biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
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a participação num mundo racionalizado (TOURAINE, 1998, p.25). Tal combinação ocorre<br />
através <strong>de</strong> um processo que envolve o esforço do indivíduo para se tornar um ator e para<br />
afirmar a sua liberda<strong>de</strong> pessoal. As <strong>mulheres</strong> são, para esse autor, entendidas como as que<br />
mais têm <strong>de</strong>sempenhado esse esforço na contemporaneida<strong>de</strong>.<br />
Aliás, esse esforço, segundo Touraine (1998), é tanto causa como consequência das<br />
mudanças ocorridas nas relações <strong>de</strong> gênero no mundo contemporâneo. Essas, que se<br />
baseavam no mo<strong>de</strong>lo europeu <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização, segundo ele, já não são mais as mesmas. A<br />
ação libertadora feminina, que pôs fim à [...] imagem central, única, do sujeito humano e à<br />
[...] i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> uma categoria particular <strong>de</strong> seres humanos com o universal<br />
(TOURAINE, 1998, p.220), foi a principal responsável por essas mudanças, provocando<br />
também profundas transformações nas teorias sociológicas.<br />
Assim, para Touraine (1998), a construção do sujeito feminino e masculino, como<br />
atrizes e atores <strong>de</strong> suas próprias histórias, só se consolida no centro das práticas sociais<br />
contemporâneas (ou nos mundos <strong>de</strong> ação concretos), quando são recompostos os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />
vida tradicionais, nos quais os homens exercem dominação sobre as <strong>mulheres</strong>, ou seja, ao se<br />
por fim ao que Bourdieu (2002) chamou <strong>de</strong> violência simbólica 23 .<br />
No seu mais recente livro, O mundo das <strong>mulheres</strong> , Touraine (2007) aprofunda essas<br />
i<strong>de</strong>ias relativas às <strong>mulheres</strong>, <strong>de</strong>senvolvendo reflexões importantes sobre seus pensamentos e<br />
experiências vividas na contemporaneida<strong>de</strong>. Ele elabora uma discussão teórica sobre as<br />
tentativas <strong>de</strong> as <strong>mulheres</strong> provocarem as recomposições <strong>de</strong> suas vidas pela via da construção<br />
<strong>de</strong> si mesmas enquanto sujeitos.<br />
Analisando o pensamento <strong>de</strong>ssas <strong>mulheres</strong> e a experiência vivida por elas (que,<br />
segundo ele, é muito diferente daquilo que se diz sobre o que elas dizem e fazem), ele<br />
apresenta uma crítica aos estudos/publicações acadêmicas que se tem produzido nas últimas<br />
décadas sobre elas. Alega que os seus autores têm se preocupado mais em ostentar a imagem<br />
da mulher vítima da dominação masculina, submissa aos <strong>de</strong>sejos, regras e funções impostas<br />
por outros, que a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação e reação autônoma em <strong>de</strong>staque na era<br />
contemporânea.<br />
Esse novo enfoque tira a mulher da situação <strong>de</strong> vítima para torná-la um novo sujeito<br />
na construção da sua própria historia e na historia da conjuntura on<strong>de</strong> se encontra inserida. A<br />
mulher, portanto, passa a ser sujeito capaz <strong>de</strong> se transformar e <strong>de</strong> transformar o seu entorno<br />
social.<br />
23 Bourdieu (2002) <strong>de</strong>screve a violência simbólica como um ato sutil, que oculta relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que alcançam<br />
não apenas as relações entre os gêneros, mas toda a estrutura social.