por nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, caracteriza<strong>do</strong> pelo chama<strong>do</strong> “efeito diploma”,<br />

a variável esc é substituída por quatro dummies para cada ciclo <strong>de</strong><br />

ensino. Estes atributos individuais e as d<strong>em</strong>ais variáveis explicativas que<br />

aparec<strong>em</strong> nos distintos mo<strong>de</strong>los estão enumera<strong>do</strong>s a seguir:<br />

01. exp – experiência <strong>do</strong> indivíduo <strong>de</strong>finida como experiência = ida<strong>de</strong> –<br />

escolarida<strong>de</strong> – 6 (medida <strong>em</strong> anos).<br />

02. exp 2 – experiência ao quadra<strong>do</strong>.<br />

03. branca – se o indivíduo se <strong>de</strong>clarou branco (branco =1 e d<strong>em</strong>ais casos = 0).<br />

04. esc×exp – interação entre as variáveis escolarida<strong>de</strong> e experiência.<br />

05. exp×branca – interação entre as variáveis experiência e raça branca.<br />

06. esc×exp×branca – interação entre as variáveis escolarida<strong>de</strong>, experiência<br />

e raça branca.<br />

07. perm – t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> permanência <strong>do</strong> indivíduo no mesmo trabalho (medida<br />

<strong>em</strong> anos).<br />

08. perm 2 – t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> permanência <strong>do</strong> indivíduo no mesmo trabalho ao<br />

quadra<strong>do</strong>.<br />

09. formal – se o indivíduo contribuiu para instituto <strong>de</strong> previdência <strong>em</strong><br />

qualquer trabalho (formal = 1 e trabalha<strong>do</strong>r informal = 0).<br />

10. sind – se o trabalha<strong>do</strong>r é sindicaliza<strong>do</strong> (sind = 1 e trabalha<strong>do</strong>r não<br />

sindicaliza<strong>do</strong> = 0).<br />

11. urbmet – indivíduo da região urbana metropolitana (urbmet = 1 e rural = 0).<br />

12.urbnaomet – indivíduo da região urbana não metropolitana<br />

(urbnaomet = 1 e rural = 0).<br />

13. secundario – trabalha<strong>do</strong>r <strong>do</strong> setor <strong>de</strong> comércio e serviços (secundario<br />

= 1 e primário = 0).<br />

14. terciario – trabalha<strong>do</strong>r <strong>do</strong> setor industrial (terciario =1 e primário = 0).<br />

15. conta-propria – se o indivíduo é conta-própria (conta-propria = 1 e<br />

<strong>em</strong>prega<strong>do</strong> = 0).<br />

16. funcpub – se o indivíduo é funcionário público estatutário ou militar<br />

(funcpub = 1 e <strong>em</strong>prega<strong>do</strong> = 0).<br />

17. <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>r – se o indivíduo é <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>r (<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>r = 1 e <strong>em</strong>prega<strong>do</strong><br />

= 0).<br />

22


Um Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Retorno da Educação na Região Nor<strong>de</strong>ste:<br />

Análise <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s da Bahia, <strong>Ceará</strong> e Pernambuco a Partir da Recente Queda da Desigualda<strong>de</strong><br />

18. chef<strong>do</strong>m – chefe <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílio (chefe <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílio = 1 e d<strong>em</strong>ais m<strong>em</strong>bros<br />

= 0).<br />

19. residuo – variável gerada da equação específica para escolarida<strong>de</strong> no<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Garen (1984).<br />

20. residuo×esc – interação entre a variável gerada da equação específica<br />

para escolarida<strong>de</strong> no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Garen (1984) e a escolarida<strong>de</strong> <strong>do</strong> indivíduo<br />

(medida <strong>em</strong> anos).<br />

21. lambda – razão inversa <strong>de</strong> Mills gerada pelo Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Heckman <strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>is estágios.<br />

22. efeitos fixos (Z i ) – conjunto <strong>de</strong> variáveis não observadas que<br />

varia <strong>de</strong> um indivíduo para outro no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> pseu<strong>do</strong>-painel.<br />

Quan<strong>do</strong> se consi<strong>de</strong>ra o mo<strong>de</strong>lo por nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, a variável<br />

esc é substituída por quatro dummies e a equação (01) anterior é substituída<br />

pela equação (02) abaixo:<br />

'<br />

ln wi xi1EF12EF23EM 4ES i<br />

2 2<br />

exp, exp , branca, perm, perm , formal, sin d,<br />

<br />

' (02)<br />

x urbmet, urbnaomet, sec undario, terciario,<br />

<br />

contapropria, funcpub, <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>r, chef<strong>do</strong>m. <br />

<br />

on<strong>de</strong>:<br />

01. EF1 – indivíduos que possu<strong>em</strong> <strong>de</strong> quatro a sete anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> e, portanto,<br />

<strong>de</strong>tentor <strong>do</strong> diploma <strong>de</strong> ensino fundamental 1 (EF1 = 1 e s<strong>em</strong><br />

diploma = 0, com escolarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> zero a três anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>).<br />

02. EF2 – indivíduos que possu<strong>em</strong> <strong>de</strong> oito a <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> e, portanto,<br />

<strong>de</strong>tentor <strong>do</strong> diploma <strong>de</strong> ensino fundamental 2 (EF2 = 1 e s<strong>em</strong> diploma<br />

= 0, com escolarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> zero a três anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>).<br />

03. EM – indivíduos que possu<strong>em</strong> onze anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> e, portanto, <strong>de</strong>tentor<br />

<strong>do</strong> diploma <strong>de</strong> Ensino Médio (EM = 1 e s<strong>em</strong> diploma = 0, com<br />

escolarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> zero a três anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>).<br />

04. ES – indivíduos que possu<strong>em</strong> <strong>do</strong>ze, treze, quatorze e mais <strong>de</strong> quinze<br />

anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> e, portanto, <strong>de</strong>tentor <strong>do</strong> diploma <strong>de</strong> ensino superior,<br />

on<strong>de</strong> diploma <strong>de</strong> ensino superior caracteriza-se por apenas um ano <strong>de</strong><br />

estu<strong>do</strong> <strong>em</strong> instituição superior (ES = 1 e s<strong>em</strong> diploma = 0, com escolarida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> zero a três anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>).<br />

'<br />

23


Daniel Cirilo Suliano, Marcelo Lettieri Siqueira<br />

4. ESTIMAÇõES<br />

As tabelas 1, 2 e 3 abaixo apresentam, respectivamente, as estimações<br />

<strong>do</strong>s diferentes mo<strong>de</strong>los para os Esta<strong>do</strong>s da Bahia, <strong>Ceará</strong> e Pernambuco.<br />

Variaveis<br />

Explicativas #<br />

24<br />

Tabela 1 - Estimativas para o Esta<strong>do</strong> da Bahia<br />

Variável Depen<strong>de</strong>nte: Logaritmo <strong>do</strong> Salário Real Horário<br />

MQO<br />

Heckman <strong>em</strong><br />

2 Estágios<br />

Mo<strong>de</strong>los<br />

Pseu<strong>do</strong>-Painel<br />

Efeitos Fixos<br />

Variável Instrumental<br />

(IV)<br />

Garen<br />

(1984)<br />

Nível <strong>de</strong> Escolarida<strong>de</strong><br />

constante -1,0295 - -1,0253 -1,2120 -0,7072 -0,4064<br />

esc 0,1266 - 0,1209 0,1766 0,1077 -<br />

exp 0,0527 - 0,0500 0,0505 0,0277 0,0215<br />

exp2 -0,000622 - -0,000592 -0,000437 -0,000314 -0,000286<br />

branca 0,1214 - 0,1031 0,0903 0,1307 0,1902<br />

esc × exp -0,0017 - -0,0016 - -0,0001* -<br />

exp × branca -0,0047 - -0,0039 - -0,0066 -<br />

esc × exp × branca 0,001251 - 0,001219 - 0,001121 -<br />

perm 0,0127 - 0,0119 0,0086 0,0121 0,0137<br />

perm2 -0,000258 - -0,000240 -0,000272 -0,000233 -0,000263<br />

formal 0,2885 - 0,2920 0,1592 0,2878 0,3157<br />

Sind 0,1372 - 0,1402 0,0672 0,1358 0,1507<br />

urbmet 0,1295 - 0,2173 -0,0691* -0,0592* 0,1917<br />

urbnaomet 0,0403 - 0,0415 -0,0497* -0,1079 0,0711<br />

secundario 0,1909 - 0,2071 0,0722 0,2064 0,2377<br />

terciario 0,1332 - 0,1583 -0,0600* 0,1509 0,1897<br />

contapropria 0,0795 - 0,0779 0,0371 0,0913 0,0928<br />

funcpub 0,2466 - 0,2481 0,0815* 0,1841 0,2732<br />

<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>r 0,7410 - 0,7352 0,5384 0,7197 0,8099<br />

chef<strong>do</strong>m 0,1192 - 0,1293 0,1034 0,1413 0,1350<br />

residuo - - - - -0,0746 -<br />

residuo × esc - - - - 0,0079 -<br />

lambda - - - - -<br />

EF1 - - - - - 0,1380<br />

EF2 - - - - - 0,3118<br />

EM - - - - - 0,4102<br />

ES - - - - - 0,8405<br />

Fonte: Cálculos pelos autores.<br />

Número <strong>de</strong> observações: 32.149.<br />

# Os erros padrão são robustos à heteroscedasticida<strong>de</strong>.<br />

Obs. Salvo menção <strong>em</strong> contrário, todas as variáveis são significativas a 1%.<br />

* Variáveis não significativas.


Um Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Retorno da Educação na Região Nor<strong>de</strong>ste:<br />

Análise <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s da Bahia, <strong>Ceará</strong> e Pernambuco a Partir da Recente Queda da Desigualda<strong>de</strong><br />

Variaveis<br />

Explicativas #<br />

Tabela 2 - Estimativas para o Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

Variável Depen<strong>de</strong>nte: Logaritmo <strong>do</strong> Salário Real Horário<br />

MQO<br />

Heckman <strong>em</strong><br />

2 Estágios<br />

Mo<strong>de</strong>los<br />

Pseu<strong>do</strong>-Painel<br />

Efeitos Fixos<br />

Variável<br />

Instrumental (IV)<br />

Garen<br />

(1984)<br />

Nível <strong>de</strong> Escolarida<strong>de</strong><br />

constante -1,2700 -2,6718 -1,2047 -0,9101 -0,7917 -0,6029<br />

esc 0,1265 0,1782 0,1249 0,1074 0,0787 -<br />

exp 0,0577 0,0925 0,0555 0,0313 0,0270 0,0249<br />

exp2 -0,000700 -0,001311 -0,000678 -0,000310 -0,000337 -0,000355<br />

branca 0,0815 0,0648* 0,0782 0,0758 0,1293 0,1053<br />

esc × exp -0,0018 -0,0032 -0,0018 - -0,00004* -<br />

exp × branca -0,0042 -0,0044 -0,0033 - -0,0068 -<br />

esc × exp × branca 0,000873 0,001180 0,000722 - 0,000846 -<br />

perm 0,0167 0,0167 0,0182 0,0158 0,0161 0,0172<br />

perm2 -0,000347 -0,000346 -0,000375 -0,000356 -0,000318 -0,000338<br />

formal 0,2158 0,2171 0,2018 0,1871 0,2167 0,2357<br />

Sind 0,1088 0,1090 0,1075 0,0960 0,1033 0,1290<br />

urbmet 0,1685 0,2184 0,1113 0,1325 0,0803 0,2122<br />

urbnaomet 0,0003* 0,0799* 0,0198* -0,0154* -0,0730 0,0214*<br />

secundario 0,2744 0,2734 0,2732 0,2408 0,2800 0,3080<br />

terciario 0,2839 0,2838 0,2730 0,2260 0,2893 0,3387<br />

contapropria 0,1002 0,1024 0,0938 0,0904 0,1131 0,1119<br />

funcpub 0,4241 0,4147 0,4234 0,3927 0,3347 0,4650<br />

<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>r 0,6958 0,6959 0,6773 0,6517 0,6822 0,7576<br />

chef<strong>do</strong>m 0,0890 0,4689 0,1009 0,0897 0,1014 0,0936<br />

residuo - - - - -0,0581 -<br />

residuo × esc - - - - 0,0081 -<br />

lambda - 1,4299 - - - -<br />

EF1 - - - - - 0,1293<br />

EF2 - - - - - 0,2908<br />

EM - - - - - 0,4579<br />

ES - - - - - 0,8433<br />

Fonte: Cálculos pelos autores.<br />

Número <strong>de</strong> observações: 19.656.<br />

# Os erros padrão são robustos à heteroscedasticida<strong>de</strong>.<br />

Obs. Salvo menção <strong>em</strong> contrário, todas as variáveis são significativas a 1%.<br />

* Variáveis não significativas.<br />

25


Daniel Cirilo Suliano, Marcelo Lettieri Siqueira<br />

Variaveis<br />

Explicativas #<br />

26<br />

Tabela 3 - Estimativas para o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Pernambuco<br />

Variável Depen<strong>de</strong>nte: Logaritmo <strong>do</strong> Salário Real Horário<br />

MQO<br />

Heckman <strong>em</strong><br />

2 Estágios<br />

Mo<strong>de</strong>los<br />

Pseu<strong>do</strong>-Painel<br />

Efeitos Fixos<br />

Variável<br />

Instrumental (IV)<br />

Garen<br />

(1984)<br />

Nível <strong>de</strong> Escolarida<strong>de</strong><br />

constante -1,2088 -0,4620 -1,1376 -1,1064 -0,7809 -0,4908<br />

esc 0,1411 0,1088 0,1365 0,1608 0,1106 -<br />

exp 0,0576 0,0349 0,0537 0,0413 0,0267 0,0202<br />

exp 2 -0,000666 -0,000261 -0,000611 -0,000333 -0,000292 -0,000279<br />

branca 0,0710 0,0518* 0,0640 0,0671 0,0965 0,1511<br />

esc × exp -0,0022 -0,0013 -0,0021 - -0,0003 -<br />

exp × branca -0,0046 -0,0040 -0,0044 - -0,0072 -<br />

esc × exp × branca 0,001189 0,001137 0,001212 - 0,001100 -<br />

perm 0,0140 0,0141 0,0154 0,0109 0,0143 0,0160<br />

perm 2 -0,000260 -0,000262 -0,000313 -0,000305 -0,000269 -0,000291<br />

formal 0,2006 0,2011 0,1985 0,1210 0,2063 0,2264<br />

Sind 0,1415 0,1401 0,1345 0,1112 0,1297 0,1637<br />

urbmet 0,1109 0,1940 0,1080 -0,0409* -0,0564* 0,1874<br />

urbnaomet 0,0549 0,0583 0,0639 -0,0034* -0,0710 0,0895<br />

secundario 0,1701 0,1728 0,1707 0,0647* 0,1877 0,2249<br />

terciario 0,1578 0,1598 0,1596 0,0017* 0,1811 0,2269<br />

contapropria 0,0712 0,0714 0,0648 0,0441 0,0838 0,0939<br />

funcpub 0,3616 0,3641 0,3608 0,2277 0,2953 0,4124<br />

<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>r 0,6860 0,6840 0,7044 0,5441 0,6619 0,7591<br />

chef<strong>do</strong>m 0,1094 -0,1084* 0,1019 0,0921 0,1221 0,1333<br />

residuo - - - - -0,0800 -<br />

residuo × esc - - - - 0,0086 -<br />

lambda - -0,7018 - - - -<br />

EF1 - - - - - 0,1278<br />

EF2 - - - - - 0,3067<br />

EM - - - - - 0,4231<br />

ES - - - - - 0,8939<br />

Fonte: Cálculos pelos autores.<br />

Número <strong>de</strong> observações: 19.656.<br />

# Os erros padrão são robustos à heteroscedasticida<strong>de</strong>.<br />

Obs. Salvo menção <strong>em</strong> contrário, todas as variáveis são significativas a 1%.<br />

* Variáveis não significativas.<br />

No que se observou, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Heckman <strong>em</strong> <strong>do</strong>is estágios para o<br />

Esta<strong>do</strong> Bahia foi o único que não apresentou um bom ajuste. Neste caso,<br />

optou-se por sua exclusão. Para os d<strong>em</strong>ais mo<strong>de</strong>los, po<strong>de</strong>-se observar a<br />

significância estatística <strong>de</strong> quase todas as variáveis <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os Esta<strong>do</strong>s<br />

mostran<strong>do</strong>, portanto, a relevância da gran<strong>de</strong> maioria das variáveis


Um Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Retorno da Educação na Região Nor<strong>de</strong>ste:<br />

Análise <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s da Bahia, <strong>Ceará</strong> e Pernambuco a Partir da Recente Queda da Desigualda<strong>de</strong><br />

explicativas, b<strong>em</strong> como a robustez <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os mo<strong>de</strong>los escolhi<strong>do</strong>s para as<br />

distintas estimações.<br />

Com relação às principais variáveis explicativas, 7 observa-se o seguinte:<br />

no caso <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s setores secundário e terciário, 8 nos<br />

três Esta<strong>do</strong>s, seus diferenciais salariais são b<strong>em</strong> superiores quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong>s<br />

com os trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> setor primário (agrícola). 9 No caso <strong>do</strong>s<br />

chefes <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílio, situação s<strong>em</strong>elhante acontece: quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong>s<br />

com suas respectivas categorias <strong>de</strong> referência, seus diferenciais salariais<br />

são também enormes. Para o Esta<strong>do</strong> da Bahia, os diferenciais variam <strong>de</strong><br />

12,66% a 15,18%, enquanto no <strong>Ceará</strong> o diferencial varia <strong>de</strong> 9,31% a 59,82%<br />

e <strong>em</strong> Pernambuco a variação está entre 9,65% a 12,99%.<br />

As dummies <strong>de</strong> posição <strong>do</strong> trabalho principal que diferencia contaprópria,<br />

funcionário público e <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s (categoria <strong>de</strong><br />

referência), apresentam também efeitos parciais potencialmente relevantes.<br />

No caso <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res inseri<strong>do</strong>s na categoria conta-própria, os resulta<strong>do</strong>s<br />

mostram que seus efeitos marginais são positivos. Funcionários<br />

públicos e <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>res, <strong>em</strong> média, apresentam efeitos ainda maiores.<br />

Para o <strong>Ceará</strong>, a categoria funcionários públicos apresenta valores superiores<br />

aos outros <strong>do</strong>is Esta<strong>do</strong>s, enquanto que a categoria <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>r, <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s<br />

os três, apresentam efeitos ainda mais diferencia<strong>do</strong>s (na o maior efeito<br />

marginal <strong>de</strong> um <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>r é <strong>de</strong> até 124,77%, no <strong>Ceará</strong> o diferencial salarial<br />

chega a até 113,32% e <strong>em</strong> Pernambuco o diferencial é até 113,64%).<br />

Para distinguir a segmentação <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> formal-informal optou-se,<br />

s<strong>em</strong>elhant<strong>em</strong>ente a Kassouf (1998), diferenciar trabalha<strong>do</strong>res<br />

que pertenc<strong>em</strong> ao setor formal através da contribuição para <strong>Instituto</strong><br />

<strong>de</strong> Previdência Social. Assim, ten<strong>do</strong> como base o questionário da Pnad<br />

e usan<strong>do</strong> uma medida ampla <strong>de</strong> formalida<strong>de</strong>, trabalha<strong>do</strong>r formal seria<br />

aquele que contribuiu para instituto <strong>de</strong> previdência <strong>em</strong> qualquer trabalho.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s encontra<strong>do</strong>s mostram alta segmentação no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

trabalho, na medida <strong>em</strong> que trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> setor formal, nos três Esta<strong>do</strong>s,<br />

<strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os mo<strong>de</strong>los estima<strong>do</strong>s, ganham, <strong>em</strong> média, acima <strong>de</strong> 12%<br />

7<br />

O efeito parcial (marginal) exato das principais variáveis explicativas <strong>de</strong>scritas no mo<strong>de</strong>lo é obti<strong>do</strong> através da expressão<br />

y<br />

expcoef 1100<br />

x .<br />

8<br />

No mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> variável instrumental <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s da Bahia e <strong>de</strong> Pernambuco o setor terciário e os setores secundário e<br />

terciário, respectivamente, possu<strong>em</strong> um baixo po<strong>de</strong>r explicativo além <strong>de</strong> os coeficientes ser<strong>em</strong> não significantes. Em<br />

to<strong>do</strong>s os d<strong>em</strong>ais mo<strong>de</strong>los, os diferenciais são potencialmente relevantes para os <strong>do</strong>is setores.<br />

9<br />

No caso <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, o diferencial chega a até 40,31% para o setor terciário no mo<strong>de</strong>lo por nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>.<br />

27


Daniel Cirilo Suliano, Marcelo Lettieri Siqueira<br />

que trabalha<strong>do</strong>res da informalida<strong>de</strong>. Isso mostra que apesar da redução<br />

no grau <strong>de</strong> informalida<strong>de</strong> ter contribuí<strong>do</strong> para uma queda recente da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>,<br />

os diferenciais salariais <strong>de</strong>correntes da segmentação <strong>de</strong> merca<strong>do</strong><br />

formal-informal ainda são b<strong>em</strong> eleva<strong>do</strong>s [Ipea (2006) e Barros, Franco e<br />

Men<strong>do</strong>nça (2007)]. No tocante a segmentação espacial, apesar <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

variações intra-regionais entre trabalha<strong>do</strong>res com características similares<br />

observa<strong>do</strong> <strong>em</strong> alguns mo<strong>de</strong>los, algumas <strong>de</strong>stas variáveis apresentaram-se<br />

com sinais não espera<strong>do</strong>s e muitas vezes não significativas.<br />

Adicionalmente, a inclusão <strong>de</strong> uma dummy para trabalha<strong>do</strong>res sindicaliza<strong>do</strong>s<br />

v<strong>em</strong> a corroborar o fato que atribui aos sindicatos um aumento<br />

na dispersão salarial no Brasil [Menezes-Filho, Zylberstajn e Chahad<br />

(2002)]. De fato, um trabalha<strong>do</strong>r sindicaliza<strong>do</strong> chega a ganhar, <strong>em</strong> média,<br />

até 17,79% a mais que um não-sindicaliza<strong>do</strong> no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Pernambuco.<br />

No caso da variável permanência, foi também incluí<strong>do</strong> um termo<br />

quadrático como forma <strong>de</strong> captar certa não linearida<strong>de</strong> [Wooldridge<br />

(2002)]. Assim, seu efeito parcial é da<strong>do</strong> por:<br />

(03)<br />

<strong>em</strong> que perm1<br />

é o coeficiente da variável explicativa perm e perm2<br />

é o<br />

coeficiente da variável explicativa perm2 . To<strong>do</strong>s os mo<strong>de</strong>los mostram que<br />

o efeito marginal da variável é b<strong>em</strong> similar para os três Esta<strong>do</strong>s. 10<br />

Resta ainda observar a variável experiência. Para tanto, <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>s diversos coeficientes <strong>de</strong> interação que envolve a variável nos mo<strong>de</strong>los,<br />

optou-se por captar seu efeito parcial pela expressão abaixo como forma<br />

<strong>de</strong> incluir todas as variáveis <strong>de</strong> interação:<br />

(04)<br />

on<strong>de</strong> exp1 representa o coeficiente da variável exp, exp2 o coeficiente<br />

da variável exp2 <br />

perm1 2 perm2 , exp3 o coeficiente da variável escxexp, exp4<br />

o coeficiente da variável expxbranca e exp5 o coeficiente da variável<br />

escxexpxbranca.<br />

Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> apenas homens brancos e apenas os mo<strong>de</strong>los que<br />

inclu<strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os termos <strong>de</strong> interação, na Bahia o efeito parcial varia<br />

perm<br />

<br />

<br />

perm<br />

<br />

exp1 2exp2exp exp3esc exp4branca exp5escbranca<br />

<br />

exp<br />

10 A variável perm incluída para o cálculo <strong>do</strong> efeito marginal foi dada pela média <strong>do</strong>s seis anos das amostras.<br />

28


Um Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Retorno da Educação na Região Nor<strong>de</strong>ste:<br />

Análise <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s da Bahia, <strong>Ceará</strong> e Pernambuco a Partir da Recente Queda da Desigualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> 1,13% a 1,43%, no <strong>Ceará</strong> esse efeito varia <strong>de</strong> 0,79% a 1,55% e <strong>em</strong> Pernambuco<br />

variação se dá entre 1,03% a 1,71%. 11 Aqui, cab<strong>em</strong> duas importantes<br />

observações. Em primeiro lugar, a inclusão <strong>do</strong> termo <strong>de</strong> controle<br />

permanência nos mo<strong>de</strong>los estima<strong>do</strong>s reduz, <strong>de</strong> maneira significativa, o po<strong>de</strong>r<br />

explicativo da variável experiência, levan<strong>do</strong> <strong>em</strong> conta que a produtivida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> estritamente <strong>do</strong> seu posto atual <strong>de</strong> ocupação<br />

[Ipea (2006)]. Em segun<strong>do</strong> lugar, a redução da heterogeneida<strong>de</strong> etária no<br />

merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho brasileiro talvez explique o baixo po<strong>de</strong>r explicativo<br />

<strong>de</strong>ssa variável.<br />

Por fim, e mais importante, segue-se os comentários no que tange<br />

à variável anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>. Inicialmente, obteve-se o efeito marginal ceteris<br />

paribus <strong>do</strong> prêmio à escolarida<strong>de</strong> com base nos mo<strong>de</strong>los que inclu<strong>em</strong><br />

to<strong>do</strong>s os termos interativos, expresso pela equação abaixo:<br />

(05)<br />

<strong>em</strong> que esc1<br />

é o coeficiente da variável esc, esc2<br />

o coeficiente <strong>do</strong> termo<br />

<strong>de</strong> interação escxexp e o coeficiente <strong>do</strong> termo escxexpxbranca12 .<br />

Em seguida, calculou-se a taxa <strong>de</strong> retorno da escolarida<strong>de</strong> apenas<br />

para o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> variável instrumental, já que o mesmo não inclui<br />

termos <strong>de</strong> interação envolven<strong>do</strong> a variável educação. Finalmente, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong><br />

suas particularida<strong>de</strong>s nos resulta<strong>do</strong>s, foi feito o cálculo <strong>do</strong> retorno<br />

da educação por nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> segun<strong>do</strong> os critérios <strong>de</strong>scritos<br />

acima. 13 <br />

esc1 esc2exp esc3<br />

expbranca<br />

esc<br />

A tabela 4 abaixo resume to<strong>do</strong>s esses resulta<strong>do</strong>s.<br />

Tabela 4 - Taxa <strong>de</strong> Retorno da Educação<br />

Mo<strong>de</strong>los Bahia <strong>Ceará</strong> Pernambuco<br />

MQO 12,23 10,87 12,34<br />

Heckman <strong>em</strong> 2 Estágios - 13,60 11,05<br />

Pseu<strong>do</strong>-Painel (Efeitos Fixos) 11,78 10,28 12,16<br />

Garen (1984) 14,25 10,40 13,90<br />

Variável Instrumental (IV) 19,32 11,34 17,45<br />

Nível <strong>de</strong> Escolarida<strong>de</strong> - - -<br />

EF1 14,80 13,80 13,63<br />

EF2 36,59 33,75 35,89<br />

EM 50,71 58,08 52,67<br />

ES 131,75 132,40 144,46<br />

Fonte: Cálculos pelos autores a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da Pnad e das estimações econométricas.<br />

11<br />

No cálculo <strong>do</strong> efeito marginal da experiência, como exist<strong>em</strong> coeficientes que inclu<strong>em</strong> medidas <strong>de</strong> experiência e anos<br />

<strong>de</strong> estu<strong>do</strong>, foi consi<strong>de</strong>rada a média <strong>do</strong>s seis anos das amostras para cada variável na composição <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s.<br />

12<br />

Neste caso, s<strong>em</strong>elhant<strong>em</strong>ente a experiência, consi<strong>de</strong>rou-se apenas homens brancos.<br />

10<br />

Ver seção 3.1.<br />

29


Daniel Cirilo Suliano, Marcelo Lettieri Siqueira<br />

Em primeiro lugar, é preciso observar que a taxa <strong>de</strong> retorno da escolarida<strong>de</strong><br />

se encontra acima <strong>de</strong> 10% tanto <strong>de</strong>ntro da mesma região geográfica,<br />

como também <strong>em</strong> uma comparação intra-regional (o valor mais<br />

baixo se dá no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Garen (1984), on<strong>de</strong> a taxa é<br />

<strong>de</strong> 10,40%).<br />

Com exceção <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Heckman <strong>em</strong> <strong>do</strong>is estágios, as taxas <strong>de</strong><br />

retorno para o <strong>Ceará</strong> são, <strong>em</strong> média, menores que para os outros <strong>do</strong>is Esta<strong>do</strong>s<br />

nor<strong>de</strong>stinos. De fato, quan<strong>do</strong> se consi<strong>de</strong>ra somente o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> variável<br />

instrumental, a taxa <strong>de</strong> retorno da educação para o Esta<strong>do</strong> da Bahia<br />

chega a 19,32% e <strong>em</strong> Pernambuco a 17,45%.<br />

Já o mo<strong>de</strong>lo que discrimina por nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, os resulta<strong>do</strong>s<br />

tornam-se interessantes por pelo menos duas razões. Primeiro, como nos<br />

mo<strong>de</strong>los estima<strong>do</strong>s está consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se o nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> por meio<br />

<strong>do</strong> “efeito diploma”, as estimativas obtidas evi<strong>de</strong>nciam a importância <strong>do</strong><br />

término <strong>de</strong> pelo menos um ciclo <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>. Além <strong>do</strong> mais, como se po<strong>de</strong><br />

observar, esses efeitos são potencializa<strong>do</strong>s na medida <strong>em</strong> que se conclui<br />

um ciclo mais eleva<strong>do</strong>. 14<br />

5. CONCLUSõES<br />

Este trabalho teve como objetivo estimar a taxa <strong>de</strong> retorno da escolarida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> Brasil sob a luz <strong>de</strong> um enfoque regional ao abordar a região<br />

Nor<strong>de</strong>ste a partir <strong>de</strong> suas principais forças econômicas: Bahia, <strong>Ceará</strong> e<br />

Pernambuco. Em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as como en<strong>do</strong>geneida<strong>de</strong>, seletivida<strong>de</strong><br />

amostral e características não observadas <strong>de</strong> indivíduos que surg<strong>em</strong><br />

via estimativa por MQO, buscou-se aqui alternativas <strong>de</strong> estimação.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s encontra<strong>do</strong>s, tanto <strong>em</strong> nível intra como <strong>em</strong> nível interregional,<br />

apesar <strong>de</strong> não comparáveis com outros estu<strong>do</strong>s s<strong>em</strong>elhantes <strong>de</strong>vi<strong>do</strong><br />

às diferentes variáveis explicativas e base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, mostram que o<br />

prêmio à escolarida<strong>de</strong> no Brasil, sob um prisma regional, ainda se mantém<br />

<strong>em</strong> patamares eleva<strong>do</strong>s.<br />

Nesta perspectiva, pelo menos três importantes questões se colocam<br />

diante <strong>de</strong>sse probl<strong>em</strong>a. Em primeiro lugar, é preciso enten<strong>de</strong>r <strong>em</strong> que medida<br />

políticas públicas <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> educação compl<strong>em</strong>entar, através <strong>do</strong><br />

14 Para o ensino superior, conforme explicita<strong>do</strong> na seção 4, apenas um ano <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> no ciclo serviu como <strong>de</strong>limita<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> “efeito diploma” <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong> baixo estoque <strong>de</strong> capital humano na categoria.<br />

30


Um Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Retorno da Educação na Região Nor<strong>de</strong>ste:<br />

Análise <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s da Bahia, <strong>Ceará</strong> e Pernambuco a Partir da Recente Queda da Desigualda<strong>de</strong><br />

ensino supletivo, por ex<strong>em</strong>plo, pod<strong>em</strong> suprir a escassez educacional <strong>em</strong><br />

termos <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> formal, e, assim, homogeneizar mais a força <strong>de</strong><br />

trabalho e reduzir a taxa <strong>de</strong> retorno da escolarida<strong>de</strong> nos ciclos mais inferiores<br />

<strong>de</strong> ensino . Além disto, é importante também enten<strong>de</strong>r o efeito da<br />

composição educacional, e <strong>em</strong> que medida uma expansão mais acelerada<br />

da educação superior po<strong>de</strong> vir a reduzir o prêmio à escolarida<strong>de</strong> nos níveis<br />

mais eleva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> educação.<br />

Por fim, resta saber <strong>em</strong> que grau a abertura comercial ocorrida no<br />

início <strong>do</strong>s anos 90 está elevan<strong>do</strong> a d<strong>em</strong>anda por mão-<strong>de</strong>-obra qualificada<br />

e provocan<strong>do</strong>, nesta situação, aumentos nos diferenciais salariais da educação<br />

superior <strong>em</strong> vista <strong>de</strong> uma maior escassez relativa <strong>de</strong> capital humano<br />

quan<strong>do</strong> se consi<strong>de</strong>ra as principais economias da região Nor<strong>de</strong>ste.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

ANDRADE, S. A. A.; MENEZES-FILHO, N. O Papel da Oferta <strong>de</strong> Trabalho<br />

no Comportamento <strong>do</strong>s Retornos à Educação no Brasil. Pesquisa<br />

e Planejamento Econômico, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.35, n.2, p.189-225, ago.,<br />

2005.<br />

ANUATTI N. F.; FERNANDES, R. Grau <strong>de</strong> Cobertura e Resulta<strong>do</strong>s Econômicos<br />

<strong>do</strong> Ensino Supletivo no Brasil. Revista Brasileira <strong>de</strong> <strong>Economia</strong>,<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.53, n.4, p.165-187, abr-jun., 2000.<br />

ARBACHE. J. S. Liberalização Comercial e Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Trabalho no Brasil.<br />

In: MENEZES-FILHO, N.; LISBOA, M. (ORG). Microeconomia e<br />

Socieda<strong>de</strong> no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: EPGE-FGV, 2001.<br />

BARROS, R. P.; CARVALHO, M.; FRANCO, S.; MEDONÇA, R. Uma<br />

Análise das Principais Causas da Queda Recente na Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda<br />

Brasileira. Econômica, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.8, n.1, p.117-147, jun. 2006.<br />

BARROS, R. P.; CARVALHO, M.; FRANCO, S.; MEDONÇA, R. A Queda<br />

Recente da Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: IPEA,<br />

jan. 2007. (Texto para Discussão, 1258).<br />

BARROS, R. P.; FRANCO, S.; MEDONÇA, R. A Recente Queda da<br />

Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda e o Acelera<strong>do</strong> Progresso Educacional Brasileiro<br />

da Última Década. Rio <strong>de</strong> Janeiro: IPEA, set. 2007. (Texto para<br />

Discussão, 1304).<br />

31


Daniel Cirilo Suliano, Marcelo Lettieri Siqueira<br />

BEHRMAN, J.; BIRDSAALL, N. The Quality of Schooling: Quantity<br />

Alone is Misleading. American Economic Review, v.73, n.5, p.928-946,<br />

<strong>de</strong>c., 1983.<br />

CAMPANTE, F. R.; CRESPO A.; LEITE, P. G. P. G. Desigualda<strong>de</strong> Salarial<br />

entre Raças no Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Trabalho Urbano Brasileiro: Aspectos<br />

Regionais. Revista <strong>de</strong> Econometria, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.58, n.2, p.185-210,<br />

abr-jun., 2004.<br />

DEATON. A. Panel Data from Time Series of Cross-Sections. Journal of<br />

Econometrics. v.30, p.109-126, jan-feb, 1985.<br />

DE LA CROIX, D.; DOEPKE, M. Inequality and Growth: Why Differential<br />

Fertility Matters. American Economic Review, v.73, n.4, p.1093-1113,<br />

sep., 2003.<br />

FERREIRA, F. H. G. Os Determinantes da Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda no<br />

Brasil: Luta <strong>de</strong> Classes ou Heterogeneida<strong>de</strong> Educacional? Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Departamento <strong>de</strong> <strong>Economia</strong> – PUC-RIO, fevereiro. 2000. (Texto<br />

para Discussão, 415).<br />

FERREIRA, F. H. G.; LEITE, P. G.; LITCHFIELD, J.; ULYSSEA, G. A.<br />

Ascensão e Queda da Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda no Brasil. Econômica, Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, v.8, n.1, p.147-169, jun., 2006.<br />

FISHLOW, A. Brazilian Size Distribution of Income. American Economic<br />

Review, v.62, n.2, p.391-402, may, 1972.<br />

GAREN, J. The Returns to Schooling: A Selectivity Bias Approach with<br />

a Continuous Choice Variable, Econometrica, v.52, n.5, p.1199-1218, sep.,<br />

1984.<br />

HECKMAN, J. Sample Selection Bias as a Specification Error, Econometrica,<br />

v.47, n.1, p.153-161, jan., 1979.<br />

HOFFMANN, R. As Transferências não são a Causa Principal da Redução<br />

da Desigualda<strong>de</strong>. Econômica, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.7, n.2, p.335-341, <strong>de</strong>z.,<br />

2005.<br />

HOFFMANN, R. Transferências <strong>de</strong> Renda e a Redução da Desigualda<strong>de</strong><br />

no Brasil e cinco Regiões entre 1997 e 2004. Econômica, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

v.8, n.1, p.55-81, jun., 2006.<br />

32


Um Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Retorno da Educação na Região Nor<strong>de</strong>ste:<br />

Análise <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s da Bahia, <strong>Ceará</strong> e Pernambuco a Partir da Recente Queda da Desigualda<strong>de</strong><br />

HUNGERFORD, T.; SOLON, G. Sheepskin Effects in the Returns to<br />

Education. Review of Economics and Statistics, v.69, n.1, p.175-177, feb.,<br />

1987.<br />

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA). Sobre<br />

a Recente Queda da Desigualda<strong>de</strong> no Brasil. Nota Técnica: ago., 2006.<br />

KASSOUF, A. L. Wage Rate Estimation Using Heckman Procedure. Revista<br />

<strong>de</strong> Econometria, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.41, n.1, p.89-107, jan-mar., 1994.<br />

KASSOUF, A. L. Wage Gen<strong>de</strong>r Discrimination and Segmentation in the<br />

Brazilian Labor Market. <strong>Economia</strong> Aplicada, São Paulo, v.2, n.2, p.243-<br />

269, abr-jun., 1998.<br />

LAM, D.; LEVINSON, D. Declining Inequality in Schooling in Brazil<br />

and its Effects on Inequality in Earnings. Journal of Development Economics,<br />

v.37, n.1-2, p.199-225, nov., 1992.<br />

LAM, D.; SHOENI, R. Effects of Family Background on Earnings and<br />

Returns to Schooling: Evi<strong>de</strong>nce from Brazil. Journal of Political Economy,<br />

v.101, n.4, p.710-739, aug., 1993.<br />

LANGONI, C. G. Distribuição <strong>de</strong> Renda e Desenvolvimento Econômico<br />

no Brasil. 3. Ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: FGV, 2005.<br />

LEAL, C. I. S.; WERLANG, S. R. C. Retornos <strong>em</strong> Educação no Brasil:<br />

1976/89. Pesquisa e Planejamento Econômico, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.21, n.3,<br />

p.559-574, <strong>de</strong>z., 1991.<br />

LEAL, C. I. S.; WERLANG, S. R. C. Educação e Distribuição <strong>de</strong> Renda.<br />

In: CAMARGO, J. M.; GIAMBIAGI, F. (ORG). Distribuição <strong>de</strong> Renda<br />

no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 2000.<br />

LEME, S. C. M.; WAJNMAN, S. Diferenciais <strong>de</strong> Rendimentos por Gênero.<br />

In: MENEZES-FILHO, N.; LISBOA, M. Microeconomia e Socieda<strong>de</strong><br />

no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: EPGE-FGV, 2001.<br />

MENEZES-FILHO, N. A.; FERNANDES, R.; PICCHETTI, P. A Evolução<br />

da Distribuição <strong>de</strong> Salários no Brasil: Fatos Estiliza<strong>do</strong>s para as Décadas<br />

<strong>de</strong> 80 e 90. In: HENRIQUES, R. (ORG). Desigualda<strong>de</strong> e Pobreza no<br />

Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: IPEA, 2000.<br />

MENEZES-FILHO, N. A. A Evolução da Educação no Brasil e seu Im-<br />

33


Daniel Cirilo Suliano, Marcelo Lettieri Siqueira<br />

pacto no Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Trabalho. <strong>Instituto</strong> Futuro Brasil, 2001a.<br />

MENEZES-FILHO, N. A. Educação e Desigualda<strong>de</strong>. In: MENEZES-FI-<br />

LHO, N.; LISBOA, M. (ORG). Microeconomia e Socieda<strong>de</strong> no Brasil.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: EPGE-FGV, 2001b.<br />

MENEZES-FILHO, N.; ZYLBERSTAJN, H.; CHAHAD, J. P. Z. (ORG).<br />

Os Efeitos <strong>do</strong>s Sindicatos sobre o Salário Médio das Firmas Brasileiras.<br />

In: CHAHAD, J. P. Z.; MENEZES-FILHO, N. Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Trabalho no<br />

Brasil. São Paulo: LTr, 2002.<br />

MENEZES-FILHO, N. A.; FERNANDES, R.; PICCHETTI, P. Rising Human<br />

Capital but Constant Inequality: the Education Composition Effect in<br />

Brazil. Revista Brasileira <strong>de</strong> <strong>Economia</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.60, n.4, p.407-<br />

424, out-<strong>de</strong>z., 2006.<br />

MINCER, J. Schooling, Experience and Earning. New York: Columbia<br />

University Press, 1974.<br />

PSACHAROPOULOS, G.; PATRINOS, H. A. Returns to Investment in<br />

Education: a Further Update. World Bank Policy Research Working Paper<br />

2.881, 2002.<br />

RAMOS, L. A Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Rendimentos <strong>do</strong> Trabalho no Perío<strong>do</strong><br />

Pós-Real: O Papel da Escolarida<strong>de</strong> e <strong>do</strong> Des<strong>em</strong>prego. <strong>Economia</strong> Aplicada,<br />

São Paulo, v.11, n.2, p.281-301, abr-jun., 2007.<br />

RAMOS, L.; REIS, J. Distribuição da Renda: Aspectos Teóricos e o <strong>Debate</strong><br />

no Brasil. In: CAMARGO, J. M.; GIAMBIAGI, F. (ORG). Distribuição<br />

<strong>de</strong> Renda no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 2000.<br />

REIS, J.; BARROS, R. Desigualda<strong>de</strong> Salarial e Distribuição <strong>de</strong> Educação:<br />

A Evolução das Diferenças Regionais no Brasil. Pesquisa e Planejamento<br />

Econômico, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.20, n.3, p.415-478, <strong>de</strong>z., 1990.<br />

REIS, J.; BARROS, R. Wage Inequality and Distribution of Education.<br />

Journal of Development Economics, v.36, n.1, p.117-143, jul., 1991.<br />

REIS, J.; BARROS, R. Desigualda<strong>de</strong> Salarial: Resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Pesquisas<br />

Recentes. In: CAMARGO, J. M.; GIAMBIAGI, F. (ORG). Distribuição<br />

<strong>de</strong> Renda no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 2000.<br />

RESENDE, M.; WYLLIE, M. Retornos para Educação no Brasil: Evidências<br />

Empíricas Adicionais. <strong>Economia</strong> Aplicada, São Paulo, v.10, n.3,<br />

34


Um Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Retorno da Educação na Região Nor<strong>de</strong>ste:<br />

Análise <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s da Bahia, <strong>Ceará</strong> e Pernambuco a Partir da Recente Queda da Desigualda<strong>de</strong><br />

p. 349-365, jul-set., 2006.<br />

ROBBINS, D. J. HOS Hits Facts: Facts Win; Evi<strong>de</strong>nce on Tra<strong>de</strong> and<br />

Wages in the Developing World. Development Discussion Papers, 557,<br />

Harvard Institute for International Development, 1996.<br />

SACHSIDA, A., LOUREIRO P. R. A.; MENDONÇA M. J. C. Um Estu<strong>do</strong><br />

Sobre o Retorno <strong>em</strong> Escolarida<strong>de</strong> no Brasil. Revista <strong>de</strong> Econometria, Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, v.58, n.2, p.249-265, abr-jun., 2004.<br />

SILVA, N. D. V.; KASSOUF, A. L. Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Trabalho Formal e Informal:<br />

Uma Análise da Discriminação e da Segmentação. Nova <strong>Economia</strong>,<br />

Belo Horizonte, v.10, n.1, p.41-78, jul., 2000.<br />

SILVEIRA NETO R. M.; GONÇALVES, M. B. C. Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Trabalho,<br />

Transferências <strong>de</strong> Renda e Evolução da Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda no Nor<strong>de</strong>ste<br />

<strong>do</strong> Brasil entre 1995 e 2005. Anais, Encontro Regional <strong>de</strong> <strong>Economia</strong>,<br />

12, Fortaleza, 2007.<br />

SOARES, S. S. D. Distribuição <strong>de</strong> Renda no Brasil <strong>de</strong> 1976 a 2004 com<br />

Ênfase no Perío<strong>do</strong> entre 2001 e 2004. Brasília: IPEA, fev., 2006a. (Texto<br />

para Discussão, 1166).<br />

SOARES, S. S. D. Análise <strong>do</strong> B<strong>em</strong>-Estar e Decomposição por Fatores da<br />

Queda na Desigualda<strong>de</strong> entre 1995 e 2004. Econômica, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

v.8, n.1, p.83-115, jun., 2006b.<br />

SOTOMAYOR, O. J. Education and Changes in Brazilian Wage Inequality,<br />

1976-2001. Industrial and Labor Relations Review, v.58, n.1, p.94-<br />

111, o ct., 2004.<br />

SPENCE, M. Market Signaling. Harvard University Press, 1974.<br />

STOCK, H. J.; WATSON, W. M. Econometria. Pearson, Addison Wesley,<br />

2004.<br />

UEDA, E. M.; HOFFMANN, R. Estiman<strong>do</strong> o Retorno <strong>em</strong> Educação no<br />

Brasil. <strong>Economia</strong> Aplicada, São Paulo, v.6, n.2, p.209-238, abr-jun., 2002.<br />

WOOLDRIDGE, J. M. Econometric Analysis of Cross Section and Panel<br />

Data. The MIT Press, Cambridge, MA, 2002.<br />

35


36<br />

DISCRIMINAÇÃO DE RENDIMENTOS<br />

POR GÊNERO E RAÇA<br />

A PARTIR DE REALIDADES<br />

SÓCIO-ECONÔMICAS<br />

DISTINTAS<br />

Vitor Hugo Miro*<br />

Daniel Cirilo Suliano**<br />

RESUMO<br />

Este artigo t<strong>em</strong> como objetivo quantificar diferenciais <strong>de</strong> salário no<br />

merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho <strong>do</strong> Brasil com base <strong>em</strong> critérios discriminatórios <strong>de</strong><br />

gênero e raça. A análise é feita nos Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> e <strong>de</strong> São Paulo por<br />

apresentar<strong>em</strong> realida<strong>de</strong>s sócio-econômicas distintas <strong>em</strong> duas regiões com<br />

diferentes graus <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. O perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> caracteriza-se<br />

por uma conjuntura macroeconômica favorável a economia brasileira. Visan<strong>do</strong><br />

mensurar b<strong>em</strong> os efeitos resultantes <strong>de</strong> fatores produtivos e discriminatórios,<br />

uma nova medida <strong>de</strong> capital humano é proposta, assim como<br />

a inclusão <strong>de</strong> diversas características observadas <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res. Os<br />

resulta<strong>do</strong>s apontam que exist<strong>em</strong> diferenças <strong>de</strong> rendimentos entre gênero e<br />

raça resultante <strong>de</strong> atributos não produtivos, o que reforçaria a tese <strong>de</strong> discriminação<br />

no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho <strong>em</strong> nível regional no Brasil.<br />

Palavras-Chave: Discriminação, Capital Humano, Diferenciação Regional.<br />

AbstrAct<br />

This article aims to quantify wage differentials in the labor market<br />

in Brazil based on discriminatory criteria of gen<strong>de</strong>r and race. The analysis<br />

is <strong>do</strong>ne in the states of Ceara and Sao Paulo to make socio-economic realities<br />

in two distinct regions with different <strong>de</strong>grees of <strong>de</strong>velopment. The<br />

study period is characterized by a favorable macro Brazilian economy. In<br />

or<strong>de</strong>r to measure well the effects of productive factors and discrimination,<br />

a new measure of human capital is proposed, as well as the inclusion of<br />

several observed characteristics of workers. The results show that there<br />

are differences in incomes between gen<strong>de</strong>r and race due to non-productive<br />

attributes, which would strengthen the argument of discrimination in the<br />

....................................................<br />

* Analista <strong>de</strong> Políticas Públicas <strong>do</strong> <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Pesquisa e Estratégia Econômica <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (<strong>IPECE</strong>).<br />

** Analista <strong>de</strong> Políticas Públicas <strong>do</strong> <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Pesquisa e Estratégia Econômica <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (<strong>IPECE</strong>).


Discriminação <strong>de</strong> Rendimentos por Gênero e Raça a Partir <strong>de</strong> Realida<strong>de</strong>s Sócio-Econômicas Distintas<br />

labor market at the regional level in Brazil.<br />

Keywords: Discrimination, Human Capital, Regional Differentiation.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

O estu<strong>do</strong> da discriminação é um t<strong>em</strong>a abrangente e complexo. No<br />

caso da discriminação por gênero, da<strong>do</strong>s disponíveis para países <strong>em</strong> diferentes<br />

fases <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, e <strong>em</strong> particular para o Brasil, evi<strong>de</strong>nciam<br />

que as r<strong>em</strong>unerações no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho para homens e mulheres<br />

são diferentes, favorecen<strong>do</strong> este primeiro grupo. Para o caso das raças,<br />

Ehrenberg e Smith (2000) analisam diversos grupos étnicos e <strong>de</strong> raça através<br />

da compilação <strong>de</strong> inúmeros estu<strong>do</strong>s sobre o assunto.<br />

No Brasil, v<strong>em</strong>-se consolidan<strong>do</strong> nas últimas décadas uma literatura<br />

no que concerne ao t<strong>em</strong>a da discriminação. No que se observa, Calvalieri<br />

e Fernan<strong>de</strong>s (1998), Soares (2000) e Henriques (2001) merec<strong>em</strong> atenção<br />

por procurar<strong>em</strong> diagnosticar e quantificar o grau <strong>de</strong> discriminação presente<br />

no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho brasileiro. L<strong>em</strong>e e Wajnman (2001) através<br />

<strong>de</strong> um “survey” da literatura internacional e nacional explicitam alguns<br />

resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> grau <strong>de</strong> discriminação sofri<strong>do</strong> pelas mulheres na economia<br />

americana, assim como na economia brasileira por meio <strong>de</strong> diferentes base<br />

<strong>de</strong> da<strong>do</strong>s e formas alternativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>ste grau. Este mesmo<br />

trabalho também expõe as limitações das variáveis, tais como educação e<br />

experiência, para quantificação <strong>do</strong>s diferenciais salariais <strong>de</strong> gênero, além<br />

<strong>do</strong>s diferentes aspectos meto<strong>do</strong>lógicos que buscam captar estes efeitos,<br />

expon<strong>do</strong> suas <strong>de</strong>ficiências <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> mensuração.<br />

No caso da raça, os estu<strong>do</strong>s no Brasil são ainda incipientes <strong>de</strong>vi<strong>do</strong><br />

às limitações das bases <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s. Por ex<strong>em</strong>plo, a Pnad, Pesquisa Nacional<br />

por Amostras <strong>de</strong> Domicílios, tida como a mais abrangente pesquisa <strong>do</strong>miciliar<br />

no país, somente a partir <strong>de</strong> 1987 computou <strong>em</strong> seu questionário<br />

principal para toda a amostra perguntas referentes à auto-i<strong>de</strong>ntificação racial<br />

<strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s. 1<br />

Assim, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta perspectiva <strong>de</strong> raça, Soares (2000) parece ser o<br />

estu<strong>do</strong> referencial sobre o t<strong>em</strong>a. Campante, Crespo e Leite (2004) buscam<br />

compl<strong>em</strong>entá-lo atentan<strong>do</strong> para formação heterogênea <strong>do</strong> país e, <strong>de</strong>sta forma,<br />

procuram analisar o perfil discriminatório consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o aspecto<br />

1 Apesar disso, Castro (1980) já inicia estu<strong>do</strong>s sobre o t<strong>em</strong>a.<br />

37


Vitor Hugo Miro, Daniel Cirilo Suliano<br />

regional. Além disto, confer<strong>em</strong> uma nova roupag<strong>em</strong> nas variáveis que interfer<strong>em</strong><br />

no processo <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> capital humano, ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> conta<br />

o forte mecanismo <strong>de</strong> transmissão intergeracional <strong>de</strong> educação no Brasil.<br />

Este trabalho irá procurar se inserir nesta literatura dan<strong>do</strong> uma contribuição<br />

marginal por diversas frontes. O primeiro e importante aspecto<br />

a ser ressalta<strong>do</strong> aqui é que discriminação possui origens e reflexos que<br />

vão além <strong>do</strong> campo da análise econômica por envolver razões <strong>de</strong> ord<strong>em</strong><br />

sociais, culturais e psicológicas constituin<strong>do</strong>-se, portanto, objeto <strong>de</strong> diferentes<br />

áreas <strong>do</strong> conhecimento.<br />

Desta forma, este trabalho não trata exatamente <strong>de</strong> discriminação, já<br />

que é um t<strong>em</strong>a amplo, limitan<strong>do</strong>-se apenas à investigação <strong>do</strong>s efeitos <strong>de</strong>sta<br />

sobre a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> nos rendimentos <strong>do</strong> trabalho. Assim, consi<strong>de</strong>ra-se<br />

como possível mensurar os efeitos da discriminação no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho,<br />

representan<strong>do</strong> um t<strong>em</strong>a instigante sob a fundamentação microeconômica.<br />

Portanto, <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista estritamente econômico, o termo discriminação<br />

po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>signa<strong>do</strong> ao fato <strong>de</strong> bens idênticos ter<strong>em</strong> preços<br />

diferencia<strong>do</strong>s, isto é, trabalha<strong>do</strong>res com a mesma produtivida<strong>de</strong> <strong>em</strong> um<br />

senso físico ou material, ser<strong>em</strong> trata<strong>do</strong>s <strong>de</strong> formas <strong>de</strong>siguais com base <strong>em</strong><br />

alguma característica observável, como, por ex<strong>em</strong>plo, a raça ou o gênero<br />

[Crespo (2003)]. A <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> neste senti<strong>do</strong> consiste <strong>em</strong> um forte indício<br />

<strong>de</strong> injustiça social, pois resulta <strong>em</strong> condições sociais e econômicas que não<br />

provêm <strong>de</strong> mérito ou esforço, mas puramente <strong>de</strong> discriminação.<br />

Todavia, <strong>de</strong>ve-se ter <strong>em</strong> mente que os rendimentos <strong>de</strong>siguais pod<strong>em</strong><br />

ser resultantes <strong>de</strong> discriminação tanto <strong>de</strong>ntro quanto fora <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

trabalho (no que tange as condições <strong>de</strong> acesso à educação e a outros recursos,<br />

por ex<strong>em</strong>plo). Como isso ocorre? Basicamente, as disparida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> rendimentos<br />

<strong>do</strong> trabalho pod<strong>em</strong> também ser reflexos <strong>de</strong> diferenças <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong><br />

ou segmentação ou, como dito acima, <strong>de</strong> componentes puramente<br />

discriminatórios. No caso das diferenças <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>, é b<strong>em</strong> provável<br />

que trabalha<strong>do</strong>res com maior acúmulo <strong>de</strong> capital humano sejam mais b<strong>em</strong><br />

r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> forma que o merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho apenas expõe estes diferenciais<br />

<strong>de</strong> <strong>do</strong>tação. De outra parte, um componente dito discriminatório<br />

po<strong>de</strong> ser resultante <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res que apesar <strong>de</strong> apresentar<strong>em</strong> características<br />

similares, estão <strong>em</strong> segmentos distintos no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho.<br />

Por fim, e mais importante, o merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho po<strong>de</strong> ser um lócus<br />

gera<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> se existir diferenciais <strong>de</strong> r<strong>em</strong>uneração para os<br />

mesmos indivíduos com a mesma <strong>do</strong>tação <strong>de</strong> capital humano, inseri<strong>do</strong>s<br />

38


Discriminação <strong>de</strong> Rendimentos por Gênero e Raça a Partir <strong>de</strong> Realida<strong>de</strong>s Sócio-Econômicas Distintas<br />

no mesmo setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, ten<strong>do</strong> a mesma ocupação, sen<strong>do</strong> ainda da<br />

mesma região e <strong>de</strong>ntre outras características similares. Assim, o merca<strong>do</strong><br />

r<strong>em</strong>unera <strong>de</strong> forma diferenciada trabalha<strong>do</strong>res iguais pelo simples fato <strong>de</strong><br />

ser<strong>em</strong> <strong>de</strong> sexo distinto e/ou cor/raça diferentes.<br />

Por convenção, a presente análise irá tomar como categoria <strong>de</strong> referência<br />

para critério <strong>de</strong> discriminação os homens brancos. Neste senti<strong>do</strong>,<br />

os possíveis grupos candidatos a ser<strong>em</strong> discrimina<strong>do</strong>s serão da<strong>do</strong>s pelas<br />

mulheres brancas, homens negros e mulheres negras. Adicionalmente,<br />

optou-se pela exclusão <strong>do</strong>s amarelos e índios, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a algumas <strong>de</strong> suas<br />

particularida<strong>de</strong>s, além <strong>de</strong> inserir os par<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ntro da categoria <strong>do</strong>s negros.<br />

Essa abordag<strong>em</strong> se <strong>de</strong>ve a alguns fatos estiliza<strong>do</strong>s da nossa formação econômica.<br />

Em primeiro lugar, a herança escravocrata e patriarcal <strong>de</strong> nossa<br />

socieda<strong>de</strong> infelizmente ainda persiste nos dias atuais, não obstante os diversos<br />

avanços alcança<strong>do</strong>s no que tange a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os cidadãos,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> sexo, cor, religião, etc. 2 Em segun<strong>do</strong> lugar, apesar<br />

<strong>de</strong> <strong>em</strong> menor grau, os par<strong>do</strong>s, assim como os negros, estão <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s estratos<br />

<strong>de</strong> renda mais inferiores, o que nos leva a crer ser<strong>em</strong> <strong>de</strong> um grupo<br />

<strong>de</strong> estrutura social s<strong>em</strong>elhante.<br />

Vale ressaltar que a análise aqui realizada possui como foco o merca<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> trabalho <strong>em</strong> um senti<strong>do</strong> regional levan<strong>do</strong> <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração a forte<br />

heterogeneida<strong>de</strong> da estrutura da economia brasileira, b<strong>em</strong> como sua dinâmica<br />

geográfica e setorial. Dentro <strong>de</strong>ste contexto, foram feitas algumas<br />

inovações <strong>em</strong> relação as pesquisas recentes. Enquanto Menezes, Carrera-<br />

Fernan<strong>de</strong>z e De<strong>de</strong>cca (2005) focalizam as regiões metropolitanas <strong>de</strong> São<br />

Paulo e Salva<strong>do</strong>r e Cacciamali e Hirata (2005) os Esta<strong>do</strong>s da Bahia e São<br />

Paulo, aqui a base <strong>de</strong> comparação regional serão os Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> e<br />

São Paulo. Isso porque acreditamos que estes <strong>do</strong>is Esta<strong>do</strong>s polarizam melhor<br />

as diferentes fases <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e formação social <strong>do</strong> país:<br />

São Paulo por ser o gran<strong>de</strong> representante <strong>do</strong> Su<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> país, região mais<br />

<strong>de</strong>senvolvida, e o <strong>Ceará</strong> por ser uma economia não tão <strong>de</strong>senvolvida como<br />

a Bahia e Pernambuco, encontran<strong>do</strong>-se <strong>em</strong> um meio termo no grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>do</strong> Norte/Nor<strong>de</strong>ste.<br />

Além <strong>do</strong> mais, para se ter um retrato claro <strong>do</strong> componente discriminatório<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho brasileiro, procurou-se fazer aqui uma<br />

análise sob três vias. Inicialmente foi feito um aparato <strong>de</strong>scritivo <strong>do</strong>s ren-<br />

2 Ver Artigo 5º da Constituição Fe<strong>de</strong>ral promulgada <strong>em</strong> 5 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1988.<br />

39


Vitor Hugo Miro, Daniel Cirilo Suliano<br />

dimentos salariais e <strong>do</strong>s níveis <strong>de</strong> capital humano <strong>de</strong>stas diferentes categorias<br />

<strong>de</strong> forma a i<strong>de</strong>ntificar o diferencial salarial <strong>do</strong>s indivíduos resultante<br />

das diferenças <strong>de</strong> atributos produtivos <strong>de</strong> cada uma. Em seguida,<br />

para cada uma das quatro categorias é <strong>em</strong>pregada uma equação <strong>de</strong> salários<br />

minceriana por meio <strong>do</strong> procedimento <strong>de</strong> <strong>do</strong>is estágios <strong>de</strong> Heckman como<br />

forma <strong>de</strong> corrigir algum viés <strong>de</strong> seleção amostral. A partir disso, obtêm-se<br />

o diferencial <strong>de</strong> salários com o uso da <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> Blin<strong>de</strong>r-Oaxaca<br />

comparan<strong>do</strong>-se a categoria base (homens brancos) com as d<strong>em</strong>ais. Este<br />

procedimento é feito <strong>em</strong> duas etapas: uma com o uso <strong>de</strong> controles liga<strong>do</strong>s<br />

apenas a produtivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r e outra com o uso <strong>de</strong> diversos atributos<br />

liga<strong>do</strong>s a produtivida<strong>de</strong> e a segmentação <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>.<br />

Além <strong>de</strong>sta introdução e das consi<strong>de</strong>rações finais, este trabalho<br />

apresenta mais três seções. Na próxima seção é feita uma análise geral da<br />

base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s e um indicativo <strong>do</strong>s primeiros diferenciais <strong>de</strong> salários entre<br />

gênero/raça no Brasil <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista regional. A seguir, são feitas as<br />

estimações das equações <strong>de</strong> salários apenas com atributos liga<strong>do</strong>s a fatores<br />

produtivos <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res <strong>de</strong>compon<strong>do</strong> os diferenciais salariais <strong>em</strong><br />

termos <strong>de</strong> capital humano e discriminação. Na seção seguinte, o mesmo<br />

exercício é repeti<strong>do</strong>, só que agora incluin<strong>do</strong> outras características observadas<br />

<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.<br />

2. ANÁLISE DA BASE DE DADOS<br />

Foram utiliza<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s <strong>em</strong>pilha<strong>do</strong>s (pooling) da Pnad <strong>do</strong>s anos<br />

<strong>de</strong> 2004, 2005 e 2006. A escolha <strong>de</strong>stes anos é condizente com os estu<strong>do</strong>s<br />

recentes sobre discriminação e também liga<strong>do</strong>s à conjuntura macroeconômica<br />

brasileira.<br />

No caso <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s envolven<strong>do</strong> discriminação, Soares (2000) aborda<br />

<strong>de</strong> forma bastante exaustiva as bases <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s da Pnad <strong>de</strong> 1987 a 1998.<br />

Campante, Crespo e Leite (2004) valen<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> supl<strong>em</strong>ento referente a<br />

variáveis que envolv<strong>em</strong> a formação <strong>de</strong> capital humano <strong>do</strong> indivíduo, tais<br />

como educação <strong>do</strong> pai e da mãe, usam como base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s a Pnad <strong>de</strong> 1996.<br />

Na presente década esta mesma base é explorada por Cacciamali e Hirata<br />

(2005) fazen<strong>do</strong>-se uso <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 2002.<br />

40


Discriminação <strong>de</strong> Rendimentos por Gênero e Raça a Partir <strong>de</strong> Realida<strong>de</strong>s Sócio-Econômicas Distintas<br />

Este trabalho procura conjugar duas fórmulas. Dan<strong>do</strong> continuida<strong>de</strong><br />

aos trabalhos anteriores, explora <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> pooling três anos da Pnad<br />

ainda pouco utiliza<strong>do</strong>s neste rol <strong>de</strong> pesquisas. Além disto, este mesmo<br />

perío<strong>do</strong> é caracteriza<strong>do</strong> por uma conjuntura macroeconômica favorável<br />

<strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> da estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preços e um bom <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho <strong>em</strong> termos<br />

<strong>de</strong> crescimento econômico, eliminan<strong>do</strong> quaisquer fatores exógenos que<br />

po<strong>de</strong>riam afetar o processo produtivo.<br />

Assim, partin<strong>do</strong>-se da base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, sabe-se que a Pnad apresenta<br />

uma amostrag<strong>em</strong> extensa e b<strong>em</strong> heterogênea. Desta forma, procurou-se<br />

fazer algumas filtragens como forma <strong>de</strong> captar melhor os efeitos <strong>do</strong>s diferenciais<br />

salariais <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho. Em primeiro lugar, procurou-se<br />

incluir trabalha<strong>do</strong>res que não estivess<strong>em</strong> estudan<strong>do</strong> assim como<br />

os aposenta<strong>do</strong>s, selecionan<strong>do</strong> ao máximo possível apenas os que estivess<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>. Assim, a ida<strong>de</strong> mínima <strong>de</strong> corte foi <strong>de</strong> 24 anos e a ida<strong>de</strong><br />

máxima <strong>de</strong> 57 anos. Essa tentativa <strong>de</strong> incluir apenas trabalha<strong>do</strong>res ativos<br />

foi também ampliada a partir da exclusão <strong>de</strong> pessoas que se <strong>de</strong>clararam na<br />

condição da família ser<strong>em</strong> pensionistas.<br />

Dan<strong>do</strong> prosseguimento a esta filtrag<strong>em</strong>, optou-se também pela exclusão<br />

<strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res que se <strong>de</strong>clararam na ocupação ser<strong>em</strong> da produção<br />

para o próprio consumo e na construção para o próprio uso já que ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>ste fim apresentam características distintas das d<strong>em</strong>ais. Emprega<strong>do</strong>s <strong>do</strong>mésticos<br />

e parentes <strong>de</strong> <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s <strong>do</strong>mésticos também foram exclusos já<br />

que ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste fim prepon<strong>de</strong>ram mulheres e alguns rendimentos da<br />

Pnad também não consi<strong>de</strong>ram este grupamento <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res.<br />

Feita essas ressalvas, o objetivo <strong>de</strong>sta seção é <strong>de</strong> apresentar os primeiros<br />

indícios <strong>de</strong> discriminação a partir <strong>de</strong> um quadro comparativo entre as<br />

diferentes categorias no que concerne ao seu salário hora real. Assim, nas<br />

tabelas 1 e 2 a seguir são apresenta<strong>do</strong>s os salários/médios <strong>de</strong> cada categoria<br />

para os anos <strong>de</strong> 2004, 2005 e 2006 consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> os Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> e<br />

<strong>de</strong> São Paulo, respectivamente.<br />

41


Vitor Hugo Miro, Daniel Cirilo Suliano<br />

42<br />

Tabela 1 - Comparação <strong>do</strong> Salário/Hora Médio <strong>Ceará</strong> - 2004-2006<br />

Categorias 2004<br />

Percentual <strong>em</strong><br />

relação aos Homens<br />

Brancos<br />

2005<br />

Percentual <strong>em</strong><br />

relação aos Homens<br />

Brancos<br />

2006<br />

Percentual <strong>em</strong><br />

relação aos Homens<br />

Brancos<br />

Homens Brancos 4,48 - 4,24 4,55 -<br />

Mulheres Brancas 3,01 68% 2,96 70% 3,27 72%<br />

Homens Negros 2,52 56% 3,31 78% 2,95 65%<br />

Mulheres Negras 1,48 33% 1,69 40% 1,72 38%<br />

Fonte: Cálculo pelos autores a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da Pnad.<br />

No caso <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, observa-se que as mulheres brancas apresentam<br />

um grau evolutivo <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> ganhos percentuais, quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong>s<br />

com os homens brancos, apesar <strong>de</strong> ainda ganhar<strong>em</strong>, <strong>em</strong> média, 30%<br />

a menos que eles. Homens negros e mulheres negras também apresentam<br />

este grau evolutivo, mas com um forte comportamento oscilatório.<br />

Para as duas categorias o percentual <strong>de</strong> ganhos <strong>em</strong> relação aos homens<br />

brancos é b<strong>em</strong> inferior, chegan<strong>do</strong> às mulheres negras a ganhar<strong>em</strong><br />

apenas 33% <strong>do</strong>s mesmos <strong>em</strong> 2004.<br />

Tabela 2 - Comparação <strong>do</strong> Salário/Hora Médio São Paulo - 2004-2006<br />

Categorias 2004<br />

Percentual <strong>em</strong><br />

relação aos Homens<br />

Brancos<br />

2005<br />

Percentual <strong>em</strong><br />

relação aos Homens<br />

Brancos<br />

2006<br />

Percentual <strong>em</strong><br />

relação aos Homens<br />

Brancos<br />

Homens Brancos 7,06 - 7,52 - 7,91 -<br />

Mulheres Brancas 3,36 48% 4,09 54% 4,34 55%<br />

Homens Negros 4,06 57% 4,37 58% 4,58 58%<br />

Mulheres Negras 1,88 27% 2,06 27% 2,30 29%<br />

Fonte: Cálculo pelos autores a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da Pnad.<br />

São Paulo apresenta um resulta<strong>do</strong> curioso. Por ser um Esta<strong>do</strong> mais<br />

<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>, seria espera<strong>do</strong> um maior grau <strong>de</strong> homogeneização <strong>do</strong>s rendimentos<br />

entre as categorias, resulta<strong>do</strong> esse que não é observa<strong>do</strong> para a<br />

base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s analisada. Além disto, diferent<strong>em</strong>ente <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, não existe<br />

um comportamento oscilatório <strong>do</strong>s ganhos percentuais entre as três categorias<br />

quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> com os homens brancos, e sim um quadro<br />

estável <strong>de</strong> participação da fração salarial <strong>de</strong> cada categoria <strong>em</strong> relação à<br />

categoria base (as mulheres negras representam b<strong>em</strong> isto, na medida <strong>em</strong><br />

que seus ganhos <strong>em</strong> relação aos homens brancos se mantém <strong>em</strong> um patamar<br />

estável entre 27% e 29% por toda a série).


Discriminação <strong>de</strong> Rendimentos por Gênero e Raça a Partir <strong>de</strong> Realida<strong>de</strong>s Sócio-Econômicas Distintas<br />

3. DIFERENCIAL DE RENDIMENTOS APENAS COM<br />

CAPITAL HUMANO<br />

O méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> Blin<strong>de</strong>r-Oaxaca possui méritos pela<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>compor a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> rendimentos <strong>em</strong> um montante<br />

referi<strong>do</strong> à discriminação e outro montante à <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>tações.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, nosso primeiro passo seria a estimação <strong>de</strong> uma equação <strong>de</strong><br />

salários com base nos critérios <strong>de</strong> Mincer (1974) e, a partir disso, separar<br />

os rendimentos <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> atributos produtivos e discriminatórios. De<br />

forma geral, a equação <strong>de</strong> salários apresenta a seguinte estrutura:<br />

ln w ' x <br />

(01)<br />

i i i<br />

on<strong>de</strong> w é o salário real horário, x um conjunto <strong>de</strong> variáveis explicativas<br />

que representam o capital humano e ε um termo <strong>de</strong> erro da<strong>do</strong> por<br />

características não observadas.<br />

No caso da variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, sua construção se <strong>de</strong>u a partir da divisão<br />

<strong>do</strong> rendimento <strong>do</strong> trabalho principal por quatro ten<strong>do</strong> como produto<br />

o rendimento s<strong>em</strong>anal <strong>do</strong> trabalho. A este último resulta<strong>do</strong> dividiu-se pelo<br />

número <strong>de</strong> horas trabalhadas por s<strong>em</strong>ana obten<strong>do</strong>-se, a partir <strong>de</strong> então, o<br />

salário real horário.<br />

Para os atributos produtivos, conforme ressalta<strong>do</strong> por Barros,<br />

Franco e Men<strong>do</strong>nça (2007a, 2007b), a construção <strong>do</strong> capital humano<br />

se dá basicamente através da inclusão das variáveis escolarida<strong>de</strong> e experiência<br />

no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho. Barros, Franco e Men<strong>do</strong>nça (2007a)<br />

também atentam para o fato <strong>de</strong> que n<strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os postos <strong>de</strong> trabalho são<br />

igualmente produtivos e, portanto, para se comparar a produtivida<strong>de</strong><br />

intrínseca <strong>de</strong> <strong>do</strong>is trabalha<strong>do</strong>res, é necessário comparar os <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhos<br />

<strong>de</strong> cada um num mesmo posto <strong>de</strong> trabalho.<br />

Dentro <strong>de</strong>sta perspectiva, apresenta-se aqui uma inovação <strong>em</strong> relação<br />

às pesquisas anteriores. No cômputo das variáveis que formam o capital<br />

humano, foi acrescida a variável t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> permanência. Vale l<strong>em</strong>brar<br />

que isso é uma forma <strong>de</strong> também dirimir o probl<strong>em</strong>a relativo à variável<br />

experiência. No caso, trabalha<strong>do</strong>res com diferentes características d<strong>em</strong>ográficas<br />

e formas distintas <strong>de</strong> ocupação apresentam ocorrências <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego<br />

diferenciadas e, portanto, as medidas <strong>de</strong> experiência potencial estariam<br />

superestiman<strong>do</strong> as medidas efetivas <strong>de</strong> experiência. Além disto, o<br />

cálculo da medida <strong>de</strong> experiência a partir da ida<strong>de</strong> das mulheres po<strong>de</strong> não<br />

43


Vitor Hugo Miro, Daniel Cirilo Suliano<br />

refletir sua experiência no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> suas <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong><br />

fecundida<strong>de</strong> [L<strong>em</strong>e e Wajnman (2001) e Giuberti e Menezes-Filho (2005)].<br />

Giuberti e Menezes-Filho (2005) apresentam tentativa parecida a partir da<br />

inclusão da variável média <strong>de</strong> meses no <strong>em</strong>prego atual.<br />

Assim, neste primeiro exercício, <strong>em</strong> que se consi<strong>de</strong>ra apenas como<br />

controle o capital humano como variável explicativa, além das tradicionais<br />

medidas <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> e experiência, será computada também o t<strong>em</strong>po<br />

<strong>de</strong> permanência <strong>do</strong> indivíduo no mesmo trabalho. No caso da construção<br />

da variável experiência, seguiu-se a abordag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Heckman, Tobias<br />

e Vytlacil (2000), segun<strong>do</strong> a qual a ida<strong>de</strong> é subtraída <strong>do</strong>s anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> e<br />

<strong>do</strong>s anos pré-escolares (experiência = ida<strong>de</strong> – escolarida<strong>de</strong> – 6). A tabela 3<br />

abaixo apresenta as variáveis explicativas para a primeira equação <strong>de</strong> salários<br />

on<strong>de</strong> foram incluídas apenas variáveis relativas à formação <strong>de</strong> capital<br />

humano <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r.<br />

44<br />

Tabela 3 - Variáveis Explicativas da Equação <strong>de</strong> Salários apenas<br />

com Capital Humano<br />

Variáveis Explicativas Descrição das Variáveis Variáveis Explicativas Descrição das Variáveis<br />

esc<br />

exp<br />

exp 2<br />

anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r<br />

proxy para medida<br />

<strong>de</strong> experiência<br />

experiência<br />

ao quadra<strong>do</strong><br />

Fonte: Cálculo pelos autores a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da Pnad.<br />

esc×exp<br />

perm<br />

perm2<br />

interação entre escolarida<strong>de</strong> e<br />

experiência<br />

t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> permanência <strong>do</strong><br />

indivíduo no mesmo trabalho<br />

t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> permanência <strong>do</strong><br />

indivíduo no mesmo trabalho<br />

ao quadra<strong>do</strong><br />

Na tabela seguinte, são apresentadas as estatísticas <strong>de</strong>scritivas <strong>do</strong>s<br />

atributos <strong>de</strong> capital humano para cada Esta<strong>do</strong> e por categoria como forma<br />

<strong>de</strong> observar se parte <strong>do</strong>s diferenciais salariais <strong>de</strong>scritos acima po<strong>de</strong> vir a<br />

ser resultante da diferença <strong>de</strong> atributos produtivos.


Discriminação <strong>de</strong> Rendimentos por Gênero e Raça a Partir <strong>de</strong> Realida<strong>de</strong>s Sócio-Econômicas Distintas<br />

Tabela 4 - Composição <strong>do</strong> Capital Humano - Médias <strong>Ceará</strong>/São Paulo<br />

<strong>Ceará</strong><br />

Anos <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong><br />

São Paulo<br />

Anos <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong><br />

Categorias 2004 2005 2006 2004 2005 2006<br />

Homens Brancos 7,06 6,82 7,15 8,41 8,58 8,80<br />

Mulheres Brancas 8,41 8,35 8,61 8,87 9,12 9,29<br />

Homens Negros 5,15 5,48 5,67 6,56 6,76 7,03<br />

Mulheres Negras 6,35 6,73 7,03 6,82 7,20 7,38<br />

<strong>Ceará</strong><br />

Experiência<br />

São Paulo<br />

Experiência<br />

Categorias 2004 2005 2006 2004 2005 2006<br />

Homens Brancos 23,77 24,05 23,69 23,83 23,23 23,32<br />

Mulheres Brancas 22,99 22,86 22,63 23,21 23,20 23,01<br />

Homens Negros 25,68 25,35 25,25 24,50 24,58 24,34<br />

Mulheres Negras 24,65 24,16 23,85 24,42 24,06 24,04<br />

<strong>Ceará</strong><br />

Permanência<br />

São Paulo<br />

Permanência<br />

Categorias 2004 2005 2006 2004 2005 2006<br />

Homens Brancos 7,49 7,56 7,58 6,79 6,61 6,86<br />

Mulheres Brancas 4,55 4,31 4,19 3,26 3,62 3,62<br />

Homens Negros 7,63 7,31 7,44 5,25 5,45 5,42<br />

Mulheres Negras 3,77 3,66 3,54 2,54 2,52 2,63<br />

Fonte: Cálculo pelos autores a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da Pnad.<br />

Para a variável anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>, observa-se que as mulheres brancas,<br />

<strong>em</strong> ambos os Esta<strong>do</strong>s, apresentam maior média, seguida <strong>do</strong>s homens brancos,<br />

mulheres negras e homens negros. Essa é uma primeira observação<br />

válida: as mulheres brancas apresentam um <strong>do</strong>s atributos produtivos da<br />

formação <strong>de</strong> capital humano superior a categoria <strong>de</strong> referência (homens<br />

brancos).<br />

No caso da variável experiência, a média é b<strong>em</strong> parecida para ambos<br />

os Esta<strong>do</strong>s, assim como entre as categorias. Homens negros e mulheres negras<br />

apresentam valores ligeiramente superiores por talvez apresentar<strong>em</strong><br />

um menor nível escolarida<strong>de</strong> e isso ser reflexo da forma como a variável<br />

experiência foi construída.<br />

Por fim, observa-se a importância da inclusão da variável t<strong>em</strong>po <strong>de</strong><br />

permanência no mesmo <strong>em</strong>prego refletin<strong>do</strong> diferença <strong>de</strong> atributos produtivos<br />

entre as categorias, na medida <strong>em</strong> que os homens brancos <strong>do</strong>minam,<br />

ao longo <strong>de</strong> a toda série, as maiores médias. Interessante também observar<br />

45


Vitor Hugo Miro, Daniel Cirilo Suliano<br />

que as médias para todas as categorias <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo são menores<br />

que para o Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> contrabalançan<strong>do</strong> a média <strong>do</strong>s anos <strong>de</strong><br />

escolarida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> ocorre o inverso.<br />

A partir <strong>de</strong> então, segue-se a estimação <strong>de</strong> uma equação<br />

minceriana para cada um <strong>do</strong>s grupos consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s na análise <strong>de</strong> diferenciação<br />

salarial. Em Oaxaca (1973), é estuda<strong>do</strong> o caso da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre<br />

homens e mulheres, mas a idéia básica <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo também po<strong>de</strong> ser<br />

estendida para a comparação inter-racial, como é feito <strong>em</strong> Blin<strong>de</strong>r (1973).<br />

De maneira geral po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>finir <strong>do</strong>is grupos: A e B. Estes grupos<br />

pod<strong>em</strong> ser da<strong>do</strong>s por homens e mulheres, brancos e negros, ou grupos<br />

compostos pelas duas características como é realiza<strong>do</strong> no presente trabalho.<br />

O <strong>em</strong>prego <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> Blin<strong>de</strong>r-Oaxaca exige a<br />

<strong>de</strong>finição e estimação da equação <strong>de</strong> rendimentos para cada um <strong>do</strong>s grupos.<br />

Assim, <strong>de</strong>finimos equações mincerianas para cada um <strong>do</strong>s grupos da<br />

seguinte forma:<br />

WA E( XA)' <br />

(02)<br />

A<br />

WB E( XB)' <br />

(03)<br />

B<br />

Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o diferencial <strong>de</strong> salários como sen<strong>do</strong> a diferença da<br />

média salarial <strong>do</strong>s grupos consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s, po<strong>de</strong>-se especificar a seguinte<br />

equação para o diferencial:<br />

W E( X A)' A E( X B)' (04)<br />

B<br />

A partir <strong>de</strong>sta expressão, o próximo passo é <strong>de</strong>compor o diferencial<br />

<strong>de</strong> salários <strong>em</strong> uma parte atribuída às diferenças <strong>de</strong> capital humano e outra<br />

atribuída à discriminação no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho, representada por fatores<br />

não-explica<strong>do</strong>s diretamente pelo mo<strong>de</strong>lo.<br />

Para realizar a <strong>de</strong>composição, aplica-se o artifício <strong>de</strong> somar e subtrair<br />

na expressão (04) o seguinte termo: EX ( B)' . Assim, pod<strong>em</strong>os obter:<br />

A<br />

W E( X A)' E( XB)' B E( X A)'A B<br />

(05)<br />

Essa expressão <strong>de</strong>compõe a diferença <strong>de</strong> rendimentos <strong>em</strong> <strong>do</strong>is<br />

termos (<strong>de</strong>composição “two-fold”). O primeiro é atribuí<strong>do</strong> às características<br />

observadas <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is grupos, também referenciada como “efeito<br />

<strong>do</strong>tação”. Neste caso, o coeficiente <strong>de</strong> B é manti<strong>do</strong> fixo e avalia-se o diferencial<br />

<strong>em</strong> função das características observadas da seguinte maneira:<br />

46


Discriminação <strong>de</strong> Rendimentos por Gênero e Raça a Partir <strong>de</strong> Realida<strong>de</strong>s Sócio-Econômicas Distintas<br />

EX ( A) EX ( ) B' (06)<br />

B<br />

Assim, teríamos uma medida da mudança esperada nos rendimentos<br />

<strong>do</strong> grupo B, se esse grupo possui as mesmas características <strong>do</strong> grupo A.<br />

Já o segun<strong>do</strong> termo mantém fixas as características <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />

grupo (B) e atribui a diferença aos coeficientes da seguinte forma:<br />

E( XB)'A B<br />

(07)<br />

Este componente <strong>de</strong>fine a discriminação como sen<strong>do</strong> a diferenciação<br />

na forma <strong>de</strong> r<strong>em</strong>unerar agentes igualmente produtivos, on<strong>de</strong> coeficientes<br />

diferentes implicam <strong>em</strong> diferentes formas <strong>de</strong> r<strong>em</strong>unerar as características<br />

<strong>de</strong> cada grupo, e, <strong>em</strong> última instância, uma medida da discriminação.<br />

Um probl<strong>em</strong>a comum da análise <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho é que os<br />

salários são observa<strong>do</strong>s apenas para os participantes da força <strong>de</strong> trabalho,<br />

ou seja, os ocupa<strong>do</strong>s. Assim, a seleção apenas <strong>de</strong>stes indivíduos na amostra<br />

po<strong>de</strong> resultar na ocorrência <strong>de</strong> um viés <strong>de</strong> seleção. Isso porque exist<strong>em</strong><br />

indivíduos que possu<strong>em</strong> implícito um salário <strong>de</strong> reserva abaixo <strong>do</strong> qual<br />

não estariam dispostos a ingressar no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho caso o salário<br />

oferta<strong>do</strong> seja menor. Uma forma <strong>de</strong> corrigir este probl<strong>em</strong>a é através da<br />

incorporação <strong>do</strong>s <strong>de</strong>socupa<strong>do</strong>s na amostra e a utilização <strong>do</strong> procedimento<br />

proposto por Heckman (1979) na estimação.<br />

O procedimento <strong>de</strong> Heckman consiste <strong>em</strong> uma estimação <strong>em</strong> <strong>do</strong>is<br />

estágios da seguinte forma:<br />

i. Estimação <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo Probit para a participação no merca<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> trabalho, a partir da qual se po<strong>de</strong> obter a razão inversa <strong>de</strong> Mills<br />

para cada observação;<br />

ii. Estimação por mínimos quadra<strong>do</strong>s <strong>de</strong> uma equação <strong>de</strong> rendimentos<br />

(à la Mincer) que inclua como regressor adicional a razão inversa<br />

<strong>de</strong> Mills.<br />

A tabela 5 a seguir apresenta o diferencial <strong>de</strong> salários estima<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

acor<strong>do</strong> com o méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Blin<strong>de</strong>r-Oaxaca, ten<strong>do</strong> apenas como controle o<br />

nível <strong>de</strong> capital humano <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res. Desta forma, as primeiras estimações<br />

e a <strong>de</strong>composição <strong>do</strong> diferencial <strong>de</strong> salários consi<strong>de</strong>ram apenas os<br />

chama<strong>do</strong>s atributos produtivos: educação, experiência e t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> permanência<br />

no mesmo <strong>em</strong>prego. A tabela também apresenta para cada um <strong>do</strong>s<br />

grupos <strong>de</strong> sexo/cor os diferenciais <strong>do</strong> logaritmo <strong>do</strong> salário/hora toman<strong>do</strong><br />

47


Vitor Hugo Miro, Daniel Cirilo Suliano<br />

como categoria base o salário <strong>do</strong>s homens brancos.<br />

Categorias<br />

48<br />

Tabela 5 - Diferencial <strong>de</strong> Salários - Logaritmo <strong>do</strong> salário/hora<br />

<strong>Ceará</strong>/São Paulo – Capital Humano<br />

log (w)<br />

W<br />

<strong>Ceará</strong> São Paulo<br />

Diferencial<br />

∆W<br />

log (w)<br />

W<br />

Diferencial<br />

∆W<br />

Homens Brancos 1,85 - 1,92 -<br />

Mulheres Brancas 1,22 0,63 1,63 0,29<br />

Homens Negros 1,12 0,73 1,49 0,44<br />

Mulheres Negras 0,95 0,90 1,27 0,65<br />

Fonte: Cálculo pelos autores a partir das estimações econométricas.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s na tabela anterior d<strong>em</strong>onstram que o valor<br />

espera<strong>do</strong> <strong>do</strong> logaritmo <strong>do</strong> salário real hora para homens negros e mulheres<br />

brancas e negras é inferior aquele para o grupo forma<strong>do</strong> por homens<br />

brancos. No caso <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, os diferenciais são ainda maiores.<br />

Em ambos os Esta<strong>do</strong>s, o maior diferencial foi observa<strong>do</strong> para as mulheres<br />

negras. Como aponta<strong>do</strong> por outros trabalhos, este grupo arca com<br />

o ônus da discriminação <strong>de</strong> sexo e <strong>de</strong> cor, na medida <strong>em</strong> que possu<strong>em</strong><br />

escolarida<strong>de</strong> menor <strong>do</strong> que as mulheres brancas além <strong>de</strong> sofrer<strong>em</strong> com a<br />

segregação ocupacional, pois tend<strong>em</strong> a ocupar postos <strong>de</strong> trabalhos com<br />

piores rendimentos3 [Soares, (2000)].<br />

No caso <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho cearense, a média geométrica <strong>do</strong> salário<br />

real hora (<strong>em</strong> termos monetários) <strong>do</strong>s homens brancos era aproximadamente<br />

14% maior <strong>do</strong> que o obti<strong>do</strong> pelas mulheres brancas, 30% maior<br />

<strong>do</strong> que o obti<strong>do</strong> pelos homens negros e 60% maior <strong>do</strong> que o recebi<strong>do</strong> pelas<br />

mulheres negras. Com relação aos resulta<strong>do</strong>s observa<strong>do</strong>s para São Paulo,<br />

os homens brancos obtinham rendimentos 19% superiores <strong>em</strong> relação às<br />

mulheres brancas, 33% superiores <strong>em</strong> relação aos homens negros e 43%<br />

maiores <strong>em</strong> relação às mulheres negras.<br />

A tabela 6 apresenta a <strong>de</strong>composição <strong>do</strong> diferencial <strong>de</strong> salários nas<br />

duas componentes discutidas anteriormente. A primeira reflete o diferencial<br />

médio no salário <strong>do</strong>s grupos discrimina<strong>do</strong>s se esses grupos possuíss<strong>em</strong><br />

a mesma valorização <strong>do</strong>s atributos que o grupo <strong>de</strong> homens brancos:<br />

trata-se <strong>do</strong> “efeito <strong>do</strong>tação”. A segunda componente quantifica a variação<br />

no salário quan<strong>do</strong> são aplica<strong>do</strong>s os coeficientes estima<strong>do</strong>s para os homens<br />

3<br />

A próxima seção apresenta maiores <strong>de</strong>talhes sobre esta questão.


Discriminação <strong>de</strong> Rendimentos por Gênero e Raça a Partir <strong>de</strong> Realida<strong>de</strong>s Sócio-Econômicas Distintas<br />

brancos, sen<strong>do</strong> mantidas as características <strong>do</strong>s d<strong>em</strong>ais grupos. Neste caso,<br />

este termo ten<strong>de</strong> a aumentar o diferencial <strong>de</strong> salários para todas as comparações<br />

o que confirma a idéia <strong>de</strong> discriminação.<br />

Vejamos os resulta<strong>do</strong>s para o <strong>Ceará</strong>. Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o caso das mulheres<br />

brancas, o valor <strong>de</strong> -0,33 indica que sua maior <strong>do</strong>tação <strong>de</strong> capital<br />

humano ten<strong>de</strong>ria a reduzir o diferencial <strong>de</strong> salários entre elas e os homens<br />

brancos. No entanto, o chama<strong>do</strong> “efeito discriminação” impõe um forte<br />

impacto sobre os salários das mulheres respon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> por 0,96 <strong>do</strong> diferencial.<br />

Fato interessante é que para mulheres negras também t<strong>em</strong>os que as<br />

<strong>do</strong>tações ten<strong>de</strong>riam a reduzir o diferencial <strong>de</strong> salários <strong>em</strong> uma média <strong>de</strong><br />

0,09 caso seus atributos foss<strong>em</strong> valoriza<strong>do</strong>s <strong>em</strong> igual condição aos <strong>do</strong>s homens<br />

brancos (no “efeito discriminação” o diferencial é um pouco maior<br />

<strong>do</strong> que o das mulheres brancas). Cabe mais uma vez ressaltar a importância<br />

<strong>de</strong>stes resulta<strong>do</strong>s: como a composição <strong>do</strong> capital humano está levan<strong>do</strong><br />

<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> permanência no mesmo <strong>em</strong>prego, o possível<br />

dano a variável experiência para as mulheres <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> suas <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> fecundida<strong>de</strong><br />

e formação familiar, estaria mais dirimi<strong>do</strong> indican<strong>do</strong> que os<br />

resulta<strong>do</strong>s são puros efeitos discriminatórios. Já para os homens negros,<br />

se esses possuíss<strong>em</strong> as mesmas <strong>do</strong>tações <strong>do</strong>s homens brancos ten<strong>de</strong>riam a<br />

aumentar seus salários <strong>em</strong> 0,15 (no caso <strong>do</strong> componente discriminatório,<br />

seu efeito é inferior ao das mulheres brancas e negras).<br />

Tabela 6 - Decomposição <strong>do</strong> Diferencial <strong>de</strong> Salários<br />

<strong>Ceará</strong>/São Paulo – Capital Humano<br />

<strong>Ceará</strong><br />

categorias “Efeito Dotação” “Efeito Discriminação”<br />

Mulheres Brancas -0,33 0,96<br />

Homens Negros 0,15 0,58<br />

Mulheres Negras -0,09 0,99<br />

São Paulo<br />

categorias “Efeito Dotação” “Efeito Discriminação”<br />

Mulheres Brancas -0,16 0,45<br />

Homens Negros 0,17 0,27<br />

Mulheres Negras 0,08 0,57<br />

Fonte: Cálculo pelos autores a partir das estimações econométricas.<br />

A análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da tabela 6 também permite a observação <strong>de</strong> que<br />

ambos os efeitos são b<strong>em</strong> menores para São Paulo <strong>do</strong> que para o <strong>Ceará</strong><br />

(exceção <strong>do</strong> “efeito <strong>do</strong>tação” para homens negros on<strong>de</strong> ocorre o inverso).<br />

49


Vitor Hugo Miro, Daniel Cirilo Suliano<br />

4. DIFERENCIAL DE RENDIMENTOS COM CAPITAL HU-<br />

MANO E OUTRAS CARACTERÍSTICAS OBSERVADAS<br />

A inclusão <strong>do</strong>s controles se dá através <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> variáveis dummies<br />

para cada variável adicional que se fizer. A tabela abaixo resume estes<br />

controles adicionais que serão usa<strong>do</strong>s.<br />

50<br />

Tabela 7 - Controles da Equação <strong>de</strong> Salários<br />

Variáveis Explicativas Descrição das Variáveis Variáveis Explicativas Descrição das Variáveis<br />

formal<br />

sind<br />

urbmet<br />

urbnaomet<br />

chef<strong>do</strong>m<br />

Fonte: Construção pelos autores.<br />

se o trabalha<strong>do</strong>r contribuiu<br />

para previdência social <strong>em</strong><br />

qualquer trabalho<br />

se o trabalha<strong>do</strong>r<br />

é sindicaliza<strong>do</strong><br />

resi<strong>de</strong>nte da região urbana<br />

metropolitana<br />

resi<strong>de</strong>nte da região urbana<br />

não metropolitana<br />

se o trabalha<strong>do</strong>r é chefe <strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>micílio<br />

secundario<br />

terciario<br />

contapropria<br />

funcpub<br />

<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>r<br />

trabalha<strong>do</strong>r <strong>do</strong> setor<br />

<strong>de</strong> comércio ou serviços<br />

trabalha<strong>do</strong>r <strong>do</strong> setor<br />

industrial<br />

se o trabalha<strong>do</strong>r é conta<br />

própria<br />

se o trabalha<strong>do</strong>r<br />

é funcionário público<br />

militar ou estatutário<br />

se o trabalha<strong>do</strong>r<br />

é <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>r<br />

A interpretação <strong>do</strong> coeficiente δ <strong>de</strong> um controle i qualquer é dada<br />

i<br />

da seguinte forma: δ é a diferença no logaritmo <strong>do</strong> salário real horário<br />

i<br />

entre o grupo <strong>de</strong> tratamento e o grupo base, da<strong>do</strong> o mesmo nível <strong>de</strong> capital<br />

humano e as mesmas características não observadas (o mesmo termo <strong>de</strong><br />

erro ε ). Por ex<strong>em</strong>plo, se δ > 0, então, para o mesmo nível <strong>de</strong> capital<br />

formal<br />

humano e características não observadas, os trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> setor formal<br />

ganham, <strong>em</strong> média, mais que os trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> setor informal. Em<br />

termos <strong>de</strong> expectativas, assumin<strong>do</strong> a hipótese <strong>de</strong> média condicional zero<br />

para o erro, E(ε|controle , capital humano)=0, então, para um controle i<br />

i<br />

qualquer, t<strong>em</strong>-se:<br />

δ = E(In (w)|controle = 1, capital humano)- E ((In (w)|controle =0, capi-<br />

i i<br />

tal humano) (08)<br />

No caso, o nível <strong>de</strong> capital humano é o mesmo <strong>em</strong> ambas as expectativas,<br />

dan<strong>do</strong>-se a diferença somente <strong>em</strong> termos <strong>do</strong> controle i. É importante<br />

aqui <strong>de</strong>stacar que o controle i eleva <strong>em</strong> um montante fixo a diferença sala-


Discriminação <strong>de</strong> Rendimentos por Gênero e Raça a Partir <strong>de</strong> Realida<strong>de</strong>s Sócio-Econômicas Distintas<br />

rial, não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> essa diferença <strong>do</strong> nível <strong>de</strong> capital humano.<br />

Portanto, o diferencial <strong>de</strong> salários também po<strong>de</strong> ser estima<strong>do</strong> a partir<br />

<strong>de</strong> uma especificação mais completa da equação minceriana. Nesta equação,<br />

foram incorpora<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os controles da tabela 7 com o intuito <strong>de</strong><br />

observar se os diferenciais não são efeitos <strong>de</strong> fatores como o setor no qual<br />

os indivíduos estão <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s, se a inserção no merca<strong>do</strong> é legal, ou se o<br />

trabalha<strong>do</strong>r resi<strong>de</strong> na região urbana metropolitana, conforme especifica<strong>do</strong>.<br />

De acor<strong>do</strong> com Soares (2000), que realiza exercício s<strong>em</strong>elhante, a inclusão<br />

<strong>de</strong>ssas variáveis também t<strong>em</strong> uma interpretação especial <strong>do</strong> efeito<br />

da inserção no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho.<br />

Da mesma forma como fiz<strong>em</strong>os na seção anterior, antes <strong>de</strong> apresentar<br />

os resulta<strong>do</strong>s <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição, a tabela 8 apresenta as estatísticas<br />

<strong>de</strong>scritivas <strong>de</strong> cada categoria consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> os controles <strong>de</strong>scritos<br />

na tabela anterior.<br />

Tabela 8 - Média <strong>do</strong>s Controles (Pooling) - <strong>Ceará</strong>/São Paulo<br />

continua<br />

controles<br />

Homens<br />

Brancos<br />

<strong>Ceará</strong><br />

Mulheres<br />

Brancas<br />

Homens<br />

Negros<br />

Mulheres<br />

Negras<br />

formal 0,37 0,30 0,32 0,23<br />

sind 0,20 0,14 0,17 0,13<br />

urbmet 0,62 0,70 0,60 0,65<br />

urbnaomet 0,24 0,21 0,23 0,24<br />

secundario 0,22 0,14 0,26 0,16<br />

terciario 0,49 0,40 0,39 0,32<br />

contapropria 0,29 0,17 0,30 0,18<br />

funcpub 0,07 0,09 0,04 0,05<br />

<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>r 0,06 0,02 0,03 0,01<br />

chef<strong>do</strong>m 0,72 0,30 0,73 0,30<br />

Fonte: Cálculo pelos autores a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da Pnad.<br />

51


Vitor Hugo Miro, Daniel Cirilo Suliano<br />

controles<br />

52<br />

Tabela 8 - Média <strong>do</strong>s Controles (Pooling) - <strong>Ceará</strong>/São Paulo conclusão<br />

Homens<br />

Brancos<br />

São Paulo<br />

Mulheres<br />

Brancas<br />

Homens<br />

Negros<br />

Mulheres<br />

Negras<br />

formal 0,62 0,38 0,55 0,30<br />

sind 0,21 0,12 0,18 0,09<br />

urbmet 0,38 0,41 0,51 0,56<br />

urbnaomet 0,57 0,55 0,43 0,38<br />

secundario 0,35 0,12 0,41 0,12<br />

terciario 0,45 0,40 0,37 0,33<br />

contapropria 0,18 0,10 0,18 0,10<br />

funcpub 0,05 0,07 0,03 0,05<br />

<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>r 0,07 0,03 0,02 0,01<br />

chef<strong>do</strong>m 0,75 0,22 0,74 0,26<br />

Fonte: Cálculo pelos autores a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da Pnad.<br />

Pela tabela acima, observa-se que, <strong>em</strong> ambos os Esta<strong>do</strong>s, alguns<br />

<strong>do</strong>s controles que venham indicar segmentação <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>, como, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, trabalha<strong>do</strong>r <strong>do</strong> setor formal e <strong>do</strong>s setores secundário e terciário,<br />

os homens brancos levam uma vantag<strong>em</strong> perante as d<strong>em</strong>ais<br />

categorias. Outros, no entanto, como chefes <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílio, apenas reflet<strong>em</strong><br />

a prepon<strong>de</strong>rância <strong>do</strong>s homens nesta situação, já que os homens negros<br />

apresentam também percentuais s<strong>em</strong>elhantes.<br />

Para o controle das localida<strong>de</strong>s, regiões urbana metropolitana e urbana<br />

não metropolitana, os da<strong>do</strong>s mostram que as categorias <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> concentram-se<br />

mais na região urbana metropolitana, enquanto as categorias<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo estão distribuídas <strong>de</strong> forma mais homogênea nas<br />

duas regiões. Por sua vez, observa-se que a soma <strong>do</strong>s controles referente à<br />

posição <strong>de</strong> ocupação mostra que o percentual <strong>de</strong> <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s, grupo base,<br />

e, portanto, não incluí<strong>do</strong>s no mo<strong>de</strong>lo como variável dummy, são maioria<br />

na amostra para ambos os Esta<strong>do</strong>s. Os da<strong>do</strong>s também mostram que os<br />

homens brancos são, <strong>em</strong> média, mais sindicaliza<strong>do</strong>s <strong>em</strong> ambos os Esta<strong>do</strong>s.<br />

A partir das estimações e da adição <strong>de</strong> controles, pod<strong>em</strong>os observar<br />

pela tabela 9 uma redução nos diferenciais salariais. No caso <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>,<br />

a redução é significativa, o que evi<strong>de</strong>ncia uma alta segmentação <strong>de</strong><br />

merca<strong>do</strong> no Esta<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> se compara as três categorias supostamente<br />

discriminadas com a categoria homens brancos, observa-se uma redução


Discriminação <strong>de</strong> Rendimentos por Gênero e Raça a Partir <strong>de</strong> Realida<strong>de</strong>s Sócio-Econômicas Distintas<br />

<strong>do</strong> diferencial <strong>de</strong> pelo menos 50%. Especificamente, no caso das mulheres<br />

brancas, a redução <strong>do</strong> diferencial chega a ser <strong>de</strong> 76%.<br />

São Paulo, por sua vez, apresenta uma menor redução, apesar <strong>de</strong> que<br />

<strong>em</strong> algumas estatísticas <strong>de</strong>scritivas, como setor formal e setores secundário<br />

e terciário, o grau <strong>de</strong> segmentação <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> ser b<strong>em</strong><br />

maior. Neste Esta<strong>do</strong>, para cada uma das categorias, a redução <strong>do</strong> diferencial<br />

é relativamente mo<strong>de</strong>sta, principalmente quan<strong>do</strong> se consi<strong>de</strong>ra homens<br />

negros.<br />

Tabela 9 - Diferencial <strong>de</strong> Salários - Logaritmo <strong>do</strong> salário/hora<br />

<strong>Ceará</strong>/São Paulo – Capital Humano e Controles<br />

categorias<br />

log (w)<br />

W<br />

ceará são Paulo<br />

Diferencial<br />

∆W<br />

log (w)<br />

W<br />

Diferencial<br />

∆W<br />

Homens Brancos 1,40 - 1,85 -<br />

Mulheres Brancas 1,24 0,15 1,64 0,21<br />

Homens Negros 1,04 0,35 1,44 0,41<br />

Mulheres Negras 0,95 0,45 1,28 0,57<br />

Fonte: Cálculo pelos autores a partir das estimações econométricas.<br />

Aplican<strong>do</strong> a <strong>de</strong>composição <strong>de</strong>sses diferenciais, po<strong>de</strong>-se observar que<br />

o <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> “efeito <strong>do</strong>tação” permanece praticamente inaltera<strong>do</strong>. Com<br />

relação ao chama<strong>do</strong> “efeito discriminação”, a redução após a introdução<br />

das variáveis <strong>de</strong> controle na estimação é relativamente b<strong>em</strong> mais elevada.<br />

Contu<strong>do</strong>, apesar <strong>de</strong> observar uma redução neste efeito, ainda é possível<br />

observar a presença <strong>de</strong> uma parcela importante <strong>do</strong> diferencial atribuí<strong>do</strong> a<br />

este componente da <strong>de</strong>composição. Os resulta<strong>do</strong>s da nova <strong>de</strong>composição<br />

são apresenta<strong>do</strong>s na tabela 10.<br />

Tabela 10 - Decomposição <strong>do</strong> Diferencial <strong>de</strong> Salários<br />

<strong>Ceará</strong>/São Paulo – Capital Humano e Controles<br />

ceará<br />

categorias “Efeito Dotação” “Efeito Discriminação”<br />

Mulheres Brancas -0,35 0,50<br />

Homens Negros 0,17 0,19<br />

Mulheres Negras -0,08 0,53<br />

são Paulo<br />

categorias “Efeito Dotação” “Efeito Discriminação”<br />

Mulheres Brancas -0,16 0,37<br />

Homens Negros 0,18 0,23<br />

Mulheres Negras 0,06 0,51<br />

Fonte: Cálculo pelos autores a partir das estimações econométricas.<br />

53


Vitor Hugo Miro, Daniel Cirilo Suliano<br />

Assim, pelo menos <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista <strong>do</strong> “efeito discriminação”, parece<br />

que a inclusão <strong>de</strong> controles adicionais serviram para expurgar efeitos<br />

que eram aparent<strong>em</strong>ente discriminatórios e, na verda<strong>de</strong>, são efeitos<br />

<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> características observadas <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res. Quanto ao<br />

“efeito <strong>do</strong>tação”, parece que existe realmente um componente puramente<br />

<strong>de</strong> formação <strong>de</strong> capital humano que explica parte <strong>do</strong>s diferenciais salariais<br />

<strong>em</strong> ambos os Esta<strong>do</strong>s.<br />

Outra observação pertinente é que a redução <strong>do</strong> “efeito discriminação”<br />

é mais acentuada para os indivíduos <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, fato que alia<strong>do</strong> com<br />

a redução <strong>do</strong> próprio diferencial, d<strong>em</strong>onstra que a forma <strong>de</strong> inserção <strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>res no merca<strong>do</strong> cearense confere um gran<strong>de</strong> peso sobre as diferenças<br />

<strong>de</strong> rendimentos. De fato, o que se pensava ser efeito discriminatório<br />

no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho cearense, na verda<strong>de</strong> eram efeitos <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong><br />

características observadas <strong>do</strong>s indivíduos.<br />

Em uma comparação entre Esta<strong>do</strong>s, os resulta<strong>do</strong>s mostram uma vantag<strong>em</strong><br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> São Paulo <strong>em</strong> relação ao <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, pelo<br />

menos quan<strong>do</strong> se consi<strong>de</strong>ra mulheres brancas, ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> conta que neste<br />

primeiro seus atributos produtivos são mais valoriza<strong>do</strong>s, da mesma forma<br />

que o efeito discriminatório é menor (para as mulheres negras, os <strong>do</strong>is<br />

merca<strong>do</strong>s praticamente não se diferenciam). No caso <strong>do</strong>s homens negros,<br />

ocorre o inverso, mas <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista absoluto, os valores não são muito<br />

diferentes.<br />

5. CONSIDERAÇõES FINAIS<br />

Este artigo teve como objetivo quantificar diferenciais <strong>de</strong> salário no<br />

merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho brasileiro com base <strong>em</strong> critérios discriminatórios <strong>de</strong><br />

gênero e raça. A análise foi feita com base na heterogeneida<strong>de</strong> <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> trabalho brasileiro consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> os Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> e <strong>de</strong> São Paulo<br />

por apresentar<strong>em</strong> realida<strong>de</strong>s sócio-econômicas distintas <strong>em</strong> duas regiões<br />

com diferentes graus <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Visan<strong>do</strong> mensurar b<strong>em</strong> os efeitos resultantes <strong>de</strong> fatores produtivos e<br />

discriminatórios, uma nova medida <strong>de</strong> capital humano foi proposta, assim<br />

como a inclusão <strong>de</strong> outras características observadas <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s apontam para diferenças <strong>de</strong> rendimentos entre gênero e raça<br />

resultante <strong>de</strong> atributos não produtivos, o que reforça a tese <strong>de</strong> discrimina-<br />

54


Discriminação <strong>de</strong> Rendimentos por Gênero e Raça a Partir <strong>de</strong> Realida<strong>de</strong>s Sócio-Econômicas Distintas<br />

ção no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho <strong>do</strong> Brasil <strong>em</strong> nível regional.<br />

De uma maneira geral, os resulta<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s mostram que o<br />

grau <strong>de</strong> discriminação <strong>do</strong>s homens negros é relativamente menor quan<strong>do</strong><br />

compara<strong>do</strong>s com mulheres brancas e mulheres negras. Além disto, parte<br />

<strong>do</strong> diferencial salarial que observa entre os homens <strong>de</strong>ve-se a atributos<br />

produtivos entre estes <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res. No caso das mulheres,<br />

os <strong>do</strong>is efeitos reforçam-se mutuamente e <strong>em</strong> direções opostas: apesar <strong>de</strong><br />

apresentar<strong>em</strong> atributos mais produtivos <strong>do</strong> que os homens brancos, a r<strong>em</strong>uneração<br />

não se dá como espera<strong>do</strong>, mesmo apresentan<strong>do</strong> características<br />

iguais aos <strong>do</strong>s homens brancos tais como mesmo nível <strong>de</strong> ocupação, mesmo<br />

setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, etc. (exceção para mulheres negras <strong>de</strong> São Paulo que<br />

apresentam atributos menos produtivos). Vale ressaltar ainda que a maior<br />

parte <strong>de</strong>ste diferencial é resultante <strong>de</strong> fatores puramente discriminatórios.<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista específico, observa-se que apesar <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ceará</strong> apresentar um menor grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>em</strong> nível salarial, o efeito<br />

discriminatório no mesmo é maior, principalmente entre as mulheres.<br />

Esses resulta<strong>do</strong>s são reforça<strong>do</strong>s <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> controles <strong>de</strong><br />

características individuais <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res, assim como da nova composição<br />

<strong>do</strong> capital humano.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

BARROS, R. P.; FRANCO, S.; MEDONÇA, R. Discriminação e<br />

Segmentação no Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Trabalho e Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda no<br />

Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: IPEA, jul. 2007a. (Texto para Discussão, 1288).<br />

BARROS, R. P.; FRANCO, S.; MEDONÇA, R. A Recente Queda da<br />

Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda e o Acelera<strong>do</strong> Progresso Educacional Brasileiro<br />

da Última Década. Rio <strong>de</strong> Janeiro: IPEA, set. 2007b. (Texto para<br />

Discussão, 1304).<br />

BLINDER, A. S. Wage Discrimination: Reduced Form and Structural Estimates,<br />

Journal of Human Resources, v.8, autumn, p.436–455, 1973.<br />

CACCIAMALI, M. C.; HIDRATA, G. I. A Influência da Raça e <strong>do</strong> Gênero<br />

nas Oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Obtenção <strong>de</strong> Renda – Uma Análise da Discriminação<br />

<strong>em</strong> Merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Trabalho Distintos: Bahia e São Paulo. Estu<strong>do</strong>s<br />

Econômicos, São Paulo, v.35, n.4, p.767-795, out-<strong>de</strong>z., 2005.<br />

CALVALIERI, C.; FERNANDES, R. Diferenciais <strong>de</strong> Salários por Gênero<br />

e por Cor: Uma Comparação entre as Regiões Metropolitanas Brasileiras.<br />

55


Vitor Hugo Miro, Daniel Cirilo Suliano<br />

Revista <strong>de</strong> <strong>Economia</strong> Política, São Paulo, v.18, n.1, p.158-175, jan-mar,<br />

1998.<br />

CAMPANTE, F. R.; CRESPO A.; LEITE, P. G. P. G. Desigualda<strong>de</strong> Salarial<br />

entre Raças no Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Trabalho Urbano Brasileiro: Aspectos<br />

Regionais. Revista <strong>de</strong> Econometria, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.58, n.2, p.185-210,<br />

abr-jun., 2004.<br />

CASTRO, C. M. O Preço da Cor: Os Diferenciais Raciais na Distribuição<br />

<strong>de</strong> Renda no Brasil: Comentário. Pesquisa e Planejamento Econômico,<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.10, n.3, n.1, p.1001-1006, <strong>de</strong>z., 1980.<br />

CRESPO, A. R. V. Desigualda<strong>de</strong> entre Raças e Gênero no Brasil: Uma<br />

Análise com Simulações Contra-Factuais. Dissertação <strong>de</strong> Mestra<strong>do</strong>,<br />

PUC-RIO, 2003.<br />

EHRENBERG, R. G.; SMITH, R. S. A Mo<strong>de</strong>rna <strong>Economia</strong> <strong>do</strong> Trabalho.<br />

Teoria e Política Pública. São Paulo: Makron Books, 2000.<br />

HECKMAN, J. Sample Selection Bias as a Specification Error, Econometrica,<br />

v.47, n.1, p.153-161, jan., 1979.<br />

HECKMAN, J.; TOBIAS, J. L.; VYTLACIL, E. Simple Estimators for<br />

Treatment Parameters in a Latent Variable Framework with an Application<br />

to Estimation the Returns to Schooling. NBER Working Paper<br />

7.950, 2000.<br />

JANN, B. A Stata Impl<strong>em</strong>entation of the Blin<strong>de</strong>r-Oaxaca Decomposition.<br />

ETH Zurich Sociology Working Paper n.5, 2008.<br />

MENEZES, W. F.; CARRERA-FERNANDEZ.; DEDECCA, C. Diferenciais<br />

Regionais <strong>de</strong> Rendimentos <strong>do</strong> Trabalho: Uma Análise das Regiões<br />

Metropolitanas <strong>de</strong> São Paulo e <strong>de</strong> Salva<strong>do</strong>r. Estu<strong>do</strong>s Econômicos, São<br />

Paulo, v.35, n.2, p.271-296, abr-jun., 2005.<br />

MINCER, J. Schooling, Experience and Earning. New York: Columbia<br />

University Press, 1974.<br />

OAXACA, R. Male–F<strong>em</strong>ale Wage Differentials in Urban Labor Markets,<br />

International Economic Review, v.14, n.3, p.693-709, oct., 1973.<br />

SOARES, S. S. D. O Perfil da Discriminação no Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Trabalho<br />

– Homens Negros, Mulheres Brancas e Mulheres Negras. Brasília:<br />

IPEA, nov., 2000. (Texto para Discussão, 769).<br />

WOOLDRIDGE, J. M. Econometric Analysis of Cross Section and Panel<br />

Data. The MIT Press, Cambridge, MA, 2002.<br />

56


RESUMO<br />

A PROPORÇÃO DE POBRES DO CEARÁ<br />

ESTÁ SUBESTIMADA?<br />

UMA APLICAÇÃO DA TEORIA<br />

DO VALOR EXTREMO<br />

Carlos Wagner Rios Pinto *<br />

Ronal<strong>do</strong> A. Arraes **<br />

As pesquisas <strong>de</strong> estimação <strong>de</strong> distribuição da pobreza no Brasil têm<br />

se concentra<strong>do</strong> com o uso <strong>de</strong> ferramentas <strong>de</strong> inferência estatística contestáveis<br />

ou com o uso ad hoc <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas distribuições, ou ainda através<br />

<strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> convergência. Este trabalho contribuiu com uma discussão<br />

<strong>de</strong> diferentes meto<strong>do</strong>logias <strong>de</strong> inferência estatística não paramétrica, com<br />

o intuito <strong>de</strong> se estimar a evolução da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s pobres. Inicialmente,<br />

através <strong>de</strong> suavização por núcleo estocástico (Kernel Density), com base<br />

nos da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s pela Pesquisa Nacional por Amostra <strong>de</strong> Domicílios –<br />

PNAD (2001, 2003, 2005 e 2007), conclui-se que a renda média familiar<br />

per capita v<strong>em</strong> aumentan<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong> da análise. Toman<strong>do</strong> o <strong>Ceará</strong> como<br />

um esta<strong>do</strong> representativo para aplicação <strong>em</strong>pírica, contrastou-se duas meto<strong>do</strong>logias<br />

na estimação da proporção <strong>de</strong> pobres nesse perío<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> elas:<br />

A meto<strong>do</strong>logia tradicional (uso <strong>de</strong> formulação Discreta Uniforme) e uma<br />

aplicação com base na Teoria <strong>do</strong> Valor Extr<strong>em</strong>o (TVE). Para prover maior<br />

sustentação ao que se propõe, é feito um cenário contrapon<strong>do</strong> as taxas <strong>de</strong><br />

pobreza extraídas <strong>do</strong> Censo-2000 com as obtidas através <strong>do</strong> IPEADATA<br />

e as avaliadas pela meto<strong>do</strong>logia aqui <strong>em</strong>pregada, ambas com base nos da<strong>do</strong>s<br />

da PNAD-2001. Do contraste <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>-se concluir que há<br />

forte indicação <strong>de</strong> haver subestimação das taxas <strong>de</strong> pobreza ao se utilizar<br />

meto<strong>do</strong>logias tradicionais.<br />

Palavras-Chave: Núcleo Estocástico, Teoria <strong>do</strong> Valor Extr<strong>em</strong>o, Distribuição<br />

<strong>de</strong> Pobres, <strong>Ceará</strong>.<br />

....................................................<br />

* Centro <strong>de</strong> Aperfeiçamento <strong>de</strong> Economistas <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste (CAEN/UFC).<br />

** Centro <strong>de</strong> Aperfeiçamento <strong>de</strong> Economistas <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste (CAEN/UFC).<br />

57


Carlos Wagner Rios Pinto, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

AbstrAct<br />

The research of estimating the distribution of poverty in Brazil<br />

have been concentrated with the use of tools of statistical inference or the<br />

inefficient use of some ad hoc distributions, or through studies of convergence.<br />

This work contributes to a discussion of different methods of<br />

non-parametric statistical inference in or<strong>de</strong>r to estimate the evolution of<br />

the <strong>de</strong>nsity of poor individuals by smoothing a stochastic Kernel <strong>de</strong>nsity,<br />

based on data from the National Household Survey - PNAD (2001, 2003,<br />

2005 and 2007), and it conclu<strong>de</strong>d that the average family income per capita<br />

has been increasing during the analysis. By taking the state of <strong>Ceará</strong> as<br />

representative for <strong>em</strong>pirical analysis, it was contrasted two metho<strong>do</strong>logies<br />

for estimating the proportion of poor in the period, which are: The traditional<br />

method (use of Discrete Uniform formulation) and an application<br />

based on the theory of extr<strong>em</strong>e values (TVE). To provi<strong>de</strong> more support to<br />

what is proposed, it ma<strong>de</strong> a scene contrasting the poverty rates from the<br />

Census-2000 with those obtained by IPEADATA and evaluated by the metho<strong>do</strong>logy<br />

<strong>em</strong>ployed here, the latter two based on PNAD-2001 dataset. By<br />

contrasting the results it is conclu<strong>de</strong>d that there is strong evi<strong>de</strong>nce of un<strong>de</strong>restimation<br />

of the poverty rates as the traditional metho<strong>do</strong>logy is applied.<br />

Keywords: Kernel Density, Theory of Extr<strong>em</strong>e Values, Poverty Distribution,<br />

<strong>Ceará</strong>.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

O objetivo da Inferência Estatística é produzir informações sobre<br />

dada característica da população a partir <strong>de</strong> informações colhidas <strong>de</strong> uma<br />

<strong>de</strong> suas partes. Se houvesse informações completas sobre uma população,<br />

como o seu comportamento, não haveria necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se colher uma<br />

amostra, pois, toda a informação <strong>de</strong>sejada seria obtida por meio <strong>de</strong> sua<br />

distribuição. Isso raramente acontece, pois, ou não se conhec<strong>em</strong> os parâmetros<br />

relativos à variável, a qual i<strong>de</strong>ntifica a população, ou não se conhece<br />

a curva da distribuição, ou ainda, o que é mais comum, não se t<strong>em</strong> idéia<br />

<strong>de</strong> coisa alguma sobre ela. Daí a necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> uma amostra que<br />

extraia o máximo possível <strong>de</strong> informações a seu respeito, que possibilite<br />

estimar, por técnicas <strong>de</strong> inferência estatística, a função <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uma variável aleatória x, <strong>de</strong>notada por f() x , que <strong>de</strong>screve<br />

58


A Proporção <strong>de</strong> Pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> Está Subestimada? Uma Aplicação da Teoria <strong>do</strong> Valor Extr<strong>em</strong>o<br />

o real comportamento da distribuição <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s. O conhecimento <strong>de</strong>ssa<br />

função possibilitaria, por ex<strong>em</strong>plo, calcular probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> eventos<br />

associa<strong>do</strong>s a essa variável, ou, <strong>em</strong> estu<strong>do</strong>s aplica<strong>do</strong>s <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong><br />

renda, conhecer-se a proporção <strong>de</strong> indivíduos situa<strong>do</strong>s <strong>em</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s<br />

intervalos <strong>de</strong> renda. Tais cálculos seriam procedi<strong>do</strong>s da seguinte maneira:<br />

b<br />

p a x, b f( x) dx Parato<strong>do</strong> a b<br />

<br />

<br />

a<br />

Uma das aplicações <strong>de</strong>ssa escolha meto<strong>do</strong>lógica na ciência econômica<br />

será utilizada neste trabalho cujo objetivo concentra-se <strong>em</strong> realizar<br />

técnicas <strong>de</strong> inferência estatística para se avaliar a evolução <strong>de</strong> renda das famílias<br />

pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> no perío<strong>do</strong> compreendi<strong>do</strong> entre 2001 e 2007. Para<br />

tanto, se utilizou amostras da PNAD nos anos <strong>de</strong> 2001, 2003, 2005 e 2007.<br />

Aplicaram-se à variável <strong>de</strong>notada pelo rendimento <strong>do</strong>miciliar per capita<br />

(RDPC) técnicas <strong>de</strong> inferência estatística paramétrica e não paramétrica,<br />

com o intuito <strong>de</strong> realizar estimativas <strong>do</strong>s seus parâmetros (Média, moda e<br />

<strong>de</strong>svio padrão), da curva da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> b<strong>em</strong> como sua evolução durante o<br />

perío<strong>do</strong> supra menciona<strong>do</strong> e a estimativa da real proporção <strong>de</strong> pobres no<br />

<strong>Ceará</strong> no perío<strong>do</strong> a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>. As técnicas <strong>de</strong> inferência estatística não paramétrica<br />

aplicadas nessa análise tiveram o objetivo <strong>de</strong> se estimar a curva da<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da renda <strong>do</strong>s pobres no <strong>Ceará</strong> b<strong>em</strong> como sua evolução no perío<strong>do</strong><br />

a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>. Neste trabalho a<strong>do</strong>tou-se a estimação <strong>de</strong> suavização por núcleo<br />

estocástico Sala-i-Martin (2002) se utilizou da técnica <strong>de</strong> suavização<br />

por Núcleo Estocástico, porém, aplican<strong>do</strong>-se à estimação da proporção<br />

<strong>de</strong> pobres. A contribuição <strong>de</strong>sta formatação meto<strong>do</strong>lógica é a verificação<br />

da evolução da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da renda <strong>do</strong>s pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, estiman<strong>do</strong>, via<br />

estatística não paramétrica que possui, <strong>de</strong> uma maneira geral, suposições<br />

b<strong>em</strong> menos rígidas.<br />

Vale observar que no méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> estimação <strong>de</strong> suavização por núcleo<br />

o que se obtém é um esboço <strong>do</strong> comportamento da real distribuição da<br />

renda nesta unida<strong>de</strong> da fe<strong>de</strong>ração, com ênfase nos valores que compõ<strong>em</strong><br />

a cauda da distribuição, portanto, não se <strong>de</strong>ve esperar como resulta<strong>do</strong> que<br />

se consiga revelar uma fórmula da função <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ssa variável, por ex<strong>em</strong>plo, uma distribuição <strong>de</strong>ntre as mais conhecidas.<br />

Esten<strong>de</strong>-se ainda da análise, portanto, a verificação <strong>de</strong> se estar haven<strong>do</strong><br />

convergência para um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> nível <strong>de</strong> renda ou até mesmo uma con-<br />

59


Carlos Wagner Rios Pinto, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

firmação <strong>de</strong> simetria ou uni modalida<strong>de</strong>.<br />

O uso <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> inferência estatística paramétrica neste trabalho<br />

possibilitou a estimação da proporção <strong>de</strong> pobres, ten<strong>do</strong> como referencial<br />

um esta<strong>do</strong> representativo <strong>de</strong> uma região menos <strong>de</strong>senvolvida, no caso, o<br />

esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>. Muitos são os trabalhos a respeito <strong>de</strong> estimação da proporção<br />

<strong>de</strong> pobres com o uso ad hoc <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas distribuições, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, Barros e Men<strong>do</strong>nça (1997), Hoffman (2005), Foster et al (1984)<br />

e Sala-i-Martin (2002). Por outro la<strong>do</strong>, Arraes (2008), utilizou testes estatísticos<br />

não paramétricos para estimar a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda que melhor<br />

se ajustasse aos da<strong>do</strong>s, ten<strong>do</strong> por base as unida<strong>de</strong>s da fe<strong>de</strong>ração. No trabalho<br />

ora apresenta<strong>do</strong> a estimação das taxas <strong>de</strong> pobreza e indigência se<br />

proce<strong>de</strong>u seguin<strong>do</strong> duas meto<strong>do</strong>logias distintas: Na primeira, estimou-se<br />

a proporção <strong>de</strong> pobres pelo méto<strong>do</strong> mais tradicional que correspon<strong>de</strong> simplesmente<br />

ao quociente entre o número <strong>de</strong> pobres observa<strong>do</strong>s na amostra<br />

e a quantida<strong>de</strong> total <strong>de</strong> observações. O segun<strong>do</strong> méto<strong>do</strong>, já utiliza<strong>do</strong>s por<br />

Sen (1976) e posteriormente por Foster et al (1984), consiste <strong>em</strong> se calcular<br />

a integral, <strong>de</strong>finida nos limites pelos quais se <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> pobreza, da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

da variável renda. A meto<strong>do</strong>logia aqui <strong>em</strong>pregada se diferencia das já<br />

apresentadas, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> se estimar a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda via Teoria <strong>do</strong><br />

Valor Extr<strong>em</strong>o (TVE), que diferent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> outros trabalhos publica<strong>do</strong>s,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> Manfred Gilli e Evis Kaellezi (2006), que se aplicou tal<br />

técnica para estimação <strong>do</strong> VAR (Valor <strong>em</strong> risco) <strong>de</strong> ativos financeiros.<br />

Aqui, utilizar-se-á TVE para se estimar a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da calda inferior da<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da renda <strong>do</strong>s cearenses, resultan<strong>do</strong> numa estimativa bastante<br />

consistente da proporção <strong>de</strong> pobres por motivos que serão apresa<strong>do</strong>s neste<br />

trabalho.<br />

Inicia-se esse trabalho pela discussão sobre diferentes meto<strong>do</strong>logias<br />

<strong>em</strong> diferentes artigos que tratam da estimação da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> e proporção<br />

<strong>de</strong> pobres in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da região e o perío<strong>do</strong> da análise. Na seqüência são<br />

apresentadas as meto<strong>do</strong>logias <strong>em</strong>pregadas nas estimativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> e<br />

proporção <strong>de</strong> pobres seguin<strong>do</strong> <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s e os possíveis contrastes encontra<strong>do</strong>s<br />

na literatura. Na última seção são feitas as consi<strong>de</strong>rações finais.<br />

60


A Proporção <strong>de</strong> Pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> Está Subestimada? Uma Aplicação da Teoria <strong>do</strong> Valor Extr<strong>em</strong>o<br />

2. ESTIMAÇÃO NÚCLEO ESTOCÁSTICA DA DISTRI-<br />

BUIÇÃO DE RENDA DOS POBRES<br />

Essa seção é <strong>de</strong>dicada à apresentação <strong>de</strong> meto<strong>do</strong>logias <strong>de</strong> inferência<br />

estatística não paramétrica para estimação <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma variável<br />

aleatória. Nela, contrastar-se-ão meto<strong>do</strong>logias como Histograma, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, com o méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> estimação por suavização por núcleo estocástico.<br />

Para verificação <strong>em</strong>pírica será toma<strong>do</strong> como referência o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ceará</strong>.<br />

HistogrAmA<br />

Para se realizar a estimação <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>, é<br />

muito comum iniciá-la com uma investigação informal das proprieda<strong>de</strong>s<br />

<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s observa<strong>do</strong>s. Um simples gráfico <strong>de</strong> dispersão <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s po<strong>de</strong><br />

mostrar evidências ou fortes indicações <strong>de</strong> simetria ou bi modalida<strong>de</strong>, por<br />

ex<strong>em</strong>plo. O mais antigo e amplamente usa<strong>do</strong> méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> estimação <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

trata-se <strong>do</strong> Histograma. Devi<strong>do</strong> a sua simplicida<strong>de</strong>, ou seja, escolhe-se,<br />

a partir <strong>de</strong> experiências adquiridas das características das variáveis<br />

envolvidas no processo <strong>de</strong> estimação, ou até mesmo bom senso, o ponto<br />

<strong>de</strong> partida <strong>do</strong>s valores que irão compor o primeiro intervalo <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s na<br />

distribuição <strong>de</strong> freqüência, que por sua vez será a orig<strong>em</strong> x <strong>do</strong> gráfico, e<br />

0<br />

adicionalmente a largura da caixa h (bin width) que correspon<strong>de</strong> à amplitu<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>s intervalos da distribuição <strong>de</strong> freqüência. A partir daí, formar-se-ão<br />

as outras caixas <strong>de</strong> mesma largura h, mas com altura correspon<strong>de</strong>nte a freqüência<br />

absoluta das observações que pertenc<strong>em</strong> ao respectivo intervalo<br />

que geralmente são escolhi<strong>do</strong>s ser<strong>em</strong> fecha<strong>do</strong>s no la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> e abertos<br />

no la<strong>do</strong> direito. Outra maneira <strong>de</strong> construção <strong>do</strong> Histograma correspon<strong>de</strong><br />

<strong>em</strong> fixar a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caixas e, conseqüent<strong>em</strong>ente, tornan<strong>do</strong> o parâmetro<br />

h <strong>em</strong> função disso. O estima<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> Histograma é então<br />

<strong>de</strong>fini<strong>do</strong> por:<br />

^ 1<br />

f( x)<br />

Nº <strong>de</strong> xnomesmo bin<br />

(1)<br />

nh<br />

Ou então uma generalização <strong>do</strong> Histograma, que permite que h varie.<br />

Portanto o estima<strong>do</strong>r torna-se:<br />

^ 1 Nº <strong>de</strong> x no mesmo bin<br />

f() x (2)<br />

n Lagura <strong>do</strong> bin conten<strong>do</strong> x<br />

61


Carlos Wagner Rios Pinto, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

Nesta última versão apresentada, a largura <strong>do</strong> bin, como já comenta<strong>do</strong>,<br />

po<strong>de</strong> variar <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o que o pesquisa<strong>do</strong>r consi<strong>de</strong>rar conveniente.<br />

Por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> contas <strong>de</strong> energias é interessante classificar as classes <strong>de</strong><br />

consumo como, primeiramente, uma faixa que <strong>de</strong>termina o nível máximo<br />

<strong>de</strong> consumo que garante um <strong>de</strong>sconto na conta daqueles usuários que não<br />

ultrapass<strong>em</strong> tal faixa. Também seria interessante <strong>de</strong>terminar outra amplitu<strong>de</strong><br />

h <strong>do</strong> intervalo que <strong>de</strong>termina níveis <strong>de</strong> consumo acima <strong>do</strong> que seria<br />

<strong>de</strong>seja<strong>do</strong> às companhias <strong>de</strong> energia <strong>em</strong> certo perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> crise energética, a<br />

fim <strong>de</strong> que houvesse punições, como uma multa, por ex<strong>em</strong>plo, para aqueles<br />

consumi<strong>do</strong>res que consumiss<strong>em</strong> o nível <strong>de</strong> energia que pertencess<strong>em</strong> a tal<br />

intervalo. Além <strong>de</strong> um prévio procedimento que é <strong>de</strong>terminar a largura <strong>do</strong>s<br />

bins no histograma, <strong>de</strong>ve-se atribuir o ponto x 0 <strong>de</strong> partida, se não vejamos:<br />

Note que ao se <strong>de</strong>terminar a orig<strong>em</strong>, to<strong>do</strong>s as larguras das “caixas”, inclusive<br />

a da primeira, serão <strong>de</strong>terminadas a partir <strong>de</strong>sta seguin<strong>do</strong> a seguinte lei<br />

[x0 + mh, x0 + (m + 1)h] para to<strong>do</strong> inteiro m. Conclui-se que, ao se variar<br />

h ou x 0 ou ambos, ter-se-iam estimativas diferentes da função <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>. O gráfico 1 ilustra ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> estimativas da renda <strong>do</strong>s<br />

pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> usan<strong>do</strong> histograma como estima<strong>do</strong>r.<br />

62<br />

Gráfico 1 - Histogramas da renda <strong>do</strong>s pobres no <strong>Ceará</strong> <strong>em</strong> 2001<br />

(A) (B) (C)<br />

No gráfico acima, o histograma (A) mostra a distribuição <strong>do</strong> rendimento<br />

<strong>do</strong>miciliar per-capita obtida através <strong>do</strong> sofware SPSS 12.0 on<strong>de</strong><br />

não se <strong>de</strong>terminou nenhum <strong>do</strong>s parâmetros <strong>do</strong> estima<strong>do</strong>r da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>,<br />

isto é, a largura h <strong>do</strong>s bins, a quantida<strong>de</strong> das caixas ou o ponto <strong>de</strong> partida;


A Proporção <strong>de</strong> Pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> Está Subestimada? Uma Aplicação da Teoria <strong>do</strong> Valor Extr<strong>em</strong>o<br />

Neste caso o software atribui automaticamente, por méto<strong>do</strong>s já programa<strong>do</strong>s<br />

(<strong>de</strong>fault), os valores <strong>do</strong>s respectivos parâmetros. Note que, com essa<br />

configuração, a disposição <strong>do</strong> arranjo das freqüências não permite inferir<br />

sobre a real forma da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da variável investigada.<br />

O histograma (B) foi <strong>de</strong>senha<strong>do</strong> com a largura das caixas pré-fixadas<br />

<strong>em</strong> R$ 12.00 e a quantida<strong>de</strong> das caixas ficaram <strong>em</strong> função disso. O ponto<br />

<strong>de</strong> partida permaneceu constante. Com essa nova configuração visualizase<br />

uma tendência <strong>de</strong> bimodalida<strong>de</strong> na estimativa da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>. No histograma<br />

(C), por sua vez, foram atribuí<strong>do</strong>s novos valores para o Histograma<br />

(C): Como o ponto <strong>de</strong> partida que antes era <strong>de</strong> R$ 70.00 e agora foi altera<strong>do</strong><br />

para R$ 60.00 e a quantida<strong>de</strong> das caixas ficou <strong>em</strong> 6 unida<strong>de</strong>s, fican<strong>do</strong>,<br />

portanto, como função disso a largura h das mesmas. Visualiza-se nesta<br />

nova configuração uma estimativa <strong>de</strong> curva completamente diferente das<br />

anteriores, apresentan<strong>do</strong> agora uma assimetria à direita e une-modalida<strong>de</strong>.<br />

Apesar <strong>de</strong> ser um <strong>do</strong>s estima<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> mais usa<strong>do</strong>s por<br />

muitos pesquisa<strong>do</strong>res pela sua simplicida<strong>de</strong>, mostrou-se um estima<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />

pouca eficiência, pois, constata-se uma gran<strong>de</strong> variância nas estimativas<br />

apresentadas. Notou-se que basta que se varie pelo menos um <strong>do</strong>s três<br />

parâmetros que o <strong>de</strong>fine, para que a estimativa se torne completamente<br />

diferente, mesmo que se utilize a mesma série <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, que neste caso se<br />

tratou da PNAD com corte nos valores entre R$ 95,00 e R$ 190,00 para o<br />

ano <strong>de</strong> 2001.<br />

Estima<strong>do</strong>r Naive<br />

Define-se uma função <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma variável<br />

aleatória x como sen<strong>do</strong>:<br />

1<br />

f x lim pxh X x h<br />

(3)<br />

h0<br />

2h<br />

Para qualquer da<strong>do</strong> h, po<strong>de</strong>-se estimar p(x − h < X


Carlos Wagner Rios Pinto, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

64<br />

Dada (5) po<strong>de</strong>-se reescrever (4) da seguinte maneira:<br />

n<br />

ˆ 1 1 xX i <br />

f x w<br />

(6)<br />

n i1<br />

h<br />

<br />

h<br />

<br />

<br />

Segue então que a estimativa construída pelo estima<strong>do</strong>r Naive consiste<br />

<strong>em</strong> pôr caixas <strong>de</strong> largura 2h e peso (2nh) -1 <strong>em</strong> cada observação e<br />

então as soman<strong>do</strong>. O estima<strong>do</strong>r Naive leva vantag<strong>em</strong> sobre o Histograma,<br />

pois, ele po<strong>de</strong> ser visto como uma tentativa <strong>de</strong> construir um Histograma<br />

<strong>em</strong> que to<strong>do</strong>s os pontos amostrais se situam no centro <strong>de</strong> cada smooth<br />

(intervalo ou caixa), livran<strong>do</strong>-se então da <strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> partida<br />

x 0 , logo suas estimativas são mais eficientes. A <strong>de</strong>pendência da largura <strong>do</strong><br />

bin (parâmetro smooth) continua e vale salientar que apesar <strong>do</strong> estima<strong>do</strong>r<br />

Naive apresentar vantagens sobre o Histograma, por ser mais eficiente, o<br />

mesmo apresenta nas suas estimativas, uma forma bastante enrugada (áspera)<br />

da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>, que po<strong>de</strong> muitas vezes também distorcer ou maquiar<br />

o que seria a verda<strong>de</strong>ira forma da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> além <strong>do</strong> mais, as <strong>de</strong>rivadas<br />

<strong>em</strong> qualquer ponto pertencente ao range <strong>de</strong> variável que o <strong>de</strong>fine é zero. 1<br />

Estima<strong>do</strong>r Kernel<br />

O méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> estimação <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> proposto neste trabalho e que<br />

minimiza probl<strong>em</strong>as encontra<strong>do</strong>s pelo méto<strong>do</strong> <strong>do</strong> Histograma e <strong>do</strong> estima<strong>do</strong>r<br />

Naive, é o méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> suavização por núcleo estocástico.<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma generalização <strong>do</strong> estima<strong>do</strong>r Naive que consiste basicamente<br />

por re<strong>de</strong>finir a função peso por:<br />

Note que a função peso, <strong>de</strong>finida por w(x), aten<strong>de</strong> a um quesito básico<br />

para <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> uma função <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>, ou seja, a integral<br />

<strong>de</strong>finida nos Reais é igual a um. Note adicionalmente que a escolha<br />

<strong>de</strong>ssa função <strong>de</strong>ve seguir um comportamento razoável <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s que pertenc<strong>em</strong><br />

a sua amostra. Geralmente <strong>de</strong>ve-se escolher uma função simétrica<br />

como a distribuição Normal para a função peso w(x).<br />

O estima<strong>do</strong>r Kernel, por analogia ao estima<strong>do</strong>r Naive, é <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> por:<br />

On<strong>de</strong> h é a largura <strong>do</strong> bin, também chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> parâmetro alisa<strong>do</strong>r<br />

1 Para ver ex<strong>em</strong>plo e mais <strong>de</strong>talhes consultar Silverman (1998).<br />

(7)<br />

(8)


A Proporção <strong>de</strong> Pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> Está Subestimada? Uma Aplicação da Teoria <strong>do</strong> Valor Extr<strong>em</strong>o<br />

(smoothing); n é o tamanho da amostra; w(x) é função peso já <strong>de</strong>finida e x<br />

é a variável aleatória assumida <strong>em</strong> (7). A estimativa gerada pelo processo<br />

<strong>de</strong> Kernel é <strong>de</strong>finida como sen<strong>do</strong> uma soma <strong>de</strong> bumps (protuberâncias)<br />

postas nas observações, isto é, a função w(x) <strong>de</strong>termina a forma <strong>do</strong>s bumps<br />

enquanto o parâmetro h <strong>de</strong>termina a largura <strong>do</strong>s mesmos. Outra vantag<strong>em</strong><br />

sobre as outras técnicas é que a estimativa se dá por uma soma <strong>de</strong> bumps,<br />

tornan<strong>do</strong> suave a forma resultante e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que w(x) é escolhida ser uma<br />

função contínua, conclui-se que a estimativa será contínua e as <strong>de</strong>rivadas<br />

<strong>de</strong> qualquer ord<strong>em</strong> e <strong>em</strong> qualquer ponto exist<strong>em</strong>, resultan<strong>do</strong> numa aproximação<br />

bastante razoável da verda<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>.<br />

Ressalte-se ainda que se t<strong>em</strong> uma <strong>de</strong>pendência da escolha da largura<br />

<strong>do</strong>s bumps. No trabalho ora apresenta<strong>do</strong> se seguiu a idéia apresentada e<br />

ex<strong>em</strong>plificada <strong>em</strong> Silverman (1977, p.15), que a escolha <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s larguras<br />

mascaram a real natureza da distribuição. Em contrapartida, uma pequena<br />

amplitu<strong>de</strong> na largura torna a estimativa bastante enrugada, ass<strong>em</strong>elhan<strong>do</strong>se<br />

à estimativa apresentada pelo estima<strong>do</strong>r Naive. Qual então será o critério<br />

ótimo <strong>de</strong> escolha para h? Optou-se por um méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> tentativa, <strong>de</strong> se escolher<br />

h varian<strong>do</strong>-a <strong>em</strong> seguidas vezes até que se encontre uma largura dada<br />

como conveniente. A base que se tomou para o critério <strong>de</strong> avaliar se <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />

valor para h é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> gran<strong>de</strong> ou pequeno, foi utilizar-se da opção<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>fault <strong>do</strong> software E -Views versão 6.0 que traz as duas possibilida<strong>de</strong>s<br />

para largura <strong>do</strong> bump na caixa <strong>de</strong> diálogo Silverman ou User specified.<br />

A primeira opção se refere a um méto<strong>do</strong> que trata <strong>de</strong> um procedimento <strong>de</strong><br />

escolha <strong>de</strong> h como sen<strong>do</strong> uma minimização <strong>do</strong> erro quadrático integral<br />

médio. 2 Na seção 4.2 apresentam-se as estimativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>, pelo méto<strong>do</strong><br />

Kernel, da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> nos anos <strong>de</strong> 2001 a 2007.<br />

3. TEORIA DO VALOR EXTREMO<br />

Essa seção, principal foco <strong>do</strong> trabalho, é <strong>de</strong>dicada à aplicação da Teoria<br />

<strong>do</strong> Valor Extr<strong>em</strong>o à estimação da proporção <strong>de</strong> pobres no <strong>Ceará</strong> no<br />

perío<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>.<br />

Conhecer a magnitu<strong>de</strong> da pobreza <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminada região é interesse<br />

<strong>de</strong> muitos economistas e governantes. Muitas tentativas <strong>de</strong> estimação da<br />

proporção <strong>de</strong> pobres já foram realizadas, contu<strong>do</strong>, muitas das quais se<br />

difer<strong>em</strong> substancialmente, seja por a<strong>do</strong>tar diferentes linhas <strong>de</strong> pobreza ou<br />

por se utilizar <strong>de</strong> diferentes meto<strong>do</strong>logias <strong>de</strong> estimação. Tais divergências<br />

2<br />

Ver Silverman (1998)<br />

65


Carlos Wagner Rios Pinto, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

pod<strong>em</strong> gerar um nível consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconfiança, por parte <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res<br />

ou mesmo <strong>do</strong>s governantes que, porventura, necessit<strong>em</strong> se utilizar<br />

<strong>de</strong>ssa informação, seja por não se saber ao certo qual é o verda<strong>de</strong>iro valor<br />

(ou que mais se aproxima) ou o que é mais importante, se as estimativas<br />

subestimam ou superestimam a proporção <strong>de</strong> pobres.<br />

Uma função <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> capaz <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lar o comportamento<br />

<strong>de</strong> uma população é <strong>de</strong>finida por to<strong>do</strong>s os possíveis valores<br />

da variável que a i<strong>de</strong>ntifica. Tais valores, <strong>em</strong> geral, pertenc<strong>em</strong> <strong>em</strong> sua<br />

maioria ao corpo da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>. Para uma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> Normal, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

o corpo se localiza no centro da distribuição, concentran<strong>do</strong> mais <strong>de</strong> 90%<br />

<strong>do</strong>s valores. As caudas concentram os valores mais raros <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> observa<strong>do</strong>s.<br />

No caso da distribuição <strong>de</strong> renda <strong>do</strong> Brasil, <strong>em</strong> particular <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>,<br />

espera-se observar uma curva assimétrica à direita, pois, trata-se <strong>de</strong> uma<br />

das unida<strong>de</strong>s com maior <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda da fe<strong>de</strong>ração, portanto,<br />

concentra-se, <strong>em</strong> maior parte, por valores baixos <strong>de</strong> renda.<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s já apresenta<strong>do</strong>s por outros autores, já<br />

menciona<strong>do</strong>s na introdução <strong>de</strong>ste trabalho, a estimação da proporção <strong>de</strong><br />

pobres <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada região é realizada utilizan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> uma função<br />

que mo<strong>de</strong>le a distribuição <strong>de</strong> renda, seja por consi<strong>de</strong>rar que essa variável<br />

segue um tipo <strong>de</strong> comportamento específico (uso ad hoc <strong>de</strong> certas<br />

distribuições), seja por realizar testes para escolha ótima da distribuição<br />

por méto<strong>do</strong>s estatísticos. A pergunta a ser realizada é: Será que os valores<br />

que compõ<strong>em</strong> a cauda da distribuição também têm o mesmo comportamento<br />

que os d<strong>em</strong>ais? Observe que a renda disponível por pobres, por<br />

mais assimétrica que seja a curva, pertence à cauda inferior da distribuição<br />

<strong>de</strong> renda.<br />

A Teoria <strong>do</strong>s Valores Extr<strong>em</strong>os foi aplicada neste trabalho por prover<br />

um sóli<strong>do</strong> fundamento teórico necessário para construção <strong>de</strong> uma mo<strong>de</strong>lag<strong>em</strong><br />

estatística das observações extr<strong>em</strong>as <strong>de</strong> renda, pois, consi<strong>de</strong>ra-se<br />

uma meto<strong>do</strong>logia mais apropriada pela sua importante característica <strong>de</strong><br />

concentrar-se no ajuste da distribuição apenas sobre os valores extr<strong>em</strong>os<br />

inferiores da variável aleatória, diminuin<strong>do</strong>, portanto, a influência <strong>do</strong>s d<strong>em</strong>ais<br />

valores .<br />

Ao se estimar a proporção <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos que contêm certa característica<br />

<strong>de</strong> uma população, constrói-se, a partir <strong>de</strong> uma amostra, um mo<strong>de</strong>lo<br />

que aproxime o seu real comportamento, utilizan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s<br />

66


A Proporção <strong>de</strong> Pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> Está Subestimada? Uma Aplicação da Teoria <strong>do</strong> Valor Extr<strong>em</strong>o<br />

assintóticos, <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los ad hoc específicos ou ainda por se utilizar <strong>de</strong><br />

testes paramétricos e não paramétricos para escolha ótima <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo. A<br />

partir daí, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>, calcula-se a área sob<br />

a qual concentra os el<strong>em</strong>entos que portam a característica <strong>de</strong> interesse.<br />

A população <strong>de</strong> que trata o presente trabalho é o rendimento familiar<br />

per-capita <strong>do</strong>s cearenses, mais especificamente <strong>do</strong> RFPC pelo qual se <strong>de</strong>finiu<br />

pobreza. Note que a variável que representa a renda <strong>de</strong>ve estar <strong>de</strong>finida<br />

nos Reais não negativos, pois, admite-se que não há renda menor que<br />

zero. Os cearenses pobres <strong>de</strong>têm um rendimento mensal baixo, espera-se,<br />

portanto, que os rendimentos <strong>de</strong>les pertençam aos valores iniciais da variável<br />

que os <strong>de</strong>screv<strong>em</strong>. O uso da TVE se <strong>de</strong>staca e leva vantag<strong>em</strong> na<br />

utilização das outras meto<strong>do</strong>logias, sobretu<strong>do</strong>, na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construir<br />

um mo<strong>de</strong>lo estatístico, <strong>de</strong> maneira teórica sólida, que aproxime o comportamento<br />

<strong>do</strong>s valores que compõ<strong>em</strong> as caudas da distribuição, ou seja, dar<br />

maiores pesos aos valores que <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> o RDPC <strong>do</strong>s cearenses pobres.<br />

Ao se mo<strong>de</strong>lar mínimos ou máximos <strong>de</strong> uma variável aleatória pela<br />

TVE, na realida<strong>de</strong>, estar se usan<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>s basea<strong>do</strong>s no fundamento <strong>do</strong><br />

Teor<strong>em</strong>a <strong>do</strong> Limite Central, isto é, consiste na convergência da distribuição<br />

assintótica <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> mínimos ou máximos padroniza<strong>do</strong>s.<br />

Há <strong>do</strong>is caminhos para se i<strong>de</strong>ntificar valores extr<strong>em</strong>os <strong>de</strong> uma variável<br />

aleatória: O primeiro consi<strong>de</strong>ra máximos ou mínimos da amostra<br />

toma<strong>do</strong>s <strong>em</strong> sucessivos perío<strong>do</strong>s como dias ou s<strong>em</strong>anas, ou <strong>em</strong> blocos,<br />

quan<strong>do</strong> se tratar <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s “undated”. O segun<strong>do</strong>, conheci<strong>do</strong> pelo méto<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> limite, é arbitrar um valor limite “u” no qual se consi<strong>de</strong>rará valor<br />

extr<strong>em</strong>o da amostra o valor da observação que ultrapassar tal limite. Aos<br />

valores da amostra que foram coleta<strong>do</strong>s seguin<strong>do</strong> quaisquer <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is caminhos,<br />

consi<strong>de</strong>rar-se-ão os valores extr<strong>em</strong>os <strong>de</strong>ssa variável.<br />

O méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> máximos <strong>em</strong> blocos é indica<strong>do</strong> principalmente <strong>em</strong><br />

casos on<strong>de</strong> há presença <strong>de</strong> sazonalida<strong>de</strong> na série. Como a variável a ser<br />

tratada correspon<strong>de</strong> aos valores <strong>de</strong> renda pelos quais ultrapassam certo<br />

limite (linha <strong>de</strong> pobreza), optou-se pela estimação da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> através da<br />

distribuição <strong>do</strong>s exce<strong>de</strong>ntes, realizada pelo méto<strong>do</strong> <strong>do</strong> limite.<br />

3.1 Distribuição <strong>do</strong>s Exce<strong>de</strong>ntes<br />

O méto<strong>do</strong> <strong>do</strong> limite, conheci<strong>do</strong> na literatura por POT (peak over<br />

threshold method), trata-se <strong>de</strong> um méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> estimação da distribuição<br />

67


Carlos Wagner Rios Pinto, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

<strong>de</strong> uma variável aleatória que consi<strong>de</strong>ra, na amostra, apenas os valores<br />

que ultrapass<strong>em</strong> um limite pré-<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>. Tal situação é ilustrada no<br />

gráfico 2 on<strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>ra uma função distribuição F (<strong>de</strong>sconhecida) <strong>de</strong><br />

uma variável aleatória X. Estamos interessa<strong>do</strong>s <strong>em</strong> estimar a distribuição<br />

F u <strong>do</strong>s valores <strong>de</strong> X que ultrapassam o limite pré-<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> u.<br />

68<br />

Gráfico 2 - Função distribuição F e função distribuição condicional F u<br />

A função distribuição F u é chamada <strong>de</strong> função distribuição excesso<br />

condicional e é <strong>de</strong>finida por:<br />

On<strong>de</strong> X é uma v.a., u é o limite pré-estabeleci<strong>do</strong>, Y= x−u é o excesso<br />

e x ≤ ∞ é o limite superior <strong>de</strong> F. Perceba que os valores da variável<br />

F<br />

aleatória X <strong>de</strong>v<strong>em</strong> pertencer, <strong>em</strong> sua maioria, ao intervalo (o;u], portanto<br />

não há gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s na estimação <strong>de</strong> F; Porém, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> valor<br />

<strong>de</strong> u, <strong>de</strong>ve-se esperar que poucas observações pertençam ao intervalo<br />

compl<strong>em</strong>entar [u; x ) , dificultan<strong>do</strong> a estimação <strong>de</strong> F .<br />

F u<br />

Pickands (1975), Balk<strong>em</strong>a e <strong>de</strong> Haan (1974) mostraram que para<br />

uma gran<strong>de</strong> classe <strong>de</strong> famílias <strong>de</strong> distribuição F a função distribuição<br />

excesso condicional F , para u gran<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> ser b<strong>em</strong> aproximada por:<br />

u<br />

Para


A Proporção <strong>de</strong> Pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> Está Subestimada? Uma Aplicação da Teoria <strong>do</strong> Valor Extr<strong>em</strong>o<br />

é então chamada <strong>de</strong> Distribuição Generalizada <strong>de</strong> Pareto (DGP). Proven<strong>do</strong>,<br />

portanto, à TVE um po<strong>de</strong>roso resulta<strong>do</strong> sobre a função distribuição<br />

excesso condicional.<br />

Se X é <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> x = u + y, a GPD também po<strong>de</strong> ser escrita<br />

como uma função <strong>de</strong> X, isto é, ,<br />

Gráfico 3 - Forma da Distribuição Generalizada <strong>de</strong> Pareto g ξ,σ para σ = 1<br />

O índice <strong>de</strong> cauda ξ dá uma indicação <strong>do</strong> peso da cauda; Para um ξ<br />

gran<strong>de</strong>, t<strong>em</strong>-se uma cauda pesada.<br />

4. RESULTADOS<br />

No trabalho ora apresenta<strong>do</strong> foi consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observação<br />

o rendimento <strong>do</strong>miciliar per capita (RDPC), <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como o<br />

quociente entre o rendimento <strong>do</strong>miciliar e o número <strong>de</strong> pessoas resi<strong>de</strong>ntes,<br />

e consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> apenas os <strong>do</strong>micílios particulares permanentes com<br />

<strong>de</strong>claração <strong>de</strong> rendimento. Note que a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda não cresce<br />

linearmente com o tamanho da família, e que i<strong>do</strong>sos, adultos e crianças<br />

precisam <strong>de</strong> volumes distintos <strong>de</strong> recursos pra viver [Barros, Carvalho,<br />

Franco e Men<strong>do</strong>nça (2007)]. Como não há informações sobre a importância<br />

<strong>do</strong>s ganhos <strong>de</strong> escala, e tampouco sobre as necessida<strong>de</strong>s específicas<br />

<strong>de</strong> cada faixa etária, tal como na vasta literatura sobre distribuição <strong>de</strong><br />

renda no Brasil, optou-se por essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda. Apesar <strong>de</strong> sua<br />

simplicida<strong>de</strong>, acredita-se que para que um indivíduo pertença a uma ou a<br />

outra classe social, <strong>de</strong>ve-se levar <strong>em</strong> conta to<strong>do</strong>s os familiares e também<br />

os agrega<strong>do</strong>s que moram no mesmo <strong>do</strong>micílio. A razão para tal <strong>de</strong>corre <strong>do</strong><br />

fato <strong>de</strong> o b<strong>em</strong>-estar <strong>de</strong> um indivíduo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r não apenas <strong>de</strong> seus próprios<br />

recursos, mas também (e talvez <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> medida) <strong>do</strong>s recursos da família<br />

a que ele pertence.<br />

69


Carlos Wagner Rios Pinto, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

Ressalta-se, entretanto, que para medir a taxa e a evolução da pobreza<br />

no <strong>Ceará</strong> com base nos da<strong>do</strong>s amostrais da distribuição da renda<br />

colhida pelas PNADs 2001, 2003, 2005 e 2007 (Anos a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s para medição),<br />

foi necessário se fixar um limite pelo qual se <strong>de</strong>finiu pobreza (linha<br />

<strong>de</strong> pobreza). Neste trabalho, a abordag<strong>em</strong> para <strong>de</strong>linear a pobreza seguiu<br />

a mesma meto<strong>do</strong>logia a<strong>do</strong>tada pelo IPEA, ou seja, serão consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s pobres<br />

os componentes das famílias que <strong>de</strong>tiveram rendimento médio <strong>de</strong> até<br />

R$ 190, 00, correspon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> à meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> salário mínimo, que <strong>em</strong> 2007<br />

correspondia <strong>em</strong> R$ 380,00, e consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s indigentes os componentes<br />

das famílias que <strong>de</strong>tiveram rendimento médio <strong>de</strong> até um quarto <strong>de</strong> salário<br />

mínimo, o qual correspon<strong>de</strong> a R$ 95, 00. No Brasil, o salário mínimo (ou<br />

mesmo seus múltiplos) também t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> recorrent<strong>em</strong>ente usa<strong>do</strong> como linha<br />

<strong>de</strong> pobreza (Pfefferman e Webb, 1983; Hoffman, 1984; Albuquerque,<br />

1993; Paes <strong>de</strong> Barros, Henriques e Men<strong>do</strong>nça, 2000).<br />

Sabe-se que exist<strong>em</strong> várias meto<strong>do</strong>logias a respeito da <strong>de</strong>finição para<br />

linha <strong>de</strong> pobreza. Sabe-se, inclusive, que ao se consi<strong>de</strong>rar uma outra <strong>de</strong>finição<br />

para pobres, por ex<strong>em</strong>plo, levan<strong>do</strong> <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração outro nível <strong>de</strong> renda<br />

ou até mesmo outra meto<strong>do</strong>logia que <strong>de</strong>fine através <strong>de</strong> outro fator que não a<br />

renda (número <strong>de</strong> calorias necessárias para sobrevivência (convertidas <strong>em</strong><br />

valores monetários, por ex<strong>em</strong>plo), po<strong>de</strong>r-se-iam obter resulta<strong>do</strong>s divergentes<br />

<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s no trabalho ora apresenta<strong>do</strong>. Mas o objetivo aqui não é<br />

o <strong>de</strong> discutir qual a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> pobreza a ser <strong>em</strong>pregada, muito menos se<br />

é correto <strong>de</strong>finir uma linha oficial <strong>de</strong> pobreza, mas tentar contribuir com<br />

resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> estimativas <strong>de</strong> taxas <strong>de</strong> pobreza b<strong>em</strong> como a evolução da distribuição<br />

<strong>de</strong> renda <strong>do</strong>s cearenses pobres, através <strong>de</strong> meto<strong>do</strong>logias até então<br />

não utilizadas, possibilitan<strong>do</strong>, inclusive, uma contribuição na formulação<br />

<strong>de</strong> políticas a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> combate á pobreza, pois, acredita-se num maior<br />

vigor teórico e a<strong>de</strong>quação da meto<strong>do</strong>logia aqui <strong>em</strong>pregada para extração<br />

<strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s compara<strong>do</strong>s aos outros trabalhos da literatura.<br />

Os da<strong>do</strong>s provêm da PNAD, que é realizada anualmente pelo <strong>Instituto</strong><br />

Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE) e constitui a principal fonte<br />

<strong>de</strong> informação sobre concentração <strong>de</strong> renda no país.<br />

O indica<strong>do</strong>r econômico analisa<strong>do</strong> (RDPC) foi obti<strong>do</strong> através <strong>de</strong> uma<br />

transformação a partir das variáveis:<br />

V5030 = Código da unida<strong>de</strong> da fe<strong>de</strong>ração (Anos <strong>de</strong> 2001, 2003, 2005 e 2007).<br />

V4722 = Valor <strong>do</strong> rendimento mensal familiar incluin<strong>do</strong> os agrega<strong>do</strong>s;<br />

V4724 = Número <strong>de</strong> componentes da família inclusive os agrega<strong>do</strong>s;<br />

70


A Proporção <strong>de</strong> Pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> Está Subestimada? Uma Aplicação da Teoria <strong>do</strong> Valor Extr<strong>em</strong>o<br />

Portanto a variável Rendimento familiar per-cápita <strong>do</strong>s pobres<br />

<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, <strong>de</strong>finida por Rendpobre, foi criada a partir <strong>do</strong>s seguintes<br />

procedimentos: Filtraram-se os valores da variável V4722 parea<strong>do</strong>s<br />

aos da variável V5030 que apresentavam valor 23 (código da UF<br />

correspon<strong>de</strong>nte ao <strong>Ceará</strong>); Isso retornou somente valores com respeito ao<br />

esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>;<br />

O próximo passo foi dividir os valores filtra<strong>do</strong>s da V4722 pela V4724,<br />

assim ter<strong>em</strong>os os valores <strong>do</strong>s rendimentos mensais médios familiares somente<br />

<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> <strong>em</strong> cada ano <strong>de</strong> interesse;<br />

Posteriormente foi realiza<strong>do</strong> um corte nesses da<strong>do</strong>s no senti<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar apenas os níveis <strong>de</strong> renda que pertençam à faixa <strong>de</strong><br />

zero à meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> um salário mínimo que, <strong>em</strong> 2007, esse intervalo<br />

correspondia a R$ 0.00 a R$190.00.(faixa a<strong>do</strong>tada pelo IPEA que <strong>de</strong>termina<br />

pobreza), e <strong>de</strong> zero a um quarto <strong>de</strong> salário mínimo, isto é, <strong>de</strong> R$ 0,00<br />

a R$ 95,00 (faixa que <strong>de</strong>termina a indigência) <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a meto<strong>do</strong>logia<br />

a<strong>do</strong>tada pelo IPEA.<br />

Finalmente, pra se comparar os rendimentos nos diferentes anos a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s<br />

neste trabalho, eles serão expressos <strong>em</strong> reais <strong>de</strong> Set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2007,<br />

mês <strong>de</strong> realização da PNAD, utilizan<strong>do</strong> o INPC como <strong>de</strong>flator. Portanto a<br />

variável Rendpobre <strong>de</strong>finida por rendimento <strong>do</strong>miciliar per-capita <strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> é dada pelo seguinte processo:<br />

4.1 Evolução da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>do</strong> rendimento familiar per cápita<br />

<strong>do</strong>s pobres referente aos anos <strong>de</strong> 2001, 2003, 2005 e 2007<br />

Gráfico 4 - Estimativas <strong>de</strong> Suavização por Núcleo das <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s <strong>do</strong><br />

rendimento médio familiar per capita <strong>do</strong>s pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> nos anos<br />

<strong>de</strong> 2001, 2003, 2005 e 2007<br />

71


Carlos Wagner Rios Pinto, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

O gráfico 4 refere-se às estimativas das <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s através <strong>de</strong> suavização<br />

por núcleo estocástico da renda <strong>do</strong>miciliar per-capita (consi<strong>de</strong>rouse<br />

apenas os rendimentos médios mensais estejam entre zero à meta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> um salário mínimo referente ao ano <strong>de</strong> 2007); O procedimento foi realiza<strong>do</strong><br />

com o uso <strong>do</strong> software E-Views 6.0 a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> como função peso<br />

a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> Normal padronizada. A largura <strong>do</strong>s “bumps” foi <strong>de</strong> R$ 7,50<br />

para o ano <strong>de</strong> 2001 e R$9,00 para os d<strong>em</strong>ais, <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s seguin<strong>do</strong> o<br />

procedimento <strong>de</strong>scrito na seção anterior.<br />

A respeito da estimativa da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> para o ano <strong>de</strong> 2001, apresentada<br />

no gráfico (A), infere-se o seguinte: Aparent<strong>em</strong>ente, a curva é uni<br />

modal e apresenta assimetria à direita. Sen<strong>do</strong> o corpo da distribuição composto<br />

por famílias que dispõ<strong>em</strong> <strong>de</strong> R$ 0,00 a um pouco mais <strong>de</strong> R$ 150,00<br />

médios mensais. Há uma discreta formação <strong>de</strong> um segun<strong>do</strong> grupo, <strong>do</strong> qual<br />

é composto pelas famílias cuja renda média mensal pertence ao intervalo<br />

<strong>de</strong> R$ 160,00 a R$ 190,00 aproximadamente. Ad<strong>em</strong>ais, há uma gran<strong>de</strong><br />

concentração <strong>de</strong> indivíduos no intervalo <strong>de</strong> renda <strong>de</strong> R$10,00 a um pouco<br />

menos <strong>de</strong> R$80, 00, revelan<strong>do</strong>, portanto, que <strong>em</strong> 2001 a gran<strong>de</strong> maioria<br />

<strong>do</strong>s cearenses pobres encontrava-se <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> indigência.<br />

Com relação à estimativa referente a 2003 (gráfico (B)), percebese,<br />

um achatamento (maior dispersão) e um consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong>slocamento à<br />

direita <strong>do</strong> cume <strong>do</strong> corpo da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> com relação à situação encontrada<br />

no ano <strong>de</strong> 2001. Note que, <strong>em</strong> 2001, o cume se localizava <strong>em</strong> torno <strong>do</strong>s<br />

R$ 40,00, e <strong>em</strong> 2003, esse se localiza próximo aos R$ 80,00. Encontra-se,<br />

também na estimativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> para os pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> <strong>em</strong> 2003, uma<br />

maior <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> nos valores que compreend<strong>em</strong> o intervalo <strong>de</strong> R$ 110,00 a<br />

R$ 200,00, com relação ao ano <strong>de</strong> 2001. Fatos que se levam a concluir que<br />

houve um aumento na renda per-capita <strong>do</strong>s pobres <strong>em</strong> 2003 com relação<br />

à 2001.<br />

O comportamento da curva da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> no ano <strong>de</strong> 2005 (gráfico<br />

(C)) se distribuiu mais uniform<strong>em</strong>ente que <strong>em</strong> 2003, pois, a assimetria à<br />

direita não se apresenta nesta situação. Isso mostra uma queda na <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> renda entre os pobres, isto é, a proporção cearense <strong>em</strong> situação<br />

<strong>de</strong> indigência (com rendimento <strong>do</strong>miciliar per-capita inferior à R$ 95,00)<br />

diminuiu, aumentan<strong>do</strong>, portanto, a proporção <strong>do</strong>s indivíduos que ganham<br />

acima <strong>de</strong> R$ 95,00 e abaixo <strong>de</strong> R$ 190,00. Conclui-se que, <strong>em</strong> média, o<br />

rendimento per-capita <strong>do</strong>s pobres <strong>em</strong> 2005 subiu com relação aos anos<br />

72


A Proporção <strong>de</strong> Pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> Está Subestimada? Uma Aplicação da Teoria <strong>do</strong> Valor Extr<strong>em</strong>o<br />

<strong>de</strong> 2001 e 2003. Barreto, et al (<strong>2009</strong>) mostrou que o rendimento médio da<br />

distribuição da renda <strong>do</strong>miciliar per capita no Brasil aumentou <strong>de</strong> 15,2%<br />

no segun<strong>do</strong> quinto da população brasileira mais pobre (Os que dispunham<br />

<strong>de</strong> RMPC <strong>de</strong> R$ 128,00 <strong>em</strong> 2001 e R$ 147,50 <strong>em</strong> 2005). Observou-se também<br />

um aumento <strong>de</strong> 26,6% no RDPC <strong>do</strong> quinto mais pobre <strong>do</strong> Brasil <strong>de</strong><br />

2005 <strong>em</strong> relação a 2001 e <strong>de</strong> 11,4% no terceiro quinto. Barreto, et al (2007)<br />

verificou, ainda, o número e a proporção <strong>de</strong> pobres (RPDC ) diminuíram<br />

<strong>de</strong> 2001 a 2004. Fatos que corroboram o <strong>de</strong>slocamento para direita da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

da renda <strong>do</strong>s pobres mesmo <strong>em</strong> se tratan<strong>do</strong> da distribuição <strong>de</strong> renda<br />

<strong>do</strong>s pobres apenas no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>.<br />

Note que, na estimativa para o ano <strong>de</strong> 2007 (gráfico (D)), há a presença<br />

<strong>de</strong> <strong>do</strong>is cumes (bimodalida<strong>de</strong>), sen<strong>do</strong> o primeiro forma<strong>do</strong> pelos indivíduos<br />

com menores rendimentos (RDPC ≤ R$100,00 aproximadamente). O<br />

segun<strong>do</strong> é forma<strong>do</strong> por indivíduos que se encontram acima da faixa que<br />

<strong>de</strong>termina a indigência (R$110,00 ≤ RDPC ≤ R$190,00). Ao se confrontar<br />

a estimativa <strong>de</strong> 2007 com a <strong>de</strong> 2005 percebe-se, um <strong>de</strong>slocamento à direita<br />

<strong>de</strong> toda a curva. Observa-se, inclusive, a assimetria à esquerda nesta<br />

estimativa.<br />

A forma da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> referente a 2007 se diferencia substancialmente<br />

com relação às <strong>do</strong>s outros anos consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s na análise. Os fatos<br />

constata<strong>do</strong>s sobre esta curva reforçam, por mais forte razão, o aumento<br />

na média <strong>do</strong> rendimento mensal das famílias cearenses pobres <strong>em</strong> 2007.<br />

Barreto, et al (<strong>2009</strong>) foi realizada uma análise da renda média familiar per<br />

capita <strong>do</strong>s pobres no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1995 a 2007 mostran<strong>do</strong> a evolução <strong>de</strong>sse<br />

indica<strong>do</strong>r econômico, ten<strong>do</strong> como base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s as PNADs referentes a<br />

cada ano pertencente ao perío<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>, portanto, a mesma amostra<br />

utilizada neste trabalho. Foi mostrada uma expressiva expansão da renda<br />

<strong>do</strong>s pobres no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2002 a 2006. Em 2007 essa situação continuou,<br />

representan<strong>do</strong>, ainda, uma ligeira melhora no âmbito nacional. Ad<strong>em</strong>ais,<br />

Soares, et al (2006) mostrou que os programas brasileiros <strong>de</strong> transferência<br />

direta <strong>de</strong> renda à população <strong>de</strong> baixa renda foram bastante importantes no<br />

aumento <strong>do</strong> rendimento familiar e na redução da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social no<br />

Brasil <strong>em</strong> 2004. Note que esses fatos corroboram com as <strong>de</strong>duções realizadas<br />

a cerca da evolução da renda <strong>do</strong>s pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> no perío<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>,<br />

ten<strong>do</strong> como ferramenta estimativa das <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa unida<strong>de</strong><br />

experimental através <strong>de</strong> suavização por núcleo estocástico.<br />

73


Carlos Wagner Rios Pinto, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

4.2 Estimação <strong>de</strong> taxas <strong>de</strong> pobreza <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

4.2.1 Méto<strong>do</strong> tradicional<br />

Define-se X a variável aleatória tal que:<br />

Consi<strong>de</strong>ra-se “sucesso” (x=1) o rendimento médio familiar mensal<br />

pertencente ao intervalo acima; Logo, o “fracasso”, é qualquer outro valor<br />

<strong>de</strong> rendimento. Portanto X assim <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> segue Bernoulli (p) e sua fdp é<br />

dada pela fórmula:<br />

{0;1} e p é a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sucesso.<br />

Define-se , a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sucessos <strong>em</strong> uma amostra <strong>de</strong><br />

tamanho “n”, ou seja, a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cearenses consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s pobres<br />

(pela meto<strong>do</strong>logia aplicada pelo IPEA, isto é, as que <strong>de</strong>têm rendimento<br />

médio mensal entre R$ 0,00 e R$ 190,00) pertencentes à amostra.<br />

Como a amostra é extraída <strong>de</strong> forma aleatória pela PNAD, isto<br />

é, x , x ,..., x é uma amostra aleatória in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, é possível mostrar que<br />

1 2 n<br />

Y segue Binomial (n; p) com E(Y)= np e Var(Y) = np (1 – p) ; On<strong>de</strong> n é o<br />

tamanho da amostra; A fdp <strong>de</strong> Y é dada pela fórmula:<br />

; On<strong>de</strong> n é o tamanho da amostra; A fdp<br />

<strong>de</strong> Y é dada pela Fórmula:<br />

; On<strong>de</strong> C é a combinação<br />

p;n<br />

<strong>de</strong> n el<strong>em</strong>entos toma<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ‘p a p’ maneiras.<br />

Define-se por a proporção amostral <strong>de</strong> pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>. Note<br />

ainda que:<br />

Correspon<strong>de</strong> à , a média amostral <strong>de</strong> pobres; Pelo<br />

Teor<strong>em</strong>a Central <strong>do</strong> Limite, para amostras <strong>de</strong> tamanho significativo,<br />

segue aproximadamente .<br />

Logo segue .<br />

74


A Proporção <strong>de</strong> Pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> Está Subestimada? Uma Aplicação da Teoria <strong>do</strong> Valor Extr<strong>em</strong>o<br />

Anos<br />

Tabela 1 - Quantida<strong>de</strong> e proporção <strong>de</strong> pobres no <strong>Ceará</strong><br />

(Méto<strong>do</strong> Tradicional)<br />

Casos<br />

Rendmédfam ] 0,00;190.00 [ Rendmédfam ] 0,00;190.00 [ To<strong>do</strong>s os casos<br />

N % N % N %<br />

2001 13.687 57,89 9.958 42,11 23.645 100,0<br />

2003 14.732 61,25 9.319 38,75 24.051 100,0<br />

2005 14.303 57,12 10.697 42,88 25.000 100,0<br />

2007 13.021 51,95 12.044 49,6 25.066 100,0<br />

Fonte: Elaboração própria com base nos da<strong>do</strong>s das PNADs 2001, 2003, 2005 e 2007.<br />

Tabela 2 - Quantida<strong>de</strong> e taxa <strong>de</strong> indigentes no <strong>Ceará</strong><br />

(Méto<strong>do</strong> Tradicional)<br />

Casos<br />

Anos<br />

Rendmédfam ] 0,00;95,00 [ Rendmédfam ] 0,00;95,00 [ To<strong>do</strong>s os casos<br />

N % N % N %<br />

2001 7.562 32,0 16.083 68,0 23.645 100,0<br />

2003 8.118 33,8 15.933 66,2 24.051 100,0<br />

2005 7.466 29,9 17.534 70,1 25.000 100,0<br />

2007 5.918 23,6 19.148 76,4 25.066 100,0<br />

Fonte: Elaboração própria com base nos da<strong>do</strong>s das PNADs 2001, 2003, 2005 e 2007.<br />

A tabela 1 apresenta, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a linha <strong>de</strong> pobreza a<strong>do</strong>tada por<br />

este trabalho, as estimativas das taxas <strong>de</strong> pobres, que são <strong>de</strong> 57,89% <strong>em</strong><br />

2001, crescen<strong>do</strong> 3,36 pontos percentuais <strong>em</strong> 2003 (61,25%), <strong>de</strong>crescen<strong>do</strong><br />

4,13 pontos percentuais <strong>em</strong> 2005 (57,12%), e manteve-se <strong>de</strong>crescente até<br />

atingir a proporção <strong>de</strong> 50,4% da população <strong>em</strong> 2007. Na tabela 2 apresentou-se<br />

a estimativa <strong>de</strong> indigentes, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se como tal, aquele indivíduo<br />

que t<strong>em</strong> rendimentos inferiores a um quarto <strong>de</strong> salário mínimo, que<br />

<strong>em</strong> 2007 representava R$ 95,00.<br />

Como visto nesta seção, trata-se <strong>de</strong> estimativas pontuais <strong>de</strong> P dadas<br />

pelos quocientes entre a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amostras que pertenc<strong>em</strong> à R$ 0,00<br />

a R$ 95,00 e a quantida<strong>de</strong> total <strong>de</strong> observações que <strong>em</strong> 2007, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

correspon<strong>de</strong> a , ou seja, estima-se, pelo méto<strong>do</strong> tradicional,<br />

que havia 23,6% <strong>de</strong> indigentes no <strong>Ceará</strong> no ano <strong>de</strong> 2007.<br />

75


Carlos Wagner Rios Pinto, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

4.2.2 Méto<strong>do</strong> TVE<br />

O procedimento <strong>de</strong> estimação <strong>de</strong>ste méto<strong>do</strong> juntamente com simulações<br />

pré-liminares, por ex<strong>em</strong>plo, da forma da cauda da curva (parâmetro<br />

“forma” da GPD), limite “u” utiliza<strong>do</strong>, entre outros foram realiza<strong>do</strong>s com<br />

o uso <strong>de</strong> funções pertencentes ao pacote EVIM <strong>do</strong> software MATLAB 6.5.<br />

A meto<strong>do</strong>logia utilizada neste artigo parte da idéia proposta inicialmente<br />

por Sen (1976) e Foster et al (1984), também impl<strong>em</strong>entada por <strong>de</strong><br />

Sala-i-Martin (2002a, 2002b), que calcula o número <strong>de</strong> pobres e a taxa <strong>de</strong><br />

pobreza a partir da integral da função <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> gerada<br />

pela distribuição <strong>de</strong> renda das unida<strong>de</strong>s observadas. Isto é feito para se<br />

obter a área sob a função <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> à esquerda da renda que <strong>de</strong>fine a linha<br />

<strong>de</strong> pobreza, ou seja, o valor da função <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> acumulada até o nível <strong>de</strong><br />

renda que <strong>de</strong>fine tal linha.<br />

(9)<br />

On<strong>de</strong>; p é a linha <strong>de</strong> pobreza, yj é a renda até p, f (yj) é a função <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> da renda, e α é o parâmetro que expressa aversão à<br />

pobreza. Para o calculo da estimativa da proporção <strong>de</strong> pobres atribuir-se-á<br />

α = 0 tal como realiza<strong>do</strong> por Sala-i-Martin (2002) e Quah (2003).<br />

Da expressão acima se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>rivar diversas medidas <strong>de</strong> pobreza,<br />

sen<strong>do</strong> as mais utilizadas: O índice <strong>de</strong> proporção <strong>de</strong> pobres (p 0 ), o hiato médio<br />

<strong>de</strong> pobreza (p 1 ) e o hiato quadrático <strong>de</strong> pobreza (p 2 ), para os valores <strong>de</strong><br />

alfa = 0, 1 e 2, respectivamente. No primeiro caso, alfa igual à zero, t<strong>em</strong>-se<br />

a medida <strong>de</strong> incidência da pobreza que é simplesmente o percentual <strong>de</strong> pobres<br />

numa <strong>de</strong>terminada economia. Quan<strong>do</strong> se faz alfa igual a um, t<strong>em</strong>-se a<br />

medida <strong>de</strong> insuficiência média <strong>de</strong> renda. Quanto maior esta medida, menor<br />

é a renda média <strong>do</strong>s pobres <strong>em</strong> relação à linha <strong>de</strong> pobreza. Para alfa igual<br />

a <strong>do</strong>is, t<strong>em</strong>-se a medida <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre os indivíduos que viv<strong>em</strong> na<br />

condição <strong>de</strong> pobreza.<br />

O hiato médio ou p 1 constitui um indica<strong>do</strong>r mais interessante que o p 0<br />

por diferenciar o muito pobre <strong>do</strong> pouco pobre. A vantag<strong>em</strong> <strong>do</strong> p 0 é obviamente<br />

a sua simplicida<strong>de</strong>. Por outro la<strong>do</strong>, p 1 nos dá diretamente o custo <strong>de</strong><br />

um programa mais eficiente <strong>de</strong> combate à pobreza que po<strong>de</strong> ser impl<strong>em</strong>enta<strong>do</strong>.<br />

A medida <strong>de</strong> pobreza p 1 confere maior peso aos mais pobres, mas o<br />

76


A Proporção <strong>de</strong> Pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> Está Subestimada? Uma Aplicação da Teoria <strong>do</strong> Valor Extr<strong>em</strong>o<br />

impacto <strong>de</strong> uma dada transferência <strong>de</strong> renda sobre o índice in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

nível <strong>de</strong> renda daqueles que receb<strong>em</strong> a transferência. A medida p 2 resolve<br />

este probl<strong>em</strong>a atribuin<strong>do</strong> maior peso aos mais pobres, pois, trata-se <strong>de</strong><br />

uma <strong>de</strong> <strong>de</strong>svios ao quadra<strong>do</strong> <strong>em</strong> torno da linha <strong>de</strong> pobreza. Resumin<strong>do</strong>, à<br />

medida que subimos <strong>de</strong> a p 2 , aumentam-se os pesos <strong>do</strong>s indivíduos mais<br />

pobres.<br />

4.2.2.1 Resulta<strong>do</strong>s via TVE e comparação Amostral versus Populacional<br />

Define-se a função excesso média amostral (MEF), por:<br />

On<strong>de</strong> u é o valor limite <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> no méto<strong>do</strong> peack over threshold<br />

(POT). A MEF correspon<strong>de</strong> ao quociente entre a soma <strong>do</strong>s <strong>de</strong>svios toma<strong>do</strong>s<br />

<strong>em</strong> relação a u, e o total <strong>de</strong> observações extr<strong>em</strong>as da amostra. A<br />

estatística e (u) retorna a estimativa da função excesso média para a par-<br />

n<br />

cela da população pertencente à uma <strong>de</strong> suas caudas. Se a MEF <strong>em</strong>pírica é<br />

uma linha reta positivamente inclinada, isso é uma indicação que os da<strong>do</strong>s<br />

segu<strong>em</strong> uma GPD com uma forma positiva <strong>do</strong> parâmetro shape.<br />

Gráfico 5 - MEF da PNAD 2007<br />

O gráfico 5 ilustra a MEF da PNAD 2007. Note que há, claramente,<br />

uma forte tendência positiva na estimativa da curva.<br />

Em estatística, um QQ-plot (quantil-quantil plot) é uma conveniente<br />

ferramenta visual para analisar se uma amostra provém <strong>de</strong> uma<br />

distribuição teórica específica. Especificamente, os quantis <strong>de</strong> uma distribuição<br />

<strong>em</strong>pírica são plota<strong>do</strong>s contra os quantis <strong>de</strong> uma distribuição<br />

hipotética. Se a amostra provém da distribuição hipotética, o QQ-plot<br />

77


Carlos Wagner Rios Pinto, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

é linear. Na teoria <strong>do</strong>s valores extr<strong>em</strong>os e aplicações, o QQ-plot é normalmente<br />

plota<strong>do</strong> contra a distribuição exponencial (isto é, uma distribuição<br />

com uma cauda <strong>de</strong> tamanho médio) para medir o peso da<br />

cauda da distribuição <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da amostra. Se os da<strong>do</strong>s são <strong>de</strong> uma<br />

distribuição exponencial, os pontos no gráfico se encontram ao longo<br />

<strong>de</strong> uma reta linha. Se existe uma presença <strong>de</strong> concavida<strong>de</strong>, isto<br />

po<strong>de</strong> indicar uma distribuição com cauda pesada, ou seja, o parâmetro<br />

shape ξ>0. Por outro la<strong>do</strong>, a presença <strong>de</strong> convexida<strong>de</strong> é uma indicação <strong>de</strong><br />

cauda leve na distribuição.<br />

Gráfico 6 - QQ-plot da PNAD 2007<br />

O gráfico 6 apresenta o QQ-plot da Pnad 2007contra uma distribuição<br />

exponencial. Repare que a presença <strong>de</strong> concavida<strong>de</strong> no QQ-plot é uma<br />

indicação <strong>de</strong> que essa distribuição possui cauda pesada.<br />

Deve-se, portanto, conduzir algumas tentativas no intuito <strong>de</strong> se encontrar<br />

uma estimativa para o parâmetro shape que torne o QQ-plot linear.<br />

78<br />

Gráfico 7 - QQ-plot ajusta<strong>do</strong> da PNAD 2007<br />

O gráfico 7 mostra o QQ-plot da curva GPD ajustada contra uma


A Proporção <strong>de</strong> Pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> Está Subestimada? Uma Aplicação da Teoria <strong>do</strong> Valor Extr<strong>em</strong>o<br />

GPD teórica <strong>de</strong> parâmetro shape igual a 0.4. Cabe notar que com essa<br />

configuração o gráfico QQ-plot torna-se linear.<br />

Gráfico 8 - Distribuição <strong>do</strong>s Exce<strong>de</strong>ntes da Pnad 2007<br />

O gráfico 8 <strong>de</strong>lineia a curva estimada da Distribuição <strong>do</strong>s Exce<strong>de</strong>ntes<br />

contra a curva teórica. Note que há um ajustamento bastante satisfatório,<br />

ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> vista as duas curvas quase que coincid<strong>em</strong>. Os parâmetros relativos<br />

à curva ajustada para Pnad 2007 são: e. Logo a<br />

GPD ajustada é:<br />

Há realmente um sério probl<strong>em</strong>a com relação às diferentes estimativas<br />

sobre a proporção <strong>de</strong> pobres, dada a elevada variabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

valores existentes. Em vista disto, procurou-se tomar como referencial<br />

o censo-2000, extrair daí uma taxa, e compara-la com aquelas advindas<br />

<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s amostrais <strong>do</strong> IPEADATA e estimada através <strong>do</strong> ajustamento da<br />

GPD via TVE, ambas baseadas nos da<strong>do</strong>s da PNAD-2001. Dos resulta<strong>do</strong>s<br />

advin<strong>do</strong>s <strong>de</strong>sses <strong>do</strong>is procedimentos amostrais, torna irrefutável <strong>em</strong> favor<br />

daquele que mais se aproxime <strong>do</strong>s valores censitários.<br />

Tabela 03 - Comparação da proporção <strong>de</strong> pobres (p0 )<br />

Esta<strong>do</strong> Censo (a) IPEA (b)<br />

Variação<br />

[(b/a) – 1] x 100<br />

Estimada (c)<br />

Variação<br />

[(c/a) – 1] x 100<br />

<strong>Ceará</strong> 38,86 49,32 + 26,92 40,12 3,24<br />

Fonte: Elaboração própria com base nos da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Censo e PNAD.<br />

De acor<strong>do</strong> com a tabela 3, po<strong>de</strong>-se observar que a taxa <strong>de</strong> pobreza<br />

calculada através <strong>do</strong> procedimento aqui a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> é a que mais se aproxi-<br />

79


Carlos Wagner Rios Pinto, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

ma, <strong>em</strong> termos relativos, daquela obtida com da<strong>do</strong>s censitários. Há forte<br />

indicação pelo resulta<strong>do</strong> que as taxas <strong>de</strong> pobreza obtidas através da TVE<br />

possam <strong>em</strong>butir erros <strong>de</strong> estimação menores <strong>do</strong> que as obtidas através <strong>de</strong><br />

outros méto<strong>do</strong>s. Em vista <strong>de</strong>ssa sustentação meto<strong>do</strong>lógica, a tabela 4 expõe<br />

estimativas das taxas <strong>de</strong> pobreza para os anos consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s na análise.<br />

Tabela 04 - Valores <strong>de</strong> p0 , p1 e p2 para a população cearense<br />

nos anos analisa<strong>do</strong>s<br />

80<br />

Anos p 0 p 1 p 2<br />

2001 0,5933 0,3634 0,2686<br />

2003 0,5939 0,3639 0,2690<br />

2005 0,6150 0,3786 0,2805<br />

2007 0,5631 0,3341 0,2428<br />

Fonte: Elaboração própria com base nas PNADs 2001, 2003, 2005 e 2007.<br />

Com base numa meto<strong>do</strong>logia porta<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> sóli<strong>do</strong> fundamento teórico<br />

necessário para construção <strong>de</strong> uma mo<strong>de</strong>lag<strong>em</strong> estatística das observações<br />

extr<strong>em</strong>as da renda <strong>do</strong>s cearenses, salienta-se, portanto, a gran<strong>de</strong> relevância<br />

<strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ste trabalho, pois, as estimativas <strong>de</strong> pobreza aqui reveladas,<br />

mostram-se bastante discrepantes das divulgadas <strong>em</strong> outras análises.<br />

Barreto, et al (2007) apresentou, <strong>de</strong>ntre outros resulta<strong>do</strong>s, as estimativas <strong>de</strong><br />

taxas <strong>de</strong> pobres e indigentes no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2002 a 2005.<br />

Em 2005, por ex<strong>em</strong>plo, estimou-se que 56,38% <strong>do</strong>s cearenses eram pobres.<br />

Com o uso da TVE essa estimativa, usan<strong>do</strong> a mesma base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, é <strong>de</strong><br />

61,5%, isto é, são 5.12 pontos percentuais a menos na estimativa usan<strong>do</strong> o<br />

méto<strong>do</strong> tradicional.<br />

Barreto, et al (<strong>2009</strong>) apresentou, <strong>de</strong>ntre muitos outros resulta<strong>do</strong>s,<br />

a proporção <strong>de</strong> pobres no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> <strong>em</strong> 2007. A amostra tratou-se<br />

da PNAD 2007 utilizan<strong>do</strong>-se da mesma meto<strong>do</strong>logia da seção 4.2.1 <strong>em</strong>pregada<br />

neste trabalho, portanto, resultan<strong>do</strong> <strong>em</strong> estimativas equivalentes<br />

às <strong>do</strong> trabalho ora apresenta<strong>do</strong>. São 51,95% da população cearense pobres<br />

<strong>em</strong> 2007. A estimativa da proporção <strong>de</strong> pobres resultante <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> TVE<br />

é 4.35 pontos percentuais mais alta <strong>do</strong> que pelo méto<strong>do</strong> tradicional. Isso<br />

mostra a subestimação <strong>de</strong>ssa e <strong>de</strong> outras taxas que se utilizam <strong>do</strong> méto<strong>do</strong><br />

tradicional, quan<strong>do</strong> não se leva <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração a real natureza populacional<br />

e, o que é mais importante, quan<strong>do</strong> essa taxa envolve valores extr<strong>em</strong>os<br />

da unida<strong>de</strong> experimental.


A Proporção <strong>de</strong> Pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> Está Subestimada? Uma Aplicação da Teoria <strong>do</strong> Valor Extr<strong>em</strong>o<br />

5. CONCLUSõES<br />

Existe uma extensa literatura a respeito <strong>de</strong> investigação sobre <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

da distribuição <strong>de</strong> renda nos esta<strong>do</strong>s brasileiros usan<strong>do</strong> critérios <strong>de</strong><br />

β -convergência e σ-convergência. Este trabalho traz uma contribuição no<br />

que diz respeito ao critério utiliza<strong>do</strong> para se estimar a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> e focan<strong>do</strong> o<br />

esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, que na opinião <strong>de</strong> muitos autores se trata <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s<br />

brasileiros mais pobres e com maior <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social.<br />

Preten<strong>de</strong>u-se, no trabalho ora apresenta<strong>do</strong>, evi<strong>de</strong>nciar características e,<br />

principalmente, inferir sobre a população <strong>do</strong>s consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s pobre no <strong>Ceará</strong><br />

durante os anos <strong>de</strong> 2001 a 2007 usan<strong>do</strong> uma técnica <strong>de</strong> inferência Estatística<br />

não paramétrica <strong>de</strong> suavização por Núcleo Estocástico. Apesar <strong>de</strong> muitos<br />

trabalhos que tratam <strong>de</strong> estimação <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquer que seja<br />

a variável aleatória usar<strong>em</strong> como ferramenta o Histograma, este trabalho<br />

mostrou, na seção 3.1, que esse estima<strong>do</strong>r não é eficiente. O uso da Suavização<br />

por Núcleo Estocástico para estimar a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>do</strong> rendimento médio<br />

mensal <strong>do</strong>s pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, além <strong>de</strong> ser comprovadamente mais eficiente,<br />

possibilitou vislumbrar a evolução <strong>do</strong> comportamento <strong>de</strong>ssa variável e, portanto,<br />

inferir <strong>em</strong> alguns aspectos: Há um constante movimento na curva da<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda <strong>do</strong>s pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, ano a ano. Vislumbraram-se formações<br />

<strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> famílias pobres <strong>em</strong> seus respectivos rendimentos, isto<br />

é, a partir <strong>de</strong>sse trabalho será possível programar políticas governamentais<br />

apropriadas a cada grupo <strong>de</strong> famílias pobres. Ad<strong>em</strong>ais, concluiu-se que, <strong>em</strong><br />

média, as famílias pobres estão dispon<strong>do</strong> <strong>de</strong> mais recursos a cada ano.<br />

Com respeito à estimação da proporção <strong>de</strong> pobres no <strong>Ceará</strong>, notou-se<br />

uma disparida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>em</strong> relação às estimativas encontradas na literatura<br />

e através das duas técnicas utilizadas neste trabalho. A estimativa da proporção<br />

<strong>de</strong> pobres apresentada se utilizan<strong>do</strong> <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> tradicional (seção 4.3.1)<br />

é inferior á apresentada pela aplicação da teoria <strong>do</strong> valor extr<strong>em</strong>o. Trata-se<br />

<strong>de</strong> uma diferença <strong>de</strong> 4,35 pontos percentuais <strong>em</strong> 2007, por ex<strong>em</strong>plo, que <strong>em</strong><br />

se tratan<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma população superior aos sete milhões <strong>de</strong> habitantes, isso<br />

se torna bastante significativo. Portanto mostrou-se uma subestimação na<br />

proporção <strong>de</strong> pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>. Deve-se l<strong>em</strong>brar que a estimação via TVE<br />

dá um peso bastante maior às observações extr<strong>em</strong>as (observações da cauda<br />

inferior da distribuição), portanto, tal estimativa <strong>de</strong>ve representar melhor a<br />

verda<strong>de</strong>ira proporção <strong>de</strong> habitantes pobres no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>.<br />

Consi<strong>de</strong>ra-se que a principal contribuição <strong>de</strong>sse trabalho foi à aplicação<br />

da TVE na estimação da proporção <strong>de</strong> pobres e indigentes, até então<br />

81


Carlos Wagner Rios Pinto, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

<strong>de</strong>sconhecida existir na literatura. Vale salientar que, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da linha<br />

<strong>de</strong> pobreza que se atribua, essa é facilmente aplicada à TVE, bastan<strong>do</strong>, para<br />

tanto, re<strong>de</strong>finir os limites <strong>de</strong> integração.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

ARRAES, R. A. convergência e crescimento Econômico <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste, Revista<br />

Econômica <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste, Banco <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste. V. 28, n. Especial, p. 31<br />

– 40, 1997.<br />

__________. Há superestimações das taxas <strong>de</strong> Pobreza nas regiões <strong>do</strong><br />

brasil? Revista Econômica <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste, Banco <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste. V. 39, n. Especial,<br />

p. 31 – 40, 2008.<br />

BARRETO, Flávio Ataliba; MANSO, Carlos Alberto; SIQUEIRA, Marcelo<br />

Lettieri; TEOPHILO, Beatriz; PARANGUÁ, Marcelo. Uma breve análise<br />

da evolução <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> pobreza e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> no ceará: Perío<strong>do</strong><br />

2002 a 2005. Laboratório <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s da Pobreza CAEN-UFC, 2007.<br />

BARRETO, Flávio Ataliba; MANSO, Carlos Alberto; MATOS, Paulo Faustino;<br />

COSTA, Pedro Andra<strong>de</strong> da. o Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> ceará <strong>de</strong> tasso Jeireissati a<br />

cid gomes: Perío<strong>do</strong> 2002 a 2005. Laboratório <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s da Pobreza CAEN-<br />

UFC, Relatório <strong>de</strong> Pesquisa nº 3, <strong>2009</strong>.<br />

BARROS, R.P.; HENRIQUES, R.; MENDONÇA, R. A estabilida<strong>de</strong> inaceitável:<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e pobreza no brasil. In: HENRIQUES, R.(org.). Desigualda<strong>de</strong><br />

e Pobreza no brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: IPEA, 2000.<br />

BARROS, R. P.; CARVALHO, M.; FRANCO, S.; MEDONÇA, R. A Queda<br />

Recente da Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: IPEA, jan.<br />

2007. (Texto para Discussão, 1258).<br />

BARROS, R. P.; FRANCO, S.; MEDONÇA, R. A Recente Queda da Desigualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Renda e o Acelera<strong>do</strong> Progresso Educacional Brasileiro<br />

da Última Década. Rio <strong>de</strong> Janeiro: IPEA, set. 2007. (Texto para Discussão,<br />

1304).<br />

BARROS R.P. <strong>de</strong>, MENDONÇA, R.S.P. <strong>de</strong>, ROCHA, S. Welfare, inequality<br />

poverty, social indicators and social programs in Brazil in the 1980s. mimeo,<br />

1993.<br />

BARROS, R.P; CARVALHO, Mirela <strong>de</strong>.; FRANCO, Samuel. E MENDONÇA,<br />

Rosane. Uam análise das principais causas da queda recente na <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

renda brasileira. Revista Econômica, Junho <strong>de</strong> 2006.<br />

BLACKWELL,D. Estatística básica. São Paulo: Editora McGraaw-Hill <strong>do</strong><br />

Brasil Ltda., 1973.<br />

82


A Proporção <strong>de</strong> Pobres <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> Está Subestimada? Uma Aplicação da Teoria <strong>do</strong> Valor Extr<strong>em</strong>o<br />

CASTILLO, E. and HADI, A. (1997). Fitting the Generalizaed Pareto Distribution<br />

to Data. Journal of the American Statitical Association, 92(440):<br />

1609-1620.<br />

COLES, S. An introduction to statistical mo<strong>de</strong>ling of Extr<strong>em</strong>e Values.<br />

Springer. 2001.<br />

FERNANDES, R.; MENEZES-FILHO, N. A Evolução da Desigualda<strong>de</strong> no<br />

Brasil Metropolitano entre 1983 e 1997. Estu<strong>do</strong>s Econômicos, São Paulo,<br />

v.30, n.4, p.549-569, out-<strong>de</strong>z., 2000<br />

FERREIRA, F. H. G.; LEITE, P. G.; LITCHFIELD, J.; ULYSSEA, G. A. Ascensão<br />

e Queda da Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda no brasil. Econômica, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, v.8, n.1, p.147-169, jun., 2006.<br />

GILLI, Manfred; KELLEZI, Evis. An Aplication of Extr<strong>em</strong>e Value Theory<br />

for measuring Financial risk. Computacional Economics 27(1), 2006, 1-23.<br />

GRIMSHAW, S. (1993). Computing the Maximum Likelihood Estimates for<br />

the Generalized Pareto Distribution to Data. Technometrics, 35(2): 185-191.<br />

HOFFMANN, Ro<strong>do</strong>lfo. consi<strong>de</strong>rações sobre a evolução recente da distribuição<br />

da renda no brasil. Revista <strong>de</strong> Administração <strong>de</strong> Empresas, 13 (4):<br />

7-17, out/<strong>de</strong>z <strong>de</strong> 1973.<br />

HOFFMANN, Ro<strong>do</strong>lfo. Elasticida<strong>de</strong> e pobreza <strong>em</strong> relação à renda média e<br />

à <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> no brasil e nas unida<strong>de</strong>s da fe<strong>de</strong>ração. Revista Econômica,<br />

Julho <strong>de</strong> 2005.<br />

HOFFMANN, Ro<strong>do</strong>lfo. transferências <strong>de</strong> renda e a redução da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

no brasil.<br />

Revista Econômica, Junho <strong>de</strong> 2006.<br />

HOFFMANN, R. transferências <strong>de</strong> renda e a redução da Desigualda<strong>de</strong><br />

no Brasil e cinco Regiões entre 1997 e 2004. Econômica, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.8,<br />

n.1, p.55-81, jun., 2006.<br />

HOGG, ROBERT V. e CRAIG, ALLEN T. CRAIG. Introduction to Math<strong>em</strong>atical<br />

statistics. 5 ed. Pratice Hall, Upper Saddle River, New Jersey, 1995.<br />

SILVERMAN, B. W. Density Estimation for Statistics and Data Analysis. 1<br />

ed., New York, Wasshington D.C: Chapman & Hall / CRC, 1998.<br />

SOARES, Sergei; MEDEIROS, Marcelo; OSÓRIO, Rafael G. Programas <strong>de</strong><br />

transferência <strong>de</strong> renda no brasil: impactos sobre a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>.[td] <strong>Instituto</strong><br />

<strong>de</strong> Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA - Dominio Publico, 2006.<br />

83


Fabrízio Gomes Santos, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

RESUMO<br />

84<br />

AJUSTE FISCAL<br />

E SUSTENTABILIDADE DA DÍVIDA<br />

DO ESTADO DO CEARÁ<br />

Fabrízio Gomes Santos*<br />

Ronal<strong>do</strong> A. Arraes**<br />

A contribuição <strong>do</strong> trabalho versa sobre os impactos <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong><br />

Ajuste Fiscal (PAF) na dinâmica da gestão das finanças <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>,<br />

d<strong>em</strong>onstran<strong>do</strong> <strong>de</strong> que forma a busca por uma dívida pública sustentável<br />

resulta <strong>em</strong> um esta<strong>do</strong> estacionário <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> fiscal. Inicialmente<br />

conduz-se uma análise geral <strong>do</strong>s principais conceitos <strong>de</strong> finanças públicas,<br />

ten<strong>do</strong> como base os conceitos estabeleci<strong>do</strong>s pela Secretaria <strong>do</strong> Tesouro Nacional,<br />

para <strong>de</strong>finir um arcabouço teórico para introdução da realida<strong>de</strong> fiscal<br />

<strong>do</strong> esta<strong>do</strong>. É feito um histórico <strong>do</strong> ajuste fiscal e da crise da dívida <strong>do</strong>s<br />

entes estaduais, visan<strong>do</strong> contextualizar o probl<strong>em</strong>a. Ao investigar se a relação<br />

Resulta<strong>do</strong> Primário versus Receita Líquida Real segue uma tendência<br />

estacionária ou não, o estu<strong>do</strong> <strong>de</strong>fine limites para déficits primários que não<br />

afetariam a sustentabilida<strong>de</strong> da dívida. Por meio <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo econométrico<br />

que busca <strong>de</strong>finir se existe tendência nas variáveis analisadas, no perío<strong>do</strong><br />

2002.1 a 2008.12, testan<strong>do</strong> se existe raiz unitária na série, encontra-se<br />

o limiar que <strong>de</strong>fine a sustentabilida<strong>de</strong> da dívida pública no longo prazo.<br />

A partir daí se estabelece a existência <strong>de</strong> <strong>do</strong>is regimes, on<strong>de</strong> no primeiro<br />

regime existe sustentabilida<strong>de</strong> da dívida no longo prazo, enquanto que no<br />

regime <strong>do</strong>is, a partir <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> déficit primário, passa a existir a preocupação<br />

<strong>do</strong> governo com esta sustentabilida<strong>de</strong>. Por fim, são d<strong>em</strong>onstra<strong>do</strong>s<br />

os resulta<strong>do</strong>s da gestão fiscal <strong>em</strong> 2008, mostran<strong>do</strong> na prática a evolução<br />

<strong>do</strong>s principais indica<strong>do</strong>res econômicos.<br />

Palavras-Chave: Gestão Fiscal, Dívida Pública, Quebra Estrutural.<br />

....................................................<br />

* Secretaria da Fazenda <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (SEFAZ).<br />

** Centro <strong>de</strong> Aperfeiçamento <strong>de</strong> Economistas <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste (CAEN/UFC).


AbstrAct<br />

Ajuste Fiscal e Sustentabilida<strong>de</strong> da Dívida <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

The contribution of the work is about the impacts of the Program of<br />

Fiscal Adjustment (PAF) in the dynamic manag<strong>em</strong>ent of finances of the<br />

State of <strong>Ceará</strong>, d<strong>em</strong>onstrating how the search for a sustainable <strong>de</strong>bt results<br />

in a steady state of fiscal stability. Initially it is conducted an overview<br />

analysis of the key concepts of public finances, based on the concepts established<br />

by the National Treasury Secretariat, to establish a theoretical introduction<br />

to the state’s fiscal reality. It ma<strong>de</strong> a history of fiscal adjustment<br />

and the <strong>de</strong>bt crisis of the state entities, to contextualize the probl<strong>em</strong>. To<br />

investigate whether the primary outcome versus Real Net follows a trend<br />

stationary or not, the study establishes limits on primary <strong>de</strong>ficits that <strong>do</strong><br />

not affect <strong>de</strong>bt sustainability. Through an econometric mo<strong>de</strong>l that aims at<br />

<strong>de</strong>fining whether there is trend variables in the period 2002.1 to 2008.12,<br />

testing whether there is unit root in the series, is the threshold that <strong>de</strong>fines<br />

the sustainability of public <strong>de</strong>bt in the long term. Since then it establishes<br />

the existence of two regimes, where the first sch<strong>em</strong>e is <strong>de</strong>bt sustainability<br />

in the long term, while in regime two, from a primary <strong>de</strong>ficit, there is the<br />

government’s concern with the sustainability. Finally, it is ma<strong>de</strong> a short<br />

analysis from the results of fiscal manag<strong>em</strong>ent performance in 2008, showing<br />

in practice the <strong>de</strong>velopment of key economic indicators.<br />

Keywords: Fiscal Manag<strong>em</strong>ent, Public Debt, Structural Breaks.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

A economia brasileira muitas vezes esteve inserida <strong>em</strong> um contexto<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sequilíbrio fiscal. Utilizan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> diversas formas <strong>de</strong> financiamento,<br />

o governo d<strong>em</strong>onstrou <strong>de</strong>scontrole no que diz respeito aos seus gastos,<br />

propician<strong>do</strong> séries históricas <strong>de</strong> déficits públicos, acarretan<strong>do</strong> <strong>em</strong> inevitáveis<br />

crises <strong>de</strong> endividamento.<br />

Com a evolução da teoria sobre finanças públicas, <strong>de</strong> ter<strong>em</strong> si<strong>do</strong><br />

exauridas as fontes <strong>de</strong> financiamento, <strong>do</strong> agravamento da vulnerabilida<strong>de</strong><br />

externa da economia o governo se viu obriga<strong>do</strong> a ajustar suas contas,<br />

visan<strong>do</strong> à busca pelo equilíbrio das variáveis macroeconômicas. Devi<strong>do</strong><br />

à relevância que o Esta<strong>do</strong> passou a ter na economia, não é mais viável,<br />

economicamente, um Esta<strong>do</strong> que não trate com rigor a sua gestão fiscal.<br />

85


Fabrízio Gomes Santos, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

Com isso, o Brasil inicia um processo <strong>de</strong> ajuste fiscal que cont<strong>em</strong>pla<br />

to<strong>do</strong>s os entes fe<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s. O esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, <strong>em</strong> 1997, tal como 25 <strong>do</strong>s 27<br />

esta<strong>do</strong>s da fe<strong>de</strong>ração, assume com a União o compromisso <strong>de</strong> estabelecer<br />

metas <strong>de</strong> ajuste fiscal, com o intuito <strong>de</strong> sanar seus <strong>de</strong>sequilíbrios financeiros<br />

e com isso manter a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua dívida assumida pela<br />

União.<br />

O Programa <strong>de</strong> Ajuste Fiscal (PAF) se inseriu num contexto <strong>de</strong> impl<strong>em</strong>entação<br />

<strong>de</strong> um novo plano econômico, o Plano Real. Sen<strong>do</strong> <strong>de</strong> fundamental<br />

importância para o ajuste fiscal da União, propiciou ao governo<br />

fe<strong>de</strong>ral mais um mecanismo <strong>de</strong> controle <strong>do</strong> endividamento estadual.<br />

O programa, que t<strong>em</strong> seis metas a ser<strong>em</strong> cumpridas pelos esta<strong>do</strong>s, t<strong>em</strong><br />

o intuito <strong>de</strong> manter a sustentabilida<strong>de</strong> das dívidas estaduais, através <strong>de</strong><br />

exigências quanto ao superávit primário, limites <strong>de</strong> gastos com pessoal,<br />

investimentos e metas <strong>de</strong> arrecadação.<br />

Desta forma, o estu<strong>do</strong> visa mostrar os impactos <strong>do</strong> programa nos<br />

principais indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> gestão <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, <strong>em</strong> uma série mensal<br />

compreendida no perío<strong>do</strong> 2002 – 2008. Utilizan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> instrumentos<br />

estatísticos e econométricos, testam-se as relações entre as variáveis e sua<br />

significância para a estabilida<strong>de</strong> t<strong>em</strong>poral com o fito <strong>de</strong> diagnosticar os<br />

resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s nessa trajetória e possíveis ajustes na gestão fiscal.<br />

Existe na literatura uma gran<strong>de</strong> preocupação com séries econômicas<br />

que apresentam tendências, que apesar <strong>de</strong> apresentar<strong>em</strong> valores estatísticos<br />

significativos, pod<strong>em</strong> <strong>em</strong>butir resulta<strong>do</strong>s dúbios ou inócuos <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à<br />

falta <strong>de</strong> rigor na inspeção <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> das séries <strong>em</strong> análises que visam<br />

o longo prazo. Por outro la<strong>do</strong>, há na literatura muitos estu<strong>do</strong>s importantes<br />

recentes, sobre os quais o presente se baseia, que se centram na resposta<br />

<strong>do</strong> governo à acumulação da dívida, tais como os <strong>de</strong> Luporini (2000 e<br />

2001), Issler e Lima (2000) e Lima e Simonassi (2005), os quais avaliam<br />

o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho fiscal brasileiro sobre <strong>do</strong>is pontos: se a dívida fiscal é sustentável<br />

e se exist<strong>em</strong> políticas fiscais que prim<strong>em</strong> pela austerida<strong>de</strong> fiscal,<br />

principalmente nos momentos <strong>em</strong> que a relação dívida/PIB atinge níveis<br />

inaceitáveis.<br />

O artigo se divi<strong>de</strong> <strong>em</strong> quatro seções além <strong>de</strong>sta introdução. A segunda<br />

seção aborda a literatura pertinente ao t<strong>em</strong>a central <strong>do</strong> artigo, segui<strong>do</strong><br />

pela estrutura meto<strong>do</strong>lógica, on<strong>de</strong> se especifica o mo<strong>de</strong>lo econométrico<br />

86


Ajuste Fiscal e Sustentabilida<strong>de</strong> da Dívida <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

que se servirá <strong>de</strong> base para testar as hipóteses levantadas. A quarta seção<br />

é <strong>de</strong>dicada à análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s, os quais fornecerão os el<strong>em</strong>entos para<br />

os comentários finais e conclusões.<br />

2. LITERATURA<br />

A solvência fiscal t<strong>em</strong> como principal <strong>de</strong>terminante, a dinâmica da<br />

dívida pública. Apesar <strong>de</strong> não ser possível <strong>de</strong>terminar o nível <strong>de</strong> endividamento<br />

ótimo <strong>de</strong> um esta<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>finir claramente a composição e<br />

<strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong>sta dinâmica. Da<strong>do</strong> um estoque inicial, será exposto que<br />

a sustentabilida<strong>de</strong> da dívida pública é função, principalmente, <strong>do</strong> superávit<br />

primário.<br />

Basicamente, três questões <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> o estu<strong>do</strong> da sustentabilida<strong>de</strong> da<br />

dívida pública, que seriam, ceteris paribus, da<strong>do</strong>s um estoque e a composição<br />

inicial, qual é o superávit primário mínimo para assegurar a sustentabilida<strong>de</strong>;<br />

o superávit primário requeri<strong>do</strong> é compatível com as condições<br />

objetivas para gestão da política fiscal, notadamente no que diz respeito<br />

à estrutura das receitas e <strong>de</strong>spesas públicas e ao arcabouço institucional<br />

para <strong>de</strong>finição e execução da política fiscal; e o estoque inicial da dívida<br />

reflete a<strong>de</strong>quadamente as obrigações efetivas <strong>do</strong> setor público ou exist<strong>em</strong><br />

passivos contingentes e dívidas não registradas que po<strong>de</strong>rão alterar a trajetória<br />

<strong>de</strong> endividamento associada ao estoque <strong>de</strong> dívida conheci<strong>do</strong>.<br />

No que diz respeito ao superávit necessário para manter estável o endividamento<br />

público, t<strong>em</strong>os na <strong>do</strong>utrina sobre finanças públicas (GIAM-<br />

BIAGI; ALÉM, 2001), a seguinte fórmula:<br />

Assumin<strong>do</strong>, ceteris paribus, que a taxa <strong>de</strong> juros real da dívida financeira<br />

<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> seria a acordada no PAF, teria-se uma taxa <strong>de</strong> juros<br />

(i) = 6% a.a., o crescimento real <strong>do</strong> PIB <strong>de</strong> 2008 <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (g) <strong>de</strong> 6,5% e a<br />

relação dívida financeira/PIB (d) = 7,75%. Desconsi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> (s), que seria<br />

o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> senhoriag<strong>em</strong> <strong>do</strong> ente público, ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> vista que os esta<strong>do</strong>s não<br />

têm competência para <strong>em</strong>itir moeda, encontraría-se o resulta<strong>do</strong> primário<br />

necessário para manter a sustentabilida<strong>de</strong> da dívida (p), o qual resulta <strong>em</strong>:<br />

(1)<br />

87


Fabrízio Gomes Santos, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

Percebe-se que o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> po<strong>de</strong>ria ter um déficit primário no<br />

valor <strong>de</strong> 0,04% <strong>do</strong> PIB, o que correspon<strong>de</strong> a aproximadamente R$ 20,72<br />

milhões, que manteria sustentável sua dívida financeira.<br />

Isso acontece porque o esta<strong>do</strong> gerou recursos suficientes para honrar<br />

seus compromissos financeiros nos anos anteriores. Acontece que o Esta<strong>do</strong><br />

se encontra numa situação <strong>de</strong>licada, pois precisa gastar os recursos<br />

s<strong>em</strong> comprometer as metas <strong>de</strong> superávit primário estabelecidas pela STN.<br />

A Secretaria da Fazenda <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> está negocian<strong>do</strong>, com<br />

a Secretaria <strong>do</strong> Tesouro Nacional, mecanismos que permitam que o Esta<strong>do</strong><br />

possa gastar seus recursos s<strong>em</strong> que isto interfira no seu resulta<strong>do</strong><br />

primário. Há, por parte da União, certa relutância <strong>em</strong> reduzir as metas ou<br />

permitir que o esta<strong>do</strong> possa ter déficit primário nos próximos anos, pois<br />

isto comprometeria o Resulta<strong>do</strong> da União.<br />

As variáveis que envolv<strong>em</strong> serviço da dívida (SD) e resulta<strong>do</strong> primário<br />

(RP) estão intrinsecamente ligadas. Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> aborda<strong>do</strong><br />

neste trabalho, 2002.1-2008.12, po<strong>de</strong>-se extrair a correlação para comprovar<br />

o grau <strong>de</strong> associação entre essas variáveis, a qual po<strong>de</strong> ser obtida através<br />

da estimação da seguinte equação econométrica:<br />

. As estimativas1 resultaram <strong>em</strong> significante a menos <strong>de</strong> 1% e, conforme<br />

o espera<strong>do</strong>, negativo, indican<strong>do</strong> que quan<strong>do</strong> há uma redução no resulta<strong>do</strong><br />

primário aumenta-se o serviço da dívida. A correlação mostrou-se estatisticamente<br />

significante, com magnitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> – 0,49.<br />

Para análises sobre a sustentabilida<strong>de</strong> da política fiscal o referencial<br />

teórico normalmente utiliza<strong>do</strong> é o que diz respeito à restrição orçamentária<br />

<strong>do</strong> governo, conforme equação (4). Essa restrição é simplesmente uma<br />

condição <strong>de</strong> equilíbrio para os gastos <strong>do</strong> governo com bens e serviços e<br />

pagamentos <strong>de</strong> juros financia<strong>do</strong>s com a arrecadação <strong>de</strong> impostos ou através<br />

<strong>de</strong> <strong>em</strong>issão <strong>de</strong> dívida.<br />

(2)<br />

Na literatura da política fiscal é testa<strong>do</strong> se o déficit orçamentário<br />

segue um processo estocástico estacionário (HAMILTON e FLAVIN,<br />

1986). A estimação da equação (4) a seguir constata que a sustentabilida<strong>de</strong><br />

da dívida está relacionada à existência <strong>de</strong> cointegração entre as variáveis<br />

gastos, receita e dívida (BOHN, 1998).<br />

(3)<br />

1 Ver apêndice B.<br />

88


Ajuste Fiscal e Sustentabilida<strong>de</strong> da Dívida <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

on<strong>de</strong>, no instante “t”, B t é a dívida pública, Gt representa os gastos com<br />

bens e serviços, T t é a arrecadação tributária e r t a taxa <strong>de</strong> juros.<br />

Em uma nova abordag<strong>em</strong> com um novo teste <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>,<br />

que in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da taxa <strong>de</strong> juros, a restrição orçamentária <strong>do</strong> governo para<br />

ser satisfeita é suficiente que o superávit primário aumente quan<strong>do</strong> a razão<br />

dívida/PIB se eleva. Ou seja, se o superávit primário reage positivamente<br />

a aumentos na razão dívida/PIB a restrição orçamentária intert<strong>em</strong>poral<br />

<strong>do</strong> governo é atendida, implican<strong>do</strong> <strong>em</strong> dívida sustentável (BOHN, 1998).<br />

Neste contexto surge o conceito <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> da dívida,<br />

que implica na impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se usar um esqu<strong>em</strong>a Ponzi, 2 on<strong>de</strong> o<br />

governo obtém <strong>em</strong>préstimos, como uma opção <strong>de</strong> financiamento das contas<br />

públicas. A classificação da dívida <strong>em</strong> sustentável ou não, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá<br />

<strong>do</strong> atendimento à Restrição Orçamentária Intert<strong>em</strong>poral <strong>do</strong> governo, <strong>de</strong><br />

forma que esta dívida será consi<strong>de</strong>rada sustentável se o estoque da dívida<br />

<strong>em</strong> uma <strong>de</strong>terminada data for compensa<strong>do</strong> pelo valor espera<strong>do</strong> <strong>de</strong>sconta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s superávits futuros <strong>em</strong> valor presente.<br />

3. MODELO ECONOMéTRICO<br />

A mo<strong>de</strong>lag<strong>em</strong> que será utilizada segue a proposta <strong>de</strong> Lima e Simonassi<br />

(2005) que utilizaram o seguinte mo<strong>de</strong>lo autoregressivo com valor limite<br />

(Threshold Autoregressive Mo<strong>de</strong>l) introduzi<strong>do</strong> por Caner e Hansen (2001):<br />

com t = 1,...T e on<strong>de</strong> x t-1 = (y t-1 , r t ' ,∆ y t-1 ,.. .., ∆ y t-k )', I(.) é uma função<br />

indica<strong>do</strong>r com , ε t é um erro<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e i<strong>de</strong>nticamente distribuí<strong>do</strong> (i.i.d), Z t = y t – y t - m para<br />

m > 1 , r t é um vetor <strong>de</strong> componentes <strong>de</strong>terminísticos incluin<strong>do</strong> a<br />

constante e possivelmente uma tendência linear e λ é o parâmetro que<br />

representa o valor limite ( threshold ). Tal parâmetro é <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>,<br />

mas assume valores no intervalo , on<strong>de</strong> λ 1 e λ 2<br />

são escolhi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma que e<br />

Assume-se que π 1 e π 2 são simétricos, ou<br />

2<br />

Situação que ocorre quan<strong>do</strong>, in<strong>de</strong>finidamente, o governo recorre a <strong>em</strong>préstimos sucessivos para o pagamento<br />

<strong>de</strong> dívidas.<br />

(4)<br />

89


Fabrízio Gomes Santos, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

seja, π = 1 – π , impon<strong>do</strong>, portanto, a restrição que nenhum regime terá<br />

1 2<br />

menos que π % das observações. Caner e Hansen (2001) suger<strong>em</strong> que<br />

1<br />

π = 0,15 , o que implica que nenhum <strong>do</strong>s regimes terá menos que 15% das<br />

1<br />

observações. 3<br />

O mo<strong>de</strong>lo funciona como um teste Dickey-Fuller Aumenta<strong>do</strong> (ADF)<br />

modifica<strong>do</strong> para captar quebras estruturais. É como realizar, simultaneamente,<br />

um teste <strong>de</strong> quebra e um (ou três) testes <strong>de</strong> raiz unitária. 4<br />

Para testar se a dinâmica é linear, conforme <strong>de</strong>talha<strong>do</strong> no apêndice,<br />

basta testar a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os coeficientes nos <strong>do</strong>is regimes, o que<br />

é feito através <strong>de</strong> um teste <strong>de</strong> WALD incluí<strong>do</strong> no programa já escrito <strong>em</strong><br />

GAUSS.<br />

Para investigar a hipótese <strong>de</strong> raiz unitária <strong>em</strong> mo<strong>de</strong>los não-lineares,<br />

t<strong>em</strong>os 3 casos possíveis: i) raiz unitária na série completa e, <strong>em</strong> caso<br />

<strong>de</strong> não-linearida<strong>de</strong>, ii) raiz unitária no regime 1 ou, iii) raiz unitária no<br />

regime 2. Três estatísticas são analisadas para os três respectivos testes:<br />

R , t e t cujos valores críticos encontram-se tabula<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Caner e Han-<br />

1T 1 2<br />

sen (2001).<br />

A base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s utilizada foi extraída <strong>do</strong>s Balanços Gerais <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2002 – 2008. Apesar <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> conter conceitos<br />

utiliza<strong>do</strong>s na Lei <strong>de</strong> Responsabilida<strong>de</strong> Fiscal, <strong>em</strong> sua essência este é basea<strong>do</strong><br />

nos conceitos <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Ajuste Fiscal, ou melhor dizen<strong>do</strong>, nos<br />

conceitos estabeleci<strong>do</strong>s pela STN.<br />

4. RESULTADOS<br />

As tabelas 1 e 2 sumarizam os resulta<strong>do</strong>s para os testes <strong>de</strong> linearida<strong>de</strong><br />

e igualda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s coeficientes, b<strong>em</strong> como explicitam os resulta<strong>do</strong>s das<br />

estimações para os mo<strong>de</strong>los com o déficit primário e nominal nos <strong>do</strong>is<br />

regimes, 5 o limiar para os regimes, λ, o número <strong>de</strong> observações, o número<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>fasagens ótimo (m) referente a variável Z = y –y , o número ótimo<br />

t t t–m<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>fasagens, k, na regressão ADF 6 (equação 4), e os valores críticos<br />

para os testes <strong>de</strong> linearida<strong>de</strong>. To<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> estimação e computação<br />

3<br />

Note que a amostra utilizada no presente artigo possui 53 observações, significan<strong>do</strong> que nenhum regime<br />

terá menos que 13 observações.<br />

4<br />

O méto<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>talhes foi extraí<strong>do</strong> <strong>do</strong> artigo <strong>de</strong> Lima e Simonassi (2005) e <strong>de</strong>scrito no apêndice.<br />

5<br />

Ambos como proporção da receita líquida <strong>em</strong> termos reais. Regime 1 consiste <strong>em</strong> , enquanto o<br />

regime 2 consiste <strong>em</strong> .<br />

6<br />

Conforme <strong>de</strong>scrito <strong>em</strong> Lima e Simonassi (2005), é calcula<strong>do</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o critério GS (<strong>do</strong> geral para o<br />

específico – “general to specific”).<br />

90


Ajuste Fiscal e Sustentabilida<strong>de</strong> da Dívida <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

<strong>de</strong> testes <strong>de</strong> hipóteses foi impl<strong>em</strong>enta<strong>do</strong> usan<strong>do</strong> um programa escrito <strong>em</strong><br />

GAUSS.<br />

Tabela 1 - Resulta<strong>do</strong>s e Teste <strong>de</strong> Linearida<strong>de</strong><br />

para a Série <strong>de</strong> Déficit Primário<br />

Estimativas Teste para Igualda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Coeficientes<br />

Estatística<br />

<strong>de</strong> Wald<br />

Bootstrap<br />

P-value<br />

Estimativa σ Estimativa σ<br />

Intercepto 0,044* 0,050 -0,166* 0,162 1,540 0,570<br />

yt-1 0,892 0,295 -1,110 0,405 0,194 0,860<br />

∆ yt-1 0,191* 0,216 -0,292* 0,512 0,756 0,630<br />

∆ yt-2 0,001* 0,157 -0,163*<br />

Observações<br />

0,164 0,506 0,750<br />

Teste Conjunto <strong>de</strong> Linearida<strong>de</strong> (Wald para Valor Limite) 23,8 0,010<br />

Nº. <strong>de</strong> Observações:<br />

Fonte: Cálculos próprios.<br />

Nota: (*) Não significante a 5%. (**) Valor Crítico a 5% = 17,5.<br />

81<br />

Observan<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s da tabela 1, <strong>de</strong>staca-se a rejeição da hipótese<br />

nula <strong>de</strong> linearida<strong>de</strong> – teste <strong>de</strong> WALD com valor crítica <strong>de</strong> 23,8 e<br />

p-valor <strong>de</strong> 0,01 - para a dinâmica <strong>de</strong>scrita pela razão déficit primário/receita<br />

líquida. Vale ressaltar que, na coluna à direita, os valores obti<strong>do</strong>s por<br />

bootstrap – que é um méto<strong>do</strong> estatístico <strong>de</strong> reamostrag<strong>em</strong> com o objetivo<br />

<strong>de</strong> elevar o tamanho da amostra - indicam a não rejeição da hipótese nula<br />

<strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s coeficientes nos <strong>do</strong>is regimes.<br />

Para verificar a robustez <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s, foi estima<strong>do</strong> outro mo<strong>de</strong>lo<br />

para o déficit nominal cujos resulta<strong>do</strong>s segu<strong>em</strong> na tabela 2. Constata-se a<br />

não rejeição da hipótese nula <strong>de</strong> linearida<strong>de</strong> na dinâmica <strong>do</strong> déficit nominal<br />

como também não se rejeita a hipótese <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s coeficientes<br />

nos <strong>do</strong>is regimes – note na coluna mais à direita <strong>de</strong>ssa tabela que to<strong>do</strong>s os<br />

p-valores por bootstrap são superiores a 0,10. Como o propósito <strong>do</strong> estu<strong>do</strong><br />

é testar a estacionarida<strong>de</strong> da razão déficit/receita líquida real, analisar<strong>em</strong>os<br />

as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a presença ou não <strong>de</strong> uma dinâmica<br />

não-linear para o déficit primário e para o déficit nominal.<br />

91


Fabrízio Gomes Santos, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

92<br />

Tabela 2 - Resulta<strong>do</strong>s e Teste <strong>de</strong> Linearida<strong>de</strong><br />

para a Série <strong>de</strong> Déficit Nominal<br />

Estimativas Teste para Igualda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Coeficientes<br />

Estatística<br />

<strong>de</strong> Wald<br />

Bootstrap<br />

P-value<br />

Estimativa σ Estimativa σ<br />

Intercepto 0,183 0,052 0,036* 0,142 0,933 0,770<br />

y t-1 0,787 0,322 -1,050 0,417 0,245 0,800<br />

∆ y t-1 0,109* 0,237 -0,333* 0,508 0,623 0,650<br />

∆ y t-2 0,005* 0,188 -0,202* 0,152 0,730 0,540<br />

Observações<br />

Teste Conjunto <strong>de</strong> Linearida<strong>de</strong> (Wald para Valor Limite) 14,0 0,200<br />

Nº. <strong>de</strong> Observações: 81<br />

Fonte: Cálculos próprios.<br />

Nota: (*) Não significante a 5%. (**) Valor Crítico a 5% = 19,5.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s das duas tabelas permit<strong>em</strong> inferir acerca das diferentes<br />

dinâmicas para cada déficit e, <strong>em</strong>bora seja secundário para o propósito<br />

<strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong>, tal resulta<strong>do</strong> estimula a investigação sobre a sustentabilida<strong>de</strong><br />

da política fiscal no <strong>Ceará</strong> com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> regime na<br />

série <strong>de</strong> déficit primário.<br />

As tabelas 1 e 2 indicam um número ótimo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fasagens (m) igual<br />

a 1 e um valor limite (ou ponto <strong>de</strong> quebra), , <strong>de</strong> 0,202 para o déficit primário<br />

e 0,219 para o déficit nominal. Conseqüent<strong>em</strong>ente, na equação 1 obtém-se<br />

Z = y −y e verifica-se que variações inferiores à 20,2% na razão<br />

t t t−1<br />

déficit primário/receita líquida real caracterizam as observações incluídas<br />

no regime 1, conquanto variações superiores a este percentual <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> as<br />

observações <strong>do</strong> regime 2. A não-rejeição da hipótese <strong>de</strong> linearida<strong>de</strong> para<br />

o déficit nominal implica que será analisada apenas a estacionarida<strong>de</strong> da<br />

série completa.<br />

O segun<strong>do</strong> interesse então é investigar a presença <strong>de</strong> raiz unitária<br />

na série <strong>de</strong> déficit primário. Calculam-se as estatísticas R ,t e t para<br />

1t 1 2<br />

m=1 on<strong>de</strong> são reporta<strong>do</strong>s tanto os p-valores assintóticos como também os<br />

p-valores calcula<strong>do</strong>s pelo méto<strong>do</strong> bootstrap, o qual, como dito anteriormente,<br />

é uma técnica utilizada para ampliar a amostra. Neste senti<strong>do</strong>, para<br />

pequenas amostras, como aqui <strong>em</strong>pregada – 81 observações no perío<strong>do</strong><br />

2002.1-2008.12 – p-valores calcula<strong>do</strong>s pelo méto<strong>do</strong> bootstrap são particularmente<br />

importantes para garantir a robustez <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s que são<br />

apresenta<strong>do</strong>s na tabela 3 a seguir.


Ajuste Fiscal e Sustentabilida<strong>de</strong> da Dívida <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

Tabela 3 - Testes <strong>de</strong> Raiz Unitária para os <strong>do</strong>is Regimes<br />

na Série <strong>de</strong> Déficit Primário<br />

Testes Estatística<br />

p-valor<br />

Assintótico Bootstrap<br />

R 1T 16,7 0,011 0,020<br />

t 1 3,02 0,090 0,030<br />

t 2 2,75 0,156 0,090<br />

Fonte: Cálculos próprios.<br />

O resulta<strong>do</strong> para estatística R é significante a 5% e indica a esta-<br />

1T<br />

cionarida<strong>de</strong> da série <strong>de</strong> déficit primário entre 2002 e 2008. Por outro la<strong>do</strong>,<br />

os resulta<strong>do</strong>s das estatísticas t e t indicam que a 5% pod<strong>em</strong>os rejeitar a<br />

1 2<br />

hipótese nula <strong>de</strong> raiz unitária no regime 1, mas somos incapazes <strong>de</strong> rejeitála<br />

no regime 2. Em outras palavras, os resulta<strong>do</strong>s na tabela 4 nos diz<strong>em</strong><br />

que a hipótese nula da existência <strong>de</strong> raiz unitária não é sustentada para a<br />

série como um to<strong>do</strong> e n<strong>em</strong> para o regime 1, conquanto para o regime 2<br />

tal hipótese não po<strong>de</strong> ser rejeitada. Tal resulta<strong>do</strong> implica que enquanto a<br />

variação da razão déficit primário/receita líquida real for inferior a 20,2%,<br />

valor limite para o regime 1, esta variável segue um processo estacionário,<br />

indican<strong>do</strong> que a dívida pública cearense seria sustentável no longo prazo.<br />

Não obstante, para variações superiores a 20,2% o processo <strong>de</strong>scrito pelo<br />

déficit primário é não-estacionário e, conseqüent<strong>em</strong>ente, a dívida pública<br />

passa a ser objeto <strong>de</strong> preocupação <strong>do</strong> governo.<br />

Cabe <strong>de</strong>stacar a diferença entre os resulta<strong>do</strong>s aqui obti<strong>do</strong>s com aqueles<br />

<strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s anteriormente através da meto<strong>do</strong>logia a<strong>do</strong>tada por Giambiagi<br />

e Além (2001). Nesta, o resulta<strong>do</strong> primário necessário seria um déficit<br />

<strong>de</strong> 0,04% <strong>do</strong> PIB (equação 2), que correspon<strong>de</strong> a aproximadamente R$<br />

20,72 milhões, enquanto que na meto<strong>do</strong>logia aqui <strong>em</strong>pregada encontra-se<br />

um limite para o déficit <strong>de</strong> 20,2% da Receita Líquida Real (RLR), on<strong>de</strong><br />

valores abaixo <strong>de</strong>ste limiar permitiriam uma sustentabilida<strong>de</strong> da dívida.<br />

Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a RLR <strong>de</strong> 2008 <strong>de</strong> R$ 6,92 bilhões, tería-se um déficit primário<br />

da ord<strong>em</strong> <strong>de</strong> R$ 1,4 bilhões. Isso ocorre porque no presente trabalho<br />

é utiliza<strong>do</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>em</strong>pírico mais complexo, permitin<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>s<br />

mais robustos e eficazes, já que analisa uma série t<strong>em</strong>poral, enquanto a<br />

fórmula <strong>de</strong> Giambiagi e Além (2001) adaptada, além <strong>de</strong> simples, é apenas<br />

93


Fabrízio Gomes Santos, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

para o ano <strong>de</strong> 2008. O mo<strong>de</strong>lo auto-regressivo com valor limite é utiliza<strong>do</strong><br />

para análises econométricas avançadas, permitin<strong>do</strong> que sejam obti<strong>do</strong>s<br />

resulta<strong>do</strong>s com um grau <strong>de</strong> confiabilida<strong>de</strong> muito mais alto. Além <strong>de</strong> analisar<br />

quebras estruturais, por ter componentes auto-regressivos, consi<strong>de</strong>ra<br />

os resulta<strong>do</strong>s acumula<strong>do</strong>s nos perío<strong>do</strong>s anteriores, resultan<strong>do</strong> num limiar<br />

superior à meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> Giambiagi e Além, que consi<strong>de</strong>ra apenas se o<br />

resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> ano é suficiente para pagar os juros da dívida pública, por isso<br />

a magnitu<strong>de</strong> da divergência, comparan<strong>do</strong> um com o outro. No mo<strong>de</strong>lo utiliza<strong>do</strong><br />

no estu<strong>do</strong> os superávits eleva<strong>do</strong>s anteriores são consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s para<br />

o perío<strong>do</strong> atual, aumentan<strong>do</strong> o caixa <strong>do</strong> governo, sen<strong>do</strong> assim permite um<br />

déficit público <strong>de</strong> até 20,2% da RCL.<br />

No estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Lima e Simonassi (2005), que foi utiliza<strong>do</strong> <strong>de</strong> base para<br />

o mo<strong>de</strong>lo <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, t<strong>em</strong>os resulta<strong>do</strong>s a nível nacional, on<strong>de</strong> também é<br />

rejeitada a hipótese <strong>de</strong> linearida<strong>de</strong> <strong>do</strong> déficit público, o que significa que<br />

a dinâmica da variável déficit/PIB é não linear, tal como o caso <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>,<br />

estabelecen<strong>do</strong> <strong>do</strong>is regimes, o regime 1, on<strong>de</strong> variações inferiores a 1,74%<br />

na razão déficit/PIB caracterizam um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>spreocupação fiscal,<br />

enquanto que variações superiores a este percentual exig<strong>em</strong> uma intervenção<br />

estatal. O déficit público segue uma tendência estacionária <strong>em</strong> um<br />

regime, porém <strong>em</strong> outro esta hipótese não é aceita.<br />

Para o déficit nominal, note na tabela 4 a seguir que o resulta<strong>do</strong> para<br />

a estatística R é significante a menos <strong>de</strong> 10% apenas quan<strong>do</strong> valores crí-<br />

1T<br />

ticos assintóticos são utiliza<strong>do</strong>s, o que indica que a razão déficit nominal/<br />

receita líquida real é globalmente estacionária.<br />

Tabela 4 - Testes <strong>de</strong> Raiz Unitária na Série <strong>de</strong> Déficit Nominal<br />

94<br />

testes Estatística<br />

p-valor<br />

Assintótico bootstrap<br />

R 1T 12,3 0,059 0,120<br />

Fonte: Cálculos próprios.<br />

O gráfico 1 a seguir explicita a série <strong>de</strong> déficit primário utilizada no<br />

mo<strong>de</strong>lo, classifican<strong>do</strong> as observações nos regimes 1 e 2 <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o<br />

“ponto <strong>de</strong> quebra” (threshold) estima<strong>do</strong>.


Ajuste Fiscal e Sustentabilida<strong>de</strong> da Dívida <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

Gráfico 1 - Razão Déficit Primário/Receita Líquida <strong>de</strong> Acor<strong>do</strong><br />

com os Dois Regimes, 2002:1 - 2008:12<br />

Da análise <strong>do</strong> gráfico 1, cabe realçar que as observações compreendidas<br />

no regime 2 refer<strong>em</strong>-se a perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> início <strong>de</strong> ano – to<strong>do</strong>s os meses<br />

<strong>de</strong> janeiro se enquadram no regime 2 – conseqüent<strong>em</strong>ente, após o mês <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro on<strong>de</strong> os gastos tend<strong>em</strong> a exce<strong>de</strong>r os outros meses <strong>do</strong> ano. 7<br />

O gráfico 2 d<strong>em</strong>onstra que, apesar <strong>de</strong> volátil, ao se adicionar uma<br />

linha <strong>de</strong> tendência linear, o comportamento <strong>do</strong> déficit nominal parece estável<br />

entre 2002 e 2008, corroboran<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> estacionarida<strong>de</strong> da<br />

tabela 5.<br />

Gráfico 2 - Razão Déficit Nominal/Receita Líquida 2002:1 - 2008:12<br />

7 Um exercício posterior po<strong>de</strong>ria consistir <strong>em</strong> uma análise da série <strong>de</strong> déficit com ajuste sazonal, entretanto,<br />

para esta versão, acredita-se que a inclusão <strong>de</strong> dummies po<strong>de</strong>ria retirar não apenas a sazonalida<strong>de</strong>, mas também<br />

uma elevação <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada <strong>do</strong>s gastos <strong>em</strong> perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> início <strong>de</strong> ano.<br />

95


Fabrízio Gomes Santos, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

5. COMENTÁRIOS FINAIS<br />

Po<strong>de</strong>-se concluir neste trabalho que o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> está <strong>em</strong> uma<br />

situação fiscal equilibrada. Testes estatísticos permitiram inferir que a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua dívida é estacionária, mas é importante ressaltar<br />

que os déficits têm dinâmicas diferentes, pois, conforme foi mostra<strong>do</strong> acima,<br />

a partir <strong>de</strong> um déficit <strong>de</strong> 20,2% <strong>em</strong> relação à receita líquida real a dinâmica<br />

<strong>do</strong> déficit muda e <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser estacionária. Variáveis como a <strong>de</strong>spesa<br />

com pessoal <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser acompanhadas <strong>de</strong> perto, visan<strong>do</strong> um equilíbrio<br />

fiscal sustentável. Os testes t são capazes <strong>de</strong> discriminar corretamente os<br />

casos <strong>de</strong> raiz unitária pura, raiz unitária parcial e estacionarieda<strong>de</strong> pura,<br />

isto se torna fundamental, pois po<strong>de</strong> <strong>de</strong>linear a partir <strong>de</strong> que limiar a dinâmica<br />

<strong>do</strong> déficit público cearense passa a ser insustentável no longo prazo,<br />

estabelecen<strong>do</strong> um limite para intervenção <strong>do</strong> governo.<br />

O Programa <strong>de</strong> Ajuste Fiscal é efetivamente importante para que o<br />

esta<strong>do</strong> faça um acompanhamento <strong>de</strong> variáveis que por sua natureza influenciam<br />

no <strong>de</strong>scontrole <strong>do</strong>s gastos públicos. O controle das <strong>de</strong>spesas<br />

correntes é <strong>de</strong> fundamental importância para se manter uma gestão fiscal<br />

eficiente. Alia<strong>do</strong> a isso o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve investir <strong>em</strong> melhorias que possibilit<strong>em</strong><br />

um aumento na arrecadação, visan<strong>do</strong> à elevação <strong>de</strong> suas receitas.<br />

No perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2002-2008, o esta<strong>do</strong> teve uma política fiscal sustentável,<br />

propician<strong>do</strong> recursos para uma melhoria da qualida<strong>de</strong> social<br />

<strong>do</strong>s cearenses, mas é preciso cuida<strong>do</strong> para manter as políticas <strong>de</strong><br />

forma a tornar sustentável, no longo prazo, a gestão fiscal. O esta<strong>do</strong><br />

encontra-se não mais <strong>em</strong> fase <strong>de</strong> ajuste, os governantes precisam impl<strong>em</strong>entar<br />

políticas que efetiv<strong>em</strong> <strong>de</strong> vez a cultura <strong>de</strong> uma gestão fiscal eficiente.<br />

Manten<strong>do</strong>-se <strong>em</strong> um limiar <strong>de</strong> déficit primário abaixo <strong>de</strong> 20,2% <strong>de</strong><br />

sua Receita líquida Real o esta<strong>do</strong> mantém uma política fiscal sustentável.<br />

Diante <strong>do</strong> exposto, percebe-se que o esforço fiscal feito através <strong>de</strong><br />

políticas austeras, tiveram como resulta<strong>do</strong> contas públicas equilibradas,<br />

sustentabilida<strong>de</strong> da dívida pública e criou as bases para a melhora da qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida e <strong>de</strong>senvolvimento econômico <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>.<br />

O Programa <strong>de</strong> Ajuste Fiscal acompanha<strong>do</strong> da Lei <strong>de</strong> Responsabilida<strong>de</strong><br />

Fiscal foram instrumentos imprescindíveis para o êxito <strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> no que diz respeito ao controle <strong>de</strong> suas contas e para a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua dívida.<br />

96


Ajuste Fiscal e Sustentabilida<strong>de</strong> da Dívida <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

O equilíbrio das contas públicas e uma dívida sustentável são<br />

pr<strong>em</strong>issas básicas para qualquer economia que queira ter um patamar <strong>de</strong><br />

crescimento com <strong>de</strong>senvolvimento econômico.<br />

No caso específico <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> percebe-se uma busca constante por<br />

uma dívida sustentável, o que conseqüent<strong>em</strong>ente reflete num equilíbrio<br />

entre receitas e <strong>de</strong>spesas, passan<strong>do</strong> pela restrição orçamentária <strong>do</strong><br />

governo.<br />

Conforme foi mostra<strong>do</strong>, o PAF foi <strong>de</strong> fundamental importância na<br />

busca pelo equilíbrio fiscal <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, on<strong>de</strong>, através <strong>do</strong> estabelecimento<br />

<strong>de</strong> metas e controles, cobrou <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> uma gestão fiscal responsável<br />

como contrapartida da elevação <strong>de</strong> suas dívidas.<br />

Cumprin<strong>do</strong> as metas <strong>de</strong> arrecadação e <strong>de</strong>spesas, o <strong>Ceará</strong> obteve superávits<br />

primários que foram <strong>de</strong> fundamental importância para manter a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua dívida e reduzir o percentual da participação <strong>de</strong>sta<br />

no PIB.<br />

O estu<strong>do</strong> econométrico mostra que o esta<strong>do</strong> se encontra com<br />

suas contas controladas, sua dívida sustentável até permitin<strong>do</strong> déficits<br />

primários. A realida<strong>de</strong> teórica e <strong>em</strong>pírica <strong>do</strong> trabalho reflete nas<br />

<strong>de</strong>cisões tomadas pela Secretaria <strong>do</strong> Tesouro Nacional no que diz respeito<br />

às metas para <strong>2009</strong> e 2010, tal como resulta<strong>do</strong> primário zero<br />

estabeleci<strong>do</strong> para os anos.<br />

Apesar disto, o estu<strong>do</strong> também mostra que quan<strong>do</strong> se trata <strong>de</strong> contas<br />

públicas o limiar que <strong>de</strong>sestabiliza a sustentabilida<strong>de</strong> da política fiscal é<br />

tênue. Conforme pô<strong>de</strong> ser visto, no regime não estacionário não foi rejeitada<br />

a hipótese nula <strong>de</strong> raiz unitária, que significa que déficits primários<br />

acima <strong>de</strong> 20,2% da Receita Líquida Real pod<strong>em</strong> trazer a insustentabilida<strong>de</strong><br />

da dívida público no longo prazo.<br />

É preciso responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s governantes para manter o esta<strong>do</strong><br />

ajusta<strong>do</strong>, efetivan<strong>do</strong> uma política fiscal equilibrada no longo prazo que<br />

permitirá um <strong>de</strong>senvolvimento econômico também sustentável.<br />

Diante disto po<strong>de</strong>-se concluir que o Programa <strong>de</strong> Ajuste Fiscal, junto<br />

com a Lei <strong>de</strong> Responsabilida<strong>de</strong> Fiscal e controles efetivos feitos pelo corpo<br />

técnico <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> e da Secretaria <strong>do</strong> Tesouro Nacional possibilitaram<br />

ao esta<strong>do</strong> sair <strong>de</strong> uma situação <strong>de</strong> ajuste fiscal, para uma situação <strong>de</strong><br />

gestão fiscal. Esta gestão <strong>de</strong>ve ser feita com responsabilida<strong>de</strong> e efetivida<strong>de</strong><br />

visan<strong>do</strong> à melhoria econômica e social da população cearense.<br />

97


Fabrízio Gomes Santos, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

ALESINA, A.; DRAZEN, A. Why are Stabilizations Delayed? American<br />

Economic Review, v.81, n.5, p.1170-1188, 1991.<br />

ANDREWS, D.W. K.; PLOBERGER, W. Optimal Tests When a Nuisance<br />

Parameter Is Present Only un<strong>de</strong>r the Alternative. Econometrica, v.62,<br />

p.383-414, 1994.<br />

ARESTIS, P.; CIPOLLINI, A.; Fattouh, B. Threshold Effects in the U.S.<br />

Budget Deficit. Economic Inquiry, v.42, p.214-222, 2004.<br />

BERTOLA, G.; DRAZEN, A. Trigger Points and Budget Cuts: Explaining<br />

the Effects of Fiscal Austerity. American Economic Review, v.83, p.11-<br />

26, 1993.<br />

BOHN, H. The Sustainability of Budget Deficits with Lump-Sum and<br />

with Income-Based Taxation. Journal of Money, Credit and Banking,<br />

v. 23, n.3, p.581-604, 1991.<br />

BOHN, H. The Behavior of U.S. Public Debt and Deficits. Quarterly<br />

Journal of Economics, v. 113, p.949-963, August, 1998.<br />

CANER, M.; Hansen, B. E. Threshold Autoregression with a Unit Root.<br />

Econometrica, v.69, p.1555-1596, 2001.<br />

COSSIO, F. B. Comportamento Fiscal <strong>do</strong>s Governos Estaduais Brasileiros:<br />

Determinantes Políticos e Efeitos sobre o B<strong>em</strong>-Estar <strong>do</strong>s seus Esta<strong>do</strong>s. In<br />

Finanças Públicas - V Prêmio Tesouro Nacional, Brasília, Ministério da<br />

Fazenda – Tesouro Nacional, 2001.<br />

FILGUEIRAS, Luiz. História <strong>do</strong> Plano Real. 1º Edição. São Paulo: Boit<strong>em</strong>po<br />

Editorial, 2001.<br />

GIAMBIAGI, Fabio; ALÉM, Ana Cláudia. Finanças Públicas. 2º Edição.<br />

São Paulo: Campus/ Elsevier, 2001.<br />

Giambiagi, Fabio; Além, Ana Cláudia. Finanças Públicas, Teoria e Prática<br />

no Brasil. 3º Edição. São Paulo: Campus/ Elsevier, 2008.<br />

HAKKIO, C.; Rush, M. Is the Budget Deficit too Large? Economic Inquiry.<br />

XXIX, p.429-445, 1991.<br />

HAMILTON, J. D.; FLAVIN, M. A. On the Limitations of Government<br />

Borrowing: A Framework for Empirical Testing. American Economic<br />

Review, v. 76, Sept<strong>em</strong>ber, p.809-819, 1986.<br />

98


Ajuste Fiscal e Sustentabilida<strong>de</strong> da Dívida <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

HANSEN, B.E.Inference When A Nuisance Parameter Is Not I<strong>de</strong>ntified<br />

Un<strong>de</strong>r The Null Hypothesis. Econometrica, v.64, p.413-430, 1996.<br />

HILL, R., Carter; GRIFFITHS, Wilson O.; JUDGE, George G. Econometria.<br />

2º Edição. São Paulo: Saraiva, 2008.<br />

ISSLER, J. V.; LIMA, L. R. Public Debt Sustainability and En<strong>do</strong>genous<br />

Seigniorage in Brazil: Time Series Evi<strong>de</strong>nce from 1947-1992. Journal of<br />

Development Economics, v.62, p.131-147, 2000.<br />

LIMA, L. R.; SIMONASSI, A. G. Dinâmica Não-Linear e Sustentabilida<strong>de</strong><br />

da Dívida Pública no Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico,<br />

v.35, n.2, p.227-244, 2005.<br />

LUPORINI V. Sustainability of the Brazillian Fiscal Policy and Central<br />

Bank In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce. Revista Brasileira <strong>de</strong> <strong>Economia</strong>, n.54, v.2, p.201-<br />

226; 2000.<br />

LUPORINI V. The Behavior of the Brazilian Fe<strong>de</strong>ral Domestic Debt. <strong>Economia</strong><br />

Política v.6, n.4, p.713-733, 2002.<br />

MC DERMOTT, J.; WESCOTT R. An Empirical Analysis of Fiscal Adjustments,<br />

IMF Staff papers, XLIII, p.725-753, 1996.<br />

QUINTOS, C.E. Sustainability of the Deficit Process with Structural<br />

Shifts. Journal of Business and Economic Statistics, v.13, p.409-417,<br />

1995.<br />

PASTORE, A. C. Déficit Público, a Sustentabilida<strong>de</strong> das Dívidas Interna<br />

e Externa, eignoriag<strong>em</strong> e Inflação: Uma Análise <strong>do</strong> Regime Monetário<br />

Brasileiro. Revista <strong>de</strong> Econometria, v.14, n.2, 1995.<br />

PINDYCK, Robert S.; Rubinfeld, Daniel L. Microeconomia 6º.Edição.<br />

São Paulo: Pearson, 2007.<br />

ROCHA, F. Long-Run Limits on the Brazilian Government Debt. Revista<br />

Brasileira <strong>de</strong> <strong>Economia</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro, FGV, v.51, n.4, p.447-470, 1997.<br />

ROCHA, F. Is There any Rationale to The Brazilian Fiscal Policy?. Revista<br />

Brasileira <strong>de</strong> <strong>Economia</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro, FGV, v.55, n.3, p.315-331,<br />

2001.<br />

SACHS, Jefrey D.; Larrain, Felipe. Macroeconomia, Edição Revisada e<br />

Atualizada. São Paulo: Makron Books, 2000.<br />

TREHAN, B.; WALSH, C. Common Trends, Intert<strong>em</strong>poral Balance and<br />

99


Fabrízio Gomes Santos, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

Revenue Smoothing. Journal of Economic Dynamics and Control, 12;<br />

p.425-444, 1988.<br />

UCTUM, M.; WICKENS, M. Debt And Deficit Ceilings, And Sustainability<br />

of Fiscal Policies: An Intert<strong>em</strong>poral Analysis. CEPR Discussion<br />

Paper n. 1612, 1997.<br />

WILCOX, D.W. The Sustainability of Government Deficits: Implications<br />

of the Present Value Borrowing Constraint. Journal of Money, Credit<br />

and Banking, v.21, p.291-306, 1989.<br />

APêNDicE A 8<br />

No mo<strong>de</strong>lo (1) <strong>de</strong>fine-se e , on<strong>de</strong> ρ1 e ρ são escalares, β e β têm a mesma dimensão <strong>de</strong> r e α e α são ve-<br />

2 1 2 t 1 2<br />

tores <strong>de</strong> dimensão k. Portanto, ρ e ρ são coeficientes <strong>de</strong> y , β e β são<br />

1 2 t −1 1 2<br />

coeficientes <strong>do</strong>s componentes <strong>de</strong>terminísticos e α e α são os coeficientes<br />

1 2<br />

<strong>de</strong> nos regimes 1 e 2, respectivamente.<br />

O mo<strong>de</strong>lo 1 é estima<strong>do</strong> por Mínimos Quadra<strong>do</strong>s Ordinários (MQO).<br />

Para impl<strong>em</strong>entar MQO <strong>em</strong> 1, Caner e Hansen (2001) suger<strong>em</strong> aplicar o<br />

algoritmo da concentração <strong>de</strong>scrito também <strong>em</strong> <strong>de</strong>talhes por Lima e Simonassi<br />

(2005).<br />

Testan<strong>do</strong> a Presença <strong>de</strong> Dinâmica não-linear:<br />

Teste:<br />

Caner e Hansen (2001 propuseram para tal a seguinte estatística <strong>de</strong><br />

teste:<br />

on<strong>de</strong> e representa a variância <strong>do</strong> resíduo<br />

obti<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> se estima o mo<strong>de</strong>lo 1 impon<strong>do</strong> H :θ =θ ,com<br />

0 1 2<br />

calcula<strong>do</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com (3.2).<br />

Conforme argumenta<strong>do</strong> <strong>em</strong> Lima e Simonassi (2005), Caner e Hansen<br />

(2001) mostram que, sob a presença <strong>de</strong> raiz unitária, a distribuição<br />

assintótica <strong>de</strong> W <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da estrutura <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, significan<strong>do</strong> que os<br />

T<br />

valores críticos não pod<strong>em</strong> ser tabula<strong>do</strong>s. Desta forma, os autores suger<strong>em</strong><br />

8 Retira<strong>do</strong> <strong>de</strong> Lima e Simonassi (2005).<br />

100


Ajuste Fiscal e Sustentabilida<strong>de</strong> da Dívida <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

<strong>do</strong>is méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> bootstrap 9 para aproximar a distribuição assintótica <strong>de</strong> W T .<br />

Testan<strong>do</strong> a Hipótese <strong>de</strong> Raiz Unitária <strong>em</strong> Mo<strong>de</strong>los Não-Lineares<br />

O déficit – no caso a razão déficit/receita líquida real - terá raiz unitária<br />

se a hipótese nula, H 0 : ρ 1 = ρ 2 = 0, for verda<strong>de</strong>ira. Uma hipótese alternativa<br />

natural seria H 1 : ρ 1 < 0 e ρ 2 < 0 , sugerin<strong>do</strong> que o déficit é estacionário<br />

nos <strong>do</strong>is regimes. Contu<strong>do</strong>, existe ainda uma possibilida<strong>de</strong> intermediária<br />

chamada <strong>de</strong> raiz unitária parcial:<br />

Se H for verda<strong>de</strong>ira, o déficit terá raiz unitária <strong>em</strong> um <strong>do</strong>s regimes,<br />

2<br />

mas será estacionário no outro.<br />

Neste trabalho são investiga<strong>do</strong>s se os déficits primário e nominal cearenses<br />

são estacionários, H é verda<strong>de</strong>ira, ou possui raiz unitária parcial,<br />

1<br />

H é verda<strong>de</strong>ira. A distinção entre H , H e H é feita via uso das seguin-<br />

2 0 1 2<br />

tes estatísticas <strong>de</strong> teste propostas por Caner e Hansen (2001):<br />

a) Uma estatística t para ρ , t , utilizada para testar a hipótese nula <strong>de</strong> raiz<br />

1 1<br />

unitária, H : ρ = ρ = 0, contra a alternativa <strong>de</strong> estacionarida<strong>de</strong> apenas<br />

0 1 2<br />

no regime 1, isto é; H : ρ < 0 e ρ < 0.<br />

2 1 2<br />

b) Uma estatística t para ρ , t , utilizada para testar a hipótese nula <strong>de</strong><br />

2 2<br />

raiz unitária, H : ρ = ρ =0 , contra a alternativa <strong>de</strong> estacionarida<strong>de</strong><br />

0 1 2<br />

apenas no regime 2, isto é; H : ρ < 0 e ρ < 0 .<br />

2 1 2<br />

c) Uma estatística <strong>de</strong> Wald unicaudal, , utilizada<br />

para testar a hipótese nula <strong>de</strong> raiz unitária, H : ρ = ρ = 0, contra a alter-<br />

0 1 2<br />

nativa H : ρ < 0 e ρ < 0.<br />

2 1 2<br />

Como afirmam Lima e Simonassi (2005), os valores críticos para as<br />

estatísticas R , t e t encontram-se tabula<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Caner e Hansen (2001) e<br />

1T 1 2<br />

já estão inseri<strong>do</strong>s no programa utiliza<strong>do</strong> para estimação <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo. Foram<br />

9 Tal como Monte Carlo, bootstrap é um méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> estimação alternativo por reamostrag<strong>em</strong> quan<strong>do</strong> se dispõe<br />

<strong>de</strong> pequenas amostras. Seu princípio é o <strong>de</strong> gerar repetidas amostras com reposição a partir <strong>de</strong> uma amostra<br />

observada, objetivan<strong>do</strong> obter distribuições assintóticas <strong>do</strong>s estima<strong>do</strong>res, portanto, geran<strong>do</strong> <strong>de</strong>svios padrão<br />

mais confiáveis.<br />

101


Fabrízio Gomes Santos, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes<br />

tabula<strong>do</strong>s valores críticos assintóticos e, para melhorar a inferência <strong>em</strong><br />

amostras pequenas, valores críticos por “bootstrap”.<br />

APÊNDICE B<br />

102


CRESCIMENTO ECONÔMICO<br />

E DESIGUALDADE DE RENDA<br />

NO CEARÁ<br />

Davi Oliveira Pontes *<br />

Ronal<strong>do</strong> A. Arraes **<br />

Francisca Zilania Mariano ***<br />

Christiano Penna ****<br />

RESUMO<br />

O Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> marca<strong>do</strong> por elevadas disparida<strong>de</strong>s regionais<br />

nos últimos anos, on<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnas e dinâmicas regiões se contrastam<br />

com as retrógradas. Neste cenário, o presente trabalho t<strong>em</strong> como objetivo<br />

testar a convergência da renda per capita entre os municípios, b<strong>em</strong><br />

como a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> U-inverti<strong>do</strong> da curva <strong>de</strong> Kuznets, segui<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>terminantes da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda com base <strong>em</strong> <strong>de</strong>composição <strong>do</strong><br />

índice <strong>de</strong> Theil <strong>em</strong> cinco fatores: educação, gênero, raça, ida<strong>de</strong>, áreas urbanas.<br />

Devi<strong>do</strong> à disponibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, os <strong>do</strong>is primeiros objetivos foram<br />

investiga<strong>do</strong>s para a década <strong>de</strong> noventa. Apesar <strong>de</strong> ter si<strong>do</strong> comprovada<br />

a convergência, as previsões econométricas para o último ano da série<br />

indicam que os municípios ainda estão localiza<strong>do</strong>s na porção ascen<strong>de</strong>nte<br />

da curva <strong>de</strong> Kuznets. Referente à <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, constatou-se que educação<br />

t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> o principal fator para a sua explicação. Em média, no perío<strong>do</strong><br />

1995-2007, ela contribui com 28% da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> o<br />

índice é medi<strong>do</strong> entre os grupos, enquanto que qualquer outro fator não<br />

representa mais <strong>do</strong> <strong>de</strong> 4,5%. Ad<strong>em</strong>ais, ao longo <strong>de</strong>sse perío<strong>do</strong>, o índice<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> segue a forma <strong>de</strong> “U” inverti<strong>do</strong>, a qual é seguida neste<br />

formato apenas pela participação relativa <strong>do</strong> fator área urbana no índice.<br />

Finalmente, cabe frisar que após adicionar o último fator explicativo <strong>do</strong><br />

índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, ainda restariam 40% <strong>de</strong>ste para ser explica<strong>do</strong> por<br />

outros fatores. Fica a sugestão <strong>de</strong> <strong>de</strong>composições adicionais às aqui feitas<br />

para futuras investigações.<br />

Palavras-Chave: Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda, Crescimento Econômico, <strong>Ceará</strong>.<br />

....................................................<br />

* Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Assistência e Proteção a Infância <strong>de</strong> Fortaleza (SOPAI).<br />

** Centro <strong>de</strong> Aperfeiçamento <strong>de</strong> Economistas <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste (CAEN).<br />

*** Economista.<br />

**** Centro <strong>de</strong> Aperfeiçamento <strong>de</strong> Economistas <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste (CAEN).<br />

103<br />

103


Davi Oliveira Pontes, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes, Francisca Zilania Mariano, Christiano Penna<br />

AbstrAct<br />

The State of <strong>Ceará</strong> has been marked by regional disparities in recent<br />

years where mo<strong>de</strong>rn and dynamic regions contrast to backward ones. In<br />

this scenario, this paper aims to test for the convergence of the per capita<br />

income among municipalities as well as the sustainability of the U-inverted<br />

Kuznets’ curve, followed by the <strong>de</strong>terminants of the income inequalities<br />

based upon <strong>de</strong>composition of Theil in<strong>de</strong>x in five factors: education,<br />

gen<strong>de</strong>r, race, age, urban areas. Due to data availability, the first two objectives<br />

were attained for the ninety <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>. Despite testifying convergence,<br />

the econometric predictions for the last year of the series indicate that<br />

municipalities are still located in the upward portion of Kuznets’ curve.<br />

As inequality is concerned, education has been proved to be the leading<br />

factor for its explanation. On average in the period 1995-2007, it accounts<br />

for 28% of the state inequality, as the in<strong>de</strong>x is measured between groups,<br />

while any other factor represents no more than 4,5%. Along that period,<br />

the inequality in<strong>de</strong>x takes a inverted-U shape, and only the participation<br />

of the urban area factor in the in<strong>de</strong>x follows the same shape. Finally, It is<br />

quite worth noting that after adding the last factor to explain inequality,<br />

40% of it is yet to be explained. This factor calls for further investigations.<br />

Key Words: Income Inequality, Economic Growth, <strong>Ceará</strong>.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Embora a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda tenha diminuí<strong>do</strong> nos últimos anos,<br />

o nível <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> renda ainda prevalece eleva<strong>do</strong> no Brasil. E<br />

este, configura-se como um <strong>do</strong>s principais probl<strong>em</strong>as enfrenta<strong>do</strong>s pelo<br />

país. Po<strong>de</strong>-se afirmar que além <strong>do</strong> probl<strong>em</strong>a econômico, a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

brasileira proporciona uma má distribuição <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inclusão<br />

econômica e social, o que caracteriza uma baixa mobilida<strong>de</strong> social.<br />

Existe uma significante varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> abordagens na literatura sobre<br />

os <strong>de</strong>terminantes da disparida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda, <strong>de</strong>ntre os fatores levanta<strong>do</strong>s<br />

para justificar o eleva<strong>do</strong> grau <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> renda estão: sexo, raça,<br />

região <strong>de</strong> moradia, ida<strong>de</strong> e escolarida<strong>de</strong>. Muitos autores conceb<strong>em</strong> que<br />

os benefícios <strong>do</strong> investimento <strong>em</strong> capital humano, especialmente através<br />

da educação impulsionam o <strong>de</strong>senvolvimento a outros estágios (WANG,<br />

104


Crescimento Econômico e Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda no <strong>Ceará</strong><br />

2001; OLIVEIRA, 2004; PESSOA et al., 2007). Estudiosos afirmam que a<br />

educação além <strong>de</strong> aumentar a produtivida<strong>de</strong>, promove uma maior igualda<strong>de</strong><br />

à medida que é b<strong>em</strong> distribuí<strong>do</strong> assim para a mobilida<strong>de</strong> social.<br />

No <strong>Ceará</strong>, existe gran<strong>de</strong> concentração da renda regional, seja entre<br />

seus municípios ou <strong>em</strong> relação ao Brasil. Em relação aos trabalhos <strong>em</strong>píricos<br />

para o <strong>Ceará</strong> po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>stacar o <strong>de</strong> Silva (2006), o qual busca evidências<br />

sobre a existência <strong>do</strong> crescimento econômico com iniqüida<strong>de</strong> social<br />

para o esta<strong>do</strong>, verifican<strong>do</strong> que o capital humano possui retorno superior<br />

ao capital físico, <strong>em</strong> relação à taxa <strong>de</strong> crescimento econômico. Este autor<br />

também encontra evidências <strong>de</strong> que o crescimento econômico <strong>do</strong>s municípios<br />

cearenses foi estimula<strong>do</strong> pela <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda e o aumento na<br />

intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pobreza afetou negativamente o crescimento econômico,<br />

muito provavelmente, pela redução <strong>do</strong> número <strong>de</strong> consumi<strong>do</strong>res potenciais<br />

no merca<strong>do</strong> (SILVA, 2006).<br />

Com isso, para medir a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> existente <strong>em</strong> uma distribuição<br />

<strong>de</strong> renda exist<strong>em</strong> diversos indica<strong>do</strong>res disponíveis na literatura. Os índices<br />

<strong>de</strong> Gini e <strong>de</strong> Theil são as medidas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> mais utilizadas nos<br />

estu<strong>do</strong>s sobre distribuição <strong>de</strong> renda, on<strong>de</strong>, este último <strong>de</strong>riva da noção <strong>de</strong><br />

entropia, <strong>de</strong>stacada também por Hoffman (1998) indican<strong>do</strong> que a concentração<br />

<strong>de</strong> renda é maior quan<strong>do</strong> o índice <strong>de</strong> Theil é maior, contu<strong>do</strong> este<br />

índice não possui uma valor máximo como po<strong>de</strong> ser observa<strong>do</strong> no índice<br />

<strong>de</strong> Gini. Vale ressaltar, que esse índice apresenta uma vantag<strong>em</strong> <strong>em</strong> relação<br />

a outros índices, ao possibilitar a <strong>de</strong>composição aditiva por subgrupos<br />

populacionais.<br />

Com o propósito <strong>de</strong> verificar a relação entre <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda<br />

e crescimento econômico, vários autores utilizam o processo <strong>de</strong> convergência<br />

absoluta, on<strong>de</strong> esta consi<strong>de</strong>ra que as economias atrasadas tend<strong>em</strong><br />

a crescer a taxas mais elevadas <strong>do</strong> que as economias ricas e que, portanto,<br />

<strong>em</strong> algum momento <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po as taxas ten<strong>de</strong>riam a se igualar. A <strong>de</strong>finição<br />

<strong>de</strong>sta noção <strong>de</strong> convergência é baseada na suposição <strong>de</strong> que tanto os países<br />

ricos como os pobres possu<strong>em</strong> idênticas tecnologias, preferências, instituições<br />

políticas e outras características econômicas. Ou seja, que estas<br />

economias ten<strong>de</strong>riam para um mesmo nível <strong>de</strong> esta<strong>do</strong> estacionário, e que,<br />

apenas t<strong>em</strong>porariamente, estariam <strong>em</strong> estágios distintos <strong>de</strong> seu crescimento<br />

potencial.<br />

105


Davi Oliveira Pontes, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes, Francisca Zilania Mariano, Christiano Penna<br />

Além disso, Kuznets (1955) investiga o caráter e as causa <strong>de</strong> mudanças<br />

<strong>de</strong> longo prazo na distribuição pessoal <strong>de</strong> renda, buscan<strong>do</strong> <strong>de</strong>linear<br />

os fatores <strong>de</strong>terminantes <strong>em</strong> relação ao histórico e às tendências evolutivas<br />

da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda. Os pressupostos centrais <strong>de</strong> Kuznets são: a<br />

renda per capita média da população rural é menor <strong>do</strong> que a da urbana, o<br />

percentual da renda <strong>do</strong> setor agrícola diminui ao longo <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po, e a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> renda na população rural é menor <strong>do</strong> que na população urbana.<br />

Com isso, o autor atribui como hipótese uma relação entre <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

e crescimento no formato <strong>de</strong> U inverti<strong>do</strong>. Este formato reflete que no<br />

estágio inicial das economias, crescimento e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> são baixos, pois<br />

existe pouco a ser distribuí<strong>do</strong> e quan<strong>do</strong> o crescimento econômico acelera<br />

e a economia passa para um estágio mais <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>, as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

aumentam, diminuin<strong>do</strong> somente quan<strong>do</strong> uma fase mais avançada <strong>do</strong> processo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento for alcançada.<br />

Com isso, o objetivo geral <strong>de</strong>ste trabalho consiste <strong>em</strong> analisar <strong>de</strong> que<br />

forma a relação entre renda e <strong>de</strong>senvolvimento econômico v<strong>em</strong> se comportan<strong>do</strong><br />

no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>. Ten<strong>do</strong> como objetivos específicos verificar<br />

o processo <strong>de</strong> convergência <strong>de</strong> rendas per capita entre os municípios<br />

<strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, b<strong>em</strong> como analisar se a hipótese <strong>de</strong> Kuznets (1955) se aplica a<br />

estes municípios. Além disso, preten<strong>de</strong>-se observar os componentes da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> renda, vincula<strong>do</strong>s a fatores como: área, gênero, raça, ida<strong>de</strong><br />

e grupo educacional, através da <strong>de</strong>composição <strong>do</strong> índice <strong>de</strong> Theil, para os<br />

anos <strong>de</strong> 1995, 2001 e 2007.<br />

Este trabalho está organiza<strong>do</strong> da seguinte forma: além <strong>de</strong>sta seção<br />

introdutória; a segunda seção, que trata <strong>do</strong> referencial teórico sobre<br />

a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda; A terceira seção apresenta a abordag<strong>em</strong><br />

meto<strong>do</strong>lógica <strong>em</strong>pregada para cumprir os objetivos. A quarta analisa os<br />

resulta<strong>do</strong>s, para <strong>em</strong> seguida ser<strong>em</strong> apresentadas as principais conclusões.<br />

2. DESIGUALDADE DE RENDA<br />

2.1 Determinantes da Desigualda<strong>de</strong><br />

A <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> da distribuição da renda no Brasil é um t<strong>em</strong>a que<br />

t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> intensamente <strong>de</strong>bati<strong>do</strong> <strong>em</strong> diversas áreas acadêmicas (sociologia,<br />

historia, antropologia e economia), geran<strong>do</strong> controvérsias por<br />

sua complexida<strong>de</strong> e pela elevada carga <strong>de</strong> julgamento éticos envolvi<strong>do</strong>s<br />

na questão. No conjunto das explicações para essa <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, não<br />

106


Crescimento Econômico e Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda no <strong>Ceará</strong><br />

se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> levar <strong>em</strong> conta os aspectos históricos e institucionais<br />

<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> colonial, que influenciaram o perfil distributivo da renda<br />

na época, cujos efeitos per<strong>de</strong>ram até hoje. Um aspecto fundamental<br />

<strong>de</strong>sse perío<strong>do</strong> refere-se à distribuição da posse da terra <strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s latifúndios,<br />

associada ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo agrário exporta<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong> produtos primários. Essa opção política pela gran<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> rural<br />

no perío<strong>do</strong> colonial acarretou ao Brasil <strong>do</strong> século XXI uma estrutura<br />

fundiária altamente concentrada, caracterizada pela coexistência<br />

<strong>de</strong> latifúndios e minifúndios. Outro aspecto, também <strong>de</strong> fundamental<br />

importância, foi o processo <strong>de</strong> escravismo e a maneira como ocorreu o<br />

processo abolicionista <strong>do</strong>s negros, relegan<strong>do</strong>-os a uma situação marginal<br />

na socieda<strong>de</strong> brasileira (FURTADO, 1967; GREMAUD et al., 2002).<br />

Existe uma significante varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> abordagens na literatura<br />

sobre os <strong>de</strong>terminantes da disparida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda, <strong>de</strong>ntre os fatores<br />

levanta<strong>do</strong>s para justificar o eleva<strong>do</strong> grau <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> renda<br />

estão: sexo, raça, região <strong>de</strong> moradia, ida<strong>de</strong> e escolarida<strong>de</strong>. Este último é<br />

aponta<strong>do</strong> como o principal <strong>de</strong>terminante da distribuição <strong>de</strong> rendimentos.<br />

Estudiosos afirmam que a educação além <strong>de</strong> aumentar a produtivida<strong>de</strong>,<br />

promove uma maior igualda<strong>de</strong> à medida que é b<strong>em</strong> distribuí<strong>do</strong> assim para<br />

a mobilida<strong>de</strong> social.<br />

Logo após a divulgação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> censo <strong>de</strong> 1970, <strong>do</strong>is estu<strong>do</strong>s<br />

mostraram um gran<strong>de</strong> crescimento da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> da distribuição da<br />

renda no Brasil entre 1960 e 1970: os <strong>de</strong> Fishlow (1972) e Hoffmann e<br />

Duarte (1972). Dada a conjuntura da época, esse aumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

transformou-se <strong>em</strong> el<strong>em</strong>ento importante na critica da política econômica e<br />

social <strong>do</strong>s governos militares (HOFFMANN, 2001c).<br />

Langoni (1973) argumenta que a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda era conseqüência<br />

das profundas modificações que acompanharam o processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento econômico entre 1960 e 1970. Para ele, gran<strong>de</strong> parcela<br />

<strong>do</strong> aumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> observa<strong>do</strong> estava intimamente ligada às mudanças<br />

qualitativas (nível <strong>de</strong> educação, ida<strong>de</strong> e sexo) e alocativas (setorial<br />

e regional) da força <strong>de</strong> trabalho. Assim o aumento <strong>de</strong> concentração da<br />

renda no perío<strong>do</strong> era transitório e corrigível no longo prazo. De forma<br />

alternativa, alguns autores enfatizaram as políticas a<strong>do</strong>tadas pelo governo<br />

militar no perío<strong>do</strong> pós-64 <strong>de</strong> combate à inflação, que incluíam uma sé-<br />

107


Davi Oliveira Pontes, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes, Francisca Zilania Mariano, Christiano Penna<br />

rie <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong>sfavoráveis à manutenção <strong>do</strong>s salários reais como, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, a intervenção nos sindicatos trabalhistas e repressão aos movimentos<br />

sociais (RAMOS; REIS, 1999).<br />

Segun<strong>do</strong> Men<strong>do</strong>nça e Barros (1995), as curvas <strong>de</strong> Lorenz para os<br />

anos <strong>de</strong> 1960, 1970, 1980 e 1990 revelaram que as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> renda<br />

apresentaram um crescimento continuo ao longo <strong>de</strong>sses 30 anos analisa<strong>do</strong>s.<br />

Com a divulgação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> censo <strong>de</strong> 1980 constatou-se que a<br />

distribuição <strong>de</strong> renda havia se torna<strong>do</strong> ainda mais concentrada nos anos<br />

70, <strong>em</strong>bora o aumento da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> tenha si<strong>do</strong> muito menos <strong>do</strong> que<br />

nos anos 60 (BONELLI, 1993). A tendência crescente da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> da<br />

renda se manteve até o inicio da década <strong>de</strong> 90. Somente com o advento <strong>do</strong><br />

Plano Real, <strong>em</strong> julho <strong>de</strong> 1994, houve uma recuperação expressiva <strong>do</strong> nível<br />

<strong>de</strong> rendimentos, acompanhada <strong>de</strong> progressos distributivos também importantes<br />

(COELHO; CORSEUIL, 2002).<br />

O estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> por Ferreira e Litchfiel (2000) diz que a gran<strong>de</strong><br />

concentração <strong>de</strong> renda no Brasil faz com que o país se <strong>de</strong>staque negativamente<br />

no contexto internacional. As principais causas <strong>de</strong>stacadas<br />

pelo autor são (1) diferenças entre indivíduos características<br />

natas (raça, gênero, inteligência ou riqueza inicial): (2) diferenças entre<br />

características individuais adquiridas (nível educacional, experiência<br />

profissional); (3) mecanismo <strong>em</strong> que o merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho age sobre<br />

os tipos <strong>de</strong> indivíduos cita<strong>do</strong>s acima <strong>em</strong> 1 e 2, transforman<strong>do</strong> as<br />

diferenças individuais <strong>em</strong> diferenças no rendimento <strong>de</strong> trabalho, estes<br />

mecanismos são discriminação (raça, gênero), segmentação (entre<br />

postos <strong>de</strong> trabalho distintos ocupa<strong>do</strong>s por trabalha<strong>do</strong>res idênticos) projeção<br />

(retorno <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as características observadas no trabalho<br />

como escolarida<strong>de</strong> e experiência); (4) os merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> capital que ao<br />

ser<strong>em</strong> imperfeitos, são segmenta<strong>do</strong>s por ex<strong>em</strong>plo no acesso ao crédito;<br />

(5) fatores d<strong>em</strong>ográficos como formação <strong>de</strong> <strong>do</strong>micilio, <strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong>,<br />

coabitação ou separação <strong>do</strong>miciliar.<br />

Para Hoffmann (2002b), <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com essas duas interpretações<br />

seria <strong>de</strong> se esperar que terminada a fase <strong>de</strong> crescimento rápi<strong>do</strong> ou<br />

encerrada a ditadura haveria uma redução na <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>. No entanto, os<br />

resulta<strong>do</strong>s <strong>em</strong>píricos recentes mostram que isso não ocorreu.<br />

Cabe ressaltar que se <strong>de</strong>ve ter cautela ao relacionar as mudanças<br />

108


Crescimento Econômico e Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda no <strong>Ceará</strong><br />

ocorridas entre 1993 e 1995 ao plano Real, uma vez que o crescimento<br />

econômico t<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminantes mais complexos. Nota-se que entre 1993<br />

e 2001 houve uma substancial redução da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> distributiva <strong>do</strong>s<br />

rendimentos das pessoas economicamente ativas. Entretanto, a redução<br />

da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> no perío<strong>do</strong> torna-se quase <strong>de</strong>sprezível quan<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong> a<br />

distribuição <strong>do</strong> rendimento familiar per capita (HOFFMAN, 2002b).<br />

Passa<strong>do</strong>s 30 anos <strong>de</strong>pois <strong>do</strong>s trabalhos pioneiros <strong>de</strong> Fishlow (1972) e<br />

Hoffmann e Duarte (1972), o Brasil <strong>do</strong> século XXI ainda t<strong>em</strong> uma distribuição<br />

<strong>de</strong> renda bastante concentrada. O índice <strong>de</strong> Gini para o Brasil neste<br />

inicio <strong>de</strong> século, mesmo com tendência <strong>de</strong>clinante na década <strong>de</strong> 90 é ainda<br />

maior <strong>do</strong> que o apresenta<strong>do</strong> três décadas antes.<br />

2.2 Desigualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Renda no <strong>Ceará</strong><br />

Após algumas reformas políticas iniciadas na primeira meta<strong>de</strong> da<br />

década <strong>de</strong> 1990, e <strong>de</strong> políticas públicas a<strong>de</strong>quadas, o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> <strong>de</strong>staca-se<br />

entre os esta<strong>do</strong>s brasileiros pela sua disciplina e expansão <strong>de</strong> investimento<br />

e um crescimento econômico superior ao <strong>do</strong> Brasil. Entretanto,<br />

<strong>em</strong> 2003, o <strong>Ceará</strong> apresentou o quinto pior PIB per capita (R$ 3.618,00) <strong>do</strong><br />

Brasil (R$ 8.694,00) e o quarto pior <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste (R$ 4.306,00), ganhan<strong>do</strong><br />

apenas <strong>de</strong>, respectivamente, Alagoas, Piauí e Maranhão (pior <strong>do</strong> Brasil).<br />

Contu<strong>do</strong>, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> a contribuição ao PIB a preços <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> (R$<br />

1.556.182.000,00) <strong>do</strong> Brasil, o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (R$ 28.425.000,00) é o 12º<br />

(contribuin<strong>do</strong> com 1,81% <strong>do</strong> PIB nacional). Caben<strong>do</strong> ressaltar ainda que,<br />

no perío<strong>do</strong> 1985-2003, a taxa <strong>de</strong> crescimento médio real <strong>do</strong> PIB a preços<br />

<strong>de</strong> merca<strong>do</strong> foi <strong>de</strong> 3,5% e a <strong>do</strong> Brasil foi <strong>de</strong> 2,3% <strong>em</strong> seu conjunto (IBGE,<br />

2006). Do que trata a questão da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, o índice <strong>de</strong> Gini, que me<strong>de</strong><br />

a concentração <strong>de</strong> renda, ficou <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 0,6 <strong>em</strong> 1992, <strong>de</strong> uma escala<br />

que vai até 1. Houve uma redução na concentração <strong>de</strong> renda no <strong>Ceará</strong>: <strong>em</strong><br />

2003, este índice alcançou 0,567. O mesmo índice para o Brasil, <strong>em</strong> 1992,<br />

foi <strong>de</strong> 0,58 e, <strong>em</strong> 2003, foi <strong>de</strong> 0,581 (IBGE, 2006b).<br />

Esse Esta<strong>do</strong> oferece um quadro preocupante <strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

social e setorial, que repercute diretamente nas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s entre<br />

a capital e o interior, <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>svantag<strong>em</strong> para este último. Da<strong>do</strong> que<br />

<strong>em</strong> 2004 a indústria estava fort<strong>em</strong>ente concentrada na Região Metropolitana<br />

<strong>de</strong> Fortaleza - RMF, esta região exibe uma renda média mensal <strong>de</strong><br />

109


Davi Oliveira Pontes, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes, Francisca Zilania Mariano, Christiano Penna<br />

cerca <strong>de</strong> R$ 260,00, enquanto o interior registra uma <strong>de</strong> R$ 115,00. Comparan<strong>do</strong><br />

o meio rural e o urbano, observa-se uma renda média mensal<br />

<strong>de</strong> R$ 74,00 para o primeiro, e <strong>de</strong> R$ 162,00 para o segun<strong>do</strong> (AMARAL<br />

FILHO, 2005).<br />

Conforme Bar-el et al. (2002), o probl<strong>em</strong>a é o <strong>de</strong>senvolvimento econômico<br />

<strong>de</strong>sigual entre a Região Metropolitana <strong>de</strong> Fortaleza (RMF) e o<br />

interior, o que t<strong>em</strong> leva<strong>do</strong> à pobreza e a crescentes diferenças econômicas,<br />

além <strong>de</strong>, no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po, provocar inexpressivo <strong>de</strong>senvolvimento<br />

econômico no Esta<strong>do</strong>. O objetivo é encontrar caminhos para combater<br />

essa pobreza e diminuir as diferenças <strong>de</strong> renda, através da criação <strong>de</strong> condições<br />

para o aumento da ativida<strong>de</strong> econômica local.<br />

Observa-se que 13 <strong>do</strong>s 184 municípios <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> são responsáveis por<br />

64,4% da produção cearense e, <strong>de</strong>stes, Fortaleza é responsável por 73,8%<br />

da produção da Região Metropolitana. No que se refere à produção setorial,<br />

cabe <strong>de</strong>stacar que 46,4% da ativida<strong>de</strong> produtiva da região metropolitana<br />

é ligada a indústria enquanto nas d<strong>em</strong>ais regiões é <strong>de</strong> apenas 19,2%.<br />

Em contraste, a ativida<strong>de</strong> agropecuária, que é <strong>de</strong> apenas 1,3% na Região<br />

Metropolitana, representa 15,3% nas d<strong>em</strong>ais regiões.<br />

A distribuição <strong>de</strong> renda per capita no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> no ano 2000,<br />

segun<strong>do</strong> Silveira Neto e Azzoni (2008), além <strong>de</strong> ser bastante concentrada,<br />

é a quinta com menor renda per capita mensal <strong>do</strong> país, on<strong>de</strong> a participação<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> no numero <strong>de</strong> pobres <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste passou <strong>de</strong> 15,98%<br />

para 16,08% <strong>em</strong> 1999. Contu<strong>do</strong>, Monteiro Neto (1977) afirma que, apesar<br />

<strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> ter obti<strong>do</strong> taxas <strong>de</strong> crescimento superiores ao Brasil, fruto <strong>de</strong><br />

políticas governamentais referentes à criação <strong>de</strong> incentivos fiscais e investimentos<br />

<strong>em</strong> infra-estrutura, o Esta<strong>do</strong> não conseguiu reduzir a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> renda per capita, assim como os esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Maranhão, Piauí, Rio<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Norte e Paraíba.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, Barreto et al (2001), ao utilizar o Índice <strong>de</strong> Gini como<br />

medida <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> renda nos Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste, verificou que<br />

o índice no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> teve uma discreta redução (ou tendência à<br />

<strong>de</strong>sconcentrar), passan<strong>do</strong> <strong>de</strong> 0,5851 <strong>em</strong> 1970 para 0,5815 <strong>em</strong> 1999. Embora<br />

que nos anos <strong>de</strong> 1980 e 1991, esse índice esteve superior ao ano <strong>de</strong> 1970.<br />

O IBGE também trás mais indícios <strong>de</strong> que o índice <strong>de</strong> Gini v<strong>em</strong> ganhan<strong>do</strong><br />

força no Esta<strong>do</strong> pois ficou <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 0,6 <strong>em</strong> 1992, enquanto que <strong>em</strong><br />

110


2003, este índice alcançou 0,567 (IBGE, 2006b). 1<br />

Crescimento Econômico e Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda no <strong>Ceará</strong><br />

No intuito <strong>de</strong> investigar <strong>em</strong> maiores <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> que maneira a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> renda v<strong>em</strong> se comportan<strong>do</strong> no esta<strong>do</strong>, e <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à fácil <strong>de</strong>composição<br />

<strong>do</strong> índice <strong>de</strong> Theil, optou-se por utilizá-lo ao invés <strong>do</strong> já referi<strong>do</strong><br />

índice <strong>de</strong> Gini. Tal índice me<strong>de</strong> a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> na distribuição <strong>de</strong> renda<br />

individual, ou a média da renda <strong>do</strong>miciliar per capita e, como foi visto, é<br />

<strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como o logaritmo da razão entre a média aritmética e a geométrica<br />

das rendas, sen<strong>do</strong> nulo quan<strong>do</strong> não existir <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda entre<br />

os indivíduos, s<strong>em</strong>, porém, apresentar um valor <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> para a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

máxima. 2<br />

3. METODOLOGIA<br />

3.1 Mo<strong>de</strong>los Teóricos<br />

3.1.1 Convergência <strong>de</strong> Renda Per capita<br />

A discussão <strong>de</strong> convergência da renda atraiu muitos estudiosos; há<br />

um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> trabalhos <strong>em</strong>píricos que tratam <strong>de</strong>sta questão. Em<br />

outras palavras, a questão <strong>do</strong> crescimento mais rápi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s países (regiões)<br />

mais pobres <strong>do</strong> que os países (regiões) ricos foi exaustivamente discutida<br />

na literatura. Nos trabalhos que tratam <strong>do</strong> t<strong>em</strong>a <strong>de</strong>fin<strong>em</strong>-se três diferentes<br />

tipos <strong>de</strong> convergência: β − convergência condicional, β − convergência<br />

absoluta e σ - convergência<br />

A última interpretação é <strong>de</strong>corrente da idéia <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre<br />

países ten<strong>de</strong> a se reduzir no t<strong>em</strong>po. Este processo é conheci<strong>do</strong> por sigmaconvergência<br />

e faz alusão a redução da variância das rendas per capitas <strong>de</strong><br />

unida<strong>de</strong>s regionais ao longo <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po. Seja σ o <strong>de</strong>svio padrão <strong>do</strong> log (y )<br />

t it<br />

no t<strong>em</strong>po t para as i economias, então, se σ < σ , ou seja, se a dispersão<br />

t + T t<br />

<strong>do</strong>s níveis <strong>de</strong> renda real per capita <strong>de</strong>crescer ao longo <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po, constatasse<br />

a σ - convergência.<br />

Baseada nos retornos <strong>de</strong>crescentes <strong>do</strong> capital no produto, a β − convergência<br />

absoluta sugere que as economias mais pobres tend<strong>em</strong> a<br />

crescer mais rapidamente <strong>do</strong> que as mais ricas, <strong>de</strong> forma que a unida<strong>de</strong><br />

espacial (município) pobre ten<strong>de</strong> a alcançar a rica <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> nível<br />

<strong>de</strong> renda per capita. Este tipo <strong>de</strong> análise foi inicialmente aborda<strong>do</strong><br />

no trabalho s<strong>em</strong>inal <strong>de</strong> Baumol (1986), <strong>em</strong> que se examinou a<br />

1 O mesmo índice para o Brasil, <strong>em</strong> 1992, foi <strong>de</strong> 0,58 e, <strong>em</strong> 2003, foi <strong>de</strong> 0,581.<br />

2 Para seu cálculo, exclu<strong>em</strong>-se <strong>do</strong> universo os indivíduos com renda nula.<br />

111


Davi Oliveira Pontes, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes, Francisca Zilania Mariano, Christiano Penna<br />

convergência <strong>de</strong> renda <strong>de</strong> 16 países industrializa<strong>do</strong>s durante o perío<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> 1870 a 1979. Para tanto, o autor propõe a seguinte regressão:<br />

on<strong>de</strong> In [y t,i ] é logaritmo da renda per capita; ε é o termo <strong>de</strong> erro; i é<br />

o in<strong>de</strong>xa<strong>do</strong>r para os diversos países e, ; on<strong>de</strong> t representa o<br />

perío<strong>do</strong> <strong>em</strong> anos da análise; T é o t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> anos para atingir o esta<strong>do</strong><br />

estacionário, e v é a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> convergência.<br />

Segun<strong>do</strong> Baumol (1986), se existir convergência, o valor <strong>de</strong> β será<br />

negativo, ou seja, os países com renda inicial maior terão menores taxas<br />

<strong>de</strong> crescimento. Com isso, o autor procura mostrar que, ao longo <strong>de</strong> um<br />

perío<strong>do</strong> T, as rendas <strong>do</strong>s diversos países estariam convergin<strong>do</strong> para uma<br />

renda comum entre eles. Portanto, se os países <strong>de</strong> rendas menores cresc<strong>em</strong><br />

mais, a tendência é <strong>de</strong> que, coeteris paribus, tais rendas se igual<strong>em</strong> no<br />

t<strong>em</strong>po. Cabe ressaltar que muito se avançou na discussão sobre convergência<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o trabalho <strong>de</strong> Baumol (1986), todavia, não é o foco <strong>de</strong>ste<br />

trabalho discutir todas as variantes <strong>de</strong>sta linha <strong>de</strong> pesquisa. A estimação<br />

<strong>de</strong> β - convergência possibilita calcular, ainda, a velocida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> convergência, e o t<strong>em</strong>po necessário para que as<br />

economias percorram meta<strong>de</strong> da trajetória até o seu esta<strong>do</strong> estacionário. 3<br />

Deste mo<strong>do</strong>, quanto maior o valor <strong>de</strong> β, afetan<strong>do</strong> a expressão<br />

menor será o t<strong>em</strong>po (<strong>de</strong>fini<strong>do</strong> <strong>em</strong> anos) para que a economia se<br />

aproxime <strong>de</strong> seu esta<strong>do</strong> estacionário.<br />

O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> convergência condicional sugeri<strong>do</strong> por Arbia e Piras<br />

(2005) e Oliveira et al. (2006) para analisar este tipo <strong>de</strong> convergência é<br />

<strong>de</strong>scrito através da seguinte regressão:<br />

<strong>em</strong> que e X t,i representa um vetor <strong>de</strong> variáveis explicativas (<strong>de</strong><br />

controle) que mantém constante o esta<strong>do</strong> estacionário das economias. A<br />

inclusão das variáveis adicionais (variáveis estruturais) vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>do</strong><br />

3 Este é chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> meia-vida e é da<strong>do</strong> por:<br />

112<br />

(1)<br />

(2)


Crescimento Econômico e Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda no <strong>Ceará</strong><br />

tipo <strong>de</strong> analise que se preten<strong>de</strong>. Portanto, neste mo<strong>de</strong>lo abre-se a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> acrescentar outras variáveis explicativas ao mo<strong>de</strong>lo econométrico<br />

<strong>de</strong> crescimento econômico. Estes irão diferenciar os esta<strong>do</strong>s estacionários<br />

e, portanto, permit<strong>em</strong> apenas a existência <strong>de</strong> uma convergência condicional.<br />

Neste caso, <strong>de</strong>ve ser ressalta<strong>do</strong> que se <strong>de</strong>ve ter o cuida<strong>do</strong> <strong>de</strong> não incluir<br />

variáveis explicativas que não tenham um fundamento econômico teórico<br />

que a justifique no mo<strong>de</strong>lo.<br />

3.1.2 CURVA DE KUZNETS<br />

Kuznets (1955) investiga o caráter e as causas <strong>de</strong> mudanças <strong>de</strong> longo<br />

prazo na distribuição pessoal da renda, buscan<strong>do</strong> <strong>de</strong>linear os fatores relevantes<br />

<strong>em</strong> relação ao histórico e às tendências evolutivas da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> renda. Os pressupostos centrais <strong>de</strong> Kuznets são: a renda per capita média<br />

da população rural é menor <strong>do</strong> que a da população urbana, o percentual<br />

da renda <strong>do</strong> setor agrícola sobre a renda total diminui ao longo <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po, e<br />

a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda na população rural é menor <strong>do</strong> que na população<br />

urbana. Assim, o autor concluiu que a migração da população rural para as<br />

áreas urbanas cria <strong>do</strong>is grupos com nível <strong>de</strong> renda distinta, acentuan<strong>do</strong>-se<br />

o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> da socieda<strong>de</strong> como um to<strong>do</strong>. Após uma migração<br />

consi<strong>de</strong>rável da população rural para a região urbana, a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> passa<br />

a cair, pois gran<strong>de</strong> parte da população passa a receber uma renda mais<br />

alta no setor industrial e urbano. Portanto, a transição da área rural para<br />

a urbana geraria uma relação entre <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e <strong>de</strong>senvolvimento no<br />

formato <strong>de</strong> um U inverti<strong>do</strong>, como se po<strong>de</strong> observar na Figura 1:<br />

Gráfico 1 - Curva <strong>de</strong> Kuznets<br />

Kuznets argumenta que o <strong>de</strong>clínio da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> com o cresci-<br />

113


Davi Oliveira Pontes, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes, Francisca Zilania Mariano, Christiano Penna<br />

mento econômico ocorreria porque os indivíduos que nasc<strong>em</strong> <strong>em</strong> centros<br />

urbanos são mais capazes <strong>de</strong> obter maiores rendas <strong>em</strong> relação a indivíduos<br />

“imigrantes” <strong>de</strong> setores agrícolas ou <strong>de</strong> fora <strong>do</strong> país. Outra possibilida<strong>de</strong><br />

citada por Kuznets (1955) é o aumento gradual da eficiência <strong>do</strong>s indivíduos<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao maior t<strong>em</strong>po que passam no cenário urbano.<br />

Kuznets compl<strong>em</strong>enta sua analise argumenta<strong>do</strong> que, <strong>em</strong> estágios<br />

mais iniciais <strong>do</strong> crescimento, é provável a observação <strong>de</strong> condições pouco<br />

favoráveis à população mais pobre, tal como um crescimento mais rápi<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> que o da população rica, o que contribuiria para acentuar a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

neste perío<strong>do</strong>. Já o <strong>de</strong>clínio da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>em</strong> estágios mais avança<strong>do</strong>s<br />

da industrialização po<strong>de</strong> ser justifica<strong>do</strong> também pelo aumento <strong>do</strong><br />

po<strong>de</strong>r político <strong>do</strong>s mais pobres. Estes fariam pressões políticas por uma<br />

melhor distribuição da renda.<br />

Empiricamente, Fields e Jakubson (2001), mostram que to<strong>do</strong>s os países<br />

<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento com alta <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> são países <strong>de</strong> renda média<br />

da América Latina. Isto po<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar que o U-inverti<strong>do</strong> <strong>em</strong> cross-section<br />

não t<strong>em</strong> a ver com o crescimento <strong>em</strong> si, e que a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser<br />

explicada por razões políticas, históricas e culturais, refletin<strong>do</strong> algum tipo<br />

<strong>de</strong> path <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce, <strong>em</strong> que a trajetória específica <strong>de</strong> um país é <strong>de</strong>terminada<br />

por razões <strong>de</strong> condições estruturais iniciais. Bagolin, Gabe e Ribeiro<br />

(2003) também testaram a teoria para os esta<strong>do</strong>s brasileiro com da<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

1970, 1980 e 1991. Para os anos <strong>de</strong> 1980 e 1991 a relação encontrada é<br />

o oposto da esperada, um formato U regular. Julgan<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong> crosssection<br />

um pouco limita<strong>do</strong>, os autores partiram para uma estimação <strong>em</strong><br />

painel, on<strong>de</strong> os resulta<strong>do</strong>s encontra<strong>do</strong>s para os mesmos da<strong>do</strong>s passaram a<br />

indicar uma significativa relação <strong>de</strong> U inverti<strong>do</strong> entre renda municipal per<br />

capitã e a medida <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> (L – Theil). A justificativa para a mudança<br />

nos resulta<strong>do</strong>s encontra<strong>do</strong>s para 1980 e 1991 é que as trajetórias <strong>de</strong><br />

crescimento <strong>do</strong>s municípios estuda<strong>do</strong>s não são parecidas (como captura<strong>do</strong><br />

pela meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> painel) e da<strong>do</strong>s cross-section não viabilizam o estu<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>ssas diferenças.<br />

Em Jacinto e Tajeda (2004) a teoria <strong>de</strong> Kuznets foi testada para os<br />

esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> nor<strong>de</strong>ste brasileiro nos anos <strong>de</strong> 1970-91. Os da<strong>do</strong>s usa<strong>do</strong>s nessa<br />

análise são: renda municipal per capita e índice <strong>de</strong> Theil-L. Os autores<br />

usam os méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s cross-section, pooled cross-section e painel <strong>de</strong><br />

114


Crescimento Econômico e Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda no <strong>Ceará</strong><br />

da<strong>do</strong>s, e suger<strong>em</strong> duas especificações para se testar a valida<strong>de</strong> da hipótese<br />

<strong>de</strong> Kuznets; uma pooled regression e uma segunda com efeitos fixos. A<br />

primeira especificação po<strong>de</strong> ser feita <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que:<br />

(3)<br />

On<strong>de</strong>, Theil é o índice <strong>de</strong> Theil-L; i representa o ín<strong>de</strong>x <strong>de</strong> cada município;<br />

α é o intercepto da regressão; ε representa a renda per capita e;<br />

it<br />

é o termo <strong>de</strong> erro. Note que a condição necessária para a especificação<br />

evi<strong>de</strong>nciar a curva <strong>de</strong> Kuznetz, com formato <strong>de</strong> “U inverti<strong>do</strong>”, é a <strong>de</strong> que<br />

β seja positivo e que β seja negativo.<br />

1 2<br />

A segunda especificação econométrica admite que a parte constante<br />

α é diferente para cada indivíduo, captan<strong>do</strong> diferenças invariantes<br />

no t<strong>em</strong>po (por ex<strong>em</strong>plo, dimensão <strong>do</strong>s municípios, recursos naturais e<br />

outras características que não variam no curto prazo). Esta abordag<strong>em</strong> é<br />

conhecida como mo<strong>de</strong>lo com efeitos fixos e é dada por:<br />

(4)<br />

On<strong>de</strong> α são termos referentes ao efeito fixo <strong>de</strong> cada município e as<br />

i<br />

d<strong>em</strong>ais <strong>de</strong>notações são as mesmas referentes à primeira especificação.<br />

Note que a condição β > 0 e β < 0 ainda t<strong>em</strong> que valer e note também<br />

1 2<br />

que agora t<strong>em</strong>os heterogeneida<strong>de</strong> na parte constante e homogeneida<strong>de</strong> no<br />

<strong>de</strong>clive.<br />

Em to<strong>do</strong>s os testes observam a relação indicada por Kuznets, mas<br />

avalian<strong>do</strong> qual seria a melhor estimativa, através <strong>de</strong> um teste <strong>de</strong> Hausman,<br />

conclu<strong>em</strong> que o procedimento mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> é o uso <strong>do</strong> estima<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />

efeito fixos.<br />

3.2 Índice <strong>de</strong> Theil<br />

O méto<strong>do</strong> a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> para analisar a composição da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

renda no <strong>Ceará</strong> é a <strong>de</strong>composição hierárquica <strong>do</strong> índice <strong>de</strong> disparida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

renda Theil – T. O coeficiente <strong>de</strong> Theil é uma medida muito utilizada para<br />

mensurar a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda, on<strong>de</strong> quanto maior o índice <strong>de</strong> Theil,<br />

maior a concentração <strong>de</strong> renda, porém este índice não possui ponto <strong>de</strong> máximo<br />

<strong>de</strong>fini<strong>do</strong>, como o valor 1 no índice <strong>de</strong> Gini. A vantag<strong>em</strong> na utilização<br />

<strong>de</strong>ste índice resi<strong>de</strong> na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição por subgrupos.<br />

Como d<strong>em</strong>onstra<strong>do</strong> por Shorrocks (1984), os índices <strong>de</strong> entropia <strong>em</strong><br />

115


Davi Oliveira Pontes, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes, Francisca Zilania Mariano, Christiano Penna<br />

geral permit<strong>em</strong> <strong>de</strong>composições aditivas, <strong>de</strong> forma que qualquer índice<br />

<strong>de</strong>sta categoria po<strong>de</strong> ser escrito como uma soma exaustiva <strong>de</strong> sub-índices<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Neste senti<strong>do</strong>, com base na <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> Akita<br />

(2000), 4 que estabelece uma <strong>de</strong>composição <strong>em</strong> três níveis da distribuição<br />

região-província-distrito, este trabalho buscou adaptá-la <strong>em</strong> seis níveis<br />

para área urbana-gênero-raça-ida<strong>de</strong>-educação. Com isso, preten<strong>de</strong>-se observar<br />

os componentes da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda relaciona<strong>do</strong>s a outras<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, a saber: área urbana – metropolitana, não metropolitana;<br />

gênero – masculino e f<strong>em</strong>inino; raça – branco e não-branco; ida<strong>de</strong> – menor<br />

igual a 45 e maior que 45 anos; nível educacional – fundamental, médio e<br />

superior.<br />

3.2.1 Decomposição <strong>do</strong> índice <strong>de</strong> Theil-T<br />

Ao consi<strong>de</strong>rar os cinco fatores menciona<strong>do</strong>s preten<strong>de</strong>-se observar a<br />

importância e contribuição <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les na disparida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda total.<br />

Para tanto, foram utiliza<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s forneci<strong>do</strong>s pela Pesquisa Nacional por<br />

Amostra <strong>de</strong> Domicílios (PNAD) para os anos <strong>de</strong> 1995, 2001 e 2007. Vale<br />

ressaltar que os da<strong>do</strong>s foram filtra<strong>do</strong>s, restringin<strong>do</strong> o total da população<br />

aqui consi<strong>de</strong>rada para indivíduos que resid<strong>em</strong> <strong>em</strong> áreas urbanas, que possu<strong>em</strong><br />

ida<strong>de</strong> a partir <strong>do</strong>s 18 anos e com rendas positivas. Com isso o índice<br />

<strong>de</strong> Theil apresenta a seguinte forma:<br />

Em que Y é a renda <strong>do</strong> indivíduo k da raça r, no grupo j <strong>de</strong><br />

mlrijk<br />

escolarida<strong>de</strong>, <strong>do</strong> gênero l, no grupo i <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, estan<strong>do</strong> na área metropolitana<br />

ou não metropolitana; é a renda agregada e<br />

é o total da população.<br />

A <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda entre os indivíduos resi<strong>de</strong>ntes na área m, T m ,<br />

po<strong>de</strong> ser assim <strong>de</strong>nota<strong>do</strong> pela equação a seguir:<br />

116<br />

Com isso, a primeira equação po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>composta <strong>em</strong>:<br />

4 Apud Salvato e Souza (2007).<br />

(5)<br />

(6)


Crescimento Econômico e Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda no <strong>Ceará</strong><br />

on<strong>de</strong> é o total da renda na área m, N m é o total da<br />

população na área m, T BM = mensura a <strong>de</strong>sigualda-<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda entre as áreas metropolitanas e não metropolitanas e o primeiro<br />

termo representa a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro das áreas, T WM calcula<strong>do</strong> pela<br />

média pon<strong>de</strong>rada <strong>do</strong>s Tm. Dessa forma, t<strong>em</strong>os a primeira <strong>de</strong>composição<br />

<strong>do</strong> índice <strong>de</strong> Theil-T <strong>em</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> intra-área (T WM ) ou seja a que é causada<br />

<strong>de</strong>ntro da área, e a inter-área (T BM ), ou seja a parte da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

causada pelo diferencial <strong>de</strong> área.<br />

Outra etapa da <strong>de</strong>composição <strong>do</strong> índice po<strong>de</strong> ser observada através<br />

<strong>do</strong> T ML , que mostra a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda no gênero l na área m:<br />

<strong>em</strong> que é o total <strong>de</strong> renda <strong>do</strong> gênero masculino<br />

ou f<strong>em</strong>inino na área metropolitana ou não metropolitana,<br />

é o total da população que é <strong>do</strong> sexo masculino ou<br />

f<strong>em</strong>inino na área m. Com isso, a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s indivíduos na área m,<br />

Tm po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>composta da seguinte forma:<br />

(11)<br />

A <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre os gêneros masculinos e f<strong>em</strong>ininos<br />

l na área metropolitana e não metropolitana m é medida por<br />

(7)<br />

(8)<br />

(9)<br />

(10)<br />

.<br />

Observa-se que o primeiro termo da equação (11) representa a <strong>de</strong>-<br />

117


Davi Oliveira Pontes, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes, Francisca Zilania Mariano, Christiano Penna<br />

sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> sexo masculino ou<br />

f<strong>em</strong>inino na área metropolitana ou não metropolitana, ou seja, é a média<br />

pon<strong>de</strong>rada <strong>do</strong>s T ml , o qual refere-se <strong>de</strong> T WLi . Se substituirmos o Tm da equação<br />

(11) no T da equação (4), ter<strong>em</strong>os:<br />

(12)<br />

Po<strong>de</strong>-se observar que o termo <strong>em</strong> colchetes representa a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

inter e intra gêneros para cada área. Logo, o primeiro termo é a média<br />

pon<strong>de</strong>rada para estes efeitos, utilizan<strong>do</strong> as proporções da renda apropriada<br />

pela área m como pon<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>r, apresentan<strong>do</strong> a seguinte forma:<br />

118<br />

(13)<br />

(14)<br />

A equação (14) representa a <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> Theil <strong>em</strong> três componentes:<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> intra gênero (T WL ), <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> inter-gênero (T BL )<br />

e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> inter área (T BM ).<br />

Com isso po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>compor <strong>em</strong> mais níveis, toman<strong>do</strong> o primeiro<br />

termo da equação (10), <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> intra gênero e <strong>de</strong>compon<strong>do</strong>-a por<br />

raça. Define-se T mlr para mensurar a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda para a raça r<br />

<strong>do</strong> gênero masculino ou f<strong>em</strong>inino na área m.<br />

(15)<br />

<strong>em</strong> que é o total <strong>de</strong> renda da raça r <strong>do</strong> gê-<br />

nero l na área m, é o total da população da<br />

raça r <strong>do</strong> gênero l na área m. Com isso, a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s indivíduos<br />

<strong>do</strong> gênero masculino ou f<strong>em</strong>inino na área metropolitana ou<br />

não metropolitana, T ml , po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>composta da seguinte forma:<br />

(16)<br />

(17)<br />

On<strong>de</strong> é a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre as raças r nos gêneros<br />

l na área m. O primeiro termo da equação (16) representa a <strong>de</strong>sigualda-


Crescimento Econômico e Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda no <strong>Ceará</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada raça r nos gêneros l na<br />

área m, ou seja, é a média pon<strong>de</strong>rada <strong>do</strong>s T mlr , o qual refere-se <strong>de</strong> T WRml . Se<br />

substituirmos o T ml da equação (17) no T da equação (13), ter<strong>em</strong>os:<br />

(18)<br />

Po<strong>de</strong>-se observar que o termo <strong>em</strong> colchetes representa a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

inter e intra raças para os gêneros masculino e f<strong>em</strong>inino nas áreas m.<br />

Logo, o primeiro termo é a média pon<strong>de</strong>rada para estes efeitos, utilizan<strong>do</strong><br />

as proporções da renda apropriada pelo gênero l na área m como pon<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>r,<br />

apresentan<strong>do</strong> a seguinte forma:<br />

(19)<br />

A equação (19) representa a <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> Theil <strong>em</strong> quatro componentes:<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> intra raça (T WR ),<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> inter-raça (T BR ), <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

inter-gênero (T BL ) e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> inter área (T BM ).<br />

Com isso po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>compor <strong>em</strong> mais níveis, toman<strong>do</strong> o primeiro<br />

termo da equação (19), <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> intra raça e <strong>de</strong>compon<strong>do</strong>-a por ida<strong>de</strong>.<br />

Define-se T mlri para mensurar a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda para o grupo <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong> i da raça branco ou não-branco, <strong>do</strong> gênero masculino ou f<strong>em</strong>inino<br />

na área m.<br />

(20)<br />

<strong>em</strong> que é o total <strong>de</strong> renda <strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> i da<br />

raça r <strong>do</strong> gênero l na área m, é o total da população <strong>do</strong><br />

grupo <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> i da raça r <strong>do</strong> gênero l na área m. Com isso, a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>s indivíduo da raça r <strong>do</strong> gênero masculino ou f<strong>em</strong>inino na área metropolitana<br />

ou não metropolitana, T ml , po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>composta da seguinte forma:<br />

(21)<br />

(22)<br />

On<strong>de</strong> T BIml = é a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre os grupos<br />

<strong>de</strong> ida<strong>de</strong> i nas raças r nos gêneros l na área m. O primeiro termo da<br />

equação (22) representa a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

119


Davi Oliveira Pontes, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes, Francisca Zilania Mariano, Christiano Penna<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada grupo <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> i raça r nos gêneros l na área m, ou seja, é<br />

a média pon<strong>de</strong>rada <strong>do</strong>s T mlri , o qual refere-se <strong>de</strong> T WImir . Se substituirmos o<br />

T mir da equação (22) no T da equação (20), ter<strong>em</strong>os:<br />

120<br />

(23)<br />

Po<strong>de</strong>-se observar que o termo <strong>em</strong> colchetes representa a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

inter e intra grupos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> para as raças branco e não-brancos<br />

<strong>do</strong>s gêneros masculino e f<strong>em</strong>inino nas áreas m. Logo, o primeiro termo é<br />

a média pon<strong>de</strong>rada para estes efeitos, utilizan<strong>do</strong> as proporções da renda<br />

apropriada pela raça r no gênero l na área m como pon<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>r, apresentan<strong>do</strong><br />

a seguinte forma:<br />

T TWI TBI TBR TBL TBM<br />

(24)<br />

A partir da equação (24) po<strong>de</strong>-se fazer uma outra <strong>de</strong>composição utilizan<strong>do</strong><br />

o primeiro termo da equação (24), a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> intra-ida<strong>de</strong>. Esta<br />

<strong>de</strong>composição será feita <strong>em</strong> componentes intra e inter grupos educacionais.<br />

Utilizar<strong>em</strong>os os grupos fundamental, médio e superior. A <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>s grupos educacionais j nos grupos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> i da raça r <strong>do</strong> gênero l<br />

nas áreas metropolitanas e não-metropolitanas, T , <strong>de</strong>scrito abaixo:<br />

mlrij<br />

<br />

Y Y <br />

Tmlrij<br />

<br />

k<br />

mlrijk mlrijk<br />

ln<br />

<br />

<br />

Y <br />

<br />

<br />

<br />

mlrij Ymlrij / N <br />

mlrij <br />

<strong>em</strong> que Ymlrij Ymlrijk<br />

k<br />

grupo <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> i da raça r <strong>do</strong> gênero l na área m, Nmlrij nmlrijk<br />

k<br />

(25)<br />

é o total <strong>de</strong> renda <strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> educação j <strong>do</strong><br />

é o total<br />

da população <strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> educação j <strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> i da raça r <strong>do</strong><br />

gênero l na área m. Com isso, a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s indivíduo <strong>do</strong> grupo <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong> i da raça r <strong>do</strong> gênero masculino ou f<strong>em</strong>inino na área metropolitana<br />

ou não metropolitana, T , po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>composta da seguinte forma:<br />

mlri<br />

Ymlrij Ymlrij Ymlrij / Nmlrij<br />

<br />

Tmlri Tmlrij <br />

ln <br />

(26)<br />

j Ymlri i Ymlri Ymlri / Nmlri<br />

<br />

Ymlrij <br />

Tmlri Tmlrij<br />

TBE T (27)<br />

mlir WE T<br />

mlri BEmlri<br />

j Ymlri <br />

Ymlrij Ymlrij / Nmlrij<br />

<br />

On<strong>de</strong> T = ln<br />

BEmlr é a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre os<br />

j Ymlri Ymlri / Nmlri


Crescimento Econômico e Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda no <strong>Ceará</strong><br />

grupos educacionais j <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> i nas raças r nos gêneros l na área<br />

m.<br />

Y Ymlrij <br />

mlri<br />

T Tmlrij<br />

TBE T<br />

mlri BI TBR TBL TBM<br />

m l r i Y i Ymlri <br />

(28)<br />

Po<strong>de</strong>-se observar que o termo <strong>em</strong> colchetes representa a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

inter e intra grupos educacionais j <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> i para as raças branco e nãobrancos<br />

<strong>do</strong>s gêneros masculino e f<strong>em</strong>inino nas áreas m. Logo, o primeiro<br />

termo é a média pon<strong>de</strong>rada para estes efeitos, utilizan<strong>do</strong> as proporções da<br />

renda apropriada pela ida<strong>de</strong> i da raça r no gênero l na área m como pon<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>r,<br />

apresentan<strong>do</strong> a seguinte forma:<br />

T TWE TBE TBI TBR TBL TBM<br />

(29)<br />

A equação (29) chega ao objetivo final <strong>de</strong>sta procedimento<br />

meto<strong>do</strong>lógico, que representa a equação <strong>de</strong> Theil-T <strong>em</strong> seis componentes:<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> intra-grupos educacionais, <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> inter-grupos educacionais,<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> inter-grupos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> inter-grupos <strong>de</strong><br />

raça, <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> inter-gênero e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> inter-áreas.<br />

4. RESULTADOS E DISCUSSõES<br />

4.1 Convergência<br />

Um <strong>do</strong>s objetivos propostos por este trabalho é o <strong>de</strong> verificar se está<br />

haven<strong>do</strong> a convergência <strong>de</strong> rendas per capita entre os municípios <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>.<br />

Na falta da renda per capita municipal, foi utilizada como Proxy uma<br />

variável que é <strong>de</strong>finida como a razão entre o somatório da renda familiar<br />

per capita <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>micílios e o número total <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílios no município.<br />

A renda familiar per capita <strong>de</strong> cada <strong>do</strong>micílio é <strong>de</strong>finida como a razão<br />

entre a soma da renda mensal <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os indivíduos da família resi<strong>de</strong>ntes<br />

no <strong>do</strong>micilio e o número <strong>do</strong>s mesmos.<br />

Os da<strong>do</strong>s revelam que o crescimento <strong>do</strong>s 20 municípios com maiores<br />

rendas per capita no ano 2000 <strong>em</strong> relação ao ano <strong>de</strong> 1991, o município com<br />

o nível <strong>de</strong> renda mais eleva<strong>do</strong> é Fortaleza, capital <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, com<br />

renda per capita <strong>em</strong> 1991 <strong>de</strong> R$ 235,77 e <strong>em</strong> 2000 R$ 306,70, um aumento<br />

percentual <strong>de</strong> 30,09%, segui<strong>do</strong> pelo município <strong>de</strong> Crato e o <strong>de</strong> menor crescimento<br />

<strong>de</strong> renda per capita foi Russas. Dentre os municípios <strong>de</strong> menor<br />

renda per capita, o município <strong>de</strong> Graça foi o que teve o melhor <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pe-<br />

121


Davi Oliveira Pontes, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes, Francisca Zilania Mariano, Christiano Penna<br />

nho com renda <strong>de</strong> R$ 31,23 <strong>em</strong> 1991 para R$ 52,57 <strong>em</strong> 2000, aumento<br />

<strong>de</strong> 68,32%. Um resumo <strong>do</strong> que vêm ocorren<strong>do</strong> nos municípios cearenses<br />

po<strong>de</strong> ser visto no gráfico a seguir:<br />

Gráfico 2 - Renda per Capita <strong>do</strong>s Municípios <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (<strong>em</strong> R$ 2000)<br />

Fonte: Levantamento Censitário <strong>do</strong> IBGE 1991, 2000.<br />

No gráfico 1 constata-se que, <strong>em</strong> termos reais, a média da renda familiar<br />

per capita v<strong>em</strong> crescen<strong>do</strong> <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os municípios. Os da<strong>do</strong>s revelam<br />

que o <strong>de</strong>svio padrão <strong>do</strong> log <strong>de</strong>stas variáveis é <strong>de</strong>crescente ao longo <strong>do</strong><br />

t<strong>em</strong>po (0,297051 <strong>em</strong> 1991 contra 0,269775 <strong>em</strong> 2000), ou seja, há evi<strong>de</strong>ncia<br />

<strong>de</strong> sigma-convergência.<br />

Da<strong>do</strong> o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> municípios e heterogeneida<strong>de</strong> entre<br />

os mesmos, para analisar se tais rendas estariam convergin<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong><br />

da β − convergência estimou-se a regressão (2) utilizan<strong>do</strong> como<br />

variável condicionante <strong>de</strong> esta<strong>do</strong> estacionário o índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano municipal (IDH, 2000). Os resulta<strong>do</strong>s são os que se<br />

segu<strong>em</strong>:<br />

Tabela 1 - Resulta<strong>do</strong>s da Estimação da Regressão (2)<br />

VARIÁVEIS COEFICIENTE P-VALOR<br />

C 0.3992 0.0095<br />

LOG(Y1991) -0.6268 0.0000<br />

IDH2000 3.9133 0.0000<br />

F-statistic 93.9393 0.0000<br />

R2 Fonte: Cálculos <strong>do</strong>s autores.<br />

0.5093<br />

A equação estimada indica ser estatisticamente confiável, haja vista<br />

a significância medida pelo p-valor da estatística F. As estatísticas individuais<br />

também suger<strong>em</strong> que a hipótese nula <strong>de</strong> que os coeficientes são,<br />

individualmente, iguais a zero também <strong>de</strong>ve ser rejeitada para um nível <strong>de</strong><br />

significância <strong>de</strong> 5%. Como β − 0, as estimativas revelam, portanto, que se<br />

122


Crescimento Econômico e Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda no <strong>Ceará</strong><br />

t<strong>em</strong> evidência <strong>de</strong> β − convergência condicional; ou seja, mesmo se os esta<strong>do</strong>s<br />

estacionários for<strong>em</strong> distintos para os municípios cearenses, a média da<br />

renda familiar per capita v<strong>em</strong> convergin<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po.<br />

4.1.1 Curva <strong>de</strong> Kuznets<br />

Como explica<strong>do</strong> anteriormente, a Hipótese <strong>de</strong> Kuznets para a relação<br />

entre <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e a evolução da renda per capita <strong>em</strong> economias com<br />

baixo nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> é baixa, pois existe pouco<br />

a ser distribuí<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> o crescimento econômico se acelera e a economia<br />

passa para um estágio mais <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>, as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s aumentam<br />

e só irão diminuir quan<strong>do</strong> uma fase avançada <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

for alcançada.<br />

No intuito <strong>de</strong> testar a hipótese <strong>de</strong> Kuznets seguiu-se a análise <strong>de</strong> Jacinto<br />

e Tajeda (2004) e estimou-se as regressões 3 e 4. Antes <strong>de</strong> apresentar os<br />

resulta<strong>do</strong>s, é necessário que se averigúe se o efeito fixo é relevante. Viu-se<br />

que se o p-valor for relativamente pequeno no teste <strong>de</strong> Hausman, isto é, se<br />

F stat > F (N−1, NT − N − k) , então <strong>de</strong>ve-se rejeitar o mo<strong>de</strong>lo com constante comum;<br />

como no nosso caso o p-valor para o teste é próximo <strong>de</strong> zero, o mo<strong>de</strong>lo<br />

com efeitos fixos é o mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>.<br />

Dada as diferenças e o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> municípios, é <strong>de</strong> se esperar<br />

que haja, além <strong>do</strong> efeito fixo, heterocedasticida<strong>de</strong> nas seções transversais5 . Neste caso, a condução apropriada para corrigir o probl<strong>em</strong>a seria, portanto,<br />

introduzir pesos cross-section e estimar a equação (4) através <strong>de</strong><br />

Mínimos Quadra<strong>do</strong>s Pon<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s Generaliza<strong>do</strong>, cujos resulta<strong>do</strong>s encontram-se<br />

na tabela 2.<br />

Tabela 2 - Resulta<strong>do</strong>s da Estimação da Equação (4)<br />

VARIÁVEIS COEFICIENTE P-VALOR<br />

C 0.1927 0.0000<br />

RPC 0.0061 0.0000<br />

RPC2 ESTATÍSTICAS<br />

-1.54E-05 0.0000<br />

F 3235.246<br />

R2 0.7145<br />

DW<br />

Fonte: Cálculos <strong>do</strong>s autores.<br />

Nota: RPC = Renda per Capita<br />

3.95 0.0000<br />

5<br />

A aplicação <strong>do</strong> teste F para igualda<strong>de</strong> entre as variâncias nos <strong>do</strong>is subgrupos <strong>do</strong>s resíduos gera uma estatística<br />

<strong>de</strong> teste igual a 1,6492 com p-valor próximo <strong>de</strong> zero.<br />

123


Davi Oliveira Pontes, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes, Francisca Zilania Mariano, Christiano Penna<br />

As estimativas individuais suger<strong>em</strong> que to<strong>do</strong>s os parâmetros são<br />

estatisticamente significantes ( p-valores menores que 5% e estatística t<br />

maiores que 2). Também vê-se que o mo<strong>de</strong>lo está b<strong>em</strong> ajusta<strong>do</strong>, pois o R2 indica que os da<strong>do</strong>s explicam aproximadamente 70% <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo e, além<br />

disso, a estatística F nos revela que a Hipótese nula <strong>de</strong> que to<strong>do</strong>s os coeficientes<br />

são iguais a zero <strong>de</strong>ve ser rejeitada. A estatística <strong>de</strong> DW próxima<br />

<strong>de</strong> 4 indica correlação negativa entre os resíduos. Entretanto, ten<strong>do</strong><br />

<strong>em</strong> vista que uma das principais fontes <strong>de</strong> autocorrelação é a omissão <strong>de</strong><br />

variáveis relevantes no mo<strong>de</strong>lo, não foram encontradas tais variáveis <strong>em</strong><br />

âmbito municipal para análise.<br />

Note que a condição β > 0 e β > 0 é atendida, ou seja, t<strong>em</strong>os in-<br />

1 2<br />

dícios <strong>do</strong> “U inverti<strong>do</strong>” preconiza<strong>do</strong> pela curva <strong>de</strong> Kuznets. Para elucidar<br />

este fato, tomaram-se os índices <strong>de</strong> Theil indica<strong>do</strong>s pelas estimativas,<br />

Theilit 6 , e juntamente com a renda per capita municipal (polinômio <strong>de</strong> se-<br />

gun<strong>do</strong> grau) computou-se o gráfico 2.<br />

De acor<strong>do</strong> com este gráfico, po<strong>de</strong> ser observa<strong>do</strong> que existe o formato<br />

<strong>de</strong> “U inverti<strong>do</strong>” proposto por Kuznets (1955); a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> aumenta na<br />

medida <strong>em</strong> que os municípios cresc<strong>em</strong> até um “turning-point”, a partir <strong>do</strong><br />

qual a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> na distribuição da renda começa a reduzir-se. A renda<br />

per capita necessária para se chegar neste “turning point” é dada por<br />

*<br />

RPC ˆ2 . ˆ<br />

0 1<br />

199.9943 , ou seja, o mo<strong>de</strong>lo e a teoria suger<strong>em</strong> que a<br />

partir <strong>de</strong> uma renda per capita <strong>de</strong> R$ 200,00 a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda nos<br />

municípios cearenses ten<strong>de</strong> a diminuir.<br />

Esse trabalho está <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com as análises realizadas por<br />

Salvato et al. (2006), que estudam os municípios <strong>de</strong> Minas Gerais, Jacinto<br />

e Tejada (2004), que estudam municípios da região nor<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Brasil, e<br />

Bêrni, Marquetti e Kloeckner (2002) e Bagolin, Gabe e Ribeiro (2004),<br />

que estudam municípios <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul. Em geral, estes estu<strong>do</strong>s<br />

encontram evidências favoráveis à hipótese <strong>de</strong> U inverti<strong>do</strong>.<br />

6 2<br />

Theil ˆ ˆ<br />

it i 1RPCit <br />

2RPCit<br />

124<br />

ˆ ˆ


4.2 Índice <strong>de</strong> Theil<br />

Crescimento Econômico e Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda no <strong>Ceará</strong><br />

Gráfico 3 - Curva <strong>de</strong> Kuznets Estimada<br />

4.2.1 Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda Urbana no <strong>Ceará</strong><br />

Através <strong>do</strong> Índice <strong>de</strong> Theil-T po<strong>de</strong>-se observar a evolução <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> renda <strong>em</strong> áreas urbanas existente no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, para os anos<br />

<strong>de</strong> 1995, 2001 e 2007, conforme mostrada na tabela 3.<br />

Tabela 3 - Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda no <strong>Ceará</strong> – 1995 - 2007<br />

Fonte: Cálculos <strong>do</strong>s autores.<br />

ANO DESIGUALDADE NO CEARÁ<br />

1995 0,7566<br />

2001 0,7946<br />

2007 0,5898<br />

Observa-se que se comparamos 1995 e 2001, t<strong>em</strong>-se um aumento<br />

<strong>de</strong> 5% na <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, porém entre 2001<br />

e 2007, o índice reduziu aproximadamente 28% e ao longo <strong>do</strong> perío<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> 1995-2007, a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> apresentou uma redução <strong>de</strong> 22%. Apesar<br />

<strong>de</strong> apresentar um <strong>de</strong>créscimo <strong>em</strong> 2007, a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> no <strong>Ceará</strong> ainda é<br />

consi<strong>de</strong>rada alta, uma vez que se situa acima da média nacional 7 . Por isso<br />

este trabalho busca explicá-la através <strong>de</strong> cinco fatores, área, gênero, raça,<br />

ida<strong>de</strong> e educação.<br />

A tabela 4 mostra a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda para as áreas metropoli-<br />

7 Resulta<strong>do</strong> este advin<strong>do</strong> da comparação com os encontra<strong>do</strong>s por Solvato e Souza (2007) para<br />

regiões brasileira, os quais utilizam o mesmo índice.<br />

125


Davi Oliveira Pontes, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes, Francisca Zilania Mariano, Christiano Penna<br />

tanas e não metropolitanas, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as categorias <strong>de</strong> raça, gênero,<br />

ida<strong>de</strong> e educação. Com isso, po<strong>de</strong>-se observar a diferença da concentração<br />

<strong>de</strong> renda entre homens e mulheres para área metropolitana e interior <strong>do</strong><br />

<strong>Ceará</strong>. Po<strong>de</strong>-se constatar que a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre homens é maior que a<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre mulheres para as duas áreas <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os anos, exceto<br />

<strong>em</strong> 1995, que a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre mulheres foi maior <strong>em</strong> 1,6%. Em 2001,<br />

a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre homens era 17% maior que a observada entre as mulheres,<br />

diminuin<strong>do</strong> para 3% <strong>em</strong> 2007, para áreas metropolitanas. Referente<br />

a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> presente no interior, a diferença <strong>em</strong> 1995 foi <strong>de</strong> 4,5%, aumentan<strong>do</strong><br />

para 6% <strong>em</strong> 2001 e para 13% <strong>em</strong> 2007.<br />

Tabela 4 - Índice <strong>de</strong> Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda <strong>de</strong> Theil,<br />

por Categoria, nas Áreas Urbanas da região Metropolitana<br />

e <strong>do</strong> Interior <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> nos Anos 1995, 2001 e 2007.<br />

126<br />

Categorias<br />

Metro<br />

1995<br />

Interior Metro<br />

2001<br />

Interior Metro<br />

2007<br />

Interior<br />

HOMEM <br />

<br />

MULHER<br />

0,7061<br />

0,7176<br />

0,7522<br />

0,7196<br />

0,8145<br />

0,6975<br />

0,4779<br />

0,4501<br />

0,5748<br />

0,5601<br />

0,4924<br />

0,4357<br />

BRANCA<br />

RAÇA <br />

NÃO<br />

BRANCA<br />

18<br />

- 45 ANOS<br />

IDADE <br />

><br />

45 ANOS<br />

0,7431<br />

0,6365<br />

0,6396<br />

0,8400<br />

0,8889<br />

0,6300<br />

0,7889<br />

0,7717<br />

0,7918<br />

0,7232<br />

0,6581<br />

0,8958<br />

0,5017<br />

0,4622<br />

0,5452<br />

0,3938<br />

0,6182<br />

0,5086<br />

0,4935<br />

0,6381<br />

0,5664<br />

0,3845<br />

0,4699<br />

0,4767<br />

GÊNERO<br />

<br />

<br />

<br />

FUNDAMENTAL<br />

EDUCAÇÃO MÉDIO<br />

SUPERIOR<br />

Fonte: Cálculos <strong>do</strong>s autores.<br />

0,3987 0,4145 0,3817 0,3335 0,3693 0,3769<br />

0,5049 0,5827 0,3747 0,4372 0,4284 0,3943<br />

0,5938 0,8325 0,6863 0,5232 0,4623 0,4196<br />

Outro fator importante é a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> causada pela diferença entre<br />

raças, on<strong>de</strong> neste trabalho foi consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> apenas <strong>do</strong>is grupos <strong>de</strong> raça para<br />

fazer a análise <strong>do</strong> Índice <strong>de</strong> Theil, brancos e não brancos. A queda na <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

no perío<strong>do</strong> é observada nas duas áreas <strong>em</strong> estu<strong>do</strong>, b<strong>em</strong> como<br />

o fato <strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> brancos apresentar<strong>em</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> maior que o grupo<br />

<strong>do</strong>s não brancos. Nas áreas metropolitanas a redução foi <strong>de</strong> aproximadamente<br />

17% e 20% para os brancos e para os não brancos, respectivamente,<br />

enquanto que nas áreas urbanas <strong>do</strong> interior os respectivos percentuais foram<br />

<strong>de</strong> 36% e 40%.<br />

Ao comparar as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s existentes entre indivíduos com ida<strong>de</strong><br />

na faixa 18-45 anos com aqueles acima <strong>de</strong> 45 anos, constatou-se haver<br />

maior <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre indivíduos com maiores ida<strong>de</strong> nas áreas metropolitanas<br />

para to<strong>do</strong>s os anos, <strong>em</strong>bora com tendência <strong>de</strong>clinante <strong>do</strong> diferencial<br />

<strong>em</strong> 1995 e 2001. Porém, no interior, ocorreu o oposto na <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>.


Crescimento Econômico e Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda no <strong>Ceará</strong><br />

Em 2007, o diferencial <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> para o interior se reduziu para <strong>de</strong><br />

apenas 1,4%.<br />

Vale ressaltar que, no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1995-2007, houve mesma redução<br />

no índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> nos <strong>do</strong>is grupos <strong>de</strong>ntro das áreas metropolitanas,<br />

<strong>de</strong> aproximadamente 23%, fato s<strong>em</strong>elhante po<strong>de</strong> ser observa<strong>do</strong> nas<br />

áreas <strong>do</strong> interior, on<strong>de</strong> a redução foi <strong>de</strong> 40% para indivíduos entre 18 e 45<br />

anos e 38% para pessoas com mais <strong>de</strong> 45 anos.<br />

O nível educacional é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s fatores mais importante<br />

na <strong>de</strong>terminação da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda. Ao analisar a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

através <strong>de</strong> três níveis <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> <strong>em</strong> 1995-2007 – fundamental, médio<br />

e superior – observa-se que quanto maior o grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, maior a<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> grupo; além disso, indivíduos que possu<strong>em</strong> ensino<br />

superior apresentam maior índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> nas áreas metropolitanas<br />

e interior. Cabe notar que a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> reduziu nos três níveis <strong>de</strong><br />

escolarida<strong>de</strong>, com maior intensida<strong>de</strong> nas áreas situadas no interior, <strong>em</strong><br />

especial no nível superior com redução <strong>de</strong> aproximadamente, 50%.<br />

4.2.2 Decomposição da Desigualda<strong>de</strong> no <strong>Ceará</strong><br />

Como mostra<strong>do</strong> anteriormente, a disparida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda individual no<br />

<strong>Ceará</strong> po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>composta <strong>em</strong> níveis <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as variáveis utilizadas:<br />

área urbana, gênero, ida<strong>de</strong>, raça e educacão. Esses fatores levam a<br />

<strong>de</strong>composição <strong>do</strong> índice <strong>de</strong> Theil <strong>em</strong> seis níveis.<br />

A tabela a seguir revela uma gran<strong>de</strong> influência da educação sobre<br />

a concentração da renda, uma vez que o fator causa<strong>do</strong> pela diferença <strong>de</strong><br />

nível educacional, o fator inter-educacional, é responsável por aproximadamente<br />

28% da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda estadual, ou seja, entre os fatoresinter<br />

que mostram a diferença entre os grupos, o fator inter-educação é o<br />

fator que t<strong>em</strong> o maior impacto sobre a disparida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda.<br />

Tabela 5 - Decomposição da Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

<strong>em</strong> 5 Fatores: Intra e Inter Níveis Educacionais, Inter-ida<strong>de</strong>,<br />

Inter-racial, Inter-gênero, Inter-área, nos Anos 1995, 2001 e 2007<br />

Categorias<br />

Educação<br />

inter inter<br />

Ida<strong>de</strong><br />

inter<br />

Raça<br />

inter<br />

Gênero<br />

inter<br />

Área Urb.<br />

inter<br />

Total<br />

<strong>Ceará</strong><br />

1995<br />

0,4209<br />

(55,63%)<br />

0,2248<br />

(29,72%)<br />

0,0196<br />

(2,59%)<br />

0,0374<br />

(4,94%)<br />

0,0395<br />

(5,22%)<br />

0,0144<br />

(1,90%)<br />

0,7566<br />

(100%)<br />

2001<br />

0,467<br />

(58,8%)<br />

0,1947<br />

(24,5%)<br />

0,0317<br />

(3,98%)<br />

0,031<br />

(3,89%)<br />

0,023<br />

(2,89%)<br />

0,0472<br />

(5,94%)<br />

0,7946<br />

(100%)<br />

2007<br />

0,3278<br />

(55,58%)<br />

0,1699<br />

(28,81%)<br />

0,0263<br />

(4,46%)<br />

0,0261<br />

(4,42%)<br />

0,0168<br />

(2,85%)<br />

0,0229<br />

(3,88%)<br />

0,5898<br />

(100%)<br />

Média 56,67% 27,68% 3,67% 4,42% 3,65% 3,91% 100%<br />

Fonte: Cálculos <strong>do</strong>s autores.<br />

127


Davi Oliveira Pontes, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes, Francisca Zilania Mariano, Christiano Penna<br />

Em relação aos d<strong>em</strong>ais fatores, percebe-se que a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> inter-raça<br />

t<strong>em</strong> a segunda maior influência sobre a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> explican<strong>do</strong><br />

aproximadamente 4,5% da concentração <strong>de</strong> renda. Os d<strong>em</strong>ais fatores: urbano,<br />

ida<strong>de</strong> e gênero <strong>de</strong>notam percentuais <strong>de</strong> participação relativamente<br />

próximos, <strong>de</strong>ste mo<strong>do</strong>, cada uma <strong>de</strong>stas variáveis explica aproximadamente<br />

3,6% da disparida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda.<br />

O componente intra-educação apresentou uma média <strong>de</strong> 56,67%, no<br />

perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1995-2007, isto sugere que além <strong>do</strong> fator área, gênero, raça,<br />

ida<strong>de</strong> e anos <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, exist<strong>em</strong> outros fatores não i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s neste<br />

trabalho que explicam mais da meta<strong>de</strong> da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda.<br />

No que se refere ao componente intra-grupos das d<strong>em</strong>ais variáveis,<br />

uma síntese po<strong>de</strong> ser observada na tabela a seguir, indican<strong>do</strong> que a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

intra-grupos vai se reduzin<strong>do</strong> conforme vão se incluin<strong>do</strong> mais<br />

variáveis explicativas.<br />

128<br />

Tabela 6 - Síntese da Decomposição <strong>do</strong> Índice Theil T<br />

para Desigualda<strong>de</strong> Intra-grupos.<br />

Ano Área Gênero Raça Ida<strong>de</strong> Educação<br />

1995<br />

0,7422<br />

(98,1%)<br />

0,7027<br />

(92,87%)<br />

0,6653<br />

(87,93%)<br />

0,6457<br />

(85,35%)<br />

0,4209<br />

(55,63%)<br />

2001<br />

0,7474<br />

(94,05%)<br />

0,7244<br />

(91,16%)<br />

0,6934<br />

(87,26%)<br />

0,6617<br />

(83,27%)<br />

0,467<br />

(58,8%)<br />

2007<br />

0,5669<br />

(96,1%)<br />

0,5501<br />

(93,27%)<br />

0,5240<br />

(88,84%)<br />

0,4977<br />

(84,38%)<br />

0,3278<br />

(55,58%)<br />

Média 96,08% 92,43% 88,01% 84,33% 56,67%<br />

Fonte: Cálculos <strong>do</strong>s autores.<br />

Nota: Ord<strong>em</strong> <strong>de</strong> inclusão das variáveis: (1) Área Urbana, (2) Gênero, (3) Raça, (4) Ida<strong>de</strong><br />

e (5) Educação.<br />

CONCLUSõES<br />

Este trabalho levanta evi<strong>de</strong>ncias <strong>em</strong>píricas sobre a relação entre <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> renda, <strong>de</strong>senvolvimento econômico e crescimento econômico<br />

para o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, através da utilização <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los teóricos<br />

encontra<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ntro da literatura, tais como: convergência absoluta, curva<br />

<strong>de</strong> Kuznets e Índice <strong>de</strong> Theil.<br />

Conforme se pô<strong>de</strong> observar, há evidência <strong>de</strong> convergência da taxa <strong>de</strong>


Crescimento Econômico e Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda no <strong>Ceará</strong><br />

crescimento da renda per capita <strong>do</strong>s municípios cearenses. Este fenômeno<br />

<strong>de</strong>ve ser interpreta<strong>do</strong> <strong>de</strong> maneira positiva, pois sugere que os municípios<br />

menos <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s estão “alcançan<strong>do</strong>” os municípios mais <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s.<br />

Uma análise direta <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res socioeconômicos das regiões<br />

cearenses também revela que o <strong>de</strong>senvolvimento parece vir progredin<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> maneira uniforme. Deste mo<strong>do</strong>, parece haver indícios <strong>de</strong> que as disparida<strong>de</strong>s<br />

que assolam o <strong>Ceará</strong> tend<strong>em</strong> a se reduzir.<br />

Com base na curva <strong>de</strong> Kuznets, constatou-se que as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

ainda tend<strong>em</strong> a aumentar até que a renda per capita <strong>do</strong>s municípios atinjam<br />

o valor estima<strong>do</strong> <strong>de</strong> R$ 200,00; a partir daí, nossa análise sugere que haverá<br />

uma reversão nesta relação, ou seja, a ampliação da renda per capita<br />

ten<strong>de</strong>ria a proporcionar maior equida<strong>de</strong>.<br />

Analisan<strong>do</strong> os índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda para o esta<strong>do</strong> como<br />

um to<strong>do</strong>, esta tendência parece se concretizar, entretanto, quan<strong>do</strong> o foco é<br />

o âmbito municipal constata-se, contrariamente à análise estadual, que a<br />

concentração <strong>de</strong> renda v<strong>em</strong> aumentan<strong>do</strong>. Como <strong>de</strong> 1991 para 2000 o índice<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Theil apresentou um pior <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho para aproximadamente<br />

80% <strong>do</strong>s municípios cearenses, torna-se relevante investigar<br />

quais as causas que contribu<strong>em</strong> para o aumento da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>.<br />

Esta investigação foi feita através da <strong>de</strong>composição <strong>do</strong> índice <strong>de</strong><br />

Theil com base na proposta <strong>de</strong> Akita (2000). A partir <strong>de</strong>sta análise, foi<br />

constata<strong>do</strong> que a educação é uma variável que influencia fort<strong>em</strong>ente a<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda: para os anos <strong>de</strong> 1995, 2001 e 2007, on<strong>de</strong> o peso relativo<br />

<strong>de</strong>sta variável explica, <strong>em</strong> média, 27,68% da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda.<br />

Já variáveis como raça, gênero, ida<strong>de</strong> e área explicam, cada uma, aproximadamente<br />

3,91% da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> observada. Um fato extr<strong>em</strong>amente<br />

relevante, ainda nesta análise, é o <strong>de</strong> que, ao longo <strong>do</strong>s anos, a educação<br />

v<strong>em</strong> benefician<strong>do</strong> mais o interior <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> que a região metropolitana<br />

no que diz respeito à redução das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

AMARAL FILHO, J. Reestruturação espacial no <strong>Ceará</strong>. In: REUNIÃO<br />

ANUAL DA SBPC, 57, 2005, Fortaleza. Anais... Fortaleza: Universida<strong>de</strong><br />

Estadual <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, 2005. 3p.<br />

ARBIA, G.; PIRAS, G. Convergence in per capita GDP across European<br />

regions using data mo<strong>de</strong>ls exten<strong>de</strong>d to spatial autocorrelation<br />

effects. Roma, Italy: Institute for Studies and Economic Analyses (ISAE),<br />

129


Davi Oliveira Pontes, Ronal<strong>do</strong> A. Arraes, Francisca Zilania Mariano, Christiano Penna<br />

2005. 33 p. (Working paper, 51).<br />

BAGOLIN, I. P.; GABE, J.; RIBEIRO, I.P. Crescimento e Desigualda<strong>de</strong><br />

no Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul: uma revisão da Curva <strong>de</strong> Kuznets para os municípios<br />

gaúchos (1970-1991). Mimeo, 2003<br />

BAR-EL, R. Reduzin<strong>do</strong> a pobreza através <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico<br />

<strong>do</strong> interior <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>. Fortaleza: Edições Oplance, 2002. 158 p.<br />

BARRETO, F.A.F.D., JORGE NETO, P.M.; TEBALDI, E. Desigualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> renda e crescimento econômico no nor<strong>de</strong>ste brasileiro. Revista Econômica<br />

<strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste. v.32, n.Especial, p. 842-859, 2001.<br />

BAUMOL, W.J. Productivity, convergence and welfare: what the log-run<br />

data show. American Economic Review, v. 76, n.5, p. 1072-1085, 1986.<br />

COELHO, A.M.; CORSEUIL, C.H. Diferenciais salariais no Brasil: um<br />

breve panorama. Rio <strong>de</strong> Janeiro:IPEA, ago.2002.26p (Texto para discussão,898)<br />

FERREIRA, F. H.G.; LITCHFIEL, J. A. Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pobreza e b<strong>em</strong><br />

estar no Brasil – 1981/95. In: HENRIGUES, RICARDO (ORG). Desigualda<strong>de</strong><br />

e pobreza no Brasil. Rio Janeiro: IPEA, 2000.<br />

FILDS,G.S. e JAKUBSON,G.H. New evi<strong>de</strong>nce on the Kuznets curve.<br />

(Mimeo). Cornell University.1994<br />

FISHLOW, ALBERT. Brazilian size distribution of income. American<br />

Economic Review. v.62, n.2, p.391-402, maio 1972.<br />

FURTADO, C. Formação econômica <strong>do</strong> Brasil. São Paulo: Nacional,<br />

6.ed. 1967.<br />

GREMALD,A.P.;VASCONCELOS,M.A.S.;TONETO JUNIOR,R. <strong>Economia</strong><br />

brasileira cont<strong>em</strong>porânea. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2002. 626p.<br />

HOFFMAN, R.; J.B. DUARTE. A distribuição da Renda no Brasil, Revista<br />

<strong>de</strong> Administração <strong>de</strong> Empresa, v.2, p 46-66. 1972<br />

HOFFMAN, R. Distribuição <strong>de</strong> renda e crescimento econômico. Estu<strong>do</strong>s<br />

Avança<strong>do</strong>s, v.15, n.41, p.67-76, 2001<br />

HOFFMANN, Ro<strong>do</strong>lfo. Distribuição <strong>de</strong> renda medidas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

e pobreza. São Paulo: Edusp, 1998.<br />

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE).<br />

Censo d<strong>em</strong>ográfico 1991, 2000: Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2002a.<br />

JACINTO , P.A., TEJADA, C. A. O. Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda e Crescimento<br />

Econômico nos Municípios da Região Nor<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Brasil: O que<br />

os da<strong>do</strong>s têm a dizer? Mimeo, 2004<br />

130


Crescimento Econômico e Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Renda no <strong>Ceará</strong><br />

LANGONI, C.G. Ditribuição <strong>de</strong> renda e <strong>de</strong>senvolvimento econômico<br />

<strong>do</strong> Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Expressão e Cultura, 1973<br />

LOPES, J.L. Avaliação <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> convergência da produtivida<strong>de</strong><br />

da terra na agricultura brasileira no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1960 a 2001. (Tese <strong>de</strong><br />

Doutora<strong>do</strong>). São Paulo: ESALQ/USP, 2004 (mimeo)<br />

MENDONÇA, R. S. P.; BARROS, R. P.. Os <strong>de</strong>terminantes da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro:IPEA, 1995.(Texto para discussão, 377)<br />

MENEZES, T.; AZZONI, C.R. Convergência <strong>de</strong> renda real e nominal<br />

entre as regiões metropolitanas brasileiras: uma análise <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

painel. N<strong>em</strong>esis, 2003. 17 p.<br />

MONTEIRO NETO, A. Desigualda<strong>de</strong>s setoriais e crescimento <strong>do</strong> PIB<br />

no Nor<strong>de</strong>ste: uma análise <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> 1970/1995. Brasília: IPEA, 1997. 32<br />

p. (Texto para Discussão, 484).<br />

OLIVEIRA, C. Crescimento econômico das cida<strong>de</strong>s nor<strong>de</strong>stinas: um enfoque<br />

da nova geografia econômica. Revista Econômica <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste.<br />

Fortaleza: v.3, 2004.<br />

PESSOA, S.; FERREIRA, P.C.; OLIVEIRA, L.G. Por que o Brasil não<br />

Precisa <strong>de</strong> Política Industrial. Ensaios Econômicos. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

EPGE, n. 644, Mar, 2007<br />

RAMOS, Lauro; REIS, José Guilherme Almeida. Emprego no Brasil nos<br />

anos 90. (Texto para discussão, 468). Rio <strong>de</strong> Janeiro: IPEA, 1997<br />

SILVA, A.M.A.; RESENDE, G.M. Crescimento econômico compara<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s municípios alagoanos e mineiros: uma análise especial. Brasília:<br />

IPEA, 2006. 31 p. (Texto para discussão, 1162).<br />

SILVEIRA NETO, R. M.; AZZONI,C.A. Non-Spatial Public Policies<br />

and Regional Income Inequality In Brazil. VIII Word Conference of<br />

the Regional Science Association Internacional. São Paulo: p.17, 2008.<br />

SHORROCKS, A.F. Inequality <strong>de</strong>composition by population subgroups.<br />

Econometrica, v.52, p.1369-1386, 1984.<br />

WANG YAN. Melhoran<strong>do</strong> a distribuição <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s. In.: THO-<br />

MAS, Vinod ET AL. A qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> crescimento. Tradução Élcio Fernan<strong>de</strong>s.<br />

São Paulo: UNESP, 2001. cap. 3 p.51-58.<br />

131


Carla Conceição <strong>de</strong> Lima Silva, Wellington Ribeiro Justo<br />

RESUMO<br />

132<br />

DETERMINANTES<br />

DA MORTALIDADE INFANTIL<br />

NO CEARÁ NO PERÍODO 1991-2000:<br />

UMA ABORDAGEM EM DADOS<br />

EM PAINEL<br />

Carla Conceição <strong>de</strong> Lima Silva *<br />

Wellington Ribeiro Justo **<br />

A <strong>de</strong>speito da diminuição da taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil (TMI) no<br />

<strong>Ceará</strong> entre 1991 e 2000 correspon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> uma redução <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 32%,<br />

ainda assim, encontrava-se elevada comparada aos padrões internacionais.<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste artigo é analisar e mensurar os <strong>de</strong>terminantes da<br />

TMI. Através <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> painel foram estima<strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los econométricos<br />

com efeito fixo. Os resulta<strong>do</strong>s apontaram que as variáveis educacionais<br />

e intensida<strong>de</strong> da pobreza apresentaram maiores impactos na redução<br />

da TMI seguidas da taxa <strong>de</strong> fecundida<strong>de</strong> e coleta <strong>de</strong> lixo. Evi<strong>de</strong>ncia-se,<br />

assim a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ações conjuntas <strong>de</strong> políticas públicas nas esferas:<br />

fe<strong>de</strong>ral estadual e municipal para redução <strong>de</strong>ste indica<strong>do</strong>r.<br />

Palavras-Chave: Taxa <strong>de</strong> Mortalida<strong>de</strong> Infantil; Da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Painel, Fatores<br />

Socioeconômicos, <strong>Ceará</strong>.<br />

AbstrAct<br />

Despite the <strong>de</strong>cline in infant mortality rate (IMR) in <strong>Ceará</strong> between<br />

1991 and 2000 representing a reduction of 32%, nevertheless, was high<br />

compared to international standards. The aim of this paper is to analyze<br />

and measure the <strong>de</strong>terminants of IMR. Were estimated econometric mo<strong>de</strong>ls<br />

with panel data by Fixed Effects. The results showed that the educational<br />

variables and intensity of poverty had greater impact in reducing the<br />

IMR followed the fertility rate and garbage collect. It is evi<strong>de</strong>nt, therefore,<br />

the necessity of joint actions of public policies in the spheres: fe<strong>de</strong>ral, state<br />

....................................................<br />

* Economista da Universida<strong>de</strong> Regional <strong>do</strong> Cariri (URCA).<br />

** Doutor <strong>em</strong> <strong>Economia</strong> PIMES/UFPE, Professor <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> <strong>Economia</strong> da URCA e Pesquisa<strong>do</strong>r da FUN CAP.


Determinantes da Mortalida<strong>de</strong> Infantil no <strong>Ceará</strong> no Perío<strong>do</strong> 1991-2000:<br />

Uma Abordag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Painel<br />

and municipal governments to reduce this indicator. fe<strong>de</strong>ral, state and municipal<br />

governments to reduce this indicator.<br />

Key Words: Infant Mortality Rate, Panel Data, Socioeconomic Factors,<br />

<strong>Ceará</strong>.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>do</strong>s seres humanos está diretamente ligada à<br />

água, pois ela é utilizada para o funcionamento a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> <strong>de</strong> seu organismo,<br />

higiene das pessoas, preparo <strong>de</strong> alimentos, limpeza das residências e<br />

utensílios. A água usada para abastecimento <strong>do</strong>méstico <strong>de</strong>ve apresentar<br />

características sanitárias e toxicológicas a<strong>de</strong>quadas, <strong>de</strong>ve estar isenta <strong>de</strong><br />

organismos patogênicos1 e <strong>de</strong> substâncias tóxicas, para prevenir danos à<br />

saú<strong>de</strong> da população e favorecer o b<strong>em</strong> estar das pessoas (RAMIRO, 2007).<br />

A qualida<strong>de</strong> da água para consumo humano é muito importante para<br />

a prevenção e controle <strong>de</strong> inúmeras <strong>do</strong>enças infecto-contagiosas, b<strong>em</strong><br />

como, <strong>do</strong>enças relacionadas com a ingestão <strong>de</strong> produtos/substâncias químicas<br />

presentes na água seja <strong>de</strong> forma natural ou introduzida <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a<br />

ativida<strong>de</strong>s humanas ou ainda conseqüências <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> tratamento<br />

utiliza<strong>do</strong> na potabilização da água (CARMO, 2005).<br />

Em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, aproximadamente 1,1 bilhão <strong>de</strong> pessoas não possu<strong>em</strong><br />

acesso à água potável e cerca <strong>de</strong> 2,4 bilhões <strong>de</strong> pessoas conviv<strong>em</strong><br />

com estruturas <strong>de</strong> saneamento ina<strong>de</strong>quadas. Como resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssas condições<br />

precárias <strong>de</strong> saneamento e acesso à água <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, quase 3,8<br />

milhões <strong>de</strong> crianças morr<strong>em</strong>, a cada ano, <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças <strong>de</strong> veiculação hídrica,<br />

ou seja, aquelas que têm sua transmissão relacionada com a água<br />

(BRASIL, 2006).<br />

Gran<strong>de</strong> parte das <strong>do</strong>enças que ocorr<strong>em</strong> no Brasil é proveniente da<br />

água <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> inapropriada para o <strong>de</strong>stino a que são submetidas.<br />

As <strong>do</strong>enças <strong>de</strong> transmissão hídricas mais comuns são: febre tifói<strong>de</strong> e<br />

paratifói<strong>de</strong>, cólera, disenteria bacilar e amebiana, esquistossomíase, hepatite<br />

infecciosa, giardíase e criptosporidíase. Outras <strong>do</strong>enças, <strong>de</strong>nominadas<br />

<strong>de</strong> orig<strong>em</strong> hídrica, inclu<strong>em</strong> a metah<strong>em</strong>oglobin<strong>em</strong>ia, as cáries <strong>de</strong>ntárias,<br />

fluorose, saturnismo. Além <strong>de</strong>sses males, exist<strong>em</strong> outros tipos <strong>de</strong><br />

substâncias tóxicas que pod<strong>em</strong> promover danos à saú<strong>de</strong> humana por esta-<br />

1 Os Organismos patogênicos são aqueles que transmit<strong>em</strong> <strong>do</strong>enças pela ingestão ou contato com<br />

água contaminada como bactérias, vírus, parasitas e protozoários.<br />

133


Carla Conceição <strong>de</strong> Lima Silva, Wellington Ribeiro Justo<br />

r<strong>em</strong> presente na água <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> um tratamento ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> ou mesmo a falta<br />

<strong>de</strong> tratamento, seja pela ingestão <strong>de</strong> água contaminada com o agente transmissor<br />

seja pelo seu contato com a pele <strong>do</strong> ser humano (SPERLING,1995).<br />

No Brasil, as <strong>do</strong>enças transmitidas pela água são responsáveis por<br />

mais da meta<strong>de</strong> das internações hospitalares e por quase a meta<strong>de</strong> das<br />

mortes <strong>de</strong> crianças até um ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Uma das formas <strong>de</strong> melhorar<br />

esses índices é a ampliação <strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong> saneamento básico (abastecimento<br />

<strong>de</strong> água e esgotamento sanitário) nos municípios <strong>do</strong> país, pois a<br />

poluição, a <strong>de</strong>gradação ambiental, a crescente d<strong>em</strong>anda e o <strong>de</strong>sperdício<br />

têm diminuí<strong>do</strong> intensamente a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água limpa.<br />

No país, mais <strong>de</strong> 90% <strong>do</strong>s esgotos <strong>do</strong>mésticos e cerca <strong>de</strong> 70% <strong>do</strong>s<br />

efluentes industriais são lança<strong>do</strong>s diretamente nos corpos <strong>de</strong> água, s<strong>em</strong><br />

qualquer tipo <strong>de</strong> tratamento. Como conseqüência, os corpos <strong>de</strong> água das<br />

regiões brasileiras mais <strong>de</strong>nsamente povoadas encontram-se praticamente<br />

“mortos”, s<strong>em</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>purar<strong>em</strong> efluentes (BRASIL, 2006).<br />

Em uma cida<strong>de</strong> exist<strong>em</strong> diversos tipos <strong>de</strong> esgotos, com suas características<br />

varian<strong>do</strong> <strong>em</strong> função <strong>do</strong>s usos da água. Por ex<strong>em</strong>plo, têm-se os<br />

esgotos industriais, diferentes para vários tipos <strong>de</strong> fábricas, os esgotos<br />

hospitalares e os esgotos <strong>do</strong>mésticos.<br />

Segun<strong>do</strong> Costa (2003), os esgotos <strong>do</strong>mésticos ou sanitários contêm<br />

cerca <strong>de</strong> 99,9% <strong>de</strong> água e apenas 0,1% <strong>de</strong> sóli<strong>do</strong>s orgânicos e inorgânicos,<br />

e têm composição conhecida, com algumas variações, <strong>em</strong> função das características<br />

da cida<strong>de</strong>, <strong>do</strong> clima, da situação econômica e <strong>do</strong>s hábitos da<br />

população, entre outros fatores.<br />

Os esgotos <strong>do</strong>mésticos carreiam <strong>de</strong>jetos <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> humana, os quais<br />

pod<strong>em</strong> conter microrganismos patogênicos. A matéria orgânica presente<br />

nesses esgotos, quan<strong>do</strong> introduzida nos mananciais, provoca o consumo<br />

<strong>do</strong> oxigênio dissolvi<strong>do</strong> na água, com impactos sobre a vida aquática. Os<br />

esgotos industriais, além da matéria orgânica, pod<strong>em</strong> conter substâncias<br />

químicas tóxicas ao hom<strong>em</strong> e outros animais.<br />

De acor<strong>do</strong> com o <strong>Instituto</strong> Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística IBGE<br />

(2000), 97,9% <strong>do</strong>s municípios brasileiros têm serviço <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong><br />

água; 78,6% têm serviço <strong>de</strong> drenag<strong>em</strong> urbana, 99,4% têm coleta <strong>de</strong> lixo e<br />

52,2% <strong>do</strong>s municípios têm re<strong>de</strong> coletora <strong>de</strong> esgotos, sen<strong>do</strong> este, portanto,<br />

o serviço que apresenta a menor taxa <strong>de</strong> atendimento à população. Dos<br />

134


Determinantes da Mortalida<strong>de</strong> Infantil no <strong>Ceará</strong> no Perío<strong>do</strong> 1991-2000:<br />

Uma Abordag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Painel<br />

47,8% municípios que não têm coleta <strong>de</strong> esgoto, o Norte é a região com<br />

a maior proporção <strong>de</strong> municípios s<strong>em</strong> coleta (92,9%), segui<strong>do</strong> <strong>do</strong> Centro-<br />

Oeste (82,1%), <strong>do</strong> Sul (61,1%), <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste (57,1%) e <strong>do</strong> Su<strong>de</strong>ste (7,1%).<br />

Nesses casos, os principais receptores <strong>do</strong> esgoto in natura não coleta<strong>do</strong><br />

são os rios e mares, comprometen<strong>do</strong> a qualida<strong>de</strong> da água utilizada para<br />

abastecimento, irrigação e recreação.<br />

Com base nos da<strong>do</strong>s forneci<strong>do</strong>s pelo IBGE (op. cit), no Brasil, <strong>do</strong>s<br />

52,2% <strong>do</strong>s municípios que têm esgotamento sanitário, 32,0% têm serviço<br />

<strong>de</strong> coleta e 20,2% coletam e tratam o esgoto. Em volume, no país, diariamente,<br />

14,5 milhões m3 <strong>de</strong> esgoto são coleta<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> que 5,1 milhões m3 são trata<strong>do</strong>s. Ou seja, <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o esgoto coleta<strong>do</strong> no país, aproximadamente<br />

65% é lança<strong>do</strong> s<strong>em</strong> nenhum tipo <strong>de</strong> tratamento nos corpos receptores. O<br />

Su<strong>de</strong>ste é a região que t<strong>em</strong> a maior proporção <strong>de</strong> municípios com esgoto<br />

coleta<strong>do</strong> e trata<strong>do</strong> (33,1%), segui<strong>do</strong> <strong>do</strong> Sul (21,7%), Nor<strong>de</strong>ste (13,3%),<br />

Centro-Oeste (12,3%) e Norte (3,6%).<br />

Nos municípios, ainda segun<strong>do</strong> o IBGE (2000), a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

serviços presta<strong>do</strong>s se repete: quanto maior a população <strong>do</strong> município,<br />

maior a proporção <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílios com serviço <strong>de</strong> esgoto. Os municípios<br />

com mais <strong>de</strong> 300.000 habitantes têm quase três vezes mais <strong>do</strong>micílios liga<strong>do</strong>s<br />

à re<strong>de</strong> geral <strong>de</strong> esgoto <strong>do</strong> que os <strong>do</strong>micílios <strong>em</strong> municípios com população<br />

até 20.000 habitantes. Nos extr<strong>em</strong>os, t<strong>em</strong>-se, por ex<strong>em</strong>plo, a cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Baurú, <strong>em</strong> São Paulo, com uma população <strong>de</strong> 316.064. Dos 108.677<br />

<strong>do</strong>micílios existentes, 97.079 (89,33%) estão liga<strong>do</strong>s à re<strong>de</strong> geral <strong>de</strong> esgoto.<br />

Já o município <strong>de</strong> Pocrane, <strong>em</strong> Minas Gerais, a população é <strong>de</strong> 9.851<br />

e exist<strong>em</strong> 3.509 <strong>do</strong>micílios, sen<strong>do</strong> que somente 5 (0,14%) estão liga<strong>do</strong>s à<br />

re<strong>de</strong> geral <strong>de</strong> esgoto.<br />

A falta <strong>de</strong> educação, conscientização e interesse da população e <strong>do</strong><br />

po<strong>de</strong>r público ten<strong>de</strong> a dificultar os esforços no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nar o tratamento<br />

e a disposição final <strong>do</strong>s esgotos <strong>do</strong>mésticos. É <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância<br />

mostrar as responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada um, propor alterações nas formas <strong>de</strong><br />

conduta das pessoas, com intuito <strong>de</strong> estimular a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> novos valores<br />

<strong>em</strong> relação ao meio ambiente e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das pessoas (FÉLIX,<br />

2001).<br />

Mesmo com tantas comprovações existentes sobre o assunto, o mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que o Brasil a<strong>do</strong>tou ao longo <strong>do</strong>s anos é muito<br />

135


Carla Conceição <strong>de</strong> Lima Silva, Wellington Ribeiro Justo<br />

exclu<strong>de</strong>nte e concentra<strong>do</strong>r <strong>de</strong> renda, <strong>do</strong>s recursos e serviços, <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminadas<br />

regiões e estratos sociais. O resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssas políticas po<strong>de</strong> ser visualiza<strong>do</strong><br />

a partir da variável mortalida<strong>de</strong> infantil que aponta para os riscos<br />

<strong>de</strong> morte entre crianças menores <strong>de</strong> cinco anos que varia sensivelmente<br />

segun<strong>do</strong> a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida no que se refere à nutrição, abastecimento<br />

<strong>de</strong> água e esgotamento sanitário, assim como a serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (IBGE,<br />

1999).<br />

No entanto, as mo<strong>de</strong>radas quedas da mortalida<strong>de</strong> infantil no perío<strong>do</strong><br />

recente levam a enten<strong>de</strong>r melhor as causas <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>clínio. Segun<strong>do</strong> informações<br />

sobre a renda da PNAD -96, 2 58% da população economicamente<br />

ativa (PEA) brasileira ganhava menos <strong>de</strong> <strong>do</strong>is salários mínimos, subin<strong>do</strong> a<br />

79% no Nor<strong>de</strong>ste e baixan<strong>do</strong> para 46% no Su<strong>de</strong>ste. Entretanto, apenas 1%<br />

da PEA nor<strong>de</strong>stina que ganhava mais <strong>de</strong> 20 salários mínimos se apropriava<br />

<strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 15% <strong>do</strong> total da renda da região. No Su<strong>de</strong>ste, a repartição da<br />

renda, <strong>em</strong>bora bastante <strong>de</strong>sigual, não chega a essa situação crítica como<br />

a existente no Nor<strong>de</strong>ste. Por isso, uma parcela significativa da pobreza no<br />

Brasil está concentrada no Nor<strong>de</strong>ste, o que alia<strong>do</strong> à ausência <strong>de</strong> outros<br />

serviços básicos, é um obstáculo importante às reduções mais efetivas nos<br />

níveis <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> na região (IBGE, op. cit.).<br />

A educação t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> a variável chave na obtenção <strong>de</strong> quedas consistentes<br />

na mortalida<strong>de</strong> infantil, <strong>em</strong> qualquer lugar <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, pois, quanto<br />

maior a percepção, por parte das mulheres mais instruídas, nos cuida<strong>do</strong>s<br />

com seus filhos, no acesso aos serviços básicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, menores são os<br />

índices <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil, porém, <strong>em</strong> regiões como o Nor<strong>de</strong>ste brasileiro<br />

on<strong>de</strong> exist<strong>em</strong> níveis eleva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> analfabetismo esse fato repercute<br />

nos índices <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil. No Nor<strong>de</strong>ste mais <strong>de</strong> 35% das mulheres<br />

entre 15 e 49 anos são consi<strong>de</strong>radas analfabetas funcionais (menos<br />

<strong>de</strong> três anos <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>) enquanto, no Su<strong>de</strong>ste, esta cifra situa-se <strong>em</strong><br />

torno <strong>de</strong> 15%.<br />

Esses altos níveis <strong>de</strong> analfabetismo no Nor<strong>de</strong>ste estão sen<strong>do</strong> refleti<strong>do</strong>s<br />

nos altos índices <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil que pod<strong>em</strong> ser ex<strong>em</strong>plifica<strong>do</strong>s<br />

quan<strong>do</strong> analisa a situação <strong>do</strong> saneamento nessa região, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> que <strong>em</strong> 2005 atingiu a marca <strong>de</strong> 91,5% para a taxa<br />

urbana <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água, teve um crescimento mínimo <strong>de</strong> apenas<br />

2,23% <strong>em</strong> relação ao ano <strong>de</strong> 2004, on<strong>de</strong> registrou um valor <strong>de</strong> 89,50%.<br />

Esse aumento ocorreu <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à utilização <strong>de</strong> políticas que tinham com<br />

2 Pesquisa Nacional por Amostra <strong>de</strong> Domicílios<br />

136


Determinantes da Mortalida<strong>de</strong> Infantil no <strong>Ceará</strong> no Perío<strong>do</strong> 1991-2000:<br />

Uma Abordag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Painel<br />

objetivo ampliar o fornecimento <strong>de</strong> água, visan<strong>do</strong> melhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida da população e o combate às <strong>do</strong>enças <strong>de</strong> veiculação hídrica e por conseqüência<br />

uma redução no índice <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil (<strong>IPECE</strong>, 2008).<br />

Ainda segun<strong>do</strong> o <strong>IPECE</strong> (2008), à taxa <strong>de</strong> cobertura urbana <strong>do</strong> esgotamento<br />

sanitário o crescimento relativo foi <strong>de</strong> 45,28%, on<strong>de</strong> se tinha no<br />

ano <strong>de</strong> 2004 um percentual igual a 25,40% passan<strong>do</strong> para 36,90% no ano<br />

<strong>de</strong> 2005, revelan<strong>do</strong> uma pequena melhora. No entanto, apesar <strong>do</strong> crescimento,<br />

a taxa <strong>de</strong> cobertura <strong>de</strong> esgotamento sanitário ainda é ainda muito<br />

baixa, necessitan<strong>do</strong> assim <strong>de</strong> um maior aprofundamento das políticas <strong>de</strong><br />

expansão da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> esgotos no esta<strong>do</strong> no intuito <strong>de</strong> aumentar o<br />

percentual <strong>de</strong> cobertura trazen<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta forma benefícios para a população<br />

nas áreas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, saneamento e meio-ambiente.<br />

A partir das informações apresentadas po<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r melhor a<br />

situação atual da TMI e os <strong>de</strong>terminantes <strong>em</strong> to<strong>do</strong> o país e mais especificamente<br />

no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> que será o foco <strong>de</strong>ste artigo.<br />

Trabalhos como Men<strong>do</strong>nça e Seroa da Mota (2005), Irffi et all (2008)<br />

entre outros têm mostra<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>s a respeito <strong>do</strong>s <strong>de</strong>terminantes da mortalida<strong>de</strong><br />

infantil no Brasil e no <strong>Ceará</strong>. Ainda assim, esse trabalho v<strong>em</strong> a<br />

contribuir com a literatura ao incluir na análise outras variáveis que explicam<br />

a TMI, assim como discutir e aprofundar as discussões e apontar<br />

possíveis falhas <strong>de</strong> interpretação nos mo<strong>de</strong>los econométricos estima<strong>do</strong>s<br />

na literatura.<br />

Dentro <strong>de</strong>sta perspectiva o presente artigo t<strong>em</strong> como objetivo Mensurar<br />

os <strong>de</strong>terminantes socioeconômicos da mortalida<strong>de</strong> infantil no esta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> no Perío<strong>do</strong> 1991-2000.<br />

O artigo está dividi<strong>do</strong> <strong>em</strong> mais três seções além <strong>de</strong>sta introdução.<br />

Na segunda seção apresenta-se a meto<strong>do</strong>logia, da<strong>do</strong>s e as variáveis e uma<br />

breve revisão da literatura. Na terceira seção são apontadas as evidências<br />

iniciais e os resulta<strong>do</strong>s das estimações <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los econométricos. Finalmente<br />

a ultima seção traz as consi<strong>de</strong>rações finais.<br />

137


Carla Conceição <strong>de</strong> Lima Silva, Wellington Ribeiro Justo<br />

2. METODOLOGIA<br />

2.1 Revisão <strong>de</strong> literatura<br />

A complexida<strong>de</strong> e as exigências da vida, nos t<strong>em</strong>pos mo<strong>de</strong>rnos, estão<br />

cada vez mais afetan<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma direta os seres que habitam o planeta,<br />

b<strong>em</strong> como propician<strong>do</strong> a redução <strong>de</strong>scontrolada <strong>do</strong>s recursos naturais<br />

existentes. O uso irregular <strong>do</strong>s recursos hídricos, a sua contaminação e poluição<br />

por fatores externos (lançamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>jetos humanos, industriais,<br />

agro-químicos, etc.) vêm <strong>de</strong> forma gradativa <strong>de</strong>gradan<strong>do</strong> a qualida<strong>de</strong> das<br />

águas, ten<strong>do</strong> como principal conseqüência à diss<strong>em</strong>inação <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças <strong>de</strong><br />

veiculação hídrica (IBAMA, 2004).<br />

Para Carmo (2005), o setor <strong>de</strong> saneamento é um <strong>do</strong>s principais usuários<br />

da água, cujo principal insumo é a água bruta (21% da d<strong>em</strong>anda <strong>de</strong><br />

água no país). Esta utilização reveste-se <strong>de</strong> uma particularida<strong>de</strong> importante,<br />

na medida <strong>em</strong> que implica <strong>em</strong> mudança substantiva na qualida<strong>de</strong><br />

das águas utilizadas. No Brasil, o setor capta água bruta e <strong>de</strong>volve para<br />

os corpos hídricos, esgotos sanitários e, na gran<strong>de</strong> maioria <strong>do</strong>s casos, s<strong>em</strong><br />

qualquer tipo <strong>de</strong> tratamento, o que se constitui no principal fator <strong>de</strong> poluição<br />

<strong>do</strong>s rios nacionais, sobretu<strong>do</strong> aqueles que drenam as áreas urbanas<br />

brasileiras <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional. Por isso, os serviços <strong>de</strong><br />

saneamento são essenciais à vida, com fortes impactos sobre a saú<strong>de</strong> da<br />

população e o meio ambiente. Partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> princípio <strong>de</strong> que o saneamento<br />

é um importante alia<strong>do</strong> na melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>do</strong> indivíduo.<br />

Boa parte da população brasileira resi<strong>de</strong> <strong>em</strong> locais on<strong>de</strong> as condições<br />

<strong>de</strong> saneamento são precárias ou inexistentes. Devi<strong>do</strong> à falta <strong>de</strong> saneamento<br />

e condições mínimas <strong>de</strong> higiene, a população fica sujeita a diversos tipos<br />

<strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong>s. No Brasil são verifica<strong>do</strong>s altos índices <strong>de</strong> internações<br />

hospitalares pela carência <strong>de</strong> saneamento, <strong>em</strong> particular nas regiões Norte<br />

e Nor<strong>de</strong>ste. O probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mais comum associada à água poluída<br />

por esgotos é a gastrenterite, que po<strong>de</strong> apresentar vários sintomas como<br />

enjôo, vômitos, <strong>do</strong>res <strong>de</strong> estômago, diarréia e febre, e pod<strong>em</strong> levar o indivíduo,<br />

principalmente as crianças, à <strong>de</strong>sidratação (MENDONÇA, 2004).<br />

To<strong>do</strong>s esses fatores nocivos repercut<strong>em</strong> sobre a saú<strong>de</strong> da população,<br />

causan<strong>do</strong> diminuição da produtivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalho, o que por sua vez gera<br />

perda no produto da economia. Além disso, observa-se que a parcela da<br />

população sujeita à falta <strong>de</strong> saneamento resi<strong>de</strong> <strong>em</strong> locais impróprios para<br />

138


Determinantes da Mortalida<strong>de</strong> Infantil no <strong>Ceará</strong> no Perío<strong>do</strong> 1991-2000:<br />

Uma Abordag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Painel<br />

habitação, como nas encostas <strong>do</strong>s morros e nas margens <strong>do</strong>s rios. Isso<br />

traz como conseqüência, <strong>em</strong> princípio, a <strong>de</strong>terioração das áreas <strong>de</strong> floresta<br />

urbana e a poluição <strong>do</strong>s rios, que também se traduz<strong>em</strong> <strong>em</strong> perdas econômicas,<br />

com um valor mínimo da<strong>do</strong> pelo custo <strong>de</strong> reposição das condições<br />

anteriores à referida <strong>de</strong>gradação.<br />

Para se ter uma gestão governamental eficiente e eficaz é importante<br />

investigar que fatores <strong>de</strong>terminam a d<strong>em</strong>anda por saneamento, pois não é<br />

suficiente ampliar a oferta <strong>de</strong> serviços a menos que os agentes econômicos<br />

apreci<strong>em</strong> os reais benefícios relaciona<strong>do</strong>s a esta expansão.<br />

Por ex<strong>em</strong>plo, um lugar on<strong>de</strong> o nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> seja baixo e o<br />

governo <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> <strong>em</strong> primeiro lugar ampliar a oferta <strong>de</strong> saneamento é possível<br />

que os agentes não respondam <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> pleno as novas formas <strong>de</strong><br />

coleta e tratamento <strong>do</strong>s esgotos continuan<strong>do</strong> a utilizar as mesmas formas<br />

precárias ou mesmo pelo fato que os agentes ainda estejam muito liga<strong>do</strong>s<br />

a fatores <strong>de</strong> herança familiar. Neste caso, as políticas <strong>de</strong> saneamento<br />

a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong>veriam envolver a educação ambiental num primeiro estágio.<br />

Diferent<strong>em</strong>ente, no caso on<strong>de</strong> a renda seja uma variável fundamental,<br />

políticas como redistribuição <strong>de</strong> renda, ou ainda o simples aumento <strong>do</strong>s<br />

serviços po<strong>de</strong>riam alcançar os objetivos <strong>de</strong>seja<strong>do</strong>s. Assim, conhecen<strong>do</strong> os<br />

<strong>de</strong>terminantes da d<strong>em</strong>anda, é possível minimizar o custo <strong>de</strong> expansão <strong>do</strong>s<br />

serviços <strong>de</strong> saneamento, asseguran<strong>do</strong> ao mesmo t<strong>em</strong>po sua eficácia.<br />

Apesar <strong>do</strong> aumento significativo verifica<strong>do</strong> na oferta <strong>do</strong>s serviços<br />

nas últimas décadas, persiste uma d<strong>em</strong>anda da população que ainda não<br />

estão sen<strong>do</strong> atendi<strong>do</strong>, especialmente nos extratos sociais <strong>de</strong> renda mais<br />

baixa, localiza<strong>do</strong>s nas periferias <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s, nos menores municípios,<br />

nas pequenas localida<strong>de</strong>s e na área rural.<br />

É <strong>de</strong> conhecimento geral que o nível <strong>de</strong> sobrevivência humana <strong>em</strong><br />

qualquer ida<strong>de</strong> encontra-se fort<strong>em</strong>ente associa<strong>do</strong> a fatores socioeconômicos,<br />

ambientais e culturais <strong>em</strong> função da repercussão causada por eles nas<br />

condições <strong>de</strong> vida da população. Sabe-se também que são exatamente os<br />

grupos etários infantis os mais afeta<strong>do</strong>s por essas repercussões (FORMI-<br />

GA, 2002).<br />

Nos estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil segun<strong>do</strong> fatores socioeconômicos,<br />

é necessário <strong>de</strong>finir, inicialmente, os fatores a ser<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s.<br />

Po<strong>de</strong>-se observar que os mais comuns são renda e educação, mas<br />

outras variáveis disponíveis pod<strong>em</strong> ser também utilizadas. Saad (1984),<br />

139


Carla Conceição <strong>de</strong> Lima Silva, Wellington Ribeiro Justo<br />

por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> estu<strong>do</strong> para estimar o peso <strong>de</strong> fatores socioeconômicos<br />

sobre a mortalida<strong>de</strong> infantil para o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo, trabalhou com<br />

três variáveis: a renda familiar, a educação da mãe e as instalações sanitárias.<br />

A opção pela renda familiar fundamenta-se no fato <strong>de</strong> ela apresentar<br />

uma relação direta com a sobrevivência da criança. A educação da mãe,<br />

por sua vez, é uma das mais utilizadas <strong>em</strong> estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ssa natureza e estaria<br />

refletin<strong>do</strong> o acesso diferencial à educação nos diferentes estratos sociais.<br />

As instalações sanitárias traduz<strong>em</strong> a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> consumo coletivo <strong>de</strong><br />

serviços públicos.<br />

Wood e Carvalho (1994) traduz<strong>em</strong> a relação entre escolarida<strong>de</strong> e<br />

mortalida<strong>de</strong> da seguinte forma: A mortalida<strong>de</strong> está inversamente ligada<br />

à alfabetização e ao número <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>. Esta relação é especialmente<br />

forte entre a educação da mãe e a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que seus<br />

filhos sobrevivam até o quinto aniversário.<br />

Dessas colocações reforçam a idéia da gran<strong>de</strong> inter-relação existente<br />

entre os fatores socioeconômicos, evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong> que melhores níveis educacionais<br />

encontram-se invariavelmente associa<strong>do</strong>s a melhores níveis <strong>de</strong><br />

renda e maior acesso aos serviços públicos coletivos como saú<strong>de</strong> e saneamento.<br />

Destaca-se, sobretu<strong>do</strong>, a importância da educação materna para a<br />

sobrevivência da criança, uma vez que um maior nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> da<br />

mãe permite uma melhor compreensão da importância <strong>do</strong>s hábitos <strong>de</strong> higiene,<br />

b<strong>em</strong> como uma melhor compreensão das orientações médicas com<br />

vistas à saú<strong>de</strong> infantil.<br />

Essas são evidências que, até hoje, continuam presentes na realida<strong>de</strong><br />

brasileira, sen<strong>do</strong> até mais realçadas <strong>em</strong> regiões como a Norte e a Nor<strong>de</strong>ste,<br />

pelas gran<strong>de</strong>s disparida<strong>de</strong>s sociais existentes no país, marca<strong>do</strong> por gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> na distribuição <strong>de</strong> renda e diferencia<strong>do</strong> acesso aos recursos<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, saneamento e educação.<br />

O Brasil sen<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s participantes da Declaração <strong>do</strong> Milênio, promovida<br />

pela Organização das Nações Unidas, que trata <strong>do</strong>s Objetivos <strong>do</strong><br />

Milênio, possui um conjunto <strong>de</strong> metas <strong>em</strong> diferentes áreas <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano, como redução da pobreza e erradicação da fome, que<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser alcançadas até 2015. Com este foco, Araujo Jr, Gomes e Salvato<br />

(2006) investigaram se existe alguma externalida<strong>de</strong> positiva entre as<br />

diferentes metas. Mais precisamente, eles investigam <strong>em</strong> que medida o<br />

aumento da educação, uma das metas, po<strong>de</strong> contribuir para o alcance <strong>de</strong><br />

140


Determinantes da Mortalida<strong>de</strong> Infantil no <strong>Ceará</strong> no Perío<strong>do</strong> 1991-2000:<br />

Uma Abordag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Painel<br />

outras metas: redução da pobreza e diminuição das disparida<strong>de</strong>s social.<br />

Após as estimações <strong>do</strong>s <strong>de</strong>terminantes da mortalida<strong>de</strong> infantil, esten<strong>de</strong>ram<br />

essa análise questionan<strong>do</strong> que medidas <strong>de</strong> educação gerarão reduções<br />

da mortalida<strong>de</strong> infantil, até o ano <strong>de</strong> 2015.<br />

Para Christiaensen e Al<strong>de</strong>rman (2004), explicam da seguinte forma:<br />

De um mo<strong>do</strong> geral, o nível educacional da mãe é um fator crucial <strong>em</strong> qualquer<br />

política pública na obtenção <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s positivos <strong>de</strong> combate ao<br />

probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> má nutrição, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a três aspectos: educação formal transfere<br />

conhecimentos sobre saú<strong>de</strong> para a mãe, a educação adquirida aumenta<br />

as chances da mãe realizar diagnóstico e os tratamentos, o maior contato<br />

com a educação formal po<strong>de</strong> tornar a mãe mais receptiva quanto a técnicas<br />

mo<strong>de</strong>rnas da medicina. Além disso, exist<strong>em</strong> evidências <strong>de</strong> que o uso <strong>de</strong><br />

práticas simples <strong>de</strong> higiene nas residências é uma importante ferramenta<br />

no combate a mortalida<strong>de</strong> infantil, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> servir como uma medida paliativa<br />

da pobreza e da baixa educação da mãe (GOMES, 2006).<br />

Para Carvalho e Sawyer (1978), <strong>de</strong>ntre os indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida <strong>de</strong> uma população, os índices <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>, particularmente os<br />

da mortalida<strong>de</strong> infantil, são amplamente utiliza<strong>do</strong>s para estudar os efeitos<br />

das variações socioeconômicas sobre a população.<br />

Em diferentes socieda<strong>de</strong>s e ao longo <strong>de</strong> décadas o direito à vida e à<br />

saú<strong>de</strong> das crianças v<strong>em</strong> sen<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um direito básico. A mobilização<br />

social <strong>em</strong> busca da redução das taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil (TMI)<br />

t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> um fator prepon<strong>de</strong>rante no fortalecimento das ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

pública, promoven<strong>do</strong> políticas <strong>de</strong> saneamento, programas <strong>de</strong> nutrição, <strong>de</strong><br />

assistência e promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Segun<strong>do</strong> a Organização Pan-americana <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OPAS), a América<br />

Latina e o Caribe apresentaram avanços significativos nos principais indica<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na última década, incluin<strong>do</strong> saú<strong>de</strong> infantil. Entretanto,<br />

quan<strong>do</strong> são analisa<strong>do</strong>s os indica<strong>do</strong>res segun<strong>do</strong> as regiões ou os países,<br />

i<strong>de</strong>ntificam-se <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s marcantes entre as nações e mesmo <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> seus espaços geográficos. Além disso, a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre estratos<br />

sociais <strong>em</strong> muitos casos aumentou (BOING, 2006).<br />

Quan<strong>do</strong> se trata da saú<strong>de</strong> infantil, também a proporção <strong>de</strong> nasci<strong>do</strong>s<br />

vivos com baixo peso (NBP) assume importância significativa. Segun<strong>do</strong><br />

Luz et al (1998), o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma criança ao nascer é um fator<br />

<strong>de</strong>terminante <strong>de</strong> maior chance <strong>de</strong> sobrevivência e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

141


Carla Conceição <strong>de</strong> Lima Silva, Wellington Ribeiro Justo<br />

<strong>de</strong>ssa criança. Os recém-nasci<strong>do</strong>s <strong>de</strong> baixo peso {menos que <strong>do</strong>is quilos<br />

e quinhentos gramas (


Determinantes da Mortalida<strong>de</strong> Infantil no <strong>Ceará</strong> no Perío<strong>do</strong> 1991-2000:<br />

Uma Abordag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Painel<br />

aos anos <strong>de</strong> 1991 e 2000 que serão utilizadas como <strong>de</strong>terminantes da TMI<br />

no <strong>Ceará</strong>. Deste mo<strong>do</strong>, ter-se-á uma base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s combinada entre informações<br />

<strong>do</strong> tipo cross-section e série t<strong>em</strong>poral, também conhecida como<br />

da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> painel.<br />

As variáveis <strong>de</strong> saneamento serão divididas <strong>em</strong> três partes: Serviços<br />

<strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água, esgotamento sanitário e tratamento <strong>do</strong> lixo.<br />

Será utiliza<strong>do</strong> como variáveis representativas os percentuais da população<br />

atendida por condições a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água (AGUA), esgotamento<br />

sanitário (ESGOTO) e coleta <strong>do</strong> lixo (LIXO).<br />

As variáveis que permit<strong>em</strong> captar influências externas sobre a redução<br />

da mortalida<strong>de</strong> infantil não diretamente associadas ao saneamento<br />

seriam: escolarida<strong>de</strong> da mãe <strong>de</strong> 25 anos ou mais (ESCLM25), população<br />

rural (POPRURAL), <strong>de</strong>spesas com saú<strong>de</strong> (DESPS), medida <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong><br />

da pobreza (INTPOB), analfabetismo f<strong>em</strong>inino (ANALFFEM) e o número<br />

<strong>de</strong> leitos da re<strong>de</strong> hospitalar (LEITOS) e a taxa <strong>de</strong> fecundida<strong>de</strong> (TXFE-<br />

CUND). Na Tabela 1 são apresentadas as variáveis que serão utilizadas<br />

b<strong>em</strong> como o sinal espera<strong>do</strong>.<br />

Sabe-se, através <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s que existe uma forte relação entre anos<br />

<strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s e renda, quanto maior o t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que às pessoas se <strong>de</strong>dicam<br />

aos estu<strong>do</strong>s melhores serão as suas rendas, pois as pessoas se tornariam<br />

b<strong>em</strong> mais qualificadas para ingressar no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho e por isso<br />

conseguiriam melhores salários (SACHSIDA, LOUREIRO E MENDON-<br />

ÇA, 2004) e que a existência <strong>de</strong> condições a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> saneamento está<br />

fort<strong>em</strong>ente ligada à renda <strong>do</strong> indivíduo (MENDONÇA et alii, 2004). Logo,<br />

<strong>de</strong>spesas com saú<strong>de</strong> e número <strong>de</strong> leitos hospitalares vão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da renda<br />

que existe <strong>em</strong> cada município cearense.<br />

Será utilizada a média da escolarida<strong>de</strong> das pessoas com 25 anos ou<br />

mais (ESCLM25) como proxy para a escolarida<strong>de</strong> da mãe <strong>de</strong> pelo fato<br />

<strong>de</strong> a criança estar necessariamente atrelada aos cuida<strong>do</strong>s da mãe. Porém,<br />

ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> vista o fenômeno mais recente <strong>do</strong> aumento <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z<br />

<strong>em</strong> a<strong>do</strong>lescentes, seria mais correto utilizar a escolarida<strong>de</strong> da mulher para<br />

ida<strong>de</strong> a partir <strong>do</strong>s 15 anos (CASTRO, ABRAMOVAY E SILVA, 2004).<br />

143


Carla Conceição <strong>de</strong> Lima Silva, Wellington Ribeiro Justo<br />

144<br />

Tabela 1 - Descrição das Variáveis e Sinal Espera<strong>do</strong><br />

Variável Descrição Sinal Espera<strong>do</strong><br />

TMI Taxa <strong>de</strong> Mortalida<strong>de</strong> Infantil Variável Depen<strong>de</strong>nte<br />

ESGOTO População atendida por esgotamento sanitário (-)<br />

INTPOB Medida <strong>do</strong> grau <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> da pobreza (+)<br />

ANALFFEM Analfabetismo f<strong>em</strong>inino (+)<br />

DESPS Despesas Municipais com saú<strong>de</strong> (-)<br />

COLDELIXO População atendida por tratamento <strong>do</strong> lixo (-)<br />

ÁGUA População atendida por condições a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> água (-)<br />

ESCLM25 Escolarida<strong>de</strong> da mãe <strong>de</strong> 25 anos ou mais (-)<br />

LEITOS Número <strong>de</strong> leitos na re<strong>de</strong> hospitalar (-)<br />

TXFECUND Taxa <strong>de</strong> Fecundida<strong>de</strong> (+)<br />

POPRURAL População Rural (+)<br />

Fonte: Men<strong>do</strong>nça e Seroa da Mota (2005), Atlas <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano da PNUD (2003)<br />

e IPEADATA. Elaboração <strong>do</strong>s autores.<br />

Outra variável associada à escolarida<strong>de</strong> utilizada é a taxa <strong>de</strong> analfabetismo<br />

da mãe. Neste caso, também pela não disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas<br />

informações será utilizada como proxy a taxa <strong>de</strong> analfabetismo f<strong>em</strong>inino<br />

(ANALFFEM).<br />

Para captar o efeito das <strong>de</strong>spesas com saú<strong>de</strong> será utilizada <strong>de</strong>spesas<br />

com saú<strong>de</strong> disponibilizada pelo IPEADATA. Como esta base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s<br />

não t<strong>em</strong> informações sobre to<strong>do</strong>s os municípios foi eliminada <strong>do</strong> painel os<br />

municípios s<strong>em</strong> esta informação. 3<br />

Em relação aos leitos, estes se refer<strong>em</strong> ao número <strong>de</strong> leitos <strong>em</strong> estabelecimentos<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ativos tanto público como priva<strong>do</strong> (MENDONÇA,<br />

2005). Aqui, assim como as informações das <strong>de</strong>spesas com saú<strong>de</strong>, as informações<br />

disponíveis para o perío<strong>do</strong> <strong>em</strong> estu<strong>do</strong> não cont<strong>em</strong>plam informações<br />

sobre to<strong>do</strong>s os municípios <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>.<br />

As informações <strong>de</strong> saneamento são oriundas <strong>do</strong> IPEA e as variáveis<br />

socioeconômicas são oriundas <strong>do</strong> Atlas <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano da<br />

PNUD (2003). O numero <strong>de</strong> leitos foi obti<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ministério da Saú<strong>de</strong>. Por<br />

fim, os gastos municipais com saú<strong>de</strong> têm como fonte a Secretaria <strong>do</strong> Tesouro<br />

Nacional <strong>do</strong> Ministério da Fazenda.<br />

3 Ficaram então 292 observações.


2.2.2 Mo<strong>de</strong>lo econométrico<br />

Determinantes da Mortalida<strong>de</strong> Infantil no <strong>Ceará</strong> no Perío<strong>do</strong> 1991-2000:<br />

Uma Abordag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Painel<br />

O mo<strong>de</strong>lo será estima<strong>do</strong> com base na estrutura <strong>de</strong> painel com da<strong>do</strong>s<br />

municipais <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> para o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1991 e 2000, segun<strong>do</strong><br />

Men<strong>do</strong>nça (2005) sen<strong>do</strong> expresso da seguinte forma:<br />

Yit = α + βSit + δXit + εit, i =1,…., N; t =1,…., T (1)<br />

On<strong>de</strong> εit = αi+μit<br />

Yit significa a taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> por <strong>do</strong>enças relacionadas às condições<br />

ina<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> saneamento para os municípios cearenses i no ano<br />

t, Sit representa um vetor <strong>de</strong> variáveis ligadas ao saneamento e Xit é o<br />

vetor <strong>de</strong> variáveis <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo não associadas ao saneamento. Como po<strong>de</strong><br />

ser observa<strong>do</strong> numa estrutura básica <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> painel, o<br />

distúrbio εit é forma<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is componentes, αi é o termo estocástico inerente<br />

às unida<strong>de</strong>s individuais, <strong>de</strong> forma que αi ~(0, σ ²) que se <strong>de</strong>nomina<br />

α<br />

efeito individual, ao passo que μit é um distúrbio estocástico, tal que uit<br />

~(0, σn²). Além disso, t<strong>em</strong>-se ainda E[u α ] = 0 e E[uit xit]= 0.<br />

it i<br />

O termo εit representa o erro, se u for um ruí<strong>do</strong> branco, a equação<br />

it<br />

(1) po<strong>de</strong>rá ser estimada por Mínimos Quadra<strong>do</strong>s Ordinários (MQO). Neste<br />

caso, o erro apresenta um termo adicional α que representa o efeito<br />

i<br />

particular <strong>de</strong> cada município (i), constante ao longo <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po (t).<br />

O efeito individual α próprio das unida<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong> ser ou não correla-<br />

i<br />

ciona<strong>do</strong> com o vetor <strong>de</strong> variáveis explicativas x . A existência <strong>de</strong> correla-<br />

it<br />

ção entre o efeito individual e os regressores po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>tectada por meio<br />

da aplicação <strong>do</strong> teste <strong>de</strong> Hausman (GREENE, 1993), cuja hipótese nula é<br />

<strong>de</strong> não-correlação entre α e as variáveis explicativas <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo. No caso<br />

i<br />

<strong>de</strong> haver correlação, a estimação <strong>de</strong>ve ser feita a partir <strong>do</strong> estima<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />

efeito fixo (LSDV), 4 <strong>do</strong> contrário o estima<strong>do</strong>r <strong>de</strong> efeito aleatório é o mais<br />

apropria<strong>do</strong> (HSIAO, 2003).<br />

Paralelamente, será aplica<strong>do</strong> um mo<strong>de</strong>lo simples <strong>de</strong> mínimos quadra<strong>do</strong>s<br />

ordinários (MQO) <strong>em</strong> pooling para to<strong>do</strong>s os anos usan<strong>do</strong> a mesma<br />

i<strong>de</strong>ntificação anterior no caso <strong>de</strong> painel para comparação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s e<br />

a comprovação ou não da robustez <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo.<br />

A variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte Y é a taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil <strong>de</strong>finida<br />

it<br />

como a razão entre o número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> mortes sobre a população resi<strong>de</strong>nte,<br />

referentes a crianças menores <strong>de</strong> cinco anos que será a população<br />

foco <strong>do</strong> trabalho.<br />

4 Least Square Dummy Variable<br />

145


Carla Conceição <strong>de</strong> Lima Silva, Wellington Ribeiro Justo<br />

Também será realiza<strong>do</strong> o teste <strong>de</strong> White para verificar a presença <strong>de</strong><br />

Heteroscedasticida<strong>de</strong> (hipótese nula), e se isso ocorre é preciso utilizar a<br />

matriz <strong>de</strong> correção <strong>do</strong>s erros-padrão para que os mesmos não sejam subestima<strong>do</strong>s.<br />

Paralelamente serão verifica<strong>do</strong>s possíveis probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> multicolinearida<strong>de</strong><br />

através <strong>do</strong>s procedimentos padrões recomenda<strong>do</strong>s na literatura<br />

como análise da matriz <strong>de</strong> correlação e <strong>do</strong> teste <strong>de</strong> VIF. 5<br />

3. RESULTADOS E DISCUSSõES<br />

3.1 Análise Descritiva e Evidências Iniciais<br />

A Taxa <strong>de</strong> Mortalida<strong>de</strong> Infantil (TMI) informa o número <strong>de</strong> mortes<br />

<strong>de</strong> crianças menores <strong>de</strong> 5 anos, <strong>em</strong> cada grupo <strong>de</strong> mil nascidas vivas. É<br />

o índice <strong>do</strong>s óbitos neonatais, ou seja, <strong>de</strong> bebês com até 27 dias, e pósneonatais,<br />

<strong>de</strong> bebês entre 28 dias e 12 meses e <strong>de</strong> crianças entre 1 e 5 anos,<br />

<strong>em</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> município e perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po. Mais <strong>do</strong> que um indica<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, é um indica<strong>do</strong>r sócio-econômico que reflete as condições <strong>de</strong><br />

vida <strong>de</strong> uma região.<br />

As causas da mortalida<strong>de</strong> infantil pod<strong>em</strong> ser <strong>de</strong> ord<strong>em</strong> biológica,<br />

sócio-econômica e sócio-ambiental. Questões como ausência <strong>de</strong> serviços<br />

básicos <strong>de</strong> saneamento e saú<strong>de</strong> especialmente no atendimento pré-natal e a<br />

assistência ao parto e pós-parto contribu<strong>em</strong> <strong>de</strong>cisivamente para o aumento<br />

da TMI nos municípios e d<strong>em</strong>onstram a falta <strong>de</strong> políticas públicas que<br />

promovam o direito à sobrevivência e ao <strong>de</strong>senvolvimento integral das<br />

crianças.<br />

Concentração <strong>de</strong> renda, baixa escolarida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s pais, condições <strong>de</strong> saneamento,<br />

também <strong>de</strong>terminam o aumento da mortalida<strong>de</strong> infantil. Todas<br />

essas variáveis necessitam <strong>de</strong> atenção e intervenção governamental, nas<br />

esferas fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal através <strong>de</strong> políticas públicas.<br />

Os gráficos 1 e 2 mostram a distribuição espacial das taxas <strong>de</strong> Mortalida<strong>de</strong><br />

Infantil nos municípios <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> perío<strong>do</strong> - 1991 e 2000.<br />

5<br />

Variance-inflating factor. Esta estatística calcula o impacto sobre a variância <strong>de</strong> cada variável <strong>de</strong>corrente<br />

das correlações advindas da presença <strong>do</strong>s outros regressores [Judge et alii (1982)].<br />

146


Determinantes da Mortalida<strong>de</strong> Infantil no <strong>Ceará</strong> no Perío<strong>do</strong> 1991-2000:<br />

Uma Abordag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Painel<br />

Gráfico 1 - Mortalida<strong>de</strong> até Cinco Anos <strong>de</strong> Ida<strong>de</strong> - 1991<br />

Municípios <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

Fonte: PNUD, Atlas <strong>do</strong> Desenvolvimento Humano no Brasil, 2003.<br />

Gráfico 2 - Mortalida<strong>de</strong> até Cinco Anos <strong>de</strong> Ida<strong>de</strong> - 2000<br />

Municípios <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

Fonte: PNUD, Atlas <strong>do</strong> Desenvolvimento Humano no Brasil, 2003.<br />

A Tabela 2 apresenta as <strong>de</strong>z menores e maiores TMIs <strong>do</strong>s municípios<br />

cearenses nos perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 1991 e 2000.<br />

As maiores taxas <strong>de</strong> TMI no ano <strong>de</strong> 1991 foram verificadas <strong>em</strong> Baixio<br />

e Umari. A menor se refere à Fortaleza. No ano <strong>de</strong> 2000 a maior TMI<br />

foi verificada <strong>em</strong> Croatá e a menor, com mesmo índice <strong>em</strong> Limoeiro <strong>do</strong><br />

Norte, São João <strong>do</strong> Jaguaribe e Russas.<br />

147


Carla Conceição <strong>de</strong> Lima Silva, Wellington Ribeiro Justo<br />

148<br />

Tabela 2 - Taxa <strong>de</strong> Mortalida<strong>de</strong> Infantil<br />

nos Municípios Cearenses – Perío<strong>do</strong>: 1991 e 2000<br />

1991 2001<br />

Menores Maiores Menores Maiores<br />

Município Valor Município Valor Município Valor Município Valor<br />

Fortaleza 73,25 Baixio 163,44 L. <strong>do</strong> Norte 42,68 Croatá 125,22<br />

L.<strong>do</strong> Norte 74,75 Umari 163,44 S.J.Jaguaribe 42,68 Umari 123,17<br />

M. Nova 75,27 Choró 152,50 Russas 42,68 Baixio 123,17<br />

Barbalha 75,61 Alcântaras 150,99 T. <strong>do</strong> Norte 43,31 Chaval 119,63<br />

Itapipoca 75,93 Umirim 149,23 Pacoti 44,88 Barroquinha 119,63<br />

Alto Santo 76,24 Saboeiro 149,23 Reriutaba 46,72 Choró 108,16<br />

Mulungu 79,44 Bela Cruz 149,29 Varjota 46,72 Altaneira 108,16<br />

Palmácia 79,44 Barroquinha 149,29 Ipú 46,72 Umirim 100,19<br />

Guaiúba 79,79 Altaneira 149,29 Pacatuba 47,94 Jucás 100,19<br />

Macaranaú 80,67 Chaval 149,29 Caucaia 48,22 Tarrafas 100,19<br />

Fonte: PNUD:Atlas <strong>do</strong> Desenvolvimento Humano <strong>do</strong> Brasil (2003). Elaboração <strong>do</strong>s autores.<br />

Apenas Limoeiro <strong>do</strong> Norte que se encontrava <strong>em</strong> 1991 como um <strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>z municípios como a menor TMI no esta<strong>do</strong> permaneceu <strong>em</strong> 2000, mesmo<br />

<strong>em</strong> colocação diferente, contu<strong>do</strong>, os d<strong>em</strong>ais foram substituí<strong>do</strong>s por<br />

outros municípios. Fortaleza que <strong>em</strong> 1991 tinha a menor TMI não aparece<br />

<strong>em</strong> 2000.<br />

Alcântaras, Saboeiro e Bela Cruz que se encontravam entre os <strong>de</strong>z<br />

municípios com a maior taxa <strong>de</strong> TMI <strong>em</strong> 1991 saíram <strong>em</strong> 2000 e <strong>em</strong> seus<br />

lugares não nas mesmas colocações entraram Croatá, Jucás e Tarrafas.<br />

Houve uma redução <strong>de</strong> 41,73% na TMI <strong>de</strong> 2000 <strong>em</strong> relação a 1991<br />

quan<strong>do</strong> se compara os <strong>do</strong>is municípios que apresentaram a menor taxa.<br />

A média da TMI <strong>em</strong> crianças <strong>de</strong> até cinco anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> <strong>em</strong> 1991 no<br />

Brasil foi 67,23, <strong>em</strong> relação ao Nor<strong>de</strong>ste esse valor é um b<strong>em</strong> maior 110,93<br />

e no <strong>Ceará</strong> foi diagnostica<strong>do</strong> um valor inferior quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> ao Nor<strong>de</strong>ste<br />

108,63, já <strong>em</strong> 2000 houve uma redução nas três referências: no Brasil<br />

a média foi 44,72, no Nor<strong>de</strong>ste 79,40 e no <strong>Ceará</strong> 73,82.<br />

No esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, 63 crianças, <strong>em</strong> cada 1.000 nascidas <strong>em</strong>1991,<br />

morriam antes <strong>de</strong> completar 1 ano <strong>de</strong> vida. Em 2000 o quadro melhorou,<br />

41 crianças morriam <strong>em</strong> cada 1.000 nascidas. Assim, a mortalida<strong>de</strong> infantil<br />

na faixa até um ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> caiu 34,4%, e na faixa até 5 anos <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong> caiu 33,1%, uma situação bastante s<strong>em</strong>elhante àquela <strong>do</strong> Brasil e <strong>do</strong><br />

Nor<strong>de</strong>ste. (FORTALEZA, 2004).


Determinantes da Mortalida<strong>de</strong> Infantil no <strong>Ceará</strong> no Perío<strong>do</strong> 1991-2000:<br />

Uma Abordag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Painel<br />

Em relação ao saneamento, nove <strong>em</strong> cada <strong>de</strong>z brasileiros já receb<strong>em</strong><br />

água encanada <strong>em</strong> suas residências, porém, quase meta<strong>de</strong> da população<br />

continua s<strong>em</strong> acesso à coleta <strong>de</strong> esgotos, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a vários fatores como, por<br />

ex<strong>em</strong>plo: Não há re<strong>de</strong> coletora <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os bairros para receber os esgotos<br />

das residências e encaminhá-lo ao local a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> (Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Tratamento<br />

<strong>de</strong> Esgoto), as pare<strong>de</strong>s das casas não são duráveis, o banheiro é coletivo, os<br />

<strong>do</strong>micílios estão <strong>em</strong> favelas, há irregularida<strong>de</strong> fundiária ou a<strong>de</strong>nsamento<br />

excessivo, ou seja, muita gente utilizan<strong>do</strong> a mesma casa (IPEA, 2008).<br />

A Tabela 3 mostra o ranking <strong>do</strong>s 10 municípios cearenses com melhor<br />

taxa <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílios com banheiro e água encanada nos anos <strong>de</strong> 1991 e<br />

2000 e os 10 <strong>em</strong> pior situação.<br />

Dos <strong>de</strong>z municípios que estiveram presentes <strong>em</strong> 1991 como o menor<br />

índice <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílios com banheiro e água encanada no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

cerca <strong>de</strong> 70% foram substituí<strong>do</strong>s por outros <strong>em</strong> 2000. Os únicos a permanecer<strong>em</strong><br />

foram Ocara, Choró e Itatira mesmo que <strong>em</strong> colocações diferentes.<br />

Tabela 3 - Pessoas que Viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> Domicílios com Banheiro<br />

e Água Encanada nos Municípios Cearenses - Perío<strong>do</strong> 1991 e 2000<br />

1991 2000<br />

Menores Maiores Menores Maiores<br />

Município Valor Município Valor Município Valor Município Valor<br />

Ipaporanga 0,14 Fortaleza 68,64 Salitre 1,07 Fortaleza 84,03<br />

Quiterianópoles 0,35 J. <strong>do</strong> Norte 66,51 Ocara 1,68 J. <strong>do</strong> Norte 73,37<br />

Ocara 0,91 Pacatuba 65,51 Itar<strong>em</strong>a 2,88 Maracanaú 71,45<br />

D. I. Pinheiro 0,93 Maracanaú 59,37 N. Oriente 4,39 Pacatuba 67,20<br />

Ibaretama 1,07 Crato 49,56 Graça 7,25 Sobral 64,26<br />

Ararendá 1,21 Sobral 48,36 Capistrano 7,92 Crato 62,77<br />

Choró 1,46 Iguatu 44,84 Tejuçuoca 8,74 L.<strong>do</strong> Norte 59,53<br />

Itatira 1,86 Caucaia 44,57 Choró 9,55 Iguatu 59,39<br />

Tururu 1,90 Barbalha 42,97 Chaval 9,82 Caucaia 54,93<br />

Alcântara 1,94 L. <strong>do</strong> Norte 40,58 Itatira 9,86 N. Russas 51,45<br />

Fonte: PNUD:Atlas <strong>do</strong> Desenvolvimento Humano <strong>do</strong> Brasil (2003). Elaboração <strong>do</strong>s autores.<br />

Cerca <strong>de</strong> 90% <strong>do</strong>s <strong>de</strong>z municípios cearenses que <strong>em</strong> 1991 possuíam o<br />

maior número <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílios com banheiro e água encanada constavam <strong>em</strong><br />

2000 pelos mesmos motivos, mesmo que alguns <strong>em</strong> posições diferentes,<br />

somente Barbalha que estava presente <strong>em</strong> 1991 foi substituída <strong>em</strong> 2000<br />

por Nova Russas.<br />

149


Carla Conceição <strong>de</strong> Lima Silva, Wellington Ribeiro Justo<br />

Em to<strong>do</strong>s os municípios cearenses cita<strong>do</strong>s na Tabela 3, houve um<br />

crescimento na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílios com banheiro e água encanada<br />

<strong>de</strong> 1991 para 2000, por ex<strong>em</strong>plo, Fortaleza que se manteve <strong>em</strong> primeiro<br />

lugar tanto <strong>em</strong> 1991 como <strong>em</strong> 2000, atingiu um crescimento <strong>de</strong> 22,42%.<br />

Nos estu<strong>do</strong>s comparativos para os anos <strong>de</strong> 1991 e 2000 observouse<br />

um crescimento no percentual <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílios que possuíam banheiro e<br />

água encanada no esta<strong>do</strong>, aumentan<strong>do</strong> o percentual <strong>de</strong> 37,13% <strong>em</strong> 1991<br />

para 50,96% no ano 2000 (<strong>IPECE</strong>, <strong>2009</strong>).<br />

No que se refere ao crescimento populacional no <strong>Ceará</strong>, houve um<br />

<strong>de</strong>clínio nos últimos anos, da<strong>do</strong> que no perío<strong>do</strong> 1940/1950 o esta<strong>do</strong> registrava<br />

uma taxa <strong>de</strong> crescimento populacional da ord<strong>em</strong> <strong>de</strong> 2,6% anual.<br />

Com o passar <strong>do</strong>s anos esta taxa <strong>de</strong>clinou chegan<strong>do</strong> a 1,70% na década<br />

1980/1991, manteve-se praticamente no mesmo nível na década seguinte,<br />

haja vista que no perío<strong>do</strong> 1991/2000 registrou-se uma taxa <strong>de</strong> 1,73% (IPE-<br />

CE, <strong>2009</strong>).<br />

A Tabela 4 mostra as <strong>de</strong>z menores e maiores taxas <strong>de</strong> alfabetização<br />

<strong>do</strong>s municípios cearenses nos anos <strong>de</strong> 1991 e 2000. A mesma tabela mostra<br />

também, que 70% <strong>do</strong>s <strong>de</strong>z municípios cearenses que possu<strong>em</strong> a menor<br />

taxa <strong>de</strong> alfabetização <strong>em</strong> 1991 estiveram presentes <strong>em</strong> 2000 mesmo que<br />

<strong>em</strong> classificações variadas, porém, General Sampaio, Choró e Viçosa <strong>do</strong><br />

<strong>Ceará</strong> que estavam presentes <strong>em</strong> 1991 foram substituí<strong>do</strong>s <strong>em</strong> 2000 por<br />

Saboeiro, Potengi e Itatira, só que <strong>em</strong> colocações diferentes.<br />

Fortaleza, Maracanaú, Pacatuba, Caucaia e Crato são os municípios<br />

cearenses que possu<strong>em</strong> a maior taxa <strong>de</strong> alfabetização tanto <strong>em</strong> 1991 como<br />

<strong>em</strong> 2000 e ocupam as mesmas posições, entretanto, Limoeiro <strong>do</strong> Norte,<br />

Maranguape e Juazeiro <strong>do</strong> Norte que estiveram presentes tanto <strong>em</strong> 1991<br />

como <strong>em</strong> 2000 mudaram suas classificações <strong>de</strong> um ano para o outro e os<br />

municípios <strong>de</strong> Barbalha e Russas que estiveram presentes <strong>em</strong> 1991 e foram<br />

substituí<strong>do</strong>s por Eusébio e Itaitinga <strong>em</strong> 2000, no entanto <strong>em</strong> posições<br />

diferentes.<br />

150


Determinantes da Mortalida<strong>de</strong> Infantil no <strong>Ceará</strong> no Perío<strong>do</strong> 1991-2000:<br />

Uma Abordag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Painel<br />

Tabela 4 - Taxa <strong>de</strong> Alfabetização nos Municípios Cearenses<br />

Perío<strong>do</strong> 1991 e 2000<br />

1991 2000<br />

Menores Maiores Menores Maiores<br />

Município Valor Município Valor Município Valor Município Valor<br />

Salitre 31,48 Fortaleza 83,25 Granja 48,18 Fortaleza 88,8<br />

Barroquinha 33,57 Maracanaú 77,58 Salitre 48,44 Maracanaú 85,02<br />

Granja 36,52 Pacatuba 75,26 Saboeiro 52,4 Pacatuba 72,66<br />

Graça 36,74 Caucaia 71,57 Graça 52,51 Caucaia 81,02<br />

G. Sampaio 37,17 Crato 67,4 Barroquinha 52,65 Crato 77,09<br />

Choró 37,43 L. <strong>do</strong> Norte 65,86 Potengi 52,71 Maranguape 76,25<br />

Saboeiro 37,69 Maranguape 65,28 N. Horiente 52,91 Eusébio 76,16<br />

Poranga 38,03 J. <strong>do</strong> Norte 63,66 Itatira 53,64 J. <strong>do</strong> Norte 75,05<br />

V. <strong>Ceará</strong> 38,79 Barbalha 63,49 P. Branca 53,64 Itaitinga 74,9<br />

P. Branca 40,31 Russas 63,34 Poranga 53,84 L. <strong>do</strong> Norte 74,29<br />

Fonte: PNUD:Atlas <strong>do</strong> Desenvolvimento Humano <strong>do</strong> Brasil (2003). Elaboração <strong>do</strong>s autores.<br />

Houve um aumento na taxa <strong>de</strong> alfabetização <strong>em</strong> quase to<strong>do</strong>s os municípios<br />

cearenses apresenta<strong>do</strong>s na Tabela 5 <strong>de</strong> 1991 para 2000, somente o<br />

município <strong>de</strong> Pacatuba teve uma redução <strong>de</strong> um ano para o outro <strong>de</strong> 3,45%<br />

entre os classifica<strong>do</strong>s na referida tabela.<br />

A taxa <strong>de</strong> alfabetização <strong>do</strong> Brasil <strong>em</strong> 1991 era <strong>de</strong> 68,84 %, o Nor<strong>de</strong>ste<br />

50,18% e no <strong>Ceará</strong> com um valor superior ao Nor<strong>de</strong>ste 50,34%. Em 2000,<br />

no entanto, houve elevação da taxa <strong>de</strong> alfabetização atingin<strong>do</strong> 78,23% no<br />

Brasil, 64,32% no Nor<strong>de</strong>ste e 63,44% no <strong>Ceará</strong>.Portanto, crescen<strong>do</strong> menos<br />

no <strong>Ceará</strong> que no nor<strong>de</strong>ste.<br />

Na última década, o <strong>Ceará</strong> registrou um aumento na taxa <strong>de</strong> escolarização<br />

das crianças com ida<strong>de</strong> entre 7 e 14 anos, que passou <strong>de</strong> 80,8%<br />

para 95%, atingin<strong>do</strong>, <strong>em</strong> 2001, o patamar <strong>de</strong> 98%. Ainda <strong>em</strong> relação à melhoria<br />

<strong>do</strong> acesso à educação, <strong>de</strong>stacam-se programas como Alfabetização<br />

Solidária, executa<strong>do</strong>s <strong>em</strong> parceria com o Governo Fe<strong>de</strong>ral e a iniciativa<br />

privada, os quais possibilitaram a alfabetização <strong>de</strong> 800 mil adultos entre<br />

os anos <strong>de</strong> 1991 e 2000 (<strong>IPECE</strong>, <strong>2009</strong>).<br />

Já <strong>em</strong> relação ao analfabetismo no país, o Nor<strong>de</strong>ste ainda precisa<br />

<strong>de</strong> atenção <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res públicos, já que 34% da população com mais <strong>de</strong><br />

6 anos nunca foi a uma escola ou recebeu menos <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong> educação,<br />

55% atingiu algum nível <strong>do</strong> primeiro grau e 10% terminou alguma série<br />

<strong>do</strong> secundário ou ensino superior (MEC, <strong>2009</strong>).<br />

151


Carla Conceição <strong>de</strong> Lima Silva, Wellington Ribeiro Justo<br />

Segun<strong>do</strong> o ministério da educação um <strong>em</strong> cada oito jovens da região<br />

Nor<strong>de</strong>ste é analfabeto e a taxa <strong>de</strong> analfabetismo <strong>de</strong> jovens <strong>de</strong> 15 a 29 anos no<br />

Nor<strong>de</strong>ste é <strong>de</strong> 12,5% nas d<strong>em</strong>ais regiões, a média é <strong>de</strong> 2,6% (BRASIL, 2007).<br />

De acor<strong>do</strong> com o Censo 2000, o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> t<strong>em</strong> uma taxa <strong>de</strong><br />

analfabetismo <strong>de</strong> 26,54%. Ao to<strong>do</strong>, 1.310.778 habitantes com 15 anos ou<br />

mais são analfabetos.<br />

A Tabela 5 apresenta as <strong>de</strong>z menores e maiores taxas <strong>de</strong> analfabetismo<br />

f<strong>em</strong>inino <strong>do</strong>s municípios cearenses nos anos <strong>de</strong> 1991 e 2000.<br />

Cerca <strong>de</strong> 60% <strong>do</strong>s municípios apresenta<strong>do</strong>s na Tabela 5 que possuíam<br />

a menor taxa <strong>de</strong> analfabetismo f<strong>em</strong>inino <strong>em</strong> 1991 permaneceu <strong>em</strong><br />

2000, só que <strong>em</strong> classificações diferentes, as exceções foram Limoeiro<br />

<strong>do</strong> Norte, Crato, Jaguaribara e Juazeiro <strong>do</strong> Norte que estiveram presentes<br />

<strong>em</strong> 1991 e foram substituí<strong>do</strong>s <strong>em</strong> 2000 por Pacatuba, Itaiçaba, Eusébio e<br />

Sonolópoles, porém, <strong>em</strong> classificações variadas.<br />

Dos municípios cearenses que apresentaram a maior taxa <strong>de</strong> analfabetismo<br />

f<strong>em</strong>inino <strong>em</strong> 1991, 60% não estão presentes <strong>em</strong> 2000, as exceções<br />

foram Salitre, Barroquinha, Granja e Graça que aparec<strong>em</strong> tanto <strong>em</strong> 1991<br />

como e 2000, mesmo que <strong>em</strong> colocações diferentes.<br />

Fortaleza que <strong>em</strong> 1991 estava <strong>em</strong> primeiro lugar como município<br />

com o menor índice <strong>de</strong> analfabetismo f<strong>em</strong>inino continuou <strong>em</strong> primeiro<br />

lugar <strong>em</strong> 2000, porém, houve uma redução significativa neste perío<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

63,08%.<br />

152<br />

Tabela 5 - Analfabetismo F<strong>em</strong>inino nos Municípios Cearenses<br />

Perío<strong>do</strong> 1991 e 2000<br />

1991 2000<br />

Menores Maiores Menores Maiores<br />

Município Valor Município Valor Município Valor Município Valor<br />

Fortaleza 30,66 Cruz 90,73 Fortaleza 11,32 Granja 27,93<br />

Maracanaú 40,17 N. Russas 79,25 Maracanaú 13,39 Barroquinha 25,76<br />

L. <strong>do</strong> Norte 44,78 Salitre 78,65 Pacatuba 14,71 Frecheirinha 25,74<br />

Crato 44,51 S. Quitéria 78,45 S.J. Jaguaribe 14,74 Salitre 25,73<br />

S.J. Jaguaribe 44,56 Barroquinha 75,25 Caucaia 15,25 Potengi 25,65<br />

Caucaia 45,11 Pacatuba 74,73 Russas 15,66 Croatá 25,60<br />

Jaguaribara 46,42 Uruoca 74,42 Itaiçaba 15,74 Graça 25,51<br />

Russas 47,98 Granja 73,53 Maranguape 16,00 Massapê 25,32<br />

J. <strong>do</strong> Norte 48,11 Graça 73,09 Eusébio 16,10 Poranga 25,13<br />

Maranguape 48,85 G. Sampaio 72,92 Sonolópoles 16,61 Itatira 24,98<br />

Fonte: IPEA DATA. Elaboração <strong>do</strong>s autores.


Determinantes da Mortalida<strong>de</strong> Infantil no <strong>Ceará</strong> no Perío<strong>do</strong> 1991-2000:<br />

Uma Abordag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Painel<br />

A taxa <strong>de</strong> analfabetismo no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> diminuiu 33,20% durante<br />

o perío<strong>do</strong> 1991/2000, sain<strong>do</strong> <strong>de</strong> 37,38% <strong>em</strong> 1991 para 24,97% no ano<br />

2000. Apesar <strong>de</strong>sta significativa redução, o esta<strong>do</strong> necessita melhorar seu<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho para po<strong>de</strong>r se aproximar da média nacional que ficou situada<br />

<strong>em</strong> 13,6% no ano 2000. Além disso, o combate ao analfabetismo é muito<br />

importante, pois o conhecimento da leitura e da escrita são requisitos indispensáveis<br />

para o exercício da cidadania (<strong>IPECE</strong>, <strong>2009</strong>).<br />

A renda per capita <strong>de</strong> um país é um indica<strong>do</strong>r que contribui para<br />

saber o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> mesmo. Ela consiste na divisão da<br />

renda nacional (produto nacional bruto menos os gastos <strong>de</strong> <strong>de</strong>preciação<br />

<strong>do</strong> capital e os impostos indiretos) pela sua população. Embora seja um<br />

índice muito utiliza<strong>do</strong> para mostrar como anda a situação econômica <strong>de</strong><br />

um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> município, ela escon<strong>de</strong> várias disparida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à concentração<br />

<strong>de</strong> renda que po<strong>de</strong> existir <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse município, ou seja, um<br />

município po<strong>de</strong> ter uma boa renda per capita, mas um alto nível <strong>de</strong> concentração<br />

<strong>de</strong> renda e com isso uma gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social.<br />

A Tabela 6 apresenta as <strong>de</strong>z menores e maiores rendas per capta <strong>do</strong>s<br />

municípios cearenses nos anos <strong>de</strong> 1991 e 2000.<br />

Dos <strong>de</strong>z municípios cearenses que apresentam a menor renda per<br />

capta, 70% <strong>do</strong>s que estavam presentes <strong>em</strong> 1991 foram substituí<strong>do</strong>s <strong>em</strong><br />

2000 Tarrafas, Graça e Croatá permaneceram tanto <strong>em</strong> 1991 como <strong>em</strong><br />

2000, só que <strong>em</strong> classificações diferentes.<br />

Já os <strong>de</strong>z municípios cearenses que possuíam a maior renda per capta<br />

<strong>em</strong> 1991 cerca <strong>de</strong> 60% se encontram presentes <strong>em</strong> 2000, porém <strong>em</strong> colocações<br />

diferentes. Iguatu, Eusébio, Pacujá e Russas que <strong>em</strong> 1991 estiveram<br />

presentes <strong>em</strong> 2000 foram substituí<strong>do</strong>s por Limoeiro <strong>do</strong> Norte, Maracanaú,<br />

Horizonte e Campos Sales só que <strong>em</strong> classificações diferentes.<br />

Dos municípios cita<strong>do</strong>s na Tabela 6, tanto <strong>em</strong> 1991 como <strong>em</strong> 2000<br />

ocorreu um aumento na renda per capta, Fortaleza que permaneceu <strong>em</strong><br />

primeiro lugar nos <strong>do</strong>is anos teve um crescimento <strong>de</strong> 30,08%.<br />

153


Carla Conceição <strong>de</strong> Lima Silva, Wellington Ribeiro Justo<br />

154<br />

Tabela 6 - Renda Per capta nos Municípios Cearenses<br />

Perío<strong>do</strong> 1991 e 2000<br />

1991 2000<br />

Menores Maiores Menores Maiores<br />

Município Valor Município Valor Município Valor Município Valor<br />

Quiterianópoles 27,66 Fortaleza 235,77 Tarrafas 46,35 Fortaleza 306,70<br />

Tarrafas 27,78 Crato 114,67 Miraíma 50,13 Crato 168,05<br />

Graça 31,23 Iguatu 114,64 Ajuaba 51,76 Sobral 151,57<br />

Ararendá 32,44 J. <strong>do</strong> Norte 112,84 Graça 52,25 J. <strong>do</strong> Norte 147,11<br />

Salitre 33,12 Eusébio 104,68 Granjeiro 52,77 L.<strong>do</strong> Norte 131,90<br />

Croatá 34,31 Sobral 103,57 Choró 53,28 Maracanaú 129,76<br />

Umari 35,53 Caucaia 102,71 Itatira 53,65 Caucaia 129,23<br />

Milhã 37,12 T.<strong>do</strong> Norte 97,63 Croatá 54,72 Horizonte 125,65<br />

Saboeiro 37,66 Pacujá 93,36 Moraújo 54,9 C. Sales 123,81<br />

Tejuçuoca 37,96 Russas 93,01 Ipaporanga 55,01 T.<strong>do</strong> Norte 123,40<br />

Fonte: Atlas <strong>do</strong> Desenvolvimento Humano <strong>do</strong> Brasil. Elaboração <strong>do</strong>s autores.<br />

A média da renda per capta <strong>do</strong> Brasil <strong>em</strong> 1991 foi <strong>de</strong> R$122,99 esse<br />

valor é superior a <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste R$61,80 e <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> R$58,33, no entanto, <strong>em</strong><br />

2000 houve crescimento na média <strong>de</strong>sta variável passan<strong>do</strong> os valores para:<br />

Brasil R$170,81, Nor<strong>de</strong>ste R$85,16 e <strong>Ceará</strong> R$82,43.<br />

No <strong>Ceará</strong>, exist<strong>em</strong> municípios que possu<strong>em</strong> uma pobreza <strong>de</strong> quase<br />

50% das famílias, essas famílias apresentam renda familiar per capita <strong>de</strong><br />

até meio salário mínimo, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com pesquisa divulgada pelo Ministério<br />

da Saú<strong>de</strong>.<br />

O percentual <strong>de</strong> pobres (pessoas que viv<strong>em</strong> com renda per capita inferior<br />

a 1/2 <strong>do</strong> salário mínimo) e indigentes (pessoas que viv<strong>em</strong> com renda<br />

per capita inferior a 1/4 <strong>do</strong> salário mínimo), diminuiu no esta<strong>do</strong> durante o<br />

perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1991 e 2000. No ano <strong>de</strong> 1991 tinha-se 68,2% <strong>de</strong> pobres passan<strong>do</strong>-se<br />

para 57% no ano 2000, revelan<strong>do</strong> assim um <strong>de</strong>créscimo <strong>de</strong> 16,42%.<br />

O percentual <strong>de</strong> indigentes <strong>em</strong> 1991 era igual a 42%, diminuin<strong>do</strong> para<br />

32,73% no ano 2000, ou seja, um <strong>de</strong>créscimo <strong>de</strong> 22,07% (<strong>IPECE</strong>, <strong>2009</strong>).<br />

3.2 Resulta<strong>do</strong>s Econométricos<br />

Na Tabela 7 são apresenta<strong>do</strong>s os resulta<strong>do</strong>s das estimações <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los<br />

econométricos <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a equação (1). As colunas 1 e 2 correspond<strong>em</strong><br />

às estimações por MQO (Mínimos Quadra<strong>do</strong>s Ordinários) com<br />

da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> pooling. Já as colunas 3 e 4 apresentam os resulta<strong>do</strong>s das esti-


Determinantes da Mortalida<strong>de</strong> Infantil no <strong>Ceará</strong> no Perío<strong>do</strong> 1991-2000:<br />

Uma Abordag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Painel<br />

mações <strong>em</strong> da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> painel com efeitos fixos permitin<strong>do</strong> observar o efeito<br />

da escolarida<strong>de</strong> (Mediaest25) sobre a TMI, pois <strong>em</strong> função da multicolinearida<strong>de</strong><br />

entre esta variável e a variável AGUA não se estima o mo<strong>de</strong>lo<br />

conten<strong>do</strong> as duas variáveis simultaneamente. 6<br />

A inclusão das estimações por MQO é para servir <strong>de</strong> referência na<br />

análise e mostrar a robustez <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo estima<strong>do</strong> <strong>em</strong> da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> painel. A<br />

estimação por MQO também permite i<strong>de</strong>ntificar probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> multicolinearida<strong>de</strong><br />

entre as variáveis explicativas através <strong>do</strong> VIF.<br />

Ainda na Tabela 9 po<strong>de</strong> ser observa<strong>do</strong> que a não consi<strong>de</strong>ração <strong>do</strong>s<br />

fatores específicos às unida<strong>de</strong>s individuais (municípios) na regressão por<br />

MQO altera significativamente os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo.<br />

A presença <strong>do</strong> componente individual é verifica<strong>do</strong> pelo valor <strong>do</strong> RHO<br />

que me<strong>de</strong> a proporção da variância estimada <strong>do</strong> componente individual <strong>em</strong><br />

relação à variância estimada <strong>do</strong> erro, que é alto no mo<strong>de</strong>lo por efeito fixo<br />

(mo<strong>de</strong>lo 3 e 4). 7 Desta forma, há necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> painel para<br />

estimar o mo<strong>de</strong>lo. O teste Breusch e Pagan cuja hipótese nula é que a variância<br />

<strong>do</strong> componente individual seja igual a 0 assinala a heterogeneida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

efeito individual, também corrobora com esta hipótese.<br />

6<br />

Quan<strong>do</strong> se adiciona a variável MEDIAEST25 no mo<strong>de</strong>lo 2, o VIF aumenta (<strong>em</strong> quatro unida<strong>de</strong>s) caracterizan<strong>do</strong><br />

probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> multicolinearida<strong>de</strong> inicialmente aponta<strong>do</strong> pelo valor <strong>do</strong> coeficiente <strong>de</strong> correlação (0,8).<br />

Neste caso a variável ÁGUA <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser significativa quan<strong>do</strong> são incluídas as duas variáveis no mo<strong>de</strong>lo,<br />

típico da presença <strong>de</strong> multicolinearida<strong>de</strong>.<br />

7<br />

O mesmo po<strong>de</strong> ser visto no mo<strong>de</strong>lo por efeito aleatório cujos resulta<strong>do</strong>s não são apresenta<strong>do</strong>s por falta <strong>de</strong><br />

espaço.<br />

155


Carla Conceição <strong>de</strong> Lima Silva, Wellington Ribeiro Justo<br />

156<br />

Tabela 7 - Estimações <strong>do</strong>s Mo<strong>de</strong>los Econométricos<br />

para Mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 0 a 5 anos - perío<strong>do</strong>: 1991-2001<br />

Mo<strong>de</strong>lo 1 Mo<strong>de</strong>lo 2 Mo<strong>de</strong>lo 3 Mo<strong>de</strong>lo 4<br />

Constante 60.0234* 90,48129* 49,7989* 59,6775 *<br />

(12.8633) (16,0775) (11,8687) (16,1732)<br />

Educação<br />

MEDIAEST25 -7,7568 - -3,4102*<br />

(2,5190) (-1,555)<br />

ANALFFEM 0,0009* 0,0008* 0,0002** 0,0002**<br />

(0,0001) (0,0001) (0,0001) (0,0001)<br />

Econômicas<br />

INTENPOB 0,6538* 0,3775* 0,8144* 0,7197*<br />

(0,1780) (0,1970) (0,1752) (0,2085)<br />

DESPS 0,0179* 0,0158* 0,0055** 0,0048**<br />

(0,0037) (0,0037) (0,0025) (0,0023)<br />

D<strong>em</strong>ográficas<br />

POPRURAL -0,0008* -0,0007* -0,0004* -0,0004*<br />

(0,0001) (0,0001) (0,0001) (0,0001)<br />

TXFECUND 4,4474* 3,6265* 2,1617** 2,1497**<br />

(1,4699) (1,4727) (1,1661) (1,165)<br />

saneamento<br />

ÁGUA -0,2968* -0,1457 -0,1208* -<br />

(0,0803) (0,9311) (0,0698)<br />

INSTSANIT -0,0003* -0,0002* -0,00009** -0,00008**<br />

(0,0001) (0,0001) (0,00004) (0,00004)<br />

LIXO -0,2631* -0,2086* -0,1425* -0,1383*<br />

(0,0587) (0,0604) (0,0540) (0,0560)<br />

saú<strong>de</strong><br />

LEITOS -0,0038 -0,0034 - 0,0002 - 0,0001<br />

(0,0091) (0,0097) (0,0071) (0,0071)<br />

R 2 0,5487* 0,5634* 0,4755** 0,4890**<br />

Hausman test 43,00<br />

p-value (0,0000)<br />

Breusch e Pagan 47,80<br />

p-value (0,0000)<br />

RHO 0,5261 0,5111<br />

Fonte: PNUD, IPEADATA, Ministério da Saú<strong>de</strong> e Secretaria <strong>do</strong> Tesouro Nacional <strong>do</strong> Ministério da Fazenda.<br />

Elaboração <strong>do</strong>s autores.<br />

Notas: 1. Valores entre parênteses representam o <strong>de</strong>svios-padrão robustos.<br />

2. Observações: 292.<br />

3. Variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte: Taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> Infantil até 5 anos por mil habitantes.<br />

* R2 ajusta<strong>do</strong>, ** R2 overall.<br />

Constatada a robustez <strong>de</strong> se estimar o mo<strong>de</strong>lo <strong>em</strong> painel faz-se necessário<br />

verificar qual a estimação é a mais apropriada: por efeito aleatório<br />

ou fixo. Assim, realiza-se o teste <strong>de</strong> Hausman que testa a hipótese <strong>de</strong><br />

correlação <strong>do</strong> efeito individual com os regressores. No caso <strong>de</strong> a hipótese<br />

nula ser verda<strong>de</strong>ira, isso assinala que a estimação <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo por efeito aleatório<br />

não é um estima<strong>do</strong>r consistente para o mo<strong>de</strong>lo. O resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> teste


Determinantes da Mortalida<strong>de</strong> Infantil no <strong>Ceará</strong> no Perío<strong>do</strong> 1991-2000:<br />

Uma Abordag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Painel<br />

<strong>de</strong> Hausman apresenta<strong>do</strong> na Tabela 7 aponta que o estima<strong>do</strong>r <strong>de</strong> efeito<br />

fixo é o mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> para se estimar o mo<strong>de</strong>lo.<br />

No mo<strong>de</strong>lo 3 estima<strong>do</strong> por efeito fixo exceto o coeficiente da variável<br />

número <strong>de</strong> leitos não foi significativo nos padrões aceitáveis. Os sinais <strong>do</strong>s<br />

coeficientes estima<strong>do</strong>s estão <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o espera<strong>do</strong> exceto para as variáveis<br />

POPRURAL e DESPS. Regiões como o Cariri e a região metropolitana<br />

<strong>de</strong> Fortaleza receb<strong>em</strong> inúmeros pacientes <strong>de</strong> outras localida<strong>de</strong>s notadamente<br />

<strong>de</strong> municípios <strong>de</strong> esta<strong>do</strong>s vizinhos <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> apresentar<strong>em</strong><br />

melhor estrutura na saú<strong>de</strong>, o que po<strong>de</strong> explicar <strong>em</strong> parte o sinal contrario<br />

ao espera<strong>do</strong> para esta última variável. O mo<strong>de</strong>lo explica cerca <strong>de</strong> 48% da<br />

variável TMI conforme apresenta<strong>do</strong> pelo R2 .<br />

No mo<strong>de</strong>lo 4, também estima<strong>do</strong> por efeito fixo, por razões já explicadas,<br />

inclui-se a variável MEDIAEST25 <strong>em</strong> substituição à variável AGUA.<br />

O coeficiente <strong>de</strong>sta variável foi significativo e o sinal está <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />

o espera<strong>do</strong>.<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista <strong>do</strong>s policy makers, é importante saber o ranking<br />

das variáveis por ord<strong>em</strong> <strong>de</strong> influência na redução da TMI. Nesse senti<strong>do</strong>,<br />

na tabela 8 são apresentadas as estimações das elasticida<strong>de</strong>s parciais que<br />

captam o efeito <strong>de</strong> uma mudança percentual <strong>em</strong> cada uma <strong>do</strong>s regressores<br />

<strong>em</strong> termos percentuais da TMI, Coeteris paribus. 8 Exceto para a variável<br />

LEITOS, todas a d<strong>em</strong>ais elasticida<strong>de</strong>s parciais são significativas a 1% e<br />

TXFECUNL a 5%.<br />

Efeitos parciais diretos são apresenta<strong>do</strong>s pelas variáveis ANAL-<br />

FFEM, INTENPOB, DESPS, sen<strong>do</strong> que esta última, como discuti<strong>do</strong> anteriormente,<br />

não apresentou o sinal espera<strong>do</strong>. Todas as d<strong>em</strong>ais variáveis<br />

apresentam efeitos parciais inversos com relação à variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

TMI, mantida as d<strong>em</strong>ais variáveis constantes.<br />

De forma mais específica, um aumento <strong>em</strong> 1% na MEDIAEST25<br />

reduz <strong>em</strong> 0,25% a TMI. Por outro la<strong>do</strong>, uma redução <strong>de</strong> 1% nas variáveis<br />

ANALFFEM e INTENPOB, reduz<strong>em</strong> <strong>em</strong>, respectivamente, 0,1463% e<br />

0,4159% a TMI. Uma elevação <strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong> água tratada, esgotamento<br />

sanitário e coleta <strong>de</strong> lixo <strong>em</strong> 1%, reduz a TMI <strong>em</strong>, respectivamente:<br />

0,09%, 0,1026% e 0,1422%.<br />

8 Irffi et all (2008) estimam um mo<strong>de</strong>lo <strong>em</strong> que a variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte está <strong>em</strong> logaritmo enquanto as variáveis<br />

explicativas <strong>em</strong> nível. Os autores interpretam os coeficientes como as elasticida<strong>de</strong>s parciais o que não<br />

é verda<strong>de</strong>. Ver, por ex<strong>em</strong>plo, WOOLDRIGDE (2006, p.41).<br />

157


Carla Conceição <strong>de</strong> Lima Silva, Wellington Ribeiro Justo<br />

Percebe-se, pois, que variáveis relacionadas à educação e à intensida<strong>de</strong><br />

da pobreza e coleta <strong>de</strong> lixo afetam <strong>em</strong> maior magnitu<strong>de</strong> a TMI e,<br />

portanto, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser examinadas com mais acuida<strong>de</strong> pelos policy makers,<br />

uma vez que são passiveis <strong>de</strong> políticas públicas. Em ord<strong>em</strong> <strong>de</strong>crescente<br />

<strong>de</strong> importância na redução da TMI as quatro principais variáveis são: IN-<br />

TENPOB, MEDIAEST25, TXFECUNL e ANALFFEM. Estes resulta<strong>do</strong>s<br />

estão <strong>em</strong> acor<strong>do</strong> com os resulta<strong>do</strong>s aponta<strong>do</strong>s por Irffi et all (2008) e Men<strong>do</strong>nça<br />

e Seroa Mota (2005).<br />

Tabela 8 - Elasticida<strong>de</strong>s Parciais da Taxa <strong>de</strong> Mortalida<strong>de</strong><br />

Infantil <strong>em</strong> Relação às Diferentes Variáveis Explicativas<br />

Variável Elasticida<strong>de</strong><br />

MEDIAEST25 -0,2560<br />

ANALFFEM 0,1463*<br />

INTENPOB 0,4159*<br />

DESPS 0,0465*<br />

POPRURAL -0,1032*<br />

TXFECUNL 0,1973**<br />

ÁGUA -0,0985*<br />

INSTSANIT -0,1026*<br />

COLETA DE LIXO -0,1422*<br />

LEITOS -0,0048<br />

Fonte: PNUD, IPEADATA, Ministério da Saú<strong>de</strong> e Secretaria <strong>do</strong> Tesouro Nacional <strong>do</strong> Ministério da Fazenda.<br />

Elaboração <strong>do</strong>s autores.<br />

Nota: * significante a 1%, ** significante a 5%.<br />

4. CONSIDERAÇõES FINAIS<br />

Foi significativa a redução da mortalida<strong>de</strong> infantil no <strong>Ceará</strong> nas últimas<br />

décadas mais ainda assim fican<strong>do</strong> acima <strong>do</strong>s padrões internacionais<br />

e nacionais. Este artigo procurou i<strong>de</strong>ntificar e mensurar os <strong>de</strong>terminantes<br />

da Taxa <strong>de</strong> Mortalida<strong>de</strong> Infantil.<br />

A partir da análise <strong>de</strong>scritiva <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s as evidências iniciais apontam<br />

para uma redução na TMI <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 32% entre 1991 e 2000. Evi<strong>de</strong>nciou-se,<br />

também a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> olhar os <strong>de</strong>terminantes da TMI com<br />

foco nos municípios permiti<strong>do</strong> captar informações que não se observa<br />

quan<strong>do</strong> se olha os da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> níveis agrega<strong>do</strong>s por esta<strong>do</strong>s ou macrorregiões,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, como <strong>em</strong> outros trabalhos.<br />

Também na análise <strong>de</strong>scritiva po<strong>de</strong>-se observar que o município <strong>de</strong><br />

158


Determinantes da Mortalida<strong>de</strong> Infantil no <strong>Ceará</strong> no Perío<strong>do</strong> 1991-2000:<br />

Uma Abordag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Painel<br />

Limoeiro <strong>do</strong> Norte conseguiu uma redução <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 43% na TMI entre<br />

1991 e 2000 e que os municípios cearenses mais populosos não estão entre<br />

os <strong>de</strong>z com menores TMI <strong>em</strong> 2000.<br />

Constatou-se a robustez <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>em</strong> da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> painel compara<strong>do</strong> à<br />

estimação por MQO <strong>em</strong> da<strong>do</strong>s agrupa<strong>do</strong>s <strong>em</strong> pooling. Com base nos <strong>do</strong>is<br />

mo<strong>de</strong>los econométricos estima<strong>do</strong>s por efeito fixo, um incluin<strong>do</strong> a variável<br />

AGUA e <strong>em</strong> outro a substituin<strong>do</strong> pela variável EÇSCOLM025 para evitar<br />

probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> multicolinearida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>-se estimar as elasticida<strong>de</strong>s parciais<br />

da TMI <strong>em</strong> relação a um conjunto <strong>de</strong> regressores. Os resulta<strong>do</strong>s apontaram<br />

que <strong>em</strong> ord<strong>em</strong> <strong>de</strong>crescente <strong>de</strong> importância para redução da TMI<br />

foram as seguintes variáveis: Intensida<strong>de</strong> da pobreza, escolarida<strong>de</strong> média<br />

das mulheres com 25 anos ou mais, a taxa <strong>de</strong> fecundida<strong>de</strong> e a coleta <strong>de</strong><br />

lixo. Como se percebe exceto a coleta <strong>de</strong> lixo que po<strong>de</strong> ser alvo <strong>de</strong> uma<br />

política municipal as d<strong>em</strong>ais <strong>de</strong>pend<strong>em</strong> <strong>de</strong> apoio aos municípios por parte<br />

<strong>do</strong> governo estadual e fe<strong>de</strong>ral através <strong>de</strong> políticas públicas.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

ARAUJO JR, A. F. GOMES, F. A. R.SALVATO, M. A. Exercício Contratual<br />

<strong>do</strong> impacto da educação sobre o objetivo <strong>de</strong> redução da mortalida<strong>de</strong><br />

infantil para a região Su<strong>de</strong>ste. Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Laboratórios Acadêmicos<br />

para Acompanhamento <strong>do</strong>s ODM (2006). Coleção <strong>de</strong> Relatórios Regionais<br />

sobre os Objetivos <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>do</strong> Milênio. 2006.<br />

BRASIL. Àgua: Manual <strong>de</strong> Uso. Secretaria <strong>do</strong>s Recursos Hídricos SRH/<br />

MMA. Brasília. 2006.<br />

BOING, Antonio Fernan<strong>do</strong> ; KEL, Fernan<strong>do</strong> ; CRISPIM, Alexandra Distribuição<br />

espacial e associação da mortalida<strong>de</strong> infantil e <strong>do</strong> baixo peso ao<br />

nascer com fatores socioeconômicos e <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na região sul<br />

<strong>do</strong> Brasil. SaBios - Revista <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e Biologia, v. 1, p. 23-32, 2006.<br />

CARMO R. F. Vigilância Epid<strong>em</strong>iológica e Vigilância da qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> água para consumo humano, <strong>de</strong>safios para o município: Estu<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> caso <strong>em</strong> Barbacena MG. Tese apresentada à Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Viçosa, Viçosa, 2005.<br />

CASTRO, M. G. ABRAMOVAY, M. SILVA, L. B. Juventu<strong>de</strong>s e Sexualida<strong>de</strong>.<br />

Brasília: Unesco, 2004.<br />

159


Carla Conceição <strong>de</strong> Lima Silva, Wellington Ribeiro Justo<br />

CHRISTIAENSEN, L. ALDERMAN, H. Child malnutrition in Ethiopia:<br />

can maternal knowledge augment the role of income. Economic Development<br />

and Cultural Change, 52:287–312, January 2004. 2004.<br />

FORMIGA, M. C. <strong>de</strong> C. O efeito da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> socioeconômica na<br />

sobrevivência <strong>de</strong> crianças menores <strong>de</strong> 5 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Norte (Tese Doutora<strong>do</strong>). <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Medicina Social – IMS/<br />

UERJ, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2003.<br />

GREENE, W. Econometric Analysis. Prentice-Hall, 1993.<br />

GOMES, F. A. R. Mortalida<strong>de</strong> Infantil no Brasil e no Su<strong>de</strong>ste: Determinantes<br />

e Perspectivas para o futuro. Ibmec MG Working Paper – WP36,<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro-RJ, 2006.<br />

HSIAO, C. Analysis of panel data. Cambridge University Press, 2003.<br />

IBGE. Evolução e Perspectivas da Mortalida<strong>de</strong> Infantil no Brasil. Departamento<br />

<strong>de</strong> pesquisa Rio <strong>de</strong> Janeiro. 1999.<br />

INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECUR-<br />

SOS RENOVÁVEIS (IBAMA) Diagnóstico da qualida<strong>de</strong> das águas <strong>do</strong>s<br />

rios Batateiras, Grangeiro e Salga<strong>do</strong> na região <strong>do</strong> Cariri Cearense.<br />

Crato –CE, 2004.<br />

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICO<br />

(IBGE). http: www.ibge.com.br. Acesso <strong>em</strong>: 26 <strong>de</strong> Jan. 2000.<br />

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICO<br />

(IBGE). http: www.ibge.com.br. Acesso <strong>em</strong> 09 <strong>de</strong> Jan. <strong>2009</strong>.<br />

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA) Revista<br />

Mensal <strong>de</strong> Informações e <strong>Debate</strong>s <strong>do</strong> IPEA. Brasília, DF, 2008.<br />

INSTITUTO DE PESQUISA E ESTRATéGIA ECONÔMICA DO<br />

CEARÁ (<strong>IPECE</strong>). http:www.ipece.ce.gov.br/atlas. Acesso <strong>em</strong> 22 <strong>de</strong> Nov<strong>em</strong>bro<br />

<strong>de</strong> 2008.<br />

INSTITUTO DE PESQUISA E ESTRATéGIA ECONÔMICA DO<br />

CEARÁ (<strong>IPECE</strong>). http:www.ipece.ce.gov.br/atlas. Acesso <strong>em</strong> 09 <strong>de</strong> Março<br />

<strong>de</strong> <strong>2009</strong>.<br />

IRFFI, G., OLIVEIRA, J., BARBOSA, E. Análise <strong>do</strong>s Determinantes Socioeconômicos<br />

da Taxa <strong>de</strong> Mortalida<strong>de</strong> Infantil (TMI) no <strong>Ceará</strong>. <strong>IPECE</strong>:<br />

Textos para discussão, 48, Fortaleza, CE, 2008.<br />

JUDGE, G. et alii. Introduction to the theory and practice of econome-<br />

160


trics. New York: Wiley,1982.<br />

Determinantes da Mortalida<strong>de</strong> Infantil no <strong>Ceará</strong> no Perío<strong>do</strong> 1991-2000:<br />

Uma Abordag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Painel<br />

LUZ, T.P.; NEVES, L.A.T.; REIS, A.F.F.; SILVA, G.R.; SILVA, L.G.P.,<br />

1998. Magnitu<strong>de</strong> <strong>do</strong> probl<strong>em</strong>a <strong>do</strong> baixo peso ao nascer. Jornal Brasileiro<br />

<strong>de</strong> Ginecologia, São Paulo, v.108, n.5, p.133-144.<br />

MENDONÇA, M. J. C., SEROA DA MOTA, R. Saú<strong>de</strong> e Saneamento No<br />

Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro. IPEA, texto para discussão, 1081, Brasília, 2005.<br />

MENDONÇA, M. J. C. SACHSIDA, A. LOUREIRO, P. R. A. D<strong>em</strong>anda<br />

por saneamento no Brasil: uma aplicação <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo logit multinomial.<br />

<strong>Economia</strong> Aplicada, v.8,n.1,p100 -120, 2004.<br />

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (MEC). <strong>Ceará</strong>: Brasil Alfabetiza<strong>do</strong> incluí<strong>do</strong><br />

no PDE http: www.mec.gov.br. Acesso <strong>em</strong> 09 <strong>de</strong> Jun. <strong>2009</strong>.<br />

RAMIRO FRANCISCO. Probl<strong>em</strong>as relaciona<strong>do</strong>s à qualida<strong>de</strong> da água.<br />

http: www.ramirofrancisco.vilabol.uol.com.br Acesso <strong>em</strong>: <strong>de</strong> Set. <strong>de</strong> 2007.<br />

SAAD, P. M. Um méto<strong>do</strong> para estimar o peso <strong>de</strong> fatores sócio-econômicos<br />

sobre a mortalida<strong>de</strong> na infância a partir <strong>de</strong> informações retrospectivas<br />

das mães: aplicação para o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo, 1970 e 1976.<br />

Encontro Nacional <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Populacionais. São Paulo, ABEP, 1984.<br />

SACHSIDA, A., LOUREIRO, P. R, A. e MENDONÇA, M. J. C. Um estu<strong>do</strong><br />

sobre retorno <strong>em</strong> escolarida<strong>de</strong> no Brasil. Revista Brasileira <strong>de</strong> <strong>Economia</strong>,<br />

v. 58, n. 2,p. 249-265, 2004.<br />

SPERLING, V. M. Introdução à Qualida<strong>de</strong> das Águas e ao Tratamento<br />

<strong>de</strong> Esgotos, Belo Horizonte - MG, DESA (Departamento <strong>de</strong> Engenharia<br />

Sanitária e Ambiental). Volume1. 1995.<br />

WOOD, C.H. e CARVALHO, J. A. M. A d<strong>em</strong>ografia da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> no<br />

Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro. PNPE/IPEA. 1994.<br />

WOOLDRIDGE, J. M. Introdução à econometria: uma abordag<strong>em</strong> mo<strong>de</strong>rna.<br />

São Paulo: THOMPSON, 2006.<br />

161


Elano Ferreira Arruda, Daniel B. Guimarães, Guilherme Irffi, Ivan Castelar<br />

RESUMO<br />

162<br />

DETERMINANTES<br />

DA PERMANÊNCIA NO DESEMPREGO<br />

NO MERCADO DE TRABALHO<br />

CEARENSE<br />

Elano Ferreira Arruda *<br />

Daniel B. Guimarães **<br />

Guilherme Irffi ***<br />

Ivan Castelar ****<br />

Analisar os atributos que condicionam as chances <strong>do</strong>s cearenses permanecer<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s por longos perío<strong>do</strong>s constitui-se no foco central<br />

<strong>de</strong>ste artigo. A meto<strong>do</strong>logia baseou-se na estimação <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

escolha discreta, com hipótese Probit, com o intuito <strong>de</strong> explicar as chances<br />

<strong>do</strong>s cearenses permanecer<strong>em</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s por um perío<strong>do</strong> superior a<br />

12 meses. Os da<strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>s foram os da Pesquisa Nacional por Amostra<br />

<strong>de</strong> Domicílios (PNAD), <strong>do</strong> <strong>Instituto</strong> Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística<br />

(IBGE). Dos resulta<strong>do</strong>s, constatou-se um forte efeito negativo na chance<br />

<strong>de</strong> permanência na situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego para aqueles indivíduos <strong>do</strong><br />

sexo masculino. O nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> reduz sobr<strong>em</strong>aneira as chances <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego por mais <strong>de</strong> 1 ano. Analisan<strong>do</strong> as classes etárias, encontra-se<br />

um expressivo efeito positivo na probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> permanência na situação<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, principalmente para indivíduos com ida<strong>de</strong> superior<br />

aos 46 anos. Finalmente não foi encontrada discriminação por raça no<br />

merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho cearense, visto que tal variável mostrou-se estatisticamente<br />

insignificante.<br />

Palavras-Chave: Des<strong>em</strong>prego <strong>de</strong> Longa Duração, Probit, <strong>Ceará</strong>.<br />

....................................................<br />

* Doutoran<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>Economia</strong> (CAEN/UFC). Professor da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, Depto. <strong>Economia</strong>,<br />

Campus Sobral.<br />

** Doutoran<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>Economia</strong> (CAEN/UFC). Professor da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, Depto. <strong>Economia</strong> Aplicada.<br />

*** Doutoran<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>Economia</strong> (CAEN/UFC). Professor da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, Depto. <strong>Economia</strong>,<br />

Campus Sobral.<br />

****Professor <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Economia</strong> Aplicada da UFC; Pesquisa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> CNPq.


AbstrAct<br />

Determinantes da Permanência no Des<strong>em</strong>prego no Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Trabalho Cearense<br />

The main focus of this paper was to analyze the attributes that influence<br />

Ceara´s workers to r<strong>em</strong>ain un<strong>em</strong>ployed for long spans. The metho<strong>do</strong>logy<br />

used to attack the probl<strong>em</strong> was the estimation of a probit mo<strong>de</strong>l<br />

in or<strong>de</strong>r to explain the chance of a worker to r<strong>em</strong>ain un<strong>em</strong>ployed longer<br />

than one year period. The data used came from the National Household<br />

Survey (PNAD). According to the results there is a strong negative effect<br />

on the chance of a male individual to r<strong>em</strong>ain un<strong>em</strong>ployed for more than<br />

one year. On the other hand, schooling diminishes drastically the chance<br />

of an individual to r<strong>em</strong>ain un<strong>em</strong>ployed. Age also is an important factor to<br />

explain un<strong>em</strong>ployment for more than one year. The results show that the<br />

ol<strong>de</strong>r is the individual, the greater is the chance to r<strong>em</strong>ain un<strong>em</strong>ployed for<br />

a long period, and the situation is worse if he/she is more than 46 years<br />

old. Finally, it was found that race discrimination <strong>do</strong>es not se<strong>em</strong> to be a<br />

probl<strong>em</strong> in Ceara´s job market.<br />

Key Words: Long term Un<strong>em</strong>ployment, Probit, <strong>Ceará</strong>.<br />

INTRODUÇÃO<br />

As alterações ocorridas na economia cearense a partir da década <strong>de</strong><br />

90, <strong>de</strong>correntes <strong>do</strong>s processos <strong>de</strong> reestruturação produtiva, abertura econômica<br />

e ajustes fiscais, resultaram <strong>em</strong> mudanças estruturais na organização<br />

econômica <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>. Como conseqüência <strong>de</strong>ste processo, po<strong>de</strong>-se<br />

observar uma nova configuração <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho caracterizada<br />

principalmente pela marcante evolução <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po médio <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego.<br />

Este novo perfil <strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego resulta numa crescente marginalização<br />

<strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res da ativida<strong>de</strong> produtiva, com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sperdício<br />

da força <strong>de</strong> trabalho e um aumento <strong>de</strong> uma das formas mais perversas <strong>de</strong><br />

exclusão social.<br />

A existência e a duração <strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, além <strong>de</strong> reduzir<strong>em</strong> as condições<br />

básicas <strong>de</strong> sobrevivência, implicam na perda <strong>de</strong> muitos canais <strong>de</strong><br />

convivência na socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna. Quan<strong>do</strong> a permanência se esten<strong>de</strong> por<br />

longos perío<strong>do</strong>s, este probl<strong>em</strong>a é agrava<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is motivos. Primeiramente<br />

pela queda da probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reingresso no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho<br />

e, <strong>em</strong> segun<strong>do</strong> lugar, pela indução a ocupações precárias no setor infor-<br />

163


Elano Ferreira Arruda, Daniel B. Guimarães, Guilherme Irffi, Ivan Castelar<br />

mal, o que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar um aumento da pobreza e da criminalida<strong>de</strong>.<br />

Nestes termos, a análise <strong>do</strong>s custos sociais <strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego <strong>de</strong>ve levar <strong>em</strong><br />

conta não somente a distribuição diferenciada entre os vários grupos sociais,<br />

como também a intensida<strong>de</strong> com que este os afeta.<br />

Embora a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego seja um importante indica<strong>do</strong>r das<br />

condições <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> econômica, ela oferece uma visão incompleta das<br />

condições <strong>de</strong> funcionamento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho. Ehrenberg e Smith<br />

(2008) argumentam que uma taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego <strong>de</strong> 10%, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

po<strong>de</strong> estar indican<strong>do</strong> pelo menos <strong>do</strong>is mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> funcionamento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> trabalho. Por um la<strong>do</strong>, ela po<strong>de</strong> <strong>de</strong>screver uma situação <strong>em</strong> que,<br />

a cada mês, 10% da força <strong>de</strong> trabalho se torna <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregada por apenas<br />

<strong>do</strong>is meses. Neste caso, o merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho é bastante dinâmico com<br />

um fluxo intenso <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, mas com durações relativamente<br />

pequenas. Por outro la<strong>do</strong>, ela po<strong>de</strong> estar refletin<strong>do</strong> que 10% da<br />

força <strong>de</strong> trabalho se encontra permanent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregada, representan<strong>do</strong><br />

um merca<strong>do</strong> estagna<strong>do</strong>, com <strong>de</strong>formações na d<strong>em</strong>anda por trabalho.<br />

Apesar da preocupação política voltar-se para a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego,<br />

no intuito <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r seus <strong>de</strong>terminantes, <strong>de</strong>ve-se analisar os fluxos<br />

<strong>de</strong> pessoas entre as várias situações no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho, b<strong>em</strong> como<br />

seus atributos pessoais (Ehrenberg e Smith, 2008). A socieda<strong>de</strong> obviamente<br />

sofre mais se pequenos grupos <strong>de</strong> indivíduos ficam <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s<br />

por longos perío<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que se muitos indivíduos passam rapidamente pelo<br />

esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, o qual po<strong>de</strong> ser caracteriza<strong>do</strong> como friccional.<br />

Segun<strong>do</strong> Bivar (1993), é importante conhecer não apenas a taxa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, mas também o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> permanência <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res nesse<br />

esta<strong>do</strong>, o t<strong>em</strong>po que os trabalha<strong>do</strong>res <strong>em</strong>pregam para encontrar trabalho<br />

e os obstáculos que surg<strong>em</strong> ao longo <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> busca.<br />

Diante <strong>de</strong>stes fatos, este trabalho busca i<strong>de</strong>ntificar os <strong>de</strong>terminantes<br />

das chances <strong>de</strong> permanência no <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego para o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>; ou<br />

seja, quais fatores aumentam as chances <strong>de</strong> que os cearenses pass<strong>em</strong> mais<br />

t<strong>em</strong>po no esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego. Estas informações são relevantes na medida<br />

<strong>em</strong> que elas pod<strong>em</strong> subsidiar políticas públicas no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> reduzir<br />

a permanência no <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego por longos perío<strong>do</strong>s. Para a realização <strong>de</strong>sta<br />

análise serão utiliza<strong>do</strong>s os micro-da<strong>do</strong>s da Pesquisa Nacional por Amostra<br />

<strong>de</strong> Domicílios, realizada pelo <strong>Instituto</strong> Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatísti-<br />

164


Determinantes da Permanência no Des<strong>em</strong>prego no Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Trabalho Cearense<br />

ca (IBGE) para o ano <strong>de</strong> 2007, e mo<strong>de</strong>los dicotômicos com hipótese probit.<br />

Além <strong>de</strong>sta introdução, este trabalho conta com mais cinco seções.<br />

Na próxima seção será feita uma revisão da literatura, cont<strong>em</strong>plan<strong>do</strong> evidências<br />

<strong>em</strong>píricas e aspectos teóricos sobre o t<strong>em</strong>a. Em seguida, será realizada<br />

uma breve discussão da base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s utilizada. Na quarta seção,<br />

serão discuti<strong>do</strong>s os aspectos meto<strong>do</strong>lógicos. Os resulta<strong>do</strong>s e a análise das<br />

elasticida<strong>de</strong>s e cenários probabilísticos são discuti<strong>do</strong>s na quinta seção. E,<br />

por fim, são tecidas as consi<strong>de</strong>rações finais e as sugestões <strong>de</strong> políticas públicas<br />

que vis<strong>em</strong> diminuir a permanência <strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego no <strong>Ceará</strong>.<br />

2. REVISÃO DA LITERATURA<br />

Embora a duração <strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego seja uma variável relevante, uma<br />

rápida revisão <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s sobre merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho no Brasil mostra a<br />

escassez <strong>de</strong> trabalhos tratan<strong>do</strong> <strong>de</strong>ste t<strong>em</strong>a.<br />

Na literatura internacional exist<strong>em</strong> vários estu<strong>do</strong>s que buscam explicar<br />

a duração <strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego. Lancaster (1979) e Nickell (1979) apresentam<br />

uma meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los com função risco para analisar a<br />

duração <strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego. Layard, Nickell e Jackman (1991) aplicam essa<br />

meto<strong>do</strong>logia para os países da OECD. Clark e Summers (1979) abordam a<br />

questão da concentração <strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego <strong>em</strong> longas durações.<br />

O estu<strong>do</strong> pioneiro na análise <strong>de</strong> duração <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego no Brasil foi<br />

o <strong>de</strong> Bivar (1993), o qual analisa a duração esperada das ocorrências <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego na região metropolitana <strong>de</strong> São Paulo (RMSP), para o perío<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> 1983 a 1990, através <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da Pesquisa Mensal <strong>de</strong> Emprego (PME).<br />

Amplian<strong>do</strong> a análise <strong>de</strong> Bivar (1993), Meneses Filho e Picchetti<br />

(2000) encontraram que a duração esperada <strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego é maior para<br />

os indivíduos mais velhos, os não-chefes, os mais educa<strong>do</strong>s, aqueles que<br />

foram d<strong>em</strong>iti<strong>do</strong>s <strong>do</strong> último <strong>em</strong>prego, os com menor rotativida<strong>de</strong>, os que<br />

<strong>de</strong>sejam <strong>em</strong>pregar-se no setor formal e os que não possu<strong>em</strong> experiência<br />

<strong>de</strong> trabalho. Também verificaram que a taxa <strong>de</strong> saída <strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego é<br />

crescente entre o primeiro e o sexto mês <strong>de</strong> duração.<br />

Numa aplicação para a região metropolitana <strong>de</strong> Belo Horizonte Peni<strong>do</strong><br />

e Macha<strong>do</strong> (2000) encontraram que indivíduos com maior escolarida<strong>de</strong><br />

e com maior t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> inativida<strong>de</strong> possu<strong>em</strong> menor taxa <strong>de</strong> saída <strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />

165


Elano Ferreira Arruda, Daniel B. Guimarães, Guilherme Irffi, Ivan Castelar<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego.<br />

Para São Paulo, Avelino (2001) observa que os <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s chefes<br />

<strong>de</strong> família, homens que não estudavam e que já trabalharam anteriormente,<br />

que não possuíam carteira assinada no último <strong>em</strong>prego e tinham <strong>em</strong>prego<br />

anterior na construção civil, consegu<strong>em</strong> <strong>em</strong>prego mais rapidamente.<br />

Em estu<strong>do</strong> para o Brasil metropolitano, Peni<strong>do</strong> e Macha<strong>do</strong> (2002)<br />

constataram que indivíduos com o primeiro grau completo, com maior<br />

t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> inativida<strong>de</strong>, na condição <strong>de</strong> filho, i<strong>do</strong>sos e mulheres possu<strong>em</strong><br />

menor probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar um novo posto <strong>de</strong> trabalho.<br />

Utilizan<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s da pesquisa <strong>de</strong> padrão <strong>de</strong> vida (PPV) <strong>do</strong> IBGE Oliveira<br />

e Carvalho (2006) encontraram, entre outros resulta<strong>do</strong>s, que o nível<br />

educacional <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r possui um efeito negativo sobre o risco <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r<br />

<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixar o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego. Mulheres e trabalha<strong>do</strong>res<br />

mais velhos também exib<strong>em</strong> efeito negativo, o que revela certa discriminação<br />

no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho.<br />

Dada a escassez <strong>de</strong> informações como as da PME (rotação <strong>de</strong> painéis)<br />

para o <strong>Ceará</strong>, a contribuição <strong>do</strong> presente trabalho resi<strong>de</strong> <strong>em</strong> estudar<br />

não o risco <strong>de</strong> sair <strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, como a gran<strong>de</strong> maioria <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s<br />

acima, mas <strong>de</strong> investigar quais são os fatores que aumentam as chances<br />

<strong>do</strong> indivíduo permanecer nesse esta<strong>do</strong>. Isto é, da<strong>do</strong> que o cearense está<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>, quais atributos aumentam ou diminu<strong>em</strong> as chances <strong>de</strong> que<br />

ele permaneça nesse esta<strong>do</strong> por longos perío<strong>do</strong>s? As respostas serão obtidas<br />

a partir da aplicação <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo dicotômico com a hipótese probit.<br />

3. FONTE E TRATAMENTO DOS DADOS<br />

Para a realização <strong>de</strong>sse exercício <strong>em</strong>pírico utilizar-se-á as informações<br />

da PNAD <strong>de</strong> 2007. A amostrag<strong>em</strong> cont<strong>em</strong>pla 399.964 indivíduos e<br />

147.851 unida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>miciliares, distribuídas por todas as Unida<strong>de</strong>s da Fe<strong>de</strong>ração,<br />

sen<strong>do</strong> que 31,54% das entrevistas foram respondidas pela pessoa<br />

cuja condição na família era <strong>de</strong> pessoa <strong>de</strong> referência, 1 20,26% pelo cônjuge<br />

da pessoa <strong>de</strong> referência, 40,85% pelo filho, entea<strong>do</strong> ou filho <strong>de</strong> criação da<br />

pessoa <strong>de</strong> referência e 7,35% os d<strong>em</strong>ais casos. 2<br />

1<br />

Enten<strong>de</strong>-se por pessoa <strong>de</strong> referência o indivíduo responsável pela unida<strong>de</strong> <strong>do</strong>miciliar (ou pela família) ou<br />

que assim foss<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s pelos d<strong>em</strong>ais m<strong>em</strong>bros.<br />

2<br />

Os d<strong>em</strong>ais casos na unida<strong>de</strong> familiar são <strong>de</strong> pessoas consi<strong>de</strong>radas como outros parentes, agrega<strong>do</strong>s, pensionistas,<br />

<strong>em</strong>prega<strong>do</strong> <strong>do</strong>méstico e parente <strong>do</strong> <strong>em</strong>prega<strong>do</strong> <strong>do</strong>méstico.<br />

166


Determinantes da Permanência no Des<strong>em</strong>prego no Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Trabalho Cearense<br />

De acor<strong>do</strong> com estas informações havia no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> cerca<br />

<strong>de</strong> 8,18 milhões <strong>de</strong> habitantes, <strong>do</strong>s quais 2,4 milhões resi<strong>de</strong>ntes na capital.<br />

Em relação à quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílios, estima-se a existência <strong>de</strong> 2,259<br />

milhões.<br />

A base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s foi extraída consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> apenas indivíduos com<br />

ida<strong>de</strong> entre 16 e 65 anos e que se encontravam <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s, por um<br />

perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> até 60 meses, na s<strong>em</strong>ana <strong>de</strong> referência.<br />

Para respon<strong>de</strong>r as indagações propostas, será realiza<strong>do</strong> um exercício<br />

<strong>em</strong>pírico, mediante o uso <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo probit que indicará quais atributos<br />

pessoais aumentam as chances <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r cearense passar mais <strong>de</strong> 12<br />

meses <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>. Nesse caso, a variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte é binária e assume<br />

valor 0, caso o indivíduo permaneça <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong> até 12 meses, e 1 se<br />

este está a mais <strong>de</strong> um ano e menos <strong>de</strong> 60 meses nesse esta<strong>do</strong>.<br />

As variáveis explicativas utilizadas pod<strong>em</strong> ser classificadas <strong>de</strong> acor<strong>do</strong><br />

com os atributos natos e adquiri<strong>do</strong>s <strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong> como Gênero, Ida<strong>de</strong>,<br />

Nível <strong>de</strong> Instrução Formal e Raça. 3 O Quadro 1 apresenta as variáveis<br />

explicativas e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, b<strong>em</strong> como suas <strong>de</strong>scrições e efeito espera<strong>do</strong><br />

sobre o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> permanência no <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego.<br />

Em relação aos sinais espera<strong>do</strong>s, ao construir a variável Gênero e <strong>de</strong>finir<br />

como categoria <strong>de</strong> referência as pessoas <strong>do</strong> sexo f<strong>em</strong>inino, espera-se<br />

que o efeito <strong>de</strong> permanecer <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong> <strong>do</strong>s homens seja menor <strong>do</strong> que<br />

o das mulheres, o que revelaria certa discriminação por gênero.<br />

A ida<strong>de</strong> afeta positivamente a permanência na situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego;<br />

uma vez que, quanto maior a ida<strong>de</strong>, maior a chance <strong>de</strong> permanecer<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>. No caso <strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong> ser o chefe <strong>do</strong> <strong>do</strong>micilio, esperase<br />

que isto exerça influência negativa sobre a permanência na situação <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego; consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que este é o arrimo da família e ten<strong>de</strong> a arcar<br />

com a maior parte das obrigações financeiras <strong>do</strong> <strong>do</strong>micílio.<br />

No tocante à Raça, pelo fato <strong>de</strong> várias pesquisas <strong>de</strong> abrangência<br />

nacional apontar<strong>em</strong> para uma discriminação no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho <strong>em</strong><br />

favor <strong>do</strong>s brancos, espera-se um efeito negativo sobre a permanência no<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, <strong>em</strong>bora Oliveira e Rosa (2006) não tenham encontra<strong>do</strong> evi-<br />

3 A escolha <strong>de</strong>ssas variáveis baseia-se <strong>em</strong> Bivar (1993), Meneses Filho e Picchetti (2000), Peni<strong>do</strong><br />

e Macha<strong>do</strong> (2002), Oliveira e Rosa (2006), Oliveira e Carvalho (2006) e Ehrenberg e Smith<br />

(2008).<br />

167


Elano Ferreira Arruda, Daniel B. Guimarães, Guilherme Irffi, Ivan Castelar<br />

dências <strong>de</strong>ssa discriminação no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho cearense.<br />

Já <strong>em</strong> relação ao nível educacional, ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> conta o nível <strong>de</strong> instrução<br />

formal, espera-se que este impacto seja negativo sobre a permanência<br />

na situação <strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego por longos perío<strong>do</strong>s; ou seja, espera-se que<br />

indivíduos com mais educação não pass<strong>em</strong> perío<strong>do</strong>s muito extensos no<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego.<br />

Esta expectativa difere <strong>do</strong>s trabalhos cita<strong>do</strong>s anteriormente, pois estes<br />

trabalham com pequenos perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, s<strong>em</strong>anas ou poucos<br />

meses. Trabalha<strong>do</strong>res com um maior nível educacional possu<strong>em</strong> um maior<br />

salário <strong>de</strong> reserva; e, portanto, esperam melhores ofertas e passam, consequent<strong>em</strong>ente,<br />

mais t<strong>em</strong>po para retornar ao merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho (Oliveira<br />

e Carvalho, 2006).<br />

Quadro 1 - Variáveis utilizadas no mo<strong>de</strong>lo proposto<br />

VARIAÇÃO<br />

EXPLICATIVA<br />

168<br />

Gênero<br />

Ida<strong>de</strong><br />

Chefe<br />

Cor ou raça<br />

Nível <strong>de</strong> Instrução<br />

(formal)<br />

0 f<strong>em</strong>inino;<br />

1 masculino.<br />

DESCRIÇÃO<br />

Ida<strong>de</strong>1 (1 se tiver entre 16 e 25 anos, e 0 caso contrario);<br />

Ida<strong>de</strong>2 ( 1 se tiver <strong>de</strong> 26 a 35 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, e 0 caso contrario);<br />

Ida<strong>de</strong>3 (1 se tiver <strong>de</strong> 36 a 45 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, e 0 caso contrario);<br />

Ida<strong>de</strong>4 (assume valor 1 caso o individuo esteja na faixa etária <strong>de</strong> 46 a 65 anos, e<br />

0 caso contrario).<br />

0, se o entrevista<strong>do</strong> não for o chefe da família.<br />

1, no caso <strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong> ser o chefe da família.<br />

0 se <strong>de</strong>clarar não branco;<br />

1 se <strong>de</strong>clarar branco.<br />

S<strong>em</strong> Instrução (nunca freqüentou a escola) – E1<br />

Ensino Fundamental Incompleto e Completo – E2<br />

Ensino Médio Incompleto e Completo – E3<br />

Ensino Superior Incompleto e Completo – E4<br />

VARIAÇÃO<br />

DEPENDENTE DESCRIÇÃO<br />

Duração<br />

0, se o individuo estiver <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong> até 12 meses<br />

1, se o individuo estiver a mais <strong>de</strong> 12 meses e até 60 meses<br />

Fonte: Elabora<strong>do</strong> pelos autores a partir das informações da PNAD – 2007.<br />

Nota: (*) variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte; (**) categoria <strong>de</strong> referência (omitida).<br />

EFEITO<br />

ESPERADO<br />

(-)<br />

**<br />

(+)<br />

(+)<br />

(+)<br />

(-)<br />

(-)<br />

**<br />

(-)<br />

(-)<br />

(-)<br />

*


Determinantes da Permanência no Des<strong>em</strong>prego no Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Trabalho Cearense<br />

A Tabela 1 apresenta uma síntese da base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, por meio <strong>de</strong> suas<br />

estatísticas <strong>de</strong>scritivas. A amostra é composta por 2147 pessoas.<br />

Vale <strong>de</strong>stacar que no caso <strong>de</strong> variáveis binárias, a média representa<br />

a proporção <strong>de</strong> indivíduos que apresentam a característica valorada pelo<br />

número 1 para cada variável como, por ex<strong>em</strong>plo, 38% das pessoas são homens,<br />

4 50% estão a mais <strong>de</strong> <strong>do</strong>ze meses <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s, 34% são chefes<br />

<strong>de</strong> família, 32% se consi<strong>de</strong>ram brancos e 46% possu<strong>em</strong> ensino fundamental,<br />

<strong>em</strong> curso ou completo, o que sinaliza um baixo nível educacional da<br />

amostra.<br />

Tabela 1 - Estatísticas <strong>de</strong>scritivas das variáveis utilizadas<br />

Variáveis Observações Média Desvio-padrão Mínimo Máximo<br />

Duração 2147 0.5035 0.5001 0 1<br />

Chefe 2147 0.3447 0.4754 0 1<br />

E1 2147 0.1565 0.3634 0 1<br />

E2 2147 0.4620 0.4987 0 1<br />

E3 2147 0.3135 0.4640 0 1<br />

E4 2147 0.0680 0.2518 0 1<br />

Raça 2147 0.3163 0.4651 0 1<br />

Gênero 2147 0.3861 0.4870 0 1<br />

Id1 2147 0.3246 0.4683 0 1<br />

Id2 2147 0.2273 0.4192 0 1<br />

Id3 2147 0.1607 0.3673 0 1<br />

Id4 2147 0.2874 0.4527 0 1<br />

Fonte: Elabora<strong>do</strong> pelos autores.<br />

4. MODELO PROBIT<br />

O mo<strong>de</strong>lo Probit é <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> através <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> uma variável não<br />

observada <strong>de</strong>nominada latente, para substituir uma variável binária, a qual<br />

é assumida possuir <strong>de</strong>terminada distribuição <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> (Davidson<br />

e Mackinnon, 2004). Nestes termos, a especificação <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo com a variável<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte binária observada é dada por,<br />

(1)<br />

on<strong>de</strong> Y = 1 se ocorre sucesso ou Y = 0 caso contrário. Como a estima-<br />

i i<br />

ção <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo não garante Y estar conti<strong>do</strong> no intervalo (0,1), a sua<br />

i<br />

0 reformulação é feita através da criação <strong>de</strong> uma variável latente (Y ) i<br />

4 As variáveis binárias como, por ex<strong>em</strong>plo, hom<strong>em</strong> e branco são compl<strong>em</strong>entares a mulher e<br />

não branco; sen<strong>do</strong> assim, a proporção <strong>de</strong> pessoas <strong>do</strong> sexo f<strong>em</strong>inino e <strong>de</strong> não brancos é 66%<br />

da amostra.<br />

169


Elano Ferreira Arruda, Daniel B. Guimarães, Guilherme Irffi, Ivan Castelar<br />

<strong>em</strong> substituição a Y . Neste senti<strong>do</strong>, e assumin<strong>do</strong> a hipótese Probit,<br />

i<br />

u segue uma distribuição normal padronizada. O sinal da variável<br />

i<br />

0 latente não observada, Y , <strong>de</strong>terminará o valor que a variável binária<br />

i<br />

0 observada, Y , assumirá; ou seja, se Y for positiva ou negativa, Yi assume<br />

i i<br />

o valor 1 ou 0 respectivamente. Desse mo<strong>do</strong>, torna-se possível computar a<br />

probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que Y assuma o valor 1, a qual será dada por,<br />

i<br />

On<strong>de</strong> Φ ( X 'β ) é a função <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> cumulativa da distribui-<br />

i<br />

ção normal padrão.<br />

Para a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste artigo, a variável observada assumirá o valor<br />

1, se na s<strong>em</strong>ana <strong>de</strong> referência da PNAD 2007 o indivíduo estiver <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong><br />

a mais <strong>de</strong> 12 meses; caso contrário, tal variável assumirá o valor<br />

0.<br />

Neste mo<strong>de</strong>lo, os efeitos marginais <strong>do</strong>s regressores nas probabilida<strong>de</strong>s<br />

não serão da<strong>do</strong>s diretamente pelos coeficientes das variáveis explicativas,<br />

então para Pr ob (y = 1) e Pr ob (y = 0) os efeitos marginais <strong>de</strong><br />

i i<br />

mudanças nas variáveis explicativas serão da<strong>do</strong>s por,<br />

Percebe-se pelas formulações acima que majoran<strong>do</strong>-se o valor <strong>de</strong> um<br />

<strong>do</strong>s regressores, a Pr ob (y i = 0) aumenta se o sinal <strong>do</strong> coeficiente da variável<br />

majorada for negativo e <strong>de</strong>clina se tal coeficiente for positivo. Para a<br />

Pr ob (y i = 1) o raciocínio é análogo.<br />

5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS<br />

O mo<strong>de</strong>lo Probit mostrou-se globalmente significativo <strong>de</strong> acor<strong>do</strong><br />

com a estatística <strong>de</strong> máxima verossimilhança, que apresentou valor bastante<br />

eleva<strong>do</strong>, significan<strong>do</strong> que se po<strong>de</strong> rejeitar a hipótese <strong>de</strong> que to<strong>do</strong>s os<br />

coeficientes são nulos, mesmo ao nível <strong>de</strong> significância <strong>de</strong> 1% como po<strong>de</strong><br />

ser verifica<strong>do</strong> na Tabela 2.<br />

Para os coeficientes individuais a variável Raça não se mostrou estatisticamente<br />

significante, e isto po<strong>de</strong> ser um indicativo da ausência <strong>de</strong><br />

170<br />

(2)<br />

(3)


Determinantes da Permanência no Des<strong>em</strong>prego no Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Trabalho Cearense<br />

discriminação racial no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho cearense para longos perío<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego. 5<br />

Se um trabalha<strong>do</strong>r <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong> é chefe <strong>de</strong> família, menor será a<br />

probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que ele permaneça nesse esta<strong>do</strong> por mais <strong>de</strong> 12 meses, é<br />

o que indica o sinal <strong>do</strong> coeficiente da variável Chefe, que se mostrou significante<br />

apenas a 10%. Este resulta<strong>do</strong> também foi encontra<strong>do</strong> por Meneses<br />

Filho e Picchetti (2000) e Avelino (2001).<br />

Tabela 2 - Estimação por Máxima Verossimilhança<br />

<strong>do</strong> Mo<strong>de</strong>lo Probit<br />

Variáveis Coeficientes Erro Padrão Estatística Z Valor P<br />

Gênero -0.329511 0.0570318 -5.78 0.0000<br />

ID2 0.2712026 0.0714735 3.79 0.0000<br />

ID3 0.2701971 0.0801667 3.37 0.0010<br />

ID4 0.8159736 0.0709133 11.51 0.0000<br />

Raça 0.0984686 0.060258 1.63 0.1020<br />

E4 -0.2746201 0.1149884 -2.39 0.0170<br />

E3 -0.2066276 0.060751 -3.4 0.0010<br />

E2 -0.2044762 0.0571748 -3.58 0.0000<br />

Chefe* -0.1095486 0.0645274 -1.7 0.0900<br />

Log Verossimilhança -1397.4885<br />

Valor P 0.00000<br />

Número <strong>de</strong> Observações 2147<br />

Fonte: Estimação feita a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da PNAD.<br />

(*) Significante a 10%.<br />

As dummies <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> indicam que quanto mais velho for o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>,<br />

maiores serão as chances <strong>de</strong> que ele permaneça no <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego por<br />

mais <strong>de</strong> um ano, como encontra<strong>do</strong> pela maior parte <strong>do</strong>s trabalhos cita<strong>do</strong>s<br />

anteriormente. 6<br />

O mo<strong>de</strong>lo também revela que quanto maior for o nível <strong>de</strong> educação<br />

formal <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, menor será a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> permanência no <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego<br />

por mais <strong>de</strong> 12 meses. Vale <strong>de</strong>stacar que este resulta<strong>do</strong> também<br />

foi encontra<strong>do</strong> por Peni<strong>do</strong> e Macha<strong>do</strong> (2002).<br />

Para os trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> sexo masculino, as chances <strong>de</strong> passar mais<br />

<strong>de</strong> 12 meses <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong> também são menores, resulta<strong>do</strong> constata<strong>do</strong><br />

pelo sinal <strong>do</strong> coeficiente estima<strong>do</strong>, o que indica uma discriminação por<br />

5 Este resulta<strong>do</strong> corrobora o encontra<strong>do</strong> por Oliveira e Rosa (2006).<br />

6 Destacam-se Meneses Filho e Picchetti (2000), Peni<strong>do</strong> e Macha<strong>do</strong> (2002) e Oliveira e Carvalho (2006).<br />

171


Elano Ferreira Arruda, Daniel B. Guimarães, Guilherme Irffi, Ivan Castelar<br />

gênero no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho cearense.<br />

Como relata<strong>do</strong> anteriormente, os coeficientes estima<strong>do</strong>s no mo<strong>de</strong>lo<br />

probit indicam apenas o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> impacto que a variável explicativa <strong>do</strong><br />

respectivo coeficiente, ceteris paribus, ocasiona na probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> permanência<br />

na situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego. No entanto, os efeitos marginais<br />

pod<strong>em</strong> ser computa<strong>do</strong>s a partir da equação 3, sen<strong>do</strong> sintetiza<strong>do</strong>s na tabela<br />

abaixo.<br />

Tabela 3 - Efeitos Marginais <strong>do</strong> Mo<strong>de</strong>lo Probit<br />

Variáveis Efeito Marginal Erro Padrão Estatística z Valor P<br />

Gênero -0.1308574 0.0224336 -5.83 0.000<br />

Id2 0.1073101 0.0278724 3.85 0.000<br />

Id3 0.1067065 0.0310915 3.43 0.001<br />

Id4 0.3107068 0.0244172 12.72 0.000<br />

Raça 0.0392262 0.0239636 1.64 0.102<br />

E4 -0.1087673 0.0447295 -2.43 0.015<br />

E3 -0.0822814 0.0240874 -3.42 0.001<br />

E2 -0.081416 0.0227036 -3.59 0.000<br />

Chefe* -0.0436792 0.0257075 -1.7 0.089<br />

Fonte: Elabora<strong>do</strong> pelos autores.<br />

(*) Significante a 10%.<br />

Percebe-se pela tabela acima que o efeito marginal da variável raça<br />

mostrou-se insignificante, indican<strong>do</strong> que ao se comparar indivíduos idênticos,<br />

exceto por raça, não há variação na probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> permanência<br />

na situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego. Todas as outras se mostraram significantes<br />

aos níveis usuais.<br />

Corroboran<strong>do</strong> o que já havia si<strong>do</strong> menciona<strong>do</strong>, constatou-se que as<br />

variáveis Chefe e Gênero, além das dummies <strong>de</strong> educação E2, E3 e E4<br />

influenciam negativamente a probabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> indivíduo permanecer por<br />

um perío<strong>do</strong> superior a um ano no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, ao passo que as<br />

dummies <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> afetam tal probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maneira análoga.<br />

Em relação à magnitu<strong>de</strong> <strong>do</strong> impacto, <strong>de</strong>ntre as variáveis com impacto<br />

negativo, verificou-se que o indivíduo <strong>do</strong> sexo masculino apresenta <strong>em</strong><br />

média uma probabilida<strong>de</strong> 13% menor <strong>do</strong> que o indivíduo <strong>do</strong> sexo f<strong>em</strong>inino<br />

<strong>de</strong> permanecer <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong> por mais <strong>de</strong> um ano.<br />

Indivíduos com ensino superior, completo ou <strong>em</strong> curso, possu<strong>em</strong>, <strong>em</strong><br />

média, uma chance cerca <strong>de</strong> 10% menor que a <strong>do</strong>s indivíduos analfabetos<br />

172


Determinantes da Permanência no Des<strong>em</strong>prego no Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Trabalho Cearense<br />

<strong>de</strong> ficar por mais <strong>de</strong> 12 meses <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>. Essa chance é 8% menor<br />

para indivíduos com ensino fundamental ou médio, <strong>em</strong> curso ou completo.<br />

Os chefes <strong>de</strong> família possu<strong>em</strong>, <strong>em</strong> média, uma probabilida<strong>de</strong> 4% menor <strong>de</strong><br />

permanência no <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego por mais <strong>de</strong> um ano, quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> aos<br />

não chefes.<br />

Do mesmo mo<strong>do</strong>, comparan<strong>do</strong> as variáveis com impacto positivo,<br />

ressalta-se o da variável Id4, o qual indica que indivíduos acima <strong>do</strong>s 46<br />

anos apresentam <strong>em</strong> média uma probabilida<strong>de</strong> 31% maior <strong>de</strong> permanecer<br />

na situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego.<br />

Com o intuito <strong>de</strong> tornar mais claro o papel das probabilida<strong>de</strong>s estimadas,<br />

foram calcula<strong>do</strong>s os cenários probabilísticos para o mo<strong>de</strong>lo. Com<br />

a construção <strong>de</strong>sses cenários, além <strong>de</strong> atestar os efeitos que as alterações<br />

nas variáveis explicativas ocasionam na probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> permanecer <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>,<br />

po<strong>de</strong>-se mensurar a probabilida<strong>de</strong> que um indivíduo com <strong>de</strong>terminadas<br />

características permaneça <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>.<br />

Esses cenários revelam, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a tabela 4 <strong>em</strong> anexo, que<br />

um cearense hom<strong>em</strong>, analfabeto, com ida<strong>de</strong> entre 16 e 25 anos e chefe <strong>de</strong><br />

família, possui 33% <strong>de</strong> chance <strong>de</strong> permanecer <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong> por mais <strong>de</strong><br />

12 meses; enquanto que uma mulher, com as mesmas características, t<strong>em</strong><br />

46%. Os d<strong>em</strong>ais resulta<strong>do</strong>s mostram que para quaisquer alterações nas<br />

características <strong>do</strong>s indivíduos, as mulheres possu<strong>em</strong> maiores chances <strong>de</strong><br />

passar mais <strong>de</strong> um ano no <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego.<br />

Os <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s com ida<strong>de</strong> entre 16 e 25 anos apresentaram as<br />

menores probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> permanência na situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, quan<strong>do</strong><br />

compara<strong>do</strong>s aos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> mais elevada, e a diferença na probabilida<strong>de</strong><br />

aumenta significativamente quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong>s aos trabalha<strong>do</strong>res acima<br />

<strong>de</strong> 46 anos.<br />

Analisan<strong>do</strong> os níveis educacionais observa-se que as mulheres com<br />

nível superior apresentam, <strong>em</strong> geral, menor chance <strong>de</strong> permanecer por<br />

mais <strong>de</strong> um ano no <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, quan<strong>do</strong> comparadas às mulheres <strong>de</strong> menor<br />

escolarida<strong>de</strong>. Para os homens não foi i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> um padrão <strong>de</strong>fini<strong>do</strong><br />

na distribuição das chances por educação, <strong>em</strong>bora a variação na probabilida<strong>de</strong><br />

seja substancialmente maior quan<strong>do</strong> o indivíduo sai da condição <strong>de</strong><br />

analfabeto para o ensino fundamental.<br />

O indivíduo com menor probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> permanecer por mais <strong>de</strong><br />

173


Elano Ferreira Arruda, Daniel B. Guimarães, Guilherme Irffi, Ivan Castelar<br />

12 meses <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong> foi o hom<strong>em</strong> entre 16 e 25 anos, chefe <strong>de</strong> família<br />

e com nível superior, com apenas 23% <strong>de</strong> chance. Enquanto que o que<br />

apresentou maior probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> permanência foi à mulher, acima <strong>de</strong> 46<br />

anos, analfabeta e não chefe, com 80% <strong>de</strong> chance.<br />

6. CONSIDERAÇõES FINAIS<br />

Este trabalho preocupou-se <strong>em</strong> analisar os <strong>de</strong>terminantes das chances<br />

<strong>de</strong> permanência na situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego para o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>,<br />

usan<strong>do</strong> micro-da<strong>do</strong>s da PNAD <strong>de</strong> 2007 e um mo<strong>de</strong>lo dicotômico basea<strong>do</strong><br />

numa distribuição normal.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s encontra<strong>do</strong>s mostraram que a variável Raça não se<br />

mostrou significante aos níveis usuais, o que revela uma ausência <strong>de</strong> discriminação<br />

por raça no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho cearense, tal como encontra<strong>do</strong><br />

<strong>em</strong> Oliveira e Rosa (2006).<br />

As chances <strong>de</strong> permanência no <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego por mais <strong>de</strong> um ano foram<br />

maiores para os cearenses mais velhos, resulta<strong>do</strong> s<strong>em</strong>elhante ao encontra<strong>do</strong><br />

por Peni<strong>do</strong> e Macha<strong>do</strong> (2002) e Oliveira e Carvalho (2006). A<br />

análise <strong>do</strong>s efeitos marginais mostrou ainda que os cearenses com mais <strong>de</strong><br />

46 anos apresentam <strong>em</strong> média uma probabilida<strong>de</strong> 31% maior <strong>de</strong> permanecer<br />

por mais <strong>de</strong> 12 meses <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> aos mais<br />

jovens. Isto é, à medida que o indivíduo passa a pertencer às classes <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong> mais elevadas a discrepância nas chances <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego ten<strong>de</strong> a se<br />

tornar mais acentuada.<br />

Os indivíduos com maior nível <strong>de</strong> educação formal apresentaram<br />

menores chances <strong>de</strong> permanência no <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego por mais <strong>de</strong> um ano,<br />

resulta<strong>do</strong> que corrobora o encontra<strong>do</strong> por Peni<strong>do</strong> e Macha<strong>do</strong> (2002). Os<br />

efeitos marginais revelaram também que os cearenses com ensino superior,<br />

completo ou <strong>em</strong> curso, possu<strong>em</strong> <strong>em</strong> média uma chance cerca <strong>de</strong> 10%<br />

menor que a <strong>do</strong>s indivíduos analfabetos <strong>de</strong> ficar por mais <strong>de</strong> 12 meses<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>. Essa chance é 8% menor para indivíduos com ensino fundamental<br />

ou médio, <strong>em</strong> curso ou completo.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s também mostraram uma discriminação por gênero no<br />

merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho cearense, como encontra<strong>do</strong> por Avelino (2001) e Oliveira<br />

e Carvalho (2006). O efeito marginal revelou que o cearense <strong>do</strong> sexo<br />

174


Determinantes da Permanência no Des<strong>em</strong>prego no Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Trabalho Cearense<br />

masculino apresenta <strong>em</strong> média uma probabilida<strong>de</strong> 13% menor <strong>do</strong> que a<br />

<strong>do</strong> indivíduo <strong>do</strong> sexo f<strong>em</strong>inino <strong>de</strong> permanecer <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong> por mais <strong>de</strong><br />

um ano.<br />

O mo<strong>de</strong>lo também revelou que se um cearense é chefe <strong>de</strong> família,<br />

menor será a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que ele permaneça nesse esta<strong>do</strong> por mais <strong>de</strong><br />

um ano, resulta<strong>do</strong> também presente <strong>em</strong> Meneses Filho e Picchetti (2000)<br />

e Avelino (2001).<br />

A análise <strong>de</strong> cenários probabilísticos revelou que o indivíduo com<br />

menor probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> permanecer por mais <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong><br />

foi o hom<strong>em</strong> entre 16 e 25 anos, chefe <strong>de</strong> família e com nível superior, com<br />

apenas 23% <strong>de</strong> chance. Enquanto que o que apresentou maior probabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> permanência foi a mulher, acima <strong>de</strong> 46 anos, analfabeta e não chefe,<br />

com 80% <strong>de</strong> chance<br />

Esses resulta<strong>do</strong>s suger<strong>em</strong> que as políticas públicas <strong>de</strong>veriam priorizar<br />

a educação, principalmente para a redução no número <strong>de</strong> cearenses<br />

analfabetos; a reciclag<strong>em</strong> <strong>do</strong>s profissionais <strong>de</strong> mais ida<strong>de</strong> e incentivos para<br />

uma maior inserção das mulheres no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho.<br />

Uma possível extensão <strong>de</strong>ste trabalho seria ampliá-lo para o Brasil,<br />

analisan<strong>do</strong> os efeitos aqui capta<strong>do</strong>s e comparan<strong>do</strong>-os entre regiões <strong>do</strong> país.<br />

Outra possibilida<strong>de</strong> é verificar <strong>em</strong> que faixas <strong>de</strong> renda estão os indivíduos<br />

com maior probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> permanência no <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego para verificar o<br />

grau <strong>de</strong> severida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse esta<strong>do</strong> para os mais pobres, por ex<strong>em</strong>plo.<br />

175


Elano Ferreira Arruda, Daniel B. Guimarães, Guilherme Irffi, Ivan Castelar<br />

176<br />

Tabela 4 - Cenários probabilísticos <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo Probit<br />

Mulheres Homens<br />

id2 id3 id4 e4 e3 e2 chefe Prob id2 id3 id4 e4 e3 e2 chefe Prob<br />

0 0 0 0 0 0 0 0,5 0 0 0 0 0 0 0 0,3708<br />

0 0 0 0 0 0 1 0,4564 0 0 0 0 0 0 1 0,3303<br />

1 0 0 0 0 0 1 0,5642 1 0 0 0 0 0 1 0,4723<br />

0 1 0 0 0 0 1 0,5638 0 1 0 0 0 0 1 0,433<br />

0 0 1 0 0 0 1 0,76 0 0 1 0 0 0 1 0,6469<br />

1 0 0 0 0 0 0 0,6442 1 0 0 0 0 0 0 0,4768<br />

0 1 0 0 0 0 0 0,6065 0 1 0 0 0 0 0 0,4764<br />

0 0 1 0 0 0 0 0,7927 0 0 1 0 0 0 0 0,6867<br />

0 0 0 0 0 1 1 0,3768 0 0 0 0 0 1 1 0,2599<br />

0 0 0 0 1 0 1 0,4138 0 0 0 0 1 0 1 0,2592<br />

0 0 0 1 0 0 1 0,3876 0 0 0 1 0 0 1 0,2377<br />

0 0 0 0 0 1 0 0,419 0 0 0 0 0 1 0 0,2967<br />

0 0 0 0 1 0 0 0,4569 0 0 0 0 1 0 0 0,2959<br />

0 0 0 1 0 0 0 0,3918 0 0 0 1 0 0 0 0,3065<br />

1 0 0 0 0 1 1 0,4829 1 0 0 0 0 1 1 0,3548<br />

1 0 0 0 1 0 1 0,5213 1 0 0 0 1 0 1 0,354<br />

1 0 0 1 0 0 1 0,4942 1 0 0 1 0 0 1 0,33<br />

1 0 0 0 0 1 0 0,5266 1 0 0 0 0 1 0 0,3964<br />

1 0 0 0 1 0 0 0,5257 1 0 0 0 1 0 0 0,4339<br />

1 0 0 1 0 0 0 0,4986 1 0 0 1 0 0 0 0,4073<br />

0 1 0 0 0 1 1 0,5218 0 1 0 0 0 1 1 0,3544<br />

0 1 0 0 1 0 1 0,4817 0 1 0 0 1 0 1 0,3909<br />

0 1 0 1 0 0 1 0,4546 0 1 0 1 0 0 1 0,33<br />

0 1 0 0 0 1 0 0,5262 0 1 0 0 0 1 0 0,396<br />

0 1 0 0 1 0 0 0,5644 0 1 0 0 1 0 0 0,4335<br />

0 1 0 1 0 0 0 0,4982 0 1 0 1 0 0 0 0,3692<br />

0 0 1 0 0 1 1 0,6921 0 0 1 0 0 1 1 0,6068<br />

0 0 1 0 1 0 1 0,7252 0 0 1 0 1 0 1 0,6059<br />

0 0 1 1 0 0 1 0,6671 0 0 1 1 0 0 1 0,5407<br />

0 0 1 0 0 1 0 0,7611 0 0 1 0 0 1 0 0,611<br />

0 0 1 0 1 0 0 0,7605 0 0 1 0 1 0 0 0,6474<br />

0 0 1 1 0 0 0 0,7389 0 0 1 1 0 0 0 0,6218<br />

Fonte: Elabora<strong>do</strong> pelos Autores.


BIBLIOGRAFIA<br />

Determinantes da Permanência no Des<strong>em</strong>prego no Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Trabalho Cearense<br />

ANTIGO, M. F.; MACHADO, A. F. Transições e duração <strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego:<br />

uma revisão da literatura com novas evidências para Belo Horizonte.<br />

Nova <strong>Economia</strong>, v. 16, n. 3, p. 375-406, 2006.<br />

AVELINO, R. R. G. Os Determinantes da Duração <strong>de</strong> Des<strong>em</strong>prego <strong>em</strong><br />

São Paulo. São Paulo: USP/IPE, 2001. (Texto para Discussão, 11).<br />

BIVAR, W. Estimativas da duração média <strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego no Brasil. Pesquisa<br />

e Planejamento econômico, v. 23, n. 2, p. 275-312, 1993.<br />

CLARK, K. B; SUMMERS, L. H. Labor Market dynamics and un<strong>em</strong>ployment:<br />

a reconsi<strong>de</strong>ration. Brookings Papers on Economic Activity.<br />

n 1, 1979.<br />

DAVIDSON, Russel e MACKINNON, James G. Econometric Theory<br />

and Methods. New York: Oxford Universit Press, 2004.<br />

EHRENBERG, R. G.; SMITH, R. S. T. Mo<strong>de</strong>rn Labor Economics: Theory<br />

and Public Policy: International Edition. Pearson Education. 2008.<br />

GUIMARAES, D. B.; ARRAES, R. A. Status Sócio-Econômico, Background<br />

Familiar, Formação Educacional e as Chances <strong>de</strong> Sucesso <strong>do</strong>s<br />

Candidatos ao Vestibular da UFC. In: IV Encontro <strong>Economia</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

<strong>em</strong> <strong>Debate</strong>, Fortaleza – CE, 2008.<br />

LANCASTER, T. Econometric methods for the duration of un<strong>em</strong>ployment.<br />

Econometrica, v. 47, n. 4, p. 939-956, 1979.<br />

LANCASTER, T; NICKEL, S. The analysis of re<strong>em</strong>ployment probabilities<br />

for the un<strong>em</strong>ployment. Journal of the Royal Statistical Society A, v.<br />

143, n. 2, 1980.<br />

LAYARD, R; NICKELL, S; JACKMAN, R. Un<strong>em</strong>ployment: Macroeconomic<br />

performance and the labor market. O.U.P; 1991.<br />

LONG, J. S. Mo<strong>de</strong>ls for Categorical and Limit Depen<strong>de</strong>nt Variables.<br />

Sage Publications, 1997.<br />

MACHADO, A. F.; RIBAS, R. P.; PENIDO, M. Mobilida<strong>de</strong> entre esta<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> pobreza e inserção no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho: uma análise para o Brasil<br />

metropolitano <strong>em</strong> 2004. Revista <strong>de</strong> <strong>Economia</strong> Aplicada, v. 11, p. 253-<br />

279, 2007.<br />

MADDALA, G. S. Limited Depen<strong>de</strong>nt and Qualitative Variables in<br />

177


Elano Ferreira Arruda, Daniel B. Guimarães, Guilherme Irffi, Ivan Castelar<br />

Econometrics. Cambridge University Press, 1998.<br />

MENEZES-FILHO, N. A.; PICCHETTI, P. Os <strong>de</strong>terminantes da duração<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego <strong>em</strong> São Paulo. Pesquisa e Planejamento Econômico, v.<br />

30, n. 1, p. 23–48, 2000.<br />

NICKEL, S. Estimating the probability of leaving un<strong>em</strong>ployment. Econometrica.<br />

V 47, n 4, 1979.<br />

OLIVEIRA, V. H.; CARVALHO, J. R. Os Determinantes da Duração<br />

<strong>do</strong> Des<strong>em</strong>prego no Brasil: Uma Análise com Da<strong>do</strong>s da Pesquisa <strong>de</strong><br />

Padrão <strong>de</strong> Vida <strong>do</strong> IBGE. In: XI Encontro Regional <strong>de</strong> <strong>Economia</strong>, 2006,<br />

Fortaleza. Anais <strong>do</strong> XI Encontro Regional <strong>de</strong> <strong>Economia</strong>. Fortaleza: Banco<br />

<strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste, 2006. v. 1.<br />

OLIVEIRA, J. L.; ROSA, A. L. T. Uma Análise <strong>do</strong>s Determinantes da<br />

Alocação <strong>de</strong> T<strong>em</strong>po <strong>do</strong>s Jovens Cearenses entre Estudar e Trabalhar.<br />

Texto para Discussão <strong>IPECE</strong>, n 35, 2006.<br />

PENIDO, M.; MACHADO, A. F. Des<strong>em</strong>prego: Evidências da Duração<br />

no Brasil Metropolitano.Texto para discussão, n 176, Belo<br />

Horizonte:UFMG/ Ce<strong>de</strong>plar, 2002.<br />

PENIDO, M.; MACHADO, A. F. Duração <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego na região Metropolitana<br />

<strong>de</strong> Belo Horizonte. In: X S<strong>em</strong>inário sobre <strong>Economia</strong> Mineira,<br />

Belo Horizonte – MG, 2000.<br />

PENIDO, M.; MACHADO, A. F. Duração <strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego no Brasil Metropolitano.<br />

In: Simone Wajnman; Ana Flávia Macha<strong>do</strong>. (Org.). Merca<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> Trabalho: Uma análise a partir das pesquisas <strong>do</strong>miciliares no Brasil.<br />

Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2003, v. 1, p. 203-218.<br />

RIBAS, R. P.; MACHADO, A. F. Mudanças no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho<br />

retiram famílias da pobreza? Determinantes <strong>do</strong>miciliares e agrega<strong>do</strong>s<br />

para a saída da pobreza nas regiões metropolitanas brasileiras. In:<br />

XXXV Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Economia</strong>, 2007, Recife. Anais <strong>do</strong> XXXV<br />

Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Economia</strong>. São Paulo: ANPEC, 2007. p. 1-22.<br />

WOOLDRIDGE, J. M., Econometric Analysis of Cross-sectional and<br />

Panel Data, Michigan University, MIT Press, 2002.<br />

178


RESUMO<br />

EFEITOS DA POLÍTICA DE ATRAÇÃO<br />

DE INCENTIVOS INDUSTRIAIS<br />

NO CEARÁ SOBRE O EMPREGO<br />

NO PERÍODO 2002-2005<br />

Guilherme Irffi *<br />

Fernan<strong>do</strong> A. N. Nogueira *<br />

Flavio Ataliba F. D. Barreto *<br />

O presente trabalho objetiva avaliar <strong>em</strong>piricamente a eficácia <strong>do</strong><br />

Fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento Industrial – FDI na geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego, compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

o perío<strong>do</strong> 2002 a 2005. Através da base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s com informações<br />

das <strong>em</strong>presas que receberam incentivo fiscal para se instalar,<br />

mo<strong>de</strong>rnizar ou realocar seus investimentos no Esta<strong>do</strong>, foram estima<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>is mo<strong>de</strong>los: o primeiro utiliza informações cross-section e t<strong>em</strong> por finalida<strong>de</strong><br />

captar a taxa <strong>de</strong> crescimento <strong>do</strong> <strong>em</strong>prego formal. O outro utiliza<br />

da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> painel, para averiguar o efeito <strong>do</strong> PIB per capita, <strong>do</strong> estoque <strong>de</strong><br />

capital humano e <strong>do</strong> consumo <strong>de</strong> energia elétrica sobre o estoque <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos<br />

formais. No tocante aos resulta<strong>do</strong>s, po<strong>de</strong>-se inferir que o FDI foi<br />

ineficaz quanto à sua meta <strong>de</strong> gerar <strong>em</strong>pregos. Esse resulta<strong>do</strong> joga luz na<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se discutir modificações nas políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

industrial <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>.<br />

Palavras-chave: Política Industrial, Incentivo Fiscal, Emprego, Avaliação<br />

Econométrica.<br />

AbstrAct<br />

This study aims to <strong>em</strong>pirically assess the effectiveness of the Fund<br />

for Industrial Development (FDI) in the generation of <strong>em</strong>ployment,<br />

including the period from 2002 to 2005. Through the database of informa-<br />

....................................................<br />

* Doutoran<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>Economia</strong> (CAEN-UFC). Professor da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, Dep. <strong>Economia</strong>,<br />

Campus Sobral.<br />

** Mestre <strong>em</strong> economia pelo CAEN-UFC. Auditor Fiscal da Receita <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>.<br />

**** Doutor <strong>em</strong> <strong>Economia</strong> pela EPGE-FGV. Professor <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Economia</strong> Aplicada da UFC.<br />

179


Guilherme Irffi, Fernan<strong>do</strong> A. N. Nogueira, Flavio Ataliba F. D. Barreto<br />

tion from companies that received tax incentives to install, upgra<strong>de</strong>or relocate<br />

their investments in the State, were estimated two mo<strong>de</strong>ls: the first<br />

uses information cross-section and aims to raise the rate of <strong>em</strong>ployment<br />

growth formal. The other, using panel data, to investigate the effect of<br />

GDP per capita, the stock of human capital and consumption of electric<br />

power on the stock of formal jobs With regard to results, we can infer<br />

that the FDI was ineffective on its goal of generating jobs, is seen that the<br />

impact on the stock or the rate of formal job growth was zero, so future<br />

policies for industrial <strong>de</strong>velopment the state of <strong>Ceará</strong> can be corrected (or<br />

revised) on how to impl<strong>em</strong>ent.<br />

Key-words: Industrial Policy, Tax Incentives, Employment, Evaluation<br />

Econometric.<br />

Classificação JEL: J08; R58.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

As diferenças estruturais perpetuadas ao longo <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po entre as<br />

economias estaduais brasileiras, b<strong>em</strong> como, a ausência ou quase inexistência<br />

<strong>de</strong> políticas fe<strong>de</strong>rais <strong>de</strong>stinadas a combater as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s regionais<br />

após a Constituição <strong>de</strong> 1988, fomentaram, <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> fe<strong>de</strong>rativo, o<br />

surgimento <strong>de</strong> políticas estaduais específicas como forma <strong>de</strong> corrigir as<br />

“falhas <strong>de</strong> governo” e “falhas <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>” no tocante a atração <strong>de</strong> investimentos<br />

que pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> modificar a dinâmica da economia local.<br />

De uma forma geral, as políticas <strong>de</strong> industrialização são baseadas<br />

<strong>em</strong> <strong>do</strong>is princípios: o primeiro versa sobre a oferta <strong>de</strong> infra-estrutura física<br />

para aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s das indústrias, como construção <strong>de</strong> estradas,<br />

serviços <strong>de</strong> água e esgoto, energia, gás, portos, aeroportos, comunicação,<br />

chegan<strong>do</strong> à oferta <strong>de</strong> distritos industriais com toda estrutura para implantação<br />

<strong>de</strong> indústrias, enquanto o segun<strong>do</strong> se da pela concessão <strong>de</strong> incentivos<br />

fiscais, representa<strong>do</strong>s pela isenção ou alíquota diferenciada <strong>de</strong> impostos.<br />

Dentre as políticas utilizadas pelo Governo <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> nos últimos<br />

anos para promover o <strong>de</strong>senvolvimento econômico <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, <strong>de</strong>stacamse<br />

as <strong>de</strong> incentivo a industrialização, via Fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento Industrial<br />

<strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (FDI), notoriamente percebida pela isenção e prorrogação<br />

<strong>de</strong> impostos (incentivos fiscais), no intuito <strong>de</strong> dar apoio à implantação,<br />

180


Efeitos da Política <strong>de</strong> Atração <strong>de</strong> Incentivos Industriais no <strong>Ceará</strong> Sobre o Emprego no Perío<strong>do</strong> 2002-2005<br />

mo<strong>de</strong>rnização, realocação e ampliação <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas industriais consi<strong>de</strong>radas<br />

fundamentais para o <strong>de</strong>senvolvimento local.<br />

O FDI t<strong>em</strong> como um <strong>do</strong>s principais objetivos aumentar o estoque <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>pregos formais no <strong>Ceará</strong>, sen<strong>do</strong> assim, esta pesquisa preten<strong>de</strong>-se verificar<br />

se o programa teve êxito nesse objetivo durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2002 a<br />

2005. Para isso, serão realiza<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is exercícios <strong>em</strong>píricos, o primeiro para<br />

avaliar a taxa <strong>de</strong> crescimento <strong>do</strong> número <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalhos formais1 concebi<strong>do</strong> pela Relação Anual <strong>de</strong> Informações Sociais (RAIS), enquanto<br />

o segun<strong>do</strong> avalia o efeito sobre o número <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalhos formais.<br />

Para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sse ensaio, organizar<strong>em</strong>os nossa abordag<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> cinco seções, incluin<strong>do</strong> esta introdução. A segunda consi<strong>de</strong>ra os<br />

aspectos estruturais <strong>do</strong> FDI no <strong>Ceará</strong>. Na seção seguinte são <strong>de</strong>scritas<br />

a meto<strong>do</strong>logia <strong>em</strong>pregada, a base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s e os méto<strong>do</strong>s econométricos<br />

utiliza<strong>do</strong>s para a realização <strong>do</strong> exercício <strong>em</strong>pírico proposto para avaliar o<br />

FDI, enquanto instrumento <strong>de</strong> política industrial na geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego<br />

no <strong>Ceará</strong>. N quarta seção, são apresenta<strong>do</strong>s os resulta<strong>do</strong>s gera<strong>do</strong>s pelos<br />

mo<strong>de</strong>los cross-section e com da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> painel e a discussão <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s.<br />

E, por fim, são feitas as consi<strong>de</strong>rações finais, trazen<strong>do</strong> a síntese <strong>do</strong>s<br />

acha<strong>do</strong>s da investigação, acompanhan<strong>do</strong> da lista da literatura teórica e<br />

<strong>em</strong>pírica <strong>em</strong> que se arrimou à pesquisa.<br />

2. COMPETIÇÃO FISCAL E O FUNDO DE DESENVOLVI-<br />

MENTO INDUSTRIAL (FDI)<br />

No contexto <strong>de</strong> disputa por investimentos nacionais, criou-se o que<br />

se convencionou chamar <strong>de</strong> “guerra fiscal” entre os entes fe<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s. Os<br />

esforços <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconcentração regional têm envolvi<strong>do</strong> renúncia fiscal para<br />

<strong>em</strong>presas se localizar<strong>em</strong> <strong>em</strong> diversos esta<strong>do</strong>s. Essa política t<strong>em</strong> gera<strong>do</strong><br />

diversos questionamentos como a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gerar concorrência <strong>de</strong>sigual<br />

com as <strong>em</strong>presas já existentes e a possibilida<strong>de</strong> indireta <strong>de</strong> reduzir<br />

a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> poupança <strong>do</strong> governo.<br />

É fato que a implantação <strong>de</strong> indústrias <strong>em</strong> regiões pobres possa aumentar<br />

a d<strong>em</strong>anda por trabalha<strong>do</strong>res naquela localida<strong>de</strong>, muito <strong>em</strong>bora<br />

esta procura recaia sobre ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> baixa qualificação. O probl<strong>em</strong>a<br />

é que <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> um esta<strong>do</strong>, <strong>em</strong>pregos <strong>em</strong> outras localida<strong>de</strong>s<br />

1 Enten<strong>de</strong>-se por <strong>em</strong>prego formal, os vínculos <strong>em</strong>pregatícios com carteira assinada.<br />

181


Guilherme Irffi, Fernan<strong>do</strong> A. N. Nogueira, Flavio Ataliba F. D. Barreto<br />

pod<strong>em</strong> estar sen<strong>do</strong> perdi<strong>do</strong>s pelo fechamento <strong>de</strong> outras <strong>em</strong>presas s<strong>em</strong> benefícios<br />

fiscais. Nesse senti<strong>do</strong>, o <strong>de</strong>bate existente sobre “incentivos fiscais<br />

e política <strong>de</strong> atração <strong>de</strong> investimentos” têm torna<strong>do</strong> cada vez mais controverso,<br />

haja vista que afirmar que ela é boa ou ruim, vai muito além da análise<br />

sob o ângulo fiscal. A política não po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada boa, somente<br />

pelo provável efeito <strong>do</strong> aumento da base arrecada<strong>do</strong>ra local, ou taxada<br />

como ruim, pela suposição que ela subtrairá receitas globais da fe<strong>de</strong>ração.<br />

Praticar uma política <strong>de</strong> industrialização, principalmente nos esta<strong>do</strong>s<br />

brasileiros mais pobres, é uma tentativa <strong>de</strong> minimizar as diferenças existentes<br />

quanto ao estoque <strong>de</strong> capital, que <strong>de</strong>sestimula o incentivo priva<strong>do</strong> e<br />

leva à falta <strong>de</strong> estímulos endógenos da economia para realização <strong>de</strong> investimentos,<br />

com conseqüência no agravamento da <strong>de</strong>fasag<strong>em</strong> <strong>de</strong> capital. Sob<br />

esta ótica, estes esta<strong>do</strong>s estariam <strong>em</strong> um ciclo vicioso que prejudicaria o<br />

seu processo <strong>de</strong> crescimento.<br />

Os incentivos surg<strong>em</strong>, <strong>em</strong> tese, como um instrumento para corrigir<br />

as falhas <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s, entretanto, a <strong>de</strong>finição, a clareza <strong>de</strong> regras e<br />

a transparência <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s se tornam primordiais para que as ações<br />

governamentais não acab<strong>em</strong> transforman<strong>do</strong> este instrumento <strong>de</strong> política<br />

econômica não fracasse o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> incentivos. Desta forma, atrela<strong>do</strong> à<br />

concessão <strong>de</strong> incentivos é imprescindível à existência <strong>de</strong> controles e avaliações,<br />

para corrigir falhas <strong>de</strong>tectadas no processo <strong>de</strong> concessão e resulta<strong>do</strong>s<br />

obti<strong>do</strong>s, como forma <strong>de</strong> redirecionar políticas.<br />

Ressalte-se, que as políticas <strong>de</strong> incentivos fiscais, tend<strong>em</strong> a compensar<br />

<strong>de</strong> imediato, a estrutura <strong>de</strong> custo <strong>de</strong>ntro das <strong>em</strong>presas incentivadas <strong>de</strong>vi<strong>do</strong><br />

às <strong>de</strong>ficiências externas que estão submetidas geograficamente, tais<br />

como: distância <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s (fornece<strong>do</strong>r e consumi<strong>do</strong>r), infra-estrutural<br />

e capital humano. É sabi<strong>do</strong> que o crescimento <strong>de</strong> longo prazo está <strong>em</strong><br />

gran<strong>de</strong> parte liga<strong>do</strong> à capacida<strong>de</strong> que a mesma possui <strong>de</strong> gerar ou absorver<br />

novas tecnologias. Além <strong>do</strong> mais, a <strong>do</strong>tação <strong>de</strong> infra-estrutura, a qualida<strong>de</strong><br />

das instituições, a credibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> governo também tend<strong>em</strong> a proporcionar<br />

um crescimento sustenta<strong>do</strong>.<br />

A maioria das unida<strong>de</strong>s da Fe<strong>de</strong>ração no país t<strong>em</strong> a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> algum<br />

ti<strong>do</strong> <strong>de</strong> incentivo à industrialização. No Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, a política <strong>de</strong><br />

atração <strong>de</strong> <strong>em</strong>preendimentos industriais foi encetada no primeiro governo<br />

Virgílio Távora, 1962 – 1966, culminan<strong>do</strong> com a promulgação da Lei n°.<br />

182


Efeitos da Política <strong>de</strong> Atração <strong>de</strong> Incentivos Industriais no <strong>Ceará</strong> Sobre o Emprego no Perío<strong>do</strong> 2002-2005<br />

10.367, <strong>em</strong> 01 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1979, que instituiu o Fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Industrial <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (FDI).<br />

Naquele momento, o setor industrial era entendi<strong>do</strong> como o el<strong>em</strong>ento<br />

chave para o <strong>de</strong>senvolvimento. A criação <strong>do</strong> FDI foi uma estratégia gerida<br />

com o objetivo principal <strong>de</strong> <strong>do</strong>tar o <strong>Ceará</strong> <strong>de</strong> um aporte legaliza<strong>do</strong> que viabilizasse<br />

o incentivo à industrialização. Em 1989 a regulamentação <strong>do</strong> FDI<br />

foi alterada, e passou a permitir que o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>sse apoio à implantação,<br />

realocação, ampliação, mo<strong>de</strong>rnização, recuperação e ao funcionamento <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>presas industriais consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong> fundamental interesse para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

socioeconômico <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>.<br />

Paralelamente as essas alterações, foram cria<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década<br />

<strong>de</strong> 1980, programas que utilizariam os recursos disponibiliza<strong>do</strong>s por este<br />

Fun<strong>do</strong>, o PROVIN (Programa <strong>de</strong> Atração <strong>de</strong> Investimentos Industriais),<br />

O PDCI (Programa <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> Comércio Internacional e das<br />

Ativida<strong>de</strong>s Portuárias <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>) e o PROAPI (Programa <strong>de</strong> Incentivos às<br />

Ativida<strong>de</strong>s Portuárias e Industriais).<br />

O PDCI cria<strong>do</strong> <strong>em</strong> outubro <strong>de</strong> 1996, por meio <strong>do</strong> Decreto nº. 24.249,<br />

visava o <strong>de</strong>senvolvimento das ativida<strong>de</strong>s relacionadas com o comércio<br />

internacional e as ativida<strong>de</strong>s portuárias, dimensionan<strong>do</strong> <strong>em</strong>préstimos, e<br />

subsídios <strong>do</strong> valor principal e <strong>do</strong>s encargos financeiros <strong>de</strong>stas operações,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que tivess<strong>em</strong> como <strong>de</strong>stinatários estabelecimentos localiza<strong>do</strong>s no<br />

Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>.<br />

O PROAPI cria<strong>do</strong> <strong>em</strong> julho <strong>de</strong> 1997 pelo <strong>do</strong> <strong>de</strong>creto nº. 24.530 e tinha<br />

como características principais o financiamento <strong>do</strong> capital <strong>de</strong> giro das<br />

<strong>em</strong>presas industriais exporta<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> partes ou componentes <strong>de</strong> calça<strong>do</strong>s,<br />

ou <strong>do</strong> produto como um to<strong>do</strong> e <strong>de</strong> artefatos <strong>em</strong> couro. Por último, o PRO-<br />

VIN, que t<strong>em</strong> orig<strong>em</strong> ainda no início da década <strong>de</strong> 1980 e, 1989, fomos<br />

reformula<strong>do</strong>s e passou a conce<strong>de</strong>r, como principal forma <strong>de</strong> incentivo, um<br />

<strong>em</strong>préstimo sobre o ICMS arrecada<strong>do</strong> pelas <strong>em</strong>presas incentivadas.<br />

Des<strong>de</strong> a criação <strong>do</strong> FDI, foram necessárias alterações nos mecanismos<br />

<strong>de</strong> incentivo opera<strong>do</strong> por esta política no <strong>Ceará</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às diferenças<br />

econômicas existentes entre os municípios da re<strong>de</strong> metropolitana <strong>de</strong><br />

Fortaleza e os localiza<strong>do</strong>s fora <strong>de</strong>sta região. As principais modificações<br />

ocorreram nos anos <strong>de</strong> 1995, 2002 e 2003. Com o intuito <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralizar<br />

os <strong>em</strong>preendimentos industriais incentiva<strong>do</strong>s foram feitas as alterações <strong>de</strong><br />

183


Guilherme Irffi, Fernan<strong>do</strong> A. N. Nogueira, Flavio Ataliba F. D. Barreto<br />

incentivos <strong>em</strong> agosto <strong>de</strong> 1995. Em 2002, as políticas <strong>de</strong> incentivo foram<br />

direcionadas notadamente para os municípios on<strong>de</strong> foss<strong>em</strong> i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s<br />

germes <strong>de</strong> aglomeração industrial. E por fim, <strong>em</strong> 2003, o FDI, foi altera<strong>do</strong><br />

no intuito <strong>de</strong> melhorar o conjunto <strong>de</strong> vantagens locacionais <strong>de</strong> segmentos<br />

e setores industriais afeta<strong>do</strong>s por algumas insuficiências estruturais, geradas<br />

por falhas <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> e <strong>de</strong> políticas fe<strong>de</strong>rais <strong>de</strong>stinadas a promover o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento regional.<br />

3. METODOLOGIA<br />

3.1 A <strong>de</strong>scrição <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los: cross-section e da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> painel<br />

O mo<strong>de</strong>lo inicial utiliza<strong>do</strong> para avaliar <strong>em</strong>piricamente o FDI baseiase<br />

numa especificação que utilizará apenas parcialmente o potencial da<br />

base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s disponível, haja vista a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações durante<br />

o perío<strong>do</strong> <strong>em</strong> voga. Sen<strong>do</strong> assim, essa estimativa servirá para analisar<br />

a variação t<strong>em</strong>poral <strong>do</strong> crescimento <strong>do</strong>s postos <strong>de</strong> trabalho formais;<br />

ou seja, no número <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res com carteira assinada nos municípios<br />

cearenses durante os anos <strong>de</strong> 2002 a 2005. Preten<strong>de</strong>-se avaliar a eficácia<br />

<strong>do</strong> programa <strong>de</strong> promoção industrial a<strong>do</strong>tada no <strong>Ceará</strong> no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2002<br />

a 2005, on<strong>de</strong> o FDI aparece como principal instrumento para atração <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>presas para o Esta<strong>do</strong>.<br />

Como primeiro passo, <strong>de</strong>fine-se a variável <strong>de</strong> tratamento através <strong>de</strong><br />

uma variável binária “FDI” que assume o valor 1 (um) para o município<br />

que recebeu pelo menos uma <strong>em</strong>presa incentivada durante o perío<strong>do</strong> referi<strong>do</strong>,<br />

e 0 (zero), caso o município que não tenha recebi<strong>do</strong> nenhuma <strong>em</strong>presa<br />

incentivada. Com isso, <strong>do</strong>is grupos <strong>de</strong> municípios pod<strong>em</strong> ser i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s:<br />

o primeiro chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> grupo controle, não recebeu nenhuma<br />

<strong>em</strong>presa incentivada no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> análise; o segun<strong>do</strong> grupo, chama<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

grupo tratamento, recebeu pelo menos uma <strong>em</strong>presa incentivada pelo FDI<br />

no perío<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>.<br />

Para medir o impacto <strong>do</strong> programa <strong>de</strong> promoção industrial <strong>em</strong><br />

relação à geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos, usa-se como variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte a taxa<br />

<strong>de</strong> variação <strong>do</strong> estoque <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalhos <strong>do</strong> setor formal <strong>em</strong> cada<br />

município, forneci<strong>do</strong> pela RAIS no ano <strong>de</strong> 2002 a 2005. O vetor <strong>de</strong> variáveis<br />

exógenas (explicativas) é composto pelo nível educacional da força<br />

184


Efeitos da Política <strong>de</strong> Atração <strong>de</strong> Incentivos Industriais no <strong>Ceará</strong> Sobre o Emprego no Perío<strong>do</strong> 2002-2005<br />

<strong>de</strong> trabalho, pois se acredita que quanto maior no nível educacional da<br />

mão-<strong>de</strong>-obra mais preparada ela esteja para ser absorvida pelo merca<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> trabalho; <strong>do</strong> percentual <strong>de</strong> comparecimento da população no primeiro<br />

turno da eleição <strong>de</strong> 2002, para que se tenha uma idéia <strong>de</strong> conscientização<br />

da população; o PIB municipal per capita, por ser capaz <strong>de</strong> quantificar o<br />

nível <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> econômica <strong>do</strong> município; e o consumo <strong>de</strong> energia elétrica<br />

industrial municipal, o qual servira como proxy para a utilização da<br />

capacida<strong>de</strong> instalada <strong>do</strong> setor industrial.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, o mo<strong>de</strong>lo econométrico será especifica<strong>do</strong> da seguinte<br />

forma:<br />

Y = β + θFDI + X ' β + u (1)<br />

i 0 i i i<br />

Cabe ressaltar que foi aplica<strong>do</strong> logaritmo natural nas variáveis que<br />

compõe o vetor X, sen<strong>do</strong> assim, o coeficiente <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> vetor expressará<br />

as respectivas elasticida<strong>de</strong>s.<br />

Outra estratégia econométrica a<strong>do</strong>tada para estimar os parâmetros<br />

segue a utilização <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los com da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> painel. Esse méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> estimação<br />

possui algumas vantagens <strong>em</strong> relação a outros méto<strong>do</strong>s como<br />

MQO, por ex<strong>em</strong>plo. Essas vantagens são <strong>de</strong>rivadas da maior quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> informação, maior variabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, menor colinearida<strong>de</strong> entre<br />

as variáveis, maior número <strong>de</strong> graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e maior eficiência <strong>do</strong>s<br />

estima<strong>do</strong>res. Além disso, esta análise permitirá uma investigação espacial<br />

e ao longo <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po sobre os efeitos da variável FDI sobre o número <strong>de</strong><br />

postos <strong>de</strong> trabalhos formais no <strong>Ceará</strong>.<br />

O mo<strong>de</strong>lo econométrica com da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> painel po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito como,<br />

Y = X' β + c + u i = 1,...,169 t = 2002,...,2006 (2)<br />

it it i it<br />

Neste caso, o interesse resi<strong>de</strong> <strong>em</strong> estimar os efeitos parciais das<br />

variáveis explicativas composta no vetor X <strong>em</strong> relação a variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

Y. A variável c representa a heterogeneida<strong>de</strong> não observada<br />

i<br />

no mo<strong>de</strong>lo, uma vez que esta é uma variável latente que po<strong>de</strong> captar<br />

as características não observáveis entre os municípios e que são imutáveis<br />

ao longo <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po como, por ex<strong>em</strong>plo, as características naturais<br />

(nível escassez <strong>de</strong> água, t<strong>em</strong>peratura média, nível pluviométrico e etc.)<br />

observações no cross-section. Ainda <strong>em</strong> relação a variável latente, vale<br />

ressaltar que esta t<strong>em</strong> como suposição que o seu efeito parcial é constante<br />

no t<strong>em</strong>po, no entanto, po<strong>de</strong> ser distinto entre as observações <strong>do</strong><br />

185


Guilherme Irffi, Fernan<strong>do</strong> A. N. Nogueira, Flavio Ataliba F. D. Barreto<br />

cross-section. O termo u it é o erro estocástico, on<strong>de</strong> se supõ<strong>em</strong> que<br />

E (u it \ X i , c i )= 0. 2 E, por fim, o subscrito i indica a dimensão no<br />

seccional, e t indica a dimensão no t<strong>em</strong>poral.<br />

Não obstante, a estimação com da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> painel possibilita diversas<br />

maneiras <strong>de</strong> tratar os efeitos da heterogeneida<strong>de</strong> não observada. Wooldridge<br />

(2002) apresenta <strong>de</strong> maneira <strong>de</strong>talhada os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> efeitos fixos (EF)<br />

ou aleatórios (EA), como formas <strong>de</strong> tratar tal probl<strong>em</strong>a econométrico. 2<br />

3.2 Base <strong>de</strong> Da<strong>do</strong>s<br />

Para realizar a avaliação econométrica <strong>do</strong> impacto <strong>do</strong> FDI sobre a geração<br />

<strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos no esta<strong>do</strong> serão coleta<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s sobre <strong>em</strong>prego e nível<br />

educacional <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res oriun<strong>do</strong>s da RAIS divulgadas anualmente<br />

pelo Ministério <strong>do</strong> Trabalho e Emprego (MTE). 3 Os da<strong>do</strong>s relativos aos<br />

incentivos fiscais concedi<strong>do</strong>s têm sua orig<strong>em</strong> na Secretaria <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Econômico <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (SDE) e agrega as informações<br />

<strong>de</strong> localização, data da implantação ou realocação <strong>do</strong> <strong>em</strong>preendimento,<br />

perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> concessão <strong>do</strong> benefício.<br />

Desta forma, <strong>de</strong>finimos PT como variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo, representan<strong>do</strong><br />

a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalho formal por município. PT<br />

é influenciada por FDI (incentivos fiscais concedi<strong>do</strong>s), por EANF (total<br />

<strong>de</strong> indivíduos analfabetos no setor formal por município), por EB (total <strong>de</strong><br />

indivíduos no ensino básico <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s no setor formal por município),<br />

por EF (total <strong>de</strong> indivíduos no ensino fundamental <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s no setor<br />

formal por município), por EM (total <strong>de</strong> indivíduos no ensino médio <strong>do</strong><br />

setor formal por município), por ES (total <strong>de</strong> indivíduos no ensino superior<br />

<strong>do</strong> setor formal por município), CIEE (consumo industrial <strong>de</strong> energia elétrica),<br />

PIB (Produto Interno Bruto per capita), e pela ELEIÇÃO (representa<br />

o percentual <strong>de</strong> pessoas que compareceram as urnas no primeiro turno<br />

da eleição <strong>de</strong> 2002 para governa<strong>do</strong>r).<br />

Como já comenta<strong>do</strong> a variável FDI assumirá a condição binária, assumin<strong>do</strong><br />

valor 1 (um) para o município que recebeu pelo menos uma <strong>em</strong>presa<br />

incentivada no perío<strong>do</strong> sob análise, e 0 (zero), caso o município não tenha<br />

recebi<strong>do</strong> nenhuma <strong>em</strong>presa. Criam-se, assim, <strong>do</strong>is grupos <strong>de</strong> municípios:<br />

o <strong>de</strong> controle (nenhuma <strong>em</strong>presa incentivada) e o <strong>de</strong> tratamento (com pelo<br />

2<br />

O não controle <strong>de</strong>sse probl<strong>em</strong>a t<strong>em</strong> como conseqüência a estimação <strong>de</strong> parâmetros inconsistentes.<br />

3<br />

Esta pesquisa optou-se por não <strong>de</strong>sagregar os <strong>em</strong>pregos formais para o setor industrial por acreditar que a<br />

instalação <strong>de</strong> uma indústria <strong>em</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> município ten<strong>de</strong> a propiciar spillovers para as d<strong>em</strong>ais ativida<strong>de</strong>s.<br />

186


Efeitos da Política <strong>de</strong> Atração <strong>de</strong> Incentivos Industriais no <strong>Ceará</strong> Sobre o Emprego no Perío<strong>do</strong> 2002-2005<br />

menos uma <strong>em</strong>presa incentivada). As variáveis explicativas divid<strong>em</strong>-se<br />

<strong>em</strong> <strong>do</strong>is tipos: a que se refere ao tratamento (F) e um vetor <strong>de</strong> variáveis<br />

exógenas discriminadas conforme o Quadro 1.<br />

Quadro 1 - Descrição das Variáveis<br />

Variáveis Descrição Fonte<br />

PT Quantida<strong>de</strong> total <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalho no setor formal por município RAIS/MTE<br />

FDI Dummy representante da atuação <strong>do</strong> programa nos municípios. SDE/CE<br />

CIEE Consumo industrial <strong>de</strong> energia elétrica <strong>em</strong> (MWh) por município COELCE<br />

EANF Total <strong>de</strong> indivíduos analfabetos no setor formal por município RAIS/MTE<br />

EB Total <strong>de</strong> indivíduos no ensino básico <strong>do</strong> setor formal por município RAIS/MTE<br />

EF Total <strong>de</strong> indivíduos no ensino fundamental <strong>do</strong> setor formal por município RAIS/MTE<br />

EM Total <strong>de</strong> indivíduos no ensino médio <strong>do</strong> setor formal por município RAIS/MTE<br />

ES Total <strong>de</strong> indivíduos no ensino superior <strong>do</strong> setor formal por município RAIS/MTE<br />

EDUC*<br />

ELEICAO<br />

Estoque <strong>de</strong> capital humano, número <strong>de</strong> resi<strong>de</strong>ntes com mais<br />

<strong>de</strong> 11 anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>.<br />

Percentual <strong>de</strong> comparecimento a urnas no primeiro turno da eleição<br />

<strong>de</strong> 2002 para governa<strong>do</strong>r<br />

Irffi et al<br />

(2008)<br />

PIB Produto Interno Bruto per capita <strong>IPECE</strong><br />

Fonte: Elabora<strong>do</strong> pelos autores.<br />

Nota: * O estoque <strong>de</strong> capital humano construí<strong>do</strong> por Irffi, Trompieri Neto, Oliveira et. al. (2008), leva<br />

<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração o número <strong>de</strong> habitantes por município com no mínimo 11 anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>; ou seja,<br />

com ensino médio completo.<br />

Durante os anos <strong>de</strong> 2002 a 2005 foram concedi<strong>do</strong>s benefícios fiscais<br />

a 104 <strong>em</strong>presas. Deste total, 44 <strong>em</strong>presas estão localizadas nos municípios<br />

<strong>de</strong> Maracanaú, Fortaleza e Caucaia, as quais receberam respectivamente<br />

21, 13 e 10 <strong>em</strong>presas. Diante disso, po<strong>de</strong>-se inferir que a política industrial<br />

ainda <strong>de</strong>ixa a <strong>de</strong>sejar no tocante a <strong>de</strong>scentralização industrial na RMF,<br />

haja vista que aproximadamente 40% das <strong>em</strong>presas estão instaladas na<br />

RMF. Mais especificamente no município <strong>de</strong> Maracanaú que conta com<br />

20% <strong>do</strong>s benefícios concedi<strong>do</strong>s pelo governo.<br />

4. ANÁLISE EMPÍRICA<br />

Nessa seção apresentar<strong>em</strong>os os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s exercícios <strong>em</strong>píricos<br />

realiza<strong>do</strong>s pela pesquisa para mensurar o efeito da política industrial praticada<br />

pelo governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> com o objetivo <strong>de</strong> aumentar o número <strong>de</strong><br />

postos <strong>de</strong> trabalhos formais, durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2002 a 2006. Para isso,<br />

foram estima<strong>do</strong>s três mo<strong>de</strong>los, um com da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> cross-section e outros<br />

<strong>do</strong>is <strong>em</strong> painel.<br />

TSE<br />

187


Guilherme Irffi, Fernan<strong>do</strong> A. N. Nogueira, Flavio Ataliba F. D. Barreto<br />

A Tabela 1 reporta as estimativas <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo cross-section e um<br />

primeiro resulta<strong>do</strong> interessante que <strong>em</strong>erge é que somente o consumo <strong>de</strong><br />

energia elétrica industrial e o número <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res com ensino base<br />

são estatisticamente diferentes <strong>de</strong> zero.<br />

Tabela 1 - Mo<strong>de</strong>lo cross-section estima<strong>do</strong> com correção<br />

<strong>de</strong> White para heterocesdasticida<strong>de</strong><br />

Variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte: Taxa <strong>de</strong> Crescimento <strong>do</strong> número <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalhos formais entre os anos <strong>de</strong><br />

2002 e 2005<br />

Variáveis Coeficiente Erro-padrão Estatística – t p-valor<br />

Intercepto 0.5999 0.3660 1.6390 0.1031<br />

Política Industrial (FDI) 0.0522 0.0384 1.3596 0.1758<br />

Eleição -0.2753 0.1811 -1.5206 0.1303<br />

Elétrica (CIEE) 0.0298 0.0101 2.9507 0.0036<br />

PIB -0.0355 0.0543 -0.6539 0.5141<br />

Analfabetos (ENAF) 0.0108 0.0168 0.6454 0.5196<br />

Ensino Base (EB) -0.0427 0.0172 -2.4788 0.0142<br />

Ensino Fundamental (EF) 0.0019 0.0152 0.1251 0.9006<br />

Ensino Médio (EM) -0.0384 0.0240 -1.5980 0.1120<br />

Ensino Superior (ES) -0.0139 0.0151 -0.9149 0.3616<br />

R²<br />

Testes <strong>de</strong> especificação<br />

0.1892 N 182<br />

F – estatística 4.2273 P-valor 0.0001<br />

OBS* R² 74.7960 P-valor 0.0259<br />

Fonte: Resulta<strong>do</strong>s da pesquisa.<br />

Com isso, po<strong>de</strong>-se inferir que um aumento <strong>de</strong> 10% no consumo <strong>de</strong><br />

energia elétrica industrial ira aumentar <strong>em</strong> 2.98% a taxa <strong>de</strong> crescimento <strong>do</strong><br />

número <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalhos formais, isso <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao consumo <strong>de</strong> energia<br />

ser uma boa proxy para utilização da capacida<strong>de</strong> instalada da industrial,<br />

logo, um aumento na capacida<strong>de</strong> instalada da industria repercute <strong>em</strong> um<br />

aumento na taxa <strong>de</strong> crescimento <strong>do</strong> <strong>em</strong>prego formal. Por outro la<strong>do</strong>, um<br />

aumento <strong>do</strong> numero <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res com ensino base completo (1ª a 4ª<br />

série) exerce um impacto negativo sobre a taxa <strong>de</strong> variação <strong>do</strong>s postos <strong>de</strong><br />

trabalhos formais.<br />

Outrossim, apenas 18% da taxa <strong>de</strong> crescimento (variação) <strong>do</strong>s postos<br />

<strong>de</strong> trabalhos formais são explica<strong>do</strong>s pelo mo<strong>de</strong>lo e, ainda, <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong><br />

com a estatística F po<strong>de</strong>-se dizer que o mo<strong>de</strong>lo é estatisticamente significante.<br />

Portanto, po<strong>de</strong>-se inferir que a política industrial <strong>de</strong> incentivos<br />

188


Efeitos da Política <strong>de</strong> Atração <strong>de</strong> Incentivos Industriais no <strong>Ceará</strong> Sobre o Emprego no Perío<strong>do</strong> 2002-2005<br />

fiscal, a<strong>do</strong>tada pelo governo cearense no ano <strong>de</strong> 2002 não exerce nenhum<br />

impacto na taxa <strong>de</strong> crescimento <strong>do</strong> número <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalho durante<br />

o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2002 a 2005.<br />

No intuito <strong>de</strong> certificar-se a robustez <strong>de</strong>sse resulta<strong>do</strong>, estimou-se outro<br />

mo<strong>de</strong>lo só com a variável Política Industrial (FDI), Tabela 2, e constatou-se<br />

que a mesma continua estatisticamente igual à zero.<br />

Tabela 2 - Mo<strong>de</strong>lo cross-section<br />

Variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte: Taxa <strong>de</strong> Crescimento <strong>do</strong> número <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalhos formais para os anos <strong>de</strong><br />

2002 e 2005<br />

Variáveis explicativas Coeficiente Erro-padrão Estatística – t p-valor<br />

Intercepto 0.0969 0.0147 6.6013 0.0000<br />

Política Industrial (FDI) 0.0184 0.0457 0.4023 0.6880<br />

R²<br />

Testes <strong>de</strong> especificação<br />

0.0009 N 184<br />

F – estatística 0.1618 P-valor 0.6879<br />

OBS*R-squared 0.2824 P-valor 0.5951<br />

Fonte: Resulta<strong>do</strong>s da pesquisa.<br />

No mo<strong>de</strong>lo com da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> painel <strong>em</strong>pregou-se o teste <strong>de</strong> Hausman<br />

para <strong>de</strong>cidir qual mo<strong>de</strong>lo é mais apropria<strong>do</strong>, haja vista que o referi<strong>do</strong> teste<br />

t<strong>em</strong> como hipótese nula a não existência <strong>de</strong> correlação entre o termo <strong>do</strong><br />

erro (componente idiossincrático) e as variáveis explicativas; ou seja, valida<br />

a abordag<strong>em</strong> <strong>de</strong> efeitos aleatórios. Portanto, é um teste <strong>de</strong> especificação<br />

entre efeito aleatória e efeito fixo.<br />

A Tabela 3 reporta o mo<strong>de</strong>lo estima<strong>do</strong> por efeito fixo, uma vez que o<br />

teste <strong>de</strong> Hausman rejeitou a hipótese nula (efeito aleatório). Nota-se que o<br />

R2 se mostrou baixo 0,1467; isto permite inferir que 14,67% das variações<br />

nos postos <strong>de</strong> trabalhos formais são explica<strong>do</strong>s pelo mo<strong>de</strong>lo estima<strong>do</strong>.<br />

Ainda <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com a Tabela 3, observa-se que a variável<br />

Política Industrial (FDI) apresentou coeficiente estatisticamente insignificante,<br />

assim como o consumo <strong>de</strong> energia elétrica industrial. Nesse senti<strong>do</strong>,<br />

po<strong>de</strong>-se inferir que a política industrial não exerce nenhum impacto sobre<br />

o estoque total <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos formais (número <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res com carteiras<br />

assinadas). Este resulta<strong>do</strong> corrobora com o apresenta<strong>do</strong> por Carvalho,<br />

Barreto & Oliveira (2004).<br />

189


Guilherme Irffi, Fernan<strong>do</strong> A. N. Nogueira, Flavio Ataliba F. D. Barreto<br />

190<br />

Tabela 3 - Mo<strong>de</strong>lo com Da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Painel, estima<strong>do</strong> por Efeito Fixo<br />

Variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte: Número <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalhos formais, PT, 2002 a 2005<br />

Variáveis explicativas Coeficiente Erro-padrão Estatística – t p-valor<br />

Intercepto 1.3024 0.2449 5.32 0.000<br />

Política Industrial (FDI) 0.0004 0.0118 0.03 0.975<br />

Elétrica (CIEE) -0.0028 0.0204 -0.14 0.890<br />

PIB 0.3735 0.1045 3.57 0.000<br />

Estoque <strong>de</strong> Capital Humano (EDUC) 0.1573 0.0566 2.78 0.006<br />

Testes <strong>de</strong> especificação<br />

R² 0.1467 N*T 730<br />

F (4,542) 23.30 P-valor 0.0000<br />

Teste <strong>de</strong> Hausman 321.30 P-valor 0.0000<br />

Fonte: Resulta<strong>do</strong>s da pesquisa.<br />

O PIB municipal per capita, por outro la<strong>do</strong>, apresenta um efeito positivo<br />

sobre o estoque <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos formais, isto sugere que a ativida<strong>de</strong><br />

econômica municipal é representativa para explicar o número <strong>de</strong> postos<br />

<strong>de</strong> trabalhos formais. O estoque <strong>de</strong> capital humano também impacta <strong>de</strong><br />

forma positiva sobre o estoque <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos formais, um aumento <strong>de</strong> 10%<br />

no número <strong>de</strong> pessoas com ao menos o ensino médio completo gerará um<br />

aumento <strong>de</strong> 1,57% no número <strong>de</strong> postos formais no Esta<strong>do</strong>.<br />

O nível educacional <strong>de</strong> uma região (esta<strong>do</strong>, município ou nação) po<strong>de</strong><br />

ser <strong>de</strong>terminante no sucesso <strong>de</strong> uma política industrial voltada a atrair <strong>em</strong>presas<br />

para o Esta<strong>do</strong>, haja vista que o capital humano é fundamental para<br />

o crescimento econômico e, além disso, pessoas com nível educacional<br />

eleva<strong>do</strong> ten<strong>de</strong> a receber maiores salários.<br />

Diante <strong>de</strong>sses resulta<strong>do</strong>s, para se pensar <strong>em</strong> aumentar o estoque <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>pregos formais nos municípios cearenses é preciso aumentar o nível<br />

educacional <strong>do</strong>s resi<strong>de</strong>ntes, uma vez que o efeito educacional (nível médio)<br />

foi relevante para explicar o número <strong>de</strong> posto <strong>de</strong> trabalhos formais.<br />

A partir <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo, no entanto, po<strong>de</strong>-se inferir que<br />

a ativida<strong>de</strong> econômica exerce um efeito superior ao estoque <strong>de</strong> capital humano<br />

no número <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalhos formais. Assim como no mo<strong>de</strong>lo<br />

cross-section, que mensura a taxa <strong>de</strong> crescimento <strong>do</strong> estoque <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos<br />

formais para o perío<strong>do</strong> 2002 a 2005, foi estima<strong>do</strong> um mo<strong>de</strong>lo apenas com<br />

a variável política industrial no intuito <strong>de</strong> certificar-se que a mesma não


Efeitos da Política <strong>de</strong> Atração <strong>de</strong> Incentivos Industriais no <strong>Ceará</strong> Sobre o Emprego no Perío<strong>do</strong> 2002-2005<br />

exerce nenhum impacto sobre o número <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalhos formais,<br />

isto é, a variável é estatisticamente igual a zero (Tabela 4).<br />

De uma maneira geral, os resulta<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s pelos mo<strong>de</strong>los geram<br />

um suporte <strong>em</strong>pírico à afirmação <strong>de</strong> que a política industrial <strong>de</strong> atração<br />

<strong>de</strong> <strong>em</strong>presas por meio <strong>de</strong> concessões fiscais e apoio à infraestrutura<br />

não foi eficaz <strong>em</strong> sua meta <strong>de</strong> gerar <strong>em</strong>pregos no Esta<strong>do</strong>, uma vez que a<br />

política industrial não exerce nenhum impacto sobre o estoque <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos<br />

formais e n<strong>em</strong> sobre a taxa <strong>de</strong> crescimento <strong>do</strong>s <strong>em</strong>pregos formais.<br />

Tabela 4 - Mo<strong>de</strong>lo com Da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Painel, estima<strong>do</strong> por Efeito Fixo<br />

Variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte: Número <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalhos formais, PT, 2002 a 2005<br />

Variáveis explicativas Coeficiente Erro-padrão Estatística – t p-valor<br />

Intercepto 3.0248 0.0043 697.86 0.000<br />

Política Industrial (FDI) -0.0102 0. 0126 -0.81 0.418<br />

R²<br />

Testes <strong>de</strong> especificação<br />

0.0012 N*T 736<br />

F (1,551) 56.86 P-valor 0.4176<br />

Teste <strong>de</strong> Hausman 70.25 P-valor 0.0000<br />

Fonte: Resulta<strong>do</strong>s da pesquisa.<br />

5. CONSIDERAÇõES FINAIS<br />

Por meio <strong>de</strong> exercícios <strong>em</strong>píricos realiza<strong>do</strong>s nessa pesquisa observouse<br />

que a política industrial <strong>de</strong> atração <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas por meio <strong>de</strong> concessões<br />

fiscais e apoio à infra-estrutura praticada pelo Governo não foi eficaz <strong>em</strong><br />

sua meta <strong>de</strong> gerar <strong>em</strong>pregos. O Fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento Industrial <strong>do</strong><br />

<strong>Ceará</strong>, principal mecanismo <strong>de</strong>ssa política, não apresentou impacto significante<br />

sobre o estoque total <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos e n<strong>em</strong> sobre a variação <strong>do</strong><br />

referi<strong>do</strong> estoque durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2002 a 2005.<br />

Essa importante conclusão v<strong>em</strong> respaldada por estimativas <strong>de</strong> <strong>do</strong>is<br />

mo<strong>de</strong>los econométricos. O primeiro é estima<strong>do</strong> por Mínimos Quadra<strong>do</strong>s<br />

Ordinários com correção <strong>de</strong> White para heterocedasticida<strong>de</strong>, que contou<br />

com da<strong>do</strong>s dispostos <strong>em</strong> formato “cross-section”. Enquanto o segun<strong>do</strong> que<br />

se utilizou <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s longitudinais (painel <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s). Todas as estimativas<br />

<strong>do</strong> parâmetro que mensura o impacto <strong>do</strong> FDI no nível <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego foram<br />

estatisticamente insignificantes.<br />

191


Guilherme Irffi, Fernan<strong>do</strong> A. N. Nogueira, Flavio Ataliba F. D. Barreto<br />

Observou-se, também, que a infra-estrutura mensurada pelo consumo<br />

<strong>de</strong> energia elétrica industrial afeta a geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego (isto é,<br />

o estoque <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalho formal), mo<strong>de</strong>lo “cross-section”. Outra<br />

importante conclusão <strong>em</strong>erge <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo com da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> painel, a qual se<br />

refere ao efeito positivo <strong>do</strong> estoque <strong>de</strong> capital humano sobre o estoque <strong>de</strong><br />

postos <strong>de</strong> trabalhos formais nos municípios cearenses.<br />

Apesar da robustez <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s, estes <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser encara<strong>do</strong>s<br />

mais como um indicativo <strong>do</strong> que uma conclusão <strong>de</strong>finitiva. Isso porque<br />

exist<strong>em</strong> certas limitações a ser<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvidas pelo trabalho futuramente<br />

como, por ex<strong>em</strong>plo, o curto espaço <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po disponível na amostra<br />

utilizada po<strong>de</strong> não ter capta<strong>do</strong> o efeito real <strong>do</strong> programa caso os impactos<br />

<strong>do</strong> FDI se refletir<strong>em</strong> no longo prazo. Também, a ausência <strong>de</strong> um maior número<br />

<strong>de</strong> varáveis in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes po<strong>de</strong> ser um fator que distorça o impacto<br />

<strong>do</strong> FDI sobre o estoque <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

AMARAL FILHO, J. Incentivos Fiscais e Políticas Estaduais <strong>de</strong><br />

Atração <strong>de</strong> Investimentos, Texto para Discussão n. 8, <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Pesquisa<br />

e Estratégia Econômica <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> – <strong>IPECE</strong>, Fortaleza, 2003.<br />

BIDERMAN, C; ARVATE, P. <strong>Economia</strong> <strong>do</strong> Setor Público no Brasil.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Campus, 2005.<br />

CARVALHO, J. R.; BARRETO, F. A. F. D.; OLIVEIRA, V. H., O<br />

Fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento Industrial <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>: Uma Avaliação Econométrica<br />

com Da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Painel para o Perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1995 a 2001, CAEN/<br />

UFC, Fortaleza, 2004.<br />

DIAS, F. R. C.; HOLANDA, M. C.; AMARAL FILHO. Base Conceitual<br />

<strong>do</strong>s Critérios para Concessão <strong>de</strong> Incentivos para Investimentos<br />

no <strong>Ceará</strong> – FDI, Nota Técnica n. 3, <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Pesquisa e Estratégia<br />

Econômica <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> – <strong>IPECE</strong>, Fortaleza, 2003.<br />

FISHER, P. S.; PETERS, A. H., Tax and spending incentives and<br />

enterprise zones, New England Economic Review, p. 109 – 138, 1997.<br />

HECKMAN, J., LALONDE, T.; SMITH, J. A., The Economics and<br />

Econometrics of Active Labor Market Programs, Handbook of Labor<br />

Economics, Amterdan, Elservier Science, v. 3A, Cap. 31, p.1865-2097,<br />

192


Efeitos da Política <strong>de</strong> Atração <strong>de</strong> Incentivos Industriais no <strong>Ceará</strong> Sobre o Emprego no Perío<strong>do</strong> 2002-2005<br />

1999.<br />

IRFFI, G.; TROMPIERI NETO, N.; OLIVEIRA, J. L. et al., Determinantes<br />

<strong>do</strong> Crescimento Econômico <strong>do</strong>s Municípios Cearenses. Texto<br />

para Discussão n. 39, <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Pesquisa e Estratégia Econômica <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

– <strong>IPECE</strong>, Fortaleza, 2008.<br />

LUCAS Jr., R. E. On the Mechanics of Economic Development.<br />

Journal of Monetary Economics, n. 22, p. 3-42, 1988.<br />

PONTES, P. A.; VIANA, P. J. R. Análise da Política <strong>de</strong> Incentivo<br />

ao Desenvolvimento Industrial <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> no Perío<strong>do</strong> 2001-<br />

2004, Nota Técnica n.12, <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Pesquisa e Estratégia Econômica <strong>do</strong><br />

<strong>Ceará</strong> – <strong>IPECE</strong>, Fortaleza, 2005.<br />

PONTES, P. A.; VIANA, P. J. R.; HOLANDA, M. C. Um Perfil das<br />

Empresas atraídas pelo FDI no perío<strong>do</strong> 2001-2006, Texto para Discussão<br />

n. 28, <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Pesquisa e Estratégia Econômica <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> – <strong>IPECE</strong>,<br />

Fortaleza, 2006.<br />

RODRIGUES, D. A., O Papel <strong>do</strong>s Governos Estaduais na indução <strong>do</strong><br />

Investimento: a experiência <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, Bahia e Minas Gerais,<br />

Revista BNDES, n. 10, 1998, disponível <strong>em</strong> http://www.bn<strong>de</strong>s.gov.br/conhecimento/revista/rev1007.pdf.<br />

SECRETARIA DE PLANEJAMENTO DO ESTADO DO CEARÁ.<br />

Plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e os projetos estruturantes. <strong>Ceará</strong>,<br />

maio 1998.<br />

VARSANO, R., A Guerra Fiscal <strong>do</strong> ICMS: Qu<strong>em</strong> Ganha e Qu<strong>em</strong><br />

Per<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: IPEA, 1997, Texto para Discussão n. 500.<br />

WOOLDRIDGE, J. M., Econometric Analysis of Cross-sectional<br />

and Panel Data, Michigan University, MIT Press, 2002.<br />

193


Anexo I<br />

Guilherme Irffi, Fernan<strong>do</strong> A. N. Nogueira, Flavio Ataliba F. D. Barreto<br />

Tabela 5 - Matriz <strong>de</strong> Correlação entre as variáveis <strong>do</strong> Mo<strong>de</strong>lo cross-section<br />

194<br />

Ensino<br />

Superior<br />

(ES)<br />

Ensino<br />

Médio (EM)<br />

Ensino<br />

Fundamental<br />

Ensino<br />

Base (EB)<br />

Analfabetos<br />

(ENAF)<br />

PIB<br />

Elétrica<br />

(CIEE)<br />

FDI Eleição<br />

Taxa <strong>de</strong><br />

Crescimento<br />

Variáveis<br />

Taxa <strong>de</strong> Crescimento * 1.00<br />

FDI 0.07 1.00<br />

Eleição -0.02 0.22 1.00<br />

Elétrica (CIEE) 0.08 0.52 0.17 1.00<br />

PIB -0.02 0.53 0.19 0.71 1.00<br />

Analfabetos (ENAF) -0.07 0.38 0.17 0.69 0.55 1.00<br />

Ensino Base (EB) -0.19 0.39 0.10 0.65 0.60 0.66 1.00<br />

Ensino Fundamental (EF) -0.09 0.52 0.08 0.75 0.65 0.64 0.72 1.00<br />

Ensino Médio (EM) -0.17 0.49 0.07 0.71 0.63 0.65 0.70 0.86 1.00<br />

Ensino Superior (ES) -0.15 0.41 0.05 0.68 0.57 0.62 0.63 0.69 0.79 1.00<br />

Fonte: Resulta<strong>do</strong>s da pesquisa.<br />

(*) Taxa <strong>de</strong> Crescimento <strong>do</strong> número <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalhos formais entre os anos <strong>de</strong> 2002 e 2005.<br />

Tabela 6 - Matriz <strong>de</strong> Correlação entre as variáveis <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo com Da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Painel<br />

Estoque <strong>de</strong> Capital<br />

Humano (EDUC)<br />

Elétrica (CIEE) PIB<br />

Política Industrial<br />

(FDI)<br />

Número <strong>de</strong> postos <strong>de</strong><br />

trabalhos formais (PT)<br />

Variáveis<br />

Número <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalhos formais 1.0000<br />

Política Industrial (FDI) 0.5281 1.0000<br />

Elétrica (CIEE) 0.7958 0.4515 1.0000<br />

PIB 0.7046 0.4337 0.6816 1.0000<br />

Estoque <strong>de</strong> Capital Humano (EDUC) 0.8235 0.4168 0.7010 0.5304 1.0000<br />

Fonte: Resulta<strong>do</strong>s da pesquisa.


OS MUNICIPIOS CEARENSES<br />

APÓS 14 ANOS DE PLANOS<br />

DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL<br />

Maria Ivonei<strong>de</strong> Vital Rodrigues *<br />

Patricia Veronica Pinheiro Sales Lima **<br />

Maria Irles <strong>de</strong> Oliveira Mayorga ***<br />

Francisco Casimiro Filho ****<br />

Suely Salgueiro Chacon *****<br />

RESUMO<br />

Essa pesquisa propõe uma análise <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Sustentável (PDS), após 14 anos <strong>de</strong> criação. Para tanto, foram construídas,<br />

para os cento e oitenta e quatro municípios cearenses, matrizes <strong>de</strong><br />

indica<strong>do</strong>res engloban<strong>do</strong> quatro vetores: proteção ao meio ambiente; reor<strong>de</strong>namento<br />

<strong>do</strong> espaço; capacitação da população; e geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável da economia. Cada grupo <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res foi<br />

submeti<strong>do</strong> à análise fatorial e foram construí<strong>do</strong>s quatro índices parciais <strong>de</strong><br />

acor<strong>do</strong> com o vetor seleciona<strong>do</strong>. Logo após, utilizou-se a análise <strong>de</strong> agrupamento<br />

para dividir os municípios <strong>em</strong> cinco classes: muito bom, bom,<br />

médio, ruim e muito ruim conforme as suas características s<strong>em</strong>elhantes.<br />

O Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável foi estabeleci<strong>do</strong> por meio da<br />

média aritmética entre os quatro índices parciais outrora calcula<strong>do</strong>s. Os<br />

municípios <strong>de</strong> Fortaleza e Maracanaú foram consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s os municípios<br />

mais <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s. Constatou-se, também, que 84,24% <strong>do</strong>s municípios<br />

classificaram-se nos níveis médio, ruim e muito ruim, verifican<strong>do</strong> a necessida<strong>de</strong><br />

da revisão ou implantação <strong>de</strong> novos programas que ofert<strong>em</strong><br />

serviços nas áreas <strong>de</strong> meio ambiente, educação, saú<strong>de</strong>, habitação e nas<br />

condições <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego e renda para a população e, consequent<strong>em</strong>ente,<br />

consigam melhorar seus índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

....................................................<br />

* Economista – Mestre <strong>em</strong> <strong>Economia</strong> Rural.<br />

** Engenheiro Agrônomo, Doutora. <strong>em</strong> <strong>Economia</strong> Aplicada. Professora <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Economia</strong><br />

Agrícola da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>. Bolsista CNPq.<br />

*** Economista, PhD <strong>em</strong> Manejo <strong>de</strong> Bacias Hidrográficas, Professora Dep. <strong>Economia</strong> Agrícola da Univer<br />

sida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>.<br />

****Engenheiro Agrônomo, Doutor <strong>em</strong> <strong>Economia</strong> Aplicada. Professor <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Economia</strong><br />

Agrícola da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>.<br />

*****Economista. Doutora <strong>em</strong> Desenvolvimento sustentável. Professora da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

- UFC/Campus <strong>do</strong> Cariri.<br />

195


Maria Ivonei<strong>de</strong> Vital Rodrigues, Patricia Veronica Pinheiro Sales Lima, Maria Irles <strong>de</strong> Oliveira Mayorga,<br />

Francisco Casimiro Filho, Suely Salgueiro Chacon<br />

Palavras-chave: Políticas Públicas, Análise Multivariada, Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Sustentável.<br />

AbstrAct<br />

This research aims at analyzing the Sustainable Development Strategy<br />

(SDS), after 14 years since its creation. For that, indicating matrices,<br />

for the one hundred and eighty four counties from Ceara state<br />

have been <strong>de</strong>veloped, which comprises four vectors: environmental protection;<br />

relocation of public space; improv<strong>em</strong>ent of the population proficiency;<br />

and creation of jobs, as well as sustainable <strong>de</strong>velopment of the<br />

economics. Each indicating group was submitted to factorial analysis,<br />

being also <strong>de</strong>veloped four partial in<strong>de</strong>xes, according to each one<br />

of the vectors. Right after that, grouping analysis was used to divi<strong>de</strong> the<br />

counties into five classes: very good, good, fair, un<strong>de</strong>sirable, and very un<strong>de</strong>sirable<br />

according to their comparable characteristics. The sustainable<br />

<strong>de</strong>velopment in<strong>de</strong>x was established throughout the averages taken from the<br />

four partial in<strong>de</strong>xes mentioned above. Fortaleza and Maracanaú counties<br />

qualified as the most <strong>de</strong>veloped. It may be conclu<strong>de</strong>d, also, that 84,24%<br />

of the counties qualified as fair, un<strong>de</strong>sirable and very un<strong>de</strong>sirable, urging<br />

the adjustment or impl<strong>em</strong>entation of brand new programs concerning the<br />

environment, education, public health, home, and creation of jobs and income<br />

sources improving, thus, the <strong>de</strong>velopmental in<strong>de</strong>xes.<br />

Keywords: Sustainable <strong>de</strong>velopment strategy, Multivariate analysis, Sustainable<br />

Development In<strong>de</strong>xes.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

O governo <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> incorporou a dimensão <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> <strong>em</strong><br />

seus planos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento a partir <strong>de</strong> 1995 por meio <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Sustentável <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (PDS – CE). Esse plano,<br />

com o objetivo <strong>de</strong> melhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população no espaço<br />

t<strong>em</strong>poral <strong>de</strong> 25 anos, gerou expectativas <strong>de</strong> redução das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

sociais. Finalmente, o Esta<strong>do</strong>, na sua condição <strong>de</strong> ator principal no processo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, estaria inician<strong>do</strong> um novo ciclo <strong>de</strong><br />

transformações.<br />

196


Os Municipios Cearenses após 14 Anos <strong>de</strong> Planos <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável<br />

Após 14 anos, as expectativas <strong>em</strong> relação ao PDS – CE foram se<br />

concretizan<strong>do</strong> ora <strong>em</strong> experiências exitosas ora <strong>em</strong> frustrações. Embora<br />

sejam perceptíveis alguns progressos <strong>em</strong> várias dimensões <strong>de</strong> b<strong>em</strong>-estar<br />

(menores taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil, menores índices <strong>de</strong> analfabetismo,<br />

maior acesso à água e à energia elétrica), boa parte <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res sociais<br />

<strong>do</strong>s municípios cearenses ainda aponta para uma situação <strong>de</strong> pobreza<br />

(LIMA et al., 2008). Além <strong>de</strong>sses da<strong>do</strong>s, a Pesquisa Nacional por Amostra<br />

<strong>de</strong> Domicílios apontava, <strong>em</strong> 2007, que existiam 3.618.000 pessoas pobres<br />

(abaixo da linha da pobreza) e 1.518.000 pessoas extr<strong>em</strong>amente pobres (indigentes).<br />

Mas, as taxas <strong>de</strong> crescimento econômico foram b<strong>em</strong> superiores<br />

às taxas <strong>de</strong> redução da pobreza. 1<br />

A política <strong>de</strong> atração <strong>de</strong> investimentos que priorizou os setores industrial<br />

e <strong>de</strong> serviços, a expansão <strong>do</strong> agronegócio e da agricultura irrigada<br />

centrada na fruticultura, <strong>de</strong>ntre outras iniciativas, promoveram, também,<br />

sérios probl<strong>em</strong>as sociais (êxo<strong>do</strong> rural, falta <strong>de</strong> moradia nas cida<strong>de</strong>s, falta<br />

<strong>de</strong> saneamento básico) e ambientais (<strong>de</strong>smatamento para extração da lenha,<br />

salinização <strong>do</strong> solo, assoreamento <strong>do</strong>s rios, perda da biodiversida<strong>de</strong>,<br />

comprometimento <strong>do</strong>s recursos hídricos) além <strong>de</strong> intensificar ainda mais<br />

as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s entre as regiões urbana e rural ao diminuir as perspectivas<br />

<strong>de</strong> <strong>em</strong>prego no campo.<br />

Diante <strong>do</strong> cenário <strong>de</strong>scrito, esta pesquisa analisa a seguinte probl<strong>em</strong>ática:<br />

existe sustentabilida<strong>de</strong> no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ceará</strong>? Para tentar respon<strong>de</strong>r a esse questionamento foi construí<strong>do</strong><br />

um índice interdisciplinar que envolveu os quatro vetores propostos<br />

pelo Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> elabora<strong>do</strong><br />

e implanta<strong>do</strong> <strong>em</strong> 1995 (Proteção ao meio ambiente, Reor<strong>de</strong>namento<br />

<strong>do</strong> espaço, Capacitação da população e Geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego<br />

e <strong>de</strong>senvolvimento sustentável da economia) na tentativa <strong>de</strong> mensurar o<br />

Desenvolvimento Sustentável (DS) nos 184 municípios cearenses. Assim,<br />

o seu objetivo é analisar o Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável proposto<br />

para o Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> a partir <strong>de</strong> seus objetivos específicos: Proteção ao<br />

meio ambiente, Reor<strong>de</strong>namento <strong>do</strong> espaço, Capacitação da população e<br />

Geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego e <strong>de</strong>senvolvimento sustentável da economia.<br />

Acredita-se que a presente pesquisa possa contribuir com os estu<strong>do</strong>s<br />

1<br />

Entre 2002/2007 nota-se uma redução <strong>de</strong> 6,80% <strong>do</strong> Índice <strong>de</strong> Gini, um aumento <strong>de</strong> 66,46% no PIB e uma<br />

redução <strong>de</strong> 19,34% na proporção da população abaixo da linha <strong>de</strong> pobreza (PNAD, 2007).<br />

197


Maria Ivonei<strong>de</strong> Vital Rodrigues, Patricia Veronica Pinheiro Sales Lima, Maria Irles <strong>de</strong> Oliveira Mayorga,<br />

Francisco Casimiro Filho, Suely Salgueiro Chacon<br />

já realiza<strong>do</strong>s concernentes ao t<strong>em</strong>a <strong>de</strong> maneira compl<strong>em</strong>entar ou, ainda,<br />

supl<strong>em</strong>entar. Pois, a meto<strong>do</strong>logia aqui proposta não invalida a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> inclusão <strong>de</strong> novos indica<strong>do</strong>res que permei<strong>em</strong> a t<strong>em</strong>ática e contribuam<br />

para a construção <strong>de</strong> novos índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, o<br />

que vai ao encontro da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se criar canais <strong>de</strong> discussão, b<strong>em</strong><br />

como, políticas voltadas ao <strong>de</strong>senvolvimento socioeconômico <strong>em</strong> consonância<br />

com a qualida<strong>de</strong> ambiental e, principalmente, com a participação<br />

ativa da comunida<strong>de</strong> local.<br />

2. O PLANO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO<br />

ESTADO DO CEARÁ<br />

O Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (PDS –<br />

CE) foi formula<strong>do</strong> e impl<strong>em</strong>enta<strong>do</strong> no ano <strong>de</strong> 1995. Este programa governamental<br />

se inseriu <strong>em</strong> um contexto <strong>em</strong> que sérios e graves <strong>de</strong>sequilíbrios<br />

nas condições ambientais, econômicas e sociais ocorriam no território cearense.<br />

E, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com BRASIL (1991), “não há como imaginar um estilo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que possa ser ambientalmente sustentável, se não<br />

contiver uma solução para os graves <strong>de</strong>sequilíbrios provoca<strong>do</strong>s pelas situações<br />

<strong>de</strong> pobreza extr<strong>em</strong>a e <strong>de</strong> iniqüida<strong>de</strong> socioeconômica”. Para dirimir<br />

tais <strong>de</strong>sequilíbrios, o governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> propôs que a base <strong>de</strong> formação <strong>do</strong><br />

PDS – CE fosse <strong>de</strong> maneira participativa e d<strong>em</strong>ocrática com o intuito <strong>de</strong><br />

implantar o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável no território cearense no longo<br />

prazo possuin<strong>do</strong> uma prospectiva para o ano <strong>de</strong> 2020. Landim (1997) relata<br />

que o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável é um processo <strong>de</strong> mudança no qual a exploração<br />

<strong>do</strong>s recursos, a orientação <strong>do</strong>s investimentos, os rumos <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

tecnológico e as mudanças institucionais <strong>de</strong>pend<strong>em</strong> <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po<br />

e <strong>do</strong> <strong>em</strong>penho político na intenção <strong>de</strong> não obter resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>sastrosos,<br />

pois, escolhas difíceis terão <strong>de</strong> ser feitas.<br />

Segun<strong>do</strong> Andra<strong>de</strong> (2008), o PDS – CE foi cria<strong>do</strong> para orientar<br />

políticas e <strong>de</strong>finir objetivos para um espaço t<strong>em</strong>poral <strong>de</strong> uma geração<br />

na tentativa <strong>de</strong> superar os sérios probl<strong>em</strong>as adquiri<strong>do</strong>s nos governos<br />

anteriores. Esses entraves, conforme CEARÁ (1995) foram<br />

expressos da seguinte forma: na <strong>de</strong>gradação ambiental, na concentração<br />

espacial, na exclusão social, na vulnerabilida<strong>de</strong> econômica,<br />

no atraso cultural, científico e tecnológico, e na política <strong>de</strong> clientela<br />

198


e Esta<strong>do</strong> patrimonialista.<br />

Os Municipios Cearenses após 14 Anos <strong>de</strong> Planos <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável<br />

Diante <strong>de</strong>sses probl<strong>em</strong>as, o governo estadual possuía gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios<br />

para enfrentar nas próximas décadas além <strong>de</strong> promover as mudanças<br />

propostas pelo PDS – CE. Assim, esse programa teve como principal objetivo<br />

a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>do</strong>s cearenses seus objetivos específicos<br />

foram: Proteção ao meio ambiente; Reor<strong>de</strong>namento <strong>do</strong> espaço; Capacitação<br />

da população; Geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego e <strong>de</strong>senvolvimento sustentável<br />

da economia; Desenvolvimento cultural, científico, técnico e inova<strong>do</strong>r e<br />

Melhoria da gestão pública.<br />

Para cada objetivo acima cita<strong>do</strong>, o plano estabeleceu diretrizes organizadas<br />

<strong>em</strong> torno <strong>de</strong> cinco vetores <strong>de</strong> intervenção volta<strong>do</strong>s para alcançar<br />

o DS <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>. Esses vetores reuniam programas estruturantes<br />

que <strong>de</strong>veriam ser colocadas <strong>em</strong> práticas sob a forma <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão<br />

participativa. Assim, para o objetivo “proteção ao meio ambiente”, os<br />

programas estruturantes tentam estancar os processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação <strong>do</strong>s<br />

solos, da <strong>de</strong>sertificação e da exaustão <strong>do</strong>s recursos hídricos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e,<br />

alcançan<strong>do</strong> esse propósito, o Esta<strong>do</strong> diminuirá as perdas na produtivida<strong>de</strong><br />

agrícola. Esse vetor, segun<strong>do</strong> CEARÁ (1995), está apoia<strong>do</strong> <strong>em</strong> três políticas<br />

estratégicas:<br />

• Florestamento, Reflorestamento e Proteção da Biodivesida<strong>de</strong>, que<br />

cont<strong>em</strong>pla as seguintes ações:<br />

• Combate à poluição, que cont<strong>em</strong>pla as seguintes ações:<br />

• Desenvolvimento e Gestão <strong>do</strong>s Recursos Hídricos:<br />

Para o “reor<strong>de</strong>namento <strong>do</strong> espaço”, o plano propõe uma re<strong>de</strong><br />

equilibrada <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s com o dinamismo proveniente da área rural,<br />

das ativida<strong>de</strong>s industriais e <strong>de</strong> serviços. Para alcançar esse propósito,<br />

o plano sugere uma ampliação na oferta e na redistribuição espacial da<br />

infra-estrutura econômica e social na busca <strong>de</strong> consolidar as ativida<strong>de</strong>s<br />

produtivas municipais e, conseqüent<strong>em</strong>ente, proporcionar um maior <strong>de</strong>senvolvimento<br />

urbano. Percebe-se, então, que a intenção <strong>do</strong> PDS – CE, ao<br />

<strong>de</strong>senvolver essas estratégias é <strong>de</strong> proporcionar a integração entre áreas<br />

rurais e urbanas através da promoção da reforma agrária. As seguintes<br />

ações compõ<strong>em</strong> esse segun<strong>do</strong> vetor:<br />

• Estruturação da re<strong>de</strong> urbana, que <strong>de</strong>senvolverá programas<br />

e projetos com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proporcionar a integração <strong>de</strong><br />

199


Maria Ivonei<strong>de</strong> Vital Rodrigues, Patricia Veronica Pinheiro Sales Lima, Maria Irles <strong>de</strong> Oliveira Mayorga,<br />

Francisco Casimiro Filho, Suely Salgueiro Chacon<br />

áreas marginalizadas social e economicamente ao espaço urbano<br />

construí<strong>do</strong>;<br />

• Organização fundiária, “com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir e executar<br />

a política agrária <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, com vistas a d<strong>em</strong>ocratizar a posse<br />

e otimizar o uso da terra e fortalecen<strong>do</strong> e expandin<strong>do</strong> a agricultura<br />

familiar cooperada” (CEARÁ, 1995).<br />

A “capacitação da população”, promovida pelo PDS – CE, t<strong>em</strong> três<br />

programas estruturantes: universalização da educação básica; promoção<br />

da saú<strong>de</strong>; e promoção da cidadania e combate à pobreza. Com esses programas,<br />

o governo estadual tenta elevar o nível educacional e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da<br />

população cearense, conseqüent<strong>em</strong>ente, promoven<strong>do</strong> a cidadania, a elevação<br />

<strong>de</strong> sua auto-estima e a distribuição da riqueza. As ações <strong>de</strong>senvolvidas<br />

nesse vetor são:<br />

200<br />

• Desenvolver um projeto educativo para o <strong>Ceará</strong> com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

promover uma educação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, para to<strong>do</strong>s e envolver to<strong>do</strong>s<br />

pela educação buscan<strong>do</strong> a universalização <strong>do</strong> ensino e a erradicação<br />

<strong>do</strong> analfabetismo;<br />

• Desenvolver programas e projetos para garantir<br />

o pleno direito à saú<strong>de</strong> ten<strong>do</strong> como vista os seguintes<br />

princípios nortea<strong>do</strong>res: equida<strong>de</strong>; <strong>de</strong>scentralização;<br />

intersetorialida<strong>de</strong>; participação social; valorização e motivação <strong>do</strong>s profissionais<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

• Desenvolver programas <strong>de</strong> saneamento básico cont<strong>em</strong>plan<strong>do</strong> as seguintes<br />

ações: Aten<strong>de</strong>r a população das se<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s 184 municípios<br />

cearenses com água <strong>em</strong> quantida<strong>de</strong> suficiente e qualida<strong>de</strong> satisfatória;<br />

Aten<strong>de</strong>r com esgotamento sanitário as se<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s municípios;<br />

Preservar lagos e riachos;<br />

• Implantar programas habitacionais para aten<strong>de</strong>r a famílias<br />

com renda inferior a três salários mínimos através<br />

<strong>de</strong> mutirões habitacionais e urbanização <strong>de</strong> favelas; aten<strong>de</strong>r<br />

a famílias com renda entre três e <strong>de</strong>z salários mínimos através<br />

<strong>de</strong> financiamentos a pessoas físicas por meio <strong>de</strong> concessão<br />

<strong>de</strong> carta <strong>de</strong> crédito, financiamento para construção, conclusão<br />

e melhoria da moradia <strong>do</strong> financia<strong>do</strong>; e aten<strong>de</strong>r a famílias<br />

com renda superior a <strong>de</strong>z salários mínimos por meio


Os Municipios Cearenses após 14 Anos <strong>de</strong> Planos <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável<br />

da elevação da d<strong>em</strong>anda <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s habitacionais para aten<strong>de</strong>r a<br />

esse público;<br />

• Otimizar a segurança pública pela integração das instituições públicas<br />

e privadas; <strong>de</strong>senvolver ações preventivas inibi<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> agressões<br />

ao teci<strong>do</strong> social; e <strong>de</strong>senvolver ações para o aperfeiçoamento<br />

profissional que formam o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> segurança pública;<br />

• E, para o <strong>de</strong>senvolvimento social, redução das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

e promoção <strong>do</strong> trabalho, o PDS – CE promoverá<br />

a capacitação e organização social estimulan<strong>do</strong> o associativismo;<br />

a geração <strong>de</strong> ocupação e renda com o objetivo<br />

<strong>de</strong> qualificação profissional, concessão <strong>de</strong> créditos aos pequenos<br />

<strong>em</strong>preen<strong>de</strong><strong>do</strong>res e ampliar a produção e comercialização <strong>do</strong> artesanato<br />

cearense; assegurar os direitos da família, da criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente;<br />

garantir a assistência aos grupos vulneráveis; e promover<br />

uma <strong>de</strong>fesa civil permanente;<br />

• Para combater a pobreza rural, o PDS – CE t<strong>em</strong> como<br />

objetivo apoiar a interiorização <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento nas áreas rurais<br />

carentes <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> através <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão participativa que<br />

visa fornecer incentivos à <strong>de</strong>scentralização nos processos <strong>de</strong> tomada<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão para as instâncias municipais e comunitárias;<br />

Os programas estruturantes <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s ao objetivo “Geração <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>prego e <strong>de</strong>senvolvimento sustentável da economia” tentam ampliar<br />

a base econômica <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> na intenção <strong>de</strong>: gerar <strong>em</strong>prego e renda e,<br />

conseqüent<strong>em</strong>ente, incentivar a poupança pública e privada; promover a<br />

segurança agroalimentar; e promover a produção <strong>de</strong> bens e serviços necessários<br />

à melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população. Com essas estratégias<br />

<strong>em</strong> ação, o governo estará i<strong>de</strong>ntifican<strong>do</strong> e <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> as potencialida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> cada município cearense e, conseqüent<strong>em</strong>ente, promoven<strong>do</strong> a<br />

cidadania, a justiça social e, provavelmente, a eqüida<strong>de</strong> econômica através<br />

da erradicação da pobreza (CEARÁ, 1995). Para esse vetor foram elabora<strong>do</strong>s<br />

os seguintes programas estratégicos:<br />

• Desenvolvimento rural, que promoverá o <strong>de</strong>senvolvimento da irrigação<br />

e <strong>de</strong> pólos agroindustriais, para aumentar a produção e a<br />

produtivida<strong>de</strong> agrícola; <strong>de</strong>senvolverá ações voltadas para o fortalecimento<br />

da pecuária, da pesca e da aqüicultura;<br />

201


Maria Ivonei<strong>de</strong> Vital Rodrigues, Patricia Veronica Pinheiro Sales Lima, Maria Irles <strong>de</strong> Oliveira Mayorga,<br />

Francisco Casimiro Filho, Suely Salgueiro Chacon<br />

202<br />

• Desenvolvimento da indústria e mineração para i<strong>de</strong>ntificar as oportunida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> investimento locais além <strong>de</strong> promover a capacitação <strong>de</strong><br />

recursos humanos para esse setor produtivo;<br />

• Desenvolvimento <strong>do</strong> comércio, <strong>do</strong>s serviços e <strong>do</strong> turismo com a finalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> promover as exportações através da ampliação <strong>do</strong> complexo<br />

portuário; criar micro e pequenas <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> serviços no<br />

interior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> para gerar <strong>em</strong>prego e renda; e capacitar<br />

os recursos humanos no setor <strong>de</strong> serviços.<br />

Para o objetivo “<strong>de</strong>senvolvimento cultural, científico, técnico e<br />

inova<strong>do</strong>r”, o PDS – CE promove uma completa mudança cultural por<br />

enten<strong>de</strong>r que seja indispensável ao processo <strong>de</strong> DS. Então, para realizar<br />

esse objetivo, o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve promover a geração, a difusão e a inovação<br />

tecnológica e, com isso, a parceria entre universida<strong>de</strong>-<strong>em</strong>presa-socieda<strong>de</strong><br />

na intenção <strong>de</strong> propiciar as condições necessárias para o processo <strong>de</strong> DS<br />

e apoiar o processo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> nas ativida<strong>de</strong>s produtivas e nas relações<br />

sociais cearenses.<br />

Diante <strong>de</strong>sse contexto, para que haja a concretização <strong>de</strong> todas as estratégias<br />

acima citadas, <strong>de</strong>ve haver, conforme CEARÁ (1995), uma séria<br />

reforma na gestão pública promoven<strong>do</strong> a participação social que acompanhará<br />

e avaliará cada ação pública <strong>de</strong>stinada ao processo <strong>de</strong> implantação<br />

<strong>do</strong> DS. Andra<strong>de</strong> (2008) relata que essa gestão participativa <strong>de</strong>ve promover<br />

a elaboração <strong>de</strong> vários programas <strong>de</strong> ação e <strong>de</strong>stacar que as priorida<strong>de</strong>s <strong>do</strong><br />

governo (meio ambiente, educação, saú<strong>de</strong>, segurança, agricultura e <strong>em</strong>prego)<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar atreladas às mudanças culturais <strong>do</strong> povo cearense. Pois,<br />

segun<strong>do</strong> BRASIL (1991), a cidadania, a acumulação e a distribuição <strong>do</strong>s<br />

recursos disponíveis constitu<strong>em</strong> processos simultâneos <strong>de</strong> um processo<br />

histórico e que superarão a <strong>de</strong>fasag<strong>em</strong> entre progresso material, justiça<br />

social e sustentabilida<strong>de</strong> ambiental.<br />

Com esse pensamento <strong>de</strong> reforma, o governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

revisou, <strong>em</strong> 1999, seu Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável cria<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />

1995. Com o objetivo <strong>de</strong> avançar no crescimento econômico cearense com<br />

<strong>de</strong>senvolvimento social, o Plano “Consolidan<strong>do</strong> o Novo <strong>Ceará</strong>” continuou,<br />

no quadriênio 1999 – 2002, a impl<strong>em</strong>entação <strong>do</strong>s programas estruturantes<br />

outrora <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s no PDS – CE, <strong>em</strong> 1995 (CEARÁ, 1999).


3. METODOLOGIA<br />

Os Municipios Cearenses após 14 Anos <strong>de</strong> Planos <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável<br />

3.1 Área <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> e variáveis selecionadas<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> se obter um melhor diagnóstico <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável <strong>do</strong>s municípios cearenses recorreu-se aos <strong>do</strong>cumentos<br />

da Organização das Nações Unidas (ONU), <strong>do</strong> <strong>Instituto</strong> Brasileiro <strong>de</strong><br />

Geografia e Estatística (IBGE) e <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste (BNB) os quais<br />

suger<strong>em</strong>, <strong>em</strong> síntese, que sejam a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res distribuí<strong>do</strong>s nas seguintes<br />

dimensões: Social, Ambiental, Econômica e Institucional. Vale<br />

salientar que a matriz a ser construída foi dividida conforme os vetores<br />

propostos no PDS – CE (Proteção ao meio ambiente; Reor<strong>de</strong>namento <strong>do</strong><br />

espaço; Capacitação da população; Geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável da economia; e Desenvolvimento cultural, científico, técnico<br />

e inova<strong>do</strong>r). O vetor “Desenvolvimento cultural, científico, técnico e<br />

inova<strong>do</strong>r” não será representa<strong>do</strong> nessa matriz pela inexistência <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s<br />

secundários para os 184 municípios cearenses.<br />

Assim sen<strong>do</strong>, construiu-se uma matriz <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res com informações<br />

referentes aos 184 municípios <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (Apêndice A).<br />

Os da<strong>do</strong>s estatísticos <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s foram <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> secundária, coleta<strong>do</strong>s<br />

<strong>em</strong> publicações <strong>do</strong> <strong>Instituto</strong> Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística<br />

(IBGE), da Fundação <strong>de</strong> Meteorologia e Recursos Hídricos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ceará</strong> (FUNCEME), <strong>do</strong> <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Pesquisa e Estratégia Econômica <strong>do</strong><br />

<strong>Ceará</strong> (<strong>IPECE</strong>), <strong>do</strong> Serviço Geológico <strong>do</strong> Brasil (CPRM) e <strong>do</strong> <strong>Instituto</strong><br />

Nacional <strong>de</strong> Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Foram obtidas, nas<br />

fontes acima, duzentas e seis variáveis originais, com as quais se criaram<br />

cento e cinqüenta e nove indica<strong>do</strong>res que foram distribuí<strong>do</strong>s nos quatro<br />

principais vetores: Proteção <strong>do</strong> meio ambiente, Reor<strong>de</strong>namento <strong>do</strong> espaço,<br />

Capacitação da população e Geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego e <strong>de</strong>senvolvimento sustentável<br />

da economia.<br />

3.2 Méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Análise<br />

Um instrumento clássico para a análise <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> conjunto <strong>de</strong><br />

variáveis é a análise fatorial. Assim, após a formação da matriz com as<br />

medidas multivariadas, 2 a mesma foi submetida à análise fatorial que, segun<strong>do</strong><br />

Hair et al (2005), é uma técnica que lida com questões multivaria-<br />

2 Medidas nas quais diversas variáveis são reunidas <strong>em</strong> uma medida composta para representar um conceito;<br />

t<strong>em</strong> como objetivo evitar o uso <strong>de</strong> apenas uma variável para representar tal conceito e, ao invés disso, usar<br />

várias variáveis como indica<strong>do</strong>res, to<strong>do</strong>s representan<strong>do</strong> diferentes facetas <strong>do</strong> conceito, para se obter uma<br />

perspectiva mais ampla (HAIR et al, 2005).<br />

203


Maria Ivonei<strong>de</strong> Vital Rodrigues, Patricia Veronica Pinheiro Sales Lima, Maria Irles <strong>de</strong> Oliveira Mayorga,<br />

Francisco Casimiro Filho, Suely Salgueiro Chacon<br />

das e i<strong>de</strong>ntifica a estrutura subjacente a um conjunto <strong>de</strong> novas variáveis<br />

<strong>de</strong>nominadas <strong>de</strong> fatores.<br />

Cada vetor proposto no PDS – CE (Proteção ao meio ambiente;<br />

Reor<strong>de</strong>namento <strong>do</strong> espaço; Capacitação da população; e Geração<br />

<strong>de</strong> <strong>em</strong>prego e <strong>de</strong>senvolvimento sustentável da economia) foi organiza<strong>do</strong><br />

<strong>em</strong> suas respectivas matrizes cujas dimensões a<strong>do</strong>tadas foram:<br />

Vetor 1: 184 municípios x 33 indica<strong>do</strong>res; Vetor 2: 184 municípios x 17<br />

indica<strong>do</strong>res;Vetor 3: 184 municípios x 58 indica<strong>do</strong>res; e Vetor 4: 184 municípios<br />

x 51 indica<strong>do</strong>res.<br />

A a<strong>de</strong>quação <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo fatorial estima<strong>do</strong> foi verificada por<br />

meio das estatísticas Medidas <strong>de</strong> A<strong>de</strong>quação da Amostra (MSA ); i<br />

Estatística <strong>de</strong> Kaiser-Meyer-Olkin (KMO); Teste <strong>de</strong> esfericida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bartlett.<br />

Após essa verificação proce<strong>de</strong>u-se à interpretação da importância<br />

das variáveis <strong>em</strong> seu respectivo fator e à estimação <strong>do</strong>s escores fatoriais.<br />

Os escores fatoriais são medidas compostas que relacionam cada observação<br />

(município) com cada fator comum, e para obtê-los utilizam-se as<br />

cargas fatoriais, <strong>em</strong> conjunto com os valores das variáveis.<br />

Após a aplicação da análise fatorial realizada <strong>em</strong> cada uma das dimensões<br />

<strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res com o objetivo <strong>de</strong> estimar a matriz <strong>de</strong> escores<br />

fatoriais, foram calcula<strong>do</strong>s: o Índice Proteção ao meio ambiente (IDS ), MA<br />

o Índice <strong>de</strong> Reor<strong>de</strong>namento <strong>do</strong> espaço (IDS ), o Índice <strong>de</strong> Capacitação da<br />

RE<br />

população (IDS ) e o Índice <strong>de</strong> Geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

CP<br />

sustentável da economia (IDS ) conforme a meto<strong>do</strong>logia a<strong>do</strong>tada:<br />

EE<br />

Sen<strong>do</strong> g: dimensão <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res (g = 1, ..., 4); i: número <strong>de</strong> fatores;<br />

j: município <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (j = 1, ..., 184); f ij : escore fatorial estima<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> fator i no município j; n: número <strong>de</strong> raízes características;<br />

rc: raiz característica <strong>do</strong> fator i.<br />

Com os índices parciais calcula<strong>do</strong>s realizou-se a padronização <strong>do</strong>s<br />

mesmos <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a enquadrá-los no intervalo <strong>de</strong> zero a um.<br />

204<br />

(1)<br />

(2)


Os Municipios Cearenses após 14 Anos <strong>de</strong> Planos <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável<br />

sen<strong>do</strong>:<br />

IDS gj : índice da dimensão <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res g para o município j;<br />

IDS gmin : índice mínimo da dimensão <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res g;<br />

IDS gmax : índice máximo da dimensão <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res g.<br />

Para calcular o IDS para cada município <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> <strong>em</strong>pregou-se<br />

a média aritmética <strong>do</strong>s quatro índices parciais obti<strong>do</strong>s:<br />

sen<strong>do</strong>:<br />

j: município <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (j = 1, ..., 184); IDS : índices <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os<br />

gj<br />

municípios <strong>de</strong> todas as dimensões <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res; g: dimensão <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res<br />

(g = 1, ..., 4).<br />

Após análise <strong>de</strong> agrupamento pelo méto<strong>do</strong> das k-médias os municípios<br />

foram classifica<strong>do</strong>s quanto ao nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável<br />

nas seguintes classes:<br />

Nível Muito Bom Nível Bom Nível Médio Nível Ruim Nível Muito Ruim<br />

75,6817 a 87,9873 49,4268 a 66,7079 38,6083 a 48,3744 29,9316 a 38,4659 13,1148 a 29,7004<br />

É necessário enfatizar que o índice construí<strong>do</strong> é uma medida <strong>do</strong><br />

grau <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável (IDS) municipal. As estimativas<br />

permit<strong>em</strong> apenas comparações entre os municípios quanto ao grau <strong>de</strong><br />

sustentabilida<strong>de</strong>. Este tipo <strong>de</strong> análise auxilia na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s<br />

locais e são, assim, úteis na elaboração <strong>de</strong> políticas públicas.<br />

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Após 14 anos da implantação <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável<br />

para o Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (PDS – CE), essa pesquisa constatou que,<br />

no seu primeiro vetor <strong>de</strong> intervenção (proteção ao meio ambiente), houve<br />

um maior <strong>de</strong>senvolvimento da infra-estrutura e oferta hídrica, consequent<strong>em</strong>ente,<br />

refletin<strong>do</strong> <strong>em</strong> melhorias no abastecimento <strong>de</strong> água, na urbanização<br />

e na permanência <strong>do</strong>s seres vivos <strong>em</strong> uma <strong>de</strong>terminada região. Mas,<br />

sugere-se a promoção da educação ambiental para o uso eficiente e justo<br />

<strong>do</strong>s recursos hídricos para não acarretar, futuramente, a exaustão hídrica.<br />

(3)<br />

205


Maria Ivonei<strong>de</strong> Vital Rodrigues, Patricia Veronica Pinheiro Sales Lima, Maria Irles <strong>de</strong> Oliveira Mayorga,<br />

Francisco Casimiro Filho, Suely Salgueiro Chacon<br />

Nesse vetor, somente <strong>em</strong> vinte e sete municípios, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>-se<br />

Fortaleza e Juazeiro <strong>do</strong> Norte, os programas estruturantes possibilitaram<br />

esse maior planejamento na disponibilida<strong>de</strong> hídrica e na urbanização das<br />

residências. Mas, <strong>de</strong>ve-se preocupar com a forma <strong>de</strong> implantação <strong>de</strong>ssas<br />

políticas <strong>de</strong> infra-estrutura e <strong>de</strong> recursos hídricos na intenção <strong>de</strong> proteger<br />

a base ambiental não somente nesses municípios, mas, também, <strong>em</strong> to<strong>do</strong> o<br />

Esta<strong>do</strong> para não exaurir os recursos naturais. Pois, <strong>de</strong>tectou-se, também,<br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se implantar projetos para a educação <strong>em</strong> solos na tentativa<br />

<strong>de</strong> se evitar a <strong>de</strong>gradação ambiental e as perdas da biodiversida<strong>de</strong> nos<br />

diversos ecossist<strong>em</strong>as cearenses.<br />

Os municípios serranos (Guaramiranga, Guaraciaba <strong>do</strong> Norte, Mulungu,<br />

Pacoti, Viçosa <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, Meruoca e Alcântaras) e os praianos (Barroquinha,<br />

Acaraú, Beberibe, Jijoca <strong>de</strong> Jericoacoara, Itar<strong>em</strong>a, Amontada,<br />

Aquiraz, Cruz e Trairi) foram os que se classificaram como pior nível <strong>de</strong><br />

proteção ao meio ambiente. Vale salientar que esses municípios sofr<strong>em</strong><br />

fortes agressões <strong>em</strong> seus ecossist<strong>em</strong>as para dar lugar à construção imobiliária<br />

e, conseqüent<strong>em</strong>ente, <strong>de</strong>vastan<strong>do</strong> os recursos naturais e não proporcionan<strong>do</strong><br />

melhorias na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população.<br />

Dentro <strong>do</strong>s aspectos relaciona<strong>do</strong>s ao segun<strong>do</strong> vetor, reor<strong>de</strong>namento<br />

espacial, constatou-se que, apesar <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> possuir uma elevada<br />

proporção <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílios com esgotamento sanitário, a população<br />

ainda não <strong>de</strong>senvolveu hábitos para evitar o lançamento <strong>do</strong> lixo <strong>em</strong> terrenos<br />

baldios, consequent<strong>em</strong>ente, levan<strong>do</strong> a um possível <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>namento<br />

<strong>do</strong> espaço urbano e rural. Outro aspecto constata<strong>do</strong> pela pesquisa referese<br />

à importância da organização fundiária com o objetivo <strong>de</strong> promover a<br />

reforma agrária, mas, <strong>de</strong>ve-se, também, fornecer subsídios e capacitações<br />

técnicas aos produtores rurais para que não haja o aban<strong>do</strong>no das ativida<strong>de</strong>s<br />

agrícolas.<br />

Nesse vetor, a pesquisa i<strong>de</strong>ntificou quarenta e três municípios com<br />

nível muito bom <strong>de</strong> reor<strong>de</strong>namento espacial e, <strong>de</strong>ntre eles, os municípios<br />

cria<strong>do</strong>s a partir <strong>de</strong> 1980 (Paraipaba, Pin<strong>do</strong>retama, Eusébio, Varjota, Itaitinga,<br />

Maracanaú, Barreira, Cruz, Fortim e Horizonte) que, também, se<br />

<strong>de</strong>stacaram com níveis bons <strong>de</strong> proteção ao meio ambiente. No nível ruim<br />

e muito ruim classificaram-se vinte e um municípios que, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />

a pesquisa, necessitam <strong>de</strong> maiores investimentos na redistribuição das terras<br />

e <strong>em</strong> políticas <strong>de</strong> esgotamento sanitário básico na intenção <strong>de</strong> promo-<br />

206


Os Municipios Cearenses após 14 Anos <strong>de</strong> Planos <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável<br />

ver um maior reor<strong>de</strong>namento espacial conforme as propostas elaboradas<br />

pelo PDS – CE.<br />

Para a capacitação da população, terceiro vetor proposto pelo PDS –<br />

CE, a pesquisa constatou vinte e oito municípios com nível muito bom e<br />

bom <strong>de</strong> capacitação da população possuin<strong>do</strong> as maiores médias na taxa <strong>de</strong><br />

escolarização, na frota <strong>de</strong> veículos, nos acessos aos terminais telefônicos<br />

e nos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>-se os municípios <strong>de</strong> Fortaleza, Sobral,<br />

Barbalha, Crato, Juazeiro <strong>do</strong> Norte, Caucaia, Maracanaú, Horizonte,<br />

Eusébio, Pacajus e Maranguape. Mas, foram cento e quatro municípios<br />

(56,52% <strong>do</strong> total <strong>de</strong> municípios cearenses) classifica<strong>do</strong>s como nível ruim e<br />

muito ruim e que possuíram as maiores taxas <strong>de</strong> analfabetismo e as menores<br />

taxas na renda familiar e no acesso aos serviços <strong>de</strong> telefonia. Com esses<br />

resulta<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>tectou-se a baixa qualificação <strong>do</strong>s indivíduos, privan<strong>do</strong><br />

o cearense <strong>de</strong> melhores <strong>em</strong>pregos, melhores rendas e, consequent<strong>em</strong>ente,<br />

intensifican<strong>do</strong> a pobreza e contribuin<strong>do</strong> fort<strong>em</strong>ente para o insucesso <strong>de</strong><br />

programas volta<strong>do</strong>s para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Sugere-se, então,<br />

investimentos <strong>em</strong> programas sociais para promover a qualificação profissional<br />

<strong>do</strong>s cearenses.<br />

A pesquisa, também, constatou que, no <strong>Ceará</strong>, apesar da precarieda<strong>de</strong><br />

da qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ensino público que, possivelmente, comprometerá as<br />

tentativas <strong>de</strong> melhorias nas condições <strong>de</strong> vida, a população cearense teve<br />

um maior acesso aos meios <strong>de</strong> telecomunicações, aos transportes e à educação<br />

básica. Dessa forma, percebe-se que o nível educacional necessita<br />

<strong>de</strong> investimentos e reformas na educação na tentativa <strong>de</strong> se alcançar as<br />

metas <strong>do</strong> PDS – CE que propõe a redução das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e uma<br />

vida mais digna e justa. Pois, constatou-se, também, a importância <strong>de</strong> se<br />

<strong>de</strong>senvolver e implantar programas volta<strong>do</strong>s para uma educação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diminuir a evasão escolar que continua sen<strong>do</strong><br />

um indica<strong>do</strong>r bastante significativo e, como tal, não retrata os objetivos <strong>do</strong><br />

PDS – CE que combatia <strong>de</strong> todas as formas esse indica<strong>do</strong>r escolar.<br />

As melhorias na saú<strong>de</strong> ocorridas no perío<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>, provavelmente,<br />

foram <strong>de</strong>vidas à difusão <strong>do</strong>s programas <strong>de</strong> aleitamento materno que<br />

conseguiu diminuir significativamente a mortalida<strong>de</strong> infantil – indica<strong>do</strong>r<br />

fundamental para se <strong>de</strong>finir a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> uma região. Dessa<br />

forma, sugere-se a continuida<strong>de</strong> e melhorias <strong>de</strong>sses programas além <strong>de</strong><br />

207


Maria Ivonei<strong>de</strong> Vital Rodrigues, Patricia Veronica Pinheiro Sales Lima, Maria Irles <strong>de</strong> Oliveira Mayorga,<br />

Francisco Casimiro Filho, Suely Salgueiro Chacon<br />

incentivar formas <strong>de</strong> educação <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> para promover, ainda mais, uma<br />

elevação na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>do</strong>s cearenses.<br />

No último vetor, geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego e <strong>de</strong>senvolvimento sustentável<br />

da economia, classificaram-se, apenas, vinte e <strong>do</strong>is municípios nos níveis<br />

muito bom, bom e médio. Os indica<strong>do</strong>res mais significativos <strong>do</strong> quarto<br />

vetor foram os relaciona<strong>do</strong>s à ativida<strong>de</strong> industrial e à produtivida<strong>de</strong> agropecuária.<br />

Com relação aos indica<strong>do</strong>res volta<strong>do</strong>s à ativida<strong>de</strong> industrial, a<br />

pesquisa constatou, ainda, uma forte concentração das indústrias no município<br />

<strong>de</strong> Fortaleza e municípios <strong>de</strong> entorno, mas, percebeu-se o início<br />

<strong>de</strong> uma <strong>de</strong>sconcentração industrial levan<strong>do</strong>-as para o interior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

(Sobral, Juazeiro <strong>do</strong> Norte, Crato e Iguatu). Vale ressaltar que, a produtivida<strong>de</strong><br />

agropecuária, também, t<strong>em</strong> recebi<strong>do</strong> incentivos e, provavelmente,<br />

t<strong>em</strong> proporciona<strong>do</strong> melhorias nos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> produção e comercialização<br />

<strong>de</strong> produtos primários e <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s além <strong>de</strong> fornecer uma maior capacitação<br />

técnica para o hom<strong>em</strong> <strong>do</strong> campo.<br />

A pesquisa classificou cento e sessenta e <strong>do</strong>is municípios (88% <strong>do</strong>s<br />

municípios cearenses) com o nível ruim e muito ruim no vetor referente à<br />

geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego e <strong>de</strong>senvolvimento sustentável da economia, possuin<strong>do</strong><br />

as menores médias no Produto Interno Bruto, no consumo <strong>de</strong> energia<br />

elétrica industrial e na renda per capita da população. Percebe-se, então, a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reavaliar os programas <strong>de</strong> crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

econômico municipal na busca <strong>de</strong> melhorar as condições <strong>de</strong> vida da população<br />

local.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s a seguir refer<strong>em</strong>-se ao Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Sustentável (IDS) o qual incorpora os quatro vetores <strong>do</strong> Programa<br />

<strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável – <strong>Ceará</strong>, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que esses<br />

vetores estão interliga<strong>do</strong>s e que são os <strong>de</strong>safios para a transformação <strong>do</strong><br />

perfil sócio-econômico-ambiental-institucional <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>.<br />

A classificação <strong>do</strong> IDS, conforme as características s<strong>em</strong>elhantes entre<br />

os municípios, foi realizada por meio <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> agrupamentos pelo<br />

méto<strong>do</strong> das k – médias (Tabela 1).<br />

208


Os Municipios Cearenses após 14 Anos <strong>de</strong> Planos <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável<br />

Tabela 1 - Índice médio, número <strong>de</strong> municípios, área e população,<br />

segun<strong>do</strong> o Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável (IDS)<br />

Classes IDS Índice Médio<br />

Número <strong>de</strong><br />

Municípios<br />

Área (ha)<br />

População<br />

(2006)<br />

IDS 13,1148 a 87,9873 184 1.488.256.020 8.217.085<br />

1 75,6817 a 87,9873 81,8345 2 4.188.360 2.613.342<br />

2 49,4268 a 66,7079 54,7683 27 139.326.410 1.715.160<br />

3 38,6083 a 48,3744 42,6576 45 282.706.640 1.138.060<br />

4 29,9316 a 38,4659 34,3060 74 601.625.590 1.871.191<br />

5 13,1148 a 29,7004 25,3151 36 460.409.020 879.332<br />

Fonte: Resulta<strong>do</strong>s da pesquisa, <strong>2009</strong>.<br />

Conforme observa<strong>do</strong> percebe-se que 29 municípios ficaram inseri<strong>do</strong>s<br />

nas classes 1 e 2 com níveis, respectivamente, muito bom e bom <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento abrangen<strong>do</strong> uma área <strong>de</strong> 143.514.770ha e abrigan<strong>do</strong> uma<br />

população <strong>de</strong> 4.328.502 habitantes. A maioria <strong>de</strong>sses municípios localizase<br />

na capital cearense e na Região Metropolitana <strong>de</strong> Fortaleza (RMF). São<br />

eles: Fortaleza, Maracanaú, Eusébio, Horizonte, Pacajus, Caucaia, Pacatuba<br />

e Maranguape e nas principais cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

(Juazeiro <strong>do</strong> Norte, Crato, Sobral e Iguatu).<br />

Com relação a essas duas classes, os municípios Fortaleza, Maracanaú,<br />

Eusébio, Sobral, Pacajus, Juazeiro <strong>do</strong> Norte, Crato e Iguatu, também,<br />

encontram-se com os melhores índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento municipal<br />

segun<strong>do</strong> <strong>IPECE</strong> (2006). Os indica<strong>do</strong>res, com os maiores valores médios,<br />

que mais contribuíram para essa classificação foram: TXURBAN0, TXA-<br />

BAGU3, DOMAGU0, TXEB1517, VEICPOP5, TELEPOP4, TXINDUS4,<br />

EEICONS5, PIBCAPT4. E os indica<strong>do</strong>res, com os menores valores, foram:<br />

TXBADLC0, TXAN1117, TXANF150 E VPCTPOP6 (Tabela 2).<br />

Na classe 3, nível médio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, classificaram-se 45<br />

municípios, representan<strong>do</strong> uma área <strong>de</strong> 282.706.640ha e afetan<strong>do</strong> uma população<br />

<strong>de</strong> 1.138.060 habitantes. Apresentou uma concentração na região<br />

serrana <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (Baturité, Re<strong>de</strong>nção, Guaiúba, Tianguá, Ibiapina,<br />

São Benedito e Meruoca) além <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s importantes no Esta<strong>do</strong><br />

(Aquiraz, Jaguaribe e Crateús). Os indica<strong>do</strong>res que mais se <strong>de</strong>stacaram<br />

para essa classificação foram: AGENDOM0, TXURBAN0, TXBADLC0,<br />

ALFNALF0, TXAN1117, ATEPERM6, VPCTPOP6 e EEICONS5.<br />

209


Maria Ivonei<strong>de</strong> Vital Rodrigues, Patricia Veronica Pinheiro Sales Lima, Maria Irles <strong>de</strong> Oliveira Mayorga,<br />

Francisco Casimiro Filho, Suely Salgueiro Chacon<br />

As classes 4 e 5, nível ruim e nível muito ruim <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

englobaram 110 municípios com uma população <strong>de</strong> 2.750.523 habitantes<br />

<strong>em</strong> uma área <strong>de</strong> 1.062.034.610ha. Os indica<strong>do</strong>res que mais contribuíram<br />

foram: DENORCH7, AGENDOM0, TXURBAN0, TXABAGU3, DO-<br />

MAGU0, TXEB1517, VEICPOP5, TELEPOP5, TXINDUS4 e PIBCAPT4<br />

apresentan<strong>do</strong> os menores valores médios <strong>de</strong>sses indica<strong>do</strong>res. Com os<br />

maiores valores médios foram os seguintes indica<strong>do</strong>res: TXBADLC0,<br />

TXAN1117 e FPMPIB04.<br />

210


Os Municipios Cearenses após 14 Anos <strong>de</strong> Planos <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável<br />

Tabela 2 - Média <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s no cálculo<br />

<strong>do</strong> Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável (IDS)<br />

Indica<strong>do</strong>r<br />

1 2<br />

Classe<br />

3 4 5<br />

DENORCH7 -7,90 -5,62 -13,72 -19,57 -19,32<br />

BLITPARM 0,94 0,53 0,70 0,67 0,64<br />

AGENDOM0 0,67 0,42 0,40 0,37 0,37<br />

TXURBAN0 0,86 0,55 0,47 0,40 0,32<br />

TXABAGU3 99,84 69,53 54,23 45,99 41,03<br />

DOMAGU0 40,44 29,20 27,39 19,35 14,59<br />

IPDEGRAM 0,87 0,86 0,85 0,80 0,73<br />

VOLAGPO3 0,07 0,01 0,00 0,01 0,01<br />

LIGATIIV3 0,86 0,49 0,42 0,36 0,30<br />

TRATAREA6 0,04 0,07 0,06 0,04 0,04<br />

VPEVPOP6 0,00 3,34 7,49 8,06 9,82<br />

ARMEMIN5 3,16 9,62 16,09 18,23 24,13<br />

MINFIMO5 0,62 0,76 0,72 0,65 0,55<br />

ALATATO5 0,47 0,24 0,18 0,17 0,24<br />

AMINATO0 0,29 0,26 0,24 0,38 0,27<br />

DURBTOT0 1,08 0,81 0,69 0,60 0,56<br />

LXBADLC0 0,05 0,37 0,87 1,56 2,65<br />

DESADOM0 0,95 0,78 0,64 0,56 0,47<br />

BEBEMAM5 69,23 72,32 70,60 71,04 70,27<br />

ALFNALF0 5,05 2,37 1,76 1,52 1,28<br />

TXAN1117 5,03 9,89 12,15 14,85 18,33<br />

TXANF150 13,10 28,13 35,33 38,18 42,37<br />

TXELF7714 97,50 97,36 92,70 95,52 94,12<br />

TXEVEFU5 8,47 7,72 7,91 7,82 7,78<br />

LICPROF5 0,80 0,90 0,90 0,91 0,82<br />

TXEB1517 95,38 76,23 61,39 57,11 49,14<br />

BANDPOP5 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00<br />

VEICPOP5 0,14 0,10 0,09 0,07 0,06<br />

TELEPOP4 0,15 0,06 0,04 0,04 0,03<br />

CORRCOL3 0,10 0,11 0,14 0,14 0,12<br />

POPRERU0 1,00 0,70 0,54 0,46 0,41<br />

CRESCPOP 1,83 2,17 1,30 0,91 0,77<br />

CRESPURB 1,83 3,33 3,33 3,60 4,04<br />

CRESPRUR -1,87 0,03 -0,62 -0,89 -1,01<br />

M5SMDOM0 4,16 4,24 4,23 4,33 4,37<br />

MM5SDOM0 4,14 4,09 4,15 4,14 4,23<br />

AFEIST66 0,05 0,09 0,08 0,08 0,07<br />

ATEPERM6 2,24 11,56 143,55 70,30 62,76<br />

VTEPERM6 0,48 3,14 20,80 18,03 17,22<br />

VPCTPOP6 0,31 65,18 139,91 190,33 201,71<br />

TXINDUS4 59,47 44,34 28,41 23,70 20,41<br />

CEERTOT5 0,24 0,29 0,43 0,44 0,48<br />

CEEITOT5 0,42 0,25 0,08 0,03 0,03<br />

EERUCON5 33,45 7,18 2,51 1,92 1,79<br />

EEICONS5 1096,23 302,56 66,96 24,60 22,68<br />

CFENPOP5 2,08 0,97 0,45 0,37 0,29<br />

CAPAST66 0,09 0,10 0,11 0,10 0,12<br />

SUIAST66 1,70 0,19 0,17 0,18 0,19<br />

PTVALEI6 1,30 0,98 0,76 0,74 0,69<br />

PTOVOSG6 0,02 0,02 0,01 0,01 0,01<br />

FINPEC46 173,68 68,83 52,43 66,13 28,41<br />

PIBCAPT4 8682,02 4173,86 2416,00 2056,09 1880,70<br />

FPMPIB04 13,23 53,10 96,55 110,26 117,17<br />

RESTPOP5 0,87 0,13 0,04 0,02 0,01<br />

Fonte: Resulta<strong>do</strong>s da pesquisa, <strong>2009</strong>.<br />

211


Maria Ivonei<strong>de</strong> Vital Rodrigues, Patricia Veronica Pinheiro Sales Lima, Maria Irles <strong>de</strong> Oliveira Mayorga,<br />

Francisco Casimiro Filho, Suely Salgueiro Chacon<br />

O Quadro 1 consi<strong>de</strong>ra a distribuição <strong>do</strong>s municípios por classes <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Quadro 1 - Classificação <strong>do</strong>s municípios <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Sustentável segun<strong>do</strong> os Territórios da Cidadania<br />

continua<br />

Classes<br />

1 2 3 4 5<br />

Nível Muito Bom Nível Bom Nível Médio Nível Ruim Nível Muito Ruim<br />

Fortaleza Paracuru Arneiroz Ararendá Aiuaba<br />

Maracanaú Paraipaba Crateús Catunda Ipaporanga<br />

São Luís <strong>do</strong> Curu In<strong>de</strong>pendência Hidrolândia Novo Oriente<br />

Uruburetama Apuiarés Ipu Parambu<br />

Pacujá Itapajé Ipueiras Pires Ferreira<br />

Sobral Pentecoste Mons. Tabosa Poranga<br />

Varjota São Gonçalo <strong>do</strong> Amarant e Nova Russas Quiterianópolis<br />

Barbalha Forquilha Tamboril Santa Quitéria<br />

Crato Frecheirinha Tauá Itar<strong>em</strong>a<br />

Juazeiro <strong>do</strong> Norte Groaíras Amontada Miraíma<br />

Nova Olinda Meruoca General Sampaio Choro<br />

Penaforte Mucambo Irauçuba Ibaretama<br />

Horizonte Altaneira Itapipoca Mombaça<br />

Eusébio Antonina <strong>do</strong> Norte Tejuçuoca Boa Viag<strong>em</strong><br />

Pacajus Brejo Santo Trairi Canindé<br />

Caucaia Caririaçu Tururu Itatira<br />

Aracati Farias Brito Umirim Madalena<br />

Limoeiro <strong>do</strong> Norte Jardim Banabuiú Paramoti<br />

Itaitinga Jati Dep. Irapuan Pinheiro Santana <strong>do</strong> Acaraú<br />

Maranguape Milagres Milha Assaré<br />

Itaiçaba Acarape Pedra Branca Salitre<br />

Pin<strong>do</strong>retama Barreira Piquet Carneiro Tarrafas<br />

Icapuí Baturité Quixadá Ocara<br />

Quixeré Re<strong>de</strong>nção Quixeramobim Alto Santo<br />

Pacatuba Catarina S<strong>em</strong>. Pompeu Viçosa <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

Russas Tianguá Solonópole Bela Cruz<br />

Iguatu Palhano Carida<strong>de</strong> Saboeiro<br />

Jaguaruana Alcântaras Jaguaretama<br />

Aquiraz Cariré Acopiara<br />

Tabuleiro <strong>do</strong> Norte Coreaú Croatá<br />

Cascavel Graça Chaval<br />

Orós Massapé Cariús<br />

São João <strong>do</strong> Jaguaribe Moraújo Uruoca<br />

Baixio Reiutaba Barroquinha<br />

Ipaumirim Sena<strong>do</strong>r Sá Granja<br />

Pereiro Abaiara<br />

Fortim Araripe<br />

Ibiapina Aurora<br />

São Benedito Barro<br />

Irac<strong>em</strong>a Campos Sales<br />

Jaguaribe Granjeiro<br />

Várzea Alegre Mauriti<br />

Ibicuitinga Missão Velha<br />

Guaiúba Porteiras<br />

Ererê Potengi<br />

212


Os Municipios Cearenses após 14 Anos <strong>de</strong> Planos <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável<br />

Quadro 1 - Classificação <strong>do</strong>s municípios <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o Índice <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Sustentável segun<strong>do</strong> os Territórios da Cidadania<br />

conclusão<br />

Classes<br />

1 2 3 4 5<br />

Nível Muito Bom Nível Bom Nível Médio Nível Ruim Nível Muito Ruim<br />

Santana <strong>do</strong> Cariri<br />

Aracoiaba<br />

Aratuba<br />

Capistrano<br />

Guaramiranga<br />

Itapiúna<br />

Mulungu<br />

Pacoti<br />

Palmácia<br />

Chorozinho<br />

Jaguaribara<br />

Morada Nova<br />

Ubajara<br />

Guaraciaba <strong>do</strong> Norte<br />

Cedro<br />

Marco<br />

Martinópole<br />

Camocim<br />

Jijoca <strong>de</strong> Jericoacoara<br />

Lavras da Mangabeira<br />

Beberibe<br />

Acaraú<br />

Umari<br />

Carnaubal<br />

Jucás<br />

Cruz<br />

Iço<br />

Potiretama<br />

Morrinhos<br />

Quixelô<br />

Fonte: Resulta<strong>do</strong>s da pesquisa, <strong>2009</strong>.<br />

Po<strong>de</strong>-se perceber que existe uma gran<strong>de</strong> concentração <strong>do</strong>s municípios<br />

nas classes 3, 4 e 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Possivelmente, essa classificação<br />

<strong>de</strong>ve-se ao fato da baixa capacida<strong>de</strong> produtiva, da baixa taxa <strong>de</strong><br />

urbanização, da baixa taxa <strong>de</strong> escolarização bruta no ensino médio da<br />

população <strong>de</strong> 15 a 17 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e, também, da baixa taxa <strong>de</strong> investimentos<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos fatores climáticos da região.<br />

Nas classes 1 e 2, <strong>de</strong>stacam-se Fortaleza e vários municípios da sua<br />

Região Metropolitana (RMF). Essa boa classificação obtida, provavelmente,<br />

<strong>de</strong>ve-se ao fato da concentração <strong>do</strong>s investimentos públicos e pri-<br />

213


Maria Ivonei<strong>de</strong> Vital Rodrigues, Patricia Veronica Pinheiro Sales Lima, Maria Irles <strong>de</strong> Oliveira Mayorga,<br />

Francisco Casimiro Filho, Suely Salgueiro Chacon<br />

va<strong>do</strong>s na capital e nos municípios da RMF.<br />

Vale ressaltar que os melhores resulta<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Paracuru, Paraipaba,<br />

São Luís <strong>do</strong> Curu e Uruburetama <strong>de</strong>ve-se, provavelmente, ao fato da implantação<br />

<strong>de</strong> programas para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> turismo nas cida<strong>de</strong>s<br />

litorâneas e <strong>do</strong> projeto <strong>de</strong> irrigação <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> no baixo <strong>do</strong> Rio Curu.<br />

Na região <strong>de</strong> Sobral, os municípios <strong>de</strong> Sobral, Pacujá e Varjota e, no território<br />

<strong>do</strong> Cariri, os municípios <strong>de</strong> Barbalha, Crato, Juazeiro <strong>do</strong> Norte, Nova<br />

Olinda e Penaforte já estão melhores classifica<strong>do</strong>s conforme o IDS calcula<strong>do</strong>.<br />

Possivelmente, esses resulta<strong>do</strong>s, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, pod<strong>em</strong><br />

ser explica<strong>do</strong>s pela <strong>de</strong>scentralização industrial, pelos investimentos<br />

na educação básica, no saneamento básico etc. propostos pelo PDS – CE<br />

<strong>em</strong> 1995. Ainda se t<strong>em</strong> muito a fazer, mas, o governo e a população realizaram<br />

e realizam os primeiros passos para transformar o Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

com um perfil volta<strong>do</strong> para os princípios <strong>do</strong> Desenvolvimento Sustentável:<br />

socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> harmonia com a natureza, socieda<strong>de</strong> d<strong>em</strong>ocrática e justa e<br />

com uma economia sustentável.<br />

5. CONSIDERAÇõES FINAIS<br />

Ao inter-relacionar os quatro vetores, a pesquisa verificou que os<br />

municípios mais <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s foram Fortaleza e Maracanaú e mais seis<br />

municípios pertencentes à Região Metropolitana <strong>de</strong> Fortaleza (Horizonte,<br />

Eusébio, Pacajus, Caucaia, Maranguape e Pacatuba). Esses municípios<br />

apresentaram as maiores médias na urbanização, saneamento básico, educação,<br />

acessos a transportes e serviços, industrialização e maiores valores<br />

no Produto Interno Bruto per capita. Percebe-se, assim, a concentração<br />

industrial na capital cearense e <strong>em</strong> sua Região Metropolitana, apesar da<br />

política <strong>de</strong> interiorização da indústria.<br />

Após 14 anos <strong>de</strong> planos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável cento e cinqüenta<br />

e cinco municípios (84,24% <strong>do</strong>s municípios cearenses) classificaram-se<br />

nos níveis médio, ruim e muito ruim, o que constitui um forte<br />

indício da baixa efetivida<strong>de</strong> das políticas públicas impl<strong>em</strong>entadas.<br />

Verifica-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investimentos <strong>em</strong> programas que possam<br />

incentivar e promover o <strong>de</strong>senvolvimento das potencialida<strong>de</strong>s locais <strong>do</strong> território<br />

cearense geran<strong>do</strong> renda e melhorias <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res sociais.<br />

214


Os Municipios Cearenses após 14 Anos <strong>de</strong> Planos <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável<br />

Finalmente, sugere-se que o governo <strong>de</strong>va continuar investin<strong>do</strong> na<br />

infra-estrutura (transporte, estradas, energia etc.), na redistribuição espacial<br />

das indústrias e no setor <strong>de</strong> serviços com o objetivo <strong>de</strong> promover o<br />

crescimento e o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>do</strong>s municípios. Ressalta-se,<br />

ainda, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> integração entre as políticas e programas governamentais.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

ANDRADE, I. A. L. <strong>de</strong>. Planos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável no<br />

Nor<strong>de</strong>ste: uma análise comparativa. Disponível <strong>em</strong>: http://www.<br />

fundaj.gov.br/licitacao/textos_ilza2.pdf Acesso <strong>em</strong> 06/06/2008.<br />

BRASIL. O <strong>de</strong>safio <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Brasília: Comissão<br />

Interministerial para a Preparação da Conferência das Nações Unidas sobre<br />

Meio Ambiente e Desenvolvimento – CIMA, 1991.<br />

CEARÁ. Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> – 1995 – 1998.<br />

Fortaleza: SEPLAN, 1995.<br />

HAIR Jr., Joseph F. et al. Análise Multivariada <strong>de</strong> Da<strong>do</strong>s. 5ª edição. Porto<br />

Alegre: Bookman, 2005.<br />

LANDIM, Paulo M. B. Recursos naturais e renováveis e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável. In: Indica<strong>do</strong>res ambientais. Sorocaba: [s.n.], 1997.<br />

LIMA, Patrícia V. P. S. & RODRIGUES, Maria I. V. As políticas públicas<br />

e a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s assentamentos <strong>de</strong> reforma agrária. In: Reforma<br />

Agrária <strong>em</strong> processo: quatro estu<strong>do</strong>s <strong>em</strong>píricos, Concurso Josué <strong>de</strong> Castro.<br />

São Paulo: MDA, NEAD, ANPOCS, 2007.<br />

ONU – Organização das Nações Unidas. Indicators of sustainable <strong>de</strong>velopment<br />

– Gui<strong>de</strong>lines and metho<strong>do</strong>logies. 3th Edition. New York: United<br />

Nations Publication, 2007.<br />

215


Maria Ivonei<strong>de</strong> Vital Rodrigues, Patricia Veronica Pinheiro Sales Lima, Maria Irles <strong>de</strong> Oliveira Mayorga,<br />

Francisco Casimiro Filho, Suely Salgueiro Chacon<br />

Apêndice A – Indica<strong>do</strong>res a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s na matriz usada na estimação<br />

<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo fatorial<br />

Vetor 1: Proteção <strong>do</strong> meio ambiente<br />

a) Localização geográfica: esses indica<strong>do</strong>res consi<strong>de</strong>ram a posição<br />

geográfica <strong>de</strong> cada município cearense. Mesmo com 92% <strong>de</strong> seu<br />

território inseri<strong>do</strong> na região <strong>de</strong> s<strong>em</strong>i-ari<strong>de</strong>z nor<strong>de</strong>stina, o Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ceará</strong> possui diferentes tipos <strong>de</strong> vegetação. É representa<strong>do</strong> pela latitu<strong>de</strong><br />

(LATIMET), longitu<strong>de</strong> (LONGIMET) e altitu<strong>de</strong> da se<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

município (ALTITUDE) além da distância <strong>em</strong> linha reta da se<strong>de</strong><br />

municipal para a capital Fortaleza (DISTFORT);<br />

216<br />

b) Susceptibilida<strong>de</strong> climática: sen<strong>do</strong> o clima um fator que contribui<br />

diretamente para a produtivida<strong>de</strong> agrícola e processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação<br />

<strong>do</strong>s solos, seus indica<strong>do</strong>res são representa<strong>do</strong>s pela pluviometria<br />

normal (PLUVNOR5), média das t<strong>em</strong>peraturas máximas (TEMP-<br />

MAX0), média das t<strong>em</strong>peraturas mínimas (TEMPMIN0), evapotranspiração<br />

potencial (EVPO1202), precipitações pluviométricas<br />

(PRPL1202), índice <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> chuvas (INDISCH7), <strong>de</strong>svio<br />

normaliza<strong>do</strong> das chuvas (DENORCH7), escoamento superficial <strong>de</strong><br />

água ocorri<strong>do</strong> no limite <strong>de</strong> absorção <strong>do</strong> solo (ESCSUPE7), inverso<br />

<strong>do</strong> índice <strong>de</strong> ari<strong>de</strong>z (INVARID) e avaliação climática medida pela<br />

média das precipitações pluviométricas na se<strong>de</strong> <strong>do</strong> município nos<br />

últimos 30 anos (CLIMATO7);<br />

c) Recuperação e conservação <strong>do</strong>s solos: é uma medida primordial<br />

para se verificar a <strong>de</strong>gradação das terras cearenses. Seus indica<strong>do</strong>res<br />

representam a salinida<strong>de</strong> média da água (SALINI98), proporção <strong>de</strong><br />

solos bruno-não-cálcicos e podzólicos vermelho-amarelos na área<br />

<strong>do</strong> município (BNCPVARM), proporção <strong>de</strong> solos bruno-não-cálcicos,<br />

litólicos e podzólicos vermelho-amarelos na área <strong>do</strong> município<br />

(BLITPARM) e o índice <strong>de</strong> propensão à <strong>de</strong>sertificação/<strong>de</strong>gradação<br />

ambiental (IPDEGRAM);<br />

d) Gestão <strong>do</strong>s Recursos hídricos: indica a abundância ou não <strong>do</strong>s<br />

recursos hídricos e sua disponibilida<strong>de</strong> para a população. São representa<strong>do</strong>s<br />

pela proporção <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílios particulares com abastecimento<br />

canaliza<strong>do</strong> <strong>de</strong> água no total <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílios particulares


Os Municipios Cearenses após 14 Anos <strong>de</strong> Planos <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável<br />

(AGENDOM0), relação entre a soma <strong>do</strong>s poços construí<strong>do</strong>s pela<br />

SOHIDRA com a capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s açu<strong>de</strong>s monitora<strong>do</strong>s pela CO-<br />

GERH e a população <strong>do</strong> município (POÇOAÇU1), taxa <strong>de</strong> urbanização<br />

(TXURBAN0), relação entre o volume <strong>de</strong> água e a população<br />

<strong>do</strong> município (VOLAGPO3), taxa <strong>de</strong> cobertura urbana <strong>de</strong> abastecimento<br />

<strong>de</strong> água <strong>do</strong> município (TXABAGU3), relação entre o total<br />

<strong>de</strong> ligações ativas <strong>de</strong> água e o volume produzi<strong>do</strong> <strong>de</strong> água <strong>do</strong> município<br />

(LIGATIV3) e relação entre o total <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílios particulares<br />

permanentes por forma <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água com re<strong>de</strong> geral<br />

canalizada e o total <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílios permanentes (DOMAGU0);<br />

e) Disponibilida<strong>de</strong> para a fruticultura: objetiva ampliar a base física<br />

para a agricultura irrigada. São representa<strong>do</strong>s pela produtivida<strong>de</strong> da<br />

banana (PTBANAN6). da castanha <strong>de</strong> caju (PTCASTA6), <strong>do</strong> cocoda-baía<br />

(PTCOCBA6) e da produtivida<strong>de</strong> da manga (PTMANGA);<br />

f) Desenvolvimento florestal: retrata a <strong>de</strong>scentralização das ações<br />

voltadas para a proteção da biodiversida<strong>de</strong> no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>. Seus<br />

indica<strong>do</strong>res representam a razão da quantida<strong>de</strong> extraída <strong>de</strong> carvão<br />

vegetal pela área <strong>do</strong> município (CARVAMU6), razão da quantida<strong>de</strong><br />

extraída <strong>de</strong> lenha pela área <strong>do</strong> município (LENHAMU6), relação<br />

entre o número <strong>de</strong> tratores e a área <strong>do</strong> município (TRATARE6) e<br />

razão <strong>do</strong> valor da produção da extração vegetal (lenha e carvão) pela<br />

população total <strong>do</strong> município (VPEVPOP6).<br />

Vetor 2: Reor<strong>de</strong>namento <strong>do</strong> espaço<br />

a) Organização fundiária: informa a forma e a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> na proprieda<strong>de</strong><br />

da terra e t<strong>em</strong> a função <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir e executar a política agrária<br />

<strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> (PDS, 2005). Possui os seguintes representantes: área<br />

média <strong>em</strong> hectares <strong>do</strong>s imóveis rurais totais (ARMEIMO5); área<br />

média <strong>em</strong> hectares <strong>do</strong>s imóveis rurais classifica<strong>do</strong>s como gran<strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong> (ARMELAT5); área média <strong>em</strong> hectares <strong>do</strong>s <strong>de</strong> imóveis<br />

rurais classifica<strong>do</strong>s como média proprieda<strong>de</strong> (AREIMED5); área<br />

média <strong>em</strong> hectares <strong>do</strong>s imóveis rurais classifica<strong>do</strong>s como pequena<br />

proprieda<strong>de</strong> (ARMEPEQ4); área média <strong>em</strong> hectares <strong>do</strong>s imóveis<br />

rurais classifica<strong>do</strong>s como minifúndio (ARMEMIN5); proporção <strong>de</strong><br />

imóveis classifica<strong>do</strong>s como gran<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> no total <strong>de</strong> imóveis<br />

217


Maria Ivonei<strong>de</strong> Vital Rodrigues, Patricia Veronica Pinheiro Sales Lima, Maria Irles <strong>de</strong> Oliveira Mayorga,<br />

Francisco Casimiro Filho, Suely Salgueiro Chacon<br />

218<br />

rurais (GRIMOIM5); proporção <strong>de</strong> imóveis classifica<strong>do</strong>s como média<br />

proprieda<strong>de</strong> no total <strong>de</strong> imóveis rurais (MIMOIMO5); proporção<br />

<strong>de</strong> imóveis classifica<strong>do</strong>s como minifúndio no total <strong>de</strong> imóveis<br />

rurais (MINFIMO5); proporção da área das gran<strong>de</strong>s proprieda<strong>de</strong>s<br />

na área total <strong>do</strong>s imóveis rurais (ALATATO5); proporção da área<br />

das médias proprieda<strong>de</strong>s na área total <strong>do</strong>s imóveis rurais (AMEDA-<br />

TO5); e proporção da área <strong>do</strong>s minifúndios na área total <strong>do</strong>s imóveis<br />

rurais (AMINATO5);<br />

b) Estrutura da re<strong>de</strong> urbana: as ações <strong>de</strong> infra-estrutura urbana visam<br />

proporcionar a integração <strong>de</strong> áreas marginalizadas socialmente<br />

no espaço urbano. São representa<strong>do</strong>s pela relação entre o total <strong>de</strong><br />

esgotamento sanitário com re<strong>de</strong> geral <strong>de</strong> esgoto e o total <strong>de</strong> ligações<br />

ativas <strong>do</strong> município (ESGOSAN0), proporção <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílios<br />

urbanos no total <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílios particulares (DURBTOT0), razão<br />

<strong>do</strong>s <strong>do</strong>micílios com lixo lança<strong>do</strong> <strong>em</strong> terrenos baldio ou logra<strong>do</strong>uro<br />

pelo total <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílios com lixo coleta<strong>do</strong> (LXBADLC0), razão<br />

<strong>do</strong>s <strong>do</strong>micílios com lixo enterra<strong>do</strong> pelo total <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílios com lixo<br />

coleta<strong>do</strong> (LXETDLC0), razão <strong>do</strong>s <strong>do</strong>micílios com lixo lança<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />

rios, lagos ou mar pelo total <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílios com lixo coleta<strong>do</strong> (LXRI-<br />

DLC0) e proporção <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílios particulares com tipo <strong>de</strong> esgotamento<br />

sanitário no total <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílios particulares (DESADOM0).<br />

Vetor 3: Capacitação da população<br />

a) Acesso à saú<strong>de</strong>: saú<strong>de</strong> é um direito <strong>de</strong> cidadania e reflete a qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida da população. É representa<strong>do</strong> pela razão das unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ligadas ao Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS) pela população<br />

<strong>do</strong> município (UNSUSPOP); pela razão <strong>de</strong> leitos hospitalares liga<strong>do</strong>s<br />

ao SUS por habitante (LEHOSPOP); pela razão <strong>de</strong> habitantes<br />

por profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (HPROFSAU); pela Razão <strong>de</strong> habitantes<br />

por médico (HABMEDIC); pela razão <strong>de</strong> habitantes por <strong>de</strong>ntista<br />

(HABDENTI); pela razão <strong>de</strong> habitantes por enfermeiro (HABEN-<br />

FER); proporção <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> com nível médio (PRO-<br />

SASUP); e razão <strong>de</strong> famílias acompanhadas por agente comunitário<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (FAMAGCOM);<br />

b) Nível <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>: reflete a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida população. Seus indica-


Os Municipios Cearenses após 14 Anos <strong>de</strong> Planos <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável<br />

<strong>do</strong>res são: percentual <strong>de</strong> crianças <strong>de</strong> até 4 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> só maman<strong>do</strong><br />

(BEBEMAM5); percentual <strong>de</strong> crianças <strong>de</strong> 0 a 11 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

com vacina <strong>em</strong> dia (CRIAVAC5); percentual <strong>de</strong> crianças <strong>de</strong> <strong>de</strong> 0 a<br />

11 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> subnutridas (INFSUBN5); percentual <strong>de</strong> crianças<br />

<strong>de</strong> 12 a 23 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> subnutridas (CRISUBN5); percentual <strong>de</strong><br />

crianças com peso menor <strong>do</strong> que 2,5 kg ao nascer (PESONAS5); e<br />

Taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil por mil nasci<strong>do</strong>s vivos (TAXMINF5);<br />

c) Educação: é o indica<strong>do</strong>r mais representativo, pois, me<strong>de</strong> o grau <strong>de</strong><br />

instrução da população e a qualificação <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong>cente <strong>do</strong> município.<br />

Está dividi<strong>do</strong> nas três áreas da educação básica: infantil,<br />

fundamental e médio totalizan<strong>do</strong> vinte e três indica<strong>do</strong>res;<br />

d) Desenvolvimento social: é representa<strong>do</strong> pela proporção <strong>de</strong> eleitores<br />

na população total (ELEIPOP6); pela proporção <strong>de</strong> eleitores analfabetos<br />

no total <strong>de</strong> eleitores (ANAFELI6); pela razão <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s<br />

sociais cadastradas no sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> ação social e cooperativas pela<br />

população total <strong>do</strong> município (ESOCPOP1); pela razão <strong>de</strong> bandas<br />

<strong>de</strong> música pela população total <strong>do</strong> município (BANDPOP5); pela<br />

razão <strong>de</strong> bibliotecas públicas pela população total <strong>do</strong> município (BI-<br />

BLPOP5); pela razão entre os benefícios da previdência social e<br />

a população acima <strong>de</strong> 55 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> (PESBENE4); pela razão<br />

entre a arrecadação <strong>do</strong> Fun<strong>de</strong>f pelo município e o total <strong>de</strong> matrícula<br />

inicial na educação infantil e na educação fundamental (FUND-<br />

MAT4); pela proporção <strong>de</strong> veículos movi<strong>do</strong>s a álcool no total da<br />

frota <strong>de</strong> veículos (VALCVEI5); pela proporção <strong>de</strong> veículos movi<strong>do</strong>s<br />

a gasolina no total da frota <strong>de</strong> veículos (VGASVEI5); pela razão <strong>do</strong><br />

total da frota <strong>de</strong> veículos pela população total <strong>do</strong> município (VEIC-<br />

POP5); pela relação entre o total <strong>de</strong> acessos telefônicos instala<strong>do</strong>s e<br />

a população <strong>do</strong> município (TELEPOP4); pela relação entre a soma<br />

total <strong>de</strong> agências <strong>de</strong> correio com o total <strong>de</strong> caixas <strong>de</strong> coleta e milhares<br />

<strong>de</strong> habitantes <strong>do</strong> município (CORRCOL3); pela relação entre o<br />

somatório <strong>do</strong> total <strong>de</strong> canais <strong>de</strong> radiodifusão com o total <strong>de</strong> canais<br />

<strong>de</strong> radiotransmissão <strong>de</strong> TV comercial e TV educativa e milhares <strong>de</strong><br />

habitantes <strong>do</strong> município (TVCOMED3);<br />

e) Densida<strong>de</strong> d<strong>em</strong>ográfica: reflete uma maior pressão sobre o meio<br />

ambiente po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, ou não, ultrapassar a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte.<br />

219


Maria Ivonei<strong>de</strong> Vital Rodrigues, Patricia Veronica Pinheiro Sales Lima, Maria Irles <strong>de</strong> Oliveira Mayorga,<br />

Francisco Casimiro Filho, Suely Salgueiro Chacon<br />

220<br />

É representa<strong>do</strong> pela proporção <strong>de</strong> população rural (POPRERU0);<br />

pela proporção <strong>de</strong> população f<strong>em</strong>inina (POPRELF6); pela <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

d<strong>em</strong>ográfica (DENSDEM6); pela taxa geométrica <strong>de</strong> crescimento<br />

populacional (CRESCPOP); pela taxa geométrica <strong>de</strong> crescimento<br />

da população urbana (CRESPURB); pela taxa geométrica <strong>de</strong> crescimento<br />

da população rural (CRESPRUR); pela razão <strong>de</strong> mora<strong>do</strong>res<br />

com rendimento <strong>do</strong> responsável até 5 salários por <strong>do</strong>micílio (M5S-<br />

MDOM0); e pela razão <strong>de</strong> mora<strong>do</strong>res com rendimento <strong>do</strong> responsável<br />

maior <strong>do</strong> que 5 salários mínimos por <strong>do</strong>micílio (MM5SDOM0).<br />

Vetor 4: Geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego e <strong>de</strong>senvolvimento sustentável da<br />

economia<br />

a) Desenvolvimento da agricultura: esses indica<strong>do</strong>res consi<strong>de</strong>ram o<br />

volume da produção <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> subsistência para o consumo<br />

humano e animal além <strong>de</strong> refletir a mo<strong>de</strong>rnização das ativida<strong>de</strong>s<br />

agrícolas <strong>de</strong> sequeiro no <strong>Ceará</strong>. São representa<strong>do</strong>s pelo percentual<br />

<strong>do</strong> valor adiciona<strong>do</strong> a preços <strong>de</strong> básicos no setor agropecuário<br />

(VADAGRO4); pela produtivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> feijão (PTFEIJA6), <strong>do</strong> arroz<br />

(PTARROZ6), <strong>do</strong> milho <strong>em</strong> grão (PTMILHO6); da mandioca (PT-<br />

MANDI6); pela proporção da área colhida <strong>de</strong> feijão na área total<br />

<strong>do</strong>s estabelecimentos agropecuários (AFEIST66); pela proporção<br />

da área colhida com arroz na área total <strong>do</strong>s estabelecimentos agropecuários<br />

(ARROST66); pela proporção da área colhida com milho<br />

na área total <strong>do</strong>s estabelecimentos agropecuários (AMILST66);<br />

pela proporção da área colhida <strong>de</strong> mandioca na área total <strong>do</strong>s estabelecimentos<br />

agropecuários (AMANST66); pela razão da área<br />

colhida com culturas t<strong>em</strong>porárias pela com culturas permanentes<br />

(ATEPERM6); pela razão <strong>do</strong> valor da produção <strong>de</strong> culturas t<strong>em</strong>porárias<br />

pelo <strong>de</strong> culturas permanentes (VTEPERM6); pela razão <strong>do</strong><br />

valor <strong>do</strong>s financiamentos concedi<strong>do</strong>s a produtores e cooperativas<br />

na agricultura pelo valor da produção vegetal (FINAGR46); pela<br />

razão <strong>do</strong> valor da produção <strong>de</strong> culturas t<strong>em</strong>porárias pela população<br />

total <strong>do</strong> município (VPCTPOP6); pela razão <strong>do</strong> valor da produção<br />

<strong>de</strong> culturas permanentes <strong>em</strong> 2006 pela população total <strong>do</strong> município<br />

(VPCPPOP6); e pelo percentual <strong>do</strong> PIB referentes às ativida<strong>de</strong>s<br />

agropecuárias, nas quais estão incluí<strong>do</strong>s o extrativismo vegetal e a<br />

pesca (TXAGROP4);


Os Municipios Cearenses após 14 Anos <strong>de</strong> Planos <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável<br />

b) Desenvolvimento Industrial e no setor <strong>de</strong> serviços: esses indica<strong>do</strong>res<br />

consi<strong>de</strong>ram as oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> investimentos industriais, <strong>de</strong><br />

incentivos fiscais e financeiros no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>. São representa<strong>do</strong>s<br />

pelo percentual <strong>do</strong> valor adiciona<strong>do</strong> a preços <strong>de</strong> básicos no setor<br />

industrial (VADINDU4); pela razão da receita <strong>do</strong> ICMS arrecadada<br />

pelo Esta<strong>do</strong> pelo PIB municipal a preços <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> (ICMSPIB4);<br />

pela proporção <strong>de</strong> indústrias <strong>de</strong> transformação no total <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas<br />

industriais ativas (INTRIND5); pela proporção <strong>de</strong> estabelecimentos<br />

comerciais varejistas no total <strong>de</strong> estabelecimentos comerciais<br />

(ECVECOM5); pela razão das <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> serviços pelo total <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>presas industriais ativas (ESERIND5); pelo percentual <strong>do</strong> PIB<br />

referentes às riquezas geradas pela prestação <strong>de</strong> serviços (TXIN-<br />

DUS4); e pelo percentual <strong>do</strong> PIB referentes a produção <strong>do</strong> parque<br />

industrial (TXSERVI4);<br />

c) Consumo <strong>de</strong> energia elétrica: significa maiores investimentos nas<br />

ativida<strong>de</strong>s agrícolas, industriais e <strong>de</strong> serviços na zona rural e urbana<br />

além <strong>de</strong> proporcionar um maior consumo <strong>do</strong>méstico <strong>de</strong> energia elétrica.<br />

Representa<strong>do</strong> pela proporção <strong>do</strong> consumo <strong>de</strong> energia elétrica<br />

resi<strong>de</strong>ncial no total <strong>do</strong> consumo fatura<strong>do</strong> <strong>de</strong> energia elétrica (CEER-<br />

TOT5); pela proporção <strong>do</strong> consumo <strong>de</strong> energia elétrica comercial no<br />

total <strong>do</strong> consumo fatura<strong>do</strong> <strong>de</strong> energia elétrica (CEECTOT5); pela<br />

proporção <strong>do</strong> consumo <strong>de</strong> energia elétrica rural no total <strong>do</strong> consumo<br />

fatura<strong>do</strong> <strong>de</strong> energia elétrica (CERUTOT5); pela proporção <strong>do</strong><br />

consumo <strong>de</strong> energia elétrica industrial no total <strong>do</strong> consumo fatura<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> energia elétrica (CEEITOT5); pela razão <strong>do</strong> consumo <strong>de</strong> energia<br />

elétrica resi<strong>de</strong>ncial por consumi<strong>do</strong>res <strong>de</strong> energia elétrica resi<strong>de</strong>ncial<br />

(EERCONS5); pela razão <strong>do</strong> consumo <strong>de</strong> energia elétrica comercial<br />

por consumi<strong>do</strong>res <strong>de</strong> energia elétrica comercial (EECCONS5);<br />

pela razão <strong>do</strong> consumo <strong>de</strong> energia elétrica rural por consumi<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> energia elétrica rural (EERUCON5); pela razão <strong>do</strong> consumo <strong>de</strong><br />

energia elétrica <strong>de</strong> iluminação pública por consumi<strong>do</strong>res <strong>de</strong> energia<br />

elétrica na iluminação pública (EEIPCON5); pela razão <strong>do</strong> consumo<br />

<strong>de</strong> energia elétrica industrial por consumi<strong>do</strong>res <strong>de</strong> energia elétrica<br />

na indústria (EEICONS5); e pela razão <strong>do</strong> consumo total fatura<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> energia elétrica pela população total <strong>do</strong> município (CFENPOP5);<br />

221


Maria Ivonei<strong>de</strong> Vital Rodrigues, Patricia Veronica Pinheiro Sales Lima, Maria Irles <strong>de</strong> Oliveira Mayorga,<br />

Francisco Casimiro Filho, Suely Salgueiro Chacon<br />

222<br />

d) Desenvolvimento da pecuária: representa<strong>do</strong> pela razão <strong>do</strong> efetivo<br />

<strong>de</strong> bovinos pela área <strong>do</strong>s estabelecimentos agropecuários<br />

(BOVAST66); pela razão <strong>do</strong> efetivo <strong>de</strong> ovinos pela área <strong>do</strong>s estabelecimentos<br />

agropecuários (OVAEST66); pela razão <strong>do</strong> efetivo<br />

<strong>de</strong> caprinos pela área <strong>do</strong>s estabelecimentos agropecuários (CA-<br />

PAST66); pela razão <strong>do</strong> efetivo <strong>de</strong> suínos pela área <strong>do</strong>s estabelecimentos<br />

agropecuários (SUIAST66); pela razão <strong>do</strong> efetivo <strong>de</strong> aves<br />

pela área <strong>do</strong>s estabelecimentos agropecuários (AVEAST66); pela<br />

produtivida<strong>de</strong> leiteira das vacas or<strong>de</strong>nhadas (PTVALEI6); pela produtivida<strong>de</strong><br />

das galinhas poe<strong>de</strong>iras (PTOVOSG6); Razão <strong>do</strong> valor<br />

<strong>do</strong>s financiamentos concedi<strong>do</strong>s a produtores e cooperativas na pecuária<br />

pelo efetivo <strong>de</strong> bovinos (FINPEC46); pela razão <strong>do</strong> valor <strong>do</strong>s<br />

financiamentos à pecuária pelo <strong>do</strong>s financiamentos a produtores e<br />

cooperativas na agricultura (FPECAGR4);<br />

e) Capacitação <strong>do</strong>s recursos humanos para o setor produtivo: significa<br />

uma maior capacitação e aprimoramento da mão-<strong>de</strong>-obra. É<br />

representa<strong>do</strong> pela relação entre o total <strong>de</strong> homens <strong>em</strong> ida<strong>de</strong> ativa e<br />

a população resi<strong>de</strong>nte masculina <strong>do</strong> município (HOMATIV0); pela<br />

relação entre o total <strong>de</strong> mulheres <strong>em</strong> ida<strong>de</strong> ativa e a população resi<strong>de</strong>nte<br />

f<strong>em</strong>inina <strong>do</strong> município (MULATIV0); pela relação entre o<br />

total <strong>de</strong> homens economicamente ativos e a população <strong>de</strong> homens<br />

<strong>em</strong> ida<strong>de</strong> ativa <strong>do</strong> município (HOMECAT0); e pela relação entre o<br />

total <strong>de</strong> mulheres economicamente ativas e a população <strong>de</strong> mulheres<br />

<strong>em</strong> ida<strong>de</strong> ativa <strong>do</strong> município (MULECAT0);<br />

f) Gestão Pública: representa<strong>do</strong> pela razão entre a receita <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> Participação Municipal pelo PIB municipal a preços <strong>de</strong> merca<strong>do</strong><br />

(FPMPIB04); pela proporção entre as <strong>de</strong>spesas com pessoal e a<br />

<strong>de</strong>spesa total <strong>do</strong> município (DESPESS4); pela proporção entre as<br />

<strong>de</strong>spesas com pessoal e receita total <strong>do</strong> município (DPESREC4);<br />

pela razão da receita geral da União arrecadada no município <strong>em</strong><br />

2005 pelo PIB municipal a preços <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> (RUNPIB54); pelo<br />

Produto Interno Bruto per capita a preços <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> (PIBCAPT4);<br />

e pela razão da receita total arrecadada pelo Esta<strong>do</strong> pela população<br />

municipal (RESTPOP5).


RESUMO<br />

RELACIONAMENTO<br />

DE PREÇOS E INTEGRAÇÃO<br />

ENTRE O MERCADO PRODUTOR<br />

DE TIANGUÁ NA SERRA DA IBIAPABA/CE<br />

E MERCADOS ATACADISTAS<br />

DE FORTALEZA/CE E TERESINA/PI<br />

Francisco José Silva Tabosa *<br />

Jair Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Araújo **<br />

Ahmad Saeed Khan ***<br />

Ruben Dario Mayorga ****<br />

Este artigo visa analisar o relacionamento <strong>de</strong> preços e integração<br />

entre o merca<strong>do</strong> produtor <strong>de</strong> Tianguá na Ibiapaba/CE e os merca<strong>do</strong>s atacadistas<br />

<strong>de</strong> Fortaleza/CE e Teresina/PI, utilizan<strong>do</strong> séries s<strong>em</strong>anais <strong>de</strong> preços<br />

obti<strong>do</strong>s da CEASA. Para isto, foram realiza<strong>do</strong>s testes <strong>de</strong> raiz unitária<br />

e utiliza<strong>do</strong> o Mo<strong>de</strong>lo VAR, com a aplicação <strong>do</strong> Teste <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Granger/Teste <strong>de</strong> Wald para exogeneida<strong>de</strong> por blocos, Decomposição <strong>de</strong><br />

Variância e Impulso Resposta. Os resulta<strong>do</strong>s mostraram que o merca<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> maracujá e tomate Fortaleza/CE apresentou-se como merca<strong>do</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />

exercen<strong>do</strong> forte influência sobre os merca<strong>do</strong>s da Ibiapaba/CE e<br />

Teresina/PI. No entanto, no merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> pepino foi Teresina que se apresentou<br />

como merca<strong>do</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, exercen<strong>do</strong> forte influência sobre os<br />

merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Fortaleza/CE e Ibiapaba/CE.<br />

Palavras-Chave: Integração <strong>de</strong> Merca<strong>do</strong>; Mo<strong>de</strong>lo VAR; Ibiapaba; Fortaleza;<br />

Teresina.<br />

Jel classification: Q11; Q13; C23.<br />

....................................................<br />

* Economista. Professor Assistente <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> <strong>Economia</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> UFC – Campus<br />

Sobral e Doutoran<strong>do</strong> <strong>em</strong> economia no CAEN/UFC.<br />

** Engenheiro <strong>de</strong> Pesca. Dr. Professor Adjunto <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> <strong>Economia</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

– UFC – Campus Sobral.<br />

*** Engenheiro Agrônomo. PhD. Professor Titular <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Economia</strong> Agrícola da Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>.<br />

**** Economista. PhD. Professor Associa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Economia</strong> Agrícola da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

<strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>.<br />

223


Francisco José Silva Tabosa, Jair Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Araújo, Ahmad Saeed Khan, Ruben Dario Mayorga<br />

AbstrAct<br />

The objective of this paper was to analyze the price relationship<br />

and integration between the producer market of Tianguá in Serra<br />

of Ibiapaba/CE and the wholesale markets of Fortaleza/CE and Teresina/PI.<br />

The weekly price series data was used. For this, the following<br />

tests are used: unit roots; the VAR Mo<strong>de</strong>l; Granger Causality; the Wald<br />

for blocks exogeinity; the Variance Decomposition and Impulse Response.<br />

The results showed that in the passion fruit and tomatoes markets,<br />

Fortaleza showed as in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt market, with strong influence over<br />

Ibiapaba and Teresina markets. However, in the cucumber market, Teresina<br />

showed as in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt market with strong influence over Ibiapaba and<br />

Fortaleza markets.<br />

Key Words: Market integration; VAR Mo<strong>de</strong>l; Ibiapaba; Fortaleza; Teresina.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

A análise <strong>de</strong> integração <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s fornece informações sobre a estrutura<br />

<strong>de</strong> concorrência pre<strong>do</strong>minante nestes merca<strong>do</strong>s as quais pod<strong>em</strong> ser<br />

utilizadas para tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão sobre formações <strong>de</strong> preços das firmas<br />

que compõ<strong>em</strong> estes merca<strong>do</strong>s, na <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong> produtores potenciais<br />

nos mesmos, na elaboração <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> regulação <strong>de</strong>stes, entre<br />

outros importantes aspectos.<br />

De acor<strong>do</strong> com Santos et al (2007), <strong>de</strong>ntre os conceitos que <strong>de</strong>screv<strong>em</strong><br />

a <strong>de</strong>pendência entre merca<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>stacam-se a arbitrag<strong>em</strong> espacial<br />

e a Lei <strong>do</strong> Preço Único (LPU). A arbitrag<strong>em</strong> espacial se dá por intermédio<br />

<strong>de</strong> arbitra<strong>do</strong>res que garant<strong>em</strong> que a diferença entre os preços<br />

<strong>de</strong> bens homogêneos <strong>em</strong> duas regiões é conseqüência, no máximo,<br />

<strong>do</strong> custo <strong>de</strong> transferência <strong>do</strong> b<strong>em</strong> da região <strong>de</strong> menor preço para a região<br />

<strong>de</strong> maior preço. Já a LPU, base analítica da integração <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s postula<br />

que bens homogêneos obe<strong>de</strong>c<strong>em</strong> à regra da perfeita arbitrag<strong>em</strong>.<br />

Nos últimos anos, muitos estu<strong>do</strong>s têm se proposto a verificar se merca<strong>do</strong>s,<br />

espacialmente separa<strong>do</strong>s, são economicamente integra<strong>do</strong>s, através<br />

da análise <strong>de</strong> custos <strong>de</strong> transação, vantagens comparativas e informações<br />

referentes a preços (MATTOS, 2008). No Brasil, estes estu<strong>do</strong>s concentram-<br />

224


Relacionamento <strong>de</strong> Preços e Integração entre o Merca<strong>do</strong> Produtor <strong>de</strong> Tianguá na Serra da Ibiapaba/CE<br />

e Merca<strong>do</strong>s Atacadistas <strong>de</strong> Fortaleza/ce e Teresina/PI<br />

se nos merca<strong>do</strong>s agrícolas <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> da importância <strong>de</strong>stes na economia<br />

nacional no que se refere à geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego e renda e na produção <strong>de</strong><br />

alimentos.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, a Serra da Ibiapaba/CE, localizada a 350 km <strong>de</strong> Fortaleza/CE,<br />

é um <strong>do</strong>s principais centros produtores <strong>de</strong> frutas e hortaliças <strong>do</strong><br />

Norte/Nor<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> País. Dentre os fatores que favorec<strong>em</strong> esse status estão:<br />

clima e t<strong>em</strong>peratura favoráveis, água <strong>em</strong> abundância e a presença <strong>de</strong> uma<br />

estrutura ro<strong>do</strong>viária, que facilita o canal <strong>de</strong> comercialização entre produtor<br />

e comerciantes, principalmente os atacadistas. Segun<strong>do</strong> o CEASA (<strong>2009</strong>),<br />

os principais <strong>de</strong>stinos das produções da Serra da Ibiapaba/CE são os merca<strong>do</strong>s<br />

atacadistas <strong>de</strong> Fortaleza/CE e Teresina/PI, apesar <strong>de</strong> abastecer quase<br />

toda Região Nor<strong>de</strong>ste.<br />

A Tabela 1 apresenta os principais produtos comercializa<strong>do</strong>s no merca<strong>do</strong><br />

produtor <strong>de</strong> Tianguá na Serra da Ibiapaba/CE <strong>em</strong> 2008 e os principais<br />

<strong>de</strong>stinos da produção. Os cinco principais produtos representam cerca <strong>de</strong><br />

70% <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> que é produzi<strong>do</strong> na região e 90% da produção estadual <strong>de</strong><br />

Maracujá, Tomate e Pepino (CEASA, op. cit.).<br />

Tabela 1 - Principais produtos comercializa<strong>do</strong>s e quantida<strong>de</strong><br />

produzida na CEASA <strong>de</strong> Tianguá/CE, 2008.<br />

PRINCIPAIS PRODUTOS QUANTIDADE PRODUZIDA (<strong>em</strong> ton.)<br />

Maracujá 9053,00<br />

Tomate 8269,50<br />

Pepino 4450,00<br />

Banana Pacovann 4296,60<br />

Pimentão 3507,60<br />

Fonte: CEASA (<strong>2009</strong>). Elaboração <strong>do</strong>s autores.<br />

Neste contexto, conhecer a integração <strong>do</strong>s preços <strong>do</strong>s produtos comercializa<strong>do</strong>s<br />

no merca<strong>do</strong> produtor na Serra da Ibiapaba/CE e os merca<strong>do</strong>s<br />

atacadistas <strong>de</strong> Fortaleza/CE e Teresina/PI constitui uma importante<br />

meta <strong>de</strong> pesquisa visan<strong>do</strong> verificar a eficiência <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s e a direção<br />

da causalida<strong>de</strong> nos preços, indican<strong>do</strong> os merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong>terminantes na formação<br />

<strong>do</strong>s preços.<br />

Essa informação é importante para diversos setores da economia,<br />

225


Francisco José Silva Tabosa, Jair Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Araújo, Ahmad Saeed Khan, Ruben Dario Mayorga<br />

como produtores, indústrias e até mesmo o governo. Para o primeiro, informações<br />

<strong>de</strong> integração <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s pod<strong>em</strong> ocasionar aumento (ou redução)<br />

<strong>de</strong> safras, armazenamento da produção e venda na entressafra,<br />

subsídios e informações <strong>de</strong> custos <strong>de</strong> transação. Para o segun<strong>do</strong>, produzir<br />

produtos com menores custos <strong>de</strong> transação e obter maiores lucros. Enfim,<br />

para o terceiro, a<strong>do</strong>tar políticas que facilit<strong>em</strong> o escoamento da produção,<br />

política <strong>de</strong> subsídios, política <strong>de</strong> preço mínimo, etc.<br />

Sabe-se que, um estreito relacionamento entre os preços nos diferentes<br />

merca<strong>do</strong>s atacadistas indicaria que o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> comercialização <strong>de</strong><br />

frutas e hortaliças é competitivo. Por outro la<strong>do</strong>, a ausência <strong>de</strong>ste relacionamento<br />

indicaria a existência <strong>de</strong> algumas imperfeições.<br />

Empiricamente, são necessárias algumas hipóteses acerca <strong>do</strong> grau<br />

<strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s a ser<strong>em</strong> estuda<strong>do</strong>s. Primeiro, o merca<strong>do</strong><br />

produtor <strong>de</strong> Tianguá na Serra da Ibiapaba/CE e os merca<strong>do</strong>s atacadistas<br />

<strong>de</strong> Fortaleza/CE e Teresina/PI são estreitamente integra<strong>do</strong>s, isto é, os<br />

preços <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> reflet<strong>em</strong> oferta e d<strong>em</strong>anda <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s competitivos.<br />

Segun<strong>do</strong>, conforme a Lei <strong>do</strong> Preço Único (LPU), as diferenças <strong>de</strong> preço,<br />

maiores que os custos <strong>de</strong> transferência entre merca<strong>do</strong>s, pod<strong>em</strong> resultar <strong>em</strong><br />

políticas públicas ina<strong>de</strong>quadas; carência <strong>de</strong> infra-estrutura; dificulda<strong>de</strong>s<br />

no transporte; facilida<strong>de</strong>s ina<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> manuseio <strong>do</strong> produto e ausência<br />

<strong>de</strong> logística entre os merca<strong>do</strong>s produtores e merca<strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res.<br />

Terceiro que quanto maiores (menores) as distâncias entre os merca<strong>do</strong>s<br />

menores (maiores) os graus <strong>de</strong> integração entre os merca<strong>do</strong>s. Por último,<br />

caso ocorra a não existência <strong>de</strong> integração <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>-se confirmar<br />

a existência <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s imperfeitos.<br />

Diante <strong>do</strong> exposto cabe o seguinte questionamento: um melhor entendimento<br />

<strong>do</strong> relacionamento <strong>de</strong> preços nos merca<strong>do</strong>s atacadistas da Ibiapaba/CE,<br />

Fortaleza/CE e Teresina/PI, po<strong>de</strong>rão ser úteis para a elaboração e<br />

implantação <strong>de</strong> políticas públicas visan<strong>do</strong> o melhoramento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> e o<br />

estímulo à competição, avalian<strong>do</strong> canais alternativos <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>, melhoramento<br />

das facilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transporte, promoção da integração vertical e<br />

melhoria geral no fluxo <strong>de</strong> produtos proce<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s atacadistas<br />

<strong>em</strong> questão?<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste artigo é analisar o relacionamento <strong>de</strong> preços e integração<br />

entre o merca<strong>do</strong> produtor <strong>de</strong> Tianguá na Serra da Ibiapaba/CE e os<br />

226


Relacionamento <strong>de</strong> Preços e Integração entre o Merca<strong>do</strong> Produtor <strong>de</strong> Tianguá na Serra da Ibiapaba/CE<br />

e Merca<strong>do</strong>s Atacadistas <strong>de</strong> Fortaleza/ce e Teresina/PI<br />

merca<strong>do</strong>s atacadistas <strong>de</strong> Fortaleza/CE e Teresina/PI.<br />

Este trabalho é dividi<strong>do</strong> <strong>em</strong> quatro partes além <strong>de</strong>ssa introdução. A<br />

primeira apresenta uma revisão <strong>de</strong> literatura sobre integração <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s<br />

agrícolas. A segunda parte contém a meto<strong>do</strong>logia utilizada e na terceira<br />

parte os principais resulta<strong>do</strong>s são apresenta<strong>do</strong>s. A conclusão encerra este<br />

trabalho.<br />

2. INTEGRAÇÃO DE MERCADOS AGRÍCOLAS<br />

Segun<strong>do</strong> Delga<strong>do</strong> (1986), merca<strong>do</strong>s integra<strong>do</strong>s são aqueles nos quais<br />

os preços <strong>de</strong> produtos diversos não se comportam in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente. Ou<br />

seja, integração <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> é a variação estável <strong>do</strong>s preços entre merca<strong>do</strong>s<br />

<strong>em</strong> uma estação específica <strong>do</strong> ano apesar das várias mudanças nos preços.<br />

De acor<strong>do</strong> com Stigler e Sherwin (1985), os diferentes locais <strong>de</strong><br />

merca<strong>do</strong> estarão mais estreitamente integra<strong>do</strong>s quanto menores sejam os<br />

distanciamentos <strong>de</strong> seus preços. E os diferentes locais ou regiões estarão<br />

mais estreitamente integra<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> melhores sejam as condições competitivas<br />

<strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s, as facilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transporte, mais eficientes sejam<br />

as informações e que incentiv<strong>em</strong> o fluxo das merca<strong>do</strong>rias <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> para outro.<br />

Conforme Mattos (2008), apesar <strong>de</strong> não existir um consenso entre<br />

as <strong>de</strong>finições referentes à integração <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s, o termo s<strong>em</strong>pre esteve<br />

relaciona<strong>do</strong> diretamente com a inter<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> preços <strong>em</strong> diferentes<br />

merca<strong>do</strong>s, implican<strong>do</strong> <strong>em</strong> conceitos <strong>de</strong> integração espacial e, principalmente,<br />

na arbitrag<strong>em</strong> espacial e Lei <strong>de</strong> Preço Único (LPU).<br />

Nesse senti<strong>do</strong> Fackler e Goodwin (2000) <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> integração espacial<br />

<strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s como o grau com que choques <strong>de</strong> oferta e d<strong>em</strong>anda<br />

são transmiti<strong>do</strong>s <strong>de</strong> um merca<strong>do</strong> para outro. Visan<strong>do</strong> comprovar essa<br />

<strong>de</strong>finição, os autores utilizam uma razão <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> preços entre<br />

merca<strong>do</strong>s. Ainda conforme os autores, a arbitrag<strong>em</strong> espacial é o el<strong>em</strong>ento<br />

responsável pela condução <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s à integração, e po<strong>de</strong> ser expressa<br />

na equação abaixo:<br />

P − P ≤ C (1)<br />

i j ji<br />

On<strong>de</strong>: P é o preço no merca<strong>do</strong> i, P é o preço no merca<strong>do</strong> j, e C é<br />

i j ij<br />

o custo no qual o arbitra<strong>do</strong>r <strong>de</strong>ve incorrer para transportar o produto <strong>em</strong><br />

227


Francisco José Silva Tabosa, Jair Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Araújo, Ahmad Saeed Khan, Ruben Dario Mayorga<br />

questão <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> j para o merca<strong>do</strong> i.<br />

De acor<strong>do</strong> com Mattos (op. cit.), geralmente esse custo é representa<strong>do</strong><br />

com o custo <strong>de</strong> transporte, custo <strong>de</strong> transferência e custo <strong>de</strong> transação.<br />

Este último termo é o mais utiliza<strong>do</strong> nas análises <strong>de</strong> integração <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s<br />

agrícolas.<br />

Outro conceito importante, que reflete as análises <strong>de</strong> integração <strong>de</strong><br />

merca<strong>do</strong>s, é a Lei <strong>do</strong> Preço Único (LPU). Fackler e Goodwin (op. cit.)<br />

apontam duas versões para essa lei. A primeira <strong>de</strong>finida como versão<br />

fraca, se confun<strong>de</strong> com a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> arbitrag<strong>em</strong> espacial, <strong>de</strong>finida na<br />

equação (1). Já a versão forte, é conduzida também pela <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> arbitrag<strong>em</strong><br />

espacial, mas como uma igualda<strong>de</strong>, que, segun<strong>do</strong> Mattos (op. cit.),<br />

é a versão mais testada <strong>em</strong> estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> integração <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s. A versão<br />

forte é expressa na equação (2), da seguinte forma:<br />

P − P = C (2)<br />

i j ji<br />

De acor<strong>do</strong> com Mayorga et al (2008), os primeiros estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong> setor<br />

agrícola a analisar a transmissão <strong>de</strong> preços e integração <strong>de</strong> merca<strong>do</strong><br />

utilizaram, <strong>em</strong> sua maioria, análise <strong>de</strong> correlação <strong>de</strong> preços e regressão<br />

simples.<br />

Estes estu<strong>do</strong>s, no entanto, passaram a ser critica<strong>do</strong>s pela negligência<br />

que mascara a presença <strong>de</strong> outros fatores que pod<strong>em</strong> causar variações nos<br />

preços, como inflação <strong>de</strong> preços, sazonalida<strong>de</strong> (principalmente na agricultura),<br />

crescimento populacional e probl<strong>em</strong>as climáticos entre outros. Além<br />

disso, não havia o cuida<strong>do</strong> <strong>de</strong> verificar se as séries eram estacionárias.<br />

Uma maneira <strong>de</strong> evitar estas críticas foi a <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar a diferenciação<br />

<strong>de</strong> preços, que t<strong>em</strong> a proprieda<strong>de</strong> atrativa <strong>de</strong> interpretar a integração<br />

<strong>de</strong> merca<strong>do</strong> como inter<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> preços <strong>em</strong> diferentes<br />

merca<strong>do</strong>s. Além disso, a diferenciação <strong>de</strong> preço elimina a tendência comum<br />

que causa regressão espúria (GOLETTI et al, 1995). Nesse caso, as<br />

estatísticas <strong>de</strong> avaliação |t|, F e R2 , apesar <strong>de</strong> apresentar<strong>em</strong> valores eleva<strong>do</strong>s,<br />

pod<strong>em</strong> não traduzir a verda<strong>de</strong>ira relação teórica entre as variáveis.<br />

O primeiro mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> integração <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> por<br />

Ravallion (1986), ao consi<strong>de</strong>rar o processo <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> preços <strong>de</strong><br />

um merca<strong>do</strong> para outro <strong>de</strong> caráter dinâmico, partin<strong>do</strong> da existência <strong>de</strong><br />

um merca<strong>do</strong> central urbano, estabelecen<strong>do</strong> relações comerciais com outros<br />

merca<strong>do</strong>s menores (rurais). Segun<strong>do</strong> Ravallion (op. cit.), na presença<br />

228


Relacionamento <strong>de</strong> Preços e Integração entre o Merca<strong>do</strong> Produtor <strong>de</strong> Tianguá na Serra da Ibiapaba/CE<br />

e Merca<strong>do</strong>s Atacadistas <strong>de</strong> Fortaleza/ce e Teresina/PI<br />

<strong>de</strong> integração <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s, os mesmos são consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s perfeitamente<br />

competitivos.<br />

Atualmente, vários estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> integração <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s agrícolas utilizam<br />

testes <strong>de</strong> estacionarieda<strong>de</strong>, principalmente os testes <strong>de</strong> raiz unitária,<br />

visan<strong>do</strong> analisar se os merca<strong>do</strong>s analisa<strong>do</strong>s são integra<strong>do</strong>s ou não. A análise<br />

<strong>de</strong> estacionarieda<strong>de</strong> implica verificar se as séries trabalhadas possu<strong>em</strong> a<br />

mesma média, variância e autocorrelação ao longo <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po.<br />

Trabalhos como <strong>de</strong> Mayorga (1989) e Tabosa et al (2004), utilizaram<br />

o teste <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Granger (1969) para analisar a existência (ou<br />

não) <strong>de</strong> integração nos merca<strong>do</strong>s atacadistas <strong>do</strong> tomate. Ou seja, se um<br />

merca<strong>do</strong> causa outro merca<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> Granger. Ambos concluíram<br />

que os merca<strong>do</strong>s atacadistas <strong>do</strong> tomate no Nor<strong>de</strong>ste, especialmente entre<br />

Fortaleza/CE e Ibiapaba/CE, são bastante integra<strong>do</strong>s.<br />

Mais recent<strong>em</strong>ente, muitos estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> integração <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s têm<br />

se <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> utilizan<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> vetores auto-regressivos (VAR),<br />

<strong>de</strong>composição <strong>de</strong> variância, impulso resposta, vetores <strong>de</strong> correção <strong>de</strong> erros<br />

(VEC) e co-integração com efeitos threshold (SACHS & PINATTI, 2007;<br />

MAYORGA et al, op.cit; GOODWIN & PIGOTT, 1999; BALCOMBE et<br />

al, 2007 e MATTOS, 2008).<br />

3. METODOLOGIA<br />

3.1 Padronização e orig<strong>em</strong> <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s<br />

Neste trabalho, serão utiliza<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> preço para analisar o merca<strong>do</strong><br />

nor<strong>de</strong>stino <strong>do</strong> tomate, maracujá e pepino. A escolha <strong>de</strong>sses produtos<br />

obe<strong>de</strong>ce aos três produtos ser<strong>em</strong> os mais comercializa<strong>do</strong>s por meio <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> produtor <strong>de</strong> Tianguá na Serra da Ibiapaba/CE. Os da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s<br />

junto a Central <strong>de</strong> Abastecimento S/A (CEASA) consist<strong>em</strong> <strong>em</strong> séries s<strong>em</strong>anais<br />

<strong>de</strong> preços <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s produtor <strong>de</strong> Tianguá na Serra da Ibiapaba/<br />

CE e atacadistas <strong>de</strong> Fortaleza/CE e Teresina/PI. Infelizmente, não foi possível<br />

obter da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> outros produtos como Banana Pacovann e Pimentão<br />

por falta <strong>de</strong> uma série completa. Utilizou-se no presente estu<strong>do</strong> o programa<br />

econométrico Eviews 5.0.<br />

Algumas consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser feitas no que respeita à <strong>de</strong>flação<br />

229


Francisco José Silva Tabosa, Jair Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Araújo, Ahmad Saeed Khan, Ruben Dario Mayorga<br />

<strong>de</strong> preços e ao <strong>de</strong>flator a ser utiliza<strong>do</strong>. De acor<strong>do</strong> com Pino e Rocha (1994<br />

apud MARGARIDO, 1998, p. 71), sen<strong>do</strong> a série original não <strong>de</strong>flacionada<br />

e um <strong>de</strong>flator apropria<strong>do</strong> tal que:<br />

yt<br />

zt<br />

Yt<br />

log zt dt zt dt<br />

y<br />

log log log<br />

(3)<br />

t y <br />

t1<br />

d<br />

z d z d<br />

Por outro la<strong>do</strong>, é usual ajustar o mo<strong>de</strong>lo à série centrada ao re<strong>do</strong>r da<br />

média quan<strong>do</strong> se toma uma diferença <strong>de</strong> ord<strong>em</strong> 1 (um): Yt Y.<br />

Neste caso,<br />

Porém, se a taxa <strong>de</strong> inflação for s<strong>em</strong>elhante <strong>de</strong> mês a mês no perío<strong>do</strong><br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>, então, qualquer que seja t, essa relação é aproximadamente<br />

constante. Logo,<br />

Portanto, da forma como as séries foram transformadas, o mo<strong>de</strong>lo<br />

com a série <strong>de</strong>flacionada é aproximadamente equivalente ao mo<strong>de</strong>lo com<br />

a série s<strong>em</strong> <strong>de</strong>flação.<br />

No presente trabalho, foi <strong>em</strong>prega<strong>do</strong> à transformação logarítmica.<br />

As séries estimadas para análise <strong>de</strong> relação <strong>de</strong> preços <strong>de</strong> tomate, maracujá<br />

e pepino no merca<strong>do</strong> atacadista nor<strong>de</strong>stino foram então: LNTFOR = logaritmo<br />

natural <strong>de</strong> preço <strong>do</strong> tomate <strong>em</strong> Fortaleza/CE; LNTIBI = logaritmo<br />

natural <strong>de</strong> preço <strong>do</strong> tomate <strong>em</strong> Ibiapaba/CE; LNTTER = logaritmo natural<br />

<strong>de</strong> preço <strong>do</strong> tomate <strong>em</strong> Teresina/PI; LNMFOR = logaritmo natural <strong>de</strong> preço<br />

<strong>do</strong> maracujá <strong>em</strong> Fortaleza/CE; LNMIBI = logaritmo natural <strong>de</strong> preço<br />

<strong>do</strong> maracujá <strong>em</strong> Ibiapaba/CE; LNMTER = logaritmo natural <strong>de</strong> preço <strong>do</strong><br />

maracujá <strong>em</strong> Teresina/PI; LNPFOR = logaritmo natural <strong>de</strong> preço <strong>do</strong> pepino<br />

<strong>em</strong> Fortaleza/CE; LNPIBI = logaritmo natural <strong>de</strong> preço <strong>do</strong> pepino<br />

<strong>em</strong> Ibiapaba/CE e LNPTER = logaritmo natural <strong>de</strong> preço <strong>do</strong> pepino <strong>em</strong><br />

Teresina/PI.<br />

230<br />

t<br />

t1 t1 t1 t1<br />

1 1 z d 1 z 1 d<br />

Y Y log log log log<br />

n n z d n z n d<br />

i <br />

t t<br />

<br />

t t<br />

i t1 t1 t1 t1<br />

dt yt 1 yi<br />

k log log<br />

YtY d y n y<br />

t1 t1 i1<br />

zt dt 1 zi 1 di zt 1 zi<br />

log log log log log log<br />

z d n z n d z n z<br />

t1 i1 i1 i1 t1 i1<br />

(4)<br />

(5)


Relacionamento <strong>de</strong> Preços e Integração entre o Merca<strong>do</strong> Produtor <strong>de</strong> Tianguá na Serra da Ibiapaba/CE<br />

e Merca<strong>do</strong>s Atacadistas <strong>de</strong> Fortaleza/ce e Teresina/PI<br />

3.2 Testes <strong>de</strong> Raiz Unitária<br />

Para testar a presença ou não <strong>de</strong> raiz unitária na série e ord<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

integração, utilizou-se o Teste <strong>de</strong> Dickey-Fuller Aumenta<strong>do</strong> – ADF, <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong><br />

por Dickey e Fuller (1981) e o teste KPSS <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> por<br />

Kwiatkowski, Phillips, Schmidt e Shin (1992).<br />

De acor<strong>do</strong> com Kwiatkowski et al (1992, p. 176), o teste KPSS ten<strong>de</strong><br />

a compl<strong>em</strong>entar o teste <strong>de</strong> raiz unitária <strong>de</strong> Dickey-Fuller. Testan<strong>do</strong> ambas<br />

as hipóteses, <strong>de</strong> raiz unitária e <strong>de</strong> estacionarieda<strong>de</strong>, pod<strong>em</strong>-se distinguir<br />

séries que aparentam ser<strong>em</strong> estacionárias, séries que aparentam possuir<br />

raiz unitária e para as quais os da<strong>do</strong>s (ou testes) não são suficient<strong>em</strong>ente<br />

informativos para assegurar se são estacionárias ou integradas.<br />

3.3 Vetores Auto-regressivos (VAR)<br />

Um vetor autoregressivo (VAR) po<strong>de</strong> ser entendi<strong>do</strong> como uma forma<br />

reduzida <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> equações simultâneas. Um VAR(p) po<strong>de</strong> ser<br />

expresso como:<br />

p<br />

<br />

y c y <br />

t i ti t<br />

i1<br />

On<strong>de</strong>, ε = β u ; u é o vetor <strong>de</strong> erros <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a original; ε ~ i.i.d.<br />

t 0 t t t<br />

N(0,Σ); Π’= c[Φ ...Φ ] e x = [y ... y ]’. Nesse caso geral, os estima<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />

1 p t t-1 t-p<br />

máxima verossimilhança <strong>de</strong> Π e Σ são equivalentes aos calcula<strong>do</strong>s pelos<br />

mínimos quadra<strong>do</strong>s ordinários. Utilizan<strong>do</strong>-se o opera<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>fasag<strong>em</strong>,<br />

po<strong>de</strong>-se reescrever o VAR como:<br />

2<br />

(7)<br />

y c( Ly ) v cv v v ...<br />

t t t t t1 t2<br />

Os coeficientes <strong>de</strong> Φ são <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s <strong>de</strong> multiplica<strong>do</strong>res <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a.<br />

No mo<strong>de</strong>lo autoregressivos nós pod<strong>em</strong>os i<strong>de</strong>ntificar cada inovação,<br />

v mt , com uma variável específica <strong>de</strong> y t , chamada y mt . Seja o vetor <strong>de</strong><br />

equilíbrio. Suponha uma modificação <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s v’s por um único perío<strong>do</strong>.<br />

“y mt ” irá se afastar e retornar novamente ao equilíbrio. O caminho por<br />

on<strong>de</strong> as variáveis retornam ao equilíbrio é chama<strong>do</strong> impulso resposta <strong>de</strong><br />

VAR. 1<br />

1<br />

Para tornar os parâmetros <strong>do</strong> VAR i<strong>de</strong>ntificáveis e recuperar os choques <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo na sua forma estrutural<br />

permitin<strong>do</strong> a análise <strong>de</strong> impulso resposta, utilizou-se a <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> Cholesky.<br />

(6)<br />

231


Francisco José Silva Tabosa, Jair Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Araújo, Ahmad Saeed Khan, Ruben Dario Mayorga<br />

Consi<strong>de</strong>re um choque t<strong>em</strong>poral no sist<strong>em</strong>a como dv mt , então no perío<strong>do</strong><br />

t:<br />

A função φmm (i) apresenta as características <strong>de</strong> impulso resposta<br />

da variável y para inovações <strong>em</strong> v . Uma forma usual <strong>de</strong> caracterizar o<br />

m m<br />

sist<strong>em</strong>a é apresentar graficamente as funções impulso resposta. O procedimento<br />

d<strong>em</strong>onstra o efeito que um choque unitário <strong>em</strong> vm causa na<br />

variável m. Também é possível examinar o efeito <strong>de</strong> um choque unitário<br />

<strong>de</strong> v na variável m. Então, a função impulso resposta será:<br />

t<br />

(9)<br />

Diz-se que uma variável X (causalida<strong>de</strong> par a par), ou que um bloco<br />

t<br />

<strong>de</strong> variáveis Z (causalida<strong>de</strong> <strong>em</strong> blocos), não causa Y no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> Granger<br />

t t<br />

(1969) se as informações passadas <strong>de</strong> X , ou <strong>de</strong> Z , não melhoram as previ-<br />

t t<br />

sões da variável Y . A hipótese nula <strong>de</strong> não causalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Granger po<strong>de</strong><br />

t<br />

ser testada através da estimação <strong>de</strong> um VAR com e s<strong>em</strong> restrições sobre os<br />

parâmetros das variáveis <strong>em</strong> questão e <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> uma estatística <strong>de</strong> teste<br />

<strong>de</strong> razão <strong>de</strong> verossimilhança, ou <strong>de</strong> Wald ou ainda um teste F.<br />

Através da <strong>de</strong>composição <strong>do</strong> erro <strong>de</strong> previsão, po<strong>de</strong>-se analisar a<br />

proporção <strong>de</strong>ste erro <strong>em</strong> cada uma das variáveis <strong>do</strong> VAR, <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

choques na própria variável <strong>em</strong> questão e <strong>do</strong>s choques das outras variáveis<br />

<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo.<br />

232<br />

(8)


Relacionamento <strong>de</strong> Preços e Integração entre o Merca<strong>do</strong> Produtor <strong>de</strong> Tianguá na Serra da Ibiapaba/CE<br />

e Merca<strong>do</strong>s Atacadistas <strong>de</strong> Fortaleza/ce e Teresina/PI<br />

4. RESULTADOS<br />

Nesta seção, apresentar<strong>em</strong>os os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s testes <strong>de</strong> raiz unitária e<br />

<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo VAR, assim como o teste <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> <strong>em</strong> bloco <strong>de</strong> Granger,<br />

função impulso resposta e <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> variância.<br />

A Tabela 2 apresenta os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> teste <strong>de</strong> raiz unitária <strong>de</strong> Dickey-<br />

Fuller Aumenta<strong>do</strong> (ADF) para as séries <strong>de</strong> maracujá, tomate e pepino. Os<br />

resulta<strong>do</strong>s mostraram que as séries são estacionárias <strong>em</strong> nível.<br />

Tabela 2 - Teste <strong>de</strong> Raiz Unitária, Dickey-Fuller<br />

Aumenta<strong>do</strong> (ADF) para as séries <strong>de</strong> preço <strong>em</strong> níveis<br />

logaritmizadas, Fevereiro <strong>de</strong> 2007 a Fevereiro <strong>de</strong> <strong>2009</strong><br />

τ Defs τ t Defs τ u Defs<br />

LNMFOR -3,4484* 0 -3,9766* 0 -4,2990* 0<br />

LNMIBI -4,8623* 0 -4,9548* 0 -5,3616* 0<br />

LNMTER -2,7340** 0 -3,2953** 0 -3,68’6** 0<br />

LNTFOR -3,0590* 0 -3,2555** 0 -3,3326** 0<br />

LNTIBI -2,9016* 0 -2,9080* 0 -3,9275** 0<br />

LNTTER -3,1881* 0 -3,3293** 0 -3,3347** 0<br />

LNPFOR -1,6891** 0 -3.1118** 0 -3,2861** 0<br />

LNPIBI -2,4784** 0 -2,5897** 0 -4,6779* 0<br />

LNPTER -2,1380* 0 -4,3580* 0 -4,7828* 0<br />

Fonte: Da<strong>do</strong>s da pesquisa.<br />

Os valores críticos para o mo<strong>de</strong>lo com constante e com tendência ao nível <strong>de</strong> 1%, 5%, e 10% são respectivamente<br />

-3,9943; -3,4274 e -3,1370 para o mo<strong>de</strong>lo com constante e s<strong>em</strong> tendência os Valores Críticos<br />

são, ao nível <strong>de</strong> 1% (-3,4557), 5% (-2,8726) e 10% (-2,5727) e para o mo<strong>de</strong>lo s<strong>em</strong> constante e s<strong>em</strong> tendência<br />

os Valores Críticos são ao nível <strong>de</strong> 1% (-2,5740), 5% (-1,9420) e 10% (-1,6158).<br />

***indica que a hipótese nula é rejeitada ao nível <strong>de</strong> significância <strong>de</strong> 10%.<br />

**indica que a hipótese nula é rejeitada ao nível <strong>de</strong> significância <strong>de</strong> 5%.<br />

*indica que a hipótese nula é rejeitada ao nível <strong>de</strong> significância <strong>de</strong> 1%.<br />

233


Francisco José Silva Tabosa, Jair Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Araújo, Ahmad Saeed Khan, Ruben Dario Mayorga<br />

Na Tabela 3 são apresenta<strong>do</strong>s os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> teste <strong>de</strong> raiz unitária<br />

<strong>de</strong> Kwiatkowski et al. (1992). Os resulta<strong>do</strong>s mostraram que as séries são<br />

estacionárias <strong>em</strong> nível.<br />

234<br />

Tabela 3 - Teste <strong>de</strong> Estacionarieda<strong>de</strong>, Kwiatkowski-Phillips-Schmidt-<br />

Shin para as séries <strong>de</strong> preço <strong>em</strong> níveis logarítmizadas,<br />

Fevereiro <strong>de</strong> 2007 a Fevereiro <strong>de</strong> <strong>2009</strong><br />

Tendência<br />

e Constante<br />

Defs Constante Defs<br />

LNMFOR 0,0918 7 0,5768** 8<br />

LNMIBI 0,0715 6 0,6336** 7<br />

LNMTER 1,0214* 9 0,1980 7<br />

LNTFOR 0,0893 8 0,1186 8<br />

LNTIBI 0,0927 8 0,0877 8<br />

LNTTER 0,1473** 8 0,1463 8<br />

LNPFOR 0,1185 8 0,6682** 8<br />

LNPIBI 0,0877 7 0,6520** 8<br />

LNPTER 0,0781 8 0,3589 8<br />

Fonte: Da<strong>do</strong>s da pesquisa.<br />

Os valores críticos para o mo<strong>de</strong>lo com constante e com tendência ao nível <strong>de</strong> 1%, 5%, e 10% são<br />

respectivamente 0,2160, 0,1460 e 0,1190 e para o mo<strong>de</strong>lo com constante e s<strong>em</strong> tendência os Valores<br />

Críticos são ao nível <strong>de</strong> 1% (0,7390), 5% (0,4630) e 10% (0,3470).<br />

***indica que a hipótese nula é rejeitada ao nível <strong>de</strong> significância <strong>de</strong> 10%.<br />

**indica que a hipótese nula é rejeitada ao nível <strong>de</strong> significância <strong>de</strong> 5%.<br />

*indica que a hipótese nula é rejeitada ao nível <strong>de</strong> significância <strong>de</strong> 1%.<br />

Utilizan<strong>do</strong> o critério <strong>de</strong> Akaike Information Criterion (AIC), <strong>de</strong>tectou-se<br />

que o melhor número <strong>de</strong> <strong>de</strong>fasagens é igual a 2.<br />

O Teste <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Granger/Teste <strong>de</strong> Wald para exogeneida<strong>de</strong><br />

por blocos permite i<strong>de</strong>ntificar <strong>de</strong>ntre estas variáveis aquelas que são<br />

fort<strong>em</strong>ente exógenas (análise <strong>de</strong> longo prazo). Os resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ste teste<br />

suger<strong>em</strong> que, nos merca<strong>do</strong>s <strong>do</strong> maracujá, apenas as séries LNMFOR não<br />

se po<strong>de</strong> rejeitar a hipótese nula <strong>de</strong> não-causalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Granger para essas<br />

variáveis <strong>em</strong> relação aos d<strong>em</strong>ais. No caso <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> tomate, apenas<br />

LNTFOR não se po<strong>de</strong> rejeitar a hipótese nula <strong>de</strong> não-causalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Granger<br />

para essas variáveis <strong>em</strong> relação aos d<strong>em</strong>ais. Isso indica que Fortaleza/<br />

CE é o único merca<strong>do</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte nesses merca<strong>do</strong>s. Já no merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>


Relacionamento <strong>de</strong> Preços e Integração entre o Merca<strong>do</strong> Produtor <strong>de</strong> Tianguá na Serra da Ibiapaba/CE<br />

e Merca<strong>do</strong>s Atacadistas <strong>de</strong> Fortaleza/ce e Teresina/PI<br />

pepino, a série LNPTER não se po<strong>de</strong> rejeitar a hipótese nula <strong>de</strong> não-causalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Granger para essas variáveis <strong>em</strong> relação aos d<strong>em</strong>ais. Isso indica<br />

que Teresina/PI é um merca<strong>do</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte (ver Tabela 1 <strong>do</strong> Anexo).<br />

Após esta análise, realizou-se a <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> variância, através<br />

<strong>de</strong> choques não antecipa<strong>do</strong>s nas variáveis que se apresentaram endógenas<br />

no teste <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Granger <strong>em</strong> bloco. A or<strong>de</strong>nação foi obtida através<br />

<strong>do</strong> procedimento <strong>de</strong> Cholesky, seguin<strong>do</strong> também os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> teste<br />

<strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Granger <strong>em</strong> bloco.<br />

No merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> maracujá, a <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> variância para LN-<br />

MIBI mostrou que, <strong>de</strong>corridas 24 s<strong>em</strong>anas, a LNMFOR explica 61,10%,<br />

enquanto que a própria LNMIBI explica apenas 33,97%. A <strong>de</strong>composição<br />

<strong>de</strong> variância para LNMTER mostrou que, <strong>de</strong>corri<strong>do</strong>s 24 s<strong>em</strong>anas,<br />

a LNMFOR explica 21,84%, enquanto que a própria LNMTER explica<br />

65,22% (ver Tabela 2 <strong>do</strong> Anexo).<br />

No merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> tomate, a <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> variância para LNTIBI<br />

mostrou que, <strong>de</strong>corridas 24 s<strong>em</strong>anas, a LNTFOR explica 66,25%, enquanto<br />

que a própria LNTIBI explica apenas 29,09%. A <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> variância<br />

para LNTTER mostrou que, <strong>de</strong>corridas 24 s<strong>em</strong>anas, a LNMFOR<br />

explica 66,18%, enquanto que a própria LNTTER explica 32,05% (ver Tabela<br />

3 <strong>do</strong> Anexo).<br />

No merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> pepino, a <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> variância para LNPIBI<br />

mostrou que, <strong>de</strong>corridas 24 s<strong>em</strong>anas, a LNTER explica 7,97%, enquanto<br />

que a própria LNPIBI explica apenas 23,27%. A <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> variância<br />

para LNPFOR mostrou que, <strong>de</strong>corridas 24 s<strong>em</strong>anas, a LNPTER explica<br />

15,06%, enquanto que a própria LNPFOR explica 84,13% (ver Tabela<br />

4 <strong>do</strong> Anexo).<br />

Os gráficos 1 e 2 mostram a função impulso resposta para os merca<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> maracujá e tomate, on<strong>de</strong> a or<strong>de</strong>nação foi obtida pelo procedimento<br />

<strong>de</strong> Cholesky. Os resulta<strong>do</strong>s mostraram que o comportamento da função<br />

impulso resposta sobre o preço <strong>de</strong> Fortaleza/CE t<strong>em</strong> um impacto b<strong>em</strong> <strong>de</strong>fini<strong>do</strong><br />

sobre os preços <strong>de</strong> Ibiapaba/CE e Teresina/PI, da<strong>do</strong> que um choque<br />

no <strong>de</strong>svio padrão <strong>do</strong>s preços <strong>de</strong> Fortaleza/CE ten<strong>de</strong> a elevar o <strong>de</strong>svio<br />

padrão <strong>do</strong>s preços <strong>de</strong> Ibiapaba/CE e Teresina/PI. No caso <strong>do</strong> maracujá,<br />

nota-se, então, uma queda lenta até estabilizar-se entre a décima oitava<br />

(<strong>em</strong> Ibiapaba/CE) e vigésima quarta s<strong>em</strong>ana (<strong>em</strong> Teresina/PI). Em relação<br />

ao merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> tomate, nota-se, então, uma queda lenta até estabilizar-se<br />

235


Francisco José Silva Tabosa, Jair Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Araújo, Ahmad Saeed Khan, Ruben Dario Mayorga<br />

entre a vigésima segunda (<strong>em</strong> Ibiapaba/CE) e vigésima quarta s<strong>em</strong>ana (<strong>em</strong><br />

Teresina/PI).<br />

Gráfico 1 - Elasticida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Função <strong>de</strong> Resposta<br />

<strong>de</strong> Impulso no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> maracujá,<br />

efeitos <strong>de</strong> choques <strong>em</strong> LNMFOR sobre LNMIBI e LNMTER<br />

236<br />

Gráfico 2 - Elasticida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Função <strong>de</strong> Resposta<br />

<strong>de</strong> Impulso no merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> tomate,<br />

efeitos <strong>de</strong> choques <strong>em</strong> LNTFOR sobre LNTIBI e LNTTER<br />

O gráfico 3 mostra a função impulso resposta para o merca<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

pepino, on<strong>de</strong> a or<strong>de</strong>nação também foi obtida pelo procedimento <strong>de</strong> Cholesky.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s mostraram que o comportamento da função impulso<br />

resposta sobre o preço <strong>de</strong> Teresina/PI t<strong>em</strong> um impacto b<strong>em</strong> <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> sobre<br />

os preços <strong>de</strong> Fortaleza/CE e Teresina/PI, da<strong>do</strong> que um choque no <strong>de</strong>svio<br />

padrão <strong>do</strong>s preços <strong>de</strong> Teresina/PI ten<strong>de</strong> a elevar o <strong>de</strong>svio padrão <strong>do</strong>s preços<br />

<strong>de</strong> Fortaleza/CE e Ibiapaba/CE. Em relação ao merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> tomate,


Relacionamento <strong>de</strong> Preços e Integração entre o Merca<strong>do</strong> Produtor <strong>de</strong> Tianguá na Serra da Ibiapaba/CE<br />

e Merca<strong>do</strong>s Atacadistas <strong>de</strong> Fortaleza/ce e Teresina/PI<br />

nota-se, então, uma queda lenta até estabilizar-se entre a vigésima segunda<br />

(<strong>em</strong> Fortaleza/CE) e vigésima quarta s<strong>em</strong>ana (<strong>em</strong> Ibiapaba/CE).<br />

Gráfico 3 -Elasticida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Função <strong>de</strong> Resposta<br />

<strong>de</strong> Impulso no merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> pepino,<br />

efeitos <strong>de</strong> choques <strong>em</strong> LNPTER sobre LNPFOR e LNPIBI<br />

Um ponto que chamou atenção foi à integração entre os merca<strong>do</strong>s<br />

atacadistas <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste, com <strong>de</strong>staque para o merca<strong>do</strong> atacadista <strong>de</strong> Fortaleza/CE,<br />

que exerce forte influência sobre os merca<strong>do</strong>s da Ibiapaba/CE e<br />

Teresina/PI, tanto no merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> tomate quanto no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> maracujá,<br />

já que este merca<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> o CEASA (<strong>2009</strong>), é o maior consumi<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong> tomates e <strong>de</strong> maracujá da Serra da Ibiapaba, e também <strong>de</strong>tém o maior<br />

número <strong>de</strong> atacadistas que comercializam estes produtos com os d<strong>em</strong>ais<br />

merca<strong>do</strong>s atacadistas <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste.<br />

No merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> pepino, um <strong>de</strong>staque para Teresina/PI, que exerce<br />

forte influência sobre os merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Fortaleza/CE e Ibiapaba/CE, pois<br />

este produto é bastante comercializa<strong>do</strong> pelo merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Teresina, que distribui<br />

tanto para o interior <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Piauí quanto para São Luís/MA e<br />

Região Norte.<br />

Outro ponto importante é que o merca<strong>do</strong> produtor da Ibiapaba/CE<br />

pouco (ou quase nada) influencia os merca<strong>do</strong>s atacadistas<br />

<strong>de</strong> Fortaleza/CE e Teresina/PI. Uma possível explicação para isto resi<strong>de</strong><br />

no fato <strong>de</strong> que o merca<strong>do</strong> produtor <strong>de</strong> Tianguá na Serra da Ibiapaba/CE é<br />

forma<strong>do</strong>, <strong>em</strong> sua maioria, por pequenos e médios produtores, geralmente<br />

não associa<strong>do</strong> e não pertencentes à cooperativa <strong>de</strong> produtores (no caso da<br />

Ibiapaba/CE), com baixo grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> difícil acesso á manejos<br />

237


Francisco José Silva Tabosa, Jair Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Araújo, Ahmad Saeed Khan, Ruben Dario Mayorga<br />

tecnológicos e a crédito, além da questão <strong>do</strong> custo <strong>de</strong> transporte, 2 possibilitan<strong>do</strong><br />

apenas a negociação com atacadistas <strong>de</strong> Fortaleza/CE e Teresina/<br />

PI. O que dificulta a negociação <strong>de</strong> melhores preços junto aos atacadistas.<br />

Dentre os fatores que pod<strong>em</strong> explicar esses resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>stacam-se<br />

os custos <strong>de</strong> transação, <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência das distâncias entre os merca<strong>do</strong>s.<br />

Além disso, as estradas, tanto fe<strong>de</strong>rais quanto estaduais, são precárias, o<br />

que dificulta o escoamento da produção. A pequena representativida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s produtores na formação <strong>do</strong>s preços <strong>do</strong>s produtos comercializa<strong>do</strong>s<br />

na Ibiapaba/CE po<strong>de</strong> refletir, além <strong>do</strong>s custos <strong>de</strong> transação, uma<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior organização e cooperação <strong>do</strong>s produtores locais.<br />

5. CONCLUSõES<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste artigo foi analisar o relacionamento <strong>de</strong> preços e integração<br />

entre o merca<strong>do</strong> produtor da Ibiapaba/CE e os merca<strong>do</strong>s atacadistas<br />

<strong>de</strong> Fortaleza/CE e Teresina/PI. Para isso, utilizou-se <strong>de</strong> testes <strong>de</strong> raiz<br />

unitária <strong>de</strong> Dickey-Fuller Aumenta<strong>do</strong> (ADF) e KPSS; além <strong>do</strong> Mo<strong>de</strong>lo<br />

VAR, com os testes <strong>de</strong> Teste <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Granger/Teste <strong>de</strong> Wald<br />

para exogeneida<strong>de</strong> por blocos, Decomposição <strong>de</strong> Variância e Impulso Resposta.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s mostraram que as séries <strong>de</strong>veriam ser trabalhadas <strong>em</strong><br />

nível, pois não apresentaram raiz unitária. Quanto ao mo<strong>de</strong>lo VAR, nos<br />

merca<strong>do</strong>s <strong>do</strong> maracujá e tomate, Fortaleza/CE apresentou-se como um<br />

merca<strong>do</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, exercen<strong>do</strong> forte influência sobre os merca<strong>do</strong>s da<br />

Ibiapaba/CE e Teresina/PI. No entanto, no merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> pepino, é o merca<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> Teresina que se apresentou como in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, exercen<strong>do</strong> forte<br />

influência sobre os merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Fortaleza/CE e Ibiapaba/CE.<br />

Interessante é que o merca<strong>do</strong> da Ibiapaba/CE, apesar <strong>de</strong> ser um merca<strong>do</strong><br />

produtor que abastece os merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Fortaleza/CE e Teresina/PI não<br />

possui influência sobre nenhum <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s atacadistas. Isso significa<br />

que os produtores da Serra da Ibiapaba/CE são influencia<strong>do</strong>s por <strong>de</strong>cisões<br />

tomadas pelos atacadistas <strong>de</strong> Fortaleza/CE e Teresina/PI. A inter<strong>de</strong>pendência<br />

<strong>de</strong> preços nas diferentes cida<strong>de</strong>s nor<strong>de</strong>stinas analisadas evi<strong>de</strong>ncia a<br />

presença <strong>de</strong> um merca<strong>do</strong> integra<strong>do</strong> regionalmente.<br />

2<br />

A Serra da Ibiapaba/CE fica a 350 Km <strong>de</strong> Fortaleza/CE e a 320 Km <strong>de</strong> Teresina/PI. As d<strong>em</strong>ais capitais <strong>do</strong><br />

Nor<strong>de</strong>ste ficam, no mínimo, a 450 Km (no caso <strong>de</strong> São Luis/MA).<br />

238


Relacionamento <strong>de</strong> Preços e Integração entre o Merca<strong>do</strong> Produtor <strong>de</strong> Tianguá na Serra da Ibiapaba/CE<br />

e Merca<strong>do</strong>s Atacadistas <strong>de</strong> Fortaleza/ce e Teresina/PI<br />

Dentre os fatores que pod<strong>em</strong> explicar esses resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>stacam-se<br />

os custos <strong>de</strong> transação, <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência das distâncias entre os merca<strong>do</strong>s<br />

atacadistas da Região Nor<strong>de</strong>ste. A pequena representativida<strong>de</strong> <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

produtor da Ibiapaba/CE na formação <strong>do</strong>s preços po<strong>de</strong> refletir, além <strong>do</strong>s<br />

custos <strong>de</strong> transação, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r seus produtos nas CEASA’s<br />

<strong>de</strong> Fortaleza/CE e Teresina/PI, da<strong>do</strong>s as gran<strong>de</strong>s distâncias que a separam<br />

<strong>do</strong>s outros merca<strong>do</strong>s regionais, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> os custos <strong>de</strong> transportes, mais organização<br />

<strong>do</strong>s produtores locais, que provavelmente melhoraria seu po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão.<br />

Desta forma, recomendam-se políticas públicas que aperfeiço<strong>em</strong> a<br />

logística <strong>de</strong>sse merca<strong>do</strong>, através <strong>de</strong> estímulos fiscais e <strong>do</strong> aprimoramento<br />

das estradas e vias alternativas que reduzam o custo <strong>de</strong> transporte; <strong>de</strong> linhas<br />

<strong>de</strong> crédito para investimentos <strong>em</strong> capacitação técnica e <strong>em</strong> máquinas<br />

e equipamentos; incentivo à criação <strong>de</strong> cooperativas no merca<strong>do</strong> produtor<br />

da Ibiapaba/CE po<strong>de</strong> melhorar a inserção <strong>de</strong>ste merca<strong>do</strong>. Enfim, políticas<br />

que incentiv<strong>em</strong> a produção e comercialização interestadual <strong>de</strong> frutas e<br />

hortaliças principalmente na Região Nor<strong>de</strong>ste, com objetivo <strong>de</strong> reduzir a<br />

variabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s preços <strong>de</strong>ste produto nos merca<strong>do</strong>s nor<strong>de</strong>stinos utilizan<strong>do</strong><br />

o exce<strong>de</strong>nte da produção da safra <strong>de</strong> uma região na entressafra da outra.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

BALCOMBE, K.; BAILEY, A.; BROOKS, J.. Threshold Effects in Price<br />

Transmission: the case of Brazilian wheat, maize, and soya prices. American<br />

Journal of Agronomical Economics, 89 (2) (May 2007): 308-323.<br />

CEASA-CE – Central <strong>de</strong> Abastecimento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> – S/A. Informações<br />

Agrícolas. <strong>2009</strong>.<br />

DELGADO, C.L. A variance components approach to foodgrain market<br />

integration in North Nigeria. American Journal of Agricultural Economics,<br />

V. 68, N. 4, p. 970-979, Nov. 1986.<br />

DICKEY, D.A.; FULLER, W.A.. Likelihood ratio statistics for autoregressive<br />

time series with a unit root. Econometrica, V. 49, N. 4,<br />

p. 1057-1072, Jul. 1981.<br />

FACKLER, P.; GOODWIN, B.K.. Spatial price analysis: a methological<br />

review. North Carolina, Department of Agricultural and Resourse Econo-<br />

239


Francisco José Silva Tabosa, Jair Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Araújo, Ahmad Saeed Khan, Ruben Dario Mayorga<br />

mics. North Carolina State University, 2000 (Mimeogr.).<br />

GOLETTI, F.; RAISUDDIN, A.; FARID, N. Structural <strong>de</strong>terminants of<br />

market integration. The case of rice markets in Bangla<strong>de</strong>sh. The Developing<br />

Economies, V. 33, N. 2, p. 185-202, Jun. 1995.<br />

GOODWIN, B.K.; PIGGOTT, N.E. Spatial market integration in the presence<br />

of threshold effects. American Journal of Agriculture Economics,<br />

V. 83, N. 2, p. 302-307. May. 2001.<br />

KWIATKOWSKI, D.; PHILLIPS, P.C.B.; SCHMIDT, P.; SHIN, Y.. Testing<br />

the null hypothesis of stationarity against the alternative of a unit<br />

root. How sure are we that economic time series have a unit root? North-<br />

Holland: Journal of Econometrics, V. 54, p. 159-178. 1992.<br />

MAYORGA, R.D. Price relationships and market integration: a northeast<br />

of Brazil casestudy. 1989, 131 folhas. Tese (Doutora<strong>do</strong> <strong>em</strong> Ciência <strong>do</strong>s<br />

Recursos <strong>de</strong> Terras Áridas) –Commitee on Arid Lands Resource Science,<br />

Univerty of Arizona, USA. 1989.<br />

MAYORGA, R.D.; LIMA, P. V. P. S.; MAYORGA, R. <strong>de</strong> O.;TABOSA,<br />

F.J.S.. Relacionamento <strong>de</strong> preços e integração <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> atacadista <strong>do</strong><br />

tomate no nor<strong>de</strong>ste brasileiro. In: HOLANDA, M.C. (org). <strong>Economia</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ceará</strong> <strong>em</strong> <strong>Debate</strong> 2007. Fortaleza: <strong>IPECE</strong>, 2008. 23p.<br />

MARGARIDO, M.A.. Transmissão <strong>de</strong> preços internacionais <strong>de</strong> suco <strong>de</strong><br />

laranja para preços ao nível <strong>de</strong> produtor <strong>de</strong> laranja no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo.<br />

<strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> <strong>Economia</strong> Agrícola. Coleção Estu<strong>do</strong>s Agrícolas 6. São<br />

Paulo-SP. 1998.<br />

MATTOS, L. B. <strong>de</strong>. Efeitos <strong>de</strong> custos <strong>de</strong> transação sobre a integração<br />

espacial <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s regionais da carne <strong>de</strong> frango no Brasil. (Tese <strong>de</strong><br />

Doutora<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>Economia</strong>). Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa/MG – Viçosa/<br />

MG, 2008, 162p.<br />

RAVALLION, M.. Testing market integration. American Journal Agricultural<br />

Economics. V.68, n.1, p.102-109, feb 1986.<br />

SACHS, R.C.C.; PINATTI, E.. Análise <strong>do</strong> comportamento <strong>do</strong>s Preços <strong>do</strong><br />

boi gor<strong>do</strong> e <strong>do</strong> boi magro na pecuária <strong>de</strong> corte paulista, no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1995<br />

a 2006. Revista <strong>de</strong> <strong>Economia</strong> e Agronegócio. Vol 5, n3, 2007.<br />

STIGLER, J.G.; SHERWIN, R.. The extent of the market. Journal of Law<br />

and Eonomics, V. 28, N. 3, p. 555-585, Oct. 1985.<br />

240


Relacionamento <strong>de</strong> Preços e Integração entre o Merca<strong>do</strong> Produtor <strong>de</strong> Tianguá na Serra da Ibiapaba/CE<br />

e Merca<strong>do</strong>s Atacadistas <strong>de</strong> Fortaleza/ce e Teresina/PI<br />

Anexo<br />

Tabela 1 - Resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s testes <strong>de</strong> Causalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Granger <strong>em</strong> bloco nos merca<strong>do</strong>s atacadistas<br />

<strong>do</strong> Maracujá, Tomate e Pepino. <strong>2009</strong><br />

241


Francisco José Silva Tabosa, Jair Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Araújo, Ahmad Saeed Khan, Ruben Dario Mayorga<br />

242<br />

Tabela 2 - Resulta<strong>do</strong>s da Decomposição<br />

<strong>de</strong> Variância no merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> maracujá<br />

Tabela 3 - Resulta<strong>do</strong>s da Decomposição<br />

<strong>de</strong> Variância no merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> tomate


Relacionamento <strong>de</strong> Preços e Integração entre o Merca<strong>do</strong> Produtor <strong>de</strong> Tianguá na Serra da Ibiapaba/CE<br />

e Merca<strong>do</strong>s Atacadistas <strong>de</strong> Fortaleza/ce e Teresina/PI<br />

Tabela 4 - Resulta<strong>do</strong>s da Decomposição<br />

<strong>de</strong> Variância no merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> pepino<br />

243


Christiano Penna, Nicolino Trompieri, Fabrício Linhares<br />

RESUMO<br />

244<br />

RENDA DO TRABALHO, RENDA<br />

DE TRANSFERÊNCIAS E DESIGUAL-<br />

DADE: UMA NOVA PROPOSTA<br />

DE INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA<br />

DA CURVA DE KUZNETS<br />

PARA O CEARÁ<br />

Christiano Penna *<br />

Nicolino Trompieri **<br />

Fabrício Linhares ***<br />

A hipótese <strong>de</strong> Kuznets prevê uma associação entre crescimento econômico<br />

e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda que se concretiza numa função com formato<br />

<strong>de</strong> um U inverti<strong>do</strong>. Geralmente, tal hipótese é testada com base <strong>em</strong><br />

regressões que envolv<strong>em</strong> renda per capita e um índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>. O<br />

presente trabalho propõe uma análise alternativa da hipótese <strong>de</strong> Kuznets<br />

para o <strong>Ceará</strong> baseada na <strong>de</strong>composição vetorial da renda. To<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s<br />

utiliza<strong>do</strong>s na análise estão disponíveis no Atlas <strong>do</strong> Desenvolvimento<br />

Humano no Brasil – PNUD. Em contraste com as análises anteriores que<br />

utilizam diretamente a renda per capita, esta busca <strong>de</strong>sagregar a mesma<br />

<strong>em</strong> vetores representativos da renda <strong>do</strong> trabalho e das transferências realizadas<br />

pelo governo, permitin<strong>do</strong> uma análise mais profunda <strong>do</strong>s fatores<br />

que influenciam a relação crescimento – equida<strong>de</strong>. Além disto, e também<br />

<strong>em</strong> contraste com trabalhos anteriores, aqui se segue o trabalho <strong>de</strong> Huang<br />

et al (2007), e a valida<strong>de</strong> da hipótese <strong>de</strong> Kuznets é testada através <strong>do</strong> uso<br />

<strong>de</strong> regressões quantílicas. Nossos resulta<strong>do</strong>s validam a hipótese <strong>de</strong> Kuznets<br />

e suger<strong>em</strong> que os efeitos da renda <strong>do</strong> trabalho são mais eficientes <strong>do</strong><br />

que os efeitos das transferências governamentais na redução da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> renda.<br />

Palavras-Chave: Curva <strong>de</strong> Kuznets, Decomposição Vetorial da Renda,<br />

Regressão Quantílica.<br />

....................................................<br />

* Analista <strong>de</strong> Políticas Públicas <strong>do</strong> Ipece Doutoran<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>Economia</strong> pelo CAEN/UFC.<br />

** Analista <strong>de</strong> Políticas Públicas <strong>do</strong> Ipece Doutor <strong>em</strong> <strong>Economia</strong> pelo CAEN/UFC.<br />

*** Professor <strong>do</strong> CAEN/UFC.


AbstrAct<br />

Renda <strong>do</strong> Trabalho, Renda <strong>de</strong> Transferências e Desigualda<strong>de</strong>:<br />

Uma Nova Proposta <strong>de</strong> Investigação Empírica da Curva <strong>de</strong> Kuznets para o <strong>Ceará</strong><br />

The Kuznets hypothesis provi<strong>de</strong>s an association between economic<br />

growth and income inequality that <strong>de</strong>veloped on a light in the shape<br />

of an inverted U. Generally, such hypothesis is tested based on regressions<br />

involving income per capita and an in<strong>de</strong>x of inequality. This paper<br />

proposes an alternative analysis of the Kuznets hypothesis for the State<br />

of <strong>Ceará</strong> based on a vector <strong>de</strong>composition of income. All data are available<br />

on the Atlas of Human Development in Brazil - UNDP. In contrast to<br />

previous analysis, this analysis seeks to break <strong>do</strong>wn the per capita income<br />

in representative vectors of labor income and government transfers,<br />

allowing a <strong>de</strong>eper analysis of the factors that influence the relationship<br />

growth - equity. Moreover, also in contrast to the previous analysis, the<br />

analysis carried out following the work of Huang et al (2007), and tests the<br />

validity of the Kuznets hypothesis through the use of quantile regression.<br />

Our results validate the Kuznets hypothesis and suggest that the effects of<br />

labor income are more efficient than the effects of government transfers in<br />

reducing income inequality.<br />

Keywords: Kuznets Curve, Vector Decomposition of Income, Quantile<br />

Regression<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Em 1955 Simon Kuznets <strong>de</strong>senvolveu um referencial teórico elabora<strong>do</strong><br />

com base na observação <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> transição <strong>de</strong> economias agrícolas<br />

para industrializadas na Inglaterra, Al<strong>em</strong>anha e nos países <strong>do</strong> Reino<br />

Uni<strong>do</strong>. Esta teoria afirma que o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico<br />

<strong>de</strong>veria gerar um perío<strong>do</strong> inicial <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> renda no momento<br />

<strong>em</strong> que a migração <strong>de</strong> pessoas e recursos passasse a ocorrer da agricultura<br />

para as áreas urbanas e industrializadas, entretanto, essa tendência se<br />

reverteria à medida que o processo <strong>de</strong> migração fosse diminuin<strong>do</strong>. Posto<br />

que, (i) a renda per capita média da população rural era menor que a da<br />

população urbana e que (ii) a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> nas participações percentuais<br />

<strong>de</strong>ntro da distribuição da população rural era menor que a da população<br />

urbana. Então, a associação entre crescimento econômico e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> renda <strong>de</strong>veria se concretizar numa forma funcional com formato <strong>de</strong> um<br />

U inverti<strong>do</strong>, exposto no gráfico a seguir.<br />

245


Christiano Penna, Nicolino Trompieri, Fabrício Linhares<br />

Fonte: Elaboração <strong>do</strong>s autores.<br />

246<br />

Gráfico 1 - Curva <strong>de</strong> Kuznets<br />

Após 50 anos, os economistas ainda procuram compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> que<br />

forma o crescimento econômico é capaz <strong>de</strong> influenciar as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

regionais. A <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda costuma ser vista como uma falha <strong>de</strong><br />

merca<strong>do</strong> a ser corrigida por políticas governamentais que, <strong>de</strong> um mo<strong>do</strong><br />

geral, buscam compensar esta <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> redistribuin<strong>do</strong> recursos no intuito<br />

<strong>de</strong> favorecer as regiões mais pobres e atrasadas, proporcionan<strong>do</strong> assim,<br />

uma melhor distribuição <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s e favorecen<strong>do</strong> a inclusão<br />

econômica e social.<br />

Uma prévia consulta aos da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Atlas <strong>do</strong> Desenvolvimento Humano<br />

no Brasil – PNUD – revela que o PIB per capita <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

apresentou um crescimento <strong>de</strong> 5,5% na última década. Entretanto, também<br />

entre 1991 e 2000, a distribuição da renda no esta<strong>do</strong> tornou-se mais<br />

concentrada, pois o coeficiente <strong>de</strong> Gini passou <strong>de</strong> 0,65 para 0,68. Estes<br />

da<strong>do</strong>s mostram que, <strong>em</strong>bora o esta<strong>do</strong> esteja crescen<strong>do</strong>, a concentração<br />

<strong>de</strong> renda ainda é elevada e que esta v<strong>em</strong> crescen<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po.<br />

Como a estratégia <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> é continuar crescen<strong>do</strong> e, ao mesmo t<strong>em</strong>po,<br />

reduzir as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s econômicas e sociais, então é necessário que algum<br />

esforço <strong>de</strong> pesquisa seja concentra<strong>do</strong> não só no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> se testar<br />

a valida<strong>de</strong> da hipótese <strong>de</strong> Kuznets, mas também no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> se buscar<br />

compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> que maneira é possível crescer e ao mesmo t<strong>em</strong>po reduzir<br />

as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s.<br />

Dentro <strong>de</strong>ste escopo, é necessário ressaltar que o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong><br />

apresenta uma série <strong>de</strong> particularida<strong>de</strong>s que requer<strong>em</strong> certa atenção ao se


Renda <strong>do</strong> Trabalho, Renda <strong>de</strong> Transferências e Desigualda<strong>de</strong>:<br />

Uma Nova Proposta <strong>de</strong> Investigação Empírica da Curva <strong>de</strong> Kuznets para o <strong>Ceará</strong><br />

conduzir investigações <strong>em</strong>píricas. A renda per capita per si, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

po<strong>de</strong> não ser um bom indica<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>,<br />

pois <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> la<strong>do</strong> particularida<strong>de</strong>s como as pesadas transferências por<br />

parte <strong>do</strong> governo, a disposição geográfica <strong>de</strong> seus municípios e a tímida<br />

participação <strong>do</strong> setor produtivo no PIB.<br />

Existe uma vasta literatura, tanto nacional quanto internacional, que<br />

trata <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> t<strong>em</strong>a e, usualmente, a hipótese <strong>de</strong> Kuznets é testada através<br />

<strong>de</strong> estimativas <strong>de</strong> Mínimos Quadra<strong>do</strong>s Ordinários (MQO) levan<strong>do</strong>-se<br />

<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração a análise clássica proposta por Ahluwalia (1976), ou <strong>de</strong><br />

forma não-paramétrica, como po<strong>de</strong> ser visto <strong>em</strong> Mushinski (2001). Em<br />

ambos os casos, a mo<strong>de</strong>lag<strong>em</strong> econométrica é baseada <strong>em</strong> duas variáveischave,<br />

a saber, renda per capita e coeficiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gini.<br />

Na literatura internacional que aborda a valida<strong>de</strong> da hipótese <strong>de</strong> Kuznets<br />

estão os trabalhos <strong>de</strong> Ahluwalia (1976), Arnand e Kambur (1993) e<br />

Fields e Jackubson (1994). O trabalho <strong>de</strong> Ahluwalia (1976) utiliza da<strong>do</strong>s<br />

cross-section para uma amostra <strong>de</strong> 60 países (40 consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s sub<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s,<br />

6 socialistas e 14 <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s) e finda por evi<strong>de</strong>nciar a hipótese<br />

teórica <strong>de</strong> Kuznets. Arnand e Kambur (1993) criticam esta análise<br />

inicial afirman<strong>do</strong> que os da<strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>s não são formula<strong>do</strong>s <strong>de</strong> maneira<br />

homogênea. Os autores refaz<strong>em</strong> a análise dan<strong>do</strong> um melhor tratamento<br />

aos da<strong>do</strong>s e refutam a inicial <strong>de</strong> que a curva <strong>de</strong> Kuznets era validada.<br />

Fields e Jackubson (1994) utilizam da<strong>do</strong>s pooled cross-section e da<strong>do</strong>s <strong>em</strong><br />

painel para o mo<strong>de</strong>lo quadrático <strong>do</strong> índice <strong>de</strong> Gini como função da renda<br />

per capita. Estes autores evi<strong>de</strong>nciam a hipótese para o primeiro mo<strong>de</strong>lo,<br />

no entanto, refutam a mesma ao utilizar<strong>em</strong> da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> painel com efeito<br />

fixo. Recent<strong>em</strong>ente, e <strong>em</strong> contraste com as abordagens convencionais que<br />

utilizam regressões condicionadas à média, Huang et al (2007) impl<strong>em</strong>enta<br />

a regressão quantílica, tanto paramétrica quanto s<strong>em</strong>i-paramétrica, para<br />

reexaminar a valida<strong>de</strong> da hipótese <strong>de</strong> Kuznets <strong>em</strong> diferentes quantis da<br />

função <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> condicional. Os resulta<strong>do</strong>s <strong>em</strong>píricos mostram que<br />

o U inverti<strong>do</strong> relacionan<strong>do</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e PIB per capita é prevalecente<br />

para países com “leve” <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, mas não para aqueles com <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> renda muito elevada ou muito baixa. Esses resulta<strong>do</strong>s são robustos<br />

ao uso <strong>de</strong> diferentes conjuntos <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, variáveis <strong>de</strong> controle e especificações<br />

<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo.<br />

247


Christiano Penna, Nicolino Trompieri, Fabrício Linhares<br />

Em âmbito nacional os trabalhos também parec<strong>em</strong> evi<strong>de</strong>nciar o comportamento<br />

<strong>do</strong> U inverti<strong>do</strong> preconiza<strong>do</strong> por Kuznets. Berni et al (2002),<br />

utilizan<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Valor Adiciona<strong>do</strong> Fiscal (VAF) e <strong>do</strong> índice L <strong>de</strong> Theil,<br />

d<strong>em</strong>onstram a existência <strong>de</strong> uma curva <strong>de</strong> Kuznets para o setor industrial<br />

e o <strong>de</strong> serviços <strong>do</strong> Rio gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, <strong>em</strong> 1991, mas não obtém resulta<strong>do</strong>s<br />

estatisticamente significantes para o setor agropecuário. Bagolin, Gabe<br />

e Pontual (2003), utilizan<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> painel para os municípios <strong>do</strong> Rio<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, também validam a relação <strong>do</strong> U inverti<strong>do</strong> entre a renda per<br />

capita e índice <strong>de</strong> Theil, levan<strong>do</strong> <strong>em</strong> conta o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1970, 1980 e 1991.<br />

Jacinto e Tejada (2004) utilizam da<strong>do</strong>s cross-section e <strong>em</strong> painel para os<br />

municípios da região Nor<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Brasil levan<strong>do</strong> <strong>em</strong> conta os anos <strong>de</strong> 1970<br />

e 1991, também encontran<strong>do</strong> evidências da referida curva. Salvato et al<br />

(2006), abordan<strong>do</strong> os anos <strong>de</strong> 1991 e 2000, também levantam evidências<br />

<strong>de</strong> que para os municípios <strong>de</strong> Minas Gerais, a relação entre <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> renda e <strong>de</strong>senvolvimento econômico também se dá conforme a teoria.<br />

Portanto, vê-se que o foco na literatura nacional t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> buscar evi<strong>de</strong>ncias<br />

para a validação ou não da hipótese <strong>de</strong> Kuznets, entretanto, pouco se<br />

foi feito no intuito <strong>de</strong> se investigar quais os fatores capazes <strong>de</strong> influenciar,<br />

<strong>de</strong> fato, a relação entre crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento econômico.<br />

Buscan<strong>do</strong> contribuir para o <strong>de</strong>bate, s<strong>em</strong> eximir as especificida<strong>de</strong>s <strong>do</strong><br />

<strong>Ceará</strong>, através <strong>de</strong>ste trabalho propõe-se uma análise alternativa da hipótese<br />

<strong>de</strong> Kuznets baseada na <strong>de</strong>composição vetorial da renda. Contrastan<strong>do</strong><br />

com as análises anteriores, esta busca <strong>de</strong>sagregar a renda per capita <strong>em</strong><br />

vetores representativos da renda <strong>do</strong> trabalho e das transferências realizadas<br />

pelo governo, permitin<strong>do</strong> um exame mais profun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s fatores que<br />

influenciam a relação crescimento – distribuição <strong>de</strong> renda. Além disso,<br />

o estu<strong>do</strong> aqui realiza<strong>do</strong> segue o trabalho <strong>de</strong> Huang et al (2007), e testa a<br />

valida<strong>de</strong> da hipótese <strong>de</strong> Kuznets através <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> regressões quantílicas. 1<br />

O presente estu<strong>do</strong> é dividi<strong>do</strong> da seguinte maneira: após esta introdução<br />

apresenta-se a meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> análise <strong>em</strong>pírica, posteriormente<br />

discorre-se sobre os resulta<strong>do</strong>s e, por fim, apresentam-se as conclusões.<br />

1 A vantag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ste méto<strong>do</strong> é a sua robustez à presença <strong>de</strong> outliers e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se testar a hipótese <strong>de</strong><br />

Kuznets condicionada a diferentes quantis da função <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>.<br />

248


2. METODOLOGIA<br />

Renda <strong>do</strong> Trabalho, Renda <strong>de</strong> Transferências e Desigualda<strong>de</strong>:<br />

Uma Nova Proposta <strong>de</strong> Investigação Empírica da Curva <strong>de</strong> Kuznets para o <strong>Ceará</strong><br />

2.1 Meto<strong>do</strong>logia Clássica<br />

Uma discussão <strong>de</strong> como a teoria <strong>de</strong> Kuznets po<strong>de</strong> ser testada está<br />

<strong>de</strong>scrita <strong>em</strong> Barro (1999). Dentre as diversas formas <strong>de</strong> análise, e a<br />

dada disponibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, optou-se aqui por seguir algo próximo<br />

da meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> análise proposta nos trabalhos clássicos<br />

<strong>de</strong> Ahluwalia (1976), Arnand e Kambur (1993), Fields e Jackubson (1994)<br />

e, <strong>em</strong> âmbito nacional, Berni et al (2002), Bagolin et al (2003), Jacinto e<br />

Tejada (2004) e Salvato et al (2006). Estes autores testam a hipótese admitin<strong>do</strong><br />

uma especificação básica baseada na seguinte regressão:<br />

on<strong>de</strong>, D representa um índice crescente na <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>; 2 i representa o<br />

ín<strong>de</strong>x <strong>de</strong> cada município; t representa a dimensão t<strong>em</strong>po; λ é o intercepto<br />

da regressão; X representa uma matriz com variáveis <strong>de</strong> controle; Y representa<br />

a renda per capita e; ε é o termo <strong>de</strong> erro.<br />

it<br />

A equação (1) geralmente envolve da<strong>do</strong>s <strong>em</strong> painel ou pooled crosssection<br />

on<strong>de</strong> pod<strong>em</strong> ser incluí<strong>do</strong>s efeitos fixo e/ou aleatório e é estimada<br />

por Mínimos Quadra<strong>do</strong>s Ordinários. 3 Com base na teoria, os autores afirmam<br />

que a condição necessária para estimação corroborar a hipótese <strong>de</strong><br />

Kuznetz é <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> seja côncava na renda per capita, ou seja,<br />

γ <strong>de</strong>ve ser positivo e γ <strong>de</strong>ve ser negativo.<br />

1 2<br />

2.2 Algumas Especificida<strong>de</strong>s Relevantes<br />

Como foi visto até agora, o referencial teórico <strong>de</strong> que trata a hipótese<br />

<strong>de</strong> Kuznets associa renda per capita e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda. A renda per<br />

capita por si só, entretanto, é incapaz <strong>de</strong> absorver algumas particularida<strong>de</strong>s<br />

da economia cearense; na análise <strong>do</strong>s gráficos e <strong>do</strong> mapa a seguir fica<br />

evi<strong>de</strong>nte o porquê.<br />

2<br />

Este é um requerimento para que o formato <strong>de</strong> U inverti<strong>do</strong> se verifique. Os índices <strong>de</strong> Theil e Gini atend<strong>em</strong><br />

a este requisito, ou seja, quanto maior o índice, maior a concentração <strong>de</strong> renda.<br />

3<br />

Também é usual utilizar formas não-paramétrica e s<strong>em</strong>i-paramétrica para se testar o formato funcional<br />

sugeri<strong>do</strong> por Kuznets.<br />

(1)<br />

249


Christiano Penna, Nicolino Trompieri, Fabrício Linhares<br />

250<br />

Gráfico 2 - Distribuição <strong>do</strong>s percentuais da renda <strong>do</strong> trabalho<br />

e das transferências na renda total <strong>do</strong>s Municípios (1991 - 2000)<br />

Fonte: Elaboração <strong>do</strong>s autores.<br />

O gráfico da esquerda revela que a participação média <strong>do</strong> percentual<br />

das rendas provenientes <strong>do</strong> trabalho na renda total <strong>do</strong> município<br />

se reduziu ao longo da última década, já o gráfico da direita mostra<br />

que a relação transferências <strong>do</strong> governo/renda total <strong>do</strong> município v<strong>em</strong><br />

crescen<strong>do</strong>. Observa-se também uma nítida bi-modalida<strong>de</strong> no ano <strong>de</strong> 2000<br />

para as duas variáveis e, evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, ambas as modas relacionadas às<br />

transferências encontram-se num nível superior ao da média <strong>de</strong> 1991, enquanto<br />

que, para a renda <strong>do</strong> trabalho, ambas as modas encontram-se num<br />

patamar inferior ao da média <strong>de</strong> 1991. 4<br />

Este processo dinâmico caracteriza uma profunda transformação na<br />

composição da renda <strong>do</strong>s municípios cearenses. Vê se que a participação<br />

da renda <strong>do</strong> setor produtivo v<strong>em</strong> abrin<strong>do</strong> espaço para o setor público e a<br />

simples utilização da renda per capita <strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong> fora o possível impacto<br />

<strong>de</strong>sta especificida<strong>de</strong> na questão da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>.<br />

Embora renda <strong>do</strong> trabalho e transferências integraliz<strong>em</strong> aproximadamente<br />

85% da renda municipal, é necessário ressaltar que esta<br />

4 Estas duas variáveis são formalmente <strong>de</strong>scritas como: (1) Participação percentual das rendas provenientes<br />

<strong>do</strong> trabalho (principal e outros) na renda total <strong>do</strong> município e (2) Participação percentual das rendas provenientes<br />

<strong>de</strong> transferências governamentais (aposenta<strong>do</strong>rias, pensões e programas oficiais <strong>de</strong> auxílio, como<br />

renda mínima, bolsa-escola e seguro-<strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, etc) na renda total <strong>do</strong> município. Estas duas variáveis e<br />

as apresentadas mais adiante são facilmente encontradas no site <strong>do</strong> IPEA ou no Atlas <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Humano no Brasil – PNUD.


Renda <strong>do</strong> Trabalho, Renda <strong>de</strong> Transferências e Desigualda<strong>de</strong>:<br />

Uma Nova Proposta <strong>de</strong> Investigação Empírica da Curva <strong>de</strong> Kuznets para o <strong>Ceará</strong><br />

não é composta apenas por estes <strong>do</strong>is fatores, pois existe ainda renda<br />

<strong>de</strong> aluguéis, <strong>de</strong> juros, renda informal, e <strong>de</strong> outros fatores. Entretanto,<br />

neste estu<strong>do</strong> a renda advinda <strong>de</strong>stes fatores é reunida num único<br />

componente, que será trata<strong>do</strong> como exógeno e incorpora<strong>do</strong> ao termo<br />

<strong>de</strong> erro.<br />

Outra particularida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> <strong>de</strong>ixada <strong>de</strong> fora da especificação<br />

(1), <strong>em</strong>bora muito discutida por Kuznets, é a questão da importância da<br />

disposição geográfica. Atualmente, a econometria espacial t<strong>em</strong> ganha<strong>do</strong><br />

bastante <strong>de</strong>staque, e a disposição geográfica <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada região<br />

t<strong>em</strong> se d<strong>em</strong>onstra<strong>do</strong> como um fator importante para a compreensão <strong>do</strong><br />

crescimento e <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico local. No caso <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>,<br />

a distância <strong>do</strong>s municípios <strong>em</strong> relação à Fortaleza parece apresentar uma<br />

correlação positiva com a concentração <strong>de</strong> renda per capita, como se observa<br />

nos mapas a seguir:<br />

Gráfico 3 - Índice <strong>de</strong> Gini Municipal no <strong>Ceará</strong> - 1991<br />

Fonte: Atlas <strong>do</strong> Desenvolvimento Humano no Brasil – PNUD.<br />

251


Christiano Penna, Nicolino Trompieri, Fabrício Linhares<br />

252<br />

Gráfico 4 - Índice <strong>de</strong> Gini Municipal no <strong>Ceará</strong> - 2000<br />

Fonte: Atlas <strong>do</strong> Desenvolvimento Humano no Brasil – PNUD.<br />

2.3 Meto<strong>do</strong>logia Alternativa<br />

Os fatores supracita<strong>do</strong>s, toma<strong>do</strong>s <strong>em</strong> conjunto, nos motivaram a propor<br />

uma meto<strong>do</strong>logia alternativa <strong>de</strong> análise <strong>em</strong>pírica da Hipótese <strong>de</strong> Kuznets.<br />

Como a renda <strong>do</strong> trabalho e a renda <strong>de</strong> transferências <strong>do</strong> governo<br />

respond<strong>em</strong> <strong>em</strong> média por mais <strong>de</strong> 85% da renda <strong>do</strong>s municípios, então<br />

<strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> interesse <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res, gestores e formula<strong>do</strong>res <strong>de</strong> políticas<br />

públicas, investigar os possíveis efeitos <strong>de</strong>stas variáveis no processo<br />

<strong>de</strong> crescimento – distribuição <strong>de</strong> renda.<br />

Para tanto, nota-se que a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> é uma função da renda per<br />

capita, D = f (Y), como propõe Kuznets, e esta renda é função das transferências<br />

per capita, T, da renda <strong>do</strong>s salários per capita, W, e <strong>de</strong> um componente<br />

exógeno, ε; ou seja, Y = g (T, W, ε), então existe uma composta,<br />

D = h (T, W, ε) , que associa a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> às transferências <strong>do</strong> governo<br />

per capita, à renda <strong>do</strong>s salários per capita e ao componente exógeno.<br />

Posto isto, o que se propõe aqui é <strong>de</strong>sm<strong>em</strong>brar a curva <strong>de</strong> Kuznets<br />

<strong>em</strong> <strong>do</strong>is vetores: renda <strong>do</strong> trabalho e transferências. A idéia é simples: seja


Renda <strong>do</strong> Trabalho, Renda <strong>de</strong> Transferências e Desigualda<strong>de</strong>:<br />

Uma Nova Proposta <strong>de</strong> Investigação Empírica da Curva <strong>de</strong> Kuznets para o <strong>Ceará</strong><br />

Y it o vetor <strong>de</strong> renda per capita municipal, e sen<strong>do</strong> t it e w it as respectivas<br />

participações das transferências e <strong>do</strong>s salários na renda, então é possível<br />

<strong>de</strong>compor a renda per capita, e o quadra<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta variável, da maneira que<br />

se segue:<br />

Como o componente exógeno representa uma parcela relativamente<br />

pequena da renda municipal, optou-se por <strong>de</strong>ixá-lo <strong>de</strong> fora<br />

da regressão. 5 Desta forma, o gráfico 1 ce<strong>de</strong> lugar ao gráfico a seguir, que<br />

concretiza o que se preten<strong>de</strong> captar com a <strong>de</strong>composição vetorial proposta:<br />

Fonte: Elaboração <strong>do</strong>s autores.<br />

Gráfico 5 - Decomposição da Curva <strong>de</strong> Kuznets<br />

Espera-se que a influência <strong>de</strong>stas variáveis no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

seja diferenciada. Como o papel <strong>do</strong> governo é transferir renda no<br />

senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> reduzir as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, então quanto maior as transferências,<br />

menor <strong>de</strong>ve ser a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>; se a taxa <strong>de</strong> caimento <strong>de</strong>sta variável for<br />

positiva, então é <strong>de</strong> se esperar que a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> seja convexa no componente<br />

<strong>de</strong> transferências. De mo<strong>do</strong> contrário, s<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> la<strong>do</strong> a idéia<br />

original <strong>de</strong> Kuznets, a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria ser côncava na renda <strong>do</strong> trabalho,<br />

ou seja, conforme a mesma fosse se amplian<strong>do</strong>, a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve-<br />

5 É necessário ressaltar que ao se tomar εit = (I ─ t it ─ w it ) e o incluí-lo na regressão, teríamos regressores<br />

linearmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a isto, provavelmente a questão da multicolinearida<strong>de</strong> se faria presente;<br />

além disso, se teriam mais termos cruza<strong>do</strong>s, reduzin<strong>do</strong>-se ainda mais os graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> para o cômputo<br />

das estimativas.<br />

(2)<br />

253


Christiano Penna, Nicolino Trompieri, Fabrício Linhares<br />

ria crescer e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um “turning point”, retroce<strong>de</strong>r. Sob estas hipóteses<br />

o papel <strong>do</strong> crescimento na <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda seria um tanto quanto<br />

incerta. 6<br />

Buscan<strong>do</strong> avaliar <strong>de</strong> que forma as transferências e a r<strong>em</strong>uneração <strong>do</strong><br />

trabalho são capazes <strong>de</strong> influenciar o processo <strong>de</strong> crescimento-concentração<br />

<strong>de</strong> renda, a seguinte especificação é proposta:<br />

(3)<br />

on<strong>de</strong>, D é o coeficiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gini; α é o intercepto da re-<br />

it 0<br />

gressão; L é a distância <strong>do</strong>s municípios <strong>em</strong> relação à capital, invariante no<br />

it<br />

t<strong>em</strong>po e <strong>em</strong> quilômetros; H é a média <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> das pessoas <strong>de</strong> 25<br />

it<br />

anos ou mais <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>; T e W representam, respectivamente, os vetores <strong>de</strong><br />

it it<br />

transferências e <strong>de</strong> renda <strong>do</strong> trabalho e; ε é o termo <strong>de</strong> erro.<br />

it<br />

Aqui cab<strong>em</strong> vários a<strong>de</strong>n<strong>do</strong>s. (i) Note que ao incluir os componentes<br />

da renda <strong>de</strong>sagregada na regressão espera-se que estejam sen<strong>do</strong> capta<strong>do</strong>s<br />

não só o efeito <strong>do</strong> nível da renda <strong>do</strong> trabalho per capita e das transferências<br />

per capita, mas também o efeito das participações relativas <strong>de</strong>stes<br />

componentes na renda. (ii) Como foi visto no mapa apresenta<strong>do</strong> anteriormente,<br />

se espera que o coeficiente da variável distância seja positivo e<br />

estatisticamente significante, pois quanto maior a distância <strong>em</strong> relação à<br />

Fortaleza, maior <strong>de</strong>ve ser a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>; (iii) o sinal <strong>do</strong> coeficiente da outra<br />

variável <strong>de</strong> controle, H, que representa a média <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> das<br />

pessoas <strong>de</strong> 25 anos ou mais <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> ter sinal positivo ou negativo,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento regional. 7<br />

A especificação proposta <strong>em</strong> (3) é um refinamento da especificação<br />

(1). O objetivo é segregar o efeito da renda per capita <strong>em</strong> efeitos atribuí<strong>do</strong>s<br />

à renda <strong>do</strong> trabalho, representa<strong>do</strong>s pelos coeficientes β e β , e às trans-<br />

1 3<br />

ferências realizadas pelo governo, representa<strong>do</strong>s pelos coeficientes β e 2<br />

β . O coeficiente associa<strong>do</strong> ao efeito cruza<strong>do</strong> <strong>de</strong>stas duas variáveis, β ,<br />

5 4<br />

não t<strong>em</strong> muita rationale econômica e entra aqui como controle. Por fim,<br />

exist<strong>em</strong> também duas variáveis <strong>de</strong> controle: localização e uma proxy para<br />

capital humano, sen<strong>do</strong> seus efeitos representa<strong>do</strong>s respectivamente pelos<br />

6<br />

O formato <strong>de</strong> U inverti<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> esta análise, requer agora que a matriz hessiana da função <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

seja negativa s<strong>em</strong>i-<strong>de</strong>finida.<br />

7<br />

Também é <strong>de</strong> se esperar que a relação entre <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e o próprio capital humano surtam um efeito tal<br />

qual o da renda per capita, ou seja, é <strong>de</strong> se esperar que seu efeito seja positivo quan<strong>do</strong> os municípios sejam<br />

menos <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s e posteriormente negativo, conforme os mesmos vão se <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong>; entretanto<br />

existe alguma controvérsia na literatura - Ver Tang e Lim (2006).<br />

254


coeficientes α 1 e α 2 .<br />

Renda <strong>do</strong> Trabalho, Renda <strong>de</strong> Transferências e Desigualda<strong>de</strong>:<br />

Uma Nova Proposta <strong>de</strong> Investigação Empírica da Curva <strong>de</strong> Kuznets para o <strong>Ceará</strong><br />

Observa-se também que o teste clássico proposto por Ahluwalia<br />

(1976) não é excluí<strong>do</strong> da análise, pois se os coeficientes β e β fo-<br />

1 2<br />

r<strong>em</strong> positivos e estatisticamente significantes e os coeficientes β e β 3 5<br />

for<strong>em</strong> negativos e estatisticamente significantes, então haveria duas<br />

funções côncavas <strong>em</strong> seus argumentos, fato que finda por uma análise<br />

s<strong>em</strong>elhante à exposta no gráfico 2.<br />

Nota-se, ainda, que o teste <strong>em</strong>pírico aqui proposto é mais abrangente<br />

que o teste clássico. Se a regra <strong>de</strong> política <strong>do</strong> governo for baseada<br />

na redução das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, então a estimativa <strong>do</strong> coeficiente relaciona<strong>do</strong><br />

às transferências <strong>de</strong>veria relatar um valor negativo para β ; 2<br />

se isto ocorrer e se, <strong>em</strong> conjunto, for obti<strong>do</strong> um valor positivo para o<br />

coeficiente β , então o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> seria <strong>de</strong>crescente nas<br />

5<br />

transferências, e a uma taxa crescente. Por conseguinte, qualquer política<br />

pública que ampliasse as transferências per capita traria resulta<strong>do</strong>s<br />

eficazes no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> redução das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s. Se o mesmo ocorrer<br />

para os coeficientes relaciona<strong>do</strong>s à renda <strong>do</strong> trabalho, ou seja, β < 0 1<br />

e β > 0, então políticas públicas focadas na elevação da renda <strong>do</strong> trabalho<br />

3<br />

também surtiriam bons resulta<strong>do</strong>s, contribuin<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta forma para o crescimento<br />

econômico e para a redução das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s.<br />

2.4 Regressão Quantílica<br />

Atualmente a estimação <strong>de</strong> regressões condicionadas à mediana ou à<br />

quantis v<strong>em</strong> ganhan<strong>do</strong> espaço na literatura. Esta classe <strong>de</strong> regressões não<br />

lineares é muito b<strong>em</strong> discutida <strong>em</strong> Korenker (2005) e a aplicação da mesma<br />

<strong>em</strong> análises <strong>em</strong>píricas da curva <strong>de</strong> Kuznets po<strong>de</strong> ser vista no trabalho<br />

<strong>de</strong> Huang et al (2007).<br />

Na regressão condicionada à mediana, ao contrário da regressão por<br />

MQO, os valores ajusta<strong>do</strong>s representam a mediana condicional da variável<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. A idéia por trás das estimativas com regressão <strong>de</strong>ste tipo se<br />

resume a um probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> programação linear <strong>de</strong> minimização da soma<br />

absoluta <strong>do</strong>s resíduos, daí o nome LAD, <strong>do</strong> inglês Least Absolute Deviations.<br />

A regressão quantílica é uma generalização da regressão condicionada<br />

à mediana. Neste caso, a predição da função <strong>de</strong> regressão é condi-<br />

255


Christiano Penna, Nicolino Trompieri, Fabrício Linhares<br />

cionada a um quantil, τ, da variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, por ex<strong>em</strong>plo, o primeiro<br />

quartil (τ = 0,25) ou ao nono <strong>de</strong>cil (τ = 0,90).<br />

Se as condições clássicas para a valida<strong>de</strong> das estimativas <strong>de</strong> MQO<br />

são satisfeitas, ou seja, se o termo <strong>de</strong> erro é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e i<strong>de</strong>nticamente<br />

distribuí<strong>do</strong> e condiciona<strong>do</strong> a X, então a regressão quantílica torna-se redundante,<br />

pois to<strong>do</strong>s os quantis condicionais da variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte irão<br />

se comportar <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a média condicional. Por outro la<strong>do</strong>, as estimativas<br />

<strong>de</strong> MQO pod<strong>em</strong> ser <strong>de</strong>puradas caso os quantis condicionais se<br />

comport<strong>em</strong> <strong>de</strong> forma muito distinta à da média condicional.<br />

Formalmente, o procedimento <strong>de</strong> estimação <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> regressão<br />

assume que a variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, no caso o índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Gini utiliza<strong>do</strong> na equação (1), d, seja uma variável aleatória com função<br />

<strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> tal que F(d) = Prob (D ≤ d). Deste mo<strong>do</strong>,<br />

para 0 < τ < 1, o τ-ésimo quantil <strong>de</strong> D po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como o menor d<br />

que satisfaça F(d) ≥ τ, ou seja, Q (τ) = inf {d : F(d) ≥ τ}.<br />

Assim sen<strong>do</strong>, da<strong>do</strong> um conjunto <strong>de</strong> n observações <strong>em</strong> D, a função <strong>de</strong><br />

distribuição <strong>em</strong>pírica <strong>de</strong> d <strong>de</strong>ve ser dada por:<br />

(4)<br />

on<strong>de</strong> l (z) é uma função indica<strong>do</strong>ra que toma o valor <strong>de</strong> 1 caso o argumento<br />

z seja verda<strong>de</strong>iro e 0 caso contrário. Nestes termos, o quantil <strong>em</strong>pírico<br />

associa<strong>do</strong> a esta distribuição será da<strong>do</strong> por:<br />

(5)<br />

A equação (10) se resume ao seguinte probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> otimização:<br />

on<strong>de</strong> ρ (u) = u (τ ─ 1 (u < 0)) é conhecida como função check e que<br />

τ<br />

valora pesos positivos e negativos assimetricamente.<br />

A regressão quantílica esten<strong>de</strong> esta formulação <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a permitir<br />

regressores X. Assume-se uma especificação linear para o quantil condicional<br />

da variável D, da<strong>do</strong>s valores para um p-vetor <strong>de</strong> variáveis explanatórias<br />

X, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que:<br />

Q(τ | X' β (τ)) = X' β(τ) (7)<br />

i i<br />

256<br />

(6)


Renda <strong>do</strong> Trabalho, Renda <strong>de</strong> Transferências e Desigualda<strong>de</strong>:<br />

Uma Nova Proposta <strong>de</strong> Investigação Empírica da Curva <strong>de</strong> Kuznets para o <strong>Ceará</strong><br />

on<strong>de</strong> β( τ ) é o vetor <strong>de</strong> coeficientes associa<strong>do</strong> ao τ -ésimo quantil.<br />

Assim sen<strong>do</strong>, o estima<strong>do</strong>r condiciona<strong>do</strong> ao quantil po<strong>de</strong> ser encontra<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> maneira similar ao probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> otimização <strong>de</strong>scrito <strong>em</strong> (11), ou<br />

seja, será da<strong>do</strong> por:<br />

A vantag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ste méto<strong>do</strong> é a sua robustez à presença <strong>de</strong> outliers e a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se testar a hipótese <strong>de</strong> Kuznets condicionada a diferentes<br />

quantis da função <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>.<br />

3. EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS<br />

3.1 Da<strong>do</strong>s e Estimativas Condicionadas à Média<br />

Inicialmente são apresentadas as estatísticas <strong>de</strong>scritivas das variáveis<br />

utilizadas neste trabalho. As variáveis consolidam um pool <strong>de</strong> 184<br />

municípios cearenses abordan<strong>do</strong> os anos <strong>de</strong> 1991 e 2000. To<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s<br />

são facilmente encontra<strong>do</strong>s no Atlas <strong>do</strong> Desenvolvimento Humano<br />

no Brasil – PNUD. T<strong>em</strong>-se, portanto, 368 observações municipais das<br />

seguintes variáveis:<br />

D - Coeficiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gini;<br />

L - Distância, <strong>em</strong> km, à capital;<br />

H - Média <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> das pessoas <strong>de</strong> 25 anos ou mais <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>;<br />

T - Percentual da renda proveniente <strong>de</strong> transferências governamentais<br />

vezes a Renda per capita;<br />

W - Percentual da renda proveniente <strong>de</strong> rendimentos <strong>do</strong> trabalho vezes<br />

a Renda per capita;<br />

Y - Renda per capita.<br />

(8)<br />

257


Christiano Penna, Nicolino Trompieri, Fabrício Linhares<br />

258<br />

Tabela 1 - Estatísticas Descritivas<br />

D L H T W Y<br />

Média 0.561359 219.8254 2.389429 12.80418 46.85979 70.63038<br />

Mediana 0.56 223.1064 2.27 12.07069 43.07896 65.405<br />

Máximo 0.72 460.7219 6.91 44.50217 216.6222 306.7<br />

Mínimo 0.41 0 0.65 3.003876 16.16704 27.66<br />

Desv. Pad. 0.064844 115.0986 0.856402 6.747996 20.38157 27.28193<br />

Skewness -0.04462 0.102112 1.119247 0.812284 3.037894 2.874288<br />

Kurtosis 2.430392 2.119863 5.752544 3.568865 22.39341 21.01664<br />

Jarque-Bera 5.097077 12.51735 193.006 45.43002 6332.964 5483.899<br />

Probabilida<strong>de</strong> 0.078196 0.001914 0 0 0 0<br />

Fonte: Elaboração <strong>do</strong>s autores.<br />

A seguir são apresentadas as estimativas <strong>de</strong> MQO da equação (1)<br />

adicionan<strong>do</strong>-se as variáveis distância <strong>em</strong> relação à capital e a média <strong>de</strong><br />

anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> das pessoas <strong>de</strong> 25 anos ou mais <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> como variáveis <strong>de</strong><br />

controle, assim como as estimativas <strong>de</strong> MQO da equação com <strong>de</strong>composição<br />

vetorial da renda.<br />

Tabela 2 - Estimativas Da Equação (1)<br />

Pooled cross-section – MQO<br />

Variável Coeficiente Desv. Pad Statistica t<br />

C 0.400638* 0.015122 26.49301<br />

L 0.000216* 0.0000253 8.52313<br />

H 0.024364* 0.006867 3.548049<br />

Y 0.001009* 0.000372 2.712013<br />

Y 2 -2.82E-06** 1.17E-06 -2.423031<br />

Fonte: Elaboração <strong>do</strong>s autores.<br />

L = Localização; H = Capital Humano; Y = renda per capita<br />

* , ** e *** significam significância estatística aos níveis <strong>de</strong> 1% , 5% e 10%, respectivamente.<br />

= 0.301831


Renda <strong>do</strong> Trabalho, Renda <strong>de</strong> Transferências e Desigualda<strong>de</strong>:<br />

Uma Nova Proposta <strong>de</strong> Investigação Empírica da Curva <strong>de</strong> Kuznets para o <strong>Ceará</strong><br />

As estimativas por MQO da análise clássica da curva <strong>de</strong> Kuznets<br />

revelam que os coeficientes são estatisticamente significantes e possu<strong>em</strong><br />

os sinais requeri<strong>do</strong>s para validar a hipótese <strong>de</strong> U inverti<strong>do</strong>, ou seja,<br />

. Além disso, se constata que a localização t<strong>em</strong> como<br />

espera<strong>do</strong>, sinal positivo, ou seja, quanto mais distante da capital, maior parece<br />

ser a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda municipal. O termo constante sugere que<br />

o intercepto da curva <strong>de</strong> Kuznets parta <strong>de</strong> um coeficiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Gini <strong>de</strong> aproximadamente 0.4.<br />

Tabela 3 - Estimativas da Equação (3)<br />

Pooled cross-section – MQO<br />

Variável Coeficiente Desv. Pad statistica t<br />

C 0.444877* 0.014993 29.67236<br />

L 0.000162* 0.000023 7.039713<br />

H 0.009217 0.00591 1.559551<br />

W -0.001904* 0.000316 -6.032997<br />

T 0.014612* 0.001793 8.147816<br />

W 2<br />

1.28E-05* 3.65E-06 3.498882<br />

2WT -4.06E-06 0.0000136 -0.297582<br />

T 2<br />

-0.000320* 0.0000737 -4.34551<br />

= 0.490894<br />

Fonte: Elaboração <strong>do</strong>s autores.<br />

L = localização; H = capital humano; Y = renda per capita ; T= transferências <strong>do</strong> Governo; W= renda <strong>do</strong><br />

trabalho<br />

* , ** e *** significam significância estatística aos níveis <strong>de</strong> 1% , 5% e 10%, respectivamente.<br />

As estimativas <strong>de</strong> MQO da análise proposta também revelam que<br />

os coeficientes são estatisticamente significantes, com exceção <strong>do</strong> termo<br />

cruza<strong>do</strong> e <strong>do</strong> capital humano. Posto que a variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte é a mesma<br />

<strong>em</strong> ambas as análises, o R 2 ajusta<strong>do</strong> sugere que a segunda especificação<br />

está relativamente melhor ajustada. Da mesma forma constata-se que a<br />

259


Christiano Penna, Nicolino Trompieri, Fabrício Linhares<br />

localização também t<strong>em</strong> sinal positivo e estatisticamente significante.<br />

Para validar a hipótese <strong>do</strong> U inverti<strong>do</strong> é necessário que a matriz<br />

hessiana associada à equação estimada seja negativa <strong>de</strong>finida.<br />

Ao se analisar os sinais das variáveis percebe-se interessantes resulta<strong>do</strong>s:<br />

Para a proporção da renda <strong>do</strong> trabalho na renda t<strong>em</strong>-se 0, isto sugere que a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> é <strong>de</strong>crescente nesta variável e<br />

que a taxa <strong>de</strong> queda <strong>de</strong>sta variável é crescente, ou seja, quanto maior a<br />

participação da renda <strong>do</strong> trabalho na renda, menos concentrada <strong>de</strong>verá<br />

ser a renda <strong>do</strong> município. Com relação ao vetor <strong>de</strong> transferências t<strong>em</strong>-se<br />

>0 e


Renda <strong>do</strong> Trabalho, Renda <strong>de</strong> Transferências e Desigualda<strong>de</strong>:<br />

Uma Nova Proposta <strong>de</strong> Investigação Empírica da Curva <strong>de</strong> Kuznets para o <strong>Ceará</strong><br />

Observa-se, portanto, que o formato <strong>de</strong> U inverti<strong>do</strong> sugere que a<br />

matriz hessiana aten<strong>de</strong> às condições necessárias à análise e que o estu<strong>do</strong><br />

aqui proposto se aproxima bastante da análise clássica. Pouco <strong>do</strong> que<br />

se per<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve-se ao componente exógeno relaciona<strong>do</strong> à renda <strong>de</strong> aluguéis,<br />

à renda informal e a outros el<strong>em</strong>entos da renda que nos parec<strong>em</strong><br />

estar relativamente fora <strong>do</strong> alcance <strong>do</strong>s gestores <strong>de</strong> políticas. Entretanto,<br />

ao incorporar à análise a questão das transferências governamentais<br />

e da participação <strong>do</strong> trabalho na renda, muito se ganha <strong>em</strong> termos<br />

<strong>de</strong> instrumentos para formulação <strong>de</strong> políticas públicas.<br />

3.2 Estimativas da Regressão Quantílica<br />

A seguir são apresentadas as estimativas da equação (3) estimadas<br />

por MQO e por LAD. 9 Esta meto<strong>do</strong>logia permite um exame condiciona<strong>do</strong><br />

aos diferentes quantis da função <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e revela que<br />

a magnitu<strong>de</strong> e a significância estatística <strong>do</strong>s estima<strong>do</strong>res da regressão<br />

condicionada à mediana (τ = 0.5) pouco <strong>de</strong>stoam <strong>do</strong>s estima<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> mínimos quadra<strong>do</strong>s. Isto <strong>de</strong>corre <strong>do</strong> fato da distribuição <strong>do</strong> índice<br />

<strong>de</strong> Gini possuir média e mediana muito próximas, conforme se observou<br />

na tabela 1.<br />

Tabela 4 - Estimativas Da Equação (3)<br />

Pooled cross-section – MQO e LAD<br />

MQO REGRESSÃO QUANTÍLICA (LAD)<br />

Coeficiente Estimativas 0.10 0.25 0.50 0.75 0.90<br />

C 0.444877* 0.371768* 0.386389* 0.453575* 0.482212* 0.501927*<br />

L 0.000162* 0.000153* 0.000183* 0.000167* 0.000166* 0.000157*<br />

H 0.009217 0.003213 0.016492* 0.015326** 0.002734 -0.0126<br />

W -0.001904* -0.00124 -0.00157** -0.00201* -0.00212* -0.00166*<br />

T 0.014612* 0.014698** 0.014283* 0.01215* 0.016499* 0.019117*<br />

W 2 1.28E-05* 7.49E-06 8.45E-06** 1.56E-05** 9.74E-06 0.00001<br />

T 2 -0.000320* -0.00033 -0.00032* -0.00023* -0.00042* -0.00044*<br />

Fonte: Elaboração <strong>do</strong>s autores.<br />

L = localização; H = capital humano; Y = renda per capita ; T= transferências <strong>do</strong> Governo; W= renda <strong>do</strong><br />

trabalho<br />

* , ** e *** significam significância estatística aos níveis <strong>de</strong> 1% , 5% e 10%, respectivamente. OBS: As estimativas<br />

associadas ao termo cruza<strong>do</strong> foram suprimidas da análise propositalmente.<br />

9<br />

Posto o reduzi<strong>do</strong> tamanho amostral, neste trabalho utilizamos intervalos <strong>de</strong> confiança <strong>de</strong> bootstrap (1000<br />

replicações) para todas as regressões por LAD.<br />

261


Christiano Penna, Nicolino Trompieri, Fabrício Linhares<br />

As estimativas relatam que, assim como no méto<strong>do</strong> <strong>do</strong>s mínimos<br />

quadra<strong>do</strong>s, to<strong>do</strong>s os coeficientes são estatisticamente significantes, tanto<br />

para a regressão condicionada à mediana, quanto para o segun<strong>do</strong> quantil,<br />

ou seja, para os municípios com renda relativamente menos concentrada. 10<br />

A variável localização possui o sinal espera<strong>do</strong> e o efeito <strong>do</strong> capital humano<br />

parece ser <strong>de</strong>crescente nos quantis da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição, ou seja,<br />

quanto mais <strong>de</strong>siguais for<strong>em</strong> os municípios, menor parece ser um possível<br />

efeito “perverso” da acumulação <strong>de</strong> capital humano no processo <strong>de</strong> concentração<br />

<strong>de</strong> renda.<br />

As estimativas suger<strong>em</strong> que o efeito da participação da renda <strong>do</strong><br />

trabalho no coeficiente <strong>de</strong> Gini é negativo e estatisticamente significante<br />

a partir <strong>de</strong> τ = 0.25, <strong>em</strong>bora o coeficiente relaciona<strong>do</strong> a esta variável ao<br />

quadra<strong>do</strong>, , seja estatisticamente significante somente para a mediana<br />

e para o segun<strong>do</strong> quantil. Os coeficientes relaciona<strong>do</strong>s às transferências<br />

governamentais, por sua vez, são estatisticamente significantes, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

<strong>do</strong> quantil <strong>em</strong> questão, e possu<strong>em</strong> termo quadrático negativo e estatisticamente<br />

significante a partir <strong>de</strong> τ = 0.25.<br />

Tais estimativas revelam que <strong>em</strong> municípios on<strong>de</strong> a renda já é pouco<br />

concentrada, τ = 0.10, as transferências têm um papel extr<strong>em</strong>amente<br />

ineficiente e, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos coeficientes estatisticamente insignificantes,<br />

po<strong>de</strong>-se afirmar que a valida<strong>de</strong> da hipótese <strong>de</strong> Kuznets é refutada para<br />

municípios nesta condição. Este resulta<strong>do</strong> já era espera<strong>do</strong>, pois a transferência<br />

<strong>de</strong> renda só contribui para a redução das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s caso<br />

ela exista. Em municípios com renda relativamente pouco concentrada,<br />

τ = (0.25 ; 0.50), as transferências pod<strong>em</strong> ampliar a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, entretanto,<br />

conforme o <strong>de</strong>senvolvimento for acontecen<strong>do</strong>, este fenômeno<br />

ten<strong>de</strong> a se reverter. Para este mesmo estrato, os resulta<strong>do</strong>s suger<strong>em</strong><br />

que a participação da renda <strong>do</strong> trabalho possui caráter extr<strong>em</strong>amente<br />

positivo. Para municípios com concentração <strong>de</strong> renda relativamente alta<br />

τ = (0.25 ; 0.50) as estatísticas mostram que o índice <strong>de</strong> Gini permanece<br />

côncavo nas transferências e que a participação da renda <strong>do</strong> trabalho gera<br />

influencia positiva para a redução da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>.<br />

Nota-se que a hipótese <strong>de</strong> Kuznets também é validada para to<strong>do</strong>s<br />

os quantis com exceção <strong>do</strong> primeiro; isto <strong>de</strong>corre <strong>do</strong> fato <strong>de</strong> se<br />

ter . As curvas estimadas são apresentadas<br />

no gráfico 2, a seguir, on<strong>de</strong> o traceja<strong>do</strong> mais forte refere-se àquelas<br />

10 Este resulta<strong>do</strong> está <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a evidência internacional apontada por Huang et al (2007).<br />

262


Renda <strong>do</strong> Trabalho, Renda <strong>de</strong> Transferências e Desigualda<strong>de</strong>:<br />

Uma Nova Proposta <strong>de</strong> Investigação Empírica da Curva <strong>de</strong> Kuznets para o <strong>Ceará</strong><br />

cujos os coeficientes são, <strong>em</strong> sua totalida<strong>de</strong>, estatisticamente significantes.<br />

Gráfico 7 - Curva <strong>de</strong> Kuznets para diferentes quantis<br />

Fonte: Elaboração <strong>do</strong>s autores.<br />

Se tratan<strong>do</strong> das curvas condicionadas à média, à mediana e ao<br />

primeiro quartil, observa-se que os “turning points” requer<strong>em</strong> níveis<br />

<strong>de</strong> renda cada vez mais eleva<strong>do</strong>s, dada a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>,<br />

para que o efeito <strong>do</strong> crescimento passe a contribuir <strong>de</strong> maneira positiva<br />

para a redução das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s. Municípios com <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

inferior a mediana (τ = 0.25) parec<strong>em</strong> necessitar <strong>de</strong> pouco menos <strong>do</strong><br />

que uma renda per capita <strong>de</strong> R$ 200,00 para que a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> passe<br />

a <strong>de</strong>clinar. Já a renda necessária para reversão da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>em</strong><br />

municípios com <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> mediana (τ = 0.50) parece ser próxima<br />

<strong>de</strong> R$ 300,00. Levan<strong>do</strong>-se <strong>em</strong> conta a média, as estimativas <strong>de</strong> MQO suger<strong>em</strong><br />

que este valor <strong>de</strong>ve estar entre R$ 200 e R$ 250,00.<br />

4. CONCLUSõES<br />

Conforme se relatou, os anos 90 foram marca<strong>do</strong>s por uma mudança<br />

significativa na composição da renda <strong>do</strong>s municípios cearenses. A proporção<br />

das transferências governamentais na renda se ampliou e a proporção<br />

da renda <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong>clinou consi<strong>de</strong>ravelmente. Era <strong>de</strong> se esperar<br />

que esta mudança reduzisse as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, entretanto, o índice <strong>de</strong> Gini<br />

apresentou um pior <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho para quase to<strong>do</strong>s os municípios <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>,<br />

revelan<strong>do</strong> que o processo <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> renda se agravou para o<br />

esta<strong>do</strong> como um to<strong>do</strong>.<br />

263


Christiano Penna, Nicolino Trompieri, Fabrício Linhares<br />

Este fato nos motivou a esten<strong>de</strong>r a análise <strong>em</strong>pírica da curva <strong>de</strong> Kuznets<br />

através <strong>do</strong> que chamamos aqui <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição vetorial da renda.<br />

Através <strong>de</strong>sta análise foi possível investigar quais os efeitos da renda <strong>do</strong><br />

trabalho e das transferências governamentais no processo <strong>de</strong> crescimento<br />

econômico vis à vis concentração <strong>de</strong> renda.<br />

Nossos resulta<strong>do</strong>s suger<strong>em</strong> que a hipótese <strong>de</strong> Kuznets é valida para<br />

o <strong>Ceará</strong>, a não ser para municípios on<strong>de</strong> a renda já é pouco concentrada.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s suger<strong>em</strong> também que a redução das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ve se<br />

mais eficiente se o crescimento econômico ocorrer através da geração <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>prego e renda <strong>do</strong> que se o mesmo for ocasiona<strong>do</strong> pelo aumento das<br />

transferências governamentais. Deste mo<strong>do</strong>, a análise trás evidências, não<br />

só <strong>de</strong> que o crescimento econômico <strong>de</strong> longo prazo <strong>do</strong>s municípios ten<strong>de</strong><br />

a reduzir as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, mas também <strong>de</strong> que as políticas públicas a ser<strong>em</strong><br />

impl<strong>em</strong>entadas com este propósito <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser focadas no aumento da<br />

participação da renda <strong>do</strong> trabalho.<br />

A utilização da regressão quantílica agrega robustez aos resulta<strong>do</strong>s<br />

e permite a visualização <strong>de</strong> propostas <strong>de</strong> políticas públicas focadas <strong>em</strong><br />

municípios pertencentes a diferentes quantis da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição<br />

<strong>do</strong> índice <strong>de</strong> Gini. Esta técnica também sugere que os efeitos da renda <strong>do</strong><br />

trabalho e das transferências na relação crescimento – iniqüida<strong>de</strong> se dá <strong>de</strong><br />

forma diferenciada, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda existente <strong>em</strong><br />

cada município.<br />

Esta é uma proposta <strong>de</strong> investigação <strong>em</strong>pírica inicial e vários esforços<br />

pod<strong>em</strong> ser feitos no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> se aprimorar a análise. Trabalhos<br />

futuros pod<strong>em</strong> averiguar se os resulta<strong>do</strong>s são robustos a outras formas<br />

funcionais, a especificações envolven<strong>do</strong> efeitos fixos e a outros índices <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, por ex<strong>em</strong>plo.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

Ahluwalia, Montek S. (1976) “Income Distribution and Development:<br />

Some Stylized Facts” The American Economic Review, Vol. 66, No. 2,<br />

Papers and Proceedings of the Eighty-eighth Annual Meeting of the American<br />

Economic Association (May, 1976), pp. 128-135.<br />

Arnand, S. e Kambur, S. M. R. (1993) “Inequality and <strong>de</strong>velopment: a critique.”<br />

Journal of Development Economics. V. 41, p.19-43, 1993<br />

264


Renda <strong>do</strong> Trabalho, Renda <strong>de</strong> Transferências e Desigualda<strong>de</strong>:<br />

Uma Nova Proposta <strong>de</strong> Investigação Empírica da Curva <strong>de</strong> Kuznets para o <strong>Ceará</strong><br />

Atlas <strong>do</strong> Desenvolvimento Humano no brasil. 2003. Fundação João Pinheiro<br />

(FJP-MG).<br />

Bagolin, I. P; Gabe, J. & Pontual, R. E. (2003) “crescimento e Desigualda<strong>de</strong><br />

no rio gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> sul: uma revisão da curva <strong>de</strong> Kuznets para os<br />

municípios gaúchos (1970-1991)” . Mimeo. Porto Alegre: UFRGS, 2003.<br />

Barro, R. J. (1999) “Inequality and Growyh in a Panel os Countries”.<br />

Harvard University. 1999.<br />

Berni, D. A.; Marquetti, A. & Kloeckmer, R. “A Desigualda<strong>de</strong> Econômica<br />

<strong>do</strong> rio gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> sul. Primeiras investigações sobre a curva <strong>de</strong><br />

Kuznets”. Anais <strong>do</strong> 1º Encontro <strong>de</strong> <strong>Economia</strong> Gaúcha. Porto Alegre: 2002.<br />

Fields, G. S. e Jakubson, G. H. (1994). “New evi<strong>de</strong>nce on the Kuznets<br />

curve”. (Mimeo). Cornell University.<br />

(River) Huang, Ho-Chuan & Lin, Shu-Chin & Suen, Yu-Bo & Yeh, Chih-<br />

Chuan. (2007). “A quantile inference of the Kuznets hypothesis,” Economic<br />

mo<strong>de</strong>lling, Elsevier, vol. 24(4), pages 559-570, July.<br />

Jacinto, P. A; Tejada, C. A. O. (2004) “Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda e crescimento<br />

econômico nos municípios da região nor<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Brasil: o que os<br />

da<strong>do</strong>s têm a dizer?” In: Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Economia</strong> da ANPEC. 32.,<br />

2004, João Pessoa, PB. Anais. Belo Horizonte: ANPEC, 2004. (Disponível<br />

<strong>em</strong> CD-ROM).<br />

Koenker, Roger. Quantile regression, Cambridge University Press (May<br />

9, 2005).<br />

Mushinski, David W. (2001). “Using Non-parametrics to Inform Parametric<br />

Tests of Kuznets’ Hypothesis,” Applied Economics Letters, Taylor<br />

and Francis Journals, vol. 8(2), pages 77-79, February.<br />

Salvato, M. A.; Alvarenga, P. S.; França, C. S.; Araújo Jr, A. F. (2006).<br />

”crescimento e Desigualda<strong>de</strong>: evidências da curva <strong>de</strong> Kuznets para os<br />

municípios <strong>de</strong> Minas Gerais – 1991/2000”. Ibmec MG Working Paper.<br />

WP33, 2006.<br />

K.K.Tang & Lim, A. S. K, . “Education Inequality, Human Capital Inequality<br />

and the Kuznets Curve,” MRG Discussion Paper Series 0506,<br />

School of Economics, University of Queensland, Australia.<br />

265


RESUMO<br />

266<br />

UMA ANÁLISE DA POBREZA<br />

NO CEARÁ<br />

COM BASE EM DIFERENTES LINHAS<br />

DE MENSURAÇÃO *<br />

André Oliveira Ferreira Loureiro *<br />

Daniel Cirilo Suliano **<br />

Jimmy Lima <strong>de</strong> Oliveira ***<br />

O presente trabalho apresenta uma breve discussão das principais<br />

linhas <strong>de</strong> pobreza utilizadas no cálculo das taxas <strong>de</strong> pobreza e extr<strong>em</strong>a<br />

pobreza, buscan<strong>do</strong>, entre outras coisas, uma melhor compreensão das diferentes<br />

meto<strong>do</strong>logias <strong>de</strong> mensuração da pobreza, além <strong>de</strong> investigar as<br />

implicações da utilização <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las no <strong>Ceará</strong> e no Brasil. São<br />

<strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s os conceitos <strong>de</strong> pobreza e indigência com base na literatura da<br />

área, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> as principais abordagens utilizadas na <strong>de</strong>terminação das<br />

linhas <strong>de</strong> pobreza. A literatura da área é unânime <strong>em</strong> afirmar que as linhas<br />

<strong>de</strong> pobreza baseadas <strong>em</strong> cestas <strong>de</strong> consumo são as mais a<strong>de</strong>quadas para<br />

caracterizar a pobreza nas regiões brasileiras. Além disto, são analisadas<br />

as taxas <strong>de</strong> pobreza e indigência para o Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> nos últimos anos,<br />

quan<strong>do</strong> se utiliza as diferentes linhas <strong>de</strong> pobreza. Verifica-se que os aumentos<br />

reais sist<strong>em</strong>áticos no salário mínimo no Brasil nos últimos anos<br />

implicam <strong>em</strong> linhas <strong>de</strong> pobreza e indigência crescentes ao longo <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po,<br />

geran<strong>do</strong> consequências importantes nas taxas <strong>de</strong> pobreza quan<strong>do</strong> se utiliza<br />

o critério <strong>de</strong> frações <strong>do</strong> salário mínimo. Observa-se ainda que as taxas<br />

<strong>de</strong> pobreza e indigência calculadas com base na meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> frações<br />

<strong>do</strong> salário mínimo são sist<strong>em</strong>aticamente maiores <strong>do</strong>s que as taxas obtidas<br />

pelo méto<strong>do</strong> fundamenta<strong>do</strong> <strong>em</strong> cestas <strong>de</strong> consumo.<br />

Palavras Chave: Linhas <strong>de</strong> Pobreza, Meto<strong>do</strong>logias, <strong>Ceará</strong>.<br />

....................................................<br />

* Os autores agra<strong>de</strong>c<strong>em</strong> a Alexsandre Lira pelas tabulações <strong>do</strong> da<strong>do</strong>s.<br />

** Analista – <strong>IPECE</strong>/SEPLAG. Doutoran<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>Economia</strong> – University of Edinburgh.<br />

*** Analista – <strong>IPECE</strong>. Mestre <strong>em</strong> <strong>Economia</strong> (CAEN/UFC).<br />

**** Analista – <strong>IPECE</strong>. Doutoran<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>Economia</strong> (CAEN/UFC).


AbstrAct<br />

Uma Análise da Pobreza no <strong>Ceará</strong> com Base <strong>em</strong> Diferentes Linhas <strong>de</strong> Mensuração<br />

This paper presents a brief discussion of the main poverty lines used<br />

in the estimation of poverty and extr<strong>em</strong>e poverty, seeking, among other<br />

things, a better un<strong>de</strong>rstanding of different metho<strong>do</strong>logies for measuring<br />

poverty in <strong>Ceará</strong> and Brazil. It is <strong>de</strong>fined the concepts of poverty and<br />

extr<strong>em</strong>e poverty based on the literature of the area, highlighting the main<br />

approaches used in <strong>de</strong>termining the poverty lines. The literature of the<br />

area is unanimous in saying that the poverty lines based on consumption<br />

baskets are the most appropriate to characterize poverty in Brazilian regions.<br />

In addition, we analyzed the rates of poverty for the state of <strong>Ceará</strong><br />

in recent years, when using different poverty lines. It se<strong>em</strong>s that the syst<strong>em</strong>atic<br />

real increases in the minimum wage in Brazil in recent years imply<br />

poverty lines increasing over time, creating a significant impact on poverty<br />

rates when using the criterion of fractions of the minimum wage. It was<br />

also observed that the rates of poverty and extr<strong>em</strong>e poverty calculated on<br />

metho<strong>do</strong>logy of fractions of the minimum wage are syst<strong>em</strong>atically higher<br />

than the rates obtained by the method based on baskets of consumption.<br />

Keywords: Poverty Lines, Metho<strong>do</strong>logies, <strong>Ceará</strong>.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

A pobreza no Brasil, principalmente na região Nor<strong>de</strong>ste, s<strong>em</strong>pre foi<br />

uma questão fundamental <strong>de</strong>ntro das discussões sobre políticas sociais,<br />

que t<strong>em</strong> se <strong>de</strong>staca<strong>do</strong> ainda mais <strong>em</strong> um contexto <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> transferências<br />

condicionais <strong>de</strong> renda. O conceito <strong>de</strong> Pobreza se baseia na proporção<br />

<strong>de</strong> pessoas abaixo <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> nível <strong>de</strong> renda, que a literatura<br />

da área <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> linha <strong>de</strong> pobreza. Apesar da importância da mensuração<br />

da proporção <strong>de</strong> pobres, no que tange ao <strong>de</strong>lineamento <strong>de</strong> políticas<br />

públicas para combatê-la, não existe um consenso quanto à <strong>de</strong>finição da<br />

linha <strong>de</strong> pobreza para o Brasil.<br />

De fato, as meto<strong>do</strong>logias <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição das linhas <strong>de</strong> pobreza e extr<strong>em</strong>a<br />

pobreza variam entre as instituições que as calculam, não existin<strong>do</strong>,<br />

assim, uma linha <strong>de</strong> pobreza oficial para o Brasil. 1<br />

Da experiência internacional, algo que se tornou consensual foi o<br />

1<br />

Em países como EUA e Reino Uni<strong>do</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, existe uma legislação específica estabelecen<strong>do</strong> as linhas<br />

<strong>de</strong> pobreza oficiais <strong>de</strong> cada país.<br />

267


André Oliveira Ferreira Loureiro, Daniel Cirilo Suliano, Jimmy Lima <strong>de</strong> Oliveira<br />

conceito <strong>de</strong> pobreza <strong>em</strong> seu caráter absoluto <strong>em</strong> conseqüência <strong>de</strong> nosso<br />

grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. No caso, o objetivo é procurar <strong>de</strong>finir uma cesta<br />

que atenda as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alimentação, vestuário, habitação, etc. Diferent<strong>em</strong>ente,<br />

<strong>em</strong> países mais <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s, on<strong>de</strong> o conceito <strong>de</strong> pobreza se<br />

afasta das condições <strong>de</strong> atendimento mínimo necessário para sobrevivência,<br />

a conceituação <strong>de</strong> pobre e não pobre toma o caráter relativo com base<br />

nas distribuições <strong>de</strong> rendimento.<br />

As <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> pobreza <strong>em</strong> geral utilizadas <strong>em</strong> estu<strong>do</strong>s nacionais<br />

e internacionais se baseiam na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adquirir produtos e<br />

serviços e <strong>de</strong>sses cálculos se <strong>de</strong>riva a linha <strong>de</strong> pobreza. O Banco Mundial<br />

tornou popular a noção <strong>de</strong> linha <strong>de</strong> pobreza para qu<strong>em</strong> ganham menos<br />

<strong>de</strong> U$1,00/dia. No Brasil, é comum a utilização da linha da pobreza<br />

<strong>de</strong> ½ salário mínimo por mês <strong>de</strong> renda per capita como medida <strong>de</strong> pobreza,<br />

ou, ainda, ten<strong>do</strong> como base uma cesta mínima <strong>de</strong> consumo.<br />

O conceito <strong>de</strong> pobreza, porém, é b<strong>em</strong> mais amplo, pois não se limita<br />

à renda e sim à privação <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s básicas, como ressalta Sen (1999).<br />

Apesar disso, a utilização da renda continua sen<strong>do</strong> fundamental na mensuração<br />

da pobreza já que a insuficiência <strong>de</strong>sta leva a uma limitação na<br />

obtenção <strong>de</strong>ssas capacida<strong>de</strong>s. 2<br />

Todavia, <strong>em</strong> países on<strong>de</strong> o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento é s<strong>em</strong>elhante ao<br />

<strong>do</strong> Brasil, on<strong>de</strong> as socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> consumo já estão b<strong>em</strong> caracterizadas, tomar<br />

a renda como proxy <strong>de</strong> medida <strong>de</strong> b<strong>em</strong>-estar das pessoas é um critério<br />

já aceito, pelo menos no que tange ao consumo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma estrutura<br />

privada.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, alguns pontos <strong>em</strong> comuns foram consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s para<br />

a mensurabilida<strong>de</strong> da pobreza no Brasil. Em primeiro lugar, é fato que a<br />

renda representa o <strong>de</strong>limita<strong>do</strong>r básico para o estabelecimento <strong>de</strong> um limiar<br />

entre pobres e não pobres (ou, ainda, entre indigentes e não indigentes,<br />

caso o critério seja a linha <strong>de</strong> indigência). Em segun<strong>do</strong> lugar, é preciso<br />

estabelecer um parâmetro básico que <strong>de</strong>fina a linha <strong>de</strong> pobreza (linha <strong>de</strong><br />

indigência), no qual resultaria <strong>em</strong> <strong>do</strong>is subprodutos: um valor <strong>de</strong> corte que<br />

estabeleça as linhas <strong>de</strong> pobreza ou indigência, como, por ex<strong>em</strong>plo, uma<br />

fração <strong>do</strong> salário mínimo, consumo mínimo observa<strong>do</strong> para sobrevivên-<br />

2 Como afirmam Costa (2002) e Carvalho (<strong>2009</strong>).<br />

268


Uma Análise da Pobreza no <strong>Ceará</strong> com Base <strong>em</strong> Diferentes Linhas <strong>de</strong> Mensuração<br />

cia, um dólar por dia, etc. e, ainda, uma variável <strong>de</strong> renda que caracterize<br />

a renda da família, na medida <strong>em</strong> que o conceito <strong>de</strong> pobreza não é caracteriza<strong>do</strong><br />

a renda pessoal, e sim ao conceito <strong>do</strong>miciliar.<br />

Diante disso, o presente trabalho busca esclarecer aspectos <strong>do</strong>s<br />

principais critérios <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> pobreza utiliza<strong>do</strong>s no<br />

Brasil ten<strong>do</strong> como referência o <strong>Ceará</strong>, Esta<strong>do</strong> este bastante representativo<br />

<strong>de</strong> uma região brasileira historicamente pobre. Dan<strong>do</strong> prosseguimento,<br />

a seção seguinte t<strong>em</strong> como objetivo <strong>de</strong>finir <strong>de</strong> uma maneira mais<br />

estrita o conceito <strong>de</strong> pobreza e linhas <strong>de</strong> pobreza. Na seqüência, é feita<br />

uma <strong>de</strong>finição das principais linhas <strong>de</strong> pobreza utilizadas no Brasil.<br />

Por fim, são apresentadas as evoluções das taxas <strong>de</strong> pobreza no <strong>Ceará</strong>,<br />

Região Nor<strong>de</strong>ste e Brasil, segun<strong>do</strong> os diferentes conceitos.<br />

2. DEFINIÇõES DE POBREZA, INDIGÊNCIA, LINHA DE<br />

POBREZA E DE INDIGÊNCIA<br />

No senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> estabelecer o conceito <strong>de</strong> pobreza, Sen (1976) observou<br />

que a sua construção requer a solução <strong>de</strong> <strong>do</strong>is probl<strong>em</strong>as: i) I<strong>de</strong>ntificar<br />

o conjunto <strong>de</strong> pessoas pobres; e ii) Agregar características <strong>do</strong> pobre <strong>em</strong> um<br />

indica<strong>do</strong>r (ou índice) <strong>de</strong> pobreza. O primeiro envolve a especificação <strong>de</strong><br />

uma linha <strong>de</strong> pobreza e o segun<strong>do</strong>, um índice <strong>de</strong> pobreza. 3<br />

Assim, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir concisamente o conceito <strong>de</strong> pobreza,<br />

indigência e as respectivas linhas, a figura 1 a seguir apresenta uma distribuição<br />

<strong>de</strong> renda hipotética, on<strong>de</strong> são fixadas as linhas <strong>de</strong> pobreza e <strong>de</strong><br />

indigência. Em geral, a distribuição das rendas <strong>de</strong> uma população possui<br />

um formato assimétrico, visto que a maior parte das pessoas possui rendimentos<br />

abaixo da média. 4<br />

3<br />

Após Sen (1976), diversos outros autores contribuíram <strong>de</strong> forma s<strong>em</strong>inal na literatura <strong>de</strong> pobreza, tais como<br />

Bourguignon (1979), Kakwani (1980) e Foster, Greer e Thorbecke (1984).<br />

4<br />

No Brasil, a distribuição <strong>de</strong> renda é extr<strong>em</strong>amente assimétrica, dada a gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> rendimentos,<br />

como apontam Barros, Henriques e Men<strong>do</strong>nça (2000) e Hoffmann (1998b).<br />

269


André Oliveira Ferreira Loureiro, Daniel Cirilo Suliano, Jimmy Lima <strong>de</strong> Oliveira<br />

Fonte: Elaboração <strong>do</strong>s autores.<br />

270<br />

Gráfico 1 - Representação Gráfica<br />

das Linhas <strong>de</strong> Pobreza e <strong>de</strong> Indigência<br />

Neste senti<strong>do</strong>, uma pessoa é consi<strong>de</strong>rada indigente se sua renda se<br />

encontra abaixo da linha <strong>de</strong> indigência (A). Se, no entanto, este indivíduo<br />

se situa abaixo da linha <strong>de</strong> pobreza, ele é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> pobre (A+B).<br />

Desta forma, t<strong>em</strong>os que:<br />

Indigentes: A<br />

Pobres: A + B<br />

Taxa <strong>de</strong> Indigência:<br />

Taxa <strong>de</strong> Pobreza:<br />

No Brasil, o conceito <strong>de</strong> pobreza é, <strong>em</strong> geral, fundamenta<strong>do</strong> nas<br />

condições <strong>de</strong> vida ina<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> baixos rendimentos. 5 A partir<br />

<strong>de</strong>sta dimensão é possível <strong>de</strong>finir a linha <strong>de</strong> indigência e a linha <strong>de</strong> pobreza.<br />

Neste contexto, surg<strong>em</strong> questões fundamentais relacionadas à a<strong>de</strong>quação<br />

da a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> pobreza no contexto <strong>do</strong> Brasil. Rocha<br />

(2001) argumenta <strong>em</strong> favor <strong>de</strong>sta a<strong>de</strong>quação com base <strong>em</strong> <strong>do</strong>is fatores.<br />

Primeiramente porque a economia brasileira é amplamente monetizada <strong>de</strong><br />

forma que a renda torna-se uma proxy a<strong>de</strong>quada no grau <strong>de</strong> mensuração<br />

5 Apesar <strong>de</strong> comumente usada a medida unidimensional no Brasil, existe uma crescente aplicação<br />

<strong>do</strong> caráter multiface da pobreza que, por sua vez, requer medidas multidimensionais<br />

(Variáveis econômicas, d<strong>em</strong>ográficas, sociais, etc.).


Uma Análise da Pobreza no <strong>Ceará</strong> com Base <strong>em</strong> Diferentes Linhas <strong>de</strong> Mensuração<br />

<strong>do</strong> b<strong>em</strong>-estar das famílias, pelo menos <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista <strong>do</strong> consumo no<br />

âmbito priva<strong>do</strong>. Além disto, a renda torna-se a<strong>de</strong>quada <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência<br />

<strong>de</strong> alguns fatores institucionais presentes <strong>em</strong> nossa economia. De fato,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1970, exist<strong>em</strong> informações disponíveis no que tange<br />

ao consumo, rendimentos e características socioeconômicas das famílias<br />

brasileiras. Em uma situação <strong>de</strong>ste tipo, é possível o estabelecimento <strong>de</strong> linhas<br />

<strong>de</strong> pobreza com base no consumo observa<strong>do</strong> ten<strong>do</strong> como subproduto<br />

a população pobre com algumas <strong>de</strong> suas principais características [Rocha<br />

(2001)].<br />

A linha <strong>de</strong> indigência consi<strong>de</strong>ra as pessoas que consegu<strong>em</strong> adquirir,<br />

com sua renda monetária, uma cesta <strong>de</strong> alimentos que contenha quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> calorias mínimas a sua sobrevivência. Essa linha estabelece um<br />

valor absoluto, ou seja, as pessoas abaixo <strong>de</strong>la são consi<strong>de</strong>radas indigentes<br />

ou extr<strong>em</strong>amente pobres. A linha <strong>de</strong> pobreza correspon<strong>de</strong> ao valor da<br />

linha <strong>de</strong> indigência acresci<strong>do</strong> <strong>de</strong> valor monetário correspon<strong>de</strong>nte a outras<br />

<strong>de</strong>spesas básicas, tais como vestuário, transporte e habitação. As pessoas<br />

com renda abaixo <strong>de</strong>ssa linha são consi<strong>de</strong>radas pobres. 6<br />

Vale <strong>de</strong>stacar, ainda, que da maneira como são construí<strong>do</strong>s estes<br />

conceitos, as pessoas consi<strong>de</strong>radas indigentes são um subconjunto das<br />

pessoas <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> pobreza, isto é, um indivíduo consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> indigente<br />

também é pobre.<br />

Conforme visto anteriormente, o conceito <strong>de</strong> pobreza basea<strong>do</strong> exclusivamente<br />

na renda monetária auferida pelas pessoas implica <strong>em</strong> distinguir<br />

a pobreza absoluta da pobreza relativa. Uma medida <strong>de</strong> pobreza<br />

absoluta, ao atribuir um valor monetário limiar entre pobres e não-pobres,<br />

po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida <strong>de</strong> uma única forma <strong>em</strong> qualquer lugar <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, por<br />

ser <strong>de</strong>terminada com base <strong>em</strong> valores monetários. Essa medida se ajusta<br />

aos países pobres e <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, porque nestes locais a questão<br />

da sobrevivência é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância. Já a pobreza relativa difere <strong>de</strong><br />

lugar para lugar e está ligada à exclusão social <strong>do</strong>s indivíduos <strong>em</strong> relação<br />

à socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>. 7<br />

6 Para uma discussão abrangente sobre as diferentes medidas <strong>de</strong> pobreza e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, ver<br />

Lettieri e Paes (2006), Hoffmann (1998b) e Ravallion (1994).<br />

7 O presente trabalho foca no conceito <strong>de</strong> pobreza absoluta. Para uma discussão sobre o conceito<br />

<strong>de</strong> pobreza relativa, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong> se <strong>de</strong>finir outras linhas <strong>de</strong> pobreza, como 50% da renda<br />

mediana, ver Foster (1998).<br />

271


André Oliveira Ferreira Loureiro, Daniel Cirilo Suliano, Jimmy Lima <strong>de</strong> Oliveira<br />

3. AS PRINCIPAIS LINHAS DE POBREZA UTILIZADAS<br />

NO BRASIL<br />

A principal fonte <strong>de</strong> informações para calcular as taxas <strong>de</strong> pobreza<br />

e <strong>de</strong> indigência no Brasil é a PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra <strong>de</strong><br />

Domicílios <strong>do</strong> IBGE. 8 Outra importante base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s que v<strong>em</strong> recent<strong>em</strong>ente<br />

explorada para <strong>de</strong>terminar o número <strong>de</strong> pobres no Brasil é o Cadastramento<br />

Único - Cadúnico <strong>do</strong> MDS. 9 Deve-se <strong>de</strong>stacar ainda que a PNAD<br />

não possibilita análises <strong>em</strong> nível municipal, tornan<strong>do</strong> o CADÚNICO a<br />

única fonte <strong>de</strong> informações intercensitária da população vulnerável <strong>do</strong>s<br />

municípios <strong>do</strong> Brasil. 10<br />

3.1 Linhas <strong>de</strong> Pobrezas baseadas <strong>em</strong> frações <strong>do</strong> Salário Mínimo 11<br />

Um <strong>do</strong>s principais critérios e também controversos utiliza<strong>do</strong>s na<br />

<strong>de</strong>finição da linha <strong>de</strong> pobreza no Brasil estabelece que um indivíduo é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong><br />

pobre se este possui renda <strong>do</strong>miciliar per capita igual ou inferior<br />

a meio salário mínimo. Esta <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> pobreza é amplamente utilizada<br />

como critério <strong>de</strong> elegibilida<strong>de</strong> para programas governamentais volta<strong>do</strong>s<br />

para a população vulnerável.<br />

Já a linha <strong>de</strong> indigência é <strong>de</strong>finida <strong>em</strong> 1/4 <strong>de</strong> um salário mínimo por<br />

mês. Esta meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> mensuração da vulnerabilida<strong>de</strong> foi corroborada<br />

pelo fato <strong>de</strong> ¼ <strong>de</strong> salário mínimo correspon<strong>de</strong>r nas décadas passadas às<br />

d<strong>em</strong>ais linhas <strong>de</strong> pobreza e <strong>de</strong> ser facilmente calcula<strong>do</strong> e apresenta<strong>do</strong>.<br />

Uma das principais críticas correspon<strong>de</strong>nte a este critério são as diferenças<br />

regionais e urbano/rural <strong>do</strong> custo vida para os pobres, no qual não<br />

estão conjuga<strong>do</strong>s aos ajustes da linha correspon<strong>de</strong>nte. Além disto, os aumentos<br />

reais sist<strong>em</strong>áticos <strong>do</strong> salário mínimo no Brasil nos últimos anos,<br />

mesmo com a correção monetária da linha, leva a uma situação <strong>de</strong> elevação<br />

real nas linhas <strong>de</strong> pobreza e <strong>de</strong> indigência. Não obstante tais diversida<strong>de</strong>s,<br />

a maioria <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s sobre incidência <strong>de</strong> pobreza no Brasil usava como<br />

8<br />

<strong>Instituto</strong> Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística, principal fonte <strong>de</strong> estatísticas sociais anuais <strong>do</strong><br />

Brasil.<br />

9<br />

Ministério <strong>do</strong> Desenvolvimento Social.<br />

10<br />

Para uma análise da pobreza com a base <strong>do</strong> Cadúnico, ver Loureiro (2007).<br />

11<br />

Sobre o uso <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> pobreza como múltiplos <strong>do</strong> salário mínimo, ver Rocha (1996).<br />

272


Uma Análise da Pobreza no <strong>Ceará</strong> com Base <strong>em</strong> Diferentes Linhas <strong>de</strong> Mensuração<br />

critério algum múltiplo <strong>do</strong> salário mínimo como parâmetro para a <strong>de</strong>finição<br />

<strong>de</strong> linha <strong>de</strong> pobreza [ver Rocha (2001)].<br />

Neste senti<strong>do</strong>, Hoffman (1998b) afirma que um erro comum no Brasil<br />

consiste <strong>em</strong> comparar as medidas <strong>de</strong> pobreza calculadas <strong>em</strong> diferentes<br />

perío<strong>do</strong>s usan<strong>do</strong> o salário mínimo corrente como linha <strong>de</strong> pobreza <strong>em</strong> cada<br />

perío<strong>do</strong>. Po<strong>de</strong> acontecer que os resulta<strong>do</strong>s reflitam essencialmente alterações<br />

no valor real <strong>do</strong> salário mínimo, e não mudanças no grau <strong>de</strong> pobreza<br />

absoluta da população.<br />

3.2 Linhas <strong>de</strong> Pobrezas Baseadas <strong>em</strong> Cestas <strong>de</strong> Consumo<br />

Embora tenha si<strong>do</strong> relativamente comum a utilização <strong>de</strong> frações <strong>do</strong><br />

salário mínimo como linha <strong>de</strong> pobreza no Brasil, existe consenso <strong>de</strong> que,<br />

haven<strong>do</strong> disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações sobre a estrutura <strong>de</strong> consumo das<br />

famílias, esta é a fonte mais a<strong>de</strong>quada. 12 Isso ocorre <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong><br />

sua base <strong>de</strong> sustentação teórica (valores nutricionais), ser<strong>em</strong> resultantes <strong>de</strong><br />

uma cesta alimentar <strong>de</strong> consumo mínima.<br />

Existe uma gran<strong>de</strong> vantag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> recurso para fins <strong>de</strong> caracterização<br />

da pobreza. Um argumento váli<strong>do</strong> é que a <strong>de</strong>spesa alimentar po<strong>de</strong><br />

vir a refletir o conceito <strong>de</strong> renda permanente <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento ao da renda <strong>em</strong><br />

si, resultan<strong>do</strong> <strong>em</strong> uma proxy mais a<strong>de</strong>quada para fins <strong>de</strong> b<strong>em</strong>-estar. Além<br />

disto, as <strong>de</strong>spesas <strong>em</strong> termos alimentícios reflet<strong>em</strong> melhor as condições <strong>de</strong><br />

vida <strong>do</strong>s estratos mais baixos <strong>de</strong> renda, o que confere a este tipo <strong>de</strong> mensuração<br />

uma maior realida<strong>de</strong> as linhas <strong>de</strong> pobreza <strong>de</strong>las <strong>de</strong>rivadas.<br />

Nesta abordag<strong>em</strong>, que t<strong>em</strong> <strong>em</strong>basa<strong>do</strong> quase todas as linhas <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a<br />

pobreza calculadas nos últimos anos na América Latina, consi<strong>de</strong>ra-se<br />

as necessida<strong>de</strong>s calóricas mínimas ou necessida<strong>de</strong>s calóricas insatisfeitas.<br />

A partir disso, <strong>de</strong>riva-se, então, uma linha <strong>de</strong> indigência ten<strong>do</strong> como parâmetro<br />

uma cesta mínima <strong>de</strong> alimentos. Este critério se fundamenta no fato<br />

<strong>de</strong> que a única necessida<strong>de</strong> humana biológica e universal é a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> se alimentar.<br />

Esta meto<strong>do</strong>logia baseada <strong>em</strong> consumo mínimo <strong>de</strong> calorias consiste<br />

<strong>em</strong> pelo menos quatro etapas. O primeiro estabelece o número <strong>de</strong> calorias<br />

mínimas que um indivíduo necessita para ter uma vida produtiva, algo<br />

12 Ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> autores que possu<strong>em</strong> esta posição são Rocha (2000) e Hoffmann (1998b).<br />

273


André Oliveira Ferreira Loureiro, Daniel Cirilo Suliano, Jimmy Lima <strong>de</strong> Oliveira<br />

entorno <strong>de</strong> 2000 a 2500 calorias por dia. Em seguida, é estima<strong>do</strong> o custo<br />

para adquirir essas calorias. A próxima etapa consiste <strong>em</strong> estabelecer uma<br />

cesta mínima <strong>de</strong> consumo por região. Por fim, compara-se o valor monetário<br />

<strong>de</strong>ssa cesta <strong>de</strong> alimentos com a renda familiar per capita e, a partir<br />

disso, classifica como indigentes (ou ainda miseráveis ou extr<strong>em</strong>amente<br />

pobres) aquelas pessoas cuja renda é insuficiente para comprar a quantida<strong>de</strong><br />

estipulada <strong>de</strong> calorias aos preços vigentes. 13<br />

Como as pessoas não gastam to<strong>do</strong>s seus recursos <strong>em</strong> comida, <strong>de</strong>rivase<br />

uma segunda linha, a linha <strong>de</strong> pobreza, multiplican<strong>do</strong>-se a linha <strong>de</strong> indigência<br />

ou <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a pobreza pelo inverso da fração da renda que os<br />

<strong>do</strong>micílios perto da linha <strong>de</strong> pobreza gastam com alimentação. Esta fração<br />

– chamada <strong>de</strong> coeficiente <strong>de</strong> Engel – costuma situar-se próxima <strong>de</strong> 0,5, o<br />

que significa que a linha <strong>de</strong> pobreza resultante costuma ficar o <strong>do</strong>bro da<br />

linha <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a pobreza.<br />

consumo Não-Alimetar<br />

Contrariamente ao que ocorre <strong>em</strong> relação ao consumo alimentar,<br />

para o qual se dispõe <strong>de</strong> parâmetros aos níveis <strong>de</strong> consumo mínimo, não<br />

exist<strong>em</strong> normas para <strong>de</strong>finir o consumo a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> <strong>de</strong> itens <strong>de</strong> vestuário,<br />

habitação, transporte, saú<strong>de</strong>, educação, etc., n<strong>em</strong> tampouco um procedimento<br />

direto para estimação da <strong>de</strong>spesa mínima com esses itens. 14<br />

A literatura sobre pobreza consagrou a a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> coeficiente <strong>de</strong><br />

Engel, isto é, a relação entre <strong>de</strong>spesas alimentares e <strong>de</strong>spesa total, como<br />

um el<strong>em</strong>ento central na <strong>de</strong>terminação da linha <strong>de</strong> pobreza, apesar da sua<br />

fragilida<strong>de</strong> conceitual e <strong>em</strong>pírica para esse fim. O procedimento, o mais<br />

habitual na prática internacional, consiste <strong>em</strong> se tomar para fins <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação<br />

da linha <strong>de</strong> pobreza o valor da <strong>de</strong>spesa não-alimentar observa<strong>do</strong><br />

no intervalo da distribuição mais baixo no qual a <strong>de</strong>spesa alimentar aten<strong>de</strong><br />

as necessida<strong>de</strong>s nutricionais. Evidências <strong>em</strong>píricas da POF 1995/96 d<strong>em</strong>onstram<br />

que o percentual se encontra, <strong>de</strong> fato, próximo <strong>de</strong> 0,5 entre as<br />

famílias mais pobres.<br />

No Brasil, a comissão mista IBGE, IPEA e Cepal elaborou a meto-<br />

13<br />

Para maiores <strong>de</strong>talhes <strong>do</strong> procedimento usual para este cálculo, ver Rocha (1997, 2000) e Skoufias e Katayama<br />

(2008).<br />

14<br />

Embora as d<strong>em</strong>ais <strong>de</strong>spesas represent<strong>em</strong>, <strong>em</strong> países <strong>do</strong> nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> Brasil, mais da meta<strong>de</strong><br />

das necessida<strong>de</strong>s básicas, são habitualmente tratadas <strong>de</strong> forma agregada e simplificada.<br />

274


Uma Análise da Pobreza no <strong>Ceará</strong> com Base <strong>em</strong> Diferentes Linhas <strong>de</strong> Mensuração<br />

<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> a<strong>do</strong>tar para o estabelecimento <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> pobreza uma cesta<br />

mínima <strong>de</strong> consumo a partir da POF - Pesquisa <strong>de</strong> Orçamentos Familiares<br />

<strong>do</strong> IBGE <strong>de</strong> 1995/96.<br />

3.3 Linhas <strong>de</strong> Pobrezas <strong>do</strong> Banco Mundial (Parida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> Compra)<br />

Outra linha <strong>de</strong> pobreza bastante mencionada no Brasil para dimensionar<br />

a pobreza é a estabelecida pelo Banco Mundial, que consi<strong>de</strong>rava<br />

uma pessoa na condição <strong>de</strong> pobreza absoluta se tivesse um rendimento<br />

inferior a U$1,00 por dia. Atualmente, o valor <strong>de</strong> referência para a miséria<br />

é <strong>de</strong> US$1,25 ao dia, enquanto o <strong>de</strong> pobreza é <strong>de</strong> US$2,00. 15 As linhas<br />

<strong>de</strong> pobreza <strong>do</strong> Banco Mundial baseiam-se plenamente na renda e são as<br />

mesmas para to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> baseadas pelo fator <strong>de</strong> parida<strong>de</strong> <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

compra (PPC).<br />

O probl<strong>em</strong>a aqui acontece com o cálculo da PPC. Diversos testes<br />

econométricos vêm mostran<strong>do</strong> que a hipótese <strong>de</strong> converter a unida<strong>de</strong> monetária<br />

<strong>de</strong> outros países para o dólar <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, pelo menos <strong>do</strong><br />

ponto <strong>de</strong> vista estatístico, não é válida.<br />

3.4 Aspectos Técnicos Comuns na Determinação das diferentes<br />

Linhas <strong>de</strong> Pobreza<br />

Em todas as meto<strong>do</strong>logias <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação das linhas <strong>de</strong> pobreza<br />

e <strong>de</strong> indigência, é comum a utilização <strong>de</strong> fatores <strong>de</strong> correção <strong>de</strong> custo <strong>de</strong><br />

vida regional, buscan<strong>do</strong> levar <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração as diferenças nos custos <strong>de</strong><br />

vida entre os Esta<strong>do</strong>s e entre as zonas rural e urbana. Desta forma, o valor<br />

da linha <strong>de</strong> pobreza é mais baixo, por ex<strong>em</strong>plo, no <strong>Ceará</strong> <strong>do</strong> que <strong>em</strong> São<br />

Paulo. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, o valor monetário que <strong>de</strong>fine se um indivíduo<br />

é pobre na zona urbana <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, é mais eleva<strong>do</strong> <strong>do</strong> que o<br />

valor consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> para a zona rural cearense. 16<br />

Hoffmann (1998a) afirma que a <strong>de</strong>terminação da linha <strong>de</strong> pobreza<br />

15 Esses valores se baseiam na renda <strong>do</strong>miciliar per capita e passam por revisões periódicas com<br />

base na parida<strong>de</strong> <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> comprar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1993.<br />

16 Para uma discussão sobre a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> custos <strong>de</strong> vida regionais, ver Skoufias e Katayma<br />

(2008) e Ferreira, Lanjouw e Neri (2003).<br />

275


André Oliveira Ferreira Loureiro, Daniel Cirilo Suliano, Jimmy Lima <strong>de</strong> Oliveira<br />

com base, essencialmente, no custo <strong>do</strong>s alimentos leva a subestimar a pobreza<br />

rural <strong>em</strong> comparação com a urbana. Embora na área rural os alimentos<br />

sejam mais baratos, o acesso a vários serviços (particularmente educação<br />

e saú<strong>de</strong>) é mais difícil <strong>do</strong> que nas áreas urbanas. Assim, a pobreza na<br />

zona rural <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> uma forma diferente da zona urbana.<br />

Outro aspecto importante que <strong>de</strong>ve ser leva<strong>do</strong> <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração na<br />

<strong>de</strong>terminação das taxas <strong>de</strong> pobreza ao longo <strong>do</strong>s anos diz respeito à atualização<br />

<strong>do</strong>s valores monetários das linhas <strong>de</strong> pobreza. O procedimento<br />

comum consiste <strong>em</strong> <strong>de</strong>flacionar as linhas <strong>de</strong> pobreza para um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />

ano base, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> possibilitar a comparação entre as taxas <strong>de</strong> pobreza<br />

nos diferentes anos.<br />

4. UMA ANÁLISE DAS DIFERENTES TAXAS DE POBREZA<br />

E INDIGÊNCIA<br />

No senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> comparar as principais meto<strong>do</strong>logias <strong>de</strong> taxa <strong>de</strong> pobreza<br />

e indigência a<strong>do</strong>tadas, são apresentadas a seguir as proporções <strong>de</strong> pobres<br />

e indigentes no Brasil, Nor<strong>de</strong>ste e <strong>Ceará</strong> registradas nos últimos anos.<br />

4.1 Pobreza no <strong>Ceará</strong> baseada <strong>em</strong> frações <strong>do</strong> Salário Mínimo<br />

Utilizou-se o conceito <strong>de</strong> pobreza basea<strong>do</strong> <strong>em</strong> frações <strong>do</strong> salário mínimo<br />

da época, <strong>de</strong> forma que uma pessoa é pobre se sua renda <strong>do</strong>miciliar<br />

per capita – RDPC for inferior a ½ salário mínimo e indigente se sua<br />

RDPC é inferior a ¼ <strong>de</strong> um salário mínimo.<br />

Dos 8,4 milhões <strong>de</strong> habitantes <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> <strong>em</strong> 2008, cerca<br />

<strong>de</strong> 4,2 milhões <strong>de</strong> pessoas se encontravam na condição <strong>de</strong> pobreza, isto<br />

é, aproximadamente 49,9% da população cearense possuía renda familiar<br />

per capita inferior a meio salário mínimo. Este percentual está bastante<br />

próximo da situação encontrada no restante da região Nor<strong>de</strong>ste, porém<br />

distante da situação brasileira, como evi<strong>de</strong>ncia o gráfico 4.1 a seguir.<br />

Observa-se uma tendência <strong>de</strong> redução da pobreza <strong>em</strong> todas as áreas<br />

consi<strong>de</strong>radas, sen<strong>do</strong> que as maiores quedas proporcionais são registradas<br />

entre 2006 e 2008.<br />

276


Uma Análise da Pobreza no <strong>Ceará</strong> com Base <strong>em</strong> Diferentes Linhas <strong>de</strong> Mensuração<br />

Gráfico 4.1 - Proporção da População abaixo<br />

da Linha <strong>de</strong> Pobreza (%) – 1/2 Salário Mínimo<br />

Fonte: Elaboração <strong>do</strong>s autores a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da PNAD/IBGE.<br />

Por sua vez, o gráfico 4.2 apresenta as taxas <strong>de</strong> indigência para o<br />

Brasil, Nor<strong>de</strong>ste e <strong>Ceará</strong> entre 2003 e 2008. No esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, a taxa <strong>de</strong><br />

indigência se situava <strong>em</strong> 21,5% da população, o que representava aproximadamente<br />

1,8 milhões <strong>do</strong>s cearenses <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a pobreza.<br />

Assim como no caso da taxa <strong>de</strong> pobreza, ocorre uma redução significativa<br />

da taxa <strong>de</strong> indigência ao longo <strong>do</strong>s anos, que se mostram mais fortes nos<br />

últimos três anos.<br />

Gráfico 4.2 - Proporção da População abaixo<br />

da Linha <strong>de</strong> Indigência (%) – 1/4 Salário Mínimo<br />

o<br />

Fonte: Elaboração <strong>do</strong>s autores a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da PNAD/IBGE.<br />

No senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> observar mais profundamente o comportamento da pobreza<br />

e da indigência quan<strong>do</strong> se consi<strong>de</strong>ra o méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> frações <strong>do</strong> salário<br />

277


André Oliveira Ferreira Loureiro, Daniel Cirilo Suliano, Jimmy Lima <strong>de</strong> Oliveira<br />

mínimo, o gráfico 4.3 a seguir apresenta a evolução das linhas <strong>de</strong> pobreza<br />

e indigência e pobreza nos últimos anos. Observa-se que há uma elevação<br />

sist<strong>em</strong>ática <strong>de</strong>stes valores, mesmo quan<strong>do</strong> estes são <strong>de</strong>flaciona<strong>do</strong>s.<br />

278<br />

Gráfico 4.3 - Linhas <strong>de</strong> Pobreza e Indigência reais<br />

baseadas <strong>em</strong> frações <strong>do</strong> Salário Mínimo (R$ <strong>de</strong> 2008 – INPC)<br />

Fonte: Elaboração <strong>do</strong>s autores.<br />

Em função <strong>de</strong>sta tendência t<strong>em</strong>poral crescente nas linhas <strong>de</strong> pobreza<br />

quan<strong>do</strong> se utiliza frações <strong>do</strong> salário mínimo quan<strong>do</strong> se compara as taxas<br />

<strong>de</strong> pobreza e indigência ao longo <strong>do</strong>s anos, a implicação óbvia disto é <strong>de</strong><br />

superestimação das taxas <strong>de</strong> pobreza. No entanto, po<strong>de</strong>-se argumentar que<br />

esta elevação da linha da pobreza acima <strong>do</strong> percentual observa<strong>do</strong> para<br />

inflação seria justificada ao se incorporar novas d<strong>em</strong>andas e necessida<strong>de</strong>s<br />

que surg<strong>em</strong> ao longo <strong>do</strong>s anos <strong>em</strong> função <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da socieda<strong>de</strong>.<br />

4.2 Pobreza no <strong>Ceará</strong> Baseada <strong>em</strong> uma Cesta <strong>de</strong> Consumo<br />

O Gráfico 4.4, a seguir, apresenta a proporção da população cearense<br />

abaixo da linha <strong>de</strong> pobreza calculada a partir da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> uma cesta<br />

básica regional <strong>de</strong>senvolvida pela comissão IBGE-IPEA-CEPAL.<br />

A taxa <strong>de</strong> pobreza para o Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> é <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 32,7% <strong>em</strong><br />

2008, sen<strong>do</strong> portanto relativamente inferior à registrada a partir da meto<strong>do</strong>logia<br />

baseada <strong>em</strong> frações <strong>do</strong> salário mínimo (49,9%). Como menciona<strong>do</strong><br />

anteriormente, isto se <strong>de</strong>ve a uma série <strong>de</strong> fatores, <strong>do</strong>s quais se <strong>de</strong>staca<br />

o reajuste real sist<strong>em</strong>ático <strong>do</strong> salário mínimo, elevan<strong>do</strong> artificialmente a<br />

linha <strong>de</strong> pobreza. Da mesma forma, a taxa <strong>de</strong> indigência é <strong>de</strong> apenas 14,6%<br />

e, portanto, inferior aos 21,5% registra<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> se consi<strong>de</strong>ra ¼ <strong>de</strong> um<br />

salário mínimo.


Uma Análise da Pobreza no <strong>Ceará</strong> com Base <strong>em</strong> Diferentes Linhas <strong>de</strong> Mensuração<br />

Gráfico 4.4 - Proporção da População abaixo<br />

da Linha <strong>de</strong> Pobreza (%) – Cesta <strong>de</strong> Consumo<br />

Fonte: Elaboração <strong>do</strong>s autores a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> IPEA.<br />

Segun<strong>do</strong> o valor <strong>de</strong>ste indica<strong>do</strong>r, o Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> obteve uma significativa<br />

redução <strong>de</strong> 31% na proporção <strong>de</strong> pobres entre os anos <strong>de</strong> 2003 e<br />

2008. Esta redução segue a tendência que se observa no restante <strong>do</strong> país,<br />

com exceção <strong>do</strong> ultimo ano, quan<strong>do</strong> ocorre uma forte queda na proporção<br />

<strong>de</strong> pobres no <strong>Ceará</strong>, reduzin<strong>do</strong>-se <strong>em</strong> aproximadamente 15% entre 2007<br />

e 2008.<br />

Quan<strong>do</strong> se observa a proporção <strong>de</strong> pessoas abaixo da linha <strong>de</strong> indigência<br />

(extr<strong>em</strong>a pobreza) no <strong>Ceará</strong>, apresentada no Gráfico 4.5 a seguir,<br />

po<strong>de</strong>-se notar que esta redução foi ainda mais acentuada, com uma queda<br />

<strong>de</strong> aproximadamente 50% entre os anos <strong>de</strong> 2003 e 2008, principalmente<br />

<strong>em</strong> função da redução <strong>de</strong> 31% entre 2007 e 2008. Já <strong>em</strong> nível regional e<br />

nacional, no mesmo perío<strong>do</strong>, a indigência recuou 37% e 31%, respectivamente.<br />

Gráfico 4.5 - Proporção da População abaixo<br />

da Linha <strong>de</strong> Extr<strong>em</strong>a Pobreza ou Indigência (%) – Cesta <strong>de</strong> Consumo<br />

Fonte: Elaboração <strong>do</strong>s autores a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> IPEA.<br />

279


André Oliveira Ferreira Loureiro, Daniel Cirilo Suliano, Jimmy Lima <strong>de</strong> Oliveira<br />

De uma forma geral, observa-se que as taxas <strong>de</strong> pobreza e indigência<br />

calculadas com base na meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> frações <strong>do</strong> salário mínimo são<br />

sist<strong>em</strong>aticamente maiores <strong>do</strong>s que as taxas obtidas pelo méto<strong>do</strong> fundamenta<strong>do</strong><br />

na cesta <strong>de</strong> consumo.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> se consi<strong>de</strong>ra as taxas <strong>de</strong> pobreza e indigência<br />

pelo critério <strong>do</strong> Banco Mundial, o gráfico 4.6 a seguir observa-se também<br />

uma tendência <strong>de</strong>crescente, como as observadas pelos d<strong>em</strong>ais critérios.<br />

No entanto, não somente os níveis não mais reduzi<strong>do</strong>s, como a tendência<br />

<strong>de</strong> queda é ainda mais acentuada. É bom l<strong>em</strong>brar que, neste critério, é feita<br />

estimativas somente para extr<strong>em</strong>a pobreza.<br />

Gráfico 4.6 -Proporção da População abaixo<br />

da Linha da Linha <strong>de</strong> Extr<strong>em</strong>a Pobreza (%) - Dólar<br />

Fonte: Elaboração <strong>do</strong>s autores a partir da PPC brasileira (Dólar R$1,57).<br />

5. CONCLUSÃO<br />

O presente artigo buscou analisar as principais linhas <strong>de</strong> pobreza utilizadas<br />

no Brasil, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> suas fundamentações teóricas e meto<strong>do</strong>logias,<br />

além <strong>de</strong> investigar as implicações da utilização <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las.<br />

Diante disso, é possível observar alguns pontos consensuais. O primeiro<br />

diz respeito a melhor proxy para medida <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> b<strong>em</strong>-estar:<br />

no caso <strong>do</strong> Brasil, existe um senso comum que a renda cumpre b<strong>em</strong> esse<br />

papel. Em segun<strong>do</strong> lugar, a literatura da área é unânime <strong>em</strong> afirmar que as<br />

linhas <strong>de</strong> pobreza baseadas <strong>em</strong> cestas <strong>de</strong> consumo são as mais a<strong>de</strong>quadas<br />

para caracterizar a pobreza nas regiões brasileiras. Além disto, dada as<br />

diferenças <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> custo <strong>de</strong> vida e estrutura <strong>de</strong> consumo no país, o<br />

mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> seria a formação <strong>de</strong> diversas linhas <strong>de</strong> pobreza como base<br />

280


Uma Análise da Pobreza no <strong>Ceará</strong> com Base <strong>em</strong> Diferentes Linhas <strong>de</strong> Mensuração<br />

<strong>em</strong> um critério local e por extratos das áreas rural e urbana. 17<br />

Observa-se ainda que as taxas <strong>de</strong> pobreza e indigência calculadas<br />

com base na meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> frações <strong>do</strong> salário mínimo são sist<strong>em</strong>aticamente<br />

maiores <strong>do</strong>s que as taxas obtidas pelo méto<strong>do</strong> fundamenta<strong>do</strong> na<br />

cesta <strong>de</strong> consumo, talvez <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong>s aumentos reais e sist<strong>em</strong>áticos<br />

sofri<strong>do</strong> por este nestes últimos anos, não haven<strong>do</strong> uma real mensuração <strong>do</strong><br />

conceito <strong>de</strong> subsistência básica. No caso da linha <strong>de</strong> pobreza com base no<br />

critério <strong>do</strong> Banco Mundial, os resulta<strong>do</strong>s merec<strong>em</strong> atenção <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência<br />

<strong>de</strong> críticas no que concerne ao cálculo <strong>do</strong> fator parida<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

compra, PPC, no qual alguns testes estatísticos vêm mostran<strong>do</strong> a sua não<br />

valida<strong>de</strong> para os diferentes países.<br />

BIBLIOGRÁFIA<br />

ATKINSON, A. B. On the Measur<strong>em</strong>ent of Poverty, Econometrica, 55, 749-<br />

764, 1987.<br />

BARROS, R. P., HENRIQUES, R., MENDONÇA, R., A estabilida<strong>de</strong> inaceitável:<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e pobreza no Brasil, in: Henriques, R. (Org.), Desigualda<strong>de</strong><br />

e pobreza no Brasil, IPEA, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2000, 21-47.<br />

BOURGUIGNON, F., Decomposable Income Inequality Measures, Econometrica,<br />

47, 901- 920, 1979.<br />

BOURGUIGNON, F. e CHAKRAVARTY, S. R., The measur<strong>em</strong>ent of multidimensional<br />

poverty, Journal of Economic Inequality, 1, 25- 49, 2003.<br />

CARVALHO, E. B. Arranjos Produtivos Locais e a Redução da Pobreza no<br />

<strong>Ceará</strong>. Texto para Discussão - <strong>IPECE</strong> nº 63, <strong>2009</strong>.<br />

COSTA, M., A Multidimensional Approach to the Measur<strong>em</strong>ent of Poverty.<br />

IRISS Working papers series No. 05, 2002.<br />

FERREIRA, F. L., LANJOUW, P. NERI, M. A Robust Poverty Profile for<br />

Brazil using Multiple Data Sources. Revista Brasileira <strong>de</strong> <strong>Economia</strong>, 57 (1),<br />

59-92, 2003.<br />

FOSTER, J. Absolute versus Relative Poverty. The American Economic Review,<br />

88, n° 2, 1998.<br />

FOSTER, J., J. GREER e E. THORBECKE. 1984. A Class of Decomposable<br />

Poverty Measures. Econometrica, 52 (3): p.761-766.<br />

HOFFMANN, R. Pobreza e <strong>de</strong>snutrição <strong>de</strong> crianças no Brasil: diferenças regionais<br />

e entre áreas urbanas e rurais. <strong>Economia</strong> Aplicada, São Paulo, v. 2,<br />

17<br />

Conforme ressalta Rocha (2001), seria um retrocesso o uso <strong>de</strong> uma linha <strong>de</strong> indigência ou <strong>de</strong><br />

pobreza única para to<strong>do</strong> o país.<br />

281


André Oliveira Ferreira Loureiro, Daniel Cirilo Suliano, Jimmy Lima <strong>de</strong> Oliveira<br />

n. 2, p. 299-315, abr./jun. 1998a.<br />

HOFFMANN, R. Distribuição <strong>de</strong> Renda: Medidas <strong>de</strong> Desigualda<strong>de</strong> e Pobreza.<br />

São Paulo: Edusp, 1998b.<br />

KAKWANI, N. C. On a Class of Poverty Measures, Econometrica, 48, 437-<br />

446, 1980.<br />

LETTIERI, M.; PAES, N. L. Medidas <strong>de</strong> pobreza e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>: uma análise<br />

teórica <strong>do</strong>s principais índices. Série Ensaios Sobre Pobreza - N° 2 <strong>do</strong> Laboratório<br />

<strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Pobreza - LEP/UFC. Fortaleza, 2006.<br />

LOUREIRO, A. O. F. Uma Análise da Pobreza no <strong>Ceará</strong> a Partir <strong>do</strong>s Da<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> Cadúnico, Nota Técnica - <strong>IPECE</strong> nº 27, 2007.<br />

OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO. Relatório Nacional<br />

<strong>de</strong> Acompanhamento. Brasília: Ipea, 2010.<br />

RAVALLION, M. BIDANI, B. How Robust is Poverty Profile? World Bank<br />

Policy research Working Paper, 1993.<br />

RAVALLION, M. Poverty Comparisons. Harwood Acad<strong>em</strong>ic Publishers,<br />

1994.<br />

RAVALLION, M. Poverty Lines in Theory and Practice, Living Standards<br />

Measur<strong>em</strong>ent Study Working Paper 133, World Bank, Washington DC,<br />

1998.<br />

ROCHA, S. Poverty Studies in Brazil – A Review. Texto para Discussão n°<br />

720 – IPEA. Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1996.<br />

ROCHA, S. Do consumo observa<strong>do</strong> à linha <strong>de</strong> pobreza. Pesquisa e Planejamento<br />

Econômico, v. 27, n. 2, 1997.<br />

ROCHA, S. Opções Meto<strong>do</strong>lógicas para a Estimação <strong>de</strong> Linhas <strong>de</strong> Indigência<br />

e <strong>de</strong> Pobreza no Brasil. Texto para Discussão n° 720 – IPEA, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

2000.<br />

ROCHA, S. A. Medin<strong>do</strong> a Pobreza no Brasil: Evolução Meto<strong>do</strong>lógica e Requisitos<br />

<strong>de</strong> Informação Básica. In: MENEZES-FILHO, N.; LISBOA, M. (ORG).<br />

Microeconomia e Socieda<strong>de</strong> no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: EPGE-FGV, 2001.<br />

ROCHA, S., Pobreza no Brasil – Afinal, <strong>de</strong> que se trata? Editora FGV, Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, 2003.<br />

SEN, A. Poverty: an ordinal approach to measur<strong>em</strong>ent. Econometrica, v. 44,<br />

n. 2, p. 219-231, 1976.<br />

SEN, A. Development as Free<strong>do</strong>m. New York, Alfred A. Knopf, 1999.<br />

SHORT, K., ICELAND, J. e DALAKER, J. Defining and Re<strong>de</strong>fining Poverty.<br />

Washington D.C.: U.S. Census Bureau, 2002.<br />

SKOUFIAS, E., KATAYAMA, R. Sources of Welfare Disparities across and<br />

within Regions of Brazil: Evi<strong>de</strong>nce from 2002-2003 Household Budget Survey,<br />

World Bank Policy research Working Paper, 4803, 2008.<br />

282

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!