biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
As consi<strong>de</strong>rações acima apontam elementos importantes para revisarmos os modos <strong>de</strong><br />
construção das <strong>biografias</strong> femininas contemporâneas, que suscitaram os seguintes<br />
questionamentos: Em que o saber <strong>de</strong> fundo biográfico tem contribuído para a construção <strong>de</strong><br />
novas formas <strong>de</strong> ser feminino? Em quais domínios da vida ou em que mundos <strong>de</strong> ação<br />
concretos (a família, o lugar do trabalho, a educação escolar, a sexualida<strong>de</strong>) as <strong>mulheres</strong> têm<br />
mais utilizado esse saber? Com que objetivo elas o utilizam? O que a sua utilização implica<br />
nas relações <strong>de</strong> gênero, particularizando o gênero feminino?<br />
Essas questões guiaram a reflexão pretendida neste trabalho sobre os<br />
<strong>de</strong>senvolvimentos biográficos das <strong>mulheres</strong>, nesta segunda fase da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, cujas marcas<br />
principais são: a combinação <strong>de</strong> fases (a construção <strong>de</strong> uma família, o exercício <strong>de</strong> uma<br />
profissão e a formação/educação), as rupturas, as transições, a <strong>de</strong>sistitucionalização 27 , a<br />
<strong>de</strong>socialização 28 etc.<br />
Para ilustrar mais concretamente essas proposições acerca dos <strong>de</strong>senvolvimentos<br />
biográficos das <strong>mulheres</strong> contemporâneas, que acreditamos serem orientados por um saber <strong>de</strong><br />
fundo biográfico, tomamos como exemplos algumas <strong>mulheres</strong> que circulam a nossa vida<br />
cotidiana (mãe, irmãs, tias, cunhadas, amigas, vizinhas, colegas <strong>de</strong> trabalho etc.) e, mais à<br />
frente, os estudos produzidos no meio acadêmico sobre as <strong>mulheres</strong>, os quais mencionamos<br />
no início <strong>de</strong>ste capítulo.<br />
Das observações feitas acerca das experiências e expectativas <strong>de</strong> vida das <strong>mulheres</strong> da<br />
nossa cotidianida<strong>de</strong>, arriscamos as primeiras interpretações, entre as quais, está a <strong>de</strong> que são<br />
diversas as maneiras <strong>de</strong> conduzir a vida entre elas 29 . Os relatos abaixo, ouvidos em conversas<br />
informais, elucidaram essa afirmação:<br />
1. Fiz até o ensino médio e agora só estou trabalhando aqui como manicure.<br />
O meu <strong>de</strong>sejo é fazer meu curso <strong>de</strong> cabeleireira pra eu po<strong>de</strong>r garantir a<br />
minha in<strong>de</strong>pendência, e não precisar pedir nada a ninguém (Mulher que tem<br />
entre 28 a 33 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, é manicure <strong>de</strong> um salão <strong>de</strong> beleza, casada e tem<br />
um filho recém nascido).<br />
27 Por <strong>de</strong>sinstitucionalização <strong>de</strong>ve-se enten<strong>de</strong>r o enfraquecimento ou <strong>de</strong>saparição das normas codificadas e<br />
protegidas por mecanismos legais e, mais simplesmente, o <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong> julgamentos <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong> aos<br />
comportamentos regidos por instituições (TOURAINE, 1998, p. 50).<br />
28 A <strong>de</strong>ssocialização é o <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong> papéis, normas e valores sociais pelos quais se construía o mundo<br />
vivido. É a consequência direta da <strong>de</strong>sisntitucionalização da economia, da política e da religião (TOURAINE,<br />
1998, p.53).<br />
29 Enten<strong>de</strong>mos que essa diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> modos <strong>de</strong> conduzir a vida tem a ver com a orientação <strong>de</strong> uma lógica<br />
individual que, segundo Alheit e Dausien (2007), as pessoas utilizam, sejam elas homens ou <strong>mulheres</strong>, para dar<br />
um direcionamento às suas <strong>biografias</strong> particulares, ainda que sofram também condicionamentos dos seus<br />
contextos <strong>de</strong> vida.