biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...

RESUMO
Esta dissertação teve por objeto de análise as aprendizagens das mulheres em situação de
privação de liberdade, encarceradas no Instituto de Recuperação Feminina Júlia Maranhão de
João Pessoa - PB. Especificamente, procuramos conhecer como se deram e continuaram se
dando essas aprendizagens adquiridas através das experiências vividas (ou não) ao longo de
suas vidas. Para alcançar este propósito, adotamos o enfoque biográfico compreendido a partir
do conceito de biograficidad, defendido por Alheit e Dausien, (1996, 2000, 2007). Trata-se de
uma abordagem teórico-metodológica que analisa na teoria e na prática o conteúdo da
aprendizagem ao longo da vida no interior das biografias individuais: os processos de
aprendizagem e de formação das biografias dentro de estruturas sociais e de contextos
culturais de significação onde os sujeitos se inserem. Partindo destas premissas, constituiu-se
objetivo desse estudo: a compreensão da(s) relação(es) entre as aprendizagens biográficas
adquiridas pelas mulheres encarceradas no processo de construção das suas biografias e as
motivações/circunstâncias de vida que conduziram-nas ao mundo da criminalidade. Os
procedimentos metodológicos adotados procuraram se adequar ao objeto e ao objetivo central
da investigação. Assim, elegemos dentro da investigação qualitativa, o método biográfico,
selecionando as técnicas a ele associadas, como a história de vida, e os seus instrumentos de
coletados de dados, como a entrevista em profundidade (ou biográfica), por exemplo.
Também utilizamos instrumentos de pesquisa quantitativa que serviram apenas de suporte
para a análise qualitativa/biográfica realizada. A classificação dos dados foi organizada em
três categorias (biografia e família, biografia e trabalho, biografia e escola/educação) surgidas
das próprias narrativas e ligadas à proposta teórica da biograficidad. As análises das
entrevistas foram feitas observando-se nos percursos biográficos das encarceradas, (da
infância até à fase em que se encontram hoje) alguns dos principais domínios da vida: a
família (em suas diversas modalidades), o trabalho e a educação (escolarização). A
interpretação dos dados possibilitou a elucidação das principais marcas dos seus
desenvolvimentos biográficos: a combinação de fases (a construção de uma família, o
exercício de uma profissão e a formação/educação), as rupturas, as transições, as
descontinuidades, todas elas arraigadas em seus mundos de ação concretos. Vimos
predominar entre as mulheres entrevistadas, histórias dramáticas, ligadas à ausência de uma
referência familiar, experiências de trabalho infantil e de precárias inserções no mundo do
trabalho na juventude e idade adulta, experiências deficitárias no processo de escolarização, e
uma trajetória delituosa ligada a todas estas questões que atravessaram as suas construções
biográficas. Os dados revelaram também a capacidade dessas mulheres de usarem novos
esquemas de estruturação biográfica, ligados a uma assimilação subjetiva das aprendizagens
proporcionadas pelas suas experiências de vida, e com ela, a produção de um sentido
biográfico próprio, ainda que associado a um espaço social imediatamente próximo. A
tentativa de afirmarem-se como sujeitos foi também uma constatação extremamente freqüente
nas narrativas.
Palavras-chave: Biografia, aprendizagem, experiência de vida, biograficidad.