biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...

lógica individual que dão/deram às experiências adquiridas no meio social, ainda que essas
tenham sido vividas em mundos de ação concretos parecidos.
Além da ideia de que existem diversas maneiras de conduzir a vida entre as mulheres
mesmo que em todos os casos se perceba a combinação entre a orientação dos entornos de
ação concretos (estruturas sociais que ao mesmo tempo são estruturas de gênero) com os
planos de realizações individuais (construções biográficas), esses depoimentos reforçam o
pressuposto de Touraine (2007) de que a maioria das mulheres, mesmo que tenham projetos
de vida diferentes, perseguem um objetivo comum no processo de construção de suas
biografias, o de se tornarem sujeitos e atrizes de suas próprias histórias - não mais reduzidas
unicamente à dependência dos homens ou a qualquer outra forma de dominação (as
instituições, as normas, o consumo, etc.).
Em quase todos os depoimentos acima, vimos que os domínios da vida (ou mundos de
ação concretos) que mais contribuem para que as mulheres persigam esse objetivo, tendo
como propósito a (re) construção de suas biografias são: a família, o trabalho e a
formação/educação. Contudo, como esclarece Alheit (2007), a vida das mulheres é
configurada nesses domínios de maneira problemática, ou seja, Las mujeres son
sistematicamente por estructuras de exigencias contradictorias en la
profesión, en la formación y en la família (ALHEIT, 2007,p.124).
A profissão, a formação/educação e a família, um não mais que o outro, constituem-se
cada vez mais campos férteis para a utilização das mulheres do saber de fundo biográfico. Ao
que parece, a utilização desse saber representa para elas [...] la potencialidad para la
producción y transformación de las estructuras sociales en los procesos de configuración
biográficos (DAUSIEN, 2007, p.35), ou seja, a capacidade de provocar transformações nelas
mesmas e nas estruturas sociais e culturais, através da inversão das relações desiguais entre
homens e mulheres (TOURAINE, 2007, p.163).
A capacidade de provocar essas mudanças tem sido delegada mais às mulheres pelo
fato de serem elas as que mais lidam com situaciones sociales nuevas (DAUSIEN, 2007,
p.37) no curso da vida e as que - motivadas pelo saber de fundo que utilizam, favorecendo-
lhes um elevado grau de reflexividade sobre as suas potencialidades - mais desejam e buscam
a reconstrução das próprias experiências de vida.
Diferente dos modelos de curso de vida masculinos, cuja sucessão das fases da vida
ocorre de maneira não problemática, mas linear: fase de preparação (infância e juventude - a
fase da escolarização), fase de atividade (idade adulta - a fase da idade ativa do trabalho), e
fase de sossego (velhice - fase da aposentadoria), o que marca os modelos de curso de vida